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Não se imputa qualquer inabilidade Quem dera a Alegre, um dos mais poeta, que começou por escrever poe-
da parte da tradução – feita a partir de exportados dos nossos vates, que che- sia comprometida, encontrou aquele
uma língua que, de resto, nos diz pou- gou anteontem de Pádua com mais que soube erguer-se das ruínas da his-
co mais do que ver formigas mortas uns centímetros na crista, mais dou- tória, “louvar o mundo estropiado”, a
coladas lado a lado, e dispostas segun- tor honoris causa, ter nalgum dos livri- serenidade que nasce de uma compai-
do um padrão tão evidente quanto enig- nhos de poemas que escreve não já xão das coisas pequenas, o incitamento
mático –, apenas se refere que o efei- com caneta mas com pá, indo à sepul- do trivial a orquestrar essa harmonia
to de falsa frieza, graciosa ironia e tura levantar os mortos para fazer que preenche um admirável plano-sequên-
humor delicado e constante, são ele- teatrinhos de escola com eles, quem cia, enquanto as observações do poeta
mentos que raras vezes se combinam lhe dera um poema tão simples, tão se sucedem numa hábil progressão, enle-
nas versões portuguesas com a eficá- firme na língua de Camões ou na de vando o leitor, provocando nele a sen-
cia que encontramos no inglês. E aqui Jorge Jesus como este: “Na Beleza sação de que mesmo o acaso ouve músi-
ressalve-se que a diferença pode mui- Criada Pelos Outros: Só na beleza cria- ca, gosta de Brahms ou Beethoven (eu
to bem estar, não tanto na competên- da pelos outros/ existe consolação, na sei lá – não percebo puto de música clás-
cia do tradutor, como na rede mais fina música/ e nos poemas dos outros/ Só sica). Tece assim essa pausa emocional, 6RPEUDVGH6RPEUDV
dessa língua para prender subtilezas. os outros nos podem salvar,/ mesmo esse avesso do mundo que às vezes nos GH$GDP=DJDMHZVNL
Isto não impede, de qualquer modo, que a solidão tenha o sabor/ do ópio. parece um mero capricho lírico, outras 6HOHFÄÀRHWUDGXÄÀRGH0DUFR%UXQR
que se encontre nesta antologia poe- Não são o inferno, os outros,/ se os vezes é aquele sinal inusitado que não 5HYLVÀRGH-RUJH6RXVD%UDJD
mas que, mesmo se não abrem muitas espreitarmos de manhã, quando/ têm precisa convencer-nos dessas grandes 3UHI¾FLRGH$GDP.LUVFK
torneiras do português, nem o pingam a testa limpa, lavada pelos sonhos./ categorias como o Bem ou a Beleza, mas 3¾JLQDV
em superfícies e texturas muito diver- Por isso cismo muito sobre a palavra/ que na sua pura e espirituosa gratuiti- (GLÄÀR7LQWDGD&KLQDQRYHPEUR
sas, poemas que envergonham a maio- que hei-de usar, «ele» ou «tu». Cada dade nos salva a vida. GH
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