Você está na página 1de 7

DRG Silva. VIII CIH.

1579 - 1585

A LOUCURA VISTA SOB A ÓTICA DA EUGENIA


Doi: 10.4025/8cih.pphuem.3726

Daniela Rosolen Galetti da Silva, UEM

Resumo

O Brasil do início do século XX foi tomado pelo ideal de nação


forte, a ser construída por cidadãos física e mentalmente saudáveis.
Proclamada a República, o país precisava de homens preparados para
governá-lo e fazê-lo progredir. A loucura e as toxomanias, que
representavam um entrave a esse projeto, passaram a ser objetos de
intervenção de alguns segmentos sociais e representantes dos movimentos
higienista e eugenista. Orientados pela psiquiatria organicista - que se
apoiava na noção da transmissão hereditária da doença mental - e pelos
ideais eugênicos, muitos médicos do período dedicaram-se a pensar ações
preventivas, de modo a evitar aquilo que entendiam como desvios da
Palavras Chave: evolução natural da espécie. O psiquiatra Juliano Moreira (1872-1933), por
loucura; eugenia; exemplo, sugeria que alienados, delinquentes, degenerados e alcoólicos
psiquiatria. inveterados fossem esterilizados. Ernani Lopes (1885- s/d), por sua vez,
defendia a reclusão daqueles considerados loucos e acreditava ser a alta
precoce uma medida profundamente anti-eugênica e anti-econômica, que
aumentaria o percentual de alienados e diminuiria o número de pessoas
economicamente ativas. Tais como essas, encontramos muitas outras falas
registradas em documentos da época, que nos permitem identificar a
influência da eugenia no modo de pensar e tratar a loucura no Brasil, nas
primeiras décadas do século XX. As práticas que se desdobraram dessa
relação cumpriram naquele momento histórico uma função social,
referendando como científicos discursos e ações excludentes.
DRG Silva. VIII CIH. 1579 - 1585

a solução encontrada foi a promoção de


Introdução
uma reforma urbana que tinha como alvo
Nas primeiras décadas do século a população que vivia na miséria, os
XX, o Brasil - que recém havia desempregados ou subempregados,
proclamado a República - vivenciou uma negros, mestiços e imigrantes pobres. Essa
série de mudanças, não só de caráter reorganização da cidade, levada a cabo
político, mas social, econômico e cultural. pelos poderes públicos, implicava em
Para afinar o compasso com outros países desalojar as famílias pobres dos centros da
nos quais o capitalismo já estava cidade. Sevcenko (1984) ressalta, contudo,
consolidado, era preciso expandir as que essa população não foi só expropriada
indústrias, desenvolver a capacidade de de seus alojamentos, mas de “suas roupas,
produção e se modernizar. seus pertences pessoais, seus hábitos, seus
animais, suas formas de subsistência e de
As promessas de ampliação do sobrevivência, sua cultura enfim, tudo é
mercado de trabalho comercial, industrial atingido pela nova disciplina espacial,
e de serviços, impulsionaram o aumento física, social, ética e cultural imposta pelo
do fluxo de pessoas para os grandes gesto reformador” (p. 62). Assim os
centros urbanos, sobretudo após a centro das cidades iam se transformando
abolição da escravatura. Os espaços em espaços sadios e asseados para o uso
deixados pelos escravos foram ocupados exclusivo da burguesia, enquanto nas
por imigrantes, que, diferente dos periferias se amontoavam os pobres de
primeiros, tinham a possibilidade de toda sorte. Não demorou até que as ações
deslocarem-se de uma fazenda a outra, ou empreendidas na capital fossem
migrar para as cidades em busca de expandidas a todo território nacional.
melhores oportunidades. Segundo Fausto
(2013), foram milhões de europeus e De acordo com Priori e
asiáticos que vieram para cá em busca de Venancio (2010, p.223), foi neste período
trabalho e ascensão social. que grandes cidades brasileiras
vivenciaram o que ficou conhecido como
As cidades, que não estavam “bota-abaixo”, sob influência da política
preparadas para acomodar todos os que higienista da belle époque, que tinha
nelas chegavam, passaram a enfrentar uma pretensões de dar ao Brasil um ar europeu
série de problemas, tais como os listados reproduzindo a arquitetura daquele
por Resende (1987): continente, importando suas ideias e
costumes. Portanto, aquilo que não era
Urbanização acelerada, deterioração
belo ou compatível com o grau de
das condições de vida da população
trabalhadora, de higiene e civilidade que se pretendia atingir, não
saneamento das cidades, cabia nas cidades.
proliferação de cortiços e favelas, Segundo Engel (2001), isso
focos de desordem e reservatórios justificava o “redimensionamento das
de vetores de doenças infecciosas, políticas de controle social, cuja rigidez e
aglomeração de maltrapilhos nas
ruas à espera de trabalho, surtos
abrangência eram produzidas pelo
epidêmicos que dizimavam a reconhecimento e pela legitimidade dos
população (...). (p.42). novos parâmetros definidores da ordem,
do progresso, da modernidade e da
Esse cenário comprometia o civilização” (p. 331). Não por acaso, nesse
objetivo do governo das primeiras décadas período foram modernizadas e ampliadas
de 1900, que era o de projetar o Brasil para instituições penitenciárias e manicomiais,
o mundo como “uma nação próspera, que serviam à segregação e ao isolamento
civilizada, ordeira e dotada de instituições dos indesejáveis. A nova cidade não
de um Estado consolidado e estável” “suporta a visão da doença, da rebeldia, da
(SEVCENKO, p.60). No Rio de Janeiro,

1580
DRG Silva. VIII CIH. 1579 - 1585

loucura, da velhice, da miséria ou da poderia ser conquistado, por exemplo, a


morte, que todas são excluídas para os partir do encorajamento de indivíduos e
sanatórios, prisões, hospitais, asilos, grupos “adequados” a se reproduzirem.
albergues e necrotérios” (SEVCENKO, Mas não só isso, como veremos.
1984, p.82). A elite brasileira viu na Por ter como preocupação o
aplicação de técnicas sanitárias, destino da raça humana, os ideais
profiláticas e médicas a solução para
eugênicos disseminaram-se pelo mundo.
problemas que o país enfrentava. No No Brasil, um de seus principais
primeiro terço da fase republicana, a expoentes foi o médico Renato Ferraz
sociedade passou a ser dividida entre os Kehl, que no dia 13 de abril de 1917,
doentes e os sãos, cabendo aos últimos a proferiu a primeira Conferência sobre
reponsabilidade pelos primeiros. Eugenia, realizada na Associação Cristã
dos Moços (ACM) de São Paulo. Para ele,
Eugenia e Loucura
a eugenia tinha por fim:
Uma república que se pretende Cooperar para o aumento
forte, precisa de homens preparados para progressivo dos homens física,
governá-la e de uma população sadia para psíquica e moralmente sadios; para
fazê-la progredir. Ao lado das endemias e a diminuição paulatina do
da miséria, a loucura e as toxomanias contingente dos fracos, doentes e
representavam um entrave a esse projeto. degenerados – concorrendo, desse
modo, para a constituição de uma
A psiquiatria como especialidade sociedade mais sã, mais moralizada,
médica havia se firmado no Brasil no final em suma, uma humanidade
do século XIX. A partir daí a classe médica equilibrada, composta de indivíduos
ocupou os espaços no controle das fortes e belos, elementos de paz e de
instituições de assistência ao doente trabalho (KEHL, 1929, p.1).
mental, que estavam a cargo de religiosas,
Esses ideais encontraram solo
tornando-se porta-voz legítima do Estado
fértil no Brasil, que almejava progredir.
nas questões pertinentes à saúde e doença
Para o médico Aberto Farini (1931), o
mental, segundo Resende (1987). Sob
sucesso nessa empreitada estava
forte influência organicista, os médicos
diretamente relacionado às características
desse período conferiam um papel central
da população do país: “Ora, para o
à hereditariedade, responsabilizando-a
progresso social é necessário raça sadia. E
pela proliferação dos problemas, não só os
para que haja raça sadia é preciso que seus
de ordem física, mas também os de ordem
componentes sejam normais, vale dizer
mental e moral. Assim, “a prevenção
que o surto social exige indivíduos sãos.
eugênica apareceu-lhes como o
Em sendo assim o degenerado mental
instrumento mais rápido e eficaz para
nesse caso presente, é indesejável” (p.3)
sanear a situação” (COSTA, 2006, p.29).
Uma das preocupações desse
O termo eugenia foi cunhado
período era o alcoolismo e suas
pelo inglês Francis Galton (1822-1911) no
consequências à saúde física e mental. O
final do século XIX e começou a ganhar o
médico e educador Afrânio Peixoto (1931,
mundo entre os anos de 1900 e 1940,
p.233), acreditava que ingestão de grandes
quando, de acordo com Diwan (2007),
quantidades de álcool, além de
adquiriu um status científico como
comprometer o sistema nervoso, facilitava
método de seleção humana baseado em
infecções como a tuberculose e causava
premissas biológicas. De origem grega
prejuízos à moral: “o alcoolismo
“eu” (boa) e “genus” (geração), ou então,
corrompe a sensibilidade, a inteligência, a
“bem nascido”, o termo era usado por
vontade, tornando o bebedor insuportável
Galton como referência à “pureza” e o
no meio doméstico e social”. O abuso do
aprimoramento da raça humana, que

1581
DRG Silva. VIII CIH. 1579 - 1585

álcool esteve ligado nesta época à loucura, exemplo a defesa pela proibição do
à ociosidade, à pobreza e à imoralidade, casamento dos chamados degenerados.
por isso, os médicos membros da Liga Para Henrique Roxo (1925), os médicos
Brasileira de Higiene Mental, fundada em deveriam desaconselhar o casamento
1923 pelo psiquiatra Gustavo Riedel, entre pessoas não hígidas, a fim de evitar
desempenharam ao longo de sua prática que se criasse uma família de
uma série de campanhas antialcoólicas, “psychopathas”1, contendo assim o
afim de contribuir com a solução desse aumento no número de alienados nos
mal. hospícios.
Para justificar sua preocupação Júlio Dantas (1930), defendia a
com esse tipo de intoxicação, Afrânio indicação de um exame pré-nupcial2 a
Peixoto (1931, p. 233) apresenta dados todos os casais, afirmando que “não pode
estatísticos: “(...) dos suicidas, 30% são se reconhecer a um enfermo, a um
alcoólatras. Dos criminosos encarcerados degenerado, a um débil, a um intoxicado
43% praticaram o crime sob influência grave, o direito de perpetuar o seu
alcoólica. Em 100 bebedores, todos sofrimento, a sua deformidade e a sua
possíveis criminosos, dois terços acabam miséria. A geração atual tem obrigação de
de fato na prisão, nos hospícios ou na proteger e defender as gerações futuras”
mesa de autopsia”. Henrique Roxo (1925), (p.5). A ginecologista Juana M. Lopes
corroborava com o colega, afirmando que (1933) compartilhava da mesma opinião:
o surgimento da doença mental estava “a sociedade deve defender-se, afastando
relacionado ao abuso de álcool, que era a todo elemento nocivo à perfeição da raça,
causa de 30% das internações e se por sentimentalidade,
psiquiátricas. consideraríamos um horror a tal
destruição, não o será impedir que eles se
Os médicos higienistas
reproduzam” (p.105). Por isso defendia a
apostavam na educação como uma forma
proibição do casamento entre
de prevenir problemas dessa ordem. No
entanto, havia entre eles os que “psychopathas”.
acreditavam que as desordens da raça A proibição do casamento ou a
humana só seriam resolvidas com medidas exigência de um exame que atestasse as
eugênicas. Renato Kehl (1929) era condições para a procriação, não garantia,
enfático: a diminuição da imperfeição contudo, que os tidos como não aptos a
humana só se daria através do recurso procriar não o fizessem. A solução ideal
eugênico do melhoramento genético da para conter a proliferação de degenerados
humanidade. Não havia outro caminho. era, segundo os eugenistas, a esterilização.
A proposta era bastante polêmica e
Gustavo Rezende (1925) era um
encontrou resistência da sociedade,
dos que salientava a importância da
sobretudo da Igreja. Mas para os
eugenia para a conter a produção dos
eugenistas que a defendiam, o bem
distúrbios mentais, que, de acordo com
coletivo deveria se sobrepor a questões
ele, eram causados pela hereditariedade.
individuais. Era o aprimoramento da raça
Mirandolino Caldas (1929) também via na
humana, do povo brasileiro, que estava em
eugenia a chave de muitos problemas
jogo.
considerados sem solução.
Renato Kehl (1929) pregava nos
No que diz respeito às ações de
Boletins de Eugenia a esterilização como
cunho eugenista encorajadas pelos
um meio de preservar de prole os sujeitos
médicos do período, temos como

1Um dos termos usados para denominar os 2Em 1934, o exame pré-nupcial passou a ser
doentes mentais. exigido pelo art. 145 da Constituição Federal do
Brasil.

1582
DRG Silva. VIII CIH. 1579 - 1585

manifestamente incapazes de procriar maus não venham de países estranhos


crianças sadias. Juliano Moreira (1919) concorrer para baixar-lhe o nível” (p.115)
também propunha que fosse afastada dos Xavier de Oliveira (1932 – ANO
anormais a possibilidade de reprodução, 5, N1), chamava a atenção para o grande
através da prescrição da esterilização dos número de estrangeiros que ocupavam os
alienados delinquentes, e degenerados hospícios do Rio de Janeiro e afirmava “há
alcoólicos inveterados. Alberto Farani
nesta capital um porção maior de
(1931), parecia entender a prática cirúrgica psicopatas estrangeiros do que de
como o recurso menos cruel que poderia brasileiros” (p.17). Para ele, esse era um
ser utilizado na busca pelo aprimoramento problema eugênico gravíssimo para o
da espécie: “É bem de ver que não se pode futuro da população brasileira:
tolerar hoje o decreto espartano de
eliminar os degenerados. A pena de morte Sim, porque, em verdade, o assunto
também tem seus requisitos legais, dentre não se limita, apenas à sua face, por
os quais não figura a degeneração mental. assim dizer, material, a qual a de
Como agir então? Impedindo o sustentarmos milhares de bocas
nascimento do degenerado” (p.169). Por inúteis que nos vem de outras
isso, a defendia: nações, mas ao revés disso, tem
raízes muito mais profundas, e
Os degenerados mentais, por todas abrange um raio de ação muito
as estatísticas, aumentam de modo maior do que pode a primeira vista
constante, exigindo da sociedade parecer. Atente-se, assim, para o
medidas de proteção. Aqui não se estrangeiro tarado mentalmente,
trata mais de meios que ainda não baixou ao hospital,
anticoncepcionais, por si precários, ou, mesmo, que não é passível de
e sim de um impedimento entrar para o manicômio e que, ao
definitivo. Este só pode ser obtido contrário disso, fica sempre cá fora,
pela restrição matrimonial ou a equilibrando-se socialmente, e, até,
esterilização (FARANI, 1931, p.6) forma um lar (OLIVEIRA, 1935,
p.20).
Não só os “psychopathas” eram
desaconselhados a procriarem. A mistura Assim, sucederia, segundo
entre as raças também não era vista com Oliveira (1932) uma prole miserável que,
bons olhos pelos os eugenistas, uma vez mais tarde, povoaria os asilos e
que, para eles, os indivíduos não-brancos, manicômios do país. Por isso propunha
negros ou mestiços carregavam em seus que fossem proibidos de entrar no Brasil
genes atributos patológicos, tão nocivos os alcoolistas, os psicopatas e os sifilíticos
quanto os dos doentes mentais. e que só pudessem adentrar os
pertencentes à raça branca.
A vinda de estrangeiros para o
Brasil intensificou a miscigenação que já Ernani Lopes (1932) também
existia. De início, a vinda de imigrantes propunha uma forma de impedir que os
europeus – da raça branca - foi estimulada alienados e alcóolatra se proliferassem. Ele
como uma forma de promover a chamava a atenção para a possibilidade de
purificação da população brasileira (que utilização dos serviços psiquiátricos para a
consistia na mistura de negros, índios e obra em defesa social e defesa da raça e da
brancos). No entanto, Juliano Moreira espécie. Afirmava que a “internação dos
(1925) queixava-se de que os países loucos inofensivos muitas vezes não se
europeus depositavam no Brasil só limita a eles próprios – atinge os seus
degenerados, sem se preocupar com a possíveis descendentes, candidatos à
seleção física ou psíquica dos mesmos e degeneração” (p.8). Por isso, entre a
dizia: “almejo à saúde mental da possibilidade da alta precoce para a
nacionalidade brasileira que elementos diminuição dos danos ao doente e a da
castração – uma medida bastante

1583
DRG Silva. VIII CIH. 1579 - 1585

impopular – Ernani Lopes (1933) soluções eugênicas, ainda que polêmicas,


apresentava como alternativa viável a alta eram bastante sedutoras, pois vinham ao
tardia. encontro das necessidades do período. A
possibilidade da construção de uma raça
Mirandolino Caldas (1933)
forte e sadia, da qual não faria parte loucos
analisava a assistência aos doentes mentais
e degenerados, agradava a elite burguesa
e reconhecia que sua segregação não se dá
do país.
pelo fato de apresentarem perigo,
reconhecia ainda que a internação causa De modo geral, a pobreza era
constrangimentos e sofrimento àquele que explicada como uma manifestação de
é internado nas organizações assistenciais. formas biológicas inferiores. Os pobres,
Porém, assim como Ernani Lopes (1933), os negros, os criminosos e os loucos, eram
acreditava ser a alta precoce uma medida obrigados, pela sua inferioridade, à
profundamente anti-eugênica e anti- submissão àqueles pertencentes a raças
econômica, pois aumentaria o número de superiores. Suas condições precárias de
alienados e diminuiria o número de vida sequer eram levadas em consideração,
pessoas economicamente ativa. Antes o que dirá as determinações sociais que os
deles, Juliano Moreira (1925) já perpassavam.
demonstrava entender a segregação como
Assim, segundo Costa (2006): “o
uma possibilidade de privar a sociedade do alcoolismo tornou-se a causa da pobreza e
convívio com doença mental: “a
decadência moral, porque era mais
sequestração do toxicômano previne encontrado nas camadas pobres da
evidentemente muitos delitos: Bem
sociedade (...). A miscigenação racial
melhor será que ela se faça precocemente tornou-se a causa da desorganização
do que tardiamente” (p.113). política e social, porque a população
Independente das medidas de brasileira era miscigenada” (p.29).
tratamento propostas, a loucura era A nova sociedade que se formava
incompatível com a ordem que a elite nas primeiras décadas do século XX
médica procurava estabelecer. Os repudiava o que escapava ao ideal de
“psychopathas”, que pouco ou nada homem burguês. Como parte dessa
contribuíam com o desenvolvimento das sociedade, a elite médica da época buscou
forças produtivas, foram tomados como a
normatizar a população, estendendo suas
causa dos problemas do país – juntamente ações a tudo o que subvertia ordem,
com os alcoólatras, os miseráveis, os atentava a moral e comprometia o
imigrantes e os miscigenados. progresso. Amparada pela ciência,
legitimou preconceitos culturais e tratou
Algumas considerações
como biológico os problemas sociais do
Se em outros tempos a país, referendando como científicas
humanidade recorreu à natureza e depois práticas excludentes.
à Deus, para justificar a diferença entre os
homens, na Idade Moderna a explicação
Referências
veio através da ciência. A psiquiatria BARRETO, L. O cemitério dos vivos. Rio de
científica se desenvolveu no Brasil Janeiro: São Paulo, 2009.
lançando o seu olhar sobre as questões de CALDAS, M. I Congresso Internacional de
ordem social e procurou não só explica- Hygiene Mental. Archivos Brasileiros de
las, como “trata-las”. Hygiene Mental. Rio de Janeiro, 3(3), 1930
Por representarem uma afronta à Costa, J.F. História da psiquiatria no Brasil.
ordem e um desvio da norma, os Rio de Janeiro: Garamond, 2006.
“psychopathas” tiveram seu destino CRUZ, C. Contribuição à história das ideias
regulado pela medicina. As propostas de no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1967.

1584
DRG Silva. VIII CIH. 1579 - 1585

DANTAS, J. A propósito da eugenia: n.2., 1919.


degenerados. Boletim de Eugenia. Rio de
_________. A seleção individual de imigrantes no
Janeiro, 2(18), 1930.
programa de Higiene Mental. Arch. Bras. De
DIWAN, P. Raça Pura. Uma história da eugenia Hygiene Mental. Rio de Janeiro 1(1), 1925.
no Brasil e no mundo. São Paulo: Contexto, 2007.
OLIVEIRA, X. Da profilaxia mental dos
ENGEL, M. G. Os delírios da razão: médicos, imigrantes. Arch. Bras. De Hygiene Mental.
loucos e hospícios (Rio de Janeiro, 1830-1930). Rio de Janeiro, 5(1), 1932.
Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2001.
PEIXOTO, A. Higiene: Medicina Preventiva.
FARANI, A. Como evitar prole degenerada. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1931.
Boletim de Eugenia. Rio de Janeiro, 3(34),
PRIORI, M.D. VENANCIO, R. Uma breve
1931.
história do Brasil. Planeta: São Paulo, 2010.
FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo:
RESENDE, H. Política de saúde mental no
Editora da Universidade de São Paulo, 2013.
Brasil: uma visão histórica. In: TUNDIS, S.A;
KEHL, R. Boletim de Eugenia, 1(1). Rio de COSTA, N.R. Cidadania e loucura: políticas de
Janeiro, 1929. saúde mental no Brasil. Petrópoles: Vozes,
Abrasco, 1987.
_________. Boletim de Eugenia, 1(4). Rio de
Janeiro, 1929. REZENDE, G. Patronato dos Egressos do
Manicômio. Arch. Bras. De Hygiene Mental.
LOPES, E. A psiquiatria em nossas leis
Rio de Janeiro, 2(2), 1929.
penais. Arch. Bras. De Hygiene Mental. Rio de
Janeiro, 3(1), 1930. ROXO, H. Hygiene mental. Arch. Bras. De
Hygiene Mental. Rio de Janeiro, 1(1), 1925.
_________. Uma conferência sobre a assistência
a psicopatas em Pernambuco, Arch. Bras. De SEVCENKO, N. A Revolta da Vacina. Mentes
Hygiene Mental. Rio de Janeiro, 6(4), 1933. insanas em corpos rebeldes. São Paulo:
Brasiliense, 1984.
LOPES, J.M. Em torno do exame pré-nupcial.
Arch. Bras. De Hygiene Mental. Rio de SOUZA, L. S. Infância e errância: imagens da
Janeiro, 6(2), 1933. criança abandonada na ficção brasileira. Estudos
de literatura brasileira contemporânea, n. 46,
MOREIRA, J. Fatores hereditários em
p. 79-103, jul./dez. 2015.
Psyquiatria. Arch. Bras. De Hygiene Mental,

1585

Você também pode gostar