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Documento Preparatório

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APRESENTAÇÃO

A Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), o Centro de Estudos de Música Sacra


e Liturgia da Arquidiocese de Campinas (CEMULC) e o Pateo do Collegio, sentem-se honrados por sua inscrição
no I Studium de Música Sacra: Canto Gregoriano e Órgão após 50 anos da Instrução “Musicam Sacram” a
realizar-se nos dias 28, 29 e 30 de julho de 2017. Seja bem-vindo!

O I Studium de Música Sacra propõe estimular uma reflexão a respeito do papel do canto gregoriano e do
órgão, sobretudo no seu âmbito litúrgico, musical, pastoral e estético, precisamente cinquenta anos após a
promulgação da Instrução “Musicam Sacram” do Concílio Ecumênico Vaticano II, a fim de:
 Refletir sobre o fenômeno musical, sempre presente na história da Igreja;
 Discutir sobre a mudança paradigmática na música sacra, desde o período da promulgação da
referida Instrução (1967);
 Recuperar parte do patrimônio musical da Igreja, em particular, o canto gregoriano e o órgão, em
diálogo com a cultura contemporânea;
 Estimular a urgente necessidade de uma sólida formação dos diversos ministérios litúrgico-
musicais.

A fim de prepará-los para as atividades previstas no I Studium de Música Sacra, encaminhamos e


sugerimos a leitura prévia de três documentos da Igreja sobre a Música Sacra:
 Motu Proprio “Tra le sollecitudini” de S. Pio X (1903);
 Constituição Conciliar “Sacrosanctum Concilium” – Capítulo VI (1963)
 Instrução “Musicam Sacram” (1967).

Desejamos uma boa preparação para o I Studium de Música Sacra!

Campinas, 28 de junho de 2017.

Dr. Clayton Júnior Dias


Diretor do CEMULC
Coordenador geral do I Studium de Música Sacra

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Motu Proprio
“TRA LE SOLLECITUDINI”
do Sumo Pontífice Pio X sobre a Música Sacra
INTRODUÇÃO

Entre os cuidados do ofício pastoral, não só desta suprema Cátedra, que por inescrutável disposição da
Providência ainda que indignos ocupamos, mas também de toda a Igreja particular, é, sem dúvida, principal o
de manter e promover o decoro da Casa de Deus, onde os augustos mistérios da religião se celebram e onde o
povo cristão se reúne para receber a graça dos Sacramentos, “assistir” ao Santo Sacrifício do Altar, adorar o
augustíssimo Sacramento do Corpo do Senhor e unir-se à oração da Igreja no público e solene ofício litúrgico.
Nada, portanto deve ocorrer no templo que perturbe ou somente diminua a piedade e devoção dos fiéis nada
que dê razoável motivo de desgosto ou de escândalo, nada sobretudo que diretamente ofenda o decoro e a
santidade das sagradas funções e por isso seja indigno da Casa da Oração e da majestade de Deus.

Não trataremos separadamente dos abusos que nesta matéria podem ocorrer. A Nossa atenção volve-se
hoje para um dos mais comuns, dos mais difíceis de desarreigar e que às vezes temos de deplorar até naqueles
lugares onde tudo o mais é digno do máximo encómio pela beleza e suntuosidade do templo, pelo esplendor e
diligente ordem das cerimônias, pela frequência do clero e pela gravidade e piedade dos ministros que celebram.
Tal é o abuso nas coisas do canto e da música sacra. E na verdade, ou seja, pela natureza desta arte de per si
flutuante e variável, ou pela sucessiva alteração do gosto e dos hábitos através do longo correr dos tempos, seja
pelo funesto influxo que sobre a arte sacra exerceu a arte profana e teatral, seja pelo prazer que a música
diretamente produz e que nem sempre torna fácil nos justos limites, seja enfim pelos muitos preconceitos que
em tal matéria levemente se insinuam e se mantêm depois tenazmente ainda junto das pessoas autorizadas e
piedosas, há uma contínua tendência no sentido de a desviar da reta norma, firme no seu fim, para o qual a arte
é admitida ao serviço do culto. Esta norma é expressa dum modo bem claro nos cânones eclesiásticos nas
Ordenações dos Concílios Gerais e provinciais, nas numerosas prescrições emanadas das Sagradas
Congregações romanas e dos Sumos Pontífices Nossos Predecessores.

Com verdadeira satisfação d’ânimo é-Nos grato reconhecer o muito bem que em tal ponto se tem feito
no último decênio nesta Nossa ilustre cidade de Roma e em muitas Igrejas da Nossa pátria, mas mais
particularmente nalgumas nações onde homens igrejeiros e zelosos do culto de Deus, com a aprovação desta
S. Sé e sob a direção dos Bispos, se uniram em florescente Sociedade para repor em pleníssima honra a música
sacra em quase todas as igrejas e capelas. Estamos, todavia, muito longe ainda deste fato ser comum a todos; e,
se consultarmos a Nossa experiência pessoal e tivermos em conta as inumeráveis queixas que, de toda a parte
Nos chegaram, depois sobretudo que aprouve ao Senhor elevar a Nossa humilde Pessoa ao supremo grau do
Pontificado Romano, sem deferir mais tempo, cremos ser o Nosso primeiro dever levantar desde já a voz para
reprovar e condenar completamente o que, nas funções do culto e no ofício eclesiástico, se reconhece como
não conforme à reta norma acima indicada. De fato, sendo Nosso vivíssimo desejo que o verdadeiro espírito
cristão refloresça por todos os modos e se mantenha em todos os fiéis, é necessário antes de mais nada, atender
à santidade e dignidade do tempo em que justamente os fiéis se congregam para atingir este espírito na sua
primeira e indispensável fonte, que é a participação ativa nos sacrossantos mistérios e na oração pública e solene
da Igreja. E em vão esperamos que, num tal fim, sobre nós deixa copiosa e bênção do céu quando a nossa
homenagem ao Altíssimo, em vez de subir em odor de suavidade, reponha, pelo contrário, na mão do Senhor
o azorrague com que outrora o Divino Redentor expulsou do templo os indignos profanadores.

Por estas razões, afim de que ninguém possa doravante desculpar-se de não conhecer claramente o seu
dever, e para que não haja nenhuma indeterminação na interpretação d’algumas coisas já ordenadas, julgamos
urgente resumir brevemente os princípios que regulam a música sacra nas funções do culto e recolher ao mesmo
tempo, num quadro geral, as principais prescrições da Igreja contra os abusos mais comuns em tal matéria. E
por isso de motu próprio e de ciência certa, publicamos a Nossa presente Instrução, à qual Nós queremos, na
plenitude da Nossa Autoridade Apostólica, seja dada força de lei, como a Código Jurídico da Música Sacra, e
impomos a todos, por nosso presente escrito, a sua mais escrupulosa observância.

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INSTRUÇÃO SOBRE A MÚSICA SACRA

I. PRINCÍPIOS GERAIS

1. A música sacra, como parte integrante da Liturgia solene, participa do seu fim geral, que é a glória de
Deus, a santificação e edificação dos fiéis. A música concorre para aumentar o decoro e esplendor das sagradas
cerimônias, e assim como o seu ofício principal é revestir de adequadas melodias o texto litúrgico proposto à
consideração dos fiéis assim o seu fim próprio é acrescentar maior eficácia ao mesmo texto afim de que por tal
meio se excitem mais facilmente os fiéis á piedade e se preparem melhor para receber os frutos da graça,
próprios da celebração dos sagrados mistérios.

2. Por isso a música sacra deve possuir em grau eminente as qualidades próprias da Liturgia, e
nomeadamente a santidade e a bondade das formas; donde resulta espontaneamente outro seu carácter, a
universalidade.
Deve ser santa e por isso excluir todo o profano não só em si mesmo, mas também no modo como é
desempenhada pelos executantes.
Deve ser arte verdadeira, não sendo possível que doutra forma exerça no ânimo dos ouvintes aquela eficácia,
que a Igreja se propõe obter ao admitir na sua Liturgia a arte dos sons.
Mas seja ao mesmo tempo universal no sentido de que, embora seja permitido a cada nação admitir nas
composições religiosas aquelas formas particulares, que em certo modo constituem o carácter específico da sua
própria música, estas devem ser de tal maneira subordinadas aos caracteres gerais da música sacra que ninguém
doutra nação ao ouvi-las sinta uma impressão desagradável.

II. GÊNEROS DE MÚSICA SACRA

3. Estas qualidades encontram-se em grau sumo no canto gregoriano que é por consequência o canto
próprio da Igreja Romana, o único canto que ela herdou dos antigos Padres, que ela conservou cuidadosamente
no decurso dos séculos em seus códices litúrgicos, e que, como seu, propõe diretamente aos fiéis, o qual [canto]
estudos recentíssimos restituíram felizmente à sua integridade e pureza.
Por tais motivos, o canto gregoriano foi sempre considerado como o supremo modelo da música sacra
podendo com toda a razão estabelecer-se a seguinte lei geral: Uma composição religiosa será tanto mais sacra e litúrgica
quanto mais se aproximar no andamento, inspiração e sabor, da melodia gregoriana, e será tanto menos digna do templo quanto
mais se afastar daquele supremo modelo.
O antigo canto gregoriano tradicional deverá, pois, estabelecer-se amplamente nas funções do culto,
sendo certo que uma função eclesiástica nada perde da sua solenidade, ainda quando não seja acompanhada
senão da música gregoriana.
Procure-se nomeadamente restabelecer o canto gregoriano no uso do povo, para que os fiéis tomem de
novo parte mais ativa nos ofícios litúrgicos, como se fazia antigamente.

4. As sobreditas qualidades realizam-se também em sumo grau na polifonia clássica, especialmente na da


escola romana, que no século XVI atingiu a sua perfeição com as obras de Giovanni Pierluigi da Palestrina e que
continuou depois a produzir composições de excelente bondade musical e litúrgica. A polifonia clássica
aproxima-se bastante do supremo modelo da música sacra, que é o canto gregoriano, e mereceu por este motivo
ser admitida, juntamente com o canto gregoriano, nas funções mais solenes da Igreja, quais são as da Capela
Pontifícia. Por conseguinte, também essa deverá restabelecer-se copiosamente nas funções eclesiásticas,
principalmente nas mais insignes Basílicas, nas igrejas catedrais, nas dos seminários e outros institutos
eclesiásticos, onde não costumam faltar os meios necessários.

5. A Igreja tem reconhecido e favorecido sempre o progresso das artes, admitindo ao serviço do culto tudo
o que o génio tem sabido encontrar de bom e belo através dos séculos, salvas, contudo sempre as leis litúrgicas.
Pelo que respeita à música mais moderna, é também essa admitida na igreja, visto que apresenta composições
de tal bondade, seriedade e gravidade que não são, de forma alguma, indignas das funções litúrgicas.
Todavia, como a música moderna foi inventada principalmente para uso profano deverá vigiar-se com
maior cuidado para que as composições musicais de estilo moderno, que se admitem na igreja, não contenham
coisa alguma profana, não tenham reminiscência de motivos teatrais e não sejam compostas mesmo nas suas
formas externas sobre o andamento das composições profanas.

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6. Entre os vários gêneros de música moderna o que parece menos próprio para acompanhar as funções
do culto, é o estilo teatral que durante o século passado esteve tanto em voga, sobretudo em Itália. Este por
sua natureza apresenta a máxima oposição ao canto gregoriano e à polifonia clássica, e por isso mesmo às leis
mais importantes de toda a boa música sacra. Além disso, a íntima estrutura, o ritmo e o chamado convencionalismo
de tal estilo não se adaptam bem às exigências da verdadeira música litúrgica.

III. TEXTO LITÚRGICO

7. A língua própria da Igreja Romana é a latina. É por isso, proibido nas solenes funções litúrgicas, cantar
em língua vulgar seja o que for; e muito mais que se cantem em vernáculo as partes variáveis ou comuns da
Missa e do Ofício.

8. Estando determinados para cada função litúrgica os textos que hão de pôr-se em música e a ordem
porque se devem cantar, não é lícito alterar esta ordem, nem substituir os textos prescritos por outros de própria
escolha, nem os omitir na íntegra, ou ainda só em parte, a não ser que as Rubricas litúrgicas permitam suprir
com o órgão alguns versículos de texto, que são simplesmente recitados no coro. Somente é permitido, segundo
o costume romano, cantar um moteto em honra do SS. Sacramento depois do Benedictus da Missa solene. Permite-
se outro sim que, depois de cantado o prescrito ofertório da Missa, se possa executar no tempo que resta um
breve moteto sobre palavras aprovadas pela Igreja.

9. O texto litúrgico tem de ser cantado como está nos livros, sem alterações ou posposição de palavras sem
repetições indevidas, sem partir as sílabas, e sempre em modo inteligível aos fiéis que ouvem.

IV. FORMA EXTERNA DAS COMPOSIÇÕES SACRAS

10. Cada uma das partes da Missa e do Ofício devem conservar até musicalmente o conceito e a forma que
a tradição eclesiástica lhes deu, e que se encontram admiravelmente expressados no canto gregoriano. É, pois,
diverso o modo de compor um introito, um gradual, uma antífona, um hino, uma Gloria in excelsis, etc.

11. Em particular observem-se as normas seguintes:


a. o Kyrie, Gloria, Credo, etc., na Missa devem conservar a unidade de composição própria do seu texto.
Não é, por conseguinte, licito compô-las como peças separadas, de modo que cada uma destas forme uma
composição musical completa, e tal que possa separar-se das restantes e ser substituída por outra.
b. No ofício de Vésperas deve seguir-se ordinariamente a norma do Cæremoniale Episcoporum, que
prescreve o canto gregoriano para salmodia, e permite a música figurada nos versículos do Glória Patri e no
hino.
Será, contudo, lícito nas maiores solenidades alternar o canto gregoriano do coro com os chamados
falsibordoni, (falso bordões) ou com versículos em semelhante modo convenientemente compostos.
Poderá também conceder-se uma vez por outra, que cada um dos salmos se ponha inteiramente em
música, contanto que em tais composições se conserve a forma própria da salmodia, isto é, contanto que os
cantores pareçam salmodiar entre si, já com motivos musicais novos, já com motivos tirados do canto
gregoriano, ou imitados deste.
Estão, pois, para sempre excluídos e proibidos os chamados salmos di concerto.
c. Conserve-se nos hinos da Igreja a forma tradicional do hino. Não é, portanto, permitido compor,
p. ex. o Tantum ergo, de modo que a primeira estrofe apresente a forma de romanza, cavatina ou adagio, e o Genitori
a de allegro.
d. As antífonas de Vésperas têm de ser cantadas ordinariamente com a melodia gregoriana que lhes é
própria. Porém, se em algum caso particular se cantassem em música, não deverão nunca ter a forma duma
melodia de concerto, nem a amplitude dum moteto ou duma cantata.

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V. OS CANTORES

12. Excetuadas as melodias próprias do celebrante e dos ministros, as quais devem ser sempre só em canto
gregoriano sem algum acompanhamento de órgão, todo o restante canto litúrgico e próprio do coro dos levitas,
e por isso os cantores de Igreja, ainda que sejam leigos fazem propriamente as vezes do coro eclesiástico. Pelo
que as músicas executadas, ao menos na sua maior parte, devem conservar o carácter de música de coro.
Não se entende com isso excluir de todo os solos. Mas estes não devem nunca predominar na função,
de maneira que a maior parte do texto litúrgico seja assim executada: deve antes de ter o carácter duma simples
frase melódica e estar intimamente ligada ao resto da composição coral.

13. Resulta do mesmo princípio que os cantores têm na igreja um verdadeiro Ofício litúrgico e que as
mulheres, por conseguinte sendo incapazes de tal ofício não podem ser admitidas a fazer parte do coro ou da
capela musical. Querendo-se, pois, ter vozes agudas de sopranos e contraltos, empreguem-se os meninos
segundo o uso antiquíssimo da Igreja.

14. Por último não se admitem a fazer parte da capela musical senão homens de conhecida piedade e
probidade de vida, os quais com a sua modesta e devota atitude, durante as funções litúrgicas se mostrem dignos
do santo ofício que exercem. Será além disso conveniente que os cantores, enquanto cantam na igreja, vistam
hábito eclesiástico e sobrepeliz e que, se o coro estiver muito exposto à vista do público sejam resguardados
por grades.

VI. ÓRGÃOS E INSTRUMENTOS

15. Posto que a música própria da Igreja seja a música meramente vocal, contudo é também permitida a
música com acompanhamento do órgão. Nalgum caso particular, nos devidos termos e com as convenientes
cautelas, poderão ainda admitir-se outros instrumentos, mas nunca sem licença especial do Ordinário, conforme
as prescrições do Cæremoniale Episcoporum.

16. Como o canto deve dominar sempre, o órgão e os instrumentos devem simplesmente sustentá-lo, e nunca
oprimi-lo.

17. Não é permitido antepor ao canto extensos prelúdios, ou interrompê-lo com peças de interlúdios.

18. O som do órgão nos acompanhamentos do canto, nos prelúdios interlúdios e outras passagens
semelhantes, não só deve ser conduzido segundo a própria natureza de tal instrumento mas deve participar de
todas as qualidades que tem a verdadeira música sacra acima mencionadas.

19. É proibido na igreja o uso do piano como o de instrumentos fragorosos ou leves, como são o tambor, o
bombo, os pratos, as campainhas e semelhantes.

20. É rigorosamente proibido que as chamadas bandas musicais toquem nas igrejas, e só em algum caso
particular com o consentimento do Ordinário será permitido admitir uma escolha limitada, judiciosa e
proporcionada ao ambiente de instrumentos de sopro, contando que a composição e acompanhamento a
executar-se esteja escrito em estilo grave conveniente e semelhante em tudo ao do órgão.

21. Nas procissões fora da igreja pode o Ordinário permitir a banda musical, uma vez que não se executem
de modo algumas composições profanas. Seria de desejar em tais ocasiões que o concerto musical se restringisse
a acompanhar algum cântico espiritual em latim ou vulgar, proposto pelos cantores ou pias congregações que
tomam parte na procissão.

VII. EXTENSÃO DA MÚSICA SACRA

22. Não é lícito por motivo do canto ou do som, fazer esperar o sacerdote no altar mais tempo do que exige
a cerimônia litúrgica. Segundo as prescrições eclesiásticas o Sanctus deve ser cantado antes de elevação, devendo,
no entanto, também o celebrante atender neste ponto aos cantores. O Gloria e o Credo, segundo a tradição
gregoriana, devem ser relativamente breves.

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23. Em geral é condenável, como abuso gravíssimo, que nas funções eclesiásticas apareça secundária a
Liturgia e como ao serviço da música, quando é certo que a música é simplesmente parte da liturgia e sua
humilde serva.

VIII. MEIOS PRINCIPAIS

24. Para o exato cumprimento de quanto fica aqui estabelecido, os Bispos, se ainda o não fizeram, instituam
nas suas dioceses uma Comissão especial de pessoas verdadeiramente competentes na música sacra, à qual, no
modo que julgarem mais oportuno, confiarão o cargo de vigiar sobre as músicas que se vão executando em
suas igrejas. Nem devem atender tão somente a que sejam boas as músicas, senão também a que elas
correspondam ao valor dos cantores e sejam sempre bem executadas.

25. Nos Seminários de clérigos e nos institutos eclesiásticos, segundo as prescrições tridentinas, consagrem-
se todos com diligência e amor ao já louvado canto gregoriano tradicional e os superiores sejam nesta parte
liberais em animar e louvar os seus jovens súbditos. Igualmente onde for possível, promova-se entre os seus
clérigos a fundação duma Schola Cantorum para a execução da sagrada polifonia e da boa música litúrgica.

26. Nas lições ordinárias de Liturgia moral e direito canônico, que se dão aos estudantes de Teologia não se
deixe de tocar naqueles pontos que de modo mais particular dizem respeito aos princípios e leis da música sacra
e procure-se completar a doutrina com alguma instrução especial acerca da estética da arte sacra, para que os
clérigos não saiam do Seminário destituídos destas noções, tão necessárias à plena cultura eclesiástica.

27. Tenha-se o cuidado de restabelecer, ao menos nas igrejas principais, as antigas Scholæ cantorum como se
há feito já com óptimo fruto em muitos lugares. Não é difícil ao clero zeloso instituir tais Scholæ até nas igrejas
de menor importância antes encontra nelas um meio assaz fácil para reunir em volta de si os meninos e os
adultos, com proveito para eles e edificação do povo.

28. Procure-se sustentar e promover do melhor modo as escolas superiores de música sacra, onde já existem
e concorrer para as fundar, onde não existam. É sumamente importante que a mesma Igreja proveja à instrução
dos seus mestres, organistas e cantores, segundo os verdadeiros princípios da arte sacra.

IX. CONCLUSÃO

29. Por último recomenda-se aos mestres de capela, aos cantores, aos clérigos, aos superiores dos Seminários,
dos institutos eclesiásticos e das comunidades religiosas, aos párocos e reitores de igrejas, aos cónegos das
colegiadas e catedrais, e sobretudo aos Ordinários diocesanos que favoreçam com todo o zelo estas sábias
reformas de há muito desejadas e por todos unanimemente pedidas, para que não caia, em desprezo a mesma
autoridade da Igreja, que repetidamente as há proposto e agora de novo as inculca.
Dado no Nosso Palácio do Vaticano, na Festa da Virgem e Mártir Santa Cecília, 22 de novembro de 1903
primeiro do Nosso Pontificado.

PIO X, papa.

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Constituição Conciliar
“SACROSANCTUM CONCILIUM”
sobre a Sagrada Liturgia
O Concílio Ecumênico Vaticano II aprovou a Constituição “Sacrosanctum Concilium” sobre a Sagrada
Liturgia no dia 04 de dezembro de 1963. Apresentamos aqui o Capítulo VI que refere-se à Música Sacra.

CAPÍTULO VI
A MÚSICA SACRA

IMPORTÂNCIA PARA A LITURGIA

112. A tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de
arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte necessária ou integrante
da Liturgia solene.
Não cessam de a enaltecer, quer a Sagrada Escritura,1 quer os Santos Padres e os Romanos Pontífices,
que ainda recentemente, a começar em S. Pio X, vincaram com mais insistência a função ministerial da música
sacra no culto divino.
A música sacra será, por isso, tanto mais santa quanto mais intimamente unida estiver à ação litúrgica,
quer como expressão delicada da oração, quer como fator de comunhão, quer como elemento de maior
solenidade nas funções sagradas. A Igreja aprova e aceita no culto divino todas as formas autênticas de arte,
desde que dotadas das qualidades requeridas.
O sagrado Concílio, fiel às normas e determinações da tradição e disciplina da Igreja, e não perdendo de
vista o fim da música sacra, que é a glória de Deus e a santificação dos fiéis, estabelece o seguinte:

113. A ação litúrgica reveste-se de maior nobreza quando é celebrada de modo solene com canto, com a
presença dos ministros sagrados e a participação ativa do povo. Observe-se, quanto à língua a usar, o art. 36;
quanto à Missa, o art. 54; quanto aos sacramentos, o art. 63; e quanto ao Ofício divino, o art. 101.

PROMOÇÃO DA MÚSICA SACRA

114. Guarde-se e desenvolva-se com diligência o patrimônio da música sacra. Promovam-se com empenho,
sobretudo nas igrejas catedrais, as “Scholae cantorum”. Procurem os Bispos e demais pastores de almas que os
fiéis participem ativamente nas funções sagradas que se celebram com canto, na medida que lhes compete e
segundo os art. 28 e 30.

115. Dê-se grande importância nos Seminários, Noviciados e casas de estudo de religiosos de ambos os sexos,
bem como noutros institutos e escolas católicas, à formação e prática musical. Para o conseguir, procure-se
preparar também e com muito cuidado os professores que terão a missão de ensinar a música sacra.
Recomenda-se a fundação, segundo as circunstâncias, de Institutos Superiores de música sacra.
Os compositores e os cantores, principalmente as crianças, devem receber também uma verdadeira
educação litúrgica.

116. A Igreja reconhece como canto próprio da liturgia romana o canto gregoriano; terá este, por isso, na ação
litúrgica, em igualdade de circunstâncias, o primeiro lugar.
Não se excluem todos os outros gêneros de música sacra, mormente a polifonia, na celebração dos
Ofícios divinos, desde que estejam em harmonia com o espírito da ação litúrgica, segundo o estatuído no art.
30.

117. Procure terminar-se a edição típica dos livros de canto gregoriano; prepare-se uma edição mais crítica
dos livros já editados depois da reforma de S. Pio X.

1
Cf. Ef 5, 19; Col 3, 16.

10
Convirá preparar uma edição com melodias mais simples para uso das igrejas menores.2

118. Promova-se muito o canto popular religioso, para que os fiéis possam cantar tanto nos exercícios
piedosos e sagrados como nas próprias ações litúrgicas, segundo o que as rubricas determinam.

ADAPTAÇÃO ÀS DIFERENTES CULTURAS

119. Em certas regiões, sobretudo nas Missões, há povos com tradição musical própria, a qual tem excepcional
importância na sua vida religiosa e social. Estime-se como se deve e dê-se-lhe o lugar que lhe compete, tanto
na educação do sentido religioso desses povos como na adaptação do culto à sua índole, segundo os art. 39 e
40.
Por isso, procure-se cuidadosamente que, na sua formação musical, os missionários fiquem aptos, na
medida do possível, a promover a música tradicional desses povos nas escolas e nas ações sagradas.

INSTRUMENTOS MUSICAIS SAGRADOS

120. Tenha-se em grande apreço na Igreja latina o órgão de tubos, instrumento musical tradicional e cujo som
é capaz de dar às cerimónias do culto um esplendor extraordinário e elevar poderosamente o espírito para Deus.
Podem utilizar-se no culto divino outros instrumentos, segundo o parecer e com o consentimento da
autoridade territorial competente, conforme o estabelecido nos art. 22 § 2, 37 e 40, contanto que esses
instrumentos estejam adaptados ou sejam adaptáveis ao uso sacro, não desdigam da dignidade do templo e
favoreçam realmente a edificação dos fiéis.

NORMAS PARA OS COMPOSITORES

121. Os compositores possuídos do espírito cristão compreendam que são chamados a cultivar a música sacra
e a aumentar-lhe o patrimônio.
Que as suas composições se apresentem com as características da verdadeira música sacra, possam ser
cantadas não só pelos grandes coros, mas se adaptem também aos pequenos e favoreçam uma ativa participação
de toda a assembleia dos fiéis.
Os textos destinados ao canto sacro devem estar de acordo com a doutrina católica e inspirar-se
sobretudo na Sagrada Escritura e nas fontes litúrgicas.

2
Essa edição “com melodias mais simples”, o Gradule Simplex, foi publicada, em 1967, pela Tip. Poliglotta
Vaticana. Em 1975, a mesma Tip. Polig. Vaticana editou a 2ª edição, englobando no mesmo volume os
conteúdos da primeira (adotando, porém, a versão dos salmos da Nova Vulgata) e os do Kyriale Simplex, editado
em 1964.

11
Instrução
“MUSICAM SACRAM"
PROÊMIO

1. A Música Sacra, no que respeita à renovação litúrgica, foi objeto de atento estudo no Concílio Vaticano
II. Este esclareceu a sua função nos divinos ofícios, promulgando princípios e leis sobre ela na Constituição
sobre a Sagrada Liturgia, onde lhe dedicou um capítulo inteiro.

2. As decisões do Concílio começaram já a ser postas em prática na renovação litúrgica recentemente


iniciada. Mas as novas normas referentes à organização dos ritos sagrados e à participação ativa dos fiéis
levantaram problemas sobre a Música Sacra e sobre a sua função ministerial, que deverão resolver-se a fim de
se conseguir uma melhor compreensão de alguns princípios da Constituição sobre a Sagrada Liturgia.

3. Por consequência, o Consilium, instituído pelo Sumo Pontífice para levar à prática a Constituição sobre a
Sagrada Liturgia, examinou cuidadosamente estes problemas e redigiu a presente instrução. Não pretende esta
reunir toda a legislação sobre Música Sacra, mas apenas estabelecer algumas normas principais, que parecem
mais oportunas de momento; é como que a continuação e o complemento da Instrução anterior desta Sagrada
Congregação – preparada por este mesmo Consilium – e publicada a 26 de setembro de 1964 para regular
corretamente a aplicação da Constituição sobre a Sagrada Liturgia.

4. É de esperar que pastores, músicos e fiéis acolham com bom espírito estas normas e as ponham em
prática, de modo que todos à uma se esforcem por conseguir o verdadeiro fim da Música Sacra, “que é a glória
de Deus e a santificação dos fiéis”.3
a. Entende-se por Música Sacra aquela que, criada para o culto divino, possui as qualidades de
santidade e de perfeição de forma.4
b. Com o nome de Música Sacra designam-se aqui: o canto gregoriano, a polifonia sagrada antiga e
moderna nos seus vários gêneros, a música sagrada para órgão e outros instrumentos admitidos e o canto
popular, litúrgico e religioso.5

I. ALGUMAS NORMAS GERAIS

5. A ação litúrgica reveste-se de maior nobreza quando é celebrada com canto: cada um dos ministros
desempenha a sua função própria e o povo participa nela.6 Desta maneira, a oração toma uma forma mais
penetrante; o Mistério da Sagrada Liturgia e o seu carácter hierárquico manifestam-se mais claramente; mediante
a união das vozes alcança-se mais profunda união dos corações; pela beleza do sagrado, mais facilmente o
espírito se eleva ao invisível; finalmente, toda a celebração prefigura com mais clareza a Liturgia santa da Nova
Jerusalém.
Os pastores de almas, portanto, hão de esforçar-se por conseguir esta forma de celebração. Também nas
celebrações sem canto, mas realizadas com o povo, se conservará de maneira apropriada a distribuição de
ministérios e funções que caracteriza as ações sagradas realizadas com canto; procurar-se-á, principalmente, que
haja os ministros necessários e capazes, assim como se fomentará a participação ativa do povo.
A preparação prática de cada celebração litúrgica far-se-á com espírito de colaboração entre todos os que
nela hão de intervir, sob a direção do reitor da igreja, tanto no que se refere aos ritos, como ao seu aspecto
pastoral e musical.

6. Uma organização autêntica da celebração litúrgica, para além da devida distribuição e desempenho das
funções – em que “cada um, ministro ou simples fiel, ao desempenhar o seu oficio, fará tudo e só o que é da
sua competência, segundo a natureza do rito e as leis litúrgicas”7 – requer ainda que se observem bem o sentido

3
Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 112.
4
Cf. S. Pio X, Motu próprio Tra le sollecitudini, n. 2 (22. Nov. 1903): AAS 36 (1903-1904) 332.
5
Cf. S. Congr. dos Ritos, Inst. Musica sacra et sacra Liturgia, n. 4 (3. Set. 1958).
6
Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 113.
7
Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 28.

12
e a natureza própria de cada parte e de cada canto. Para se conseguir isto, é preciso antes de mais que os textos
que por si mesmos devem ser cantados, se cantem efetivamente, empregando o género e a forma pedidos pelo
seu próprio carácter.

7. Entre a forma solene e mais plena das celebrações litúrgicas (em que se canta realmente tudo quanto
exige canto) e a forma mais simples em que não se emprega o canto, pode haver vários graus, conforme o canto
tenha maior ou menor lugar. Todavia, na escolha das partes que se devem cantar, começar-se-á por aquelas que
por sua natureza são de importância maior: em primeiro lugar, por aquelas que devem ser cantadas pelo
sacerdote ou pelos ministros, com resposta do povo; ou pelo sacerdote juntamente com o povo; juntar-se-ão
depois, pouco a pouco, as que são próprias só do povo ou só do grupo de cantores.

8. Sempre que possa fazer-se uma seleção de pessoas para a ação litúrgica que se celebra com canto, convém
dar preferência àquelas que são mais competentes musicalmente, sobretudo se se trata de ações litúrgicas mais
solenes ou daquelas que exigem um canto mais difícil ou são transmitidas pela rádio ou pela televisão.8
Se não puder fazer-se esta seleção e o sacerdote ou ministro não têm voz para cantar bem, podem recitar
sem canto, mas com voz alta e clara, uma ou outra parte mais difícil das que lhes correspondem. Mas não se
faça isto só por comodidade do sacerdote ou do ministro.

9. Na seleção do género de Música Sacra, tanto para o grupo de cantores como o povo, ter-se-ão em conta
as possibilidades dos que hão de cantar. A Igreja não exclui das ações sagradas nenhum género de Música Sacra,
contanto que corresponda ao seu espírito e à natureza de cada uma das suas partes 9 e não impeça a necessária
participação ativa do povo.10

10. A fim de que os fiéis participem ativamente com mais gosto e maior fruto, convém variar oportunamente,
na medida do possível, as formas de celebração e o grau de participação, conforme a solenidade do dia e da
assembleia.

11. Tenha-se em conta que a verdadeira solenidade da ação litúrgica não depende de uma forma rebuscada
do canto ou de um desenrolar magnificente das cerimónias, quanto daquela celebração digna e religiosa que
tem em conta a integridade da própria ação litúrgica; quer dizer, a execução de todas as suas partes segundo a
sua natureza própria. Uma forma mais rica de canto e um desenvolvimento mais solene das cerimónias decerto
que são desejáveis onde haja meios para bem os realizar; mas tudo quanto possa contribuir para que se omita,
se mude ou se realize indevidamente algum dos elementos da ação litúrgica é contrário à sua verdadeira
solenidade.

12. Compete exclusivamente à Sé Apostólica estabelecer os grandes princípios gerais, que são como que o
fundamento da Música Sacra, em conformidade com as normas tradicionais e especialmente com a Constituição
sobre a Sagrada Liturgia.
A regulamentação da Música Sacra pertence também, segundo os limites estabelecidos, às competentes
assembleias territoriais de bispos legalmente constituídas, assim como ao bispo.11

II. OS ATORES DA CELEBRAÇÃO LITÚRGICA

13. As ações litúrgicas são celebrações da Igreja, isto é, do povo congregado e ordenado, sob a presidência
do bispo ou de um presbítero.12
Ocupam na ação litúrgica um lugar especial: o sacerdote e seus ministros por causa da Ordem Sagrada
que receberam; por causa do seu ministério, os ajudantes, os leitores, os comentadores e os que fazem parte do
grupo de cantores.13

8
S. Congr. dos Ritos, Inst. Musica sacra et sacra Liturgia, n. 95 (3. Set. 1958).
9
Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 116.
10
Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 28.
11
Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 22.
12
Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, nn. 26 e 41-42; Const. Lumen Gentium, n. 28.
13
Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 29.

13
14. O sacerdote preside à assembleia em representação de Cristo. As orações que canta ou pronuncia em voz
alta, uma vez que são ditas em nome de todo o povo santo e de todos os que estão presentes,14 devem ser
escutadas religiosamente por todos.

15. Os fiéis cumprem a sua ação litúrgica mediante a participação plena, consciente e ativa que a própria
natureza da liturgia requer; esta participação é um direito e um dever para o povo cristão, em virtude do seu
Batismo.15
Esta participação:
a. Deve ser antes de tudo interior; quer dizer que, por meio dela, os fiéis se unem em espírito ao que
pronunciam ou escutam e cooperam com a graça divina.16
b. Mas a participação deve ser também exterior; quer dizer que a participação interior deve expressar-
se por meio de gestos e atitudes corporais, pelas respostas e pelo canto.17 Eduquem-se também os fiéis no
sentido de se unirem interiormente ao que cantam os ministros ou o coro, de modo que elevem os seus espíritos
para Deus, enquanto os escutam.

16. Nada mais festivo e mais desejável nas ações sagradas do que uma assembleia, que, toda inteira, expressa
a sua fé e a sua piedade por meio do canto. Por conseguinte, a participação ativa de todo o povo a expressar-
se no canto, há de promover-se diligentemente da seguinte maneira:
a. Inclua em primeiro lugar as aclamações, as respostas à saudação do celebrante e dos ministros e às
orações litânicas; e ainda as antífonas e os salmos; e também os; versículos intercalares ou refrão que se repete,
assim como os hinos e os cânticos;18
b. Por meio de uma catequese e de uma pedagogia adaptadas, levar-se-á gradualmente o povo a
participar cada vez mais nos cânticos que lhe pertencem, até alcançar a participação plena;
c. No entanto, alguns cânticos do povo, sobretudo se os fiéis não estão ainda suficientemente
instruídos ou se se empregam composições musicais a várias vozes, poderão confiar-se só ao coro, desde que
não se exclua o povo das outras partes que lhe correspondem. Não deve aprovar-se a prática de confiar só ao
grupo de cantores o canto de todo o Próprio e de todo o Ordinário, excluindo totalmente o povo da
participação cantada.

17. Observar-se-á também, na altura própria, um silêncio sagrado.19 Por meio deste silêncio, os fiéis não se
veem reduzidos a assistir à ação litúrgica como espectadores mudos e estranhos, mas são associados
intimamente ao Mistério que se celebra, graças àquela disposição interior que nasce da Palavra de Deus escutada,
dos cânticos e das orações que se pronunciam e da união espiritual com o celebrante nas partes por ele ditas.

18. Entre os fiéis, com cuidado especial, sejam formados no canto sagrado os membros das associações
religiosas de leigos, de modo a que possam contribuir mais eficazmente para a conservação e promoção da
participação do povo.20 A formação de todo o povo no canto será desenvolvida séria e pacientemente ao mesmo
tempo que a formação litúrgica, segundo a idade dos fiéis, a sua condição, o seu género de vida e o seu nível de
cultura religiosa, começando logo nos primeiros anos de formação nas escolas elementares.21

19. O coro – ou “Capela musical”, ou “Schola Cantorum” – merece uma atenção especial pelo ministério litúrgico
que desempenha. A sua função, segundo as normas do Concílio relativas à renovação litúrgica, alcançou agora
uma importância e um peso maiores. É a ele que compete assegurar a justa interpretação das partes que lhe
pertencem conforme os distintos gêneros de canto e promover a participação ativa dos fiéis no canto.

14
Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 33.
15
Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 14.
16
Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 11.
17
Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 30.
18
Cf. Conc. Vat. U, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 30.
19
Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 30.
20
Cf. S. Congr. dos Ritos, Inst. Inter œcumenici, nn. 19 e 59.
21
Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 19; S. Congr. dos Ritos, Inst. Musica sacra et sacra Liturgia,
nn. 106-108 (3. de Set. 58).

14
Por conseguinte:
a. Ter-se-á um Coro, ou “Capella”, ou “Schola Cantorum”, e dele se cuidará com diligência, sobretudo
nas catedrais e outras igrejas maiores, nos Seminários e nas Casas de Estudo dos religiosos;
b. É igualmente oportuno estabelecer tais coros, mesmo modestos, nas igrejas pequenas.

20. As “Capelas musicais” existentes nas basílicas, catedrais, mosteiros e demais igrejas maiores que adquiriram
grande renome através dos séculos conservando e cultivando um tesouro musical de valor incomparável, serão
conservadas segundo as suas normas próprias e tradicionais, aprovadas pelo Ordinário do lugar, para tornar
mais solenes as ações sagradas.
Os mestres de capela e os reitores das igrejas cuidem, no entanto, de que o povo sempre se associe ao
canto, ao menos nas peças fáceis que lhe pertencem.

21. Procure-se, sobretudo onde não haja possibilidades de formar ao menos um pequeno coro, que um ou
dois cantores bem formados possam assegurar alguns cânticos mais simples com participação do povo e dirigir
e aguentar o canto dos fiéis.
Este cantor deve igualmente existir nas igrejas que podem contar com um coro, a fim de que nas ocasiões
em que o coro não pode intervir se assegure alguma necessária solenidade e, portanto, o canto.

22. O grupo de cantores pode constar, conforme os costumes de cada país e as circunstâncias, quer de
homens e crianças, quer só de homens ou só de crianças, quer de homens e mulheres, quer, onde seja de
verdade conveniente, só de mulheres.

23. Os cantores, tendo em conta a disposição da igreja, situem-se de tal maneira que:
a. apareça claramente a sua função, a saber, que fazem parte da assembleia dos fiéis e realizam uma
função peculiar;
b. a realização do seu ministério litúrgico se torne mais fácil;22
c. a cada um dos seus membros se torne mais possível a plena participação na missa quer dizer, a
participação sacramental;
d. Quando neste grupo houver mulheres, tal grupo deve ficar fora do presbitério.23

24. Além da formação musical, dar-se-á aos membros do coro uma formação litúrgica e espiritual, adaptadas
de modo que, ao desempenhar perfeitamente a sua função litúrgica, não se limitem a dar maior beleza à ação
sagrada e um excelente exemplo aos fiéis mas adquiram também eles próprios um verdadeiro fruto espiritual.

25. Para se conseguir mais facilmente esta formação, tanto técnica como espiritual, devem prestar a sua
colaboração as associações de Música Sacra diocesana, nacionais e internacionais, sobretudo aquelas que foram
aprovadas e repetidas vezes recomendadas pela Sé Apostólica.

26. O sacerdote, os ministros sagrados e os ajudantes, o leitor, os que pertencem ao coro e o comentador
pronunciarão os textos que lhes dizem respeito de forma bem inteligível para que a resposta do povo, quando
o rito o exige, resulte mais fácil e natural. Convém que o sacerdote e os ministros de qualquer grau unam a sua
voz à de toda a assembleia dos fiéis nas partes que pertencem ao povo.24

III. O CANTO NA CELEBRAÇÃO DA MISSA

27. Para a celebração da Eucaristia com o povo, sobretudo nos domingos e festas, há de preferir-se na medida
do possível a forma de missa cantada, até várias vezes no mesmo dia.

28. Conserve-se a distinção entre missa solene, missa cantada e missa rezada estabelecida na Instrução de
1958 (n. 3), segundo as leis litúrgicas tradicionais e em vigor. No entanto, para a missa cantada e por razões
22
S. Congr. dos Ritos, Inst. Inter œcumenici, n. 97.
23
Esta norma foi alterada, a partir do momento em que foi reconhecida pela Sagrada Congregação do Culto
Divino, em 15 de março de 1994, a possibilidade de pessoas do sexo feminino poderem servir ao altar. [Nota
do tradutor]
24
Cf. ibid., n. 48 b.

15
pastorais propõem-se aqui vários graus de participação para que se torne mais fácil, conforme as possibilidades
de cada assembleia, melhorar a celebração da missa por meio do canto.25
O uso destes graus de participação regular-se-á da maneira seguinte: o primeiro grau pode utilizar-se só;
o segundo e o terceiro não serão empregados, íntegra ou parcialmente, senão unidos com o primeiro grau.
Deste modo, os fiéis serão sempre orientados para uma plena participação no canto.

29. Pertencem ao primeiro grau:


a. nos ritos de entrada:
– a saudação do sacerdote com a resposta do povo;
– a oração;
b. na liturgia da Palavra:
– as aclamações ao Evangelho;
c. na liturgia eucarística:
– a oração sobre as oblatas,
– o prefácio com o respectivo diálogo e o “Sanctus”,
– a doxologia final do cânone,
– a oração do Senhor – Pai nosso – com a sua admonição e embolismo,
– o “Pax Domini”,
– a oração depois da comunhão,
– as fórmulas de despedida.

30. Pertencem ao segundo grau:


a. “Kyrie”, “Gloria” e “Agnus Dei”;
b. o Credo;
c. a Oração dos Fiéis.

31. Pertencem ao terceiro grau:


a. os cânticos processionais da entrada e comunhão;
b. o cântico depois da leitura ou Epístola;
c. o “Alleluia” antes do Evangelho;
d. o cântico do ofertório;
e. as leituras da Sagrada Escritura, a não ser que se julgue mais oportuno proclamá-las sem canto.

32. A prática legitimamente em vigor em alguns lugares e muitas vezes confirmada por indultos, de utilizar
outros cânticos em lugar dos cânticos de entrada, ofertório e comunhão previstos pelo “Graduale Romanum”,
pode conservar-se a juízo da Autoridade territorial competente, contanto que esses cânticos estejam de acordo
com as partes da missa e com a festa ou tempo litúrgico. Essa mesma Autoridade territorial deve aprovar os
textos desses cânticos.

33. Convém que a assembleia dos fiéis, na medida do possível, participe nos cânticos do próprio, sobretudo
com respostas fáceis ou outras formas musicais adaptadas.
Dentro do Próprio tem particular importância o cântico situado depois das leituras em forma de Gradual
ou de Salmo responsorial. Por sua natureza é uma parte da liturgia da Palavra: por conseguinte, deve executar-
se estando todos sentados e escutando; melhor ainda, quanto possível, tomando parte nele.

34. Os cânticos chamados “Ordinário da Missa”, se forem cantados a vozes, podem ser interpretados pelo
coro, segundo as normas habituais, “a cappella”, ou acompanhamento de instrumentos, desde que o povo não
fique totalmente excluído da participação no canto.
Nos outros casos, as peças do Ordinário da missa podem distribuir-se entre o coro e o povo ou também
entre duas partes do mesmo povo; assim se pode alternar seguindo os versículos ou outras divisões
convenientes que distribuem o conjunto do texto por secções mais importantes. Mas nestes casos, ter-se-á em
conta o seguinte: o símbolo é uma fórmula de profissão de fé e convém que o cantem todos ou que se cante
de uma forma que permita uma conveniente participação dos fiéis; o Sanctus é uma aclamação conclusiva do
prefácio e convém que habitualmente o cante a assembleia juntamente com o sacerdote; o Agnus Dei pode
25
A IGMR alterou esta distinção. Atualmente passa a ser Missa com o povo e Missa sem o povo. [Nota do tradutor]

16
repetir-se quantas vezes for necessário, sobretudo na concelebração, quando acompanha a fração; convém que
o povo participe neste cântico ao menos com a invocação final.

35. O Pai nosso, é bom que o diga o povo juntamente com o sacerdote.26 Se for cantado em latim,
empreguem-se as melodias oficiais já existentes; mas se for cantado em língua vernácula, as melodias devem
ser aprovadas pela autoridade territorial competente.

36. Nada impede que nas missas rezadas se cante alguma parte do próprio ou do ordinário. Mais ainda:
algumas vezes pode executar-se também outro cântico diferente ao princípio, ao ofertório, à comunhão e no
final da missa; mas não basta que este cântico seja "eucarístico"; é necessário que esteja de acordo com as partes
da missa e com a festa ou tempo litúrgico.

IV. O CANTO NO OFÍCIO DIVINO

37. A celebração cantada do oficio divino é a que mais se adapta à natureza desta oração e indício de maior
solenidade e de mais profunda união dos corações no louvor do Senhor; conforme o desejo expresso pela
Constituição da Sagrada Liturgia,27 recomenda-se encarecidamente esta forma aos que têm de cumprir o ofício
divino no coro ou em comum.
Convém que estes cantem ao menos alguma parte do ofício divino e antes de tudo as horas principais,
isto é, Laudes e Vésperas, principalmente aos domingos e dias festivos.
Também os demais clérigos que vivam em comum por razão dos seus estudos ou que se reúnam para
fazer exercícios espirituais ou noutras reuniões, santifiquem oportunamente as suas assembleias mediante a
celebração cantada de algumas partes do ofício divino.

38. Na celebração cantada do ofício divino, permanecendo o direito vigente para aqueles que têm obrigação
de coro e também os indultos particulares, pode seguir-se o princípio de uma solenização progressiva, cantando
antes de mais as partes que, por sua natureza, reclamem mais diretamente o canto, como sejam os diálogos, os
hinos, os versículos e os cânticos, recitando o restante.

39. Os fiéis devem ser convidados e formados com a necessária catequese a tomar parte em comum, aos
domingos e dias festivos, nalgumas partes do ofício divino, em especial as Vésperas, ou outras horas, segundo
os costumes dos lugares e das assembleias.
De maneira geral, conduzir-se-ão os fiéis, em especial os mais cultivados, graças a uma boa formação, a
empregar na sua oração os salmos, interpretados no seu sentido cristão, de modo que pouco a pouco se sintam
como que conduzidos pela mão a apreciar e a praticar mais a oração pública da Igreja.

40. Esta educação deve dar-se em particular aos membros dos Institutos que professam os conselhos
evangélicos, para obterem riquezas mais abundantes e crescerem na sua vida espiritual. E convém que, para
participarem mais plenamente na oração pública da Igreja, rezem e até – quanto possível – cantem as horas
principais.

41. Conforme a Constituição da Sagrada Liturgia e a tradição secular do rito latino, os clérigos, na celebração
do ofício divino em coro, conservem a língua latina.28
Mas, visto que a mesma Constituição sobre a Sagrada Liturgia29 prevê o uso da língua vernácula no ofício
divino, tanto por parte dos fiéis como das religiosas e dos membros de outros Institutos que professam os
conselhos evangélicos e não são clérigos, procure-se preparar melodias que se utilizem no canto do ofício divino
em língua vernácula.

26
Cf. ibid., n. 48 g.
27
Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 99.
28
Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 101, § 1; S. Congr. dos Ritos, Inst. Inter œcumenici, n. 85.
29
Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 101, § 2 e 3.

17
V. A MÚSICA SACRA NA CELEBRAÇÃO DOS SACRAMENTOS E SACRAMENTAIS,
EM AÇÕES ESPECIAIS DO ANO LITÚRGICO,
NAS SAGRADAS CELEBRAÇÕES DA PALAVRA DE DEUS
E NOS EXERCÍCIOS DE PIEDADE

42. Como declarou o Concílio, sempre que os ritos comportam, segundo a natureza particular de cada um,
uma celebração comunitária, caracterizada pela presença e ativa participação dos fiéis, esta deve preferir-se a
uma celebração individual e como que privada desses ritos.30 Deste princípio se deduz logicamente que se deve
dar grande importância ao canto, já que põe em especial relevo este carácter “eclesial” da celebração.

43. Assim, na medida do possível, celebrar-se-ão com canto os sacramentos e sacramentais que têm particular
importância na vida de toda a comunidade paroquial, como sejam as confirmações, as ordenações, os
casamentos, as consagrações de igrejas ou altares, os funerais, etc. Esta festividade dos ritos permitirá a sua
maior eficácia pastoral. No entanto, cuidar-se-á especialmente que, a título de solenidade, não se introduza na
celebração nada que seja puramente profano ou pouco compatível com o culto divino; isto se aplica em especial
à celebração do matrimônio.

44. Igualmente se solenizarão com o canto aquelas celebrações a que a Liturgia concede especial relevo ao
longo do Ano Litúrgico. Mas sobretudo, solenizem-se os sagrados ritos da Semana Santa; mediante a celebração
do Mistério Pascal, os fiéis são conduzidos como que ao coração do Ano Litúrgico e da própria Liturgia.

45. Para a Liturgia dos sacramentos e sacramentais e para as demais celebrações particulares do Ano
Litúrgico, hão de preparar-se melodias apropriadas que permitam dar à celebração, mesmo em língua vernácula,
solenidade maior. Seguir-se-ão para isso as orientações dadas pela autoridade competente e ter-se-ão em conta
as possibilidades de cada assembleia.

46. A música sacra é também de grande eficácia para alimentar a piedade dos fiéis nas celebrações da Palavra
de Deus e nos “pia et sacra exercitia”.
Nas celebrações da Palavra de Deus31 tomar-se-á como modelo a Liturgia da Palavra da missa;32 nos “pia
et sacra exercitia” serão muito úteis, sobretudo, os salmos, as obras de música sacra do tesouro antigo e moderno,
os cânticos religiosos populares, assim como o toque de órgão e de outros instrumentos apropriados.
Nestes mesmos “pia et sacra exercitia” e principalmente nas celebrações da Palavra poderão muito bem
admitir-se certas obras musicais que já não encontram lugar na Liturgia, mas que podem, entretanto,
desenvolver o espírito religioso e ajudar à meditação do Mistério Sagrado.33

VI. A LÍNGUA A EMPREGAR NAS AÇÕES LITÚRGICAS CELEBRADAS COM CANTO


E A CONSERVAÇÃO DO TESOURO DA MÚSICA SACRA

47. Conforme a Constituição sobre a Sagrada Liturgia, conservar-se-á o uso da língua latina nos ritos latinos,
salvo direito particular.34
Mas como o “uso da língua vernácula é muito útil ao povo em não poucas ocasiões”,35 “será da
incumbência da competente autoridade eclesiástica territorial determinar se deve usar-se a língua vernácula e
em que extensão; estas decisões têm de ser aceites, isto é, confirmadas pela Sé Apostólica”.36
Observando exatamente estas normas, empregar-se-á, pois, a forma de participação que melhor
corresponda às possibilidades de cada assembleia.

30
Cf. ibid., n. 27.
31
Cf. S. Congr. dos Ritos, Inst. Inter oecumenici, nn. 37-39.
32
Cf. ibid., n. 37.
33
Cf. n. 53 desta Instrução.
34
Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 36, § 1.
35
Ibid., n. 36 § 2.
36
Ibid., n. 36 § 3.

18
Os pastores de almas cuidarão de que, além da língua vernácula, os fiéis sejam capazes também de recitar
ou cantar juntos em latim as partes do Ordinário da missa que lhes pertencem.37

48. Onde já se introduziu o uso do vernáculo na celebração da missa, os Ordinários julgarão se é oportuno
manter uma ou mais missas celebradas em latim – especialmente a missa cantada – em algumas igrejas,
sobretudo nas grandes cidades, que reúnam suficiente número de fiéis de línguas diversas.

49. No que se refere ao uso da língua latina ou da vernácula nas sagradas celebrações dos Seminários
observem-se as normas da Sagrada Congregação dos Seminários e Universidades sobre a formação litúrgica
dos alunos.
Os membros dos Institutos que professam os conselhos evangélicos observem nisto as normas das letras
apostólicas “Sacrificium Laudis” de 15 de agosto de 1966 e da instrução sobre a língua a usar pelos religiosos na
celebração do ofício divino e da missa conventual ou comunitária, dada por esta Sagrada Congregação dos
Ritos em 23 de novembro de 1965.

50. Nas ações litúrgicas com canto que se celebram em latim:


a. O canto gregoriano, como próprio da Liturgia romana, em igualdade de circunstâncias ocupará o
primeiro lugar.38 Empreguem-se oportunamente para isso as melodias que se encontram nas edições típicas.
b. “Convém preparar uma edição com melodias mais simples para uso das igrejas menores”.39
c. As outras composições musicais escritas a uma ou várias vozes, sejam do tesouro musical
tradicional ou novas, serão tratadas com honra, favorecidas e utilizadas conforme se julgue oportuno.40

51. Tendo em conta as condições locais, a utilidade pastoral dos fiéis e o carácter de cada língua, os pastores
de almas julgarão se as peças do tesouro de Música Sacra compostas no passado para textos latinos, além da
sua utilização nas ações litúrgicas celebradas em latim podem sem inconveniente ser utilizadas também naquelas
que se realizam em vernáculo. Com efeito, nada impede que numa mesma celebração algumas peças se cantem
em língua diferente.

52. Para conservar o tesouro da Música Sacra e promover devidamente novas criações, “dê-se grande
importância nos Seminários, Noviciados e casas de estudo de religiosos de ambos os sexos, bem como noutros
institutos e escolas católicas, à formação e prática musical”, mas, sobretudo, nos Institutos Superiores
especialmente destinados a isto.41 Deve promover-se antes de mais o estudo e a prática do canto gregoriano, já
que, pelas suas qualidades próprias, continua a ser uma base de grande valor para o cultivo da Música Sagrada.

53. As novas composições de Música Sagrada devem adequar-se plenamente aos princípios e às normas
expostos acima. Por isso, “devem apresentar as características da verdadeira música sacra e não estar só ao
alcance das maiores ‘Schola Cantorum’, mas poder também ser cantadas pelos coros mais modestos e favorecer
uma participação ativa de toda a assembleia dos fiéis”.42
No que se refere ao tesouro musical tradicional, pôr-se-ão em relevo em primeiro lugar as obras que
respondam às exigências da renovação litúrgica. Depois, os peritos especialmente competentes neste assunto
estudarão cuidadosamente se outras peças podem adaptar-se a estas mesmas exigências.
Quanto às composições que não respondam à natureza da Liturgia ou à celebração Pastoral da Ação
Litúrgica serão oportunamente trasladadas para os “pia exercitia” e, melhor ainda, para as celebrações da Palavra
de Deus.43

37
Ibid., n. 54; S. Congr. dos Ritos, Inst. Inter œcumenici, n. 59.
38
Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 116.
39
Ibid., n. 117.
40
Cf. ibid., n. 116.
41
Cf. ibid., n. 115.
42
Cf. ibid., n. 121.
43
Cf. n. 46 desta Instrução.

19
VII. A PREPARAÇÃO DE MELODIAS
PARA OS TEXTOS ELABORADOS EM VERNÁCULO

54. Ao estabelecer as traduções populares que hão de ser musicadas – especialmente a tradução do saltério
– os peritos cuidarão de assegurar bem a fidelidade ao texto latino com a aptidão para o canto do texto em
língua vernácula. Respeitar-se-ão o carácter e as leis de cada língua; ter-se-ão em conta também os costumes e
o carácter peculiar de cada povo: na preparação das novas melodias, os músicos hão de ter muito presentes
estes dados, juntamente com as leis da Música Sacra.
A autoridade territorial competente cuidará, pois, de que na Comissão encarregada de elaborar as
traduções populares, haja peritos nas disciplinas citadas, em língua latina, como em língua vernácula; a sua
colaboração deve principiar logo nos começos do trabalho.

55. Pertencerá à autoridade territorial competente decidir se podem utilizar-se ainda determinados textos em
língua vernácula procedentes de épocas anteriores, aos quais estejam ligadas melodias tradicionais, mesmo que
apresentem algumas variantes em relação às traduções litúrgicas oficiais em vigor.

56. Entre as melodias que devem preparar-se para os textos em vernáculo têm uma especial importância
aquelas que pertencem ao sacerdote e aos ministros, quer as executem sós, quer as cantem com a assembleia
dos fiéis ou as dialoguem com ela. Ao elaborá-las, os músicos devem verificar se as melodias tradicionais da
língua latina, já utilizadas para o mesmo fim, podem sugerir soluções para executar estes mesmos textos em
língua vernácula.

57. As novas melodias destinadas ao sacerdote e aos ministros devem ser aprovadas pela autoridade territorial
competente.44

58. As Conferências Episcopais interessadas cuidarão que haja uma tradução apenas para uma mesma língua,
a ser utilizada nas diversas regiões onde se fala essa língua. Convém também que existam, na medida do possível,
um ou vários tons comuns para as peças que dizem respeito ao sacerdote e aos ministros, assim como para as
respostas e aclamações do povo: assim se facilitará a participação comum dos que falam um mesmo idioma.

59. Os músicos abordarão este novo trabalho com o desejo de continuar uma tradição que proporcionou à
Igreja um verdadeiro tesouro para a celebração do culto divino. Examinarão as obras do passado, os seus
gêneros e as suas características, mas considerarão também com atenção as novas leis e as novas necessidades
da liturgia: deste modo “as novas formas como que surgirão organicamente a partir das já existentes”, 45 e as
obras novas, de modo nenhum, indignas das antigas obterão, por sua vez, o seu lugar no tesouro musical.

60. As novas melodias que se hão de compor para os textos em língua vernácula, necessitam evidentemente
da experiência para chegar a uma suficiente maturidade e perfeição. Não obstante, deve evitar-se que, sob
pretexto de ensaiar, se façam nas igrejas coisas que desdigam da santidade do lugar, da dignidade da ação
litúrgica e da piedade dos fiéis.

61. A adaptação da música nas celebrações, naquelas regiões que possuam tradição musical própria,
sobretudo nos países de missão, exigirá dos peritos uma preparação especial:46 trata-se, com efeito, de associar
o sentido das realidades sagradas com o espírito, as tradições e o carácter simbólico de cada um destes povos.
Os que se consagram a este trabalho devem conhecer suficientemente, tanto a Liturgia e a tradição musical da
Igreja, como a língua, o canto popular e o carácter simbólico do povo para o qual trabalham.

44
S. Congr. dos Ritos, Inst. Inter œcumenici, n. 42.
45
Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Conciliam, n. 23.
46
Cf. ibid., n. 119.

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VIII. A MÚSICA SACRA INSTRUMENTAL

62. Os instrumentos musicais podem ser de grande utilidade nas celebrações sagradas, quer acompanhem o
canto, quer intervenham sós.
“Tenha-se em grande apreço na Igreja latina o órgão de tubos, como instrumento musical tradicional e
cujo som é capaz de dar às cerimónias do culto um esplendor extraordinário e elevar poderosamente o espírito
para Deus e para as realidades celestiais”.
“Podem utilizar-se no culto divino outros instrumentos, segundo o parecer e com o consentimento da
autoridade territorial competente, contanto que esses instrumentos estejam adaptados ou sejam adaptáveis ao
uso sacro, não desdigam da dignidade do templo e favoreçam realmente a edificação dos fiéis”.47

63. No admitir de instrumentos e na sua utilização ter-se-ão em conta o carácter e os costumes de cada povo.
Os instrumentos que, segundo o comum sentir e o uso normal, só são adequados para a música profana, serão
excluídos de toda a ação litúrgica, assim como dos “pia et sacra exercitia”.48
Todo o instrumento admitido no culto se utilizará de forma que corresponda às exigências da ação
litúrgica, sirva à beleza do culto e à edificação dos fiéis.

64. O emprego de instrumentos no acompanhamento dos cânticos pode ser bom para sustentar as vozes,
facilitar a participação e tornar mais profunda a unidade da assembleia. Mas o som dos instrumentos jamais
deve cobrir as vozes ou dificultar a compreensão do texto. Todo o instrumento se deve calar quando o sacerdote
ou um ministro pronunciam em voz alta um texto que lhes pertença por sua função própria.

65. Nas missas cantadas ou rezadas pode utilizar-se o órgão, ou qualquer outro instrumento legitimamente
admitido para acompanhar o canto do coro e do povo. Pode tocar-se em solo antes da chegada do sacerdote
ao altar, ao ofertório, durante a comunhão e no final da missa.
A mesma regra se pode aplicar, adaptando-a corretamente, nas demais ações sagradas.

66. O toque a solo destes instrumentos não é permitido durante o tempo do Advento e da Quaresma, durante
o Tríduo Sagrado e nos ofícios ou missas de defuntos.

67. É muito para desejar que os organistas e demais instrumentistas não sejam apenas peritos no instrumento
que lhes é confiado, mas conheçam e estejam intimamente penetrados pelo espírito da Liturgia para que, ao
exercer o seu ofício, mesmo ao improvisar, enriqueçam a celebração segundo a verdadeira natureza de cada um
aos seus elementos e favoreçam a participação dos fiéis.49

IX. AS COMISSÕES EREGIDAS PARA DESENVOLVIMENTO DA MÚSICA SACRA

68. As Comissões Diocesanas de Música Sacra trazem uma contribuição de grande valor para o progresso
na diocese da música sacra de acordo com a pastoral litúrgica.
Assim, pois, e na medida do possível, deverão existir em cada diocese; trabalharão, unindo os seus
esforços aos da Comissão de Liturgia.
Frequentemente interessará inclusive que as duas comissões estejam reunidas numa só; neste caso será
constituída por peritos em ambas as disciplinas; assim se facilitará o progresso desejado.
Recomenda-se vivamente que onde pareça de maior utilidade várias dioceses de uma mesma região
constituam uma comissão única, que possa realizar um plano de ação comum e agrupar as forças em ordem a
um melhor resultado.

69. A Comissão de Liturgia que as Conferências Episcopais devem estabelecer para ser consultada conforme
as necessidades,50 velará também pela música sacra; por conseguinte, constará também de músicos peritos.
Interessará que esta Comissão esteja em relação não só com as Comissões Diocesanas, como com as demais

47
Ibid., n. 120.
48
Cf. S. Congr. dos Ritos, Inst. Musica sacra et sacra Liturgia, n. 70 (3. de Set 58).
49
Cf. nn. 24-25 desta Instrução.
50
Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 44.

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associações que se ocupem da música na mesma região e o mesmo se diz do Instituto de Pastoral Litúrgica, de
que se fala no artigo 44 da Constituição.
O Sumo Pontífice Paulo VI aprovou a presente Instrução na audiência concedida ao Em.mo. Sr. Cardeal
Arcádio Maria Larraona, Prefeito desta Sagrada Congregação, no dia 9 de fevereiro de 1967, confirmou com a
sua autoridade e mandou publicá-la, estabelecendo ao mesmo tempo que entraria em vigor no dia 14 de maio
de 1967, Domingo de Pentecostes.

Não obstante qualquer coisa em contrário.

Roma, 05 de março de 1967, domingo “Lætare”, IV da Quaresma.

Card. GIAOMO LERCARO


Arcebispo de Bologna, Presidente da Comissão para a Execução da Constituição sobre a Liturgia.

Card. ARCADIO M. LARRONA


Prefeito da Sagrada Congregação dos Ritos

FERDINANDO ANTONELLI
Arcebispo Titular de Idicra, Secretário da Sagrada Congregação dos Ritos

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