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Fatia Da Produção Industrial em Relação Ao PIB Cai em Todo o Mundo Desde 1970 e Não Só No Brasil
Fatia Da Produção Industrial em Relação Ao PIB Cai em Todo o Mundo Desde 1970 e Não Só No Brasil
não só no Brasil
A última atualização das contas nacionais de mais de 200 países do banco de dados da
Organização das Nações Unidas (ONU), divulgada no dia 12 passado, reforça o que é
sabido: a queda do naco da produção industrial em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) é
um fenômeno global, atinge a todos os países, sem implicar, necessariamente,
desindustrialização. Nem nos EUA, que, até por razões geopolíticas, assistiram à migração
de setores industriais inteiros para a China.
Nos últimos 41 anos, de 1970 a 2011, medida em preços correntes, a fatia da produção
industrial sobre o PIB global caiu de 26,7% para 17%, praticamente, a mesma redução
observada nos EUA, de 24,3% para 12,7%. Mas também no Brasil, com a redução de
24,6% para 12,4%. Ou na Itália, de 24,3%, em 1970, para 14,3% em 2011; no Japão, de
35% para 20%; Canadá, de 19% para 10,25%; ou Alemanha, de 30% para 20%.
A produção industrial da China, no mesmo período, cresceu para 40% do PIB (incluindo
mineração e utilidades públicas), ou para 32,6%, contando só o ramo de manufaturas, que é
a medida de comparação com os demais países. E é a que faz a diferença, pois, como era
comum às economias centralizadas puras, a China tinha, desde os anos de 1950, uma
grande indústria, só que de bens pesados, não de consumo, adquirida depois de 1978, com
a abertura ao capital estrangeiro.
China e EUA chegaram a 2010 com valor de produção industrial quase igual, conforme os
dados da ONU – US$ 2,373 trilhões no caso chinês – apenas US$ 8 bilhões a mais que a
valor agregado da indústria nos EUA, a maior do mundo desde as primeiras décadas do
século passado.
Este é um dado que deixa sequelas sobre a macroeconomia. Significa que os EUA seguem
consumindo mais do que produzem. Mas não implica, em tese, decadência industrial. O
ocaso industrial viria na esteira de perda de competitividade, o que não parece ser o caso
dos EUA – mas é o do Brasil -, dada a produtividade de sua força de trabalho.
Segundo Mark Perry, estima-se que a China empregue 100/110 milhões de operários no
setor industrial. Os EUA ocupam 12 milhões, gerando uma produção apenas 19% menor. “A
China emprega quase dez operários contra só um nos EUA para gerar quase o mesmo
produto”, diz ele. A causa do desequilíbrio é basicamente cambial. No Brasil a solução é
mais complexa, misturando câmbio apreciado e produtividade baixa.
Produtividade no bolso
Afora os fatores cambiais, a queda da indústria como proporção do PIB se liga a ganhos de
produtividade, sobretudo dos preços de bens duráveis em relação aos preços dos serviços
e à renda das pessoas.
“Isso é sinal de progresso econômico, não de regressão”, diz Perry. “O padrão de vida no
mundo hoje é maior do que quando a manufatura representava 26,7% do PIB global.”
Uma geladeira com 500 litros em 1983, por exemplo, custava nos EUA cerca de US$ 500,
equivalentes a 61 horas de trabalho de um operário típico. Hoje, custa menos de 25 horas
de trabalho (que subiu de US$ 8,19 a hora para US$ 19,81).
Televisor vendido a US$ 550 (67 horas de salário) em 1983, hoje equivale a uma TV de
LED/HD de 32 polegadas, comprada por US$ 260 ou 13 horas de trabalho.
Tais relações, ajustadas pelo câmbio e livre de impostos, devem ter viés semelhante no
Brasil, apesar de o custo de produção ser maior. Se aumentar a produtividade, diminui o
risco de desindustrialização - meta essencial de uma política industrial.
A maçaroca de números da ONU permite várias reflexões. Tome-se a China: sua produção
de manufaturados ficou estagnada entre 2010 e 2011, o que implica dizer que sua ascensão
a número 1 se deveu à indústria pesada, de um lado, e à desaceleração dos EUA, de outro.
Outra reflexão é que, ajustado aos preços dos serviços, o pedaço relativo da produção
industrial sobre o PIB varia conforme a taxa de produtividade. E a queda de participação é
menor do que sugere a medida em preços correntes. Para o cidadão, importam tais ganhos.
Servindo-se de novo do cenário nos EUA, em 1950 uma cesta de bens, incluindo comida,
vestuário, eletrodomésticos, mobiliário e carro, consumia 40% da renda pessoal (fonte:
Bureau of Economic Analysis). Em 2012, consome apenas 15% da renda, diz o economista
Mark Perry. (Ficamos devendo tais dados para Brasil).
Eis o senso da política econômica: indústria competitiva para gerar empregos e produção
com preços relativos decrescentes sobre a renda. O resto é abstração.