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Educação e tecnologia

Brasília - DF.
Autores
Carly MACHADO
Fabio MAIA

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e
Editoração
Sumário
Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa...................................................................................................... 4

Introdução.............................................................................................................................................................................. 6

Aula 1
Tecnologia e sociedade............................................................................................................................................... 7

Aula 2
Educação na sociedade da informação................................................................................................................24

Aula 3
Mídia impressa e Educação ....................................................................................................................................40

Aula
O uso dos recursos audiovisuais na Educação .................................................................................................54

Aula 5
Uso dos recursos digitais na Educação................................................................................................................69

Aula 6
Educação a distância ................................................................................................................................................. 89

Referências........................................................................................................................................................................ 108
Organização do Caderno de
Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos,
de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com
questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável.
Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras
e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Cuidado

Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.

Importante

Indicado para ressaltar trechos importantes do texto.

Observe a Lei

Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem,
a fonte primária sobre um determinado assunto.

4
Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio.
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas
conclusões.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Posicionamento do autor

Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.

5
Introdução
Atualmente, muitas novidades surgem no cenário educacional apontando para a relação entre
educação e tecnologia: educação online, e-learning, teleconferências, diferentes inovações
tecnológicas invadem os ambientes educacionais propondo novos contextos de aprendizagem
dentro e fora das instituições educacionais tradicionais. No entanto, a relação entre educação e
inovações tecnológicas não é uma novidade: o rádio, a TV, o cinema, os computadores pessoais,
todos provocaram impactos na sociedade e nas práticas educativas. É nesse sentido que
orientamos esta disciplina: neste curso, estudaremos a influência das tecnologias em nossa vida
social e cultural e, em especial, na Educação. Falaremos sobre o papel das diferentes tecnologias
no processo educativo (impresso, audiovisuais, informática e internet). Discutiremos o texto, a
imagem, a multimídia, a informática, as redes de computadores e seus impactos na construção
de conhecimento orientada pela escola. Analisaremos, ainda, a abertura de novos espaços de
aprendizagem como o cenário contemporâneo da Educação a Distância. Orientando todo esse
trabalho, refletiremos juntos sobre o papel do professor nesse contexto educacional e as novas
competências profissionais que ele deve desenvolver. Espero que você goste deste estudo e se
envolva com os temas que discutiremos no curso.

Objetivos

Este caderno de estudos tem como objetivos:

»» refletir criticamente sobre o papel da técnica na sociedade e a relação entre os seres


humanos e as máquinas;

»» analisar o papel da educação na sociedade da informação e as potencialidades das novas


tecnologias da informação e da comunicação no processo educativo neste contexto
social informacional;

»» discutir sobre a importância do material impresso, dos recursos audiovisuais, dos recursos
computacionais e digitais no contexto educacional e suas diferentes possibilidades de
uso nas práticas pedagógicas;

»» refletir sobre a história da EAD, o perfil de cada uma de suas gerações, a influência desta
história na atualidade da EAD e suas possibilidades educativas;

»» conceituar o Design Instrucional e analisar sua importância para o planejamento


educativo.

6
Tecnologia e Sociedade
Aula
1
Apresentação

O que será que vem à nossa cabeça quando falamos de “tecnologia”? O propósito desta aula é definir
com precisão o campo de estudos que estamos iniciando na disciplina Educação e Tecnologia, a
partir de uma análise cuidadosa dos conceitos de “técnica” e “tecnologia”, e a relação destas ideias
com as discussões básicas da vida social e cultural de todas as épocas. Procuraremos, também,
apresentar um histórico das Tecnologias de Informação e Comunicação, indicando aquelas que
são cruciais para o campo da educação, sempre lembrando que o “presente” está diretamente
articulado a mudanças técnicas que se deram ao longo do tempo. Por fim, analisaremos a relação
entre seres humanos e máquinas, discutindo sobre seu potencial e também seus limites e perigos.

Objetivos

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

»» refletir sobre o papel da técnica na cultura humana;

»» discutir o lugar dos objetos na técnica;

»» analisar cuidadosamente a função da tecnologia no aprimoramento das ações técnicas;

»» apresentar um histórico das inovações tecnológicas no campo da informação e da


comunicação;

»» refletir criticamente acerca da relação seres humanos e máquinas;

»» comparar as perspectivas “utópicas” e “catastróficas” sobre a articulação entre pessoas


e tecnologias.

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AULA 1 • Tecnologia e Sociedade

Cultura, Técnica e Tecnologia

Quando falamos em tecnologia, usualmente, nossa imaginação remete-nos diretamente a um


mundo de máquinas, em geral de aspecto futurista. Costumamos afirmar que o momento atual
(início de século XXI) é um período da história marcado predominantemente por inovações
tecnológicas. No entanto, para iniciarmos este estudo sobre as relações entre Tecnologia e
Sociedade (visando à análise posterior mais específica da relação entre Tecnologia e Educação),
precisamos entender melhor o que há de “novo” no campo das inovações tecnológicas e o que
de “antigo” se faz também presente nesta discussão.

Mas será que há tecnologia no passado? A vida humana sempre foi marcada por inovações técnicas
e tecnológicas. Este é o primeiro ponto que gostaríamos de deixar claro para você nesta aula.

A cultura humana, em qualquer tempo ou lugar, é


Sugestão de estudo
caracterizada por um conjunto de elementos abstratos,
o qual vamos chamar de simbólicos, e também por Para pensar mais sobre as culturas humanas,
elementos concretos, materiais. No campo abstrato, leia:

identificamos um grupo cultural humano por sua LARAIA, R. Cultura: um conceito antropológico.

língua, por exemplo. A língua é um elemento simbólico Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 2005.

da cultura. Outro aspecto imaterial da cultura são as


relações de parentesco. Os antropólogos se interessaram muito pelas diferenças nas relações de
parentesco em diferentes grupos culturais, pois a formação das famílias e as relações entre seus
membros na sociedade eram reveladoras de aspectos muito relevantes dessas culturas. Ainda no
que diz respeito aos elementos simbólicos das culturas, percebemos que diferentes sociedades
são caracterizadas, também, por diferentes religiões. Crenças são elementos imateriais da cultura.
Por fim, como último exemplo, podemos falar ainda dos “valores” da cultura. Cada grupo cultural
possui um código de valores próprio, a partir do qual avalia, julga, decide, faz escolhas e assim
configura as relações humanas dentro de sua sociedade.

Mas podemos dizer que esses aspectos “imateriais” da cultura são completamente abstratos? Se
analisarmos mais de perto, percebemos que o simbolismo que caracteriza tais aspectos “abstratos”
da cultura envolve também objetos concretos. As relações de parentesco, por exemplo, geralmente
se estabelecem pela troca de presentes, como no caso dos casamentos até hoje. Os “bens” das
famílias compõem sua estrutura. As famílias, em geral, são caracterizadas por objetos concretos,
como sua casa e outros objetos que contam sua memória – livros, fotos, relógios, joias. Muitas
vezes, a hierarquia entre os membros de uma família é revelada pela posse de um determinado
objeto: “o irmão mais velho vai ficar com o relógio de parede”, por exemplo.

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Tecnologia e Sociedade • AULA 1

Dicas de Leitura
Joias de Família, de Zulmira Ribeiro Tavares. Ed. Companhia das Letras.

Em Joias de Família (1990), a escritora Zulmira Ribeiro Tavares toma como metáfora da construção da
tradição familiar a história arquitetada por um juiz em torno de um anel de rubi dado de presente de
noivado à sua futura esposa. O referido anel passa a emblematizar o futuro núcleo familiar que ora
começa a se formar. A família Munhoz passa a se identificar na joia e a ser identificada socialmente por
ela. Vemos, portanto, que as tradições (principalmente as tradições familiares) são construções que
garantem a continuidade do grupo. Continuidade essa possibilitada pela memória e seus objetos. No
caso do romance em questão, esses objetos são corporificados, essencialmente, no rubi e em um cisne de
Murano, ostentados pela família desde seu princípio. Em suma: as tradições são como as joias de família,
que passam de geração a geração, cercadas de histórias.

O mesmo podemos falar acerca das religiões: o sistema simbólico sagrado das religiões é marcado
por objetos concretos: os textos sagrados, como a Bíblia e o Alcorão, por exemplo. Esses objetos
são tratados de forma diferente e são, inclusive, imbuídos de certo “poder”, como na imagem
da Bíblia aberta na sala como símbolo de proteção da casa. Os rituais religiosos são, também,
marcados por objetos concretos: a cruz, a água benta, as oferendas, os animais, entre outros.

Podemos concluir, portanto, que a cultura é um conjunto complexo de elementos abstratos


e concretos que, juntos, compõem a totalidade de significados expressos em cada sociedade.
No cotidiano da cultura, esses elementos abstratos e concretos são operacionalizados a fim de
alcançar os resultados desejados pelos indivíduos, ou seja, a partir de suas intenções e suas
necessidades, os indivíduos desenvolvem práticas sistemáticas para alcançar seus objetivos.

Vamos analisar a necessidade de alimentação, por exemplo. A sociedade, para alimentar seus
indivíduos e grupos, aprimorou gradativamente suas práticas voltadas para esse objetivo. A caça,
a pesca, a agricultura e a pecuária mudaram muito ao longo da história do ser humano, não é
verdade? A forma de caçar, por exemplo, transformou-se gradativamente e diversas estratégias
foram criadas para tornar essa ação mais eficiente. Além de comportamentos diferentes, foram
criados instrumentos inovadores para facilitar a caça e ampliar seu potencial. O arco e a flecha,
as lanças e até as armas foram ferramentas muito importantes no desenvolvimento da caça. O
mesmo poderíamos dizer sobre a pesca, a agricultura e a pecuária. Para cada uma delas, foram
desenvolvidas estratégias de ação e também ferramentas (até a criação das máquinas) que
aumentaram a eficiência e a eficácia de tais práticas.

A caça, a pesca, a agricultura e a pecuária são exemplos de técnicas que compõem o cotidiano
da cultura. Podemos agora, portanto, definir a ideia de Técnica (é o procedimento ou o conjunto
de procedimentos que têm como objetivo obter determinado resultado, seja no campo da
Ciência, da Tecnologia, das Artes ou em outra atividade). No ser humano, a técnica surge de
sua relação com o meio e se caracteriza por ser consciente, reflexiva e inventiva, tendo como

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AULA 1 • Tecnologia e Sociedade

objetivo central a transformação de uma dada realidade. A palavra técnica se origina do grego
techné cuja tradução é arte.

A técnica diz respeito ao “modo de fazer”, e o modo de fazer as coisas envolve procedimentos,
métodos e objetos. Vamos pensar na culinária: a culinária é uma técnica, e cada grupo cultural
utiliza procedimentos, ingredientes e objetos diferentes para alcançar seu resultado final.

A dança é uma técnica corporal e também varia muito entre os diferentes grupos culturais. Educar
é uma técnica, sendo também marcada por diferenças na história e nas diversas culturas. As
técnicas, portanto, envolvem objetos, mas não se resumem aos objetos. Elas dizem respeito ao
modo de fazer, aos métodos e procedimentos envolvidos nas ações.

No entanto, como já foi possível perceber, as técnicas podem sempre ser aprimoradas por novos
elementos. É aí que entra a Tecnologia. A palavra Tecnologia vem do grego τεχνη — “ofício” — e
λογια — “estudo”, ou seja, é o estudo dos ofícios, das práticas, procurando aprimorá-las. Para
aprimorar as práticas, esses estudos da “lógica do ofício”, ou seja, tecnológicos, podem desenvolver
novas técnicas (novos modos de fazer) e/ou novas ferramentas e instrumentos (meios de fazer).
Sendo assim, a Tecnologia é o campo de criação de formas e meios de aprimorar as técnicas
humanas e ampliar a capacidade da sociedade de alcançar seus objetivos.

Dependendo do contexto, a tecnologia pode ser1:

1. as ferramentas e as máquinas que ajudam a resolver problemas;

2. técnicas, conhecimentos, métodos, materiais, ferramentas e processos usados para


resolver problemas ou ao menos facilitar a solução destes;

3. método ou processo de construção e trabalho (tal como a tecnologia de manufatura, a


tecnologia de infraestrutura ou a tecnologia espacial);

4. aplicação de recursos para a resolução de problemas;

5. o termo tecnologia também pode ser usado para descrever o nível de conhecimento
científico, matemático e técnico de determinada cultura;

6. na economia, a tecnologia é o estado atual de nosso conhecimento de como combinar


recursos para produzir produtos desejados (e nosso conhecimento do que pode ser
produzido).

Isso posto, é possível concluir que as inovações tecnológicas não dizem respeito apenas à criação
de máquinas, mas também à criação de modos de realizar as ações humanas de maneira mais
eficiente e alcançando resultados mais eficazes.

1 <http://pt.wikipedia.org/wiki/Tecnologia.html>. Data do acesso: 15/06/2008.

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Tecnologia e Sociedade • AULA 1

Tecnologias de Informação e Comunicação

Como o foco específico deste nosso estudo é a relação entre tecnologia e educação, analisaremos
um pouco mais de perto as inovações tecnológicas no campo de maior impacto no processo
educativo: as tecnologias de informação e de comunicação.

Os modos de armazenar informações e os meios de comunicação sempre fizeram parte de nossa


história como técnicas importantes para a cultura humana. Os indivíduos sempre procuraram
modos de registrar dados, desde as pinturas nas cavernas, o desenvolvimento da escrita, os
pergaminhos e a tradição da história oral, contada de geração a geração para ser preservada. Os
grupos culturais, também, sempre desenvolveram formas de comunicação, como no caso dos
mensageiros humanos que levavam informações de um lugar a outro, as cartas, entre outras
estratégias. O registro das informações visa a preservar o conteúdo próprio de uma cultura, e os
modos de comunicação têm por foco a disseminação das informações entre indivíduos de uma
mesma cultura, ou mesmo a possibilitar a troca de informações entre diferentes grupos culturais.

Em termos gerais, podemos afirmar que as Tecnologias de Informação e


Comunicação (TICs) têm por foco a coleta, a organização, a sistematização,
o registro e a distribuição das informações. Hoje, falar nessas tecnologias
remete diretamente ao computador e à internet, mas podemos começar
analisando diferentes inovações no campo da informação que têm uma
origem bem mais remota.

A imprensa, criação de Johannes Gutenberg, foi uma das maiores revoluções Johannes Gutenberg

tecnológicas na história da humanidade. A possibilidade de registrar e reproduzir documentos


impressos conferiu um grau de durabilidade e um potencial de disseminação da informação
até então impossível.

Com a tecnologia do impresso, revolucionou-


Sugestão de estudo
se o campo da informação. A possibilidade
de registrar e reproduzir textos em grande Sobre a transformação social e política produzida
escala fez com que a informação ganhasse pelos livros e o acesso a eles, veja o filme O NOME
DA ROSA.
durabilidade – ao ser gravada e poder ser
SINOPSE: Estranhas mortes começam a ocorrer em
reproduzida – e também acessibilidade – em
um mosteiro beneditino localizado na Itália durante
função do número de cópias de um mesmo
a baixa Idade Média, onde as vítimas aparecem sempre
original que pode ser distribuído. A tecnologia com os dedos e a língua roxos. O mosteiro guarda uma
do impresso originou, assim, diversos imensa biblioteca, na qual poucos monges têm acesso
às publicações sacras e profanas. A chegada de um
representantes, desde o livro ao jornal.
monge franciscano (Sean Connery), incumbido de
investigar os casos, mostrará o verdadeiro motivo
Sabemos, por um lado, que as necessidades
dos crimes, resultando na instalação do tribunal da
culturais exigem transformações tecnológicas. santa inquisição.

11
AULA 1 • Tecnologia e Sociedade

Mas vale acentuar também que as inovações tecnológicas, na outra direção, provocam mudanças
na cultura. A imprensa, por exemplo, transformou hábitos, criou novos elementos na sociedade
e exigiu novas decisões políticas.

No campo dos hábitos, a disponibilidade de textos impressos mexeu na cultura sugerindo a


habilidade de ler como fundamental a todo cidadão. Antes, quando os livros eram raros e para
poucos, ler também era uma competência rara e para poucos. À medida que a imprensa cresceu
e iniciou a popularização do impresso, ler passou a ser uma via de acesso à informação que
poderia ser exercida por todos, e não só por alguns.

Essa mudança na sociedade não foi simples. “Acesso à informação” sempre implicou revoluções
de hábitos, mas também transformações políticas. Assim, a tecnologia do impresso mexeu na
cultura ampliando o poder pelo saber. A circulação de jornais nas cidades criava uma rede de
informações jamais imaginada, e com ela a possibilidade de saber sobre diferentes assuntos,
discutir sobre eles e formar opiniões.

Criou-se, ainda, uma outra estrutura econômica: surgiram os donos de jornais, as editoras de livros,
e também profissionais especializados nesses trabalhos. A regulação da profissão de jornalista,
por exemplo, por muito tempo foi habilitada aos que tinham experiência na área, e não apenas
àqueles com nível superior, afinal a formação superior em jornalismo surgiu exatamente para
atender a uma demanda prática já existente e exercida por diversas pessoas que aprenderam
na prática o ofício de jornalista.

Com o exemplo da imprensa, podemos perceber que, por um lado, as inovações tecnológicas
atendem às necessidades sociais, mas, por outro, transformam a própria sociedade em que elas
surgem.

Se a imprensa foi revolucionária, também o telégrafo no século XIX é uma inovação que não
pode ser esquecida. A possibilidade de transmitir informações a longas distâncias transformou
a sociedade e abriu possibilidades nunca antes imaginadas.

Com efeito, a comunicação entre as pessoas sempre foi uma necessidade, mas a comunicação a
distância apresentou problemas durante muito tempo2. Na Antiguidade, utilizavam-se métodos
naturais, como acender fogueiras no cimo dos montes, para comunicar a distância. É também
muito conhecida a utilização de um código de fumos pelos índios americanos, com a mesma
finalidade de transmitir mensagens. Outros processos usados durante muito tempo utilizavam
animais, como as carruagens a cavalo ou os cavaleiros, assim como navios e mais tarde o comboio.

Outro processo visual foi desenvolvido nos princípios da década de 1790 pelo engenheiro
francês Claude Chappe, que inventou a palavra telégrafo (do grego, “escrever a distância”. Tele
– distância – e grafia – escrita). Consistia em transmitir letras, palavras e frases por meio de um

2 Disponível em: <http://br.geocities.com/jcc5001pt/museutelegrafo.htm>. Acesso em: 15 jun. 2017.

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Tecnologia e Sociedade • AULA 1

código visualizado a partir de três réguas de madeira articuladas colocadas na parte alta de um
poste ou edifício

Esses processos óticos de comunicação


Saiba mais
estavam obviamente dependentes das
condições naturais de visibilidade. Só os
:: Energia elétrica:
processos elétricos vieram impulsionar
de forma ímpar a velocidade e o alcance Uma forma de energia baseada na geração de
diferenças de potencial elétrico entre dois pontos,
da transmissão de mensagens a distância.
que permitem estabelecer uma corrente elétrica entre
Um dos pioneiros foi o médico espanhol ambos. Mediante a transformação adequada, é possível
Francisco Salvá, de Barcelona. Em 1795, obter que tal energia mostre-se em outras formas finais
de uso direto, em forma de luz, movimento ou calor,
transmitiu mensagens por meio da descarga
segundo os elementos da conservação da energia.
de um condensador.
É uma das formas de energia que o homem mais utiliza na
atualidade, graças a sua facilidade de transporte, baixo índice
Depois de diferentes desenvolvimentos
de perda energética durante conversões.
ao redor do mundo, realizados por vários
inventores, foi nos Estados Unidos que o
pintor Samuel Morse inventou um sistema mais prático, com um interruptor, um eletroímã e
apenas um fio. Em 1838, Morse registrou uma patente com a descrição do seu telégrafo. Visto
usar apenas um fio, foi necessário utilizar um código para cada letra constituído por pontos,
traços e espaços. Os pontos correspondiam a uma ação breve sobre o eletroímã, o traço a uma
ação mais longa e o espaço a uma pausa. Assim era a base do código Morse. Esse sistema de
Morse permitiu um grande desenvolvimento do telégrafo. Em 1852, já havia 64.000 quilômetros
de linhas telegráficas no mundo.

A tecnologia de comunicação a distância, por


Saiba mais
via elétrica, através do telégrafo, é precursora
dos demais desenvolvimentos tecnológicos
A invenção do telefone
marcantes no campo da comunicação como
Oficialmente, Alexander Graham Bell é conhecido como
o telefone e a televisão.
inventor do telefone, mas permanece uma polêmica em torno
desse acontecimento, já que muitos consideram Antonio
Percebe-se na história uma sequência
Meucci, e não Graham Bell, o responsável por essa inovação.
gradativa do potencial da comunicação a
distância: primeiro transmite-se o texto,
depois o som e, por fim, a imagem. Vamos conhecer um pouco da história dessas tecnologias,
continuando nossa trajetória, começamos com a imprensa e o telégrafo, agora é a vez do telefone.

Inventado por volta de 1860, o telefone é um dispositivo de telecomunicações desenhado para


transmitir sons por meio de sinais elétricos. É definido como um aparelho eletroacústico que
permite a transformação, no ponto transmissor, de energia acústica em energia elétrica e, no
ponto receptor, teremos a transformação da energia elétrica em acústica, permitindo, dessa forma,

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AULA 1 • Tecnologia e Sociedade

a troca de informações entre dois ou mais assinantes. Para haver êxito nessa comunicação, os
aparelhos necessitam estar ligados a vários equipamentos, que formam uma central telefônica3.

A rede de comunicação criada por intermédio do telefone


Saiba mais
ampliou de maneira significativa o contato imediato
entre pessoas em diferentes localizações geográficas. Os principais fins da rádio fundada por
Ainda refletindo sobre a transmissão do som a distância, Roquette-Pinto eram sociais e científicos.
Antropólogo, médico e educador, o fundador
vamos ver um pouco da história do rádio.
da rádio também foi o primeiro locutor e criou
o seguinte tema para a emissora: “Pela cultura
Consideram alguns que a primeira transmissão
dos que vivem em nossa terra. Pelo progresso do
radiofônica do mundo foi realizada em 1906, nos EUA, Brasil”. Estimava-se que 70% das pessoas no
por Lee de Forest, experimentalmente para testar a Brasil eram analfabetas, a proposta da rádio era
atingir a população com mensagens educativas.
válvula tríodo. No Brasil, a primeira transmissão foi
realizada no centenário da Independência do Brasil,
em 7 de setembro de 1922, em que o presidente Epitácio Pessoa, acompanhado pelos reis da
Bélgica, Alberto I e Isabel, abriu a Exposição do Centenário no Rio de Janeiro. O discurso de
abertura de Epitácio Pessoa foi transmitido para receptores instalados em Niterói, Petrópolis
e São Paulo. Era o começo da primeira estação de rádio do Brasil: a Rádio Sociedade do Rio de
Janeiro. Fundada por Roquette-Pinto, a emissora foi doada ao governo em 1936 e existe até hoje,
mas com o nome de RÁDIO MEC.

O rádio inaugurou a difusão em massa do som.


Saiba mais
Radiodifusão é a transmissão de ondas de
radiofrequência que, por sua vez, são moduladas e se O primeiro computador eletromecânico foi
propagam eletromagneticamente através do espaço. construído por Konrad Zuse. Em 1936, esse
engenheiro alemão construiu, a partir de relês
É um meio de comunicação ao qual a maioria da
que executavam os cálculos e dados lidos em
população tem acesso como ouvinte. O receptor de fitas perfuradas, o Z1. Zuse tentou vender o
rádio, por se tratar de um instrumento de baixo custo, computador ao governo alemão, que desprezou

pequeno porte e programações diversificadas, exerce a oferta, já que não poderia auxiliar no esforço
de guerra. Os projetos de Zuse ficariam
maior incidência na vida diária das pessoas, tanto
parados durante a guerra, dando a chance aos
em zonas urbanas quanto em rurais. Ele é rico em americanos de desenvolver seus computadores.
sugestão e sua capacidade de provocar a criação de
imagens mentais, estabelecer laços afetivos e suscitar uma cálida sensação de intimidade com
o ouvinte que recebe a mensagem em sua solidão facilita a adesão, a identificação afetiva – mais
que intelectual – ao rádio. Até hoje, essa é a tecnologia de maior penetração no Brasil, sendo
seguida pela televisão.

A televisão é um sistema eletrônico de recepção de imagens e som de forma instantânea. Funciona


a partir da análise e conversão da luz e do som em ondas eletromagnéticas e de sua reconversão
em um aparelho - o televisor - que recebe também o mesmo nome do sistema ou pode ainda

3 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Telefone>. Acesso em: 15 jun. 2017.

14
Tecnologia e Sociedade • AULA 1

ser chamado de aparelho de TV. O televisor ou aparelho de TV capta as ondas eletromagnéticas


e, mediante seus componentes internos, converte-as novamente em imagem e som. A televisão
surgiu na década de 20, e a TV em cores data da década de 504.

A última grande revolução no cenário das tecnologias da informação foi, sem dúvida, a criação
do computador e, posteriormente, a rede mundial de computadores, a internet. Denomina-se
computador uma máquina capaz de variados tipos de tratamento automático de informações
ou processamento de dados5. Um computador pode prover-se de inúmeros atributos, entre
eles, armazenamento de dados, processamento de dados, cálculo em grande escala, desenho
industrial, tratamento de imagens gráficas, realidade virtual, entretenimento e cultura.

Foi na 2ª Guerra Mundial que realmente nasceram os computadores atuais. A Marinha americana,
em conjunto com a Universidade de Harvard, desenvolveu o computador Harvard Mark I,
projetado pelo professor Howard Aiken. O Mark I ocupava 120 m³ aproximadamente, conseguindo
multiplicar dois números de dez dígitos em três segundos.

Simultaneamente, e em segredo, o Exército Americano desenvolvia um projeto semelhante, cujo


resultado foi o primeiro computador a válvulas, o Eletronic Numeric Integrator And Calculator
(ENIAC), capaz de fazer quinhentas multiplicações por segundo. Tendo sido projetado para
calcular trajetórias balísticas, o ENIAC foi mantido em segredo pelo governo americano até o
final da guerra, quando foi anunciado ao mundo.

Percebemos, na história do computador, a presença explícita de interesses militares. Toda


inovação tecnológica atende a interesses políticos e econômicos. No campo da informação e
da comunicação, muitos desenvolvimentos foram feitos no cenário das instituições militares
com o objetivo de armazenar e controlar a informação, visando à segurança nacional. Não foi
diferente no caso da Internet.

:: Guerra Fria
A Guerra Fria foi a designação atribuída ao conflito político-ideológico entre os Estados Unidos (EUA),
defensores do capitalismo, e a União Soviética (URSS), defensora do socialismo, compreendendo o período
entre o final da 2ª Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991).

É chamada “fria” porque não houve qualquer combate físico, embora o mundo todo temesse a vinda de
um novo conflito mundial, e por se tratar de duas superpotências com grande arsenal de armas nucleares.
Norte-americanos e soviéticos travaram uma luta ideológica, política e econômica durante esse período. Se
um governo socialista fosse implantado em algum país do Terceiro Mundo, o governo norte-americano via
aí logo uma ameaça aos seus interesses; se um movimento popular combatesse um governo aliado aos EUA,
logo receberia apoio soviético.

4 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Televisao>. Acesso em: 15 jun. 2017.


5 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Computador>. Acesso em: 15 jun. 2017.

15
AULA 1 • Tecnologia e Sociedade

A Internet surgiu por vias militares nos períodos áureos da Guerra Fria6. Na década de 60,
quando dois blocos antagônicos política, social e economicamente exerciam enorme controle e
influência no mundo, qualquer mecanismo, qualquer inovação, qualquer ferramenta nova poderia
contribuir nessa disputa liderada pela União Soviética e pelos Estados Unidos. Nessa perspectiva,
o governo dos Estados Unidos temia um ataque às suas bases militares pela URSS. Acontece que,
em caso de um ataque (deve-se levar em consideração o clima de tensão que permeia a década
de 60), informações importantes e sigilosas poderiam ser perdidas, não oferecendo aos EUA
condições de resistência e reação. Então, foi idealizado um modelo de troca e compartilhamento
de informações que permitisse a descentralização destas. Assim, se o Pentágono fosse atingido,
as informações armazenadas ali não estariam perdidas. Era preciso, portanto, criar uma rede, a
ARPANET, desenvolvida pela ARPA, sigla para Advanced Research Projects Agency, e foi assim que
se desenrolaram as primeiras estratégias de tráfego de informações entre diferentes localidades
por meio de uma rede de computadores.

Na década de 80, o interesse pela rede se ampliou e mais pesquisas foram realizadas. Em 1989,
a contribuição do cientista Sir Tim Berners-Lee do CERN, Conseil Européen pour la Recherche
Nucléaire (Centro Europeu de Pesquisas Nucleares), muda definitivamente a face da Internet,
até então uma rede fechada e com uma interface bastante diferente da que conhecemos hoje.
Tim Berners-Lee foi o responsável pela criação da World Wide Web, um sistema que inicialmente
interligava sistemas de pesquisas científicas e acadêmicas, conectando universidades. A rede
coletiva ganhou maior divulgação pública a partir de 1990.

Com o computador e a internet, a transmissão de texto, som e imagens finalmente foi integrada.
A essa combinação chamamos de multimídia. Define-se multimídia a combinação, controlada
por computador, de pelo menos um tipo de mídia estática (texto, fotografia, gráfico), com pelo
menos um tipo de mídia dinâmica (vídeo, áudio, animação). Quando se afirma que a apresentação
ou recuperação da informação se faz de maneira multissensorial, quer-se dizer que mais de
um sentido humano está envolvido no processo, fato que pode exigir a utilização de meios de
comunicação que, até há pouco tempo, raramente eram empregados de maneira coordenada.

Seres humanos e máquinas: imagens do presente e do


futuro

Ao longo desta disciplina, teremos várias oportunidades de analisar cada uma das tecnologias de
informação e comunicação (TICs) sucintamente apresentadas no tópico anterior. No entanto,
a intenção desta aula é discutir a relação entre essas tecnologias e a vida em sociedade.

6 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Historia_da_Internet>. Acesso em: 15 jun. 2017.

16
Tecnologia e Sociedade • AULA 1

As TICs fazem parte do cotidiano das pessoas. Quase todos os brasileiros usam livros, jornais,
telefones e televisão em seu dia a dia, e um número significativo de pessoas faz uso do computador,
seja em instituições públicas, de negócios e comércios ou em suas casas.

Além das TICs (foco deste estudo), diversas outras tecnologias acompanham a vida de um indivíduo
em sociedade: as evoluções tecnológicas no campo da saúde, por exemplo, têm exercido grande
impacto em nossa cultura. Esse cenário da Biotecnologia é responsável por aprimoramento
de medicamentos, criação de intervenções na cura de doenças e desenvolvimento de técnicas
inovadoras no campo da vida e da morte, tais como as estratégias de reprodução assistida e as
pesquisas sobre a clonagem.

No entanto, o desenvolvimento tecnológico tem consequências éticas para a vida social. As


intervenções desenvolvidas provocam mudanças na ordem política da sociedade e exigem
reflexões e debates acerca não apenas das possibilidades, mas também dos limites da tecnologia.

:: Comunicação de massa:
Os meios de comunicação de massa são veículos, sistemas de comunicação em um único sentido (mesmo
que disponham de vários feedbacks como índices de consumo ou de audiência, cartas dos leitores). Ou
seja, a mensagem dos meios de comunicação de massa é emitida por um ponto (TV, rádio, etc.), chega até
as pessoas, mas não permite que aquele que recebe a mensagem responda à informação recebida. Essa
característica distingue-os da comunicação pessoal, na qual o comunicador conta com imediato e contínuo
feedback da audiência, intencional ou não, e leva alguns teóricos da mídia a afirmar que aquilo que obtemos
mediante os meios de comunicação de massa não é comunicação, pois esta é via de dois sentidos e, portanto,
tais meios deveriam ser denominados veículos de massa.

As tecnologias de comunicação de massa, por exemplo, ampliaram significativamente o acesso


à informação, principalmente no campo das mídias de massa, mas trouxeram a reboque o
debate acerca da “liberdade de expressão”. Eticamente falando, será que tudo pode ser dito para
o público? A mídia deve estar aberta a qualquer tipo de difusão de informação? Essa questão
não é nada simples, pois remete à ideia de regulação da liberdade, que pode chegar às raias do
debate acerca da censura. Se, por um lado, o desenvolvimento da tecnologia abre possibilidades,
por outro, inaugura questionamentos fundamentais acerca dos limites desses “mundos agora
possíveis” a partir das inovações tecnológicas.

Vamos ver outro exemplo: a televisão criou um mundo fascinante de imagens, sons, cores e
conteúdos voltados aos mais diversos temas. No entanto, no cotidiano das pessoas, suscitou
mudanças que provocaram impasses. Um dos grandes assuntos da década de 80 era “quantas horas
as crianças devem passar em frente à televisão”. As críticas à “babá eletrônica” eram infindáveis.
Além da educação das crianças, a televisão ameaçou, para alguns, a qualidade da informação.
Começou-se a se falar nos “alienados” que assistem à televisão e, no Brasil, principalmente, às
novelas. Mesmo hoje, “assistir à televisão” é um comportamento algumas vezes criticado por
aqueles que veem essa mídia como um “instrumento de alienação”.

17
AULA 1 • Tecnologia e Sociedade

Por que alienação? O debate acerca das mídias de massa leva à pergunta sobre a origem da
informação e da intenção da mensagem. O que lemos nos jornais e vemos na televisão são
reportagens criadas por empresas de comunicação. Sendo assim, a questão da divulgação de
uma informação tem, por um lado, um compromisso ético com a verdade, mas, por outro, tem
ainda relações com diversos outros interesses e ideologias, tanto dos donos das empresas de
comunicação quanto do mercado publicitário de anunciantes. Daí surge a pergunta: qual a
qualidade da informação difundida na mídia de massa?

Retomando a crítica às horas despendidas por


Para refletir
crianças em frente à TV na década de 80, os anos
2000 foram marcados por outro tipo de “babá”, No Brasil, a empresa de telecomunicação de maior
agora digital. Um discurso muito parecido porte e que é, por isso, alvo de muitos questionamentos
é a Rede Globo. Diversas pessoas no dia a dia falam da
apareceu junto à internet: quanto tempo as
“manipulação da Globo”, e têm aqueles que se recusam a
crianças passam hoje “em frente ao computador”. assistir ao Jornal Nacional, por exemplo.
A tela mudou, mas a pergunta é quase a mesma,
Mas fica aqui um ponto para reflexão: independente das
com uma diferença fundamental: as informações intenções ou não das empresas de comunicação em suas
difundidas pela TV podem ser questionáveis, mensagens, o ideal é “não assistir” aos programas ou
analisá-los criticamente?
mas são mais facilmente mapeáveis do que as
informações disponíveis na internet. É possível
saber que programas estão sendo transmitidos nos diferentes canais da televisão, mas nunca será
possível saber todos os sites disponíveis para navegação na internet. Novo problema: a “babá
digital” abre um campo de possibilidades que assusta pais e educadores. Novamente surge a
questão da regulação ou, mais especificamente, da censura: seria viável, possível e pertinente
um controle das informações disponíveis online? Vale a pena investir em sistemas de controle
que impeçam o acesso a determinados sites nos computadores de crianças e adolescentes?

Umberto Eco, em seu livro “Apocalípticos e Integrados”, de 1964, apresenta as duas principais
tendências presentes na sociedade diante do impacto da mídia de massa. Para Eco, existem
aqueles denominados “apocalípticos”, que consideram a mídia de massa um mal irremediável,
um instrumento não da cultura, mas da decadência da cultura, e os “integrados”, que analisam
os aspectos positivos desses veículos, os quais permitem a circulação dinâmica de informações:

Apocalípticos e integrados. Conceitos genéricos e polêmicos criados por Umberto


Eco, no início da década de 70, marcaram as discussões sobre a indústria cultural
e a cultura de massa. Serviram para tipificar ao extremo as análises que se faziam
na época: de um lado, os que viam a cultura de massa como a anticultura que
se contrapõe à cultura num sentido aristocrático – sendo, portanto, um sinal
de decadência; e, de outro, os que viam nesse fenômeno o alargamento da área
cultural com a circulação de uma arte e de uma cultura popular consumidas por
todas as camadas sociais. Uns recusavam, outros aceitavam. Confrontavam-se
pessimistas e otimistas. O apocalíptico consolava o leitor porque o elevava acima
da banalidade média. Era super-homem, segundo Eco, porque estava acima

18
Tecnologia e Sociedade • AULA 1

da massa e dela não fazia parte. O integrado, por sua vez, convidava o leitor à
passividade ao aceitar o consumo acrítico dos produtos da cultura de massa
(ECO, 1964 apud BIANCO, s/d, s/p)7.

De acordo com Bianco, os chamados “teóricos


Atenção
críticos” da Escola de Frankfurt (Adorno e
Horkheimer) – nos anos 30 e 40 – viam na Para Adorno, a atual civilização técnica, surgida do
produção de bens culturais padronizados e espírito do Iluminismo e do seu conceito de razão,
não representa mais que um domínio racional sobre
estereotipados – a comunicação de massa – a
a natureza, que implica paralelamente um domínio
capacidade de fornecer aos indivíduos meios (irracional) sobre o homem; os diferentes fenômenos de
imaginários de escape da dura realidade social, barbárie moderna (fascismo e nazismo) não seriam outra

debilitando-os, portanto, de sua capacidade coisa que não mostras, e talvez as piores manifestações,
dessa atitude autoritária de domínio sobre o outro.
de pensar de forma crítica e autônoma. De
inspiração marxista, essa corrente de análise
entendia a comunicação de massa como um meio de ideologia, um mecanismo de difusão de
ideias que promovia os interesses das classes dominantes. Esse grupo pode ser identificado
como de postura apocalíptica.

Entre os integrados, Bianco identifica uma outra explicação desenvolvida nos anos 50 e 60
pelos chamados “teóricos da mídia” (McLuhan e Innis), que identificavam na própria forma do
meio de comunicação o poder de influenciar a sociedade. Argumentavam esses teóricos que o
desenvolvimento da mídia eletrônica criava um novo ambiente cultural interacional e unificador,
interligado em redes globais de comunicação instantânea denominado por McLuhan como
“aldeia global”.

:: Marshall McLuhan:
Teórico dos meios de comunicação, foi precursor dos estudos sobre a mídia. Seu foco de interesse não são
os efeitos ideológicos dos meios de comunicação sobre as pessoas, mas a interferência deles nas sensações
humanas, daí o conceito de “meios de comunicação como extensões do homem” (título de uma de suas
obras) ou “prótese técnica”. Em outras palavras, a forma de um meio social tem a ver com as novas maneiras
de percepção instauradas pelas tecnologias da informação. Os próprios meios são a causa e o motivo das
estruturas sociais.

A discussão da relação entre os seres humanos e as tecnologias vai além da questão da mídia de
massa. A articulação entre homens e máquinas inquieta o imaginário da sociedade, esticando-o nas
duas direções indicadas por Eco: de um lado, aqueles que veem as máquinas como uma extensão
das potencialidades humanas, como instrumentos valiosos de ampliação das capacidades físicas
e cognitivas do ser humano. Poderíamos chamar essa perspectiva de “integrada”, no vocabulário
de Eco, ou de “utópica”.

7 BIANCO, Nélia R. Del. Elementos para pensar as tecnologias da informação na era da globalização. Disponível em: <http://
revcom2.portcom.intercom.org.br/index.php/rbcc/article/viewFile/731/517>. Data do acesso: 18/06/2008

19
AULA 1 • Tecnologia e Sociedade

Os exemplos dessa extensão de possibilidades humanas são vários: o que um homem não é
capaz de derrubar com a força de seu corpo, um trator destrói sem dificuldade. O que a memória
humana não é capaz de armazenar, o computador registra. Se o ser humano não é capaz de voar,
pelos limites de seu corpo, ele o faz através da invenção do avião. Sendo assim, nessa perspectiva
utópica, as máquinas são grandes aliadas do ser humano e das expansões de sua vida social.

Podemos destacar, nesse sentido, o livro Vida Digital (1995), de Nicholas Negroponte, um dos
fundadores do Media Lab do Massachusetts Institute of Technology. Negroponte desenvolve
previsões sobre o futuro digital, delineando o perfil do mundo que vê pela frente:

No início do próximo milênio, nossas abotoaduras ou brincos poderão comunicar-


se entre si por intermédio de satélites de órbita baixa, e terão um poder de
processamento superior ao dos atuais micros. Nossos telefones não tocarão
indiscriminadamente; eles irão receber, classificar e talvez até mesmo responder
às chamadas, como um experiente mordomo inglês. Os meios de comunicação de
massa serão redefinidos por sistemas de transmissão e recepção de informações
personalizada e entretenimento. As escolas vão mudar, parecendo-se mais com
museus e playgrounds onde crianças poderão desenvolver ideias e se comunicar
com outras crianças do mundo todo. O planeta digital será mais parecido com
uma cabeça de alfinete, e assim as pessoas vão percebê-lo (NEGROPONTE,
1995, p. 12).

Esse autor expressa em seu texto uma perspectiva extremamente


Sugestão de estudo
otimista no que diz respeito à relação entre homens e máquinas
no futuro, vislumbrando um cotidiano de intensas relações Obras importantes de Pierre Lévy:
entre homens e máquinas de forma harmônica e sempre em - As Tecnologias da Inteligência: o
benefício da vida social. futuro do pensamento na era da
informática.
Outro entusiasta acerca da relação homens e máquinas é PIERRE - O que é o virtual?
LÉVY. Especialmente no que tange à informática, Lévy indica
Cibercultura.
uma articulação intrínseca e indispensável entre o ser humano
- A Conexão Planetária: o mercado, o
e as tecnologias da informação. Um dos ícones desse cenário ciberespaço, a inteligência.
de debates, Pierre Lévy apresenta um cenário presente e uma - Ciberdemocracia.
perspectiva de futuro intensamente marcados pela íntima
relação entre pessoas e computadores:

Novas maneiras de pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo das telecomunicações
e da informática. As relações entre os homens, o trabalho, a própria inteligência dependem, na
verdade, da metamorfose incessante de dispositivos informacionais de todos os tipos. Escrita,
leitura, visão, audição, criação, aprendizagem são capturadas por uma informática cada vez
mais avançada. (...)

20
Tecnologia e Sociedade • AULA 1

Na época atual, a técnica é uma das dimensões fundamentais onde está em jogo a transformação
do mundo humano por ele mesmo (LÉVY, 2002, p. 7).

Negroponte, Lévy e outros somam-se a uma perspectiva otimista em relação ao presente e


ao futuro da relação seres humanos e máquinas. No entanto, esse modo de encarar a relação
humano-tecnológico tem sua outra face. O imaginário contemporâneo é marcado não apenas
por otimistas, mas por aqueles que apontam suas preocupações acerca da relação entre pessoas e
máquinas. Podemos chamá-los de “apocalípticos”, usando o vocabulário de Eco, ou “catastróficos”.

:: Matrix:
Matrix tem como tema a luta do ser humano, por volta do ano de 2200, para se livrar do domínio das
máquinas que evoluíram após o advento da inteligência artificial. Em um recurso extremo para derrotar as
máquinas, a humanidade cobriu a luz do sol para cortar o suprimento de energia elas, mas estas adotam uma
solução radical: como cada ser humano produz, em média, 120 volts de energia elétrica, começam a cultivá-
los em massa como fonte de energia. Para que o cultivo fosse eficiente, os seres humanos passaram a receber
programas de realidade virtual, enquanto seus corpos reais permaneciam mergulhados em habitáculos nos
campos de cultivo. Essa realidade virtual, que é um programa de computador ao qual todos são conectados,
chama-se Matrix e simula a humanidade do final do Século XX.

Os filmes de ficção científica retratam com muita força esse cenário catastrófico: 2001 – uma
Odisseia no espaço, Blade Runner, O Exterminador do Futuro, Jurassic Park, e mais recentemente
A. I. – Inteligência Artificial, Eu, Robô e, sobretudo, a trilogia MATRIX são exemplos de diferentes
preocupações sobre o futuro da humanidade diante dos desenvolvimentos tecnológicos.

“Quais serão os limites desse desenvolvimento?”: esta é a pergunta-chave.


Quem domina quem? Haveria alguma possibilidade de as máquinas tornarem-
se senhoras da humanidade? Estaria a liberdade humana em jogo? Será que
é possível que a criatura (tecnologia) domine seu criador (o ser humano)?

Como contraponto ao otimismo dos autores de perspectiva utópica, Jean


Baudrillard dispara duras críticas a uma relação ingênua entre homens e Pôster do Filme
máquinas: Matrix

As máquinas só produzem máquinas. Isso é cada vez mais verdadeiro na medida do


aperfeiçoamento das tecnologias virtuais. Num certo nível maquinal, de imersão
na maquinaria virtual, não há mais distinção homem/máquina: a máquina situa-se
dos dois lados da interface. Talvez não sejamos mais do que espaços pertencentes
a ela – o homem transformado em realidade virtual da máquina, seu operador
especular, o que corresponde à essência da tela (BAUDRILLARD, 1997, p. 147).

Sobre a internet e sua suposta liberdade, afirma Baudrillard:

Internet apenas simula um espaço de liberdade e de descoberta. Não oferece, em


verdade, mais do que um espaço fragmentado, mas convencional, onde o operador

21
AULA 1 • Tecnologia e Sociedade

interage com elementos conhecidos, sites estabelecidos, códigos instituídos.


Nada existe para além desses parâmetros de busca. Toda pergunta encontra-se
atrelada a uma resposta preestabelecida (BAUDRILLARD, 1997, p. 148).

A perspectiva “catastrófica” ajuda-nos a refletir sobre aspectos importantes dos impasses e mesmo
dos perigos relacionados à relação humano-tecnológica. Seriam as máquinas ampliadoras das
capacidades humanas ou, na verdade, veículos de restrição de seu potencial? A televisão informa
ou aliena? A memória do computador nos ajuda ou nos torna mais preguiçosos? A internet abre
campos de informação ou direciona interesses a partir de ideologias comerciais?

Nosso objetivo com este estudo não é a adoção “total e irrestrita” a uma perspectiva ou outra,
mas sim aprendermos a olhar a relação homens e máquinas por diferentes ângulos. Com os
utópicos, aprendemos acerca dos potenciais das tecnologias, vislumbrando futuros possíveis de
encantadora combinação entre pessoas e tecnologias. Com os catastróficos, acionamos nossa
preocupação ética, questionando os limites do desenvolvimento e mantendo-nos alertas aos
perigos que rondam a criação e a difusão das tecnologias na vida em sociedade.

Resumo

Vimos até agora:

»» todas as sociedades humanas, em diferentes épocas e lugares, sempre desenvolvem


técnicas específicas;

»» técnicas são modos de fazer ações humanas, estruturadas de acordo com as intenções
de cada sociedade;

»» as técnicas envolvem objetos que ganham sentido próprio dentro das culturas que
são compostas de elementos imateriais (abstratos) articulados a elementos materiais
(objetos);

»» a tecnologia consiste no estudo que permite o desenvolvimento e o aprimoramento


das técnicas, tanto em seus modos de ação quanto nos instrumentos técnicos por elas
utilizados;

»» as tecnologias de informação e de comunicação aprimoraram o contato entre os seres


humanos ao longo da história a partir da transmissão de mensagens a distância;

»» a invenção da imprensa foi um marco na transformação da cultura humana no que diz


respeito ao acesso à informação;

»» a transmissão de mensagens a distância foi inicialmente possível através do telégrafo e


do uso de códigos para tal transmissão;

22
Tecnologia e Sociedade • AULA 1

»» a transmissão do som concretizou-se com a invenção do telefone e do rádio;

»» o rádio tem imensa penetração social e é um veículo importante até hoje em todos os
países;

»» a televisão é um meio de transmissão de sons e imagens e revolucionou a vida social


com sua presença dentro da casa das pessoas;

»» o desenvolvimento do computador e da internet está relacionado a interesses militares


e da guerra fria;

»» a relação homens e máquinas é alvo de vários debates na sociedade contemporânea;

»» do ponto de vista utópico, as máquinas são responsáveis pela ampliação das capacidades
e potencialidades humanas;

»» na perspectiva catastrófica, há um risco de as máquinas apresentarem perigos ao bem-


estar da vida humana;

»» é preciso conhecermos os dois argumentos para aprendermos acerca do potencial, mas


também dos limites do desenvolvimento tecnológico.

23
Aula
Educação na Sociedade
da Informação 2
Apresentação

A dinâmica das relações sociais é um processo de contínua transformação. O momento


contemporâneo caracteriza-se pela intensificação dos fluxos informacionais, mediados por
tecnologias da informação e comunicação em contínuo desenvolvimento. A esse novo perfil
social dá-se o nome de Sociedade da Informação, termo de uso controverso, mas bastante
disseminado. Nesta aula, discutiremos o conceito de Sociedade da Informação, analisando suas
características para, por fim, analisarmos o papel da educação nesta sociedade e os desafios do
processo educativo no contexto desafiador da sociedade da informação.

Objetivos

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

»» analisar o processo de transformação do modelo da sociedade industrial para a sociedade


pós-industrial e, por fim, a sociedade da informação;

»» identificar as características da sociedade da informação;

»» discutir criticamente os dilemas da sociedade da informação, como, por exemplo, a


exclusão digital;

»» refletir sobre a importância da educação na sociedade da informação;

»» apresentar as possibilidades das novas tecnologias da informação e da comunicação


no processo educativo no contexto da Sociedade da Informação.

24
Educação na Sociedade da Informação • AULA 2

Sociedade da Informação

Para contextualizarmos o debate contemporâneo acerca do conceito de “Sociedade da Informação”,


precisamos refletir um pouco sobre as mudanças que nos conduziram ao presente momento.
A Sociedade da Informação é marcada pela intensa presença das tecnologias de informação e
comunicação na dinâmica da vida social em todos os seus setores: economia, produção, política,
entretenimento, educação, entre outros. Como vimos na aula anterior, o desenvolvimento dessas
tecnologias tem uma história, e sua presença no cotidiano das pessoas e da sociedade produziu
mudanças significativas.

Para alguns autores, tais mudanças foram tão importantes que transformaram o perfil dominante
da vida social contemporânea: se antes a sociedade era marcadamente uma “sociedade industrial”,
a segunda metade do século XX seria marcada por uma transformação na direção de um modelo
“pós-industrial”, que nos conduz a uma nova forma social, a chamada “sociedade da informação”
que teria superado a “sociedade industrial”. Mas vamos aos poucos. Quais as características da
sociedade industrial?

A Revolução Industrial consistiu em um conjunto de mudanças tecnológicas com profundo


impacto no processo produtivo em nível econômico e social. Iniciada na Inglaterra, em meados
do século XVIII, expandiu-se pelo mundo a partir do século XIX.

Ao longo do processo, a era agrícola (pré-industrial) foi superada, a máquina foi suplantando
o trabalho humano, uma nova relação entre capital e trabalho se impôs, novas relações entre
nações se estabeleceram e surgiu o fenômeno da cultura de massa, entre outros eventos.

Essa transformação foi possível devido


Atenção
a uma combinação de fatores, como o
liberalismo econômico, a acumulação de
:: Invenções:
capital e uma série de invenções, tal como
o motor a vapor. O capitalismo tornou-se As invenções que revolucionaram a era industrial
aconteceram no campo da produção da energia, que
o sistema econômico vigente.
impulsionou o funcionamento das máquinas, tais
como o motor a vapor e a bateria elétrica (século
Percebemos, portanto, que as principais
XVIII), embarcações e locomotivas a vapor (século
personagens desse período foram a XIX), assim como incrementos na produção de ferro e,
máquina e a indústria. A mudança de um principalmente, aço, também no século XIX.

modelo econômico baseada na produção


em pequena escala para o modelo industrial possível a partir da presença das máquinas na
produção em larga escala trouxe importantes consequências para a vida social:

»» esse novo modelo de produção mudou a relação do homem com o trabalho: ele agora
era um trabalhador em fábricas – um operário;

25
AULA 2 • Educação na Sociedade da Informação

»» a máquina tornou-se figura central na produção, e a relação entre homens e máquinas


inaugura-se como uma tensão: estaria a máquina abrindo novos postos de trabalho para
o homem na sociedade industrial ou ela estaria “roubando” o trabalho deste homem?;

»» a relação entre os donos das máquinas e das indústrias


com o trabalhador também inaugurou um impasse: quem Saiba mais

deve ganhar mais? Aqueles que possuem as máquinas ou Horas de trabalho por semana
aqueles que trabalham nelas?;os trabalhadores passaram a para trabalhadores adultos nas
morar perto das fábricas, e com isso o cenário das cidades indústrias têxteis:

mudou bastante. Tem início o processo de concentração 1780 - em torno de 80 horas por
semana;
urbana;
1820 - 67 horas por semana;
»» a produção em larga escala transformou a dinâmica
1860 - 53 horas por semana;
econômica da sociedade, instaurando um novo modelo
2007 - 46 horas por semana.
de comércio, lucratividade, circulação de mercadorias e
consumo.

Completa-se, assim, o cenário da sociedade industrial: grandes fábricas repletas de trabalhadores


produzindo em larga escala, proprietários das indústrias vendendo seus produtos a um preço
maior do que o custo de produção (bastante reduzido pelas máquinas e pelos baixos salários dos
trabalhadores), visando a uma extensa margem de lucro, mercadorias chegando ao comércio
para venda, consumidores ávidos pelas mercadorias que lhes conferem status e poder social.
Contudo, se essas são as características de uma sociedade industrial, o que caracteriza a sociedade
pós-industrial?

De acordo com Kumar (1997), o proponente mais conhecido da ideia de uma teoria da sociedade
pós-industrial foi Daniel Bell, em seu livro “The Coming of Post-Industrial Society” (1973). O
conceito de sociedade pós-industrial assenta na constatação de que se tornou predominante
uma economia de serviços, de que adquiriram preponderância as classes profissionais e técnicas,
de que o crescimento se tornou a referência quase exclusiva das políticas da sociedade, de que
o controle da inovação tecnológica é um dado estratégico e de que surge aquilo que se designa
por nova Tecnologia Intelectual (Silva, s.d.).

Na sociedade pós-industrial, os sistemas de informação tornaram-se elementos centrais do


processo produtivo e econômico e o desenvolvimento tecnológico acompanhou esse perfil. Se
nas sociedades pré-industriais a tecnologia tinha por objetivo central a obtenção de matéria-
prima; na industrial, o de produzir energia; na pós-industrial, sua principal função é multiplicar
os sistemas de comunicação. De acordo com Silva (s.d.), criou-se uma estratificação do poder
nova, uma vez que o conhecimento tem agora o papel que a posse da terra tinha na sociedade
pré-industrial, e o da maquinaria na industrial. Já é possível perceber como o modelo da Sociedade
Pós-Industrial nos aproxima da concepção de uma teoria da sociedade da informação, visto

26
Educação na Sociedade da Informação • AULA 2

que a centralidade das máquinas na sociedade industrial é substituída pela da informação, na


pós-industrial.

Conforme Kumar (1997), a teoria da sociedade moderna como a “sociedade da informação”


é uma continuidade evidente em relação à teoria pós-industrial anterior a ela. Daniel Bell foi,
mais uma vez, seu expositor mais eminente. Sua tese sobre a sociedade pós-industrial já isolara
o conhecimento como o aspecto mais importante – a fonte de valor, a fonte de crescimento – da
sociedade do futuro. Em seus trabalhos posteriores, ele veio equiparar com mais firmeza ainda
esse aspecto ao desenvolvimento da nova tecnologia da informação e sua aplicação potencial
a todos os setores da sociedade. A nova sociedade é hoje definida, e rotulada, por seus novos
métodos de acessar, processar e distribuir informação. Assim, a informação, como conceito
central para a vida social contemporânea, é um requisito para nossa sobrevivência. Permite o
necessário intercâmbio entre nós e o ambiente em que vivemos.

Viver efetivamente é viver com informação adequada. A comunicação e o


controle, portanto, são integrantes da essência da vida interior do homem, na
mesma medida em que fazem parte de sua vida em sociedade (WIENER, apud
KUMAR, 1997, p. 19).

Wiener, o autor da citação acima, é o inventor da


Atenção
cibernética, a teoria da mensagem, e escreveu
essas palavras em fins da década de 1940 e início
:: Cibernética:
da de 1950. A grande reivindicação em favor da
informação teve origem em certos progressos Cibernética (do grego Κυβερνήτης significando condutor,
governador, piloto) é uma tentativa de compreender a
revolucionários obtidos naquela época na
comunicação e o controle de máquinas, seres vivos e
tecnologia do controle e da comunicação – a grupos sociais através de analogias com as máquinas
“tecnologia da informação”, ou TI, como veio cibernéticas (homeostatos, servomecanismos).

a ser chamada. O nascimento da informação Essas analogias tornam-se possíveis, na Cibernética, por

não só como conceito, mas também como esta estudar o tratamento da informação no interior desses
processos como codificação e decodificação, retroação ou
ideologia está inextricavelmente ligado ao
realimentação (feedback), aprendizagem. Segundo Wiener
desenvolvimento do computador durante os (1968), do ponto de vista da transmissão da informação, a
anos da guerra e no período imediatamente distinção entre máquinas e seres vivos, humanos ou não, é
mera questão de semântica.
posterior, conforme já vimos na aula anterior
(KUMAR, 1997).

A ideia básica que marcava a teoria de Bell acerca da sociedade pós-industrial era a evolução
para uma sociedade de serviços e o rápido crescimento de oportunidades de empregos para
profissionais liberais e de nível técnico, como exposto acima.

A ideia da informação fortaleceu-se gradativamente a partir talvez da avalanche de novos progressos


técnicos em computadores e nas comunicações. Assim, a informação passou a designar hoje a
sociedade pós-industrial. É o que a gera e sustenta.

27
AULA 2 • Educação na Sociedade da Informação

Minha premissa básica é que conhecimento e informação estão se tornando os


recursos estratégicos e os agentes transformadores da sociedade pós-industrial,
da mesma maneira que a combinação de energias, recursos e tecnologia mecânica
foram os instrumentos transformadores da sociedade industrial (BELL, 1980
apud KUMAR, 1997, p. 21).

A inovação tecnológica que marca a sociedade da informação é o computador. “A tecnologia do


computador é para a era da informação o que a mecanização foi para a Revolução Industrial”
(NAISBITT, 1984 apud KUMAR, 1997, p. 21). Consoante Bell (1980 apud KUMAR, 1997), o que gerou
a sociedade da informação foi a convergência explosiva de computador e telecomunicações. A
combinação de satélites, televisão, telefone, cabo de fibra óptica e microcomputadores enfeixou
o mundo em um sistema unificado de conhecimento. “Agora pela primeira vez somos uma
economia realmente global, porque, pela primeira vez, temos informações compartilhadas de
forma instantânea” (NAISBITT, 1894 apud KUMAR, 1997, p. 22).

A nova esfera da comunicação opera em um contexto global. Uma rede mundial de bibliotecas,
de arquivos e de bancos de dados surgiu, teoricamente acessível a qualquer pessoa, em qualquer
lugar e a qualquer momento. A revolução da tecnologia da informação comprime espaço e tempo
em um novo ambiente mundial, orientado para o futuro.

A relação espaço-tempo no modelo industrial era marcada por um espaço determinado do


estado-nação (os países), ao mesmo tempo em que substituía os ritmos e os movimentos da
natureza pelo ritmo da máquina. O relógio e os horários das estradas de ferro constituíam os
símbolos da era industrial. Expressavam o tempo em horas, minutos, segundos. O computador,
símbolo da era da informação, pensa em nanossegundos, em milhares de microssegundos. Junto
à nova tecnologia das comunicações, ele introduz um marco espaço-tempo radicalmente novo
na sociedade moderna (KUMAR, 1997).

O que as mudanças no transporte e na comunicação – as infraestruturas


da sociedade – representaram em anos recentes foi o fim da distância e o
encurtamento do tempo, quase que a fusão dos dois. O espaço foi ampliado
para cobrir todo o globo e está ligado quase que em “tempo real”. O senso de
tempo, religiosa e culturalmente, que fora orientado para a continuidade e para
o passado, agora, sociologicamente, tornou-se atrelado ao futuro (BELL, 1980
apud KUMAR, 1997, p. 23).

A Sociedade da Informação, segundo seus teóricos, gera mudanças no nível mais fundamental
da sociedade. Inicia um novo modo de produção. Muda a própria fonte da criação de riqueza e
os fatores determinantes da produção. O trabalho e o capital, as variáveis básicas da sociedade
industrial, são substituídos pela informação e pelo conhecimento.

Toffler (1981 apud KUMAR, 1997) associa as mudanças na esfera da informação a mudanças na
esfera técnica, na esfera social, na esfera de poder, na esfera biológica e na esfera psicológica.

28
Educação na Sociedade da Informação • AULA 2

Essas mudanças, na perspectiva desses teóricos, são analisadas em tom otimista, apontando para
um novo estilo de vida completo, no qual a civilização pode ser tornada “mais sã, mais sensível e
sustentável, mais decente e mais democrática do que tudo que até agora conhecemos” (TOFFLER,
1981 apud KUMAR, 1997, p. 26). Assim, o ponto de vista utópico predomina entre aqueles que
apresentam a teoria da sociedade da informação. Esse novo modelo de vida social é apresentado
como revolucionário e amplificador das potencialidades da vida humana.

Assim, a sociedade da informação é apresentada como pacífica e democrática (pela acessibilidade


da informação a todos), bem como uma era de abundância, na qual todos viverão uma vida de
cultura e lazer. Para alguns autores como Masuda, a sociedade da informação assume um matiz
quase místico (KUMAR, 1997). Masuda oferece uma visão da “computopia”: ela será uma sociedade
de abundância universal, em que os homens, libertados quase inteiramente pela automação da
necessidade de trabalhar, reunir-se-ão em sociedades voluntárias para a realização de variadas
finalidades. A sociedade da informação se tornará uma sociedade sem classes, isenta de poder
dominante, tendo como núcleo comunidades voluntárias. A tecnologia da comunicação por
computadores tornará possível dispensar a política e o governo centralizados. Em vez disso,
haverá democracia participativa e sistemas de administração local pelos cidadãos (MASUDA,
1985 apud KUMAR, 1997).

Pensar a sociedade da informação, no entanto, implica uma necessidade de questionamentos


éticos acerca desse novo modelo social que se instala. Longe de ser livre de problemas, a sociedade
da informação traz novos vetores de exclusão social e dominação. No contraponto do sonho de
liberdade de seus teóricos, a sociedade da informação impõe novos problemas ideológicos que
remetem a estruturas computadorizadas de controle da vida do indivíduo em sociedade.

Nesse mundo de poder, produção e mercadoria, o progresso traz consigo


desemprego, exclusão, concentração de renda e subdesenvolvimento. O mundo
da performance cultua o otimismo. Nada mais parece impossível. Por outro
lado, cresce o sentimento de impotência diante dos impasses, da instabilidade,
da precariedade das conquistas. A opacidade do futuro parece impenetrável
(DUPAS, 2001, p. 17).

A tecnologia, em vez de democratizada, corre o risco de incrementar a exclusão social,


mantendo-se domínio de poucos. De acordo com Dupas, não se trata de ir contra o
desenvolvimento tecnológico, adotando um posicionamento reacionário. A questão é bem
outra: a tecnologia pode e deve se submeter a uma ética que seja libertadora a fim de contemplar
o bem-estar de toda a sociedade, presente e futura, e não apenas colocar-se a serviço de minorias
ou atender a necessidades imediatas.

No que diz respeito ao trabalho na sociedade da informação, por exemplo, Dupas (2001) aponta
como o capital vem utilizando as novas tecnologias flexíveis e abertas para aproveitar a diversidade
do mercado de trabalho internacional em uma perspectiva exploradora. Dadas as possibilidades

29
AULA 2 • Educação na Sociedade da Informação

de ampla fragmentação geográfica das cadeias produtivas permitidas pelas tecnologias da


informação, é possível utilizar os grandes bolsões de mão de obra barata existentes nos países
da periferia sem ter de arcar com suas infinitas demandas de bem-estar, qualidade de vida, e sua
capacidade de gerar tensões sociais nos países centrais, caso esses tivessem de absorvê-las em
seus territórios. Esses bolsões, afirma Dupas, acabam mantidos em seus países de origem e são
os demais fatores de produção – capital, tecnologias materiais, todos cada vez mais móveis – que
se deslocam, incorporando seu baixo custo a uma etapa específica de produção e, finalmente,
ao produto final.

Ainda de acordo com esse autor, o capital apossou-se por completo dos destinos da tecnologia,
libertando-a de amarras metafísicas e orientando-a única e exclusivamente para a criação de
valor econômico. A tecnologia, para Dupas, acabou se transformando basicamente em expressão
da competição global. A internet é um exemplo desse impasse: ao lado do ideal da rede de
computadores como um veículo público de socialização das informações, caminha seu inevitável
e revolucionário uso comercial.

Bernardo Sorj (2003) discute a forma de exclusão


Saiba mais
típica da sociedade da informação: a assim chamada
“exclusão digital”. Nas sociedades modernas, afirma O Comitê para Democratização da Informática
Sorj, as categorias de conectado e desconectado é uma organização não governamental sem
fins lucrativos que, desde 1995, desenvolve
referem-se à desigual distribuição de acesso aos mais
o trabalho pioneiro de promover a inclusão
diversos meios de comunicação – livros, jornais, rádio, social, utilizando a tecnologia da informação
telefone, televisão e internet. Para esse autor, a exclusão como um instrumento para a construção e o

digital possui forte correlação com as outras formas exercício da cidadania.

de desigualdade social, e, em geral, as taxas mais altas


de exclusão digital encontram-se nos setores de menor renda. De acordo com Sorj (2003), a
desigualdade social no campo das comunicações não se expressa somente no acesso ao bem
material – rádio, telefone, televisão, internet –, mas, também, na capacidade do usuário de retirar,
a partir de sua capacitação intelectual e profissional, o máximo proveito das potencialidades
oferecidas por instrumento de comunicação e de informação.

Para Sorj, exclusão digital e desigualdade social são temas indissociáveis, e seu debate é
fundamental para uma reflexão eticamente comprometida acerca da Sociedade da Informação.

Segundo Sorj (2003, p. 63), a exclusão digital depende de cinco fatores que determinam a maior
ou menor universalização dos sistemas telemáticos:

»» a existência de infraestruturas físicas de transmissão;

»» a disponibilidade de equipamento/conexão de acesso (computador, modem linha de


acesso);

30
Educação na Sociedade da Informação • AULA 2

»» treinamento no uso dos instrumentos do computador e da Internet;

»» capacitação intelectual e inserção social do usuário, produto da profissão do nível


intelectual e de sua rede social, que determina o aproveitamento efetivo da informação
e das necessidades de comunicação pela Internet;

»» a produção e o uso de conteúdos específicos adequados às necessidades dos diversos


segmentos da população.

Sendo assim, para minimizar a exclusão digital, percebemos que se fazem necessárias ações de
infraestrutura de acesso (2 primeiros tópicos), bem como estratégias de capacitação intelectual
do usuário (tópicos de 3 a 5). Esses dois vetores são fundamentais e não podem caminhar
separados. Para que ambos se realizem, é preciso investimento financeiro e vontade política de
que as mudanças possíveis aconteçam no cenário de uma sociedade da informação efetivamente
democrática.

Educação na Sociedade da Informação

Dada a centralidade da informação na sociedade pós-industrial, a educação torna-se elemento crucial


para o desenvolvimento social. A educação é o elemento-chave na construção de uma sociedade
baseada na informação, no conhecimento e no aprendizado. Parte considerável do desnível entre
indivíduos, organizações, regiões e países deve-se à desigualdade de oportunidades relativas ao
desenvolvimento da capacidade de aprender e concretizar inovações (LIVRO VERDE, 2000).

O manejo da informação e, sobretudo, a construção de conhecimento são ações que se baseiam


no processo educativo e seus desdobramentos nos diversos níveis: educação superior e educação
básica. No nível superior, o campo de desenvolvimento de pesquisas científicas é crucial para a
dimensão de produção de saberes e inovações. Na educação básica, a disseminação dos saberes
científicos assegura o fundamento das “tecnologias da inteligência”, nos termos de Lévy. Na
escola, aprende-se não só o conteúdo da informação, mas, sobretudo, aprende-se a pensar a
informação, tornando-a conhecimento.

No entanto, educar na sociedade da informação exige uma atitude ética bem fundamentada.
Pensar a educação na sociedade da informação exige considerar um leque de aspectos relativos
às tecnologias de informação e comunicação, a começar pelo papel que elas desempenham na
construção de uma sociedade que tenha a inclusão e a justiça social como uma das prioridades
principais. Diante do cenário da exclusão informacional, o papel da educação é antes de tudo
um papel político de conquista da igualdade e na construção da cidadania na sociedade da
informação.

31
AULA 2 • Educação na Sociedade da Informação

Ser cidadão na sociedade da informação implica acessos específicos à informação, domínio


de seu manejo e também capacitação para a participação em sua construção e disseminação.
Assim sendo, também na sociedade da informação, a educação é fundamental à construção da
cidadania.

A questão da exclusão digital já foi tratada no tópico anterior. Mas qual o papel da educação
diante da exclusão digital? Desenvolver junto com os cidadãos estratégias de luta na busca pela
igualdade de acesso às mídias digitais, a chamada “democracia digital” que envolve todos os
atores da sociedade em um conjunto de relações mais eficazes e transparentes.

Será que o papel da educação seria apenas a luta pelo acesso? De forma alguma, mesmo diante
da desigualdade, a Educação tem por função criar estratégias de democratização da informação,
e aí destaca-se o papel da escola. Por meio da instituição escolar, é possível democratizar o acesso
a todas as formas de mídias e, assim, à informação: a escola cidadã na sociedade da informação
deve ser equipada com bibliotecas, midiatecas, laboratórios de informática, sala de vídeos, enfim,
todos os recursos que poderão ser disseminados e compartilhados coletivamente no ambiente
escolar. Assim, a escola tem papel fundamental na democratização do acesso à informação.

Já vimos, portanto, que a educação na sociedade da informação tem o papel de:

»» incentivar a luta pela igualdade de acesso à informação;

»» democratizar o acesso à informação mediante a instituição escolar.

Mas não vamos parar por aí!

Será que o acesso à informação basta? Claro que não. As pessoas precisam aprender a lidar com
a informação, a compreendê-la de forma crítica e contextualizada. Sendo assim, a educação
tem mais um papel na sociedade da informação: capacitar os indivíduos ao manejo crítico e
consciente da informação. É nesse momento que a informação torna-se conhecimento.

Além de compreender a informação, os indivíduos


Saiba mais
precisam também saber pesquisá-la: mais uma função
da educação. Demo (1997) demonstra que o interesse Pedro Demo é professor titular da Universidade
está voltado a fundamentar a importância da pesquisa de Brasília, no departamento de sociologia.
Possui trabalhos importantes na área de Políticas
para a educação, querendo chegar até o ponto de
Sociais discutindo Educação, Cidadania, Exclusão
tornar a pesquisa uma maneira própria de aprender. Social, Aprendizagem Reconstrutiva, entre outros.
Nessa nova maneira de aprender, o aluno passa de
objeto do ensino para parceiro de trabalho, assumindo-
se sujeito do processo de aprender (BERTOLETTI; MORAES; COSTA, 2003, p. 1). Nesse sentido,
Demo (1997 apud BERTOLETTI; MORAES; COSTA, 2003, p. 1) apresenta uma nova abordagem
educacional, o educar pela pesquisa, que tem como base o questionamento reconstrutivo. No
questionamento reconstrutivo, a construção do conhecimento se dá através de uma reformulação

32
Educação na Sociedade da Informação • AULA 2

de teorias e conhecimentos existentes. Ou seja, não basta construir o conhecimento, é preciso


reconstruí-lo, reconquistá-lo, e isso só é possível através da pesquisa.

A pesquisa é também competência fundamental na sociedade da informação pela necessidade


constante de atualização que nela se impõe. Os saberes transformam-se velozmente e é importante
que o cidadão informacional seja capaz de, pesquisando, atualizar-se. Vale frisar, assim, que a
Educação Continuada é o modelo primordial de aprendizagem na sociedade da informação.
Aprender sempre é a palavra de ordem, seja participando de cursos de atualização ou pesquisando
com autonomia, isto é, direcionando seus estudos e selecionando os materiais adequados.

Já vimos a importância da escolha na luta pela igualdade de acesso à informação, seu papel na
democratização do acesso à informação, e também:

»» que não basta ter acesso à informação, o aluno deve ser preparado para compreendê-la
criticamente;

»» que, além de compreender a informação que lhe é oferecida, o indivíduo deve ser capaz
de pesquisá-la, desenvolvendo, assim, autonomia para construção de conhecimento.

Será que já falamos de todos os aspectos da Educação


Atenção
na Sociedade da Informação? Gostaríamos de destacar
ainda mais um: na escola não apenas a informação Conforme sugere o relatório Educação: um tesouro
torna-se conhecimento, mas este transmuta-se em a descobrir (1996), da Comissão

sabedoria. Qual a diferença entre conhecimento e Internacional de Educação para o Século 21,

sabedoria? O conhecimento diz respeito aos saberes presidida por Jacques Delors, a educação deve ser
baseada nos quatro pilares do conhecimento:
e conteúdos de que trata um assunto, mas como
“aprender a conhecer”, “aprender a fazer”, “aprender
decidir acerca da ética relacionada ao conhecimento?
a viver junto” e “aprender a ser”.
Essa é a dimensão da sabedoria. Quais os VALORES
SOCIAIS e HUMANOS voltados para uma sociedade
justa e democrática? Um conhecimento, a história nos mostra, pode ser utilizado para o “bem”
ou para o “mal” da sociedade. Para construí-la ou destruí-la, desenvolvê-la ou atrofiá-la. A escola
é o lugar de discussão sobre esses assuntos. A educação tem por papel colocar desafios éticos
em debate, para construir valores e não apenas conhecimentos frios e descontextualizados.
Percebemos, assim, que a Educação se confirma como elemento-chave na Sociedade da
Informação, participando decisivamente do desenvolvimento do cidadão informacional em
patamar de igualdade com seus semelhantes, capaz de aprender sempre, com autonomia, e
baseando-se em princípios éticos e solidários. No entanto, o desafio está apenas começando: se já
compreendemos o papel da educação na sociedade da informação, ainda nos falta pensar “como”
fazê-la. Como educar na sociedade da informação? Quais os melhores métodos e instrumentos?
Esse é o próximo e último tópico desta aula.

33
AULA 2 • Educação na Sociedade da Informação

Educar na Sociedade da Informação: o papel das novas


tecnologias na educação

A marca que diferencia a Sociedade da Informação é a dinâmica de produção, armazenamento,


tratamento e disseminação da informação, mediada pelas Novas Tecnologias. Como vimos no
tópico anterior, a Educação coloca-se como elemento-chave na sociedade da informação. Mas,
ficou a pergunta: como educar na sociedade da informação? Haveria alguma diferença?

Por um lado, os compromissos da educação continuam os mesmos professados por educadores


como Paulo Freire, Demerval Saviani, Libâneo, entre outros: a função da educação é a construção
significativa de conhecimento que conduz a uma sociedade justa e democrática. Educar é romper
com a alienação e desenvolver uma “leitura de mundo”, nos termos de Paulo Freire, que seja
consciente, crítica e engajada.

Educar, tal como discutido pelos construtivistas, continua sendo uma ação dinâmica e pautada
em princípios interacionistas. Com base em Piaget, Vygotsky e Wallon, continuamos reafirmando
uma educação baseada não na transmissão de informações, mas na construção ativa de
conhecimentos por parte do sujeito aprendente. Construção realizada colaborativamente e em
contextos sociais de aprendizagem. Aprender é aprender “com”: seja diretamente com pessoas
“presentes”, “ao vivo”, ou com “pessoas” presentificadas de formas diferentes, como nos livros
(onde estão suas ideias), nos filmes (que compartilham suas imagens e imaginações), entre
outras formas de “contato”.

Enquanto eu escrevo este material, penso em você(s), mesmo sem saber quem você(s) é (são).
Mas não escrevo sozinha. Escrevo com “você(s)”, para você(s), e com várias outras companhias,
como os autores com os quais dialogo em minha mente ao construir essas ideias. Você, quando
lê este texto, também está em contato comigo, mesmo sem estarmos próximos fisicamente. No
entanto, além de mim, você está conhecendo, lidando e reencontrando com outros autores que
também fazem parte dessa construção coletiva de conhecimento.

No ambiente da sala de aula presencial, a coletividade se manifesta explicitamente na construção


do conhecimento. Mas, também na EaD, toda educação é social e baseada na interação,
independente da presença física de pessoas em um mesmo espaço.

Sendo assim, educar na sociedade da informação é, sobretudo, “educar”. E isso é o mais importante:
ter princípios claros que norteiam sua prática educativa. Se tais princípios forem sólidos, eles
nortearão sua ação de maneira coerente, não importa os recursos de que você venha a fazer uso.

Mas será que não temos nada a dizer sobre a metodologia educativa na sociedade da informação?
Temos sim. O que há de específico neste contexto é o desafio de educar não apenas para a

34
Educação na Sociedade da Informação • AULA 2

sociedade da informação, mas “com” seus instrumentos, ou seja, com o uso das novas tecnologias
no contexto da relação ensino-aprendizagem.

Educar para o uso das tecnologias é um aspecto de nosso


Atenção
trabalho, mas, no momento, nosso destaque é para a
proposta de educar fazendo uso das novas tecnologias. Educar PARA o uso das tecnologias
Será que o diálogo entre educação e tecnologia é uma coisa significa preparar o aluno para o manejo da
tecnologia. Ex.: ensinar informática.
“moderna”? Não. Todas as práticas educativas fazem uso
de tecnologias, ou seja, de instrumentos desenvolvidos Educar COM as novas tecnologias significa
ensinar fazendo uso das tecnologias como
para aprimorar a técnica educativa. O principal deles é a
instrumentos educativos. Ex.: ensinar
dupla clássica “giz e quadro”. Muitas vezes utiliza-se como utilizando a informática.
crítica a expressão “este professor só usa cuspe e giz”, não é
verdade? Mas temos aí dois elementos que marcam toda a história da educação: a fala do professor
(“cuspe”) e o quadro de giz. Vejamos, então, o papel dessas categorias na educação tradicional.
Na educação tradicional, o modelo predominante é monológico, ou seja, apenas uma pessoa
(mono) emite seu argumento (lógica). Nesse modelo, o professor fala e o aluno escuta. Sendo
assim, todo professor deve ter “uma boa voz”. Essa ideia está presente no nosso imaginário o
tempo todo: o professor deve “falar bem”. No entanto, a ênfase na fala do professor é a ênfase na
educação tradicional, na qual tal discurso é dominante. Pense bem: quando estamos dialogando,
é tão importante assim a “qualidade da voz” da pessoa com quem conversamos? Claro que não,
no modelo da troca de ideias, isso não faz a menor diferença. No entanto, quando nos referimos
a uma palestra, a um discurso, aí sim essa oratória se faz importante: mas, nesse caso, um fala e
os outros escutam, e não é essa a educação que queremos.

E o quadro de giz? Nesse contexto tradicional, ele normalmente é usado para explicitar as ideias
do professor que fala. Isto é, o quadro reflete os pontos centrais das ideias pensadas pelo professor
(e só por ele). Na formação tradicional de professores e professoras, o treinamento para o uso
do quadro era indispensável: onde começar a escrever, como organizá-lo, como apagá-lo. Sendo
assim, a voz e o quadro do professor tradicional formavam uma dupla inabalável.

Percebemos, portanto, na educação tradicional, o predomínio da metodologia expositiva de


trabalho. Será que na educação no contexto da sociedade da informação esse modelo deve acabar?
De forma alguma: nossa sugestão aqui não é de destruição de modelos, mas de diversificação
de métodos, e mais, reinvenção de métodos tradicionais.

Voltemos à voz e ao quadro de giz da aula tradicional. Esses dois elementos podem ser usados
de forma muito diferente e absolutamente inovadora: a voz do professor pode dialogar com os
alunos em sua exposição, e o quadro pode expressar esse diálogo, essa conversa. Uma educação
dialógica (e não mais monológica) pode acontecer com qualquer tecnologia e em qualquer
método, mesmo em uma aula expositiva. Basta que se tenha como princípio a construção coletiva
e dinâmica do conhecimento.

35
AULA 2 • Educação na Sociedade da Informação

A educação, nesse sentido, torna-se polifônica: poli – muitos; fonia – sons. Assim, na aula expositiva
polifônica, várias vozes se expõem, e não apenas a do professor. Várias ideias se cruzam, assim
como os sons das vozes. Ela não é mais um “solo”, mas um conjunto harmônico, como em um
coral, no qual, para que a beleza da música se realize, são necessárias várias vozes.

Vimos, por conseguinte, que a própria aula expositiva e seus elementos (a voz e o quadro de
giz) podem ser reinventados em uma educação dialógica e polifônica. Será que queremos o
predomínio da aula expositiva? Não. Novos métodos vêm sendo desenvolvidos há anos na sugestão
de uma educação não tradicional: trabalhos com grupos, dinâmicas, projetos, experimentações,
vivências, entre outros. Nossa sugestão aqui é a de pensar experiências educativas dialógicas
com o uso das novas tecnologias.

Atenção a esta “provocação” muito interessante:

Se você passar algum tempo observando bons professores em seu trabalho,


não leva muito tempo para entender que você está presenciando um número
hábil e multifacetado de malabarismo. Desafiando a gravidade, os professores
alternadamente giram, equilibram e lançam o conhecimento de onde os alunos
se encontram e para onde eles precisam ir; percepções sobre as necessidades
especiais e progressos dos alunos; escolas de atividades e materiais didáticos; regras
para reger a participação das crianças; expectativas dos pais e das comunidades; e,
é claro, as normas e regras que os regem como professores. Ao lado do palco estão
os juízes, avaliando seu desempenho e recomendando mudanças à medida que
seus números se desenrolam. Bem, e que tal lançar mais uma bola – a tecnologia?
O que acontece? (SANDHOLTZ; RINGSTAFF; DWYER, 1997, p. 13).

Nosso objetivo aqui não é “complicar” a vida do professor com mais uma “bola” para seu
malabarismo, como na crítica dos autores acima, mas apresentar novas possibilidades educativas
viáveis através da utilização de novas tecnologias no contexto educativo.

Que tecnologias serão discutidas nesta disciplina?

Começaremos com as possibilidades do impresso, passando pelo rádio, pelo audiovisual,


computador e, finalmente, a Internet. Cada tecnologia, se utilizada criativamente, desenvolve
diferentes modos de conhecer o mundo, e esse é nosso interesse na educação.

Um exemplo: vamos partir dos livros da série Harry Potter. A experiência da leitura das aventuras
desse pequeno bruxo adolescente fez crianças e adultos de todo o mundo imaginarem ruas, casas,
lojas, uma escola de magia, personagens, tudo isso a partir da experiência da leitura. O estilo do
autor, nesse caso, da autora, sugere perspectivas, modos de imaginar e conhecer a história que
invadem o leitor que, a partir de tal proposta – ou deste convite, poderíamos dizer – mergulha

36
Educação na Sociedade da Informação • AULA 2

em um universo de possibilidades criativas. Ou seja, o impresso (livro) ativa certos processos


compreensivos e, a partir desses processos, determinados modos de apreender as informações.

Foram produzidos, então, os filmes da série


Saiba mais
Harry Potter. Ver os filmes é o mesmo que ler os
livros? Não. Os livros apresentam a história no
:: Harry Potter:
tempo da escrita, da virada da página, enquanto
Os livros de Harry Potter são uma série de romances
o filme tem o tempo do cinema, da dinâmica
fantásticos criados pela escritora britânica J. K. Rowling.
da imagem, da duração definida. Além disso, Desde o lançamento do primeiro volume, Harry Potter

no cinema as imagens são apresentadas ao e a Pedra Filosofal, em 1997, os livros ganharam grande
popularidade e sucesso comercial no mundo todo, e
espectador que desenvolve sua imaginação a deram origem a filmes, videogames e muitos outros itens.
partir das referências oferecidas pelo diretor:
as ruas têm certas características, bem como as
casas, a escola de magia e as personagens. No
cinema, o conhecimento se constrói através das
referências audiovisuais oferecidas à audiência,
e com elas novos caminhos de aprendizagem
do mundo se abrem.

Também, a partir dos livros da série Harry


Capa do livro do Harry
Potter, foram criados jogos interativos dos quais Potter

participam jogadores de diferentes partes do


mundo. Essas pessoas recriam no mundo virtual uma realidade mágica
com novas possibilidades que, a partir do livro, abrem-se em perspectivas
inéditas, ainda não vivenciadas nem no livro nem no filme. A realidade
virtual é construída interativamente, coisa que o filme e o livro não são. Na
internet, todos que querem participam da criação do mundo de Harry Potter,
interagem com alunos e professores virtuais de escolas de magia inventadas
por diversos “autores”, pois, no mundo virtual, todos tornam-se autores.

Será que é possível dizer qual dessas experiências é a melhor ou a mais


Pôster do filme Harry
legítima? De forma alguma. Mesmo admitindo que alguns preferem os livros Potter

aos filmes e outros só assistem aos filmes e não leem os livros, cada tecnologia
oferece ao enredo proposto por Rowling uma experiência inédita e repleta de potenciais criativos.
Assim como no caso de Harry Potter, podemos lembrar outros exemplos de histórias recriadas
em diversas mídias: O Senhor dos Anéis, Guerra nas Estrelas, Matrix e outros.

37
AULA 2 • Educação na Sociedade da Informação

Cena do jogo Harry Potter

Mas qual a importância desse exemplo para a área de educação? Podemos perceber que cada
mídia, cada tecnologia tem uma linguagem própria. Essas diferentes linguagens ativam diferentes
modos de pensar e conhecer, ou seja, diferentes modalidades de contato e processamento da
informação. Sendo assim, ao utilizarmos linguagens tecnológicas diferenciadas também na
educação, seremos capazes de estimular no aluno o desenvolvimento de modos diversificados
e criativos de construção de conhecimento.

O objetivo desta disciplina é sugerir o uso diversificado de tecnologias e linguagens no processo


educacional, a fim de mobilizar no educando processos diversificados e criativos de construção
de conhecimento.

No entanto, para tal, o educador também precisa ampliar seus modos de pensar e conhecer o
mundo, explorando as mediações diversificadas das novas tecnologias. Vocês que são alunos a
distância levam vantagem neste desafio! Ao longo do curso, foram convidados a lidar com mídias
diferentes e, com isso, experimentaram o potencial de diferentes linguagens. Assim sendo, já
possuem experiências que podem ser aproveitadas na prática educativa que desenvolvem ou
desenvolverão com seus alunos.

O desafio da educação na sociedade da informação é fazer da diversidade de linguagens


tecnológicas e educativas condição indispensável ao processo educativo.

Resumo

Vimos até agora:

»» a Sociedade da Informação é marcada pela intensa presença das tecnologias de informação


e comunicação na dinâmica da vida social em todos os seus setores: economia, produção,
política, entretenimento, educação, entre outros;

»» se nas sociedades pré-industriais a tecnologia tinha por objetivo central a obtenção


de matéria-prima, na industrial, o de produzir energia; na pós-industrial sua principal
função é multiplicar os sistemas de comunicação;

»» a inovação tecnológica que marca a sociedade da informação é o computador;

38
Educação na Sociedade da Informação • AULA 2

»» a combinação de satélites, televisão, telefone, cabo de fibra óptica e microcomputadores


enfeixou o mundo em um sistema unificado de conhecimento;

»» a relação espaço-tempo no modelo industrial era marcada por um espaço determinado


do estado-nação (os países), ao mesmo tempo em que substituía os ritmos e movimentos
da natureza pelo ritmo da máquina. O relógio e os horários das estradas de ferro
constituíam os símbolos da era industrial. Expressavam o tempo em horas, minutos,
segundos. O computador, símbolo da era da informação, pensa em nanossegundos, em
milhares de microssegundos;

»» pensar a sociedade da informação, no entanto, implica uma necessidade de


questionamentos éticos acerca desse novo modelo social que se instala;

»» pensar a educação na sociedade da informação exige considerar um leque de aspectos


relativos às tecnologias de informação e comunicação, a começar pelo papel que elas
desempenham na construção de uma sociedade que tenha a inclusão e a justiça social
como uma das prioridades principais;

»» educar na sociedade da informação é, sobretudo, “educar”. E isso é o mais importante:


ter princípios claros que norteiam sua prática educativa. Se tais princípios forem sólidos,
eles nortearão sua ação de maneira coerente, não importa os recursos de que você
venha a fazer uso;

»» o desafio da educação na sociedade da informação é fazer da diversidade de linguagens


tecnológicas e educativas condição indispensável ao processo educativo.

39
Mídia impressa e educação
Aula
3
Apresentação

Muitas vezes quando falamos em tecnologia educacional pensamos imediatamente em


computadores, internet e outros equipamentos de informática. No entanto, as tecnologias
aplicadas à educação são muitas e, entre elas, o material impresso tem papel fundamental. Nesta
aula, enfocaremos o papel da mídia impressa no processo educacional. Para tal, analisaremos
os conceitos de texto e hipertexto, ambos fundamentais para uma discussão criteriosa sobre
a utilização do impresso no cotidiano escolar. Outro tema importante, nesta aula, é o livro,
entendido como objeto tecnológico de especial relevância no contexto educacional. Abordaremos
questões relativas aos livros didáticos e suas especificidades. Ampliando nossa perspectiva sobre
os recursos impressos e sua importância na educação, falaremos sobre os livros de consulta
(atlas, enciclopédias), jornais, revistas e as histórias em quadrinhos. Por fim, analisaremos a
importância da leitura na Sociedade da Informação.

Objetivos

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

»» analisar a importância do material impresso no contexto educacional;

»» discutir a relevância da leitura na formação escolar;

»» refletir sobre a importância do livro didático e apontar elementos para uma análise
crítica deste material central no cotidiano educacional;

»» apresentar diferentes possibilidades de uso de materiais impressos nas práticas


pedagógicas.

40
Mídia impressa e educação • AULA 3

O papel da mídia impressa no processo educacional

Conforme apresentado na Aula 1, a mídia impressa foi uma revolução cultural nas sociedades
ocidentais no momento de seu surgimento com Gutemberg. A possibilidade de registro e
disseminação de palavras e imagens em uma tecnologia de durabilidade considerável provocou
mudanças no cenário de circulação de ideias nos diversos contextos culturais.

A restrição do acesso à informação era confirmada pela


Sugestão de estudo
inexistência de um recurso tecnológico que promovesse
esse primeiro passo na disseminação da informação. O acesso aos livros sempre foi um
Como a elaboração de um documento em papel era aspecto importante relacionado ao
PODER em uma sociedade. Quem pode
profundamente trabalhosa e o resultado final era apenas uma
ler, pode saber.
cópia, a acessibilidade a esses documentos era igualmente
Sobre essa tensão entre leitura e poder,
restrita.Com a possibilidade de produção de cópias desses
veja o filme O NOME DA ROSA.
documentos, sua disseminação tornou-se gradativamente
mais ampliada, e outras pessoas passaram a ter acesso ao
seu conteúdo, fosse este de ordem religiosa ou de outros domínios.

A mídia impressa agrega hoje diversos recursos: livros, jornais, enciclopédias, atlas, histórias em
quadrinhos, entre outros. Nesta aula, discutiremos especificamente o papel da mídia impressa
no contexto educacional. Apesar do intenso debate contemporâneo sobre as tecnologias digitais
(computador e internet), o impresso continua sendo elemento primordial no cotidiano do
processo ensino-aprendizagem. Afirma Moreira (apud SANCHO, 1998):

Os materiais ou meios impressos de ensino (livros-texto, enciclopédias, cadernos


de leitura, fichas de atividades, histórias em quadrinhos, dicionários, contos)
são, de longe, os recursos mais usados no sistema escolar. Em muitos casos
são meios exclusivos, em muitas salas de aula são predominantes e em outras
são complementares de meios audiovisuais e/ou informáticos, mas, em todas,
de uma forma ou outra, estão presentes. Poder-se-ia afirmar que os materiais
impressos representam a tecnologia dominante e hegemônica em grande parte
dos processos de ensino e aprendizagem que ocorrem nas escolas. O vínculo
existente entre a tecnologia impressa e a cultura escolar é tão íntimo que, inclusive,
alguns autores chegam a afirmar que a história dos sistemas escolares como
redes institucionalizadas de ensino é paralela à história do material impresso
de ensino (MOREIRA apud SANCHO, 1998, p. 97).

A partir da análise de Moreira, percebemos que a tecnologia predominante no contexto educacional


é o impresso. Ele está sempre presente, mesmo que de maneira escassa, em toda instituição escolar.
Não conseguimos imaginar uma escola sem livros (mesmo, infelizmente, sendo essa a realidade
em alguns municípios brasileiros). A luta pela justiça e pela igualdade na sociedade da informação

41
AULA 3 • Mídia impressa e educação

começa pela luta pelo acesso aos livros: livros para professores, para alunos, bibliotecas para a
comunidade escolar, bibliotecas comunitárias, entre outros elementos fundamentais à cidadania.

Se a inclusão digital é tema relevante na Sociedade da Informação, e comitês como o CDI (ver Aula
2) lutam pela democratização do acesso à informática, precisamos pensar e discutir também a
“inclusão bibliográfica”, o acesso da sociedade aos livros, realidade que no Brasil, ainda, está longe
de ser universal. Muitas escolas hoje discutem a importância do laboratório de informática, e se
esquecem de lutar por melhores bibliotecas, maiores e melhores acervos de recursos impressos
para as comunidades escolares.

No entanto, o acesso ao livro não basta. Obtido o acesso, é preciso planejar a utilização do recurso.
Como utilizar o livro? Podemos responder simplesmente: “Basta lê-lo!”. Todavia, ensinar a ler
é muito mais do que instrumentalizar a decodificação de letras, sílabas e palavras. “Ler” é uma
habilidade básica para o manejo de praticamente todas as demais tecnologias da informação
e implica competências também de compreensão de contextos, interpretação das mensagens
implícitas e explícitas presentes no texto.

Refletir sobre os materiais impressos é fundamental ao educador. Muitas vezes assume-se o


livro, principalmente o didático, como algo “dado” no processo educacional, ou seja, recebemos
de maneira acrítica seu conteúdo, sua forma, suas imagens. Toda construção textual tem uma
intenção, uma orientação, e, para o bom uso do impresso na educação, é preciso colocar-se diante
do texto de forma crítica, criteriosa, ou seja, estabelecendo critérios de análise que possibilitem
a identificação e a escolha de bons materiais impressos para o cotidiano escolar.

Para nos prepararmos melhor em relação ao uso do impresso, analisaremos o conceito de texto
e, a partir dele, a ideia de hipertexto.

Texto e hipertexto

A construção de um texto tem uma tecnologia própria. A tecnologia do texto


procura oferecer prescrições para o estabelecimento de uma sequência,
de uma estrutura, projeto e composição da página impressa, de maneira
que o discurso escrito seja apresentado da forma mais eficiente possível.

Diferentes mídias impressas exigem diferentes tecnologias do texto,


composições de estruturas textuais específicas para objetivos específicos.
Por exemplo, um livro cujo conteúdo é um romance possui um design
gráfico e uma estrutura discursiva diferente de um livro didático, e também Jornal
de um jornal.

42
Mídia impressa e educação • AULA 3

O JORNAL é um dos exemplos nos quais o treinamento na tecnologia do texto é mais intensamente
desenvolvido. A formação jornalística implica rebuscado domínio de uma linguagem adequada
ao contexto jornalístico, bem como de um diálogo intenso entre o texto, a mensagem e o design
da página.

Com o livro didático não é diferente, pois exige uma linguagem própria, clara, explicativa, bem
como imagens significativas que participem de forma coerente do objetivo da aprendizagem
que orienta o texto, tudo isso dentro de um design gráfico agradável, equilibrado, que desperte
o interesse do aluno à leitura.

Percebemos, assim, que a tecnologia do texto é


Para refletir
tão delicada quanto as demais tecnologias da
informação, e a criação e a utilização do material Caetano Veloso diz em uma de suas músicas “Está
impresso exigem preparação e planejamento. provado que só é possível filosofar em alemão”. Essa é
a forma poética de o artista demonstrar a identificação
Vamos pensar um pouco sobre o texto. Todo
entre uma língua e um estilo.
texto é produzido para ser recebido por alguém;
é produzido com alguma intenção comunicativa
que o leitor tem o trabalho de tentar recuperar. Coscarelli (2002) nos apresenta definições de
diferentes autores sobre o que é “texto”. Vamos analisar algumas delas:

“Um texto é um objeto materializado numa dada língua natural, produzido numa situação concreta
e pressupondo os participantes locutor e alocutário” (MIRA MATEUS et al. apud COSCARELLI, 2002,
p. 68) – percebemos nessa definição que a produção de um texto implica o uso de uma língua e
suas possibilidades. É curioso pensarmos que as DIFERENTES LÍNGUAS POSSUEM DIFERENTES
POSSIBILIDADES TEXTUAIS. Além disso, Mira Mateus destaca a situação concreta em que um
texto é produzido como elemento importante em sua construção. A data de desenvolvimento de
um texto, seu contexto histórico e político são elementos fundamentais em sua compreensão.
E isso não vale apenas para romances e documentos literários. O período de produção de um
texto é também importante na compreensão de textos científicos e livros didáticos. Mesmo os
documentos de divulgação científica dialogam com contextos políticos e culturais e expressam
esses contextos. Além disso, Mira Mateus destaca a participação no texto daquele que produz o
texto (locutor) e aquele que o interpreta, o lê (alocutário).

“O texto é uma máquina preguiçosa que pede ao leitor para fazer parte de seu trabalho” (ECO
apud COSCARELLI, 2002, p. 68). Graciosa essa frase de Eco, não acha? Esse autor nos chama à
atenção para a participação ativa do leitor na construção do texto. Um texto não está pronto
quando acaba de ser escrito. Ele se realiza e se completa cada vez que é lido. Por isso sua forma
está sempre aberta, fechando-se parcialmente a cada leitura.

“Vou entender o texto como um produto de uma interação, que pode ser do tipo ‘face a face’, como
na linguagem falada, ou do tipo ‘interação com um interlocutor invisível’, como na linguagem

43
AULA 3 • Mídia impressa e educação

escrita” (CASTILHO apud COSCARELLI, 2002, p. 68). Mesmo na produção do texto existe uma
interação, segundo Castilho. O autor sempre escreve para alguém, para um interlocutor que
está em sua mente, em seu imaginário. Produzindo este texto, nós, professores, escrevemos
para “você”, mesmo sem conhecê-lo(a), mas imaginando quem você pode ser. O interlocutor
invisível altera a produção do texto. Se estivéssemos escrevendo para um jornal, ou para uma
revista feminina, ou um site voltado para jovens, nosso texto seria outro. Dessa maneira, todo
texto é de certa forma resultado de uma interação.

Com o advento da internet, questiona-se o que vem mudando no texto. Fora da página impressa,
será que o texto transformou-se completamente? O texto online trouxe para a cena a integração
às palavras de outros recursos midiáticos, como o som, o vídeo, o movimento. Além disso, o
texto online é “navegável”. O que isso significa? Ao percorrer as palavras de um texto online,
geralmente o leitor encontra sinais de conexões externas a esse texto, indicações de “portas de
saída”, ou o que chamamos “links”. As palavras marcadas como “links” convidam o leitor a sair
do texto, e articular outras leituras a esse texto. Essa saída pode ser temporária, e implicar um
retorno, ou pode levar a uma rede de conexões que levam a caminhos que não foram previstos
anteriormente. É a esse evento que denominamos hipertexto.

De acordo com Coscarelli (2002, p. 73), o hipertexto é um texto que traz conexões, chamadas
links, com outros textos que, por sua vez, se conectam a outros, e assim por diante, formando
uma grande rede de textos.

É fácil visualizar o hipertexto em uma página da internet. Os links possuem uma linguagem visual
própria: geralmente as palavras “linkadas” encontram-se em azul e/ou sublinhadas. Quando
passamos com o mouse sobre um elemento da página da internet que traga um link, o sinal da
“setinha” torna-se uma “mão”, indicando que ali há algo mais a ser capturado pelo leitor.

Será que só existem indicações hipertextuais na internet?

Vamos analisar a reflexão de Lévy sobre o hipertexto:

Quando ouço uma palavra, isso ativa imediatamente em minha mente uma
rede de outras palavras, de conceitos, de modelos, mas também de imagens,
sons, odores, sensações proprioceptivas, lembranças, afetos etc. (LÉVY apud
COSCARELLI, 2002, p. 73).

Essa articulação entre uma palavra com outras ideias pode acontecer todo o tempo conosco, não
acha? Quando ouvimos ou lemos uma palavra, seja em uma conversa, em um livro impresso ou em
uma página da internet, diversas articulações entre aquela palavra e outras várias ideias invadem
a nossa mente e nossa imaginação, tal como descrito por Lévy. Mesmo quando não existem
links explícitos (como nas páginas da internet), existem “links” naturais da cognição humana.
Quando lemos um romance, por exemplo, imaginamos personagens, lugares, sentimentos, ou

44
Mídia impressa e educação • AULA 3

seja, compomos um conjunto de elementos criados a partir das palavras de uma forma que
podemos denominar “hipertextual”, em seu sentido mais amplo.

Vamos analisar outra citação de Lévy:

O objetivo de todo texto é o de provocar em seu leitor um certo estado de excitação


da grande rede heterogênea de sua memória, ou então orientar sua atenção
para uma certa zona de seu mundo interior, ou ainda disparar a projeção de um
espetáculo multimídia em sua imaginação (LÉVY apud COSCARELLI, 2002, p. 73).

Pensando assim, todo texto é um hipertexto, pois suas palavras não têm por
finalidade encerrarem-se em si mesmas, mas visam a articular-se a outras
ideias, compondo uma “rede”, nos termos de Lévy, que conecta elementos
externos e internos ao leitor.

Qual seria a diferença entre um texto impresso e um hipertexto online?


A forma do texto impresso tende a uma leitura mais linear, com uma
hierarquia predefinida de títulos e subtítulos, bem como uma sequência Pierre Levy
preestabelecida de páginas ordenadas para a leitura. O livro apresenta-
se através de uma organização que convida (e orienta) ao leitor segui-la tal qual definida: da
primeira à última página, do primeiro ao último capítulo, nessa ordem.

No entanto, existem elementos que fazem com que o leitor “quebre” essa ordem, criando uma
organização própria na leitura do material impresso: devem ser levados em consideração, nesse
contexto, o interesse do leitor, seu objetivo na leitura e seu conhecimento prévio do assunto,
por exemplo.

Alguns impressos são mais “abertos” a essa ação reorganizadora do leitor do que outros. O jornal,
por exemplo, apresenta na primeira página um “menu” que convida o leitor a lê-lo na sequência
que desejar. Se quiser ler a seção de esportes antes da de política, o leitor está livre para ordenar
sua leitura como desejar, e o próprio design do jornal facilita essa “navegação”. Os índices dos
livros, como o nome já diz, indicam diferentes pontos de entrada na leitura. Principalmente em
livros acadêmicos desenvolvidos por diferentes autores, a sequência da leitura dos capítulos não
implica uma ordenação lógica obrigatória, muito menos sua leitura do início ao fim. Pode-se ler
um ou dois capítulos, e mesmo todos, segundo a ordenação do interesse do leitor a cada momento.

No caso dos romances, a “navegação” é mais limitada. Geralmente organizado na forma de


histórias com “começo, meio e fim”, a leitura linear do romance é mais rígida. No entanto, mesmo
assim, quem nunca se adiantou e leu o final do livro, mesmo quando ainda estava no meio da
leitura completa do texto?

45
AULA 3 • Mídia impressa e educação

Afirma Smolka (apud COSCARELLI, 2002, p. 75):

A palavra se lineariza no espaço e no tempo, adquirindo uma organização no


processo de sua produção. No momento da leitura, no entanto, a palavra se
configura e se dispersa, rompe a linearidade, produz resultados indeterminados,
imperceptíveis, muitas vezes intraçáveis, na medida em que, literalmente,
incorpora e se articula ao pensamento imagético e verbal do indivíduo (SMOLKA
apud COSCARELLI, 2002, p. 75).

Há quem diga, a partir dessas reflexões, que, na verdade, a realidade se inverte: na página da
internet, a leitura hipertextual seria mais limitada, pois os links estão sugeridos em alguns lugares,
e apenas naqueles. Já no impresso, a liberdade hipertextual é plena e depende exclusivamente
das conexões mentais produzidas pelo leitor, sem nenhum caminho traçado anteriormente.

A questão do hipertexto vai retornar ainda em diferentes momentos de nosso estudo, mas
acreditamos que já temos elementos para prosseguir. Vamos começar a analisar agora, com
esse olhar que desenvolvemos sobre textos e hipertextos, os diferentes recursos impressos que
participam do processo de ensino e de aprendizagem.

Recursos impressos: o livro

Num mundo multifacetado, qual será o futuro do livro? De um lado, temos


sociedades pós-modernas altamente complexas, que contrapõem espaço real e
espaço virtual, montando sofisticadas teias de comunicação e gerando verdadeira
pletora de dados e informações, que desafiam a capacidade de assimilação de
indivíduos e grupos. Disso resulta que o livro pode parecer um objeto do passado,
uma reminiscência renascentista, vestida posteriormente por uma roupagem
da Revolução Industrial.

(...) De outro lado, temos um mundo ao qual sequer o livro chegou. Correspondendo
à maior parte da população mundial e envolvendo áreas como a África ao sul do
Saara e o Sul da Ásia, sem esquecer das desigualdades da América Latina, esse
é o mundo que luta para alcançar a Educação para todos, nos termos do Marco
de Ação de Dakar. Nessas regiões, o livro didático é uma preciosidade sonhada
por muitos, enquanto os professores lutam para reunir materiais escritos que
possam garantir processos mais ou menos convencionais de alfabetização, além
da pós-alfabetização, para que, num mundo analfabeto, as novas competências,
adquiridas com sacrifício não venham a regredir (WERTHEIN apud PORTELLA,
2003, p. 7).

Falar sobre o livro no contexto atual significa circular por uma área de tensão entre as duas posições
apresentadas na citação acima: por um lado, dúvidas sobre o futuro do livro e mesmo seu fim,
diante da ameaça da chamada era digital, na qual o importante seria a diversidade de fontes de

46
Mídia impressa e educação • AULA 3

informação e a rapidez no acesso. Por outro lado, contextos socioculturais nos quais o livro nem
se tornou uma realidade concreta. Lugares onde predomina a escassez, e o livro (descartado nas
sociedades incluídas na era digital) é ele mesmo um luxo de difícil acesso, comprometendo o
desenvolvimento de todo processo educacional.

Diferente de estrangeiros que identificam essa dicotomia comparando diferentes regiões do


mundo, nós, brasileiros, encontramos esses dois mundos dentro do próprio Brasil. Em alguns
lugares, deparamo-nos com a estrutura da sociedade digitalizada e professores discutindo o
fim do livro. Em outros lugares, por vezes bem ao lado dos digitalizados, localizam-se grupos
culturais com acesso restrito à mídia impressa, em especial o livro.

Neste tópico dedicado ao livro, analisaremos a importância desse objeto do conhecimento na


cultura escolar, discutiremos seu diferencial no contexto acadêmico e refletiremos sobre os novos
caminhos da leitura na sociedade da informação.

O livro na cultura acadêmica e escolar

Um dos fundamentos da ciência é o livro. Os saberes científicos difundem-se e ampliam-se


através do conhecimento disseminado por meio dos livros. É na extensão das páginas dos livros,
na sequência de raciocínio, que seu formato permite, que os raciocínios científicos podem ser
apresentados, desenvolvidos, discutidos, confirmados e refutados. É lendo que se aprende a fazer
ciência e é nos livros que a ciência construída é registrada. Por isso mesmo, é por intermédio dos
livros que a ciência humana conta sua história.

Digitalizados ou impressos, os livros possuem a mesma estrutura: textos longos, de apresentação


linear, que permitem o desenvolvimento de raciocínios científicos desde seu início (problemas
e hipóteses iniciais), seu desenvolvimento (metodologia de pesquisa) e conclusões.

Sendo a escola o local por excelência de difusão dos saberes


Atenção
científicos, os livros têm papel fundamental na cultura
escolar. É por meio dos livros que os professores se formam Atenção a esta observação: todo professor
como educadores, e é neles que se encontram os conteúdos a deve ser antes de tudo um leitor!

serem ensinados. Ler é uma atividade obrigatória e cotidiana


a todo educador, e, antes de ser uma ferramenta indispensável ao aluno, o livro é instrumento
fundamental à formação reflexiva do educador.

Livros didáticos

No contexto da sala de aula, o livro é ferramenta cotidiana de construção de conhecimento.


Diferente dos livros científicos (produzidos no contexto da pesquisa universitária), no contexto
escolar, os livros didáticos assumem a cena. Preparados especificamente para o processo de
ensino e aprendizagem, possuem estrutura específica para essa função. Os livros didáticos

47
AULA 3 • Mídia impressa e educação

são caracterizados por apresentarem os princípios ou aspectos básicos de um tema, área ou


disciplina para os alunos de determinado nível de educação. São livros muito estruturados, nos
quais é apresentado o conteúdo selecionado e organizado em um nível de elaboração pertinente
aos seus destinatários, juntamente com as atividades e os exercícios adequados ao alcance dos
objetivos de aprendizagem (MOREIRA apud SANCHO, 1998).

O educador pode participar de diferentes maneiras da criação do livro didático:

1. existem professores autores que ESCREVEM os livros didáticos. Sua função é adaptar o
conteúdo científico a uma linguagem didática, apropriada a cada faixa etária;

2. todo professor deve ANALISAR os livros didáticos. Cada material educacional apresenta
uma perspectiva metodológica e didática de apresentação do conteúdo, e os educadores
devem participar da escolha do livro mais adequado ao seu trabalho. Além disso, os livros
didáticos são marcados por ideologias, pontos de vista, posições políticas, por vezes muito
sutis, mas certamente presentes. O educador deve estar atento a esse aspecto, mediante
uma leitura crítica e cuidadosa dos materiais educacionais impressos, selecionando
para o seu trabalho livros que promovam atitudes igualmente críticas em seus alunos,
baseados em valores democráticos, justos e igualitários;

3. todo professor deve ser criativo ao UTILIZAR o livro didático. Em algumas escolas, o livro
parece ditar os rumos da disciplina, definindo sua sequência e atividades obrigatórias.
Preencher todas as páginas do livro parece uma exigência de diretores e pais de alunos.
No entanto, o objetivo do processo de ensino e aprendizagem é muito mais amplo do
que o preenchimento dessas páginas. A sequência da apresentação dos conteúdos deve
ser definida pelo professor em função de suas escolhas didáticas, e não dos capítulos
do livro. Os exercícios a serem realizados devem ser também planejados pelo educador,
e não obrigatoriamente adotados em função de sua apresentação no livro. Outras
atividades, além dos livros, devem ser criadas pelo professor especialista no conteúdo,
oferecendo aos alunos outros caminhos de construção de conhecimento diferentes
daqueles padronizados nos livros didáticos.

De acordo com Moreira (apud SANCHO, 1998, p. 112), pode-se observar que o uso do livro didático
como instrumento de ensino tem sido sempre questionado. Essa crítica aos textos escolares não
tem sido feita apenas a partir da teoria, mas muitos grupos de professores progressistas têm
questionado a função e a utilidade desse material escolar, acusando-o, entre outras coisas, de
favorecer um processo de aprendizagem receptivo e passivo por parte dos alunos, “de manter o
status quo de uma metodologia tradicional de ensino e de ser um veículo para incutir a ideologia
da cultura dominante” (MOREIRA, apud SANCHO, 1998, p. 112). Por essas razões, é fundamental à
prática docente uma reflexão crítica sobre os livros didáticos: a fim de escaparmos dessa tendência
tradicionalista de sua utilização, inventando formas criativas e inovadoras de nos apropriarmos
dos recursos por ele oferecidos.

48
Mídia impressa e educação • AULA 3

Livros de consulta

Além do livro didático, existem outros livros com papel importante no contexto educacional.
Entre eles destacam-se os livros de consulta, como dicionários, enciclopédias, atlas, manuais,
entre outros. Esses livros não são elaborados com a finalidade de serem lidos do início ao fim,
mas como recursos ou fontes de consultas de uma informação específica. Contêm grande
quantidade de dados e informações organizadas de forma alfabética, cronológica ou temática
(MOREIRA apud SANCHO, 1998).

A principal função educativa associada a esses


Sabia mais
livros é a pesquisa. Levar o aluno a estudar
procurando informações nos livros de consulta
:: Resistência:
é um primeiro passo no desenvolvimento de
atitude de pesquisa, bem como seus métodos Enciclopedismo foi um movimento filosófico-cultural
desenvolvido na França e que buscava catalogar todo
(como pesquisar). Nesse contexto metodológico,
o conhecimento humano a partir dos novos princípios
o professor deveria ensinar a usar de forma da razão. Foi impulsionado por Voltaire, Diderot e
adequada os livros de consulta, ou seja, ensinar d’Alembert, além de Montesquieu , Rousseau, Buffon e
do barão d’Holbach.
onde buscar a informação e como consultar tais
materiais, estabelecer critérios para selecionar o Por meio desse movimento, buscou-se desenvolver
uma obra monumental, que constava de 28 volumes
conteúdo buscado, comparar fontes informativas,
(17 de texto e 11 de lâminas), no que se resumiria o
analisar e comparar dados obtidos de diversos pensamento ilustrado da época, ou seja, todo o saber de
livros e autores, anotá-los em cadernos pessoais, seu tempo, e que se denominou Enciclopédia.

citar referências bibliográficas, sintetizar os


diversos dados obtidos, elaborar um discurso pessoal do aluno em torno do tema ou problema
trabalhado e extrair conclusões (MOREIRA apud SANCHO, 1998).

Outros recursos impressos no cotidiano escolar

Além dos livros, outros materiais impressos possuem especial


Provocação
relevância no meio educacional. Destacamos dois deles:
Outra experiência educativa
Publicações periódicas como jornais e revistas muito interessante com o jornal é
a produção dentro da instituição
Embora esse material não seja desenvolvido a partir de finalidades escolar de seu próprio jornal.

pedagógicas, já que são meios de comunicação de massa como a Mediante esse projeto, alunos

TV e o rádio, jornais e revistas possuem um potencial educativo podem se engajar na produção


intelectual das notícias do jornal,
que pode ser muito bem aproveitado no contexto educacional.
assim como na arquitetura gráfica
Em suas páginas, podem ser encontrados temas relacionados às dele. Pense nessa alternativa em seu
mais diversas disciplinas, bem como análises interdisciplinares trabalho como educador!

de temas importantes da economia, da cultura, da política e dos

49
AULA 3 • Mídia impressa e educação

esportes. Sendo assim, essa mídia pode ser utilizada como recurso pedagógico no processo de
ensino e aprendizagem das mais diversas disciplinas, oferecendo conteúdo atualizado e dinâmico
para a construção de conhecimento escolar.

Outro potencial importante da mídia impressa de massa é a contextualização dos conteúdos


escolares na realidade sociocultural da vida do estudante. No cotidiano do país e da cidade, o
aluno pode ver a aplicabilidade dos saberes escolares e utilizá-los criticamente como ferramentas
na leitura do mundo que se apresenta nesses meios de comunicação.

Tais mídias devem se tornar, ainda, objeto de estudo dos alunos, para que desenvolvam habilidades
e atitudes de consumidores críticos dos meios de comunicação de massa. Estudar esses periódicos
fará, assim, o aluno compreender o que é uma publicação periódica (seja diária, semanal ou
mensal), quais as funções sociais que desempenha, os processos de elaboração dela, os poderes
e interesses ideológicos, políticos e econômicos subjacentes à publicação, a análise e o contraste
das notícias, os elementos, as partes, a estrutura e os formatos próprios da imprensa escrita, o
conceito de liberdade de expressão e seu papel nas sociedades democráticas (MOREIRA apud
SANCHO, 1998).

História em Quadrinho

Caracteriza-se por ser um material impresso no qual é contada uma história por meio da
combinação de imagens (códigos icônicos) com textos, sendo a imagem sequencial o seu elemento
simbólico predominante. Considera-se que na escola a história em quadrinho apresenta inúmeras
vantagens, já que é facilmente manipulável, de baixo custo, motiva e atrai a atenção e interesse
dos alunos e, ao combinar texto com imagem, ajuda o aluno a desenvolver tanto os hábitos de
leitura como a capacidade de expressão em códigos icônicos. De acordo com Martin (Moreira
apud Sancho, 1998), a história em quadrinhos pode ser um excelente meio de iniciação à leitura
crítica da imagem, para sua análise e para a criação artística e literária.

A importância da leitura na sociedade da informação

O uso de diferentes mídias impressas no processo educacional só alcança seu sentido se for
orientado por objetivos claros. O principal sentido do trabalho crítico e diversificado com
mídias impressas é o desenvolvimento da leitura. Mesmo diante de um cenário complexo de
inovações tecnológicas, em termos cognitivos, a leitura e a escrita continuam sendo habilidades
indispensáveis e fundamentais para a inscrição do sujeito na sociedade. É a partir da leitura e da
escrita que as inovações digitais são possíveis. É a partir dos livros que surgem os computadores.

No entanto, apesar do aspecto de continuidade, é importante refletirmos sobre as diferenças


e mudanças que permeiam essa questão atualmente. Se os livros, por um lado, continuam

50
Mídia impressa e educação • AULA 3

ocupando papel fundamental no cenário da produção e difusão de conhecimentos; por outro


lado, sua posição na sociedade vem sofrendo transformações próprias da era digital.

Segundo Aymard (apud PORTELLA, 2003), a era eletrônica implica uma ruptura com a era de
Gutemberg. Na era eletrônica, o volume da informação que circula sob uma forma impressa
(problema concreto no modelo da imprensa) deixa de ser um limite à circulação do texto. Em
termos concretos, na mídia impressa existem limites de páginas para um livro, edições, tiragens,
aspectos que restringem a circulação da informação por sua quantidade. Para Aymard, na era
eletrônica, todo autor pode compor pessoalmente seu texto e escolher os destinatários.

[...] todo leitor tem a escolha de ler em sua tela ou imprimir, conservar, transmitir
a outros ou jogar fora a informação recebida e, é claro, responder, tornando-se,
por sua vez, autor (AYMARD apud PORTELLA, 2003, p. 174).

Sendo assim, a produção do texto liberta-


Saiba mais
se das restrições impostas pela tiragem
impressa de uma obra, sendo sua circulação
E-BOOK
possível por meio das redes digitais, sem
limites quantitativos. O arquivo digital A palavra e-book é uma abreviação de “eletronic book”, ou
“livro eletrônico”, em uma tradução literal. E realmente,
do texto, anteriormente disponível
e-books são livros, com a única diferença de estarem no
apenas no formato impresso, traz novas formato digital e não em papel como no livro tradicional.
potencialidades ao campo da leitura e da O e-book pode ser lido na tela de um computador, de um
escrita na Sociedade da Informação. laptop, ou de aparelhos chamados e-Book Reader, ou, ainda,
impressos em papel comum, por meio de uma impressora. Os
Além de novos contornos formais, estão dois padrões de e-books mais conhecidos são o Adobe Reader,
da empresa ADOBE que é o formato utilizado nos e-books
eliminados, também, na era digital os
ABC-COMMERCE, e o Microsoft Reader da Microsoft.
limites espaciais ou temporais da circulação
do texto.

Desembaraçada de qualquer suporte material (além dos terminais de emissão e


recepção), a circulação é percebida pelo usuário como instantânea e indiferente
às distâncias, como se levasse o mundo inteiro a viver à mesma hora. Assim,
ela permite que o impresso desempenhe uma função semelhante à do oral que
progride no mesmo ritmo, na medida em que utiliza o mesmo instrumento de
transmissão codificada: um aparelho de telefone que, por sua vez, e com uma
frequência cada vez maior, está se tornando também digital (AYMARD apud
PORTELLA, 2003, p. 175).

Percebe-se, portanto, que, apesar de a centralidade da leitura representar um fator de continuidade


em relação ao livro nas diferentes épocas, na atualidade a leitura vem sendo desafiada por novas
formas e funcionalidades. Assim, como reflexões finais, podemos pensar sobre os seguintes
aspectos da leitura na era digital:

51
AULA 3 • Mídia impressa e educação

»» a ampla difusão de textos na Internet exige do leitor, por um lado, ampla capacidade
de leitura hipertextual que possibilite o desenvolvimento de uma leitura em aberto,
articuladora de diversas informações, ao mesmo tempo sem a perda de capacidade
sistematizadora e organizadora dessas informações. Além de saber ler (decodificar os
códigos da língua), o leitor na era digital precisa aprender a ler as informações online,
com sua linguagem, dinâmica, desafios e riscos, entre eles a perda do sentido;

»» por outro lado, a capacidade crítica de seleção


de textos e informações é competência Saiba mais

indispensável a esse leitor diante da


avalanche de informações disponíveis :: Propriedade Intelectual:
online. O leitor da era digital deve ser capaz Expressão genérica que pretende garantir a

de avaliar fontes, autorias, referências, a fim inventores ou responsáveis por qualquer produção
do intelecto (seja nos domínios industrial,
de lidar com o texto como objeto de estudo,
científico, literário e/ou artístico) o direito de
e não como fonte legítima de informações, auferir, ao menos por um determinado período de
independente de sua origem; tempo, recompensa pela própria criação. Segundo
definição da Organização Mundial de Propriedade
»» a autoria de textos está ainda mais aberta Intelectual (OMPI), constituem propriedade
intelectual as invenções, obras literárias e
na era digital. Além da leitura, a escrita
artísticas, símbolos, nomes, imagens, desenhos e
se reinventa diante das inovações da era
modelos utilizados pelo comércio.
eletrônica e convida o leitor a ocupar o lugar
de autor, respondendo às provocações do
texto. Um excelente exemplo dessa dinâmica são os blogs e todas as interfaces disponíveis
da Web 2.0, diante das quais os usuários são convidados a interagir com o texto, criar
respostas, reinventar o lido com novos textos, novas leituras e interpretações;

»» outra questão central nesse contexto diz respeito à ética da informação. Preocupação
sempre relevante, o tema da ética na produção, circulação, reprodução e apropriação
de informações se tornou ainda mais crucial na era digital. A facilidade de acesso a
um conjunto enorme de dados exige de leitores e autores um rigor ético que impeça
a apropriação indevida de informações, que preserve a propriedade intelectual dos
autores e garanta a fidedignidade das informações e suas origens. Todos sabemos da
facilidade do plágio na era digital, e o quão relevante se faz discutirmos tal assunto com
nossos alunos.

Chegamos ao final da Aula 3. Esperamos que você possa ter ampliado suas reflexões sobre a
importância do material impresso no cotidiano educacional. Além dos livros, didáticos ou de
consulta, pudemos analisar a possibilidade de utilização de outros recursos impressos, como
o jornal e a história em quadrinhos. Vale ressaltar, como aspecto fundamental desta aula, a
importância do desenvolvimento da leitura, seja do impresso “tradicional” ou de sua versão

52
Mídia impressa e educação • AULA 3

digital na era eletrônica, discutindo os conceitos de texto e hipertexto e seus desdobramentos


na educação contemporânea e na formação do leitor.

Resumo

Vimos até agora:

›› apesar do intenso debate contemporâneo sobre as tecnologias digitais (computador e


internet), o impresso continua sendo o elemento primordial no cotidiano do processo
de ensino e aprendizagem;

›› muitas escolas hoje discutem a importância do laboratório de informática, e se


esquecem de lutar por melhores bibliotecas, maiores e melhores acervos de recursos
impressos para as comunidades escolares;

›› a construção de um texto tem uma tecnologia própria. A tecnologia do texto procura


oferecer prescrições para o estabelecimento de uma sequência, de uma estrutura,
projeto e composição da página impressa, de maneira que o discurso escrito seja
apresentado da forma mais eficiente possível;

›› o hipertexto é um texto que traz conexões, chamadas links, com outros textos que,
por sua vez, se conectam a outros, e assim por diante, formando uma grande rede
de textos;

›› ler é uma atividade obrigatória e cotidiana a todo educador, e antes de ser uma
ferramenta indispensável ao aluno, o livro é instrumento fundamental à formação
reflexiva do educador;

›› livros didáticos são livros muito estruturados, nos quais é apresentado o conteúdo
selecionado e organizado em um nível de elaboração pertinente aos seus destinatários,
juntamente com as atividades e os exercícios adequados ao alcance dos objetivos
de aprendizagem;

›› é fundamental à prática docente uma reflexão crítica sobre os livros didáticos: a fim
de escaparmos dessa tendência tradicionalista de sua utilização, inventando formas
criativas e inovadoras de nos apropriarmos dos recursos por ele oferecidos;

›› livros de consulta, jornais e histórias em quadrinhos são materiais didáticos muito


importantes no contexto educacional contemporâneo.

53
Aula
O uso dos recursos
audiovisuais na Educação 4
Apresentação

Nós discutiremos, nesta aula, sobre a influência que os meios de comunicação exercem sobre a
nossa visão e postura na sociedade.

Debateremos sobre a importância de maior aproximação entre a escola e as mídias de massa


sobre o novo papel a ser desempenhado pelos professores diante dessas mídias.

Além disso, falaremos sobre os potenciais pedagógicos do rádio, da televisão, do vídeo e do


cinema, as principais contribuições dessas mídias ao processo de aprendizagem e sobre possíveis
propostas de utilização pedagógica desses recursos.

Objetivos

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

»» compreender a influência exercida pelos meios de comunicação de massa sobre a


percepção e a atuação das pessoas na sociedade;

»» compreender a importância da escola e da atuação do professor para o desenvolvimento


de uma postura mais crítica e reflexiva dos alunos perante as informações veiculadas
pelos meios de comunicação;

»» conhecer as principais contribuições das mídias de massa para o processo de construção


do conhecimento;

»» planejar práticas educativas mediadas por rádio, televisão e cinema.

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O uso dos recursos audiovisuais na Educação • AULA 4

As mídias e a escola

Em uma manhã do dia 11 de setembro de 2001, uma série de ataques terroristas fez com que as
torres do World Trade Center, localizadas em Manhattan, na cidade de Nova Iorque, desabassem
após a colisão de dois aviões. Tal cena talvez ainda esteja guardada na memória dos habitantes
de Nova Iorque ou daqueles que, mesmo não estando na cidade, presenciaram o acontecimento,
quase que em tempo real, pelas telas dos televisores e das imagens transmitidas pela Internet.

Trago essa recordação para mostrar que, atualmente, a maioria dos fatos e dos acontecimentos
pode ser vista e mostrada quase que instantaneamente para um grande número de pessoas em
diferentes localidades do planeta. Isso mostra que vivemos em uma sociedade da comunicação
generalizada (sociedade mass media), na qual as imagens são produzidas a todo instante e
transmitidas quase que instantaneamente para inúmeras pessoas espalhadas pelo planeta. Essa
produção em massa faz com que vivamos em uma avalanche informacional, o que torna quase
impossível aprofundar-se em um determinado assunto diante do grande volume de informações
vinculado nos diferentes veículos de comunicação (PETTRO, 1996; MORAN, 2000).

Nesta sociedade, as diferentes mídias de massa como, por exemplo, a televisão, o rádio, o cinema
e o vídeo estão presentes e fazem parte do nosso cotidiano. Estamos em contato com elas desde
muito pequenos, antes mesmo de sermos alfabetizado. O que faz com que estabeleçamos uma
relação muito próxima com os meios de comunicação, em especial, no caso do Brasil, com a
televisão; uma relação quase sempre prazerosa, fácil e agradável. Já que as mídias, ao falar sobre
as histórias de desconhecimentos, o cotidiano e os sentimentos têm como capacidade nos seduzir
e nos emocionar (MORAN, 2000).

Sendo as instituições de ensino, sejam elas de educação básica ou superior, uma parte integrante
desta sociedade, não é de se espantar que as mídias também façam parte do cotidiano escolar.
Em alguns momentos, muitas vezes raros, pela utilização de artefatos tecnológicos como a
televisão, o videocassete e o dvd player, mais frequentemente pelos alunos, os quais, por meio
de suas experiências diárias com as mídias de massa, acabam levando os seus elementos para
dentro da sala de aula (PRETTO, 1996).

Diante da grande avalanche informacional produzida pelos meios de comunicação, da grande


presença dos audiovisuais no cotidiano da sociedade e do fascínio que eles exercem na vida das
pessoas, a escola deve tentar estabelecer maior aproximação com as mass media no intuito de
formar cidadãos críticos, conscientes do poder e do efeito das informações disponibilizadas
através desses meios (PRETTO, 1996; COSTA, 2003).

Para que isso ocorra de forma satisfatória, é importante que a incorporação dos recursos
audiovisuais no ambiente escolar vá além da simples utilização da televisão, do vídeo e do rádio
como mais um instrumento de apoio. Com efeito, a utilização dos recursos para reproduzir

55
AULA 4 • O uso dos recursos audiovisuais na Educação

informações, ilustrar situações, exemplificar conceitos e prender a atenção dos alunos reduz,
de forma significativa, as suas possibilidades pedagógicas (PRETTO, 1996).

Para que a incorporação dos recursos audiovisuais traga ganhos significativos ao processo de
aprendizagem, eles devem ser vistos como fontes de geração de conhecimentos que permitam
a reflexão e o pensamento crítico por parte dos alunos e dos professores (PRETTO, 1996). Essa
perspectiva, de acordo com Pretto (1996) e Guimarães (2004), exige do professor uma nova postura
diante da cultura audiovisual e do processo educativo, em que ele deve agregar as funções de
educador e de comunicador, assumindo o papel de EDUCOMUNICADOR. Você sabe o que é isso?

O educomunicador, segundo Belloni (2002, p. 40, apud GUIMARÃES, 2004, p. 69), “não é um
professor especializado, encarregado de um curso de educação em mídias; é um professor do século
21, que integra as diferentes mídias em suas práticas pedagógicas”.

As principais funções desse novo educador, segundo Costa (2003), estão relacionadas ao
desenvolvimento de estratégias que permitam o uso pedagógico da mídia escrita, falada e
televisiva nas práticas educativas, indo além da simples veiculação e exposição de informações.
Isso possibilita, assim, a construção do conhecimento de forma crítica e reflexiva por parte dos
educandos. Além disso, ele deve estimular a apropriação das mídias pelos alunos, permitindo
que eles utilizem as tecnologias de informação para o desenvolvimento das suas próprias formas
de expressão, como, por exemplo, programas de rádios e jornais escolares.

A seguir, discutiremos sobre como incorporar os meios de comunicação de massa nas nossas
práticas educativas na perspectiva do Educomunicador.

O uso do rádio no contexto escolar

O rádio é visto como um importante veículo


Atenção
de comunicação. Ele é considerado uma
mídia de massa, por causa da sua facilidade Você não deve confundir RÁDIO COMUNITÁRIA com RÁDIO
de veicular informação para todas as classes PIRATA.

sociais (GONÇALVES; AZEVEDO, 2004). As rádios piratas são emissoras que não possuem licença do
Ministério das Comunicações para funcionar por não ocupar
De acordo com Ferraretto (2001) e Almeida uma frequência de transmissão regular. Muitas dessas
transmissões interferem nas comunicações entre a torre de
(2004 apud BALTAR et al., 2008), as emissoras
controle e os aviões; entre os hospitais e as ambulâncias;
de radiodifusão, atualmente, podem ser entre os carros de polícia e os do corpo de bombeiro.
divididas em quatro categorias: rádio
comercial, rádio comunitária, rádio educativa
e rádio escolar.

56
O uso dos recursos audiovisuais na Educação • AULA 4

Rádio Comercial

As emissoras de radiodifusão comercial são mantidas por empresas com fins lucrativos e, por
causa dos grandes investimentos financeiros, atingem uma grande parcela da população. As
rádios comerciais têm como principal objetivo a obtenção de lucros por meio da veiculação de
peças publicitárias durante a sua programação. Geralmente, os seus programas são de cunho
informacional e de entretenimento.

Rádio Comunitária

As rádios comunitárias, por sua vez, diferente das rádios comerciais, não possuem fins lucrativos
e sua programação é mantida pelos moradores de determinada comunidade. Por causa da sua
potencial transmissão restrita somente a um raio de 10 km, sua programação atinge um número
restrito de ouvintes. Sua programação está voltada para a transmissão de noticiários, de assuntos
culturais e esportivos, de informações de utilidade pública, entre outros. O principal objetivo de
uma rádio comunitária é criar um espaço para valorização das comunidades.

Rádio Educativa

As emissoras de radiodifusão de cunho educativo são mantidas por instituições públicas,


como, por exemplo, governos federal, estadual, municipal, fundações e universidades. Elas têm
como objetivo a veiculação de programas educativos, geralmente concebidos por educadores e
transmitidos por profissionais da área da comunicação, com o intuito de promover a transmissão
do conhecimento e a formação de opinião do ouvinte.

Rádio Escolar

As rádios escolares são, geralmente, resultado de projetos de escolares interdisciplinares


e funcionam como um instrumento de interação social e discursiva entre os membros da
comunidade escolar. Elas devem ser utilizadas em atividades educativas com recurso para a
aprendizagem de conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. Toda a execução da rádio,
como a sua concepção, a escolha do perfil editorial, a formatação da grade dos programas e a
transmissão, é de responsabilidade dos estudantes sob a coordenação de um professor ou grupo
de professores. O raio de alcance da transmissão da programação da rádio escolar fica restrito
aos limites da escola.

Contribuições da rádio escolar ao processo educativo

A implementação de um projeto de rádio escolar, segundo Baltar et al. (2008) e Gonçalves e


Azevedo (2004), possui um grande potencial pedagógico, que pode trazer benefícios para diferentes
áreas do conhecimento, para o desenvolvimento de inúmeras competências e habilidades, como

57
AULA 4 • O uso dos recursos audiovisuais na Educação

capacidade de síntese, de raciocínio, de verbalização, entre outras, e para tornar a aprendizagem


muito mais estimulante e prazerosa. Além disso, ela pode permitir o desenvolvimento de atividades
que favorecem a aprendizagem situada e colaborativa.

Inicialmente, a rádio escolar pode ser utilizada


Saiba mais
para a aprendizagem de conteúdos relacionados
à Língua Portuguesa, como, por exemplo, a :: Aprendizagem situada:
produção de textos e gêneros textuais, por meio
A aprendizagem situada explica a
do desenvolvimento dos roteiros, da grade da aprendizagem como um processo sociocultural,
em contraste com outras abordagens
programação, de radionovelas, jingles. Ela também
que consideram a aprendizagem como a
pode ser utilizada para o desenvolvimento de transferência de informação de uma maneira
projetos interdisciplinares e multidisciplinares. descontextualizada.

Nesse caso, os conteúdos das outras disciplinares É um processo complexo, enraizado no


cotidiano e suportado pelas atividades diárias.
do currículo escolar podem ser trabalhados por Fonte: http://www.modules-for-europe.eu/tool/
portugues/questions/situated_learning.pdf
meio do desenvolvimento de uma programação que
englobe temáticas variadas – quadros ou programas
voltados a assuntos relacionados ao meio ambiente, à cidadania, aos esportes, à alimentação
e à saúde, às ciências, à tecnologia, entre outros (BALTAR ET AL. 2008; CAMPOS ET AL., 2006).

Gonçalves e Azevedo (2004) destacam, ainda, que a


Saiba mais
utilização da rádio escolar como recurso didático-
pedagógico pode extrapolar a aprendizagem voltada :: Jingles:
aos conteúdos formais vinculados às disciplinas.
Jingle é uma mensagem publicitária musicada e
O seu uso pode possibilitar o desenvolvimento elaborada com um refrão simples e de curta duração,
a fim de ser lembrado com facilidade. Música feita
do senso crítico dos alunos com relação à grande
exclusivamente para um produto ou empresa.
quantidade de informações veiculadas pelos Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jingle

meios de comunicação em massa; a construção e


a valorização da identidade e cultura dos alunos; a construção da cidadania mediante o respeito
à diversidade de opiniões, e o saber ouvir e o saber decidir coletivamente. Permite-se, dessa
forma, a aprendizagem que vai além dos aspectos cognitivos, mas que favorecem a transformação
política e social dos alunos.

No quadro a seguir, Lima (2006) nos apresenta as principais contribuições e os desafios a serem
superados durante a implementação de uma rádio escolar.

58
O uso dos recursos audiovisuais na Educação • AULA 4

RÁDIO ESCOLAR
Contribuições Desafios
Melhoria no espaço de convivência; Desconfiança pedagógica do corpo
Aproximação e integração escola-aluno; docente e da coordenação;
Ampliação das possibilidades de práticas Reclamações em relação ao barulho, a
interdisciplinares e multidisciplinares; música, ao conteúdo, à saída de alunos,
entre outros;
Favorece o protagonismo juvenil;
Problemas técnicos;
Complementa o aprendizado, amplia a
capacidade intelectual e as habilidades Controle excessivo do espaço;
dos participantes; Gestão individualizada;
Dá voz a comunidade; Falta de planejamento operacional;
Cria condições para a melhoria da Conflitos multilaterais.
comunicação institucional.

A utilização da televisão no contexto escolar

Os meios de comunicação audiovisuais (o rádio, o cinema,


Sugestão de estudo
a televisão e o vídeo) desempenham de forma indireta
um canal de informação e formação fora dos ambientes Para um maior aprofundamento desta
formais da educação (escolas de ensino fundamental e temática, indicamos o livro Novas
Tecnologias e Mediação Pedagógica, de José
médio e universidades). Além de informar, esses recursos,
Manuel Moran, Marcos T. Masetto e Marilda
em especial a televisão, mostram continuamente modelos Aparecida e Behrens, editado pela Papirus.
comportamentais, ensinam novas linguagens e constroem
novos valores. Além disso, exploram nas suas programações
diferentes conteúdos das disciplinas escolares (MORAN, 2005; GUIMARÃES, 2001).

A televisão, no nosso país, é considerada o maior veículo de comunicação e faz parte do cotidiano
de uma grande parcela da população. Entre todos os recursos audiovisuais, ela é que apresenta
a maior inserção em todas as camadas da população e que está presente em diferentes lugares
(dos grandes centros urbanos até pequenos vilarejos). Por isso, no Brasil, muitas vezes, a televisão
assume, para a maior parcela da população, o papel de principal meio de transmissão de
informação e define os padrões comportamentais, econômicos e sociais dos cidadãos. Por isso,
não podemos negar que a disseminação das informações pelas redes de televisão influencia, de
forma significativa, o contexto educacional. A escola não é mais considerada como a única fonte
de informação e poder cultural (MORAN, 2005; GUIMARÃES, 2001). Além disso, não é possível
negar que a tevê forma um canal indireto de informação e de aprendizagem, apesar de muitas
pessoas a considerarem como somente um instrumento de lazer e de entretenimento.

A seguir, veremos as principais características dos programas televisivos segundo o olhar do


professor José Moran (1995, 2000, 2005).

1. As histórias apresentadas por meio da televisão são contadas sob um determinado ponto
de vista. Elas são recortes da vida que ignora grande parte do cotidiano. Esses recortes

59
AULA 4 • O uso dos recursos audiovisuais na Educação

são realizados por diferentes planos e ritmos visuais: imagens estáticas e dinâmicas,
câmera fixa ou em movimento, filmagens realizadas por várias ou por uma única câmera;
personagens parados ou em movimento, transmissões ao vivo ou previamente gravadas
e utilização de replay para recordar determinadas cenas.

2. A televisão utiliza-se das imagens para apresentar situações, pessoas, os cenários, as


cores e as relações de tempo e espaço. Dessa forma, ela serve de apoio para a narrativa,
para a fala e para a apresentação das histórias a serem contadas.

3. As músicas e os efeitos sonoros utilizados nos programas televisivos servem para evocar
lembranças, ilustrar, criar expectativas, antecipar reações e sinalizar apresentação de
informações importantes.

4. A televisão não faz uso somente da linguagem visual para contar as suas histórias. Ela
utiliza um mix de linguagens falada, musical, escrita e visual que interage, se sobrepõe,
se interliga e se soma, permitindo, assim, atingir todos os sentidos dos telespectadores.

5. A narrativa utilizada na televisão para falar sobre situações, transmitir ideias e valores
é muito flexível. As associações são feitas por semelhança e por contraste de ideias
e também pelo estético. As temáticas se desenvolvem de acordo com o momento, o
impacto e a audiência, o que permite que a comunicação possa atingir um grupo vem
diversificado de pessoa, tanto crianças como adultos.

6. Os temas tratados na televisão são pouco aprofundados. As informações são apresentadas


de forma compactada, organizada na forma de pequenas sínteses sobre cada assunto,
em um pequeno espaço de tempo e com apoio de recursos ilustrativos.

7. Na televisão algo só existe se pode ser mostrado. O ato de mostrar e de demonstrar está
logicamente ligado. Mostrar na televisão equivale a demonstrar, provar e comprovar.

As características comunicacionais apresentadas


Atenção
por Moran fazem com que a comunicação e a
construção do conhecimento por meio do uso da De acordo com Moran (2000), não é possível
televisão se tornem muito mais despretensiosas falar sobre a utilização da televisão no contexto
educacional sem falar sobre o vídeo, já que esses dois
e sedutoras. Além disso, esse recurso faz com que
recursos audiovisuais estão intrinsecamente ligados.
as situações apresentadas sejam consideradas, Por meio do uso de aparelhos de videocassete, DVD
pela maioria das pessoas, como situações padrão, Player e Blu-Ray Player, o professor poderá realizar

paradigmáticas e universais. Tais situações têm a gravação de programas televisivos para serem
exibidos posteriormente para seus alunos.
proporcionado uma crise no ambiente escolar,
principalmente nas formas tradicionais de
educação. Os estudantes se tornam muito mais resistentes ao uso dos recursos educacionais
convencionais, como a fala e a escrita. A linguagem audiovisual faz uso da afetividade como
instrumento de mediação com o mundo, além de solicitar o uso contínuo da imaginação

60
O uso dos recursos audiovisuais na Educação • AULA 4

(GUIMARÃES, 2001; MORAN, 2005). Enquanto a rigorosidade da escrita e da fala solicita, por
parte do indivíduo, a organização, a abstração e a análise lógica (MORAN, 2000).

Diante disso, alguns professores estão revendo as suas metodologias de ensino-aprendizagem.


Muitos desses docentes se apropriam da linguagem da televisão como forma de mobilizar e
preparar os alunos para o debate de ideias e para a discussão de conceitos e teorias (GUIMARÃES,
2001; MORAN, 2005). Assim, permite-se que os alunos possam iniciar o processo de construção
do conhecimento “a partir do concreto para o abstrato, do imediato para o mediato, da ação para
a reflexão, da produção para a teorização” (MORAN, 2005, p. 97).

As possibilidades da televisão no contexto educativo

Como discutimos anteriormente, além de entreter, a televisão funciona como canal de transmissão
de informação e de construção de conhecimento. Ademais, a linguagem de comunicação da
televisão possui grande potencial para mobilizar a atenção e para aguçar a curiosidade dos
telespectadores sobre diferentes temáticas. Diante do conhecimento dessas potencialidades
comunicacionais, é importante que o professor pense em novas metodologias que permitam a
inserção da televisão no processo educativo possibilitando uma aprendizagem mais dinâmica,
mobilizadora e mais significativa (MORAN, 2000).

AS QUATRO REGRAS BÁSICAS


Para que a utilização da televisão contribua de forma significativa ao processo de construção do
conhecimento, é importante estar atento a quatro regras básicas:

a. Evite utilizar a televisão para suprir a ausência de um professor. Esse tipo de utilização desvaloriza o uso
desse recurso na sala de aula.

b. Não exibir programas televisivos que não tenham relação com o conteúdo a ser trabalhado com a turma.

c. Evite o uso exagerado desse recurso. Seu uso excessivo diminui a sua eficácia e empobrece as aulas.

d. Toda vez que exibir um programa de tevê para uma turma, o professor não pode deixar de discuti-lo e de
relacioná-lo com o conteúdo da disciplina.
MORAN, J. M. O vídeo na sala de aula. Comunicação & Educação, São Paulo, v. 2, n. 2, pp. 27-35, 1995.

Para que o professor alcance resultados positivos com a utilização da televisão em atividades
educativas, é importante, segundo Moran (2000), que se faça uso de materiais audiovisuais que
estejam bem próximos ao cotidiano dos alunos.

Para que isso ocorra, o professor pode utilizar material previamente gravado de programas de
entretenimento, de novelas, de séries de tevê e comerciais veiculados nos canais abertos ou por
assinatura. Mais à frente, o professor pode passar a utilizar materiais mais artísticos e elaborados
tanto do ponto de vista técnico como temático.

61
AULA 4 • O uso dos recursos audiovisuais na Educação

A seguir, veremos algumas propostas de utilização da


Sugestão de estudo
televisão e de vídeo apresentadas por Moran (2000,
pp. 39-41). Leia o livro TELAS QUE ENSINAM: MÍDIA
E APRENDIZAGEM DO CINEMA AO
a. Sensibilização COMPUTADOR, de Samuel Pfromm Netto,
Editora Alínea. Nele você encontrará um vasto
O programa televisivo pode ser utilizado para material sobre o uso da televisão na educação.
introduzir, para despertar a curiosidade ou
para motivar alunos a um novo assunto. Tal
estratégia pode facilitar o aprofundamento de temáticas, já que, nesse caso, o programa
ou o vídeo exibido pode despertar o desejo do aluno de pesquisar mais sobre o assunto
apresentado.

b. Ilustração

Neste caso, o material audiovisual pode ser utilizado para apresentar cenários que
permitam situar os alunos em um determinado tempo histórico e para mostrar realidades
distantes do cotidiano dos alunos. No primeiro caso, podemos citar como exemplo a
utilização de uma reportagem sobre a Revolução Francesa e, no segundo, a utilização
de programa que mostre os aspectos geográficos do continente africano.

c. Simulação

Neste caso, o material audiovisual seria utilizado para ilustrar determinada situação
que, se fosse realizada pelos alunos, teria uma demanda de tempo grande e consumiria
muitos recursos ou os colocaria em situação de perigo. Para poder exemplificar tais
situações, podemos imaginar programas que apresentam experiências com manuseio
de produtos altamente tóxicos ou que mostram o crescimento acelerado de um ser vivo,
como, por exemplo, plantas e árvores.

d. Conteúdo de Ensino

Material audiovisual que apresenta, de forma direta e indireta, determinado tema ou


assunto. Quando ele apresenta um assunto de forma direta, o próprio material fornece
orientações para a interpretação do assunto. Já de forma indireta, é permitida uma
análise sobre diferentes olhares e uma interpretação interdisciplinar.

e. Produção

O uso da televisão como produção apresenta para o professor três tipos de possibilidades:
como documentação, como intervenção e como expressão.

No uso como documentação, é utilizado para exibição de registros de eventos, de


aulas, de estudos do meio, de experiências, de depoimentos, entre outros. Neste caso, o

62
O uso dos recursos audiovisuais na Educação • AULA 4

programa de tevê em associação aos livros didáticos e às apostilas compõem o conjunto


de instrumentos que o professor faz uso para a preparação de suas aulas.

No caso do uso como intervenção, o professor atua diretamente sobre o programa de


televisivo, modificando o conteúdo veiculado. Ao realizar a edição de determinado
material, o professor dará um novo sentido para o conteúdo do material, fazendo com
que ele se aproxime muito mais da realidade dos alunos.

Já o uso do material como expressão permite uma nova forma de comunicação no


ambiente escolar que integra o uso de linguagens mais contemporâneo, que utiliza
novas linguagens e que envolve diferentes experiências lúdicas. Nesse caso, alunos são
incentivados a produzir programas de televisão, tais como reportagens, programas de
auditório, telejornais, novelas, seriados, entre outros para as mais diversas finalidades,
como atividades de uma determinada disciplina, projetos interdisciplinares, e para
disseminação de informações importantes à comunidade escolar.

f. Avaliação

O material audiovisual é utilizado como parte integrante do processo de avaliação de


alunos, professores e de processos.

g. Espelho

A utilização do material audiovisual como espelho consiste na gravação de vídeo da


turma durante uma atividade educativa. Esse vídeo posteriormente será utilizado para
uma análise reflexiva da atuação tanto dos alunos quanto do professor.

No caso dos alunos, o vídeo deve ser analisado conjuntamente pela turma, permitindo a
identificação da atuação do grupo e o papel que cada um assume durante o processo de
aprendizagem. O vídeo se torna um importante material para o acompanhamento da participação
e para incentivar a atuação mais ativa de alunos retraídos e inibidos. No caso do professor, o
vídeo pode ser utilizado para que ele examine a sua comunicação com a turma e identifique os
aspectos positivos e negativos da sua prática educativa.

O papel do cinema na escola

Diante da grande aceitação e fascínio, segundo Netto (2001), que a utilização dos recursos
computacionais vem exercendo nos últimos anos no contexto educacional, pouco se discute
sobre as contribuições que o cinema pode oferecer para o processo de aprendizagem.

Desde o início das primeiras exibições cinematográficas realizadas pelos irmãos Lumière, no
final do século XIX, na cidade de Paris, o cinema teve um caráter educacional. Essas curtas e

63
AULA 4 • O uso dos recursos audiovisuais na Educação

rápidas exibições eram utilizadas para exibir filmes sobre cidades, pessoas famosas, paisagens,
trens, dançarinas, entre outras.

De acordo com Lelliott (1948 apud NETTO, 2001),


Saiba mais
a exibição dos filmes, nos primórdios do cinema,
ao mesmo tempo tinha como objetivo divertir e
:: Auguste e Louis Lumière:
educar os espectadores. Foi nessa mesma época
que o primeiro filme voltado ao ensino médico foi Os irmãos Lumière nasceram em Besançon, na
França. Foram eles que fabricaram o cinematógrafo
produzido, o filme apresentava uma demonstração
(cinématographe), sendo frequentemente referidos
do uso do gás do riso para a extração de um dente. como os pais do cinema.
Ainda segundo o autor, por volta de 1910, o uso Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Auguste_e_Louis_Lumière

do cinema no contexto escolar já era objeto de


discussão por especialistas, tal como nos debates ocorridos no congresso internacional de
educadores, realizado em Bruxelas, e, nesse mesmo ano, já existiam catálogos de filmes educativos
em diferentes países – EUA, França e Inglaterra.

Cinematógrafo-Lumière (1895)

No Brasil, as primeiras exibições cinematográficas


Saiba mais
ocorrem em julho de 1896, na cidade do Rio de
Janeiro. Todavia, a utilização do cinema como
:: Cinematográfico
ferramenta pedagógica ocorreu somente a partir
de 1910 com a fundação da filmoteca do Museu O cinematógrafo era uma máquina de filmar e
projetor de cinema, invento que lhes tem sido
Nacional do Rio de Janeiro e com a produção dos
atribuído, mas que, na verdade, foi inventado por
primeiros filmes sobre os índios nambiquaras Léon Bouly, em 1892, que terá perdido a patente, de
do estado de Rondônia dirigidos e realizados por novo registrada pelos Lumière, em 13 de fevereiro de
1895.
Roquette-Pinto. Dezenove anos depois, o acervo
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Auguste_e_Louis_Lumière
de filmes educativos cresceu de forma significativa
que as escolas primárias do Rio de Janeiro foram
equipadas com cinematográficos e o cinema educativo começou a fazer parte do cotidiano
escolar da época (NETTO, 2001).

64
O uso dos recursos audiovisuais na Educação • AULA 4

Os filmes educativos e as suas contribuições ao processo


de aprendizagem

Como vimos anteriormente, o cinema sempre teve um


Para refletir
caráter educacional e muitas foram as iniciativas para a
produção de filmes educativos. Sua utilização no contexto Tente-se lembrar de alguns filmes a que
educacional e no Brasil não poderia ser diferente. Muitas você assistiu nestes últimos tempos.

personalidades como Roquette-Pinto, Aloysio Castro, Agora pense de que forma esses filmes

Anísio Teixeira, entres outros, impulsionaram a produção podem ser utilizados no contexto escolar.

de filmes educativos (NETTO, 2001). Que filmes podem


ser considerados educativos?A maioria dos filmes, segundo Starr (1950 apud NETTO, 2001), é
considerada como educativo quando são exibidos fora do circuito comercial. Normalmente, são
considerados como educativos os filmes instrucionais (produzidos para fornecer orientações à
realização de tarefas), os de estudo em sala de aula, os de documentários sociais, os científicos,
os de debate, os cinejornais e os de treinamentos.

Desde o início do cinema, inúmeros pesquisadores e estudiosos, de acordo com Netto (2001) e
Silbiger (2005), realizaram pesquisas sobre a utilização dos filmes no contexto educacional. A
seguir, veremos as principais contribuições da utilização dos filmes educativos apontados por
essas pesquisas.

1. Os filmes podem ser utilizados como mediadores do processo de construção do


conhecimento.

2. Quando os filmes são utilizados de forma adequada, a aprendizagem pode ocorrer de


maneira mais rápida e pode facilitar a retenção do que foi aprendido.

3. Os filmes estimulam a realização de atividades da aprendizagem.

4. Certos tipos de filme facilitam a resolução de problemas e o pensamento crítico.

5. Os filmes podem ser utilizados para expor conceitos e informações e para demonstrar
procedimentos.

Ainda segundo essas pesquisas, para que os filmes possam contribuir de forma positiva para a
construção do conhecimento, é importante que os professores estejam atentos a dez aspectos
a serem considerados durante a seleção dos filmes a serem utilizados:

1. Os filmes contribuem de forma mais significativa ao processo de aprendizagem se o


conteúdo apresentado por eles reforçar e ampliar os conhecimentos, as atitudes e as
motivações prévias dos estudantes.

65
AULA 4 • O uso dos recursos audiovisuais na Educação

2. Quanto maior for o conhecimento do professor sobre o perfil da turma e dos objetivos
do filme a ser utilizado na prática educativa, maior será o aproveitamento do conteúdo
pelos alunos.

3. Quanto mais importante for a temática do filme para os alunos, maior será o seu alcance.

4. A reação dos alunos diante de um filme tem uma relação direta com fatores como a
alfabetização cinematográfica, a inteligência abstrata, a experiência prévia em relação
ao tema e os preconceitos.

5. Aspectos como a apresentação visual e a narrativa de um filme contribuem de forma


significativa na aprendizagem dos conteúdos veiculados.

6. Os alunos serão mais receptivos no caso da utilização de filmes em que o contexto das
imagens e das representações visuais veiculadas for significativo e familiar.

7. Os alunos responderão mais eficientemente quando o conteúdo visual dos filmes for
apresentado de forma mais subjetiva.O impacto educativo do filme tem relação indireta
ao seu ritmo. Quanto mais lento é o ritmo de um filme, maior é o seu impacto educativo.

8. A eficácia da utilização do filme como ferramenta de aprendizagem depende da forma


como a sua utilização é planejada e aplicada pelo professor. A não realização de um
planejamento prévio pode comprometer a qualidade do processo de aprendizagem.

9. A forma com que o professor apresenta o filme para os alunos pode comprometer a
eficácia do processo de aprendizagem.

A utilização de filmes em atividades pedagógicas é bastante


Saiba mais
gratificante tanto para os alunos quanto para o professor,
já que eles podem trazer inúmeros ganhos ao processo No Portal Educação, você irá encontrar
de aprendizagem. diferentes propostas de atividades educativas
que fazem uso de filmes com “A Era do
Entretanto, o professor deve estar consciente de que, para Gelo”, “A Lista de Schindler”, “Dois Filhos de
Francisco”, entre outros.
que a utilização de filmes no contexto escolar tenha o
Acesse o site: http://www.planetaeducacao.
resultado satisfatório, o seu uso deve ir além da utilização
com.br
desse recurso como instrumento de lazer e entretenimento.
Adicionalmente, a utilização de filmes não deve ocorrer
sem a realização de planejamento prévio pelo professor (NETTO, 2001; MACHADO, 2017).

Em um artigo publicado no portal Planeta Educação, João Luís de Almeida Machado apresenta
algumas dicas para auxiliar os professores na utilização de filmes como ferramenta de aprendizagem.

De acordo com Machado (2017), para que as aulas que irão fazer uso de filmes se tornem atraentes
e interessantes para os alunos, é importante que se organizem atividades que coloquem os alunos
de forma ativa no processo de construção do conhecimento. Uma dica é propor a formação de

66
O uso dos recursos audiovisuais na Educação • AULA 4

pequenos grupos para que o filme possa ser discutido e que essa discussão gere, por exemplo,
uma produção textual. Além disso, é importante que sejam previamente apresentados para os
grupos os detalhes necessários à realização das atividades.

A exibição do filme escolhido deve ser precedida ou acompanhada de aulas expositivas, de forma
a garantir a eficácia do processo educativo. Quando as aulas expositivas forem utilizadas antes
da exibição, elas têm como objetivo, por exemplo, permitir que seja apresentado um panorama
geral do período histórico estudado, essa apresentação pode ser enriquecida por informações
como textos complementares, livro didático, artigos de revistas especializadas, entre outros.

Já a exibição do filme antes das aulas expositivas tem como principal objetivo despertar os alunos
e introduzir as temáticas que serão tratadas nas aulas. Nessa perspectiva de uso, é interessante
que o professor indique aos alunos os aspectos da trama que merecem maior atenção. Se julgar
necessário, o professor pode até mesmo fazer intervenções durante a exibição do filme. Além
disso, o professor pode sugerir que os alunos não deixem de prestar atenção em detalhes como
cenário, figurinos e outros elementos representativos.

Nas aulas expositivas que se seguem depois da exibição do filme, o professor deve fazer referência
aos pontos importantes apresentados na trama, aprofundar a temática discutida no filme e
introduzir outros assuntos que tenham surgido, mas não foram aprofundados no decorrer do
filme. Como no caso anterior, o professor deve fazer uso de recursos complementares.

Como atividade, o professor deve propor que os alunos se dividam em pequenos grupos para que
os assuntos apresentados sejam debatidos e discutidos. O professor pode, por exemplo, sugerir
que o produto final do debate seja a elaboração de um texto com as principais ideias discutidas
e as conclusões do grupo. O professor pode, ainda, propor que se desenvolvam simulações que
aproximem as temáticas tratadas no filme com o cotidiano dos alunos e que essas simulações
sejam apresentadas para a turma. Durante a realização das atividades, os trechos mais importantes
podem ser novamente apresentados para auxiliar os alunos.

Como discutimos, os meios de comunicação de massa estão presentes no cotidiano da grande


parcela da população brasileira e são importantes fontes de informação e de entretenimento e
influenciam significativamente a nossa percepção sobre o mundo. Por isso, as escolas não podem
ficar indiferentes a esses meios.

Segundo Moran (1995):

A escola precisa observar o que está acontecendo nos meios de comunicação


e mostrar isso na sala de aula, discutindo tudo com os alunos, ajudando-os a
que percebam os aspectos positivos e negativos das abordagens sobre cada
assunto. Fazer (re)leituras de alguns programas em cada área do conhecimento,
partindo da visão de que os alunos têm e ajudá-los a avançar de forma suave,
sem imposições nem maniqueísmos (MORAN, 2005, p. 98).

67
AULA 4 • O uso dos recursos audiovisuais na Educação

É necessário que se criem ações e propostas que permitam inserir o rádio, a televisão, o rádio e
o cinema no ambiente escolar. De acordo com Guimarães (2001), essa inserção deve ir além da
simples utilização desses recursos como ferramentas de apoio às aulas. Ao utilizar as mídias na
sua prática educativa, o professor deve criar espaços que permitam desenvolver o pensamento
crítico e reflexivo sobre os impactos e a influência das mass media na nossa vida cotidiana e
sobre os conteúdos veiculados pelos meios de comunicação.

Resumo

Vimos até agora:

»» sobre como as mass media influenciam significativamente a forma que nós enxergamos
e agimos na sociedade e sobre a importância de a escola tentar estabelecer maior
aproximação com esses meios para formar cidadãos críticos, conscientes do poder e
do efeito das informações disponibilizadas;

»» que a incorporação dos recursos audiovisuais só trará ganhos significativos para o


processo de aprendizagem, caso o professor assuma uma nova postura diante da
cultura audiovisual e do processo educativo, deixando de ser professor e passando a
ser educomunicador;

»» que, no papel de educomunicador, o professor deve desenvolver estratégias que permitam


o uso pedagógico das mídias, estimular a apropriação das mídias pelos alunos para que
essas sejam usadas como forma de expressão pessoal;

»» que o rádio, a televisão e o cinema possuem um grande potencial pedagógico e


podem trazer ganhos para diferentes áreas do conhecimento, para o desenvolvimento
de inúmeras competências e habilidades, para tornar a aprendizagem muito mais
estimulante e prazerosa, para o desenvolvimento de atividades que favorecem a
aprendizagem situada e colaborativa;

»» que a aprendizagem mediada pelos meios de comunicação em massa vai além dos
aspectos cognitivos, favorecendo a transformação política e social dos alunos;

»» sobre as principais contribuições que o uso do rádio, da televisão, do cinema podem trazer
para o processo educativo. Além disso, conhecemos algumas propostas de utilização
dessas mídias para o desenvolvimento de práticas educativas;

»» que a inserção da mass media na educação deve ir além da simples utilização dessas como
ferramentas de apoio às aulas. A sua utilização deve favorecer a criação de espaços que
permita desenvolver o pensamento crítico e reflexivo dos alunos sobre os impactos e a
influência das mídias na nossa vida cotidiana e sobre os conteúdos veiculados por elas.

68
Aula
Uso dos recursos
digitais na Educação 5
Apresentação

O objetivo desta aula não é o ensino de conteúdos relacionados à ciência da computação e o


uso de programas. Ela foi pensada com o objetivo de criar um espaço para discutirmos sobre a
importância da inserção da informática no contexto educacional. Juntos, nós discutiremos as
principais formas de uso da informática, qual é o seu papel no processo de aprendizagem e suas
possibilidades pedagógicas.

Além disso, teremos a oportunidade de refletirmos sobre como a Internet pode contribuir no
planejamento de práticas educativas que favoreçam o desenvolvimento de um processo de
construção do conhecimento rico e significativo, assim como para a criação de novos espaços
de ensino-aprendizagem.

Você, também, conhecerá algumas ferramentas de comunicação e informação da Internet, suas


possibilidades de uso pedagógico, algumas dicas de como utilizá-las em práticas educativas.

Objetivos

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

»» compreender as diferentes formas de uso da informática no contexto escolar;

»» entender o papel da informática no processo de construção do conhecimento;

»» conhecer as principais contribuições do uso do computador para o processo de


aprendizagem;

»» conhecer diferentes ferramentas de comunicação e informações da Internet;

»» entender de que forma a Internet pode contribuir para o processo de ensino-aprendizagem

69
AULA 5 • Uso dos recursos digitais na Educação

Informática e educação

A inserção dos computadores nas práticas


Saiba mais
educativas não é uma iniciativa recente.
Na metade da década de 50, com o início
:: Máquina de Ensinar:
da comercialização de computadores com
capacidade de programação e armazenamento Para Skinner, a máquina de ensinar possui várias
vantagens com relação aos outros métodos de ensino,
de informações, surgiram as primeiras
como, por exemplo, aprimoramento da memória do aluno.
experiências de uso de computadores nas
Skinner afirma que, apesar de a máquina de ensinar
instituições de ensino superior dos Estados propriamente dita não ensinar, ela cria um maior
Unidos. Contudo, a utilização dos computadores intercâmbio do aluno como professor por meio do

no contexto educacional tinha como objetivo programa presente no equipamento, além de manter o
aluno atento e ativo.
armazenar informações que, posteriormente,
Fonte: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/per07.htm
seriam transmitidas para os alunos. Pode-se
dizer que era uma tentativa de implementar a
máquina de ensinar idealizada por Burrhus Frederic Skinner (VALENTE, 2002).

No Brasil, as primeiras experiências na educação tiveram início nas universidades a partir da


década de 70. Como exemplo, podemos citar a experiência ocorrida na Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), onde o Núcleo de Tecnologia Educacional em Saúde (NUTES) utilizou
simulações do computador para o ensino de Química (MORAES, 1993).

Segundo Almeida e Almeida (1999), o Ministério da Educação e as Secretarias de Educação


Estaduais e Municipais de todo Brasil mantêm diferentes políticas públicas voltadas à introdução
das tecnologias de informação e comunicação nas escolas da rede pública e promoção do seu
uso pedagógico no ensino fundamental e no médio. Podemos citar, como exemplo, o Programa
Nacional de Informática na Educação (ProInfo)

A inserção da informática no ambiente escolar


Saiba mais
pode ocorrer de diferentes maneiras; de acordo
com o professor Hermínio Borges Neto (1999),
:: Software:
em seu artigo intitulado “Uma classificação
sobre a utilização do computador pela escola”, Toda a parte lógica da informática, ou seja,
qualquer programa, aplicativo, sistema operacional,
existem quatro formas de uso: Informática
arquivo e jogos.
Aplicada à Educação, Informática na Educação, Fonte: FIALHO JÚNIOR, M. Novo dicionário de informática. Goiânia:
Editora Terra.
Informática Educacional, Informática
Educativa. A seguir, você conhecerá cada uma
dessas formas de uso.

70
Uso dos recursos digitais na Educação • AULA 5

Informática aplicada à educação

A Informática aplicada à Educação se caracteriza pelo uso dos recursos computacionais para o
gerenciamento administrativo e acadêmico da instituição escolar, como em emissão de relatórios,
controle de pagamentos e confecção de avaliações (provas e testes).

Informática na educação

Neste caso, a informática serve para auxiliar o processo de ensino-aprendizagem. Normalmente,


os computadores são utilizados para reforçar conteúdos apresentados na sala de aula. Faz-se
uso de softwares para transmitir informações aos alunos. Essa forma de uso possui origem nos
métodos tradicionais de ensino (VALENTE, 2002).

Informática educacional

Na Informática Educacional, os computadores são utilizados no desenvolvimento de atividades


temáticas por grupos de alunos, como, por exemplo, a realização de trabalhos sobre aquecimento
global, desmatamento da Amazônia, entre outros. Nesse caso, os alunos fazem uso de diferentes
recursos de informática (internet, processadores de textos, programas de apresentação eletrônica,
editores de imagens, entre outros) para o desenvolvimento das atividades.

Apesar de se mostrar ser uma melhor alternativa se comparada à Informática na Educação, a


Informática Educacional possui limitações que comprometem o processo de construção do
conhecimento. Muitas vezes, o professor-especialista do conteúdo a ser trabalhado não está
presente para auxiliar, acompanhar e esclarecer dúvidas que surgem durante a elaboração do
trabalho. A tarefa fica sob a responsabilidade do professor de informática. Outro ponto a ser
destacado é a importância dada ao aprendizado das técnicas de computação em detrimento do
conteúdo do tema da atividade.

Informática educativa

Na Informática Educativa, o computador é visto com


Para refletir
uma ferramenta pedagógica que auxilia o processo de
aprendizagem. Nesse contexto, a informática permite a Já parou para pensar sobre a forma como a
criação de um ambiente de aprendizagem que favorece informática se insere no contexto educacional
na escola onde você leciona, está estagiando
a construção do conhecimento.
ou na escola onde seu filho estuda?

O computador é utilizado em toda a sua potencialidade


e capacidade, o que torna possível a geração de simulações, prática e vivência de situações
concretas e abstratas fundamentais à construção do conhecimento.

71
AULA 5 • Uso dos recursos digitais na Educação

Informática na escola: objeto de ensino ou ferramenta de


ensino

Muitos são os motivos que levam uma instituição


Atenção
de ensino a incorporar a informática nas suas
propostas de ensino. Algumas são motivadas pelas Caro aluno, a nossa principal preocupação nesta
possíveis contribuições das TICs no processo de aula é levar você a refletir sobre os potenciais
educacionais da informática e sobre as possibilidades
construção do conhecimento. Outras, por motivo
de desenvolvimento de atividades que utilizam o
mais escuso, enxergam a informática como computador como ferramenta pedagógica.
um simples instrumento mercadológico, uma
Não é ensinar conteúdos relacionados à ciência da
estratégia comercial e política (KENSKI, 2003). computação ou o manuseio de programas.

Entretanto, você, como professor, deve sempre se


questionar qual é o objetivo do uso da informática
Para refletir
na educação: objeto de ensino ou ferramenta de
ensino (VALENTE, 2002). Isto é, a informática Ao utilizar a informática como ferramenta de ensino,
o aluno não estará de certa forma alfabetizado
deve ser usada para que o aluno aprenda a utilizar
tecnologicamente?
os recursos computacionais? Ou para servir de
Pense sobre isso.
meio para que se aprenda o conteúdo das outras
disciplinas?

A utilização da informática como Objeto de Ensino tem sido a opção de muitas escolas para a
inserção do computador na prática escolar. Nesse caso, a principal preocupação é fazer com que
o aluno se “alfabetize em informática”, para que ele possa adquirir conhecimentos relativos à
informática, como o funcionamento do computador e a manipulação de programas existentes
no mercado. Entretanto, tal prática não traz ganhos, do ponto de vista educacional, ao processo
de ensino-aprendizagem, já que não se altera a forma como os conteúdos das disciplinas são
apresentados (VALENTE, 2002).Quando o computador é utilizado para o desenvolvimento de
atividades voltadas à aprendizagem do conteúdo das disciplinas, assume o papel de Ferramenta
de Ensino. Nesse contexto, de acordo com Valente (2002), a informática cria condições de o
aluno buscar informações para solução de problemas, refletir sobre os resultados obtidos e criar
suas próprias estratégias de aprendizagem, tornando o discente um agente ativo no processo de
construção do conhecimento.

Possibilidades de uso do computador nas práticas


educativas

Como nós vimos, a inserção do computador nas práticas educativas pode ser voltada tanto para a
alfabetização tecnológica ou para facilitar a aprendizagem dos conteúdos das disciplinas. Quando

72
Uso dos recursos digitais na Educação • AULA 5

o objetivo é auxiliar o processo de ensino-aprendizagem, o computador pode ser utilizado para


desenvolver inúmeras atividades: pesquisar, simular situações, testar conhecimentos específicos,
descobrir novos conteúdos, produzir conteúdo, avaliar e desenvolver experiências (MORAN, 2000).

Para que você possa melhor compreender o papel


Atenção
da informática na construção do conhecimento, nós
veremos a seguir, segundo a visão de diferentes autores, Apesar de os recursos de informática serem
as diversas possibilidades de uso do computador na usados para auxiliar o processo de ensino-
aprendizagem, é importante que o professor
prática educativa.
tenha conhecimentos sobre o funcionamento
dos programas básicos existentes no mercado.
Linguagem de Programação
Você não precisa se matricular em um
curso. Tente achar na Internet apostilas de
As primeiras iniciativas de uso do computador como
informática.
ferramenta de ensino-aprendizagem na Educação
Você verá que existe uma vasta quantidade de
Básica, de acordo com Giordan (2005), ocorreram material de apoio para o uso de programas.
através da linguagem de programação LOGO.

A linguagem de programação LOGO foi desenvolvida por Seymour Papert na década de 1970. O
principal objetivo de Papert era desenvolver uma proposta de ensino em que os alunos utilizam
o LOGO para solucionar problemas por meio da criação de figuras geométricas; possibilitando
o desenvolvimento de diferentes conceitos, estratégias e estilos de resolução que poderiam ser
facilmente utilizados na resolução de problemas sem a presença do computador (PAPERT, 1985
apud GIORDAN, 2005; VALENTE, 2002).

Entretanto, alguns autores não concordam com a afirmativa acima. Para eles, as habilidades
cognitivas desenvolvidas só seriam úteis para solucionar problemas através da linguagem de
programação. Um outro ponto negativo seria a necessidade de domínio dos comandos da
linguagem de programação, já que, sem conhecer esses comandos, os alunos não conseguirão
realizar as atividades propostas (GIORDAN, 2005).

Sistemas Tutoriais

O sistema tutorial é programa que disponibiliza conteúdos, organizados, de acordo com uma
sequência lógica, para o aluno (VALENTE, 2002).

Os objetivos do programa são obter respostas do aluno sobre questionamentos, de acordo


com o conteúdo apresentado, e avaliar se as respostas estão corretas de acordo com critérios
predefinidos. Se a resposta do aluno estiver correta, o programa continua a apresentação do
conteúdo. Entretanto, se a resposta estiver incorreta, o sistema apresenta uma justificativa para
a resposta correta e realiza novamente o questionamento (GIORDAN, 2005).

73
AULA 5 • Uso dos recursos digitais na Educação

Uma limitação para o uso dos tutoriais, segundo Valente (2002), é que as atividades educativas
desenvolvidas tendem a se restringir à mera memorização do conteúdo, o que dificultaria a
verificação da construção do conhecimento. Para que isso seja minimizado, o professor deve
criar situações-problema para que o aluno, de acordo com o conteúdo apresentado, possa chegar
a uma solução correta.

Caixas de Ferramenta

Os aplicativos comerciais, tais como o Microsoft


Saiba mais
Office e o BrOffice, podem facilmente ser utilizados
na realização de práticas educativas. Por meio deles,
:: Microsoft Office:
o professor pode propor diferentes atividades, em
que os alunos criarão textos escritos, desenharão O Microsoft Office é um conjunto de aplicativos
para escritório que contém diferentes programas
figuras, construirão tabelas e gráficos, para auxiliar
como:
na aprendizagem dos conteúdos das disciplinas
a. Processador de texto – MS Word
(GIORDAN, 2005). Segundo Crook (1992 apud
b. Planilha eletrônica – MS Excel
GIORDAN, 2005), quando esses aplicativos são
c. Apresentação gráfica – MS PowerPoint
utilizados para realização de atividades educativas,
eles são denominados de CAIXAS DE FERRAMENTA.

Um exemplo prático para o uso das caixas de ferramenta é a construção de gráficos usando a
planilha eletrônica para a identificação de regularidades e variações da propriedade física de
materiais, a fim de facilitar a compreensão sobre o comportamento da propriedade e o uso de
matérias (GIORDAN, 2005).

Simulação e Animação

Os programas de animação e simulação, de acordo com Giordan (2005), permitem a transposição


de um fenômeno natural para o computador. A animação permite que um fenômeno possa
ser reproduzido na tela do computador por meio de uma sequência de ilustração, enquanto
a simulação permite a reprodução de fenômeno por meio da combinação de um conjunto de
valores predefinidos.

Normalmente, é observado nas práticas educativas o maior uso de animações do que o de


simulações para a observação dos fenômenos naturais (GREDLER, 1996 apud GIORDAN, 2005).
Entretanto, o uso do simulador pode trazer vantagens em relação à animação, já que os simuladores
permitem, por meio dos valores inseridos no programa, ao aluno observar regularidades, fazer
previsões e realizar explicações sobre o fenômeno estudado (GIORDAN, 2005).

Entretanto, Valente (2002) alerta que o simples uso de simulações e animações não é garantia
de aprendizagem. É importante a combinação de diferentes estratégias, como a realização

74
Uso dos recursos digitais na Educação • AULA 5

de leituras e discussões, a elaboração de hipóteses e a utilização do computador para melhor


compreensão do fenômeno estudado, para criar condições de os alunos realizarem a transição
entre o fenômeno simulado/animado e o fenômeno no mundo real.

Jogos Educativos

A utilização de jogos eletrônicos tende a motivar e a desafiar o aluno a vencer desafios, envolvendo-o
em competições com o computador e/ou com os outros alunos. A realização de atividades
mediadas por jogos educativos possibilita a construção de hipóteses e estratégias, baseadas em
conhecimentos já existentes ou de novos conhecimentos elaborados, com o objetivo de vencer
o jogo (VALENTE, 2002).

José Valente (2002) alerta para o fato de o clima de competição gerado pelo uso de jogos
dificultar o processo educativo, já que ele pode levar o aluno a utilizar-se de conceitos e de
estratégias, inconscientemente, o que dificultaria a aprendizagem. Por isso, é necessário que
o professor discuta, posteriormente, as estratégias e os conceitos adotados pelos alunos com
o objetivo de permitir que eles compreendam o que estão fazendo.

USO DA INTERNET NA EDUCAÇÃO

Atualmente, não há como negar que a Internet faz parte do cotidiano de uma parcela significativa
dos brasileiros. Você não concorda?!

Dados divulgados em 2015 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que
mais da metade dos brasileiros estão conectados à internet. Segundo outros dados divulgados
pelo IBGE, a proporção de internautas no Brasil passou de 49,2%, em 2012, para 50,1%, em 2013,
do total da população. 

Por que a Internet exerce tanta atração, principalmente em crianças e adolescentes? Talvez a
resposta, segundo Murachovsky (2005), seja porque ela oferece-nos uma diversidade de conteúdos,
permite-nos realizar diferentes atividades e possibilita-nos vincular informação de forma rápida
e simples. O interesse, também, pode estar relacionado às possibilidades que a Internet oferece
para a realização de atividades lúdicas, prazerosas e interativas (LUMA, 2006). Para Luma (2006),
os fatores que motivam as pessoas a utilizarem a internet são os mais diversificados, como o
estabelecimento de relações afetivas, (amizades e namoro), diversão e entretenimento, e realização
de atividades educativas e profissionais.

Como podemos perceber no nosso dia a dia, o advento da Internet ampliou as possibilidades de
acesso a informações e transformou as formas de comunicação e de interação, permitindo que
as pessoas se reúnam, independente das distâncias físicas e temporais que as separam, com o
objetivo de compartilhar informações e interesses comuns (KENSKI, 2003).

75
AULA 5 • Uso dos recursos digitais na Educação

As potencialidades da Internet, de acordo com Kenski (2003), podem contribuir de forma


significativa no processo de aprendizagem, visto que a rede de computadores se constitui em
um campo vasto de informações e permite que elas sejam analisadas, debatidas e discutidas em
grupo, viabilizando a criação de um rico ambiente de aprendizagem que facilite a construção
de conhecimento de forma significativa.

José Manuel Moran (1997), no seu artigo intitulado “Como utilizar a Internet na Educação”,
afirma que a adoção da Internet nas práticas educativas pode modificar significativamente o
processo educativo. O uso da rede mundial de computadores pode ampliar os espaços da sala
de aula na educação presencial, possibilitando que a escola abra as suas portas para que os
pais, a comunidade, outros profissionais e até mesmo outras escolas contribuam no processo
de aprendizagem.

A aplicação da Internet no contexto educacional presencial pode ser bastante variada (MORAN,
1997):

»» a escola utiliza a internet para divulgar informações institucionais referentes às atividades


educativas e administrativas;

»» realização de pesquisas pelos alunos de forma individual ou em grupo;

»» nas atividades de apoio ao ensino, possibilita o uso de textos, imagens, sons e vídeos
para enriquecer as aulas teóricas;

»» permite a comunicação entre os professores e os alunos, entre os próprios professores


e entre os alunos pertencentes à mesma instituição de ensino ou de outras instituições.

»» Entretanto, não podemos deixar de citar alguns problemas relacionados à incorporação


da Internet no processo educativo. Moran (2000) nos ajuda a pensar sobre alguns desses
problemas:

»» a grande quantidade de conteúdo disponibilizado na Internet favorece a dispersão dos


alunos. É muito comum perceber que alguns alunos deixam de buscar as informações
solicitadas para acessar o conteúdo de interesse pessoal;

»» aprofundamento dos conteúdos pesquisados. Muitos alunos ficam presos às informações


superficiais sobre os assuntos a serem pesquisados e deixam de lado informações
importantes. Tal situação pode ser ocasionada pela dificuldade dos alunos em filtrar,
selecionar, comparar, avaliar, sintetizar e contextualizar as informações mais relevantes
e significativas;

»» engajamento das turmas na participação das atividades educativas baseadas na Internet


pode ser bastante diferente. Muitas das vezes, a participação ativa dos alunos nas
atividades vai depender do seu grau de maturidade e da sua motivação. Por isso, é
importante o professor desenvolver propostas adequadas de acordo com o perfil de
cada turma;

76
Uso dos recursos digitais na Educação • AULA 5

»» necessidade de formação que desenvolvam nos professores competências e habilidades


voltadas à implementação de estratégias pedagógicas baseadas nos recursos
computacionais e na Internet;

»» a resistência de alguns professores, da coordenação pedagógica, de alguns pais e até


mesmo dos alunos em aceitar as mudanças nas práticas educativas ocasionadas pela
Internet. Tal resistência pode estar relacionada ao fato de algumas pessoas acharem que
o processo de ensino-aprendizagem somente ocorre quando o professor está “dando
aula”, isto é, quando o professor fala e os alunos escutam, considerando a Internet um
ambiente de lazer e diversão.

Até aqui discutimos sobre as diferentes formas de aplicação da Internet no contexto escolar e de
que maneira ela pode contribuir para o enriquecimento do processo educativo. A seguir, teremos
contato com diferentes ferramentas de comunicação da Internet e falaremos sobre algumas das
suas possibilidades de uso na educação.

Ferramentas de comunicação da internet e suas


possibilidades pedagógicas

Atualmente, encontramos disponível na Internet uma variedade de ferramentas que permitem a


comunicação, a transmissão, a exibição, a busca e o compartilhamento de informações (PETTERS,
2005).

Entre essas, podemos encontrar ferramentas mais tradicionais, como o e-mail, e outras mais
avançadas, como as ferramentas da Web 2.0. Por isso, o professor deve estar atento e conhecer
as funcionalidades e potencialidades desses recursos para que se possa elaborar um bom
planejamento das suas práticas educativas, de maneira que favoreça a aprendizagem dos alunos
(LONG; BAECKER, 1997).

Agora, vamos conhecer algumas ferramentas de Internet mais básicas e tradicionais e suas
possibilidades de uso pedagógico com base no artigo de autoria de Long e Baecker (1997),
intitulado A Taxonomy of Internet Communication Tools.

Ferramentas básicas da internet

Mecanismos de busca

A internet pode ser considerada como um grande repositório de informações. Por isso, torna-se
extremamente necessário que estas estejam sistematicamente organizadas para que as pessoas
possam buscá-las, selecioná-las e consultá-las.

77
AULA 5 • Uso dos recursos digitais na Educação

Para localizar essas informações, faz-se necessário o uso de ferramentas denominadas mecanismos
de busca. Essas ferramentas realizam a busca sistemática de informações, de acordo com palavras-
chave digitadas pelo usuário. Os resultados da busca são apresentados de forma organizada, no
formato de links, com o intuito de garantir que os primeiros resultados sejam os que possuem
maior relevância.

Atualmente, é possível encontrar um grande número de


Saiba mais
mecanismos de busca, tais como Yahoo! Search (<http://
br.yahoo.com>); Google (<http://www.google.com.br>); e A Empresa Google também oferece
Bing (<http://www.bing.com>). O Google é o mecanismo mecanismos de busca temáticos que
permitem a localização de temas específicos:
de busca mais utilizado.
Google Acadêmico (http://scholar.google.com.
br) voltado para busca de artigos, teses, livros,
Correio eletrônico ou e-mail
dissertações e questões relacionadas ao
mundo acadêmico;
O correio eletrônico, também conhecido como e-mail
Google - pesquisa de imagens (http://images.
ou webmails, é uma das ferramentas mais antigas de
google.com.br), que permite a pesquisa de
comunicação da Internet. Essa ferramenta possibilita imagens disponibilizadas na Internet;
a elaboração de mensagens de texto que podem ser
Google - pesquisa de livros (http://books.
enviadas para uma única pessoa ou para um grupo de google.com.br), que é voltado para pesquisa
pessoas. Junto a essas mensagens, podem ser vinculados de livros online e informações sobre as obras.

diferentes arquivos no formato de texto, imagens, sons


e vídeo.

Existem diferentes ferramentas de e-mail baseadas na Web. Elas podem ser pagas ou gratuitas.
Os webmails gratuitos mais utilizados são o Gmail (<http://gmail.com>) e o Yahoo Mail (<http://
br.mail.yahoo.com>).

Além de permitir a troca de mensagens, o webmail pode ser usado para a criação de listas de
discussão. As listas de discussão possibilitam a troca de mensagens de temáticas específicas entre
os membros de determinado grupo de pessoas. As mensagens trocadas na lista de discussão
são enviadas diretamente ao correio eletrônico (e-mail) dos participantes dessa lista. Para ter
acesso às mensagens, é necessário que se esteja devidamente cadastrado na lista de discussão.

Atualmente, existem diferentes ferramentas gratuitas para a criação das listas de discussão. Entre
elas, podemos citar Grupos do Google (<http://groups.google. com.br>); Yahoo! Grupos (<http://
br.groups.yahoo.com>) e Grupos (<http://www.grupos.com.br>).

Programa de Mensagem Instantânea

O programa de Mensagem Instantânea é uma ferramenta de comunicação que permite a troca de


mensagens de texto, áudio e vídeo em tempo real. Por meio desse recurso da Internet, é possível

78
Uso dos recursos digitais na Educação • AULA 5

a realização de videoconferência com duas ou mais pessoas. Uma das ferramentas de Mensagem
Instantânea mais conhecida é o Skype.

As possibilidades de utilização das ferramentas básicas da Internet no contexto educacional são


bastante variadas. Os webmails podem ser utilizados para que professores e alunos realizem uma
conversa informal, troquem informações e esclareçam dúvidas sobre o conteúdo do curso. Os
programas de mensagem instantânea permitem a realização de conversas informais, troca de
informações, esclarecimento de dúvidas e discussão de temáticas relacionadas ao conteúdo do
curso, a apresentação de atividades e seminários. Por sua vez, as listas de discussão servem para
criar uma conexão permanente entre professores e alunos. Elas podem ser usadas para levar
informações importantes para o grupo, referências bibliográficas, orientação sobre as atividades
a serem realizadas, para tirar dúvidas, trocar sugestões, enviar textos e trabalhos.

Ferramentas da web 2.0

A primeira menção ao termo Web 2.0 ocorreu no ano de 2004,


Saiba mais
durante Conferência Internacional promovida pela O’Reilly
Media Inc., que possui como principal objetivo a discussão
:: O’Reilly Media Inc:
do futuro da Internet. De acordo com o pesquisador Alex
Primo (2006), a Web 2.0 pode ser definida como: Editora norte-americana de livros criada
por Tim O’Reilly, além da publicação
A segunda geração de serviços online de livros, desenvolve sites de Web,

e caracteriza-se por potencializar as organiza congressos. Seus trabalhos são


dedicados à área de computação.
formas de publicação, compartilhamento
Fonte: Wikipedia
e organização de informações, além de
ampliar os espaços para a interação entre
os participantes do processo. A Web 2.0 refere-se não apenas a uma combinação
de técnicas informáticas, mas também a um determinado período tecnológico, a
um conjunto de novas estratégias mercadológicas e a processos de comunicação
mediados pelo computador (PRIMO, 2006, p. 1).

Anibal De la Torre (2006) também apresenta uma outra conceituação que nos ajuda a compreender
o que significa o termo Web 2.0. Segundo esse autor:

A Web 2.0 é uma forma de compreender a Internet que, com a ajuda de novas
ferramentas e tecnologias, promove a organização e o fluxo das informações
dependendo do comportamento das pessoas que a acessam, permitindo não
somente um acesso muito mais fácil e centralizado dos conteúdos, mas, também,
a participação do usuário tanto na classificação quanto na construção desses
conteúdos, por meio de ferramentas mais fáceis e intuitivas de serem utilizadas
(DE LA TORRE, 2006, s/p).

79
AULA 5 • Uso dos recursos digitais na Educação

Após a leitura das conceituações sobre a Web 2.0, podemos perceber que ela é constituída de
quatro características básicas: autoria, compartilhamento, interação e colaboração.

A autoria se refere às facilidades oferecidas pelas novas ferramentas para a publicação de


conteúdos na Internet, permitindo que as pessoas criem os seus próprios espaços digitais e sejam
provedoras de informações. O compartilhamento diz respeito às possibilidades que a Web 2.0
oferece para facilitar o compartilhamento de diferentes tipos de mídia, tais como documentos,
vídeos, imagens e arquivos de sons. A interação, por seu turno, tem relação com os recursos
presentes nessas ferramentas que favorecem a comunicação e relacionamento por meio da
Internet, possibilitando a criação de redes sociais virtuais. Por sua vez, a colaboração se refere
às potencialidades ofertadas pelas novas tecnologias digitais para a criação de parcerias com
objetivo de facilitar a construção conjunta de conteúdos e o desenvolvimento de projetos.

Segundo O’Reilly (2005), as possibilidades oferecidas


Saiba mais
pela Web 2.0 para a construção de conteúdo, o
compartilhamento de mídias, a comunicação entre Inteligência coletiva é um conceito surgido
pessoas e o desenvolvimento de atividades colaborativas a partir dos debates promovidos por Pierre
Lévy sobre as tecnologias da inteligência,
são fatores-chave que contribuem para a construção da
caracterizado por um novo tipo de pensamento
Inteligência Coletiva. sustentado por conexões sociais que são viáveis
mediante a utilização das redes abertas de
Agora que já compreendemos o conceito da Web computação da Internet.
2.0, vamos conhecer algumas das suas principais Fonte: Wikipedia

ferramentas.

Weblogs

O weblog, também conhecido como blog, é uma página da web que permite a inserção de
informações (chamada de postagem ou post) que ficam armazenadas e visualizadas em ordem
cronológica inversa, isto é, as informações mais recentes são mostradas na frente das mais
antigas. Qualquer pessoa pode criar um weblog, pois não é necessário possuir conhecimentos
avançados de informática para a criação desse tipo de página web.

Um weblog pode ser criado para atender a objetivos variados. Você pode criar um blog para tratar
de assuntos de interesse pessoal, tais como filmes, artistas, poesias e séries de televisão. Eles
também podem ser utilizados para divulgar assuntos relacionados à política, servir de canal de
comunicação entre determinada empresa, seus colaboradores e clientes, e servir como ambiente
de aprendizagem. Quando os weblogs são utilizados no contexto educacional, eles recebem o
nome de Edublogs.

As informações postadas em um weblog podem ser de diferentes formatos: textos, imagens,


vídeos, slides e links para outras páginas web. Para cada informação postada, é criada, de forma
automática, uma área chamada de comentário que permite que as pessoas que visitam o blog

80
Uso dos recursos digitais na Educação • AULA 5

façam observações e considerações sobre o conteúdo apresentado. Permite-se, dessa maneira,


a interação entre as pessoas que acessam o weblog e o seu proprietário.

Aplicativos Online

Os aplicativos online são ferramentas semelhantes aos aplicativos comerciais, tais como os
Microsoft Word, Microsoft Excel e Microsoft Power Point. A diferença entre esses dois tipos
de aplicativos se deve somente ao fato de que os online não precisam estar instalados no seu
computador para serem utilizados. Para que você possa utilizar esses aplicativo, basta ter um
computador com acesso à Internet, já que todas as operações serão realizadas por meio do
programa que você, normalmente, utiliza para navegar na Web.

Um dos aplicativos online mais conhecidos atualmente é o Google Drive (https://drive.google.


com). Ele é de propriedade da empresa Google, sendo seu uso totalmente gratuito. O Google
Drive oferece um programa para edição de texto, criação de planilhas de cálculos, construção de
apresentação de slides, formulários online e programa de desenho, com interface (tela) semelhante
às dos programas da Microsoft.

Interface do Editor de Texto do Google Docs

Entre as inúmeras vantagens do Google Drive, podemos citar que não existe a necessidade de
armazenar os arquivos criados no seu computador, já que todos os materiais produzidos ficam
disponíveis na Internet e podem ser acessados a qualquer hora e em qualquer lugar. Exclui-se,
dessa forma, a necessidade de mídias de armazenamento como CDs e pendrives.

Além disso, cabe destacar que o Google Drive oferece um recurso que permite o compartilhamento
dos arquivos criados com diferentes pessoas, possibilitando, assim, a construção colaborativa
de documentos e arquivos.

81
AULA 5 • Uso dos recursos digitais na Educação

Ferramenta Wiki

O Wiki é uma página web que, diferente das páginas web comuns, possibilita que diversas
pessoas que estão separadas geograficamente construam de forma conjunta e colaborativa o
seu conteúdo. Tal possibilita permite que as pessoas que acessam esse tipo de página web sejam,
ao mesmo tempo, autores, editores e leitores do conteúdo disponibilizado. Isso quer dizer que,
quando você acessa uma página Wiki, além de ler as informações apresentadas, também tem a
possibilidade de inserir novas informações e/ou intervir nas já existentes.

Agora você deve estar perguntando: “Quem é responsável em garantir a qualidade e a idoneidade
das informações apresentadas nas páginas Wikis?” De acordo com Gomes (2006), os próprios
usuários da página Wiki supervisionam a produção do conteúdo. Além disso, o wiki possui
recurso que grava as últimas versões dos conteúdos inseridos (histórico da página), permitindo
a recuperação de informações, caso algum conteúdo tenha sido apagado acidentalmente ou por
alguma outra pessoa. Um exemplo de ferramenta Wiki é a Wikipédia, que funciona como uma
enciclopédia virtual construída colaborativamente.

Compartilhamento de arquivos

A ferramenta de compartilhamento de arquivos possui recursos


Sugestão de estudo
que permitem o armazenamento e o compartilhamento
gratuitos de arquivos multimídias. Vamos conhecer um pouco mais essas
ferramentas Multimedia Sharing?
Esses recursos ampliam as possibilidades de atuação das
FLICKR
pessoas na Internet, visto que as permitem criar e disponibilizar
http://www.flickr.com
vídeos, fotos e apresentação em slides. As ferramentas de
PICASA
compartilhamento de arquivos, geralmente, possuem área de
http://picasa.google.com.br
comentários, semelhante à dos weblogs, que permite que as
YOUTUBE
pessoas comentem e façam observações sobre imagens, vídeos
e slides disponibilizados. Elas ainda possibilitam a vinculação http://br.youtube.com

dos arquivos em outras ferramentas da Web 2.0, tais com os SLIDESHARE

weblogs e wikis. http://www.slideshare.net

As ferramentas de compartilhamento de arquivos mais


conhecidas são: SlideShare, YouTube e Flickr. O SlideShare é uma ferramenta online que funciona
como um repositório de slides de apresentações eletrônicas. No SlideShare, você poderá visualizar
e/ou disponibilizar slides que abordam diferentes assuntos e temáticas.

O YouTube é um repositório de vídeos, no qual você tem a possibilidade de assistir a diferentes


vídeos e disponibilizar vídeos de sua própria autoria. Outra ferramenta semelhante é o Google
Vídeo.

82
Uso dos recursos digitais na Educação • AULA 5

Por sua vez, o Flickr é o banco de imagens alimentado por diferentes pessoas. Nele, você pode
pesquisar e disponibilizar diversas imagens digitais. Outro banco de imagem bastante conhecido
é o Picasa.

Podcasts

Os recursos podcasts são arquivos de áudio sobre diversas


Saiba mais
temáticas, tais como músicas, opiniões sobre diferentes
assuntos, entrevistas e leituras de obras literárias. Esses
:: Windows:
arquivos de áudio geralmente estão no formato MP3 e podem
ser executados em qualquer computador pessoal ou em É um dos sistemas operacionais mais
populares do mercado.
qualquer dispositivo MP3-Player disponível no mercado.
Existem diferentes versões de
A criação desse tipo de recurso não é um processo muito sistemas operacionais Windows. A
primeira versão foi criada nos anos
complexo. Se você tiver interesse em produzir um podcast, será
90 pela Microsoft.
necessário um computador, um microfone e um programa de
gravação e edição de áudio, como o gravador de som presente
no Windows. Após a criação do podcast, é hora de disponibilizar o material na Internet, para
isso você pode utilizar diferentes ferramentas de compartilhamento, tais como o PodOmatic
(https://www.podomatic.com/).

Redes Sociais

As Redes Sociais são ferramentas que possuem como principal objetivo a criação de uma
rede de relacionamento ou uma comunidade virtual. Além disso, essas ferramentas permitem
o desenvolvimento de tarefas em grupo; a comunicação e a organização da informação; o
compartilhamento de ideias; o debate e a negociação das diferenças; e o registro da memória
coletiva de determinado grupo.

Uma das Redes Sociais mais utilizadas em todo o mundo é o Facebook. Atualmente, são mais
de 890 milhões de usuários cadastrados. O Brasil assume a terceira posição no ranking total de
usuários, ficando atrás dos Estados Unidos e da Índia.

Apesar de as redes de relacionamento apresentarem características que as diferenciam entre si,


a maioria delas permite a criação de uma página com informações pessoais e profissionais, o
compartilhamento de textos, imagens e vídeos, a criação e participação em comunidades e/ou
grupos e o envio e recebimento de informações e mensagens.

Como vimos anteriormente, a Web 2.0 é constituída de características básicas: autoria,


compartilhamento, interação e colaboração. Essas características fazem com que a aplicabilidade

83
AULA 5 • Uso dos recursos digitais na Educação

de suas ferramentas de comunicação e informação no processo educacional tenha enfoque nas


seguintes vertentes:

»» favorece o compartilhamento e a difusão de informações junto à comunidade de


aprendizagem e ajuda os professores e estudantes a armazenarem e organizarem os
seus documentos acadêmicos;

»» facilita a publicação de informações, quando comparadas às mídias tradicionais, tais


como livros, revistas e periódicos, e o acesso às informações publicadas, colocando os
alunos não somente como consumidores, mas também como produtores de conteúdo;

»» oferece novas formas de indexação que auxiliam a recuperação de informação;

»» possibilita a realização de práticas educativas que valorizam a aprendizagem continuada


e o desenvolvimento do espírito criativo e inovador de alunos e professores;

»» contribui para o desenvolvimento das habilidades voltadas à reflexão, à investigação, ao


autoaprendizado, à negociação, ao compartilhamento de ideias e ao trabalho colaborativo.

Diante das possíveis aplicabilidades da Web 2.0 no contexto educacional, podemos perceber
que a utilização das ferramentas no processo de aprendizagem pode trazer contribuições
significativas à formação, uma vez que as suas ferramentas: favorecem a criação de comunidades
de aprendizagem, mediadas por tecnologias digitais, permitindo que os alunos realizem atividades
colaborativas e compartilhem recursos e conhecimento; proporcionam novas perspectivas para
o processo de aprendizagem por meio do envolvendo de diferentes sujeitos, professores, alunos e
profissionais de diferentes áreas de conhecimento, no processo de construção do conhecimento,
servem de apoio para consultas acadêmicas e capacitação de alunos que tenham restrição de
acesso aos centros acadêmicos.

As possibilidades de utilização das ferramentas da Web 2.0 no contexto educacional são bastante
variadas. O uso de weblogs como ferramenta pedagógica pode permitir a construção coletiva do
conhecimento e propiciar a aprendizagem ativa por meio da ampliação dos espaços de discussão,
permitindo a reflexão, a complementação de assuntos tratados na sala de aula, novas formas de
produção e compartilhamento de conhecimento. A utilização dos wikis e dos aplicativos online
em atividades de ensino permite criar uma nova relação dos alunos com a produção textual,
favorece a aprendizagem colaborativa e a construção cooperada do conhecimento.

Os vídeos existentes no YouTube podem ser utilizados para complementar os conteúdos


apresentados nos cursos. Os professores também podem produzir os seus próprios vídeos e
disponibilizá-los na ferramenta para os alunos. Além disso, pode-se, planejadas as atividades,
propor a produção de documentários e de pequenos filmes relacionadas às temáticas dos
cursos. As imagens presentes no Flickr podem ser utilizadas como material complementar para
exemplificar situações e nos estudos de caso. A ferramenta também pode ser utilizada para

84
Uso dos recursos digitais na Educação • AULA 5

que os alunos disponibilizem fotos tiradas durantes as atividades de campo. As apresentações


existentes no SlideShare podem ser utilizadas como material de apoio para as aulas. Além disso,
ele pode ser utilizado como forma de divulgação e compartilhamento das atividades realizadas
pelos alunos. Os podcasts trazem ganhos significativos para a educação e podem ser utilizados,
por exemplo, para revisão dos conteúdos e complementação das leituras dos livros e dos assuntos
tratados no curso.

As Redes Sociais podem ser utilizadas para a construção de comunidades de aprendizagem que
favoreçam a integração do grupo, a discussão de temáticas referentes ao curso e a realização de
trabalhos colaborativos.

Como vimos até este momento, as ferramentas de comunicação e informação da Web 2.0 trazem
contribuições significativas e favorecem novas formas de aprendizagem. Entretanto, devemos
observar que essas ferramentas são meios utilizados para facilitar e promover a construção do
conhecimento. Por isso, durante o desenvolvimento de atividades educacionais, é necessário ter
consciência de que os objetivos educacionais e as ferramentas da Web 2.0 serão apenas uma das
diferentes estratégias existentes para que objetivos que foram definidos a priori sejam atingidos.

Objetos de aprendizagem e bibliotecas digitais

Atualmente, na Internet podemos encontrar uma variedade


Sugestão de estudo
de recursos, tais como vídeos, imagens, textos e animações,
que podem ser utilizados no desenvolvimento de atividades Quer saber mais sobre Objetos de
de aprendizagem. Entre essa variedade, encontramos aqueles Aprendizagem?

recursos que denominamos objetos de aprendizagem. Você já Leia o livro, organizado por Carmem

ouviu falar em Objeto de aprendizagem? Não?! Então, vamos Lúcia Prata, intitulado “Objetos de
aprendizagem: uma proposta de
defini-lo.
recurso pedagógico”.

Os objetos de aprendizagem são recursos digitais ou não digitais


desenvolvidos para serem utilizados em diferentes processos educacionais mediados por suporte
tecnológico.Esses objetos são criados visando a facilitar o processo de aquisição do conhecimento
e podem ser usados para os mais variados propósitos, como, por exemplo, ajudar os alunos a
compreenderem determinado fenômeno abstrato por meio de representação visual ou permitir
um primeiro contato deles com os conteúdos a serem tratados no curso. Uma característica
interessante dos Objetos de Aprendizagem é que eles podem ser reutilizados, remixados ou
referenciados em outros cursos e contextos educacionais, além daquele para o qual foram criados
originalmente.

Normalmente, os objetos de aprendizagem possuem descritores, também conhecidos como


metadados ou tags, utilizados para identificar algumas informações, tais quais autoria, assunto

85
AULA 5 • Uso dos recursos digitais na Educação

relacionado, regras de uso, propriedade intelectual e contexto de utilização e sugestões de uso. Esses
descritores são extremamente úteis, pois facilitam a localização e busca dos objetos e auxiliam o
professor no planejamento do curso, na criação dos materiais de estudo e no desenvolvimento
das atividades educativas.

Você pode criar os seus próprios objetos de aprendizagem, sabia?! Entretanto, cabe destacar
que já existem na Internet diferentes bancos de dados públicos ou privados, conhecidos como
repositórios educacionais, que armazenam e disponibilizam objetos de aprendizagem de alta
qualidade prontos para serem utilizados em diferentes contextos de aprendizagem. Os quadros a
seguir apresentam alguns exemplos de repositórios educacionais que disponibilizam gratuitamente
Objetos de Aprendizagem em português.

REPOSITÓRIOS EDUCACIONAIS
Descrição Endereço
CESTA http://www.cinted.ufrgs.br/CESTA/

LUME – UFRGS http://www.lume.ufrgs.br/

PROATIVA http://www.proativa.vdl.ufc.br/

Portal do Professor http://portaldoprofessor.mec.gov.br/

Portal do Domínio Público http://www.dominiopublico.gov.br

Banco Internacional de Objetos Educacionais http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/

Banco Internacional de Objetos Educacional – Ministério da Educação (MEC)

Outro tipo de recurso digital interessante, que pode auxiliar você no planejamento e no
desenvolvimento de estratégias e atividades de aprendizagem, é a Biblioteca Digital.

As bibliotecas digitais, diferente das Bibliotecas convencionais, somente disponibilizam informação


digitalizada. A grande vantagem desse tipo de biblioteca é permitir que as pessoas acessem o seu
acervo remotamente, por meio de redes de computadores, como pela Internet.

86
Uso dos recursos digitais na Educação • AULA 5

É importante destacar que as Bibliotecas digitais são mais do que simples acervos de materiais
disponíveis para consulta. Elas são consideradas como um importante suporte para o
desenvolvimento de atividades educacionais devido à possibilidade de tornar o processo de
aprendizagem muito mais estimulante e interativo por meio de conteúdos, que abrangem
diferentes áreas do saber, disponibilizados em diferentes mídias, tais como texto, imagens,
vídeos, sons e animações.

A seguir, você terá acesso a algumas Bibliotecas digitais que disponibilizam material na língua
portuguesa.

BIBLIOTECAS DIGITAIS
Descrição Endereço
Biblioteca Virtual do Estudante de Língua Portuguesa http://www.bibvirt.futuro.usp.br/

Biblioteca do IBGE http://biblioteca.ibge.gov.br/

Revista Veja Acervo Digital http://veja.abril.com.br/acervodigital/

Biblioteca Digital Paulo Freire http://www.paulofreire.ufpb.br/paulofreire/principal.jsp

Biblioteca Digital Mundial http://www.wdl.org/pt/

Biblioteca Mundial Digital

Não poderíamos finalizar esta aula sobre o uso dos recursos digitais na Educação sem falarmos
um pouco sobre o papel do professor nas práticas educativas que usam as ferramentas de
informática e a Internet.

Dentro desse contexto, o professor deve assumir o papel de facilitador do processo de construção
do conhecimento. Ele tem de sempre desafiar e estimular o aluno, visto ser impossível um software
por si só criar condições para que se aprenda. Além de estar preparado para utilizar o computador
e a Internet, o professor precisa ter condições de integrar os diferentes recursos digitais nas
práticas educativas e saber utilizá-los para favorecimento da aprendizagem (VALENTE, 2002).

87
AULA 5 • Uso dos recursos digitais na Educação

É necessário que o professor tenha consciência de que não é a informática que vai fazer o aluno
compreender determinado conceito. A compreensão depende de como o computador é utilizado
e dos desafios propostos ao aluno para se chegar à solução de um problema. A inserção da
informática no ambiente escolar não depende somente da compra de equipamentos sofisticados
e da montagem de salas de informática. Ela é muito mais complexa e possui enormes desafios,
como a formação docente (VALENTE, 2002).

RESUMO

Vimos até agora:

»» existem diferentes formas de utilização da informática no contexto educacional:


informática aplicada à educação, informática na educação, informática educacional e
informática educativa;

»» o uso pedagógico da informática pode ser feito para atingir dois objetivos. O primeiro está
voltado à alfabetização tecnológica (objeto de ensino); o segundo, ao desenvolvimento de
atividades direcionadas para a aprendizagem dos conteúdos das disciplinas (ferramenta
de ensino);

»» o uso da Internet no contexto escolar favorece a busca, a análise e a discussão de


informações por alunos e professores, propiciando um processo de construção de
conhecimento bastante rico e significativo;

»» a adoção da Internet nas práticas educativas pode modificar significativamente o


processo educativo por meio da ampliação da sala de aula e da criação de novos espaços
de ensino-aprendizagem na educação presencial;

»» a evolução das tecnologias voltadas ao desenvolvimento da informática fez surgir uma


nova geração de ferramentas de comunicação da Internet denominada de Web 2.0. Essas
novas ferramentas aumentaram as formas de interação, as possibilidades de publicação,
de compartilhamento e de organização de conteúdo;

»» não é o uso intensivo do Computador e da Internet que irá revolucionar o processo de


ensino-aprendizagem, mas, sim, o planejamento adequado de práticas pedagógicas
baseadas nas TICs, que favoreça a aprendizagem cooperativa, o diálogo e a participação
ativa de alunos e professores;

»» não é a informática por si só que irá fazer que determinado conceito seja compreendido.
A compreensão de um conceito depende de como o computador é utilizado e dos desafios
propostos aos alunos para se chegar à solução de um problema.

88
Educação a distância
Aula
6
Apresentação

A Educação a Distância é um tema indispensável na atual formação do educador. Essa modalidade


de ensino amplia-se significativamente no cenário nacional e internacional e todo profissional
que atua na área de educação precisa estar preparado para os desafios e as novidades sugeridas
nesse novo contexto educacional. Além disso, a EAD é um campo de experiências que, mediante a
integração de mídias que propõe, colabora criativamente para toda forma de educação, inclusive
a presencial. Nesta aula, analisaremos as definições e características da Educação a Distância,
um pouco de sua história, bem como o perfil de alunos e professores nesta modalidade de
ensino e aprendizagem. Vamos focalizar nossos estudos ainda nas características do professor
na EAD, seus desafios e potencialidades. A partir desse novo perfil do professor, discutiremos
as características da Educação Online, como âmbito específico da Educação a Distância
mediada pela interatividade da rede mundial de computadores, a Internet. Falaremos sobre os
Ambientes Virtuais de Aprendizagem: “território” virtual das comunidades de aprendizagem na
Educação Online. Por fim, apresentaremos a teoria do Design Instrucional, técnica de criação e
desenvolvimento de cursos online que pode nos ajudar no aprimoramento de nossas técnicas
didáticas com ou sem o uso de tecnologias.

Objetivos

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

»» compreender a Educação a Distância, suas características e definições;

»» refletir sobre a história da EAD, analisando o perfil de cada uma de suas gerações e a
influência dessa história na atualidade da EAD;

»» discutir o perfil de alunos e professores na EAD, apontando as novas potencialidades


educativas desta modalidade;

»» analisar cuidadosamente as novas competências do Professor na Educação a Distância;

89
AULA 6 • Educação a distância

»» apresentar as características da Educação Online e seu potencial no cenário educativo


contemporâneo;

»» analisar as características e ferramentas dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem;

»» definir Design Instrucional, sua importância na Educação Online e sua influência para
toda forma de planejamento educativo.

Sobre a educação a distância

Falar sobre a Educação a Distância dentro de um curso a distância é uma experiência muito
especial. Nesta aula, discutiremos uma modalidade de ensino e de aprendizagem que você
vivencia em seu dia a dia. Com isso, este estudo se fará ainda mais rico e interessante.

Por que falar sobre Educação a distância em um curso


Atenção
de Licenciatura? A EAD vem se colocando no cenário
educacional de diversas formas e torna-se cada vez mais PORTARIA Nº 4.059, DE 10 DE
uma ferramenta indispensável ao educador na sociedade DEZEMBRO DE 2004

contemporânea. Vamos analisar alguns desses aspectos (DOU de 13/12/2004, Seção 1, p. 34)

que fazem o estudo da EAD relevante na formação docente: Art. 1o. As instituições de ensino
superior poderão introduzir, na
os cursos de nível superior oferecidos a distância vêm organização pedagógica e curricular de

crescendo significativamente, tanto em nível de pós- seus cursos superiores reconhecidos,


a oferta de disciplinas integrantes
graduação quanto de graduação. A orientação pedagógica
do currículo que utilizem modalidade
desses cursos é indispensável e, para tal, são necessários semipresencial, com base no art. 81
docentes capacitados para essa função; da Lei no 9.394, de 1996, e no disposto
nesta Portaria.

mesmo nas graduações presenciais, 20% das disciplinas (...)


do curso podem ser oferecidas na modalidade a distância. § 2o. Poderão ser ofertadas as
Assim sendo, cada vez mais os professores universitários, disciplinas referidas no caput, integral

mesmo de cursos presenciais, precisam ter ciência dos ou parcialmente, desde que essa
oferta não ultrapasse 20% (vinte por
fundamentos da EAD. Você, como educador(a), poderá
cento) da carga horária total do curso.
ser professor(a) universitário(a) em disciplinas online ou
responsável pela capacitação dessa equipe em EAD;

a educação corporativa (em empresas) faz uso extensivo de práticas a distância atualmente
em sua metodologia. A necessidade de planejamento de cursos a distância para treinamento e
desenvolvimento de funcionários vem ampliando significativamente a presença de educadores
nos contextos empresariais;

o desenvolvimento de materiais didáticos para EAD (seja no campo acadêmico ou corporativo)


exige a participação de professores capazes de adaptar conteúdos às diferentes linguagens

90
Educação a distância • AULA 6

didáticas das mídias educativas: impresso, audiovisual e digital. Sendo assim, o educador pode
ter um papel fundamental como desenvolvedor de conteúdos para EAD, compreendendo e
fazendo uso crítico e responsável das diferentes linguagens midiáticas, do texto impresso, aos
vídeos e à internet.

Essas são algumas das razões pelas quais o estudo da EAD é fundamental, atualmente, na
formação docente. Para compreender melhor essa metodologia, vamos analisar suas definições,
características e histórico.

Definições e características da educação a distância

Segundo Moore (2007), a ideia básica de educação a distância é muito simples: alunos e
professores estão em locais diferentes durante todo ou grande parte do tempo em que aprendem e
ensinam. Estando em locais distintos, eles dependem de algum tipo de tecnologia para transmitir
informações e lhes proporcionar um meio para interagir.

Assim, podemos identificar como características centrais da EAD (MAIA; MATTAR, 2007):

Separação no espaço:

Em EAD, ocorre uma separação geográfica e espacial entre o aluno e o professor, e mesmo entre
os próprios alunos, ou seja, eles não estão presentes no mesmo lugar, como no caso do ensino
tradicional. A EAD prescinde, portanto, da presença física em um local para que ocorra a educação.
Em muitos casos, a EAD é mesclada com encontros presenciais.

Separação no tempo: Saiba mais

Além da separação física, alunos e professores


também estão separados no tempo na EAD. Existem :: Atividades Síncronas e Assíncronas:
algumas atividades síncronas, ou seja, em que ATIVIDADES SÍNCRONAS: alunos e professores
interagem em tempo real.
professores e alunos precisam estar conectados na
mesma hora, como no caso dos chats, por exemplo. ATIVIDADES ASSÍNCRONAS: alunos e professores
fazem suas ações em momentos diferentes.
No entanto, na maior parte dos casos, as atividades
em EAD são assíncronas, ou seja, professores e
alunos estão separados no tempo. Esse é o caso do estudo individualizado dos conteúdos, da
realização de exercícios, entre outras.

Tecnologias da comunicação:

Para superar a distância entre alunos e professores, no tempo e no espaço, a EAD utiliza-se de
diversas ferramentas de comunicação. A relação entre alunos e professores, portanto, passa a ser

91
AULA 6 • Educação a distância

mediada pela tecnologia. Com isso, podem-se desenvolver projetos de EAD com vários suportes,
por exemplo, telefone, rádio, áudio, vídeo, CD, televisão, e-mail, tecnologias de telecomunicações
interativas, grupos de discussão na internet. O que mudou com as novas mídias é que alunos e
professores têm a possibilidade de interação, e não apenas de recepção de conteúdos.

Vamos analisar outra definição de EAD?

Podemos perceber, por conseguinte, que a Educação a Distância envolve aspectos relacionados a:

»» planejamento educacional;

»» didática;

»» tecnologias educacionais;

»» gestão educacional.

Sendo assim, a EAD coloca-se como uma prática pedagógica que se relaciona aos fundamentos
de toda prática educacional. Mas será que atuar na EAD significa adaptar os métodos presenciais
à metodologia a distância?

Por um lado, como nossa herança é toda do ensino presencial, muitas adaptações são feitas,
mas, quando nos inserimos mais profundamente na EAD, percebemos que essa modalidade de
ensino e aprendizagem tem características próprias que exigem métodos novos e não apenas
adaptações.

O curioso nessa relação é que esse circuito acaba ganhando novas formas: se, inicialmente,
o ensino presencial influenciava a EAD, muitos educadores relatam o fato de que, após suas

92
Educação a distância • AULA 6

experiências na EAD, suas práticas no ensino presencial foram modificadas por novos paradigmas
aprendidos com a Educação a Distância. Você já havia pensado nisso?

Os métodos na EAD não são novos. Já tem uma história para contar. Vamos conhecer um pouco
mais dessa trajetória da Educação a Distância.

História da EAD

A EAD evoluiu ao longo de diversas gerações. Diferentes autores dividem a história da EAD em
quantidades diferentes de gerações. Para Moore (2007), existiram cinco gerações da Educação a
Distância, assim representadas:

Maia e Mattar (2007) condensam a história da


Saiba mais
EAD em três gerações: a primeira dos cursos por
correspondência, a segunda caracterizada pelas novas Neste momento histórico, a EAD foi um caminho
mídias e universidades abertas (reunindo a 2ª, a 3ª de inclusão das mulheres no cenário dos estudos,
visto que poderiam agora estudar em casa.
e a 4ª gerações de Moore) e a terceira a geração da
EAD online. Elas tiveram papel importante na história da
Educação a Distância. Uma líder notável neste
contexto foi Anna Eliot Ticknor que, em 1873,
Vamos adotar como fio condutor de nossa análise a
criou uma das primeiras escolas de estudo em
divisão de períodos feita por Maia e Mattar, destacando casa, a Society to Encourage Studies at Home.
os elementos centrais da história da EAD.

Primeira geração:

Os cursos “por correspondência” datam da segunda metade do século XIX. Tornaram-se possíveis
em função do desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação (como trens e correio).

93
AULA 6 • Educação a distância

De acordo com Moore (2007), os serviços postais baratos e confiáveis e a grande expansão das
redes ferroviárias impulsionaram o desenvolvimento desse tipo de curso. Ainda de acordo com
esse autor, o motivo principal para os primeiros educadores por correspondência era a visão de
usar tecnologia para chegar até aqueles que de outro modo não poderiam se beneficiar dela.

Segunda geração: Saiba mais

Novas mídias e universidades abertas. Maia


e Mattar (2007) destacam nesta geração da :: O que é a Universidade Aberta do Brasil?
EAD o acréscimo de novas mídias, como a É o nome dado ao projeto criado pelo Ministério da
Educação, em 2005, no âmbito do Fórum das Estatais pela
televisão, o rádio, as fitas de áudio e vídeo
Educação, para a articulação e a integração experimental de
e o telefone. Nesse contexto de mídias um sistema nacional de educação superior.
diversificadas voltadas para a Educação, foi
Esse sistema será formado por instituições públicas
criado o modelo da Universidade Aberta de ensino superior, as quais levarão o ensino superior
de Ensino a Distância. A Open University público de qualidade aos municípios brasileiros que
não têm oferta ou cujos cursos ofertados não são
britânica, fundada em 1969, serviu de modelo
suficientes para atender a todos os cidadãos.
para esse trabalho de formação em nível
superior por meio do ensino a distância,
utilizando-se intensamente de rádio, TV, vídeos, fitas cassetes e centros de estudo por meio dos
quais se realizaram diversas experiências pedagógicas (MAIA; MATTAR, 2007).

Moore (2007) destaca ainda como marco da EAD o uso da teleconferência (considerada por
ele uma geração à parte na EAD). Segundo esse autor, a educação a distância que surgiu nos
EUA, nos anos de 1980, era baseada na tecnologia da teleconferência e, portanto, era elaborada
normalmente para o uso de grupos. Isso atraiu um número maior de educadores e formuladores
de políticas por ser uma aproximação mais adequada da visão tradicional da educação como
algo que ocorre nas classes, ao contrário dos modelos por correspondência ou da universidade
aberta, que eram direcionados a pessoas que aprendem sozinhas, geralmente pelo estudo em
casa. Essa tecnologia evoluiu gradativamente. De início, a comunicação era apenas por áudio ou
áudio e imagem de forma bidirecional (apenas entre dois pontos) e com interatividade restrita.
Chegou-se, na era das tecnologias digitais, ao modelo da videoconferência interativa e com
multipontos, hoje amplamente utilizada tanto no contexto educacional quanto corporativo.

Terceira geração:

EAD online – A terceira geração da EAD é marcada pelo desenvolvimento das tecnologias de
informação e comunicação. Com o desenvolvimento da internet, surge um novo território para
a educação, o espaço virtual da aprendizagem, digital, baseado na rede (MAIA; MATTAR, 2007).
Para alguns educadores, a EAD online redefine as fronteiras desta educação que não mais deveria
ser denominada “a distância”. A interatividade da internet aproxima tanto alunos e professores
que a ideia de “separação no espaço e no tempo” pode ser questionada. A Educação Online

94
Educação a distância • AULA 6

acontece em um espaço virtual comum, o ciberespaço, e suas ações se realizam em um mesmo


tempo: o “tempo real”. Sendo assim, de que “distância” estaríamos falando?

Alunos e professores na Educação a Distância

Cada modelo educacional pressupõe uma relação professor–aluno. Na educação tradicional, por
exemplo, o professor ocupa a posição de detentor absoluto do saber e o aluno de “receptor” passivo
do saber desse professor. Na educação construtivista, alunos e professores constroem coletivamente
saberes oriundos de situações contextualizadas e a partir de contextos problematizadores. Assim
sendo, ocupam diferentes posições na relação de ensino e aprendizagem, mas sem a assimetria
radical do ensino tradicional.

E na EAD? Como pensar as características de alunos e professores, bem como sua relação? Vamos
começar pensando o aluno na EAD.

Aluno na EAD

Estudar a distância exige do aluno atitudes diferentes daquelas desenvolvidas para ser aluno
presencial. Na EAD, autonomia e autogestão são palavras-chave. Esse discente deve conduzir sua
aprendizagem com firmeza e, ao mesmo tempo, de maneira autônoma (individual) e colaborativa
(coletiva). Esse é o seu desafio. O aluno a distância convive, portanto, com uma dupla sensação:
por um lado, um sentimento de solidão e isolamento, pela ausência do cotidiano presencial na
sala de aula; por outro, uma extrema proximidade com seus professores/tutores, em função da
mediação das tecnologias de comunicação que aproximam docentes e discentes nos mais variados
momentos. Essa outra forma de proximidade, bem como a possibilidade de contato mediado por
tecnologias (principalmente as ferramentas da internet), faz com que os alunos a distância por
vezes apresentem muitas demandas de contato via e-mail e telefone, encaminhando mensagens
de ordens diversas e, em geral, com tom de urgência. O “tempo real” da mediação tecnológica
digital produz alunos que esperam atendimento também em tempo real.

Vamos destacar as características desse aluno na EAD:

1. nesta modalidade de ensino, o aluno não tem uma relação geográfica necessária com a
instituição que oferece o curso. Ele pode viver em outra cidade, outro estado, ou mesmo
em outro país, diferente daquele no qual se localiza a instituição que oferece o curso
que ele está realizando;

2. nesse sentido, o aluno a distância pode ser pensando como um aluno transnacional ou
transespacial. Parece ficção científica? Pare para pensar: o aluno que estuda a distância
abre possibilidades de estudo em diferentes localidades geográficas, mesmo sem sair do
lugar. “A EAD traz novas possibilidades e oportunidades de aprendizagem para os alunos,

95
AULA 6 • Educação a distância

independentemente de sua localização geográfica ou dos horários em que possam estar


disponíveis para frequentar um curso” (MAIA; MATTAR, 2007, p. 83);

3. o aluno a distância deve ser versátil em suas


formas de aprender. No ensino presencial, Atenção

condicionamos a ideia de aprender à presença na Você se lembra da definição de hipertexto


sala de aula e à escuta da exposição do professor. que vimos na aula sobre recursos impressos
O aluno a distância aprende lendo, participando na educação? Em caso negativo, volte a essa
aula e reveja o conceito.
de chats e fóruns, assistindo a vídeos, navegando
na internet, conversando com colegas de turma,
ou seja, a aprendizagem do aluno a distância é hipertextual, repleta de links e conexões
entre linguagens midiáticas e saberes;

4. como apontado anteriormente, o aluno a distância deve ter autonomia e independência.


Ele é o principal responsável pelo seu processo de ensino e aprendizagem e disposto à
autoaprendizagem. O estudo, na EAD, é autoadministrado e automonitorado por um
aprendiz autônomo (MAIA; MATTAR, 2007);

5. ao mesmo tempo em que estuda com autonomia, o aluno a distância deve trabalhar
colaborativamente, elemento indispensável à aprendizagem. A interação entre alunos
e professores pode acontecer por meio de diversas ferramentas: e-mails, chats, fóruns,
encontros presenciais de grupos (quando possível), bate-papo online, entre outras.
O aluno a distância deve compreender que ele é responsável pela construção das
comunidades de aprendizagem de que participa e deve participar ativamente;

6. por fim, destacamos como elemento fundamental na EAD o gerenciamento do tempo por
parte do aluno. É essencial ter um plano de horários de estudo que seja bem distribuído.
É necessário que o aluno a distância se organize. Ao contrário do que muitas pessoas
pensam, o ensino a distância toma mais tempo do que os cursos presenciais. Deve-se
procurar evitar a sobrecarga a partir de um programa que inclua tempo de estudo,
folgas e lazer.

Professor na EAD

Assim como o aluno, o professor também deve assumir novos papéis na EAD. Para algumas
pessoas, a EAD representa uma “ameaça” à figura do professor, como se nela os professores
viessem a ser substituídos por máquinas ou cursos pré-programados. “No limite da economia
com que sonham os economistas da educação, a atividade do professor poderia ser desempenhada
por um software inteligente, sem a intervenção de um ser humano” (MAIA; MATTAR, 2007, p. 89).

No entanto, o que acontece no contexto da EAD é uma reformulação da função docente. Segundo
Moran (2005)8, o conceito de curso e de aula muda. Hoje, ainda, entendemos por aula um espaço

8 MORAN, José Manuel. O que é Educação a Distância. Texto publicado no site: <http://www.eca.usp.br/prof/moran/dist.htm>,
acesso em 29/08/2005.

96
Educação a distância • AULA 6

e um tempo determinados. Mas esse tempo e esse espaço serão cada vez mais flexíveis. Nesse
processo, afirma ainda Moran, o papel do professor vem sendo redimensionado. Na EAD, ser
professor significa poder ocupar diferentes lugares e funções no processo ensino-aprendizagem.
Vamos analisar alguns deles:

Especialista em tecnologia educacional:

Este profissional é responsável pela adequação de conteúdos, metodologias e tecnologias,


procurando desenvolver o instrumento tecnológico adequado às necessidades de professores e
alunos na construção de conhecimento voltado para um conteúdo específico. Suas ações podem
voltar-se para a utilização de diferentes mídias: impresso, audiovisual, informática e internet.

Designer instrucional ou designer didático: Atenção

Com sua prática voltada primordialmente para a educação Ainda nesta aula veremos com maiores
online (via internet), o designer instrucional planeja, detalhes o conceito de Design Instrucional.

estrutura e executa processos de ensino e aprendizagem


mediados por interfaces virtuais. Ele é responsável pelo “desenho” de todas as atividades
pedagógicas a serem desenvolvidas, desde o diagnóstico inicial das necessidades “instrucionais”,
até o desenvolvimento de métodos e avaliação de resultados.

Professor autor:

Nesta função, o docente cuida especificamente do desenvolvimento de conteúdo para a EAD,


fundamentalmente mediante a elaboração de material didático para essa modalidade. Atento à
didática própria da EAD, o professor autor deve desenvolver competências específicas voltadas
para cada mídia. Sendo assim, elaborar materiais didáticos impressos exige o desenvolvimento de
estruturas, linguagens e metodologias diferentes da elaboração de materiais didáticos audiovisuais
ou para internet. Cada mídia tem sua linguagem, e o professor autor deve interagir com essa
linguagem no desenvolvimento de seu conteúdo;

Tutor e/ou professor a distância:

Esta função docente é voltada ao acompanhamento cotidiano do aluno a distância. Podemos


apresentar três modelos de relação entre as funções e denominações de tutor e professor:

1. apenas TUTOR: quando um profissional especialista na área do curso (em geral, diferente
do professor autor) é convidado para acompanhar a turma de alunos em seu processo
de ensino e aprendizagem a distância. Neste caso, a nomenclatura “tutor” predomina
para todas as funções do docente a distância;

97
AULA 6 • Educação a distância

2. apenas PROFESSOR: mesmo caso acima, mas com a adoção do termo professor para
as funções docentes a distância;

3. PROFESSOR E TUTOR: neste caso, existe uma divisão de funções docentes:

›› PROFESSOR: especialista na área de conteúdo do curso. Pode ou não ser o professor


autor do material didático. Acompanha a disciplina, com ênfase nas dúvidas de
conteúdo dos alunos, procurando oferecer apoio acadêmico para as atividades do
curso;

›› TUTOR: pode não ser especialista na área do curso. Acompanha as ações do professor
como uma forma de “monitor”, promovendo a dinâmica do curso, incentivando
a pesquisa, garantindo a motivação dos alunos, a organização das atividades e o
cumprimento de prazos das ações pedagógicas de alunos e professores.

Atualmente, na maior parte das instituições, as funções de tutor e professor têm sido exercidas
através de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (Tutoria Online). De qualquer forma, além da
internet, todas as ferramentas de comunicação com o aluno podem ser utilizadas para essa
modalidade de acompanhamento discente: telefone, e-mail, correio, entre outras.

Uma das características, em geral, associadas à EAD é o fato de o professor ter deixado de ser
uma entidade individual para se tornar uma entidade coletiva (MAIA; MATTAR, 2007, p. 90).
O professor de cursos a distância pode ser considerado uma equipe, que incluiria o autor, um
técnico, um artista gráfico, o tutor, o monitor. Muito mais do que um professor, é uma instituição
que ensina a distância.

Essas modificações, entretanto, não decretam


Saiba mais
o fim da função do professor tampouco a
perda de seu emprego, mas, ao contrário,
:: Inteligência coletiva:
apresentam novos desafios e novas funções
a serem desempenhadas. Na verdade, novas É um conceito surgido a partir dos debates promovidos
por Pierre Lévy sobre as tecnologias da inteligência,
possibilidades de trabalho abrem-se para o
caracterizado por um novo tipo de pensamento sustentado
professor em EAD, justamente pelo fato de por conexões sociais que são viáveis, por exemplo, através
ele não exercer mais a sua profissão como da utilização das redes abertas de computação da Internet.
São também características da inteligência coletiva o uso
antigamente.
da interatividade, das comunidades virtuais, dos fóruns,
dos weblogs e wikis para construir e disseminar os saberes
Podemos redefinir as funções do professor
globais, baseados no acesso à informação democratizada e
na EAD por meio de duas ideias centrais: o sua constante atualização. Assim, as produções intelectuais
pedagogo torna-se dinamizador da inteligência não seriam apenas exclusivas de uma pessoa, país ou classe

coletiva e arquiteto cognitivo. Vamos pensar social isolada, mas dos coletivos constituídos por estas
redes de saberes, pessoas e máquinas.
nessas duas ideias?

98
Educação a distância • AULA 6

Como Dinamizador da Inteligência Coletiva, o professor é responsável pelo gerenciamento de


processos de construção cooperativa do saber, transformando grupos escolares heterogêneos em
comunidades inteligentes, flexíveis, autônomas e felizes, integrando as múltiplas competências
dos estudantes com base em diagnósticos permanentes.

Sendo assim, o docente na EAD tem por


Saiba mais
função pensar globalmente no processo de
aprendizagem, procurando agenciar pessoas,
:: Arquitetura Cognitiva
instituições e saberes em rede, de forma a
privilegiar a construção colaborativa e coletiva A arquitetura, em seu sentido tradicional, refere-se à arte
ou à técnica de projetar e edificar o ambiente habitado
do conhecimento.
pelo ser humano. Nesse sentido, a arquitetura trata da
organização do espaço e de seus elementos: em última
Enquanto Arquiteto Cognitivo, o educador é
instância, a arquitetura lidaria com qualquer problema de
um profissional capaz de traçar estratégias e agenciamento, organização, estética e ordenamento de
mapas de navegação que permitem ao aluno componentes em qualquer situação de arranjo espacial.

empreender, de forma autônoma e integrada, Pensando a arquitetura do ponto de vista da cognição,


uma arquitetura cognitiva se coloca como um processo
os próprios caminhos de construção do
de organização dos elementos da aprendizagem de
conhecimento em rede, assumindo, para isso,
forma estruturada, articulada e aberta para que o aluno
uma postura consciente de reflexão-na-ação seja capaz de desenhar seu processo de construção de
e fazendo o uso crítico das tecnologias como conhecimento da melhor forma para seu perfil cognitivo.

novos ambientes de aprendizagem.

O educador pensando como arquiteto cognitivo é, sobretudo, responsável pela criação de


modelos de aprendizagem criativos e interativos para os sujeitos que participam diretamente
desses processos.

Educação online

Nem todos os cursos na modalidade a distância


Sugestão de leitura
são online. Os cursos “por correspondência”
ainda atingem neste momento diversas Para saber mais sobre Educação online, leia SILVA, Marco.
populações no Brasil que não têm acesso à Sala de aula interativa. Rio de Janeiro: Quartet, 2002.

internet. No entanto, a internet revolucionou


diversos aspectos da EAD por inserir de maneira única e diferencial um grau de interatividade
nunca visto anteriormente na educação a distância. Marco Silva (2002), em seu estudo de destaque
na área, define interatividade como a possibilidade de diáologo, comunicação e troca entre
interlocutores humanos e máquinas, usuários e serviço e o assinante e a cabeça de rede. Além
disso, interatividade refere-se à possibilidade de agir e intervir sobre o programa e o conteúdo
(SILVA, 2002, p. 84).

99
AULA 6 • Educação a distância

Sendo assim, a interatividade pressupõe maior atividade do usuário do programa, e pode


ser medida pelo grau de intervenção que ele tem sobre a mídia que utiliza. Por exemplo: se
compararmos vídeos VHS com DVDs, percebemos que o segundo é mais “interativo”, pois
apresenta opções ao usuário, menus de navegação, acessos por diferentes cenas.

Entre todas as mídias, a internet é a que tem maior potencial de interatividade. O próprio conceito
de “navegação” implica a participação do usuário na definição de rotas de leitura e relação com
o conteúdo. Além disso, a internet permite comunicação entre usuários em tempo real ou de
forma assíncrona, tornando-se uma comunidade de trocas e interações entre pessoas através
das máquinas (ver Aula 1).

Um maior grau de interatividade implica também a bidirecionalidade da comunicação, ou seja,


usuários não só acessam informações na rede, mas criam e difundem essas informações tornando-
se emissores e não apenas receptores. Essa é a base da Educação Online: provocar a atividade
entre professores e alunos (interatividade) de forma que todos sejam agentes da construção de
conhecimento colaborativa com a qual estão envolvidos.

De acordo com Moran (apud SILVA, 2003, p. 39), pode-se definir Educação Online como o
conjunto de ações de ensino-aprendizagem desenvolvidas por meio de meios telemáticos,
como a Internet, a videoconferência e a teleconferência. A Educação Online abrange desde
cursos totalmente virtuais até cursos presenciais com atividades complementares fora da sala de
aula, pela Internet. Como ação complementar, a Educação Online já atinge cursos de educação
básica. Na modalidade mais virtual, a Educação Online predomina nos cursos de nível superior
(graduação e pós-graduação) e na Educação Corporativa.

Ainda de acordo com Moran (apud SILVA, 2003), com a educação online, os papéis do professor
multiplicam-se, diferenciam-se e complementam-se, exigindo uma grande capacidade de
adaptação e criatividade diante de novas situações, propostas, atividades. O professor online
precisa aprender a trabalhar com tecnologias sofisticadas e tecnologias simples; com Internet
de banda larga e com conexão lenta; com videoconferência multiponto e teleconferência; com
softwares de gerenciamento de cursos comerciais e softwares livres.

Demo (apud SILVA, 2003, p. 84) aponta algumas vantagens da Educação Online através da Internet,
por ele denominada “nova mídia”:

a. oferta de cursos em rede aberta, para socialização informal (sem certificação) da


informação;

b. oferta de cursos certificados, que mesclam presença física e virtual, primeiro no espaço
universitário e, depois, no espaço escolar;

c. a nova mídia detém poder enorme de motivação do aluno, porque pode proporcionar
ambientes mais atraentes e dinâmicos;

100
Educação a distância • AULA 6

d. a nova mídia oferece, também, a possibilidade de formação de grupos de estudo,


participação em eventos ou em processos de pesquisa, divulgação de textos próprios
e diálogo interdisciplinar, veiculação partilhada de resultados, dúvidas, soluções,
questionamentos, utilização de livrarias virtuais, abrindo caminhos alternativos de
aprendizagem autônoma;

e. os contatos eletrônicos facultam organizar cursos com mais liberdade e aproveitamento,


à medida que o professor pode distribuir tarefas com o objetivo de melhorar a qualidade
das sessões que exigem presença física;

f. muitas demandas importantes para a sociedade só podem ser atendidas a distância,


em particular a que se tem chamado de “educação permanente”. Assim, é possível
imprimir maior flexibilidade a tais oportunidades, de sorte a respeitar horários próprios,
disponibilidade de tempo, uso alternativo de lugares e espaços, e assim por diante;

g. a nova mídia poderia ser reforço substancial à “política social do conhecimento”, no


duplo sentido de acesso democratizado ao conhecimento disponível e sobretudo de
participação cada vez mais efetiva na engrenagem produtiva de conhecimento;

h. a nova mídia oferece materiais didáticos variados e sugestivos que melhoram a forma,
o modo de aprensentar, organizar e discutir conhecimentos em construção;

i. a nova mídia abriria alternativas de reconstrução do conhecimento, aliando ao texto o


mundo da imagem.

Os cursos online acontecem em ambientes virtuais preparados para a função de ensino e


aprendizagem. Esses ambientes possuem características próprias, as quais analisaremos agora
com mais cuidado.

Ambiente virtual de aprendizagem

O ambiente virtual de aprendizagem, também


Atenção
conhecido com AVA, é uma ferramenta de comunicação
e de informação projetada especialmente para mediar Ao consultar outras fontes bibliográficas, você
o processo de aprendizagem. O AVA é uma página web pode se deparar com o termo AVEA (Ambiente
Virtual de Ensino Aprendizagem).
que reúne, em um único local, diferentes recursos,
ferramentas e materiais que permitem a oferta de Alguns autores como Mazzardo (2004), citado
por De Bastos et al., fazem uso dessa termologia
informações de forma organizada e a interação entre
para ressaltar a importância da atuação do
os participantes do processo educativo (ALMEIDA, professor nestes ambientes, no que diz respeito
2003; DE BASTOS ET AL., 2005; TAROUCO; MEHLECKE, ao planejamento e à implementação das
atividades educativas.
2003).

101
AULA 6 • Educação a distância

A utilização dos AVAs em cursos na modalidade a distância pode trazer ganhos significativos ao
processo de construção do conhecimento, já que eles permitem a disponibilização de informações
em diferentes formatos (textos, imagens, sons e vídeo), ampliam as possibilidades de acesso fora
de horários estabelecidos e independentes das distâncias geográficas e criam novas possibilidades
de interação entre alunos, professores e tutores (ALMEIDA, 2003; TAROUCO; MEHLECKE, 2003).

Geralmente, esses ambientes apresentam uma variedade de ferramentas de comunicação e


informação síncronas e assíncronas, como, por exemplo, correio eletrônico, fóruns, bate-papo,
entre outras que podem ser utilizadas para promover a interação e a colaboração entre alunos,
tutores e professores (ALMEIDA, 2003). Segundo Villardi e Oliveira (2005), as ferramentas mais
comuns presentes na maioria dos AVAS são:

Ferramentas síncronas:
a. Sala de bate-papo: ferramenta semelhante às salas de bate-papo presentes na internet
que possibilita que alunos, professores e tutores se comuniquem em tempo real;

b. Programa de Mensagem Interno: ferramenta que permite identificação dos usuários que
estão conectados ao AVA e à comunicação entre eles. A funcionalidade deste recurso é
de forma semelhante aos programas de mensagem instantânea, como o Skype.

Ferramentas assíncronas:
a. Fórum de discussão: ferramenta que permite que se proponham temas para serem
debatidos por alunos, tutores e professores;

b. Mural: funciona como um quadro de aviso e geralmente é utilizado para enviar informações
sobre eventos importantes, como avaliações, prazo de entrega de atividades, datas dos
encontros virtuais ou presenciais, entre outros;

c. Correio eletrônico: ferramenta de comunicação, também conhecida por e-mail, é


utilizada para a troca de informações entre os alunos e a tutoria;

d. Perfil: é uma página web interna na qual cada aluno disponibiliza seus dados pessoais,
nome, telefone, formação, experiência profissional, entre outras. O perfil é utilizado para
que todos os participantes do processo de aprendizagem, mesmo estando separados
fisicamente, possam se conhecer;

e. Biblioteca: ferramenta que possibilita a disponibilização de materiais complementares


para os alunos. Geralmente, esses materiais podem ser inseridos tanto por professores
quanto por tutores;

102
Educação a distância • AULA 6

f. Ferramenta de upload: ferramenta que permite o envio de arquivos em diferentes


formatos, áudio, textos, imagens e vídeos. É utilizada, normalmente, para que alunos
possam encaminhar as atividades aos professores.

Além de ofertar diferentes ferramentas de


Atenção
comunicação e informações necessárias para
dinamizar as atividades educativas, os AVAs Existe no mercado uma grande variedade de AVAs,
oferecem recursos quer facilitam o gerenciamento cada um com suas características e peculiaridades:

dos cursos, no que diz respeito à gestão das »» AVAs gratuitos:

estratégias de comunicação, das participações a. Moodle


dos alunos, dos formadores (professores e tutores) b. AulaNet
e das avaliações (ALMEIDA, 2003). »» AVAs não gratuitos:

a. Blackboard
O uso dos ambientes virtuais de aprendizagem
não está restrito somente à Educação a Distância, b. Web Aula

eles também podem ser utilizados nos cursos


presenciais. Nesse caso, eles poderão ser empregados como instrumento de apoio para a realização
das atividades fora dos ambientes escolares e para a ampliação dos espaços de discussão e
interação (ALMEIDA, 2003).

As ferramentas da Educação Online exigem uma ação cuidadosa de planejamento. Criar um curso
nessa modalidade exige do professor competências específicas que vêm sendo pesquisadas sob
a nomenclatura de “Design Instrucional”. Em geral, aplicado ao planejamento de cursos online,
a abordagem do Design Instrucional é, sobretudo, uma técnica de planejamento educacional
que, como veremos, pode ser aplicada a toda forma de planejamento didático.

Design instrucional

Definimos Design Instrucional como a ação intencional e sistemática de ensino


que envolve o planejamento, o desenvolvimento e a aplicação de métodos,
técnicas, atividades, materiais, eventos e produtos educacionais em situações
didáticas específicas, a fim de promover, a partir dos princípios de aprendizagem
e instrução conhecidos, a aprendizagem humana. Em outras palavras, definimos
Design Instrucional como o processo (conjunto de atividades) de identificar um
problema (uma necessidade) de aprendizagem e desenhar, implementar e avaliar
uma solução para esse problema (FILATRO, 2008, p. 3).

O Design Instrucional fundamenta-se em diferentes campos do conhecimento (FILATRO, 2008):

1. Ciências humanas, em especial a psicologia do comportamento, a psicologia do


desenvolvimento humano, a psicologia social e a psicologia cognitiva;

103
AULA 6 • Educação a distância

2. Ciências da informação, que englobam as comunicações, as mídias audiovisuais, a


gestão da informação e a ciência da computação;

3. Ciências da administração, incluindo a abordagem sistêmica, a gestão de projetos e a


engenharia de produção.

Percebemos, portanto, que o profissional que faz um plano educacional baseado nos princípios
do Design Instrucional (DI) deve levar em consideração os princípios subjetivos do aprendiz,
a infraestrutura tecnológica de processamento da aprendizagem e a gestão pedagógica e
administrativa do projeto formulado.

Procurando esmiuçar a ideia do DI, podemos descrevê-lo a partir das seguintes etapas:

Planejamento e análise

Toda ação educativa baseada no DI parte do levantamento das necessidades educativas específicas
do público-alvo. Essa é a etapa do diagnóstico: o que os aprendizes já sabem? O que precisam/
desejam saber? Ou seja, qual o ponto de partida do processo de ensino e aprendizagem? Sendo
assim, percebemos que todo processo desenvolvido com base no DI é contextualizado. Não
podem ser formulados cursos padronizados para diferentes realidades. Cada grupo apresenta
necessidades educativas específicas e para essas necessidades é que devem ser formulados os
projetos de curso. Dimensões dessa etapa (FILATRO, 2008, p. 10):

»» identificar e descrever as características do público-alvo;

»» levantamento de necessidades;

»» projetar um currículo ou programa;

»» selecionar e usar uma variedade de técnicas para definir o conteúdo instrucional;

»» analisar as características do ambiente de aprendizagem;

»» analisar as características de tecnologias existentes e emergentes e seus usos em um


ambiente instrucional.

Design e desenvolvimento

Este é o momento de elaboração de um plano de curso baseado no levantamento desenvolvido


no item anterior e utilizando-se das tecnologias apropriadas ao contexto educacional. O
desenvolvimento instrucional compreende a produção e a adaptação de recursos e materiais
didáticos impressos e/ou digitais, a parametrização de ambientes virtuais e a preparação dos
suportes pedagógico, tecnológico e administrativo. Nessa etapa, deve ser definida a ordenação de
apresentação do conteúdo e a forma dessa apresentação (design), dependendo da tecnologia em
uso (impresso, audiovisual, computador, internet). O curso aqui desenvolvido deve ser diretamente

104
Educação a distância • AULA 6

adequado ao perfil do público-alvo levantado na etapa anterior, suas necessidades educativas e as


características do ambiente de aprendizagem. São dimensões desta etapa (FILATRO, 2008, p. 10):

»» selecionar, modificar ou criar um modelo apropriado de design e desenvolvimento para


determinado projeto;

»» selecionar e usar uma variedade de técnicas para definir e encadear o conteúdo e as


estratégias educacionais;

»» selecionar ou modificar materiais instrucionais existentes;

»» desenvolver materiais instrucionais adequados ao curso;

»» projetar uma solução educacional que se adapte a diversos perfis de alunos ou grupos
de alunos;

»» avaliar a instrução e seu impacto.

Implementação e gestão

A primeira etapa do DI, como vimos anteriormente, é a análise do público-alvo. A partir dos
dados levantados, desenvolve-se o plano do curso e seu desenho (design). A terceira etapa é o
momento de implementação do curso, ou seja, sua execução. É nesse momento que o curso é
oferecido aos alunos e realizado por professores e gestores na prática. São dimensões desta etapa
(FILATRO, 2008, p. 10):

»» planejamento e gerenciamento dos projetos de design instrucional;

»» promover colaboração, parcerias e relacionamentos entre os participantes de um projeto


de design;

»» aplicar habilidades de gestão de projetos ao design instrucional;

»» projetar sistemas de gestão da instrução;

»» implementar eficazmente produtos e programas.

Avaliação

A fase de avaliação inclui considerações sobre a efetividade da solução proposta, bem como a
revisão das estratégias implementadas. Nela, avaliam-se tanto a solução educacional quanto
os resultados de aprendizagem dos alunos, que, em última instância, refletirão a adequação do
design instrucional (FILATRO, 2008).

A avaliação da solução educacional deve permear todo o processo de DI, desde a fase inicial de
análise. Um dos papéis do designer instrucional é avaliar, revisar e validar, os demais envolvidos,
os produtos resultantes de cada fase do DI. Assim, a avaliação aqui não diz respeito apenas à

105
AULA 6 • Educação a distância

avaliação da aprendizagem do aluno, mas, sim, da avaliação de todo processo desenvolvido, sua
eficácia, eficiência e necessidades de reformulação.

Podemos, assim, representar as Fases do Processo de Design Instrucional:

Destacamos como contribuições do DI para toda prática de elaboração de um projeto didático,


com ou sem o uso das tecnologias:

1. ANÁLISE: é fundamental delinear-se o perfil do público-alvo para o desenvolvimento de


um projeto didático. O educador deve sempre partir das características de seus alunos,
suas necessidades educacionais e o perfil de aprendizagem que se delineia a partir de
seu contexto concreto;

2. DESIGN: é preciso sensibilidade ao perfil de aprendizagem do aluno para que se definam


as melhores mídias (formas e linguagens) para o ensino de conteúdos específicos;

3. DESENVOLVIMENTO: todo planejamento didático implica o desenvolvimento (produção)


de estratégias de ensino e aprendizagem específicas para o público-alvo;

4. IMPLEMENTAÇÃO: todo curso realizado é um curso implementado, e deve, portanto,


ter suas ações previamente organizadas para tal efetivação;

5. AVALIAÇÃO: esta é uma etapa indispensável a todo projeto educacional. É fundamental que
se avalie o plano educacional e todas as suas etapas. Só assim é possível o aprimoramento
de nosso trabalho como educadores.

106
Educação a distância • AULA 6

RESUMO

Vimos até agora:

»» a Educação a Distância é atualmente uma área importante no cenário educacional


nacional;

»» a EAD caracteriza-se pela separação no espaço, no tempo e pelo uso das tecnologias de
comunicação como mediação do processo ensino-aprendizagem;

»» a história da EAD pode ser caracterizada por três gerações: 1ª - dos cursos “por
correspondência”; 2ª – uso de novas mídias e universidades abertas; 3ª – educação online;

»» alunos e professores têm características próprias na EAD;

»» professores podem ocupar diferentes funções: especialista em Tecnologia Educacional,


professor autor, tutor ou designer instrucional;

»» o pedagogo na EAD atua como dinamizador da inteligência coletiva e arquiteto cognitivo;

»» a Educação Online caracteriza-se pela mediação da internet no processo de ensino e


de aprendizagem, e possui um grande potencial de interatividade e disseminação do
conhecimento;

»» o Ambiente Virtual de Aprendizagem é uma ferramenta de comunicação e de informação


projetada especialmente para mediar o processo de aprendizagem;

»» o Design Instrucional é uma ação de planejamento, desenvolvimento, implementação


e avaliação de projetos educacionais que parte das necessidades educativas do público-
alvo, buscando soluções educacionais para suas demandas específicas.

107
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