Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ISSN: 2236-6946
2
Marcelo J. Doro2
Introdução
1
Tema vinculado ao Eixo 1 - Filosofia, racionalidade e amizade.
2
Professor da Área de Ética de Conhecimento e do Curso de Filosofia da Universidade de Passo Fundo. E-mail
para contato: <marcelodoro@upf.br>.
3
mera consideração do que é técnico. O modo como sentimos a presença da técnica, o modo
como a empregamos, se a empregamos ou não, nossa opinião sobre sua pertinência, nada
disso nos coloca numa relação verdadeiramente livre com ela. Porque livre é o
relacionamento que, alcançando a essência da técnica, pode experimentar os limites de tudo o
que é técnico.
A técnica é correntemente concebida como um meio estabelecido para alcançar um fim
desejado. Essa concepção é correta, contudo, segundo Heidegger (2006a, p. 23), “o
simplesmente correto ainda não é o verdadeiro”. Com essa concepção nada se diz sobre a
essência propriamente dita da técnica. Para chegar à essência é preciso procurar o verdadeiro
no e através do correto. O que mostra, afinal, a caracterização da técnica como um meio? A
que pertence meio e fim? A resposta de Heidegger (2006a, p. 13) direciona o questionamento
da técnica para causalidade: um meio é aquilo que viabiliza algo, um meio é uma causa; causa
também é o fim com que se determina o tipo de meio utilizado; onde se perseguem fins e
aplicam-se meios, aí também impera a causalidade. Desde Platão e Aristóteles, a causalidade
é compreendida como o deixar-viger o que ainda não vige. A isso chamou-se também pro-
dução. Enquanto um modo de conduzir algo à vigência, a pro-dução é um desencobrimento, a
pro-dução é alétheia.
Partindo da concepção corrente de técnica como meio para um fim, Heidegger chega a
determinação da técnica como pro-dução e, por fim, como desencobrimento (alétheia). Esse
movimento abre um novo âmbito para pensar a essência da técnica o “acontecer da verdade
para o homem”. Heidegger reconhece que a técnica moderna guarda diferenças significativas
em relação à técnica pensada como pro-dução pelos gregos, insiste, contudo, que nela ainda
opera um desencobrimento. Não mais no modo dominante da pro-dução, mas como
exploração. O desencobrimento que rege a técnica moderna ocorre mediante um apelo de
exploração que impõe à natureza a condição de fonte de energia, capaz de, como tal, ser
beneficiada e armazenada. A exploração descobre as coisas já a partir de seu potencial de uso
e possível serventia, como objetos para a manipulação técnica: o solo não é mais aquilo que o
camponês cuida, mas o objeto da indústria motorizada de alimentação; o rio é força
hidráulica, reivindicada pelas hidrelétricas; até a paisagem é descoberta como ponto turístico a
disposição das agências de viagem.
Dis-ponibilidade (Bestand) é o nome para indicar o caráter daquilo que é descoberto
pela técnica moderna regida pela exploração. A palavra “dis-ponibilidade” designa nada mais
nada menos do que “o modo em que vige e vigora tudo que o desencobrimento explorador
atingiu” (HEIDEGGER, 2006a, p. 21). Como disponibilidade, as coisas já não se mostram
4
como meras coisas, meros objetos, mas como objetos disponíveis para a transformação, para a
estocagem, para a distribuição, para reciclagem etc.
Quem realiza a exploração pela qual o real é desencoberto como disponibilidade é o
próprio homem. Isso não significa que o homem tem em seu poder o desencobrimento em que
o real a cada vez se mostra ou se esconde. O homem não explora a natureza a partir de algum
impulso arbitrário, senão que o faz como resposta a um apelo que chegou até ele e o atingiu.
“Somente à medida que o homem já foi desafiado a explorar as energias da natureza é que se
pode dar e acontecer o desencobrimento da disposição” (HEIDEGGER, 2006a, p. 21). Como
aquele que responde ao desafio, o homem pertence também à disponibilidade. O fato de o
homem ser tomado como mão de obra para a indústria, como material para a pesquisa, como
número para as estatísticas, como alvo para a propaganda, dá testemunho de sua pertença à
disponibilidade. Pertencer à disponibilidade, não é para o homem um mero reduzir-se ao dis-
ponível. Realizando a técnica, o homem participa da disposição. Sua participação acontece
como resposta ao apelo que já sempre reivindica o homem de maneira tão decisiva, que,
somente neste apelo ele pode vir a ser homem (HEIDEGGER, 2006a, p. 22). Em tudo o que
faz, na lida com as coisas e consigo mesmo, o homem não está senão respondendo ao apelo de
desencobrimento que já previamente o inseriu em um contexto de relações delineadas.
Quando, portanto, nas pesquisas e investigações, o homem corre atrás da natureza para forçá-
la a fornecer recursos ou informações, ele já se encontra comprometido com uma forma de
desencobrimento. “Trata-se da forma de desencobrimento da técnica que o desafia a explorar
a natureza, tomando-a por objeto de pesquisa até que o objeto desapareça no não-objeto da
disponibilidade” (HEIDEGGER, 2006a, p. 22). A técnica é assim mais que um mero fazer do
homem, mais que um meio para um fim. A técnica é uma força que constrange o homem a
dis-por do real como disponibilidade. Sua essência é a com-posição (Ge-stell, armação,
esqueleto). Com o termo com-posição, Heidegger (2006a, p. 23) indica precisamente “o
apelo de exploração que reúne o homem a dis-por do que se desencobre como
disponibilidade”. Reconhecendo que toma uma palavra de uso corrente em um sentido
inteiramente novo, o filósofo acrescenta uma explicação adicional:
O verbo “por” (stellen), inscrito no termo com-posição, “Gestell”, não indica apenas
a exploração. Deve também fazer ressoar o eco de um outro “pôr” de onde ele
provém, a saber, daquele pro-por e ex-por que [...] faz o real vigente emergir para o
desencobrimento. Este pro-por produtivo (por exemplo, a posição de uma imagem
no interior de um templo) e o dis-por explorador, na acepção aqui pensada, são, sem
dúvida, fundamentalmente diferentes e, não obstante, preservam, de fato, um
parentesco de essência. Ambos são modos de desencobrimento, modos de alétheia.
Na com-posição, dá-se com propriedade aquele desencobrimento em cuja
5
O que assim fica indicado como a essência da técnica moderna deve ser reconhecido
também como fundamento do próprio desenvolvimento científico. Não é, como comumente
se entende, a técnica que se desenvolve apoiando-se na ciência; ao contrário, é a ciência que
se apoia e se desenvolve a partir da afirmação da essência da técnica. A aparência de que se
passa o contrário nasce do fato de a ciência moderna se valer de ferramentas técnicas em suas
pesquisas e descobertas, em relação ao que se deve reconhecer anteriormente que a própria
necessidade da ciência em contar com instrumentos é algo que se impõe na medida em que a
natureza se apresenta no modo da disponibilidade. É a própria essência da técnica que
condiciona as ciências à dis-porem da natureza como fonte de dados, que possam ser
calculados e disponibilizados.
Respondendo ao desafio da com-posição, o homem experimenta a essência da técnica
como um destino, isto é, como uma força que o põe a caminho de um desencobrimento. Todo
desencobrimento é sempre e apenas possível a partir de um “caminho” de desencobrimento e
assim é em decorrência da própria condição histórica do homem (faticidade). Mas o que para
o homem é um destino não tem a força de uma fatalidade. “Pois o homem só se torna livre
num envio, fazendo-se ouvinte e não escravo do destino” (HEIDEGGER, 2006a, p. 28). Posto
nesses termos, o que se mostra em jogo na relação do homem com a técnica é a própria
essência da liberdade humana, que pensada originariamente não pertence à vontade nem se
reduz à causalidade do querer. Para Heidegger (2006a, p. 28), a liberdade é aquilo que rege o
aberto, no sentido do aclarado, isto é, do desencoberto. Liberdade é para Heidegger a essência
humana que se decide na relação com o ser, enquanto abertura, clareira3. Pensado como
clareira, o ser constitui aquele evento fundamental (Ereignis) que dá ao homem o horizonte
para a condução de sua existência. Na clareira do ser, e apenas nela, o homem torna-se livre
para a relação com os entes que aí são desencobertos. Nisso decide-se o destino do homem:
estar destinado é habitar a clareira, é constituir-se na relação com aquilo que nela se
descortina em cada época. Destino é, assim, destino do ser.
Na conferência E para que poetas?, de 1946, Heidegger apresenta a técnica como o
desdobramento final do destino do ser como metafísica. A técnica é o ponto alto de uma
época de manifestação do ser em que o próprio ser se retrai na afirmação do ente. E Nietzsche
é o pensador que, segundo Heidegger, dá o passo decisivo para o esquecimento da diferença
3
A esse respeito, ver O fim da filosofia e a tarefa do pensamento (HEIDEGGER, 1999).
6
ontológica entre ser e ente, pois, como vontade de poder, o ser já não se distingue do próprio
ente. Vontade de poder é o nome para a autoafirmação do ente a partir de si mesmo. Como
vontade de poder, o ente quer a constante elevação, que como não pode ser infinita tem de
retornar eternamente ao mesmo num processo circular que elimina qualquer remissão a uma
instância aquém ou além do ente, que na filosofia até então ainda preservava essa
característica como um aceno para a diferença ontológica. Por afastar de tal forma a questão,
Nietzsche é, para Heidegger, o filósofo da consumação da metafísica. Com sua filosofia da
vontade de poder, abre-se a possibilidade de a essência da técnica mostrar-se no modo pleno
da representação do ente como objeto disponível. A isso está destinado o homem desde a
origem do pensamento metafísico no ocidente.
O domínio da técnica é o destino para o qual o homem foi encaminhado há tempo.
Mas só agora isso se torna para o homem uma preocupação, porque só agora o homem
experimenta o risco de não mais dominar a técnica. O homem desperta agora para a urgência
de recuperar as rédeas de seu destino, de fazer-se livre em relação a ele. Para isso, é preciso
tornar-se ouvinte do destino. “Tornar-se ouvinte” é metáfora que remete à linguagem. E, para
Heidegger, “a linguagem é casa do ser”4. O homem torna-se ouvinte do ser ao atentar para a
linguagem, para o seu modo de desencobrimento e, especialmente, para aquilo que nesse
desencobrimento permanece escondido. Que a linguagem seja insuficiente para expressar o
pensamento do ser, mostra apenas sua pertinência a uma época que esqueceu o ser. A
linguagem que dispomos é a linguagem do ente, uma linguagem já em muito convertida em
mero instrumento. Fala-se muito em linguagem técnica para designar terminologias
específicas a cada âmbito de consideração dos entes. Celebra-se essa linguagem pela sua
clareza e precisão. Mas ela é mais propriamente uma não-linguagem, porque já não pode ser
para o homem o espaço da articulação do sentido, o espaço para o acontecer essencial de sua
liberdade. Essa linguagem não convém ao pensar, apenas ao cálculo; ela é a linguagem da
racionalidade instrumental que serve muito bem aos propósitos do fazer técnico-científico5.
Ao pensamento convém uma linguagem mais livre, como livre também deve ser o
pensamento para atingir a essência do que é digno de ser pensado e que se mostra na relação
mais originária do homem com o acontecer do ser. A linguagem da arte, a linguagem poética,
na medida em que não se limita à mera representação do real que se mostra na
4
Esta é uma afirmação famosa de Heidegger que aparece na Carta sobre o Humanismo (1985, p. 33), mas
também em outros escritos.
5
Na filosofia, o positivismo lógico é a expressão da extensão máxima do acontecer técnico na linguagem. A
ironia é que, tal como a filosofia de Nietzsche, o positivismo lógico leva ao extremo o projeto metafísico de
esquecimento do ser, na medida exata em que se apresenta como uma proposta antimetafísica.
7
Por isso tudo depende de pensarmos esta emergência e a protegermos com a dádiva
do pensamento. E como é que isto se dá? Sobretudo, percebendo o que vige na
técnica, ao invés de ficar estarrecido diante do que é técnico. Enquanto
representarmos a técnica, como um instrumento, ficaremos presos à vontade de
querer dominá-la. Todo nosso empenho passará por fora da essência da técnica.
(HEIDEGGER, 2006a, p. 35)
pensamento que pode salvar o homem do domínio da técnica é o pensamento ao modo dos
pensadores. É o pensamento que ouve e acolhe a manifestação mais íntima do ser em sua
época.
Com base nas reflexões heideggerianas, agora também podemos ver a educação como
uma técnica. Pois educar, grosso modo, envolve meio e fim. Pensada como preparação para o
trabalho ou pensada de forma mais ampla como formação integral para o mundo, a educação
visa fins e define meios para conduzir até eles. Compreendida como técnica, a educação é
então uma forma de desencobrimento. O que na educação é desencoberto são as
potencialidades intelectuais e práticas do homem. Conduzindo o desdobrar das
potencialidades humanas, a educação é também uma forma de acontecer da verdade, é
alétheia.
Com a indicação da educação como técnica, ainda não se alcança qualquer
profundidade na reflexão sobre o sentido da educação. Cabe pensar melhor, a partir dessa
indicação, o como do desencobrimento promovido pela educação. Está a educação, enquanto
técnica, inserida no modelo dominante da com-posição? Há indicativos de que a educação se
movimenta também na lógica da disponibilidade?
A reflexão promovida por Heidegger a partir da essência da técnica revela que,
realizando a exploração, o homem também encontra a si mesmo como mera disponibilidade.
No tempo do domínio planetário da técnica, o homem converte-se em material de pesquisa,
em objeto de manipulação midiática, em capital humano para o mercado de trabalho. Por toda
parte o homem se vê convertido em número, em estatística; posto em padrões e regulações. A
educação está incluída nesse contexto de resposta ao apelo da com-posição e também toma o
humano como material a ser transformado segundo interesses que, na maior parte das vezes,
são postos pelo mercado. Mesmo nas universidades, já pouco se faz para além de treinamento
rápido para o exercício de uma profissão. As próprias instituições, não raro, tiram sua razão
de ser dessa demanda, compreendendo-se a partir da pertinência à lógica mercantil.
O domínio da essência moderna da técnica na educação mostra-se de forma ainda mais
contundente na consideração instrumental do conhecimento, compreendido como conjunto de
informações úteis para a realização de fins pretendidos. E quando se pensa para além deste
conhecimento informativo e se considera o desenvolvimento de habilidades intelectuais, aí
também se pensa de forma instrumental, concebendo o desenvolvimento de habilidades em
10
agente explorador. A crítica que precisa ser feita, partindo da reflexão heideggeriana sobre a
técnica, diz respeito à pretensão de limitar a educação a esta forma de consideração do
humano.
A questão que precisa ser posta, então, é: como promover uma educação mais
independente em relação ao destino da técnica que nos desafia a promover apenas um tipo
específico de homem (como disponibilidade), um tipo específico de pensamento (como
cálculo) e que viabiliza um tipo específico de relações (como objetivação)? Se pensarmos no
que está em jogo na educação, no que é promovido, transformado e potencializado por ela,
estaremos sempre e a cada vez pensando no homem. A educação é, enquanto entendida
largamente como técnica, um modo privilegiado de desencobrimento do humano. Pela
educação o humano é desdobrado a partir de sua essência.
Mas, qual é a essência do homem? No tempo do domínio da técnica a essência
humana é previamente desafiada a se mostrar a partir dos traços da disponibilidade (para o
trabalho, para o consumo etc.), da racionalidade (pensamento representativo calculador) e da
exploração (atividade ordenadora, produtora, transformadora). Para Heidegger, desde Ser e
Tempo, a essência humana é pensada em relação à possibilidade, como abertura, como
liberdade. Na Carta sobre o humanismo, Heidegger reforça uma vez mais a necessidade de
pensar o homem desde sua relação com o ser, enquanto abertura para livre constituição do
humano na relação consciente com seu destino. Assim, para não prender o homem em apenas
uma possibilidade de existir (aquela aberta desde a essência da técnica), a educação precisa
cuidar da relação do homem com sua essência; isto é, precisa cuidar do homem em sua
relação com o ser. Fazendo isso a educação fica em condições de promover o cuidado com o
humano, preservando-o em sua liberdade essencial – a salvo da ameaça de trancamento na
forma de desencobrimento destinada pela técnica moderna.
O caminho que Heidegger aponta para que o homem conquiste uma relação mais livre
com a técnica, também é o caminho que podemos pensar para a promoção de uma educação
mais humana e menos instrumental: o caminho do pensamento reflexivo. Tanto quanto a arte,
o pensamento reflexivo oferece a possibilidade de experimentar outras formas de relação com
o real, superando os limites da mera racionalidade representativa que prende o homem a uma
realidade objetivada. Através do pensamento reflexivo o homem poderá enfim alcançar o
acontecimento do ser e compreender de forma mais originária sua pertença ao mundo.
Por fim, pela promoção do pensamento reflexivo (e também através das artes) a
educação pode promover uma relação essencialmente humana, pautada pelo respeito e pela
solidariedade. Nesta nova perspectiva as relações de ensino-aprendizagem se alteram. Ensinar
12
e aprender não são mais definidos pelo repasse e pela aquisição de conhecimentos úteis.
Aprender é aprender a pensar. Ensinar é deixar aprender6. O autêntico professor é aquele que
convida a aprender, não lhe cabendo ensinar nada além do próprio aprender. Aquele que
convida já não é nenhuma autoridade, nenhum superior; aquele que convida é um cúmplice
para o pensar, é um amigo. Mediada pelo compromisso comum de promover o pensamento
reflexivo, a amizade entre quem ensina e quem aprende pode, enfim, acontecer de forma
sincera.
Conclusão
O exposto até aqui teve dois momentos centrais que podem ser sintetizados, agora, da
seguinte forma:
(1) O advento da técnica moderna lançou o homem em um paradigma interpretativo
que faz surgir o real como disponibilidade (como objeto disponível aos propósitos humanos).
Heidegger reconhece um perigo inerente a esta forma de interpretação, que consiste
precisamente no fato de ela tornar-se absoluta, impedindo que o homem experimente formas
mais originárias de compreensão, não tomando a si mesmo senão como mera disponibilidade.
(2) A educação compartilha do paradigma interpretativo da técnica moderna,
conforme pode ser verificado não apenas na consideração geral do humano em função de sua
disponibilidade (pertinência) ao mercado, mas também pela valorização da racionalidade
instrumental, pela hipervalorização do conhecimento informativo e pela objetivação das
relações de ensino-aprendizagem. Esse modo de acontecer da educação conserva o perigo
inerente à técnica moderna e colabora para sua absolutização. Não se segue, contudo, que
devemos rejeitá-la de pronto e por inteiro. Basta não torná-la a única forma de promover a
educação. Isso pode-se conseguir, principalmente pela afirmação do que Heidegger chamou
de pensamento reflexivo. A promoção do pensamento reflexivo pode manter o homem numa
compreensão mais originária de si e do mundo, viabilizando uma relação mais livre com a
técnica e as tecnologias. Além disso, pela promoção do pensamento reflexivo pode-se, enfim,
alcançar uma resignificação das relações de ensino-aprendizagem, menos instrumental e mais
solidária.
6
Heidegger apresenta essa concepção de ensinar com deixar aprender nos últimos seminários ministrados em
Freiburg, entre 1950 e 1952, posteriormente publicados sob o título O que significa pensar? (HEIDEGGER,
1954). “Deixar aprender” é tradução para lernen lassen, que, considerando a plurissignificação do verbo lassen,
também poderia ser traduzido por “convidar a aprender”, tal como prefere Lyra (2008, p. 51).
13
REFERÊNCIAS
DALBOSCO, Claudio. O cuidado como conceito articulador de uma nova relação entre
filosofia e pedagogia. Educação & Sociedade, Campinas, v. 27, n. 97, p. 1113-1135, set./dez.
2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v27n97/a03v2797.pdf>. Acesso em: 23
abr. 2014.
_____. O que quer dizer pensar? In: _____. Ensaios e conferências. 3. ed. Petrópolis: Vozes;
Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2006b, p. 111-124.
_____. Ser e tempo. Trad. Márcia de Sá Cavalcante. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.
_____. ¿Y para que poetas? In: _____. Caminos de bosque. Madrid: Alianza, 1996, p. 241-
289.
_____. Carta sobre o humanismo. Trad. Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimarães, 1985.