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Morte de Chávez Deixa Venezuela À Mercê de Outra Revolução PDF
Morte de Chávez Deixa Venezuela À Mercê de Outra Revolução PDF
A morte de Hugo Chávez, sem um herdeiro tão carismático quanto foi para conduzir o
capitalismo de Estado sob a bandeira do que batizou de “socialismo do século 21” ou
“movimento bolivariano”, homenagem ao libertador do período colonial Simon Bolívar,
deixa a Venezuela, totalmente dependente de sua riqueza petrolífera, à mercê de outra
revolução menos visível: a transição a passos largos dos EUA, maior importador do
petróleo venezuelano, para a autonomia energética.
Chaves promoveu uma transformação social na Venezuela, com retorno até superior ao
de políticas assemelhadas no Brasil, servindo-se da estatal petrolífera PDVSA como
instrumento de distribuição da renda petrolífera, assim como de geopolítica regional,
especialmente com a venda subsidiada, até doação, de petróleo a Cuba e Nicarágua.
Não lhe foi difícil liderar uma frente contra os EUA, formada pelo Equador, Bolívia,
Nicarágua, algumas ilhas do Caribe, Argentina – e a proteção velada, mas não
incondicional, dos governos Lula e Dilma Rousseff. Apesar de sua retórica agressiva,
acentuada depois que o então presidente George W. Bush reconheceu o governo golpista
que o tirou do poder por curtos dois dias, em abril de 2002, a Venezuela não cortou o
vínculo comercial com os americanos nem o reduziu.
Fenômeno despercebido
A Venezuela terá enormes desafios a superar, mas, seguramente, não maiores dos que
as consequências no mundo do crescimento abrupto da produção de petróleo e gás nos
EUA. Tal evento passou despercebido.
No ano passado, segundo relatório do Energy Information Agency, ou EIA, agencia oficial
dos EUA, a produção de petróleo encostou à da Arábia Saudita, o maior produtor e
exportador do mundo. Nos EUA, a média de produção passou de 11 milhões de
barris/dia, contra 11,6 milhões da Arábia Saudita, dos quais 8,6 milhões exportados. Já
em novembro, porém, a produção média diária dos EUA superou a saudita.
Implicações impensáveis
Os números são impressionantes, com repercussões sobre o preço do gás (US$ 3,40 por
milhão de BTU, unidade térmica padrão, contra US$ 12 na Europa e Brasil e US$ 20 em
certas partes da Ásia) e mesmo do petróleo bruto. A estimativa é que caia nos EUA, onde
é proibida a exportação de óleo bruto, para uns US$ 70 o barril, contra cerca de US$ 95 a
US$ 100 no resto do mundo. As consequências já despontam.
Como escreveu o respeitado analista Daniel Yergin, da Cambridge Energy, “sem tais
recursos energéticos, o frustrante quadro da economia (americana) pareceria muito pior”.
Mas não é tudo.
O próximo viés começa a pintar: o dólar fortalecido. As sequelas para o Brasil, que
apostou no alto custo do pré-sal e perdeu produtividade, poderão ser imensas.
Megatendência em transe
Na China, outra macrotendência que ganha força é o foco no mercado doméstico, com a
provável redução da demanda por commodities (salvo alimentos), que tem uma relação
inversa à da valorização do dólar.