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Ecologia, volume 1

Ricardo Baratella

Tiago Zanquêta de Souza


© 2017 by Universidade de Uberaba

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da Universidade de Uberaba.

Universidade de Uberaba

Reitor
Marcelo Palmério

Pró-Reitor de Educação a Distância


Fernando César Marra e Silva

Coordenação de Graduação a Distância


Sílvia Denise dos Santos Bisinotto

Diagramação
xxxx

Projeto da capa
Agência Experimental Portfólio

Edição
Universidade de Uberaba
Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário

Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube

Baratella, Ricardo.
B231e Ecologia, volume 1 / Ricardo Baratella, Tiago Zanquêta de Souza. –
Uberaba: Universidade de Uberaba, 2017.
174 p. : il.
Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7777-689-4

1. Ecologia. 2. Ecossistema. 3. Educação ambiental. I. Souza, Tiago Zanquêta de.


II. Universidade de Uberaba. Programa de Educação a Distância. III. Título.

CDD 577
Sobre os autores

Ricardo Baratella

Especialista em: Biologia Evolutiva, Educação a Distância, Gestão Escolar e


Expressão Ludocriativa. Graduado em licenciatura e bacharelado em Ciências
Biológicas. Docente na Universidade de Uberaba, atuando nos cursos de li‑
cenciatura em Ciências Biológicas, Química e Pedagogia. Professor de Ensino
Fundamental e Médio nas redes particular e estadual de ensino, em Uberaba.

Tiago Zanquêta de Souza

Especialista em docência do Ensino Superior pelas Faculdades Integradas de Ja‑


carepaguá – FIJ. Especialista em Gestão Ambiental também pelas FIJ. Habilitado
em magistério para os anos iniciais do Ensino Fundamental. Licenciado em Ciên‑
cias Biológicas pela Universidade de Uberaba ­­­­– Uniube. Professor do curso de
licenciatura em Ciências Biológicas da Uniube – EAD. Professor do curso técnico
em Segurança do Trabalho e técnico em Meio Ambiente do Centro Educacional
de Uberaba – CEU.
Sumário

Apresentação.................................................................................................. XI

Capítulo 1 Conhecendo ecologia: da origem à atualidade................................1


1.1 Ecologia: estudo dos processos históricos....................................................................8
1.1.1 Evolução secular: descobertas relevantes.......................................................... 11
1.1.2 Pequenas abordagens sobre o histórico da crise energética.............................18
1.1.3 Origens do pensamento ecológico­‑científico......................................................20
1.2 Conceitos fundamentais para entendermos ecologia..................................................24
1.2.1 O ser vivo e sua organização..............................................................................25
1.2.2 Comportamento dos seres vivos em redes autopoiéticas...................................30
1.2.3 Características básicas dos sistemas vivos........................................................33
1.3 Cinco abordagens para o estudo de ecologia..............................................................35
1.4 Subáreas da ecologia...................................................................................................38

Capítulo 2 A
 s multidões fervilhantes de seres vivos e o ambiente:
uma comunicação irresistível.........................................................43
2.1 Ecologia, a ciência que estuda o ambiente..................................................................50
2.2 Níveis de organização dos seres vivos........................................................................56
2.3 Ecossistema.................................................................................................................61
2.3.1 Produtividade nos ecossistemas.........................................................................63
2.4 Subdivisões da ecologia...............................................................................................71
2.5 A noção de fator ecológico...........................................................................................73
2.6 As variações de temperatura........................................................................................75
2.7 As variações da pressão atmosférica...........................................................................78
2.8 Massas de ar................................................................................................................79
2.8.1 Principais massas de ar......................................................................................79
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2.9 Os ventos.....................................................................................................................80
2.9.1 Mecanismos dos ventos......................................................................................81
2.10 Umidade atmosférica.................................................................................................82
2.10.1 Avaliação da umidade.......................................................................................82

Capítulo 3 Energia e nutrientes: de onde vêm, para onde vão.......................91


3.1 Reciclagem de matéria e fluxo de energia...................................................................96
3.2 Energia e produtividade.............................................................................................105
3.3 A manutenção dos sistemas vivos demanda gasto de energia.................................. 114
3.4 Ecossistemas: bens e serviços.................................................................................. 116
3.5 Reflexão e absorção..................................................................................................120
3.6 Vida no ambiente aquático.........................................................................................122
3.6.1 Água salgada....................................................................................................122
3.6.2 Água doce.........................................................................................................126

Capítulo 4 A sustentação da vida: seres vivos, ambiente e energia.............133


4.1 Considerações iniciais................................................................................................137
4.2 Propriedades emergentes..........................................................................................137
4.3 O que sustenta a vida na Terra?................................................................................139
4.4 A teoria da evolução...................................................................................................140
4.4.1 Charles Darwin e a adaptação..........................................................................144
4.5 O que é uma espécie?...............................................................................................144
4.5.1 Como surgem novas espécies?........................................................................145
4.6 Do organismo à biosfera............................................................................................147
4.7 Ecologia: como surgiu?..............................................................................................148
4.7.1 Ecologia de populações....................................................................................149
4.7.2 Fatores que limitam o crescimento da população ............................................152
4.7.3 Potencial biótico e resistência ambiental..........................................................152
4.7.4 Ecologia de comunidades.................................................................................153
4.7.5 As interações bióticas influenciam as condições sob as quais
as espécies podem sobreviver ..............................................................................154
4.8 Pirâmides alimentares................................................................................................156
4.8.1 Pirâmide de energia..........................................................................................158
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4.9 Os ciclos biogeoquímicos...........................................................................................160
4.9.1 Ciclo do carbono...............................................................................................161
4.9.2 Ciclo do nitrogênio.............................................................................................162
4.9.3 Ciclo do oxigênio...............................................................................................165
4.9.4 Ciclo da água....................................................................................................166
4.9.5 Ciclo do enxofre................................................................................................168
Apresentação

Caro(a) aluno(a),

A natureza é semelhante a uma máquina complicada, composta de partes que se


ajustam entre si. Todo ser vivo tem um certo lugar nessa “máquina”. A ecologia,
um ramo da biologia, investiga as relações de cada “peça” com as demais. Além
de estudar como os seres vivos dependem uns dos outros para sobreviver, a
ecologia ajuda a descobrir meios de reduzir os danos que o ser humano causa
ao ambiente.

Nos capítulos que se seguem, vamos estudar o relacionamento entre os seres


e o meio ambiente, para que possamos compreender a melhor forma de cor‑
rigir o que há de errado em decorrência da revolução industrial, tecnológica e
científica, assim como o que se pode fazer para harmonizar o progresso com
a preservação da vida. Não basta saber o que é ecologia. É preciso, antes de
tudo, praticá­‑la.
Capítulo Conhecendo ecologia:
1 da origem à atualidade

Tiago Zanquêta de Souza

Introdução
Olá!

Estamos iniciando os estudos do primeiro capítulo de ecologia. Espera‑


mos que você possa mergulhar no universo que lhe será apresentado,
na expectativa de tornar­‑se um grande acadêmico, pesquisador e co‑
nhecedor dos vários ramos das ciências biológicas, atentando agora
para o estudo da ecologia.

  parada para reflexão 

Sugiro que você pare e pense! Tente lembrar o que sabe sobre os seres
vivos e suas relações, sobre o meio ambiente, enfim, sobre a vida. Mas não
deixe as ideias soltas na memória. Registre­‑as em seu bloco de anotações.
Dessa forma, encontrará caminhos para, juntos, entendermos e descobrirmos
o que é ecologia.

Quando assistimos aos noticiários, lemos revistas ou jornais, vemos


propagandas em outdoors ou na televisão – que mostram ou falam sobre
a água, chuvas, tempestades, desmatamentos, queimadas, reciclagem
e vários outros assuntos relacionados à natureza – estamos aprendendo
e estudando ecologia (figuras 1 e 2).
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Figura 1: Em destaque, um macaco, Figura 2: Praia do Sul, em Ilhéus/BA.


fotografado no Zoológico de Belo A presença de água no estado líquido
Horizonte. A espécie é típica das áreas de em um ambiente é fator decisivo para a
Mata Atlântica, bioma da costa brasileira. ocorrência da vida.
Fonte: Foto de Tiago Zanquêta de Souza Fonte: Foto de Tiago Zanquêta de Souza
(2009). (2009).

  saiba mais 

Mas, afinal, o que é ecologia?

A palavra “ecologia” deriva do grego oikos, com o sentido de “casa” e logos,


que significa “estudo”. Assim, o estudo do “ambiente da casa” inclui todos
os organismos contidos nela e todos os processos funcionais que a tornam
habitável. Literalmente, então, a ecologia é o estudo do “lugar onde se vive”,
com ênfase na “totalidade ou padrão de relações entre os organismos e seu
ambiente” (ODUM, 2007, p. 4).

Diversos termos foram usados para o estudo dos seres


vivos e suas relações entre si e com o ambiente, tais como
o termo etologia, usado por Isidore de Joeffroy de Saint­
‑Hilaire em 1859 para caracterizar as relações dos indiví‑
duos com a família, a sociedade e a comunidade, ou o termo
mesologia, usado em 1865 por Louis­‑Adolphe Bertillon
para designar o estudo dos meios. Mas o primeiro a pro‑
por o termo ecologia foi o biólogo alemão Ernst Haeckel
em 1986, para o estudo da economia e das relações dos
animais e plantas com o ambiente (ÁVILA­‑PIRES, 1999, p.
17, grifos nossos).
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Por ecologia, entendemos toda a ciência das relações do organismo


com o ambiente, incluindo, de maneira geral, todas as “condições de
existência”. Estas são, em parte, de natureza orgânica e inorgânica, e
ambas, como mostramos, são importantes para a forma dos organis‑
mos, pois os forçam a se adaptarem. Entre as condições inorgânicas às
quais todos os organismos devem se adaptar pertencem, em primeiro
lugar, as propriedades físicas e químicas do seu hábitat, o clima (luz,
calor, condições atmosféricas de umidade e eletricidade), os nutrientes
inorgânicos, a natureza da água e do solo etc.

Como condições orgânicas de existência, consideramos todas as rela‑


ções do organismo com todos os outros organismos com os quais ele
entre em contato, dos quais a maioria contribui de maneira vantajosa ou
danosa. Cada organismo conta, entre os demais organismos, seus ami‑
gos e inimigos, com aqueles que favorecem sua existência e com aque‑
les que a prejudicam. Os organismos que servem de alimento orgânico
para outros ou que vivem sobre eles como parasitas também pertencem
a essa categoria de condições orgânicas de existência (HAECKEL apud
ÁVILA­‑PIRES, 1999, p. 18­‑19).

Somente em 1983 o termo ecologia foi usado Antropocêntrica

no sentido atual, por Ellen Richards (CLARKE Diz­‑se de atitude


ou teoria que tem
apud ÁVILA­‑PIRES, 1999, op. cit.). A partir de o homem como
então, o homem passou a ser visto como um elo referencial único,
ou que interpreta o
nas cadeias tróficas, deslocado da sua posição universo em termos
de valores, feitos em
antropocêntrica. experiências humanas.

A compreensão do universo da ecologia de‑


manda interpretação dos fenômenos químicos, físicos e biológicos,
além dos políticos, econômicos e culturais, dentre outros, do mundo
que nos rodeia.
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Figura 3: Variedade de beija­‑flores. A natureza evidencia


a necessidade de equilíbrio perfeito entre os seres vivos
e para isso é preciso urgentemente repensarmos nossas
ações.
Fonte: Ernst Haeckel. Wikipédia (2010). Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Biologia>. Acesso em: 25 mar.
2010.

Figura 4: Jardim Botânico de Belo Horizonte,


Área de Preservação Ambiental (APA).
Fonte: Foto de Tiago Zanquêta de Souza
(2009).
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Uma forma de alcançarmos esse objetivo é sabermos como se deu a


construção do pensamento científico na história, quais foram os principais
estudiosos e suas principais contribuições. Esse conhecimento, para nós,
é de grande utilidade, uma vez que poderemos, a partir dele, adotar uma
postura reflexiva (Figura 3), com influência sobre nossa maneira de agir,
relativamente ao ambiente em que vivemos.

No entanto, tudo isso não assegura, necessariamente, o sucesso quando


se trata de recuperar, conservar e preservar os recursos naturais (Figura 4),
por vários motivos, principalmente porque estamos alicerçados em
teorias que estão em constante transformação e também porque só o
saber não adianta se não estivermos dispostos a mudar de atitude.

Segundo Gonçalves (2001, p. 88), “a sociedade humana se tornou,


ao longo dos séculos, uma verdadeira ilha de conhecimentos, ou seja,
uma quantidade pequena de sábios, cercada de ignorância por todos
os lados”.

De acordo com Gadotti (2000, p. 203-210), os temas ecológicos,


geralmente, são consequentes ou têm causas em conflitos, principalmente
econômicos, políticos e sociais; e ainda existem pessoas que, mesmo
sem o conhecimento científico formal, conseguem elaborar um saber tão
complexo quanto os de muitos estudiosos, a exemplo da bela e profunda
carta escrita por um chefe indígena Seattle (1786­‑1866). Essa carta tem
sido interpretada desde então, mas, principalmente, a partir de 1992,
como uma oração, um grito de apelo pela Terra aos seres humanos.
Outro exemplo de saber ecológico é o expresso pela carta da Terra.

  importante! 

Não confundir essa carta com outra sobre o mesmo tema e enfoque, escrita
por um chefe indígena Sioux.
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  saiba mais 

Para ler a carta do cacique Seattle, acesse:

<http://projetoadao.blogspot.com/2009/08/carta­‑do­‑cacique­‑seattle.html>.

O texto do artigo do Dr. Henry Smith, que foi traduzido pela equipe de Flo‑
resta Brasil diretamente do artigo original, publicado em inglês em 1887,
encontra­‑se na seção em língua inglesa na página <http://www.florestabrasil.
org.br>.

Permaneça atento!

Para saber o que foi a carta da Terra, acesse <http://pt.wikipedia.org/wiki/A_


Carta_da_Terra>. Você terá informações importantes! Não deixe de conferir!

  parada para reflexão 

Agora que você já conheceu as cartas do cacique Seattle e a carta da Terra,


tente comparar a carta do cacique Seattle com os ideais vividos pelos seres
humanos hoje. A que conclusão você chega? É possível hoje viver ou pelo
menos fazer o que pede o chefe indígena ao presidente norte­‑americano?
É interessante você socializar com os colegas e preceptor a sua opinião.
Discuta sobre o que assistiu.

Você pode estar se questionando­: mas como o estudo da ecologia poderá


auxiliar na minimização desses conflitos?

A ecologia é uma ciência que tem se desenvolvido muito e se torna


cada vez mais importante nos dias atuais, uma vez que a interferência
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do homem  sobre os ecossistemas aumentou consideravelmente.  Essa


interferência, em geral, provoca  sérios desequilíbrios  ecológicos. Por
isso, é cada vez mais imperioso conhecer a estrutura e o funcionamento
dos ecossistemas, a fim de se propor maneiras racionais de utilização
dos recursos naturais sem provocar alterações ambientais drásticas que
possam, ao longo do tempo, levar ao desaparecimento da vida.

Por isso, pode­‑se perceber que em todos os setores da sociedade a


atuação do biólogo é de fundamental importância.

Neste capítulo serão abordados temas interessantes, além de assun‑


tos atrativos que levarão você à pesquisa, à reflexão e ao registro de
todas as conclusões a que chegará. Lembre­‑se de que, em alguns
momentos, você deverá buscar seu preceptor para conversar, discutir
e propor considerações, além de interagir com os colegas, para tornar
suas respostas e reflexões mais bem fundamentadas.

A partir do conhecimento dos processos históricos de degradação am‑


biental, você perceberá a grande necessidade da preservação e con‑
servação dos recursos naturais indispensáveis à boa qualidade de vida,
e entenderá os conteúdos sobre os ciclos biogeoquímicos, equilíbrio de
populações e sucessão ecológica. Depois que você estudar os conceitos
fundamentais de ecologia, ficará mais fácil entender os conteúdos sobre
nicho ecológico, hábitat e biosfera. Entendendo como se organizam e
se comportam os seres vivos, fica bem mais fácil aprender outros con‑
teúdos, tais como: relações ecológicas, cadeias e teias alimentares,
pirâmides ecológicas, biomas mundiais e biomas brasileiros.

Além do mais, estudar a origem do universo e da própria vida permite


que você, de maneira crítica e reflexiva, estabeleça a relação entre evo‑
lução e ecologia, assunto proposto também nos próximos capítulos.

Bons estudos!
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Objetivos
Ao final do estudo deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• discutir o processo de constituição da ecologia enquanto saber


acadêmico no quadro do surgimento das ciências modernas;
• esboçar o contexto científico e filosófico em que emergiu a dis‑
cussão acadêmica no campo da ecologia;
• investigar a influência dos movimentos ambientalistas no século
XX sobre o desenvolvimento da ecologia;
• reconhecer e demonstrar a dinâmica do sistema vivo (teoria dos
sistemas, características dos seres vivos, energia vital, interde‑
pendência, propriedades emergentes, ciclos, fluxos e retroali‑
mentação) como objeto de estudo da ecologia.
Para alcançar esses objetivos, você deverá ler atentamente este ca‑
pítulo e, a seguir, fazer as leituras dos textos indicados e desenvolver
as atividades.

Esquema

1o momento: Ecologia: estudo dos processos


históricos

2o momento: Conceitos fundamentais para


entendermos ecologia

3o momento: Cinco abordagens para o


estudo de ecologia

1.1 Ecologia: estudo dos processos históricos

Você observou, na introdução deste capítulo, as definições de ecologia na visão


de dois autores diferentes, Odum e Ávila­‑Pires. Agora, é mais fácil você entender
e compreender algumas indagações, por exemplo:
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• Por que surgiu a ecologia?

• Quando surgiu?

• De que forma?

• Qual a utilidade da ecologia na minha vida?

Para respondermos juntos a esses questionamentos, vamos refletir e discutir a


citação de Ávila­‑Pires (1999, p. 98):

Não é demais lembrar que a descrição cronológica das sucessi‑


vas concepções da natureza e do mundo não implica que haja
ocorrido uma evolução generalizada do pensamento em toda a
humanidade. Encontram­‑se hoje, vivas e atuantes, as mesmas
crenças e crendices vigentes no passado distante, florescendo
lado a lado com os conceitos mais avançados da filosofia e
da ciência. É comum associarem­‑se as crendices com popula‑
ções indígenas e com os estratos mais baixos das sociedades
tecnologicamente avançadas, o que não é necessariamente
verdadeiro. Os sistemas educacionais não conseguiram, em
todas as épocas, criar o hábito do raciocínio crítico, capaz de
desenvolver o pensamento racional e lógico.

Quando se discute a problemática ecológica e as questões relacionadas ao am‑


biente, frequentemente se faz referência à extrema fragilidade da Terra diante
da intervenção humana. No entanto, para uma melhor compreensão da questão
ambiental, torna­‑se necessário adotar referenciais mais amplos, como a história
da Terra (Figura 5) há 4,6 bilhões de anos, ou a história da civilização há cerca
de 11 mil anos, ou mesmo a história da escrita há 2.500 anos.

Pois bem, se considerarmos a história da Terra, não podemos esquecer que os


estudos setoriais da geologia revelam que nosso planeta já passou por inúmeras
erupções vulcânicas, violentíssimos terremotos, longos períodos de estiagem, de
frio, de calor, que levaram à formação de inúmeros tipos de moléculas (inclusive
as moléculas orgânicas e todos os seres vivos) e também à extinção de inúmeras
espécies e seleção de sobreviventes que compõem a Terra hoje.
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Figura 5: Vulcão Mayon. A intensa atividade


vulcânica do passado colaborou para a extinção
de várias espécies do planeta Terra.
Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2010).

Erosão Se pesquisarmos a história das civilizações, vamos en‑


Perda da camada contrar diversos exemplos de povos que, ao promoverem
superficial do solo, intensa exploração de seus recursos naturais, deixaram
provocada pela ação
das águas das chuvas, um rastro de erosão, provocando assoreamento dos rios
por ação dos ventos e
do homem. e empobrecimento dos solos (Figura 6), que acelerou o
Assoreamento declínio de sua própria civilização. Foi exatamente o que
Soterramento de rio,
aconteceu na Mesopotâmia (Figura 7).
lago ou corpo d’água
pelas partículas do solo Na verdade, o uso incorreto da terra é que deu margem
levadas pela água em
terreno em declive, à ocorrência acelerada dos processos erosivos, que
como consequência de
processos erosivos do intensamente contribuiu, no passado, para a desocupação
solo. de determinadas áreas e consequentemente a migração de
vários povos para outras localidades.
  importante! 

Como classificar os tipos de erosão?

São várias as maneiras pelas quais se pode classificar erosão. Além da erosão ur‑
bana e rural, que se diferenciam tanto pelas causas como pelos efeitos, é comum
diferenciar a erosão geológica ou lenta da acelerada. A primeira processa­‑se sob a
ação de agentes naturais; a segunda, como consequência da ação do homem no
solo. As partículas do solo são levadas pela água em função da pluviosidade e da
declividade do terreno e da proporção do tempo de replantio ou rebrota, assim como
da rarefação do cultivo de substituição implantado (BRAGA et al., 2005).
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Figura 6: Solo apresentando sinais de erosão.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2010).

Figura 7: Início da civilização na Mesopotâmia,


entre os rios Tigres e Eufrates.
Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2010).

1.1.1 Evolução secular: descobertas relevantes

Desde a Antiguidade e ao longo dos séculos XVI a XVII, a realização de diversas


pesquisas permitiu:

• descobrir inúmeros compostos químicos;

• promover a síntese de compostos orgânicos em laboratório, tendo a ureia


como exemplo;
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Combustão • promover e entender os processos de degradação da


matéria orgânica, pelos processos de fermentação e
Ação de queimar,
liberando por isso combustão.
compostos químicos
para a atmosfera.
Dessa forma, as novas técnicas e análises fizeram­‑se
bases para a constituição das teorias dos ciclos biogeo‑
químicos (percurso dos elementos e compostos químicos
em diferentes estados nos seres vivos e no ambiente – ar, água e solo), que
você estudará detalhadamente na Etapa I do curso.

Entre os séculos XV e XVIII, alternaram­‑se as teorias da


Ecossistema
origem da vida (geração espontânea e evolução química).
É o conjunto formado
pela comunidade e Alguns personagens importantes desse processo foram
o meio ambiente:
as relações que Lavoisier, Redi, Pasteur, Liebig, Leeuwenhoek, dentre
os seres vivos de outros. Avanços como a teoria mecanicista de Newton, o
uma comunidade
estabelecem com os aperfeiçoamento do microscópio e as teorias da biologia
fatores ambientais.
celular formaram a base das teorias atuais sobre o fluxo
Osmose e difusão de energia nos ecossistemas, bem como sobre o papel
Passagem do solvente das plantas nos processos de purificação do ar. Teorias
de uma solução
através de membrana sobre a nutrição vegetal desenvolveram­‑se a partir das
impermeável ao
soluto.
teorias de osmose e difusão em meados do século XIX
(ÁVILA­‑PIRES, 1999).

Durante o século XIX e o início do século XX, diversas pesquisas realizadas por
Charles Elton e Louis Pasteur, Lamarck, Malthus, Charles Darwin e Alfred Russel
Wallace, Mendel, Raymond Lindeman, dentre outros, promoveram avanços que
contribuíram imensamente para a constituição da ecologia, enquanto disciplina
científica e saber acadêmico (ÁVILA­‑PIRES, 1999).

Mas qual a contribuição de cada cientista citado anteriormente para a evolução da


ecologia enquanto ciência? Veja a seguir.
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Antoine­‑Laurent de Lavoisier
Abiogênese
Foi o primeiro cientista a enunciar o princípio da conserva‑
Deriva do grego
ção da matéria. Além disso, identificou e batizou o oxigênio, a­‑bio­‑genesis, “origem
não biológica”; designa
refutou a teoria flogística e participou na reforma da nomen‑ de modo geral o
clatura química e ficou célebre pela sua frase “Na natureza estudo sobre a origem
da vida a partir de
nada se perde, nada se cria, tudo se transforma.” matéria não viva.

Pasteurização
Francesco Redi
Processo usado em
É conhecido pela sua experiência realizada em 1668 que alimentos para destruir
microrganismos
se considera um dos primeiros passos para a refutação patogênicos ali
existentes. Foi criado
da abiogênese. A teoria de Redi (Biogênese) generalizou em 1864, levando
suas conclusões afirmando que todos os seres vivos, vêm o nome do químico
francês que o criou:
sempre de outros seres vivos. Louis Pasteur.
A pasteurização
reside basicamente
Louis Pasteur no fato de se
aquecer o alimento
a determinada
Foi um cientista francês (Figura 8) e suas descobertas temperatura, e por
determinado tempo,
tiveram enorme importância na história da química e da
de forma a eliminar
medicina. A ele se deve a criação do processo conhecido os microrganismos
presentes no alimento.
como pasteurização.

Figura 8: Louis Pasteur.


Fonte: Albert Edelfelt. Wikipédia (2010).
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/
wiki/Ficheiro:Tableau_Louis_Pasteur.jpg>.
Acesso em: 16 mar. 2010.
14 UNIUBE

Justus von Liebig

Sua contribuição para a humanidade foi extraordinária, além de inúmeras fórmu‑


las e processos para a química orgânica, Liebig criou o conceito do laboratório
de química. Liebig também revolucionaria a produção de alimentos, aplicando
princípios da química, chegando à conclusão de que as plantas alimentícias
cresceriam melhor e teriam maior valor nutritivo se fossem
NPK
adicionados elementos químicos na mínima quantidade
adequada ao seu cultivo. Desse modo, Liebig chegou
Composto químico à
base de Sódio (N),
à famosa fórmula NPK, iniciando a era dos fertilizantes
Fósforo (P) e Potássio químicos. Interessante é que, no mesmo período, outro
(K), em diferentes
proporções. estudioso faz descobertas sobre a composição química
dos nutrientes.

Anton van Leeuwenhoek

Van Leeuwenhoek é conhecido pelas suas contribuições para o melhoramento


do microscópio, além de ter contribuído com suas observações para a biologia
celular (descreveu a estrutura celular dos vegetais, chamando as células de
“glóbulos”). Utilizando um microscópio feito por si mesmo (possuía a maior co‑
leção de lentes do mundo, cerca de 250 microscópios), foi o primeiro a observar
e descrever fibras musculares, bactérias, protozoários e o fluxo de sangue nos
capilares sanguíneos de peixes.

Charles Sutherland Elton

Foi um zoólogo e ecólogo inglês. Seu nome está ligado ao estabelecimento dos
modernos conceitos de população e comunidade em ecologia, incluindo estudos
de organismos invasores. Charles Elton definiu que o nicho é o espaço físico
ocupado, onde as condições ambientais e as relações com outros organismos e
a posição trófica determinam o status da espécie na comunidade. Essa definição
pode ser ainda completada afirmando que as relações de alimentação ligam os
organismos em uma entidade funcional única, chamada comunidade biológica.
UNIUBE  15

Jean­‑Baptiste Pierre Antoine de Monet, Chevalier de Teoria dos caracteres


Lamarck adquiridos

O uso e desuso de
Foi um naturalista francês que desenvolveu a teoria partes do corpo, de
acordo com Lamarck,
dos caracteres adquiridos, uma teoria da evolução provocariam alterações
agora desacreditada. Lamarck personificou as ideias no organismo do
indivíduo. Essas
pré­‑darwinistas sobre a evolução. Foi ele que, de fato, alterações podiam
ser transmitidas às
introduziu o termo biologia. gerações seguintes.
Por exemplo as crias
das girafas herdariam o
Thomas Robert Malthus pescoço comprido dos
pais que supostamente
o desenvolvem quando
Sua fama decorre dos estudos sobre população. Para ele, comem folhas das
o excesso populacional era a causa de todos os males da árvores mais altas.
Dessa forma surgiriam
sociedade – população crescia em progressão geométrica as novas espécies, que
na verdade nada tem
e alimentos, em progressão aritmética. de novo, são apenas
alterações das já
Charles Robert Darwin existentes, desvios na
linha evolutiva.

Foi um naturalista britânico (Figura 9) que alcançou


fama ao convencer a comunidade científica da ocorrência da evolução e propor
uma teoria para explicar como ela se dá por meio da seleção natural e sexual.
Essa teoria se desenvolveu no que é agora considerado o paradigma central
para a explicação de diversos fenômenos na Biologia. Foi laureado com a
medalha Wollaston concedida pela Sociedade Geológica de Londres, em 1859.

Alfred Russel Wallace

Foi naturalista, geógrafo, antropólogo e biólogo britânico. Wallace foi o primeiro


a propor uma “geografia” das espécies animais e, como tal, é considerado um
dos precursores da ecologia e da biogeografia e, por vezes, chamado de “Pai da
Biogeografia”. Em seus estudos, concluiu que as espécies, uma a uma, surgiram
coincidindo tanto em espaço quanto em tempo com uma espécie proximamente
a ela aliada.
16 UNIUBE

Figura 9: Charles Darwin.


Fonte: Elliot & Fry. Wikipédia (2009).
Disponível em: <http://commons.wikimedia.
org/wiki/File:Charles_Darwin_1880.jpg>.
Acesso em: 24 mar. 2010.

Gregor Johann Mendel

Foi monge agostiniano, botânico e meteorologista austríaco. Gregor Mendel


(Figura 10), “o pai da genética”, como é conhecido, foi inspirado tanto pelos
professores como pelos colegas do mosteiro que o pressionaram a estudar a
variação do aspecto das plantas. Propôs que a existência de características (tais
como a cor) das flores é devido à existência de um par de unidades elementares
de hereditariedade, hoje conhecidas como genes.

Figura 10: Gregor Mendel.


Fonte: Wikipédia (2010). Disponível
em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Mendel_Gregor_1822­‑1884.jpg>.
Acesso em: 16 mar. 2010.
UNIUBE  17

Arthur George Tansley

Visualizou as partes físicas e biológicas da natureza juntas, unificadas pela


dependência dos animais e das plantas da sua vizinhança física e da sua con‑
tribuição à manutenção do mundo físico. A isso denominou de ecossistema.

Raymond Lindeman
Nível trófico
Definiu níveis tróficos e visualizou uma pirâmide de
É o nível de nutrição
energia. a que pertence um
indivíduo ou uma
espécie, que indica a
Ávila-Pires (1999, p. 56-58) coloca que o processo de passagem de energia
entre os seres vivos
modernização da agricultura europeia, durante o século
num ecossistema.
XIX, foi contemporâneo ao início das preocupações com o
Pirâmide de energia
ambiente, quando foram realizados alguns experimentos
para a recuperação de solos degradados, com base na uti‑ Consiste em
representar
lização de fertilizantes orgânicos, provenientes de dejetos graficamente as taxas
de animais. Na mesma época, alguns pesquisadores se de fluxo energético
entre vários níveis
preocuparam com a contaminação das águas dos córre‑ tróficos. Ela sempre
possui uma base
gos e rios em razão do despejo dos esgotos urbanos. maior, que representa
os seres autótrofos e a
cada nível para cima,
O Brasil não ficou fora dessas preocupações do ponto de fica mais estreita, pois
vista da natureza, visto que José Bonifácio de Andrada representa um ser
heterótrofo distinto da
e Silva escreveu à Assembleia Geral Constituinte do Im‑ cadeia alimentar.
pério do Brasil, em 1825:

Nossas terras estão ermas, e as poucas que temos roteado são


mal cultivadas, porque o são por braços indolentes e forçados;
nossas numerosas minas, por falta de trabalhadores ativos e
instruídos, estão desconhecidas ou mal aproveitadas; nossas
preciosas matas vão desaparecendo, vítimas do fogo e do ma‑
chado da ignorância e do egoísmo; nossos montes e encontas
vão se escalvando fecundantes, que favorecem a vegetação e
alimentam nossas fontes e rios, sem o que nosso belo Brasil, em
menos de dois séculos, ficará reduzido aos páramos e desertos
da Líbia. Virá então esse dia, terrível e fatal, em que a ultrajada
natureza se ache vingada de tantos erros e crimes cometidos
(SILVA apud PÁDUA, 2000, p. 1).
18 UNIUBE

A partir da Segunda Guerra Mundial, a ação antropogênica (ação do homem)


sobre o ambiente tornou­‑se aguda e evidente, em consequência das novas téc‑
nicas de produção industrial e do aumento exponencial da população. Simulta‑
neamente, mais pessoas, ao perceberem que o uso descontrolado dos recursos
ambientais poderia gerar graves problemas, começaram a tomar consciência da
ameaça que pesa sobre nós, tais como o efeito estufa, a diminuição da camada
de ozônio e a escassez dos recursos hídricos. Um ponto importante nessa nova
consciência é a compreensão de que cada um de nós, não só as instituições
governamentais e industriais, deve assumir, mesmo que pequeno, um importante
papel na preservação da vida na Terra de forma eficaz em prol dessa causa.

1.1.2 Pequenas abordagens sobre o histórico da crise energética

Ao longo dos anos, o homem modificou seu padrão de vida, utilizando a tecnolo‑
gia para viver mais e melhor. Por isso, houve aumento considerável no consumo
de energia (BRAGA et al., 2005).

A seguir, um texto apresentado por Braga et al. (2005) que ilustra bem a relação
do desenvolvimento com o consumo de energia, evidenciando uma sociedade
em plena crise energética, tentando enfrentar um grande desafio: como man‑
ter o padrão de vida do homem e um ambiente mais saudável, aumentando o
consumo de energia?

  parada para reflexão 

Depois de ler o texto de Braga et al. (2005), reflita sobre a pergunta que segue abaixo
e registre suas reflexões.
UNIUBE  19

A média diária de consumo de energia dos humanos primitivos era


de 2.000 kilocalorias por dia, obtidas do alimento consumido. Até então, não
se controlava o fogo. Os primeiros grupos humanos e os primeiros caçadores
aumentaram essa média para 5.000 kcal/dia. Os primeiros agricultores,
usando o fogo para cozimento e aquecimento (queima de madeira) e a tração
animal para o plantio, elevaram esse consumo para 12.000 kcal/dia. Durante a
Revolução Industrial, no século XIX, a madeira foi empregada para movimentar
máquinas e locomotivas, para converter minério em metais e para fundir areia
em vidro. Por volta de 1850, a média de consumo diário alcançou, em nações
como a Inglaterra e os Estados Unidos, um valor próximo de 60.000 kcal/
dia. A partir de então, as florestas primárias começaram a sofrer um processo
rápido de destruição. Nessa mesma época, descobriu­‑se que o carvão podia
ser obtido por mineração e substituir a madeira. Por volta de 1900, o carvão
substituiu integralmente a madeira na maioria dos países europeus e no
Estados Unidos. Todavia, o grande salto em termos de consumo energético
ainda estava para ocorrer.
Em 1869, o primeiro poço de petróleo foi perfurado. Esse evento –
juntamente com as descobertas envolvendo destilação e refino do petróleo em
gasolina, óleo combustível e óleo diesel – levou a humanidade a uma drástica
mudança em termos de consumo de energia primária. Na mesma época,
descobriu­‑se que os depósitos de gás natural, encontrados junto aos depósitos
de petróleo, podiam ser queimados como combustível. Por volta de 1950, o
petróleo tornou­‑se, nos Estados Unidos, a primeira fonte de energia primária e
o gás natural, a terceira. Em 1983, essas duas fontes foram responsáveis pela
produção de 53% da energia primária mundial. Dada a abundância de óleo
e gás da década de 1950 ao início da de 1980, o consumo mundial triplicou.
Atualmente, o consumo per capita mundial diário é de 125.000 kcal/dia. O
aumento no consumo de energia foi muito sensível em países desenvolvidos.
Em decorrência, o desequilíbrio entre os países desenvolvidos e os
subdesenvolvidos acentuou­‑se. Exemplo disso é o consumo norte­‑americano:
os Estados Unidos possuem 4,7% da população mundial e consomem 25% da
energia comercial mundial. A Índia, com 16% da população mundial, consome
somente 1,5% da energia mundial. Os 258 milhões de norte­‑americanos
usam mais energia em aparelhos de ar­‑condicionado do que os 1,2 bilhão de
chineses para todos os fins.

Fonte: Braga et al. (2005, p. 53).

Haverá na Terra alimentos, água, materiais de construção, remédios e combustíveis


que garantam condições mínimas de sobrevivência aos seres vivos do planeta?
20 UNIUBE

Se você parar para analisar, perceberá que todos os problemas ou situações que
envolvem o meio ambiente e ecologia assumem, acima de tudo, um caráter de
cunho social, que nos inclina ao pré­‑conceito de que a degradação ambiental é
resultado apenas do desenvolvimento econômico, político e tecnológico de uma
nação, fazendo­‑nos acreditar que a razão para os problemas é o enfraquecimento
da relação homem versus natureza, e não homem versus homem.

1.1.3 Origens do pensamento ecológico­‑científico

Carolus Linnaeus, Embora a humanidade sempre tenha tido curiosidade em


em português, Carlos
Lineu, e em sueco,
desvendar os mistérios da natureza, e diversos autores
após nobilitação, façam referências a obras de pensadores antigos e me‑
Carl von Linné
dievais, Acot (1990) entende que Aristóteles, Hipócrates
Foi um botânico, e Lineu não devem ser considerados precursores da
zoólogo e médico
sueco, criador da ecologia moderna.
nomenclatura binomial
e da classificação
científica, sendo assim Para ele, as incursões filosóficas dos pensadores antigos
considerado o “pai da
taxonomia moderna”.
não passam de métodos empíricos e não elaborações
teóricas ou sínteses racionais sobre a natureza.
Friedrich Heinrich
Alexander, o barão
de Humboldt Foi só no início do século XIX, quando Alexander von
Humboldt “propõe um conjunto lógico de indicações de
Entre 1799 e 1804,
von Humboldt viajou pesquisas sobre relações existentes entre as vegetações
pela América do
Sul, explorando­‑a e os climas”, que se enfatiza a discussão a respeito das
e descrevendo­‑a relações dos seres vivos com o ambiente. “Essa corrente, e
pela primeira vez de
um ponto de vista somente ela, conduzirá à elaboração e ao relacionamento
científico. Nos cinco
volumes da sua dos grandes conceitos de ecologia” (ACOT, 1990, p. 6).
obra Cosmos, ele
tentou elaborar uma
descrição física do
O referido autor também reduz a influência do darwi‑
mundo. Humboldt nismo sobre o desenvolvimento da teoria ecológica
apoiou (e colaborou
com) outros cientistas, afirmando que a “tradição darwiniana não pôde desem‑
entre os quais Justus
von Liebig e Louis
penhar um papel direto na constituição da ecologia”
Agassiz. (ACOT, 1990, p. 131).
UNIUBE  21

Segundo Branco (1997, p. 22­‑23), Humboldt não podia se satisfazer com as obser‑
vações de viajantes, distinguindo plantas do Saara ou da Floresta Amazônica,

[...] ele queria também medir e analisar as características de


cada ambiente, a fim de estabelecer relações de causa e efeito
entre essas características e o tipo de vegetação aí existente.
Por isso ele adquiriu, e transportou, com imensa dificuldade,
toda uma enorme parafernália constituída de instrumentos
delicados, como barômetro, higrômetro, termômetro, luneta,
microscópio, cronômetro, sextante e bússola, além de vidros
que continham uma infinidade de reagentes químicos. [...] Além
de estabelecer rigorosamente a posição geográfica toda vez
que fazia a identificação das plantas que encontrava, Humboldt
também determinava a temperatura, a umidade e a composição
química do ar, da água, bem como a composição mineralógica
do solo. [...] conseguiu, assim, comprovar a existência de uma
relação estática entre os seres vivos e o ambiente.

Ainda de acordo com Branco (1997, p. 23), a partir de Humboldt, vários autores
tentaram correlacionar por meio da análise teórico­‑científica as relações existentes
entre os organismos vivos tanto entre eles como com o ambiente onde viviam.
Destacam­‑se, nesse aspecto, as obras de Ernest Haeckel (1866), de Warming, de
Cowles e de Clements.

Como uma das bandeiras dos movimentos sociais, o movimento mundial de


consciência ambiental, surgido a partir do final da década de 1960 do século XX,

Figura 11: Lixão a céu aberto em contato direto com o solo. Um dos tipos de poluição mais
comuns até hoje. Conquista – MG.
Fonte: Foto de Tiago Zanquêta de Souza (2009).
22 UNIUBE

e o início da década de 1970, fez crescer a preocupação com a poluição (Figura


11), com a preservação das áreas naturais, com o crescimento populacional
e com o consumo de alimentos e de energia. Segundo Odum (2007, p. 2), “o
aumento da atenção pública afetou profundamente a ecologia acadêmica”.

Nas formulações mais recentes, desde a publicação de Odum (2007), a totali‑


dade ecossistêmica passa a se afirmar como um processo em movimento que
não exclui a contradição, mas, pelo contrário, a estratégia de desenvolvimento
do ecossistema orienta­‑se no sentido de construção de uma estrutura orgânica
tão grande e diversa quanto possível. O que limita a estrutura dos ecossistemas
são as imposições de entrada e saída de energia e as condições físicas de
existência que predominam no espaço considerado.

Ecossistemas A ecologia, hoje, constitui uma grande área do saber,


antrópicos
que envolve estudos dos ecossistemas antrópicos e
Ecossistemas naturais, da dinâmica social e interações dessas áreas
alterados pelo homem.
entre si, de forma que podemos generalizar os resultados
obtidos a partir de uma determinada investigação meto‑
dológica. Para isso, devemos desenvolver uma grande capacidade de integrar
conceitos e pontos de vista próprios de diversas áreas, tais como: medicina,
biologia, história, geografia, filosofia, química, arquitetura, dentre outras. Po‑
demos ilustrá­‑la, não como um tronco que se ramifica em áreas das ciências,
mas, sim, como várias raízes, originadas independentemente, que mais tarde
confluem para uma área do conhecimento (Figura 12).

Medicina

Arquitetura
História
Ecologia

Química

Geografia

Figura 12: Mostra as diferentes raízes do conhecimento compondo


a ecologia moderna, nosso objeto de estudo neste capítulo.
UNIUBE  23

Como se pôde perceber até agora, o estudo das relações dos seres vivos
entre si e com o meio ambiente difere das lutas de proteção aos seres vivos
e seus hábitats, nichos e culturas, característicos do movimento denominado
ecologismo.

  saiba mais 

Nicho: profissão do ser vivo no ambiente; função que desempenha para o equilíbrio
da natureza.

Hábitat: endereço do ser vivo; lugar onde mora.

Figura 13: Tatu. Animal de grande importância ecológica, pois são


capazes de alimentar­‑se de insetos (insetívoro) contribuindo para
um equilibrio de populações de formigas e cupins. Esse é seu
nicho ecológico.
Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2010).

Figura 14: Cupins. A figura mostra a rainha cercada de


operárias, dentro do cupinzeiro, feito de argila. Organizam­
‑se no ambiente na forma de sociedades.
Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2010).
24 UNIUBE

Segundo Ávila­‑Pires (1999, p. 243), até 1960 a ecologia constituiu tema de


ensino em cursos universitários e assuntos de pesquisa, restrito a laboratórios
especializados e a estações biológicas. Seus princípios gerais eram utilizados
em algumas áreas de aplicação, como na epidemiologia ou história natural da
doença, na agricultura, na piscicultura e no controle de pragas e parasitas.

Capra (2001), em seu livro A teia da vida, apresenta o desenvolvimento do


pensamento sistêmico e das várias contribuições da física, da metafísica e da
microbiologia que convergiram para a transformação da atual visão reducionista
da ecologia.

Ao analisar os trabalhos da microbiologista Lynn Margullis, tanto com James


Lovelock quanto com Carl Sagan, que postulou a Teoria de Gaia, percebe­‑se
que, ainda hoje, a ecologia é vista como uma ciência reducionista, pois é ba‑
seada nos conhecimentos de botânicos e zoólogos, e que, portanto, baseia­‑se
em formas de vida relativamente recentes.

  parada para reflexão 

Ao acessar o site <http://pt.wikipedia.org/wiki/Big_Bang>, você encontrará informações


sobre a origem do universo.

Ao acessar <http://pt.wikipedia.org/wiki/Hip%C3%B3tese_de_Gaia>, você encontrará


informações acerca da estreita relação que existe entre a Terra e seus elementos
constituintes.

Após a leitura dos textos, analise­‑os e compare­‑os com o que você acredita, discuta
com seus colegas e com seu preceptor. Não se esqueça de registrar suas reflexões.

1.2 Conceitos fundamentais para entendermos ecologia

Se a ecologia é o estudo do lugar onde se vive, com ênfase sobre a totalidade ou


padrão de relações entre os organismos e o seu ambiente, então precisaremos
UNIUBE  25

definir alguns conceitos fundamentais para que haja compreensão da amplitude


dessa área do conhecimento, tais como:

• o que caracteriza um ser;

• o que caracteriza a organização dos sistemas vivos, que é, por sua vez, uma
característica dos ecossistemas.

1.2.1 O ser vivo e sua organização

Ricklefs (2003, p. 2) afirma que a unidade funcional da ecologia é o organismo


(o ser vivo), explicando que:

O organismo é a unidade mais fundamental da Ecologia, o


sistema ecológico elementar. Nenhuma unidade menor na
biologia, como o órgão, célula ou molécula tem uma vida se‑
parada no ambiente (embora, no caso dos protistas e bacté‑
rias unicelulares, célula e organismo sejam sinônimos). Cada
organismo é limitado por uma membrana ou outra cobertura
através da qual ele troca energia e matéria com seus arredores.
Esta fronteira separa os processos e estruturas “internos” do
sistema ecológico – neste caso um organismo – dos recursos
e condições “externos” da circunvizinhança. Ao longo de suas
vidas, [...] eles modificam as condições do ambiente e os re‑
cursos disponíveis para outros organismos, e contribuem para
os fluxos de energia e para o ciclo de elementos no mundo
natural (grifo do autor).

A questão da vida é muito antiga e, provavelmente, ainda Animálculos


divide pesquisadores quanto à sua origem. Desde a
Diminutivo de animal.
antiguidade e da forma aristotélica de interpretação da
natureza, um movimento denominado vitalismo se de‑ Infusões

senvolveu, tendo Needhan em 1975 como um grande Manipulação em que


colaborador dessas ideias ao escrever que animálculos lança líquido fervente
sobre substância de
seriam gerados espontaneamente nas infusões (é ne‑ que se deseja retirar
um princípio.
cessário lembrarmos que, nesse período, não havia os
padrões de higiene adotados hoje, muito menos energia
elétrica para resfriamento e conservação de alimentos).
26 UNIUBE

No século XVIII, foi aperfeiçoado o microscópio, o que possibilitou a diferenciação e


identificação de bactérias, fungos e fermentos. Na mesma época, Lavoisier, na quí‑
mica, propunha que, na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma.

Senso comum Contestando o senso comum da geração espontânea ou


“O senso comum
abiogênese – que acreditava que ao juntar trapos, farelos
resulta da observação de milho e suor, originava ratos, baratas e moscas, assim
superficial, da
interpretação imediata e como das árvores, originavam­‑se lagartas, borboletas e
da admissão de causas
aparentes para os
pássaros, e do mel surgiam as abelhas – Francesco Redi
fenômenos percebidos propôs, em 1668, um experimento que isolava, com uma
por nossos limitados
sentidos e por uma trama de tecido, pedaços de carne em quatro potes de
mente não treinada na
análise aprofundada
vidro (Figura 15), enquanto outros 4 potes permaneciam
dos problemas e dos abertos.
fatos utilizando a
metodologia científica”.
Fonte: Ávila­‑Pires O resultado desse experimento comprovou que as mos‑
(1999, p. 8).
cas e larvas só apareciam na carne dos potes abertos e
que eram atraídas pelo cheiro, depositando ovos na carne
exposta, enquanto a carne protegida permanecia livre de
moscas e larvas.

Na época, vários padres, filósofos e cientistas rebateram a descoberta dizendo


que o autor do experimento havia impedido a entrada do princípio vital, que
acreditavam, estava no ar (RAVEN, 2007).

Figura 15: Esquema demonstrativo do experimento de Francesco


Redi em 1668. Note que somente há moscas nos pedaços de
carne do pote aberto.
Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010).
UNIUBE  27

Em 1750, foi desenvolvido por Needhan um caldo nutritivo (água com legumes
e carne) e colocado em um pote. Ele observou que, após alguns dias, o caldo
estava aparentemente diferente e com micróbios (provavelmente fungos e bac‑
térias). Refez o experimento aquecendo­‑o rapidamente e resfriando­‑o de forma
a matar os micróbios. Após alguns dias, o caldo estava novamente infectado por
micróbios. Concluiu daí que estes se desenvolvem dos caldos nutritivos.

Lazzaro Spallanzani refez os experimentos de Needhan só que tampando os


frascos e aquecendo­‑os um pouco mais. Notou que os frascos ficavam muitos
dias sem alterar a aparência. Needhan rebateu seu experimento alegando que
o aquecimento matara o princípio vital.

Mais tarde, em torno de 1850, Louis Pasteur e John Tyndal propuseram um ex‑
perimento semelhante ao aquecerem prolongadamente os caldos nutritivos em
balões de vidro com gargalo curvo denominado pescoço de cisne (Figura 16). O
gargalo fino longo e curvo funcionou como um filtro das partículas de ar e, após
alguns meses, os caldos ainda estavam aparentemente intactos. Para não ter
dúvida, Pasteur quebrou o gargalo de um dos vidros deixando o caldo exposto
ao ar. Notou que, rapidamente, apareciam micróbios e fungos.

A partir desse experimento surge uma nova maneira de pensar a origem da vida,
a chamada biogênese, ou seja, a vida provém de outra preexistente.

  experimentando 

Para que você mesmo comprove a teoria da biogênese (bio – vida – e genesis –
formação), repita o experimento de Redi e registre suas observações, levando em
consideração o meio, o alimento disponível, o espaço e a disponibilidade de gases
para troca. Mostre ao seu preceptor.

Nesse contexto, Leeuwenhoek (1632­‑1723) aperfeiçoou o microscópio, produ‑


zindo imagens de 50 a 300 vezes maiores que as produzidas pelo microscópio
de Hooke em 1590, que viriam auxiliar na observação desses micróbios.
28 UNIUBE

Figura 16: Esquema do experimento com pescoço de cisne.


Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010).

  trocando ideias! 

Se o microscópio foi um objeto aperfeiçoado entre os séculos XVII e XVIII, como foi
que Lineu, ou até mesmo Aristóteles classificavam ou agrupavam os seres vivos? O
que eles consideravam? Pense nisso! Discuta com os colegas.

Para ajudá­‑lo nessa reflexão, acesse <http://pt.Wikipedia.org/wiki/Sistem%C3%A1tica>.

Na primeira década do século XIX é que o termo vida surgiu para diferenciar a
fisiologia dos processos físicos e mecânicos (ÁVILA­‑PIRES, 1999).

Outras teorias, tais como o Criacionismo (fortemente baseado no livro Gêne‑


sis, da Bíblia, segundo o qual a Terra foi criada, as plantas foram postas no
planeta e os animais também) e a Panspermia (Pan – explosão, espermia,
de sperm – semente), baseada em vestígios químicos da vida encontrados
em meteoritos, os quais, conforme se supõe, teriam bombardeado a Terra,
trazendo vida ao planeta.

Até hoje temos discussões fervorosas entre criacionistas e evolucionistas. Per‑


ceba que as discussões fazem parte do desenvolvimento do conhecimento. A
existência de pluralidade de pensamentos, crenças, culturas é que nos torna
realmente diferentes dos demais animais.
UNIUBE  29

Hoje, a maior parte da comunidade científica está convicta de que a vida surgiu
devido a uma prévia evolução química da crosta (Figura 17) e da atmosfera ter‑
restres. A partir de então, houve diversas possibilidades, umas permaneceram,
outras desapareceram.

Fritjof Capra (2001) sintetiza objetivamente o contexto da formação da vida no


planeta há 4,6 bilhões de anos.

Uma outra interpretação pode ser lida em Gonçalves (2001, p. 25­‑33), que
compara os eventos de formação da Terra e origem da vida (aproximadamente
4,6 bilhões de anos) à história de uma família de quatro gerações: bisavô (75
anos), avô (50 anos), pai (25 anos) e filho recém­‑nascido (1 dia). A Terra nasce
com o bisavô, que vai narrando os fatos até o dia do nascimento do bisneto
(origem do Homo sapiens).

Figura 17: Mostra a evolução gradual dos sistemas químicos, que


culmina na Teoria de Oparin sobre os coacervados, tidos por ele como
aglomerados de moléculas proteicas envolvidas por moléculas de
água, em sua forma mais complexa. Essas moléculas foram envolvidas
pela água devido ao potencial de ionização presente em alguma de
suas partes. Acredita­‑se, portanto, que a origem dos coacervados (e
consequentemente da vida) tenha se dado no mar.
Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010).
30 UNIUBE

  sintetizando... 

Hipótese heterotrófica da evolução

• Origem da vida em um ambiente rico em substância orgânica, mas sem oxigênio.

• Os primeiros seres vivos eram anaeróbicos, ou seja, viviam na ausência de oxi‑


gênio.

• Houve o surgimento dos processos de fermentação e por isso aumento de gás


carbônico.

• Consequente redução de alimentos: surgem então os autotróficos aeróbicos,


que aproveitavam o gás oxigênio por respiração, para produção de seus próprios
alimentos por meio da fotossíntese.

1.2.2 Comportamento dos seres vivos em redes autopoiéticas

Romesin e Varela (2004, p. 46) explicam o que desde o início do século tem sido
reconhecido: o padrão de organização de um sistema vivo é sempre um padrão
de rede. Com relação à origem da vida, esclarecem que:

Quando, nos mares da Terra primitiva, as transformações mo‑


leculares chegaram a esse ponto, chegou­‑se também à situa‑
ção na qual era possível a formação de sistemas de reações
moleculares de um tipo peculiar. Isto é: devido à diversificação
e plasticidade possíveis na família das moléculas orgânicas,
tornou­‑se por sua vez possível a formação de redes de reações
moleculares, que produzem os mesmos tipos de moléculas
que as integram e, também, limitam o entorno espacial no
qual se realizam. Essas redes e interações moleculares, que
produzem a si mesmas e especificam seus próprios limites
são [...] seres vivos.

Odum (2007, p. 9) afirma que:

O ecossistema é a unidade funcional básica na ecologia, pois


inclui tanto os organismos quanto o ambiente abiótico; cada um
UNIUBE  31

deles influencia as propriedades do outro e cada um é necessário


para a manutenção da vida como a conhecemos na Terra. Este
nível de organização deve ser a nossa primeira preocupação se
quisermos que a nossa sociedade inicie a implementação de
soluções holísticas para os problemas que estão aparecendo
agora ao nível do bioma e da biosfera (grifo do autor).

Ao analisar os fundamentos históricos da ecologia Ávila­‑Pires (1999, p. 33)


declara que:

O conceito mais fundamental da ecologia é o da sua unidade


funcional, o ecossistema. Para que fosse possível a concepção
deste sistema aberto – que se mantém em equilíbrio dinâmico
por um processo de fixação de energia solar e de transferência
de energia ao longo de uma cadeia de níveis tróficos com a
circulação dos nutrientes –, foram essenciais o evento de certas
descobertas e a proposição de novos conceitos, tais como: ener‑
gia vital, nutrição vegetal, fotossíntese e síntese de compostos
orgânicos, degradação, relações dos organismos com o meio
abiótico, biótico e social, evolução orgânica.

O que podemos entender através da análise das citações acima?

Em uma visão sistêmica, percebemos que tudo, exatamente tudo no universo,


inclusive ele próprio, constituem sistemas completo­‑complexos, ou seja, são
formados por subsistemas menores, e, ao mesmo tempo, é um subsistema de
um sistema completo­‑complexo maior.

Por exemplo, o ser humano. Ele é um sistema completo formado por subsiste‑
mas (sistema endócrino, circulatório, respiratório, digestório, locomotor etc.) que,
por sua vez, são formados por subunidades menores (os órgãos), os quais, por
sua vez, são formados por unidades ainda menores (os tecidos), até as unidades
subdivisíveis que compõem o átomo.

Ao mesmo tempo, ele mesmo é um subsistema de um sistema maior (que é a


família, que é um dos subsistemas de outro maior, como o bairro (compostos
32 UNIUBE

pela família 1 e outras tantas), que é subsistema de outro maior, como a cidade
(conjunto dos sistemas vários: população, bairros, zona rural etc.), e assim por
diante, até chegar aos sistemas maiores, como a biosfera, o planeta, o sistema
solar, até o infinito, como mostra a Figura 18.

O comportamento das populações, no tempo e espaço, define o sucesso des‑


ses grupos. As populações ocupam o espaço de diferentes formas (agrupados,
uniformes e aleatórias) ao longo do tempo e com diferentes velocidades (geo‑
métrica ou aritmeticamente).

  relembrando 

Para entender melhor as progressões geométrica e aritmética, consulte um livro de


matemática do primeiro ano do Ensino Médio, ou até mesmo alguém que lhe possa
ajudar, para responder às seguintes questões:

• Quando uma população cresce mais, em Progressão Aritmética (PA) ou em Pro‑


gressão Geométrica (PG)? Por quê?

• Quais as implicações disso na sobrevivência das espécies?

• Quais as diferenças entre PA e PG matematicamente falando?

• E quanto aos recursos ambientais em relação ao crescimento populacional em


PG, como ficam?

Figura 18: Esquema da organização geral dos sistemas vivos.


UNIUBE  33

1.2.3 Características básicas dos sistemas vivos

1.2.3.1 Propriedades emergentes

Além da visão sistêmica, como círculos que se sobrepõem, as propriedades


emergentes são geradas no momento da interação entre dois subsistemas, por
exemplo, o som. Um homem (ou uma mulher) e um violino são dois subsistemas
de uma orquestra sinfônica, mas da interação deles nasce o som que sai do
violino devido à ação do músico, que, por sua vez, é estimulado por esse mesmo
som, seja ele harmonioso ou não, ou seja, para que haja som é necessário que
haja uma ação contínua entre esses sistemas.

Então podemos entender que propriedades emergentes são as caracterizadas


por contínuas relações entre os sistemas vivos, na dependência de condições
ambientais e recursos naturais.

1.2.3.2 Fluxo/Ciclos

Os ecossistemas são sistemas completos e complexos, definidos pelas inter­


‑relações dos componentes bióticos (seres vivos) e abióticos (solo, ar, luz,
nutrientes, pressão, temperatura e salinidade) (Figura 19). Essas inter­‑relações
compõem os fluxos de matéria e energia no sistema, que têm uma origem (fonte)
e um fim (sumidouro).

Basicamente, o fluxo principal é o da energia. A maior fonte energética para a


Terra é o Sol. Essa energia entra no sistema através das plantas e é transfor‑
mada (pela fotossíntese) em energia química (alimento), que é repassada para
outros níveis pelo processo de alimentação (Figura 20).

Quando falamos em fluxo de matéria, chamamos de ciclos, pois os nutrientes


circulam na natureza alternando­‑se em formas disponíveis e indisponíveis,
graças ao trabalho árduo de bilhões de bactérias e fungos, que mantêm a Terra
limpa. Esses assuntos serão tratados com maior profundidade nos próximos
capítulos.
34 UNIUBE

Algas Luz, Físicos


Temperatura,
Bactérias Pressão etc.

Componentes Componentes
Lagoa
Bióticos Abióticos

Peixes PH,
Salinidade,
CO2 etc.
Rãs Químicos

Figura 19: Relação entre os componentes abióticos e bióticos de um


ecossistema, no caso representado por uma lagoa.
Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010).

Figura 20: Uma representação de cadeia alimentar. 1) Produtor:


planta clorofilada. 2) Consumidor primário: molusco predador da
planta. 3) Consumidor secundário: inseto carnívoro que ataca
o molusco. 4) Consumidor terciário: pato selvagem comendo o
inseto. 5) Consumidor quaternário: jacaré esperando para atacar o
pato. 6) Decompositores: bactérias e fungos no lodo do fundo.
Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010).

1.2.3.3 Retroalimentação

A última característica básica dos sistemas vivos é justamente a retroalimen‑


tação, ou seja, a capacidade de avaliar a situação, e reforçar (incentivá­‑la) ou
retroceder (corrigi­‑la). É o que chamamos de feedback, que pode ser positivo
UNIUBE  35

ou negativo. O interessante da rede é justamente a capacidade de estarmos


o tempo todo voltando ao ponto inicial e revendo nossa posição, sempre com
novos referenciais.

  saiba mais 

Para saber mais, leia, no Capítulo 3 “Adaptação aos ambientes aquáticos e terrestres”,
do livro A economia da natureza, de Ricklefs, o item: “Os organismos mantêm um
ambiente interno constante”. Em seguida, responda às questões abaixo:

• Qual a importância dos mecanismos homeostáticos para a manutenção dos sis‑


temas vivos?

• O que são organismos de sangue frio?

• Dê exemplos de animais homeotérmicos e pecilotérmicos.

1.3 Cinco abordagens para o estudo de ecologia

Os ecólogos estudam a natureza, fazendo referência aos cinco níveis diferentes


de hierarquia dos sistemas ecológicos, que apresentam estruturas e processos
únicos. É natural também que existam conexões entre essas cinco abordagens,
como mostra a Figura 21.

Vamos entender agora as diferentes visões que os ecólogos vêm apresentando,


segundo Ricklefs (2003), com relação às abordagens:

a. Abordagem de organismo

Enfatiza o meio pelo qual a forma, a fisiologia e o comportamento de um indiví‑


duo o ajudam a sobreviver em seu ambiente. Também busca entender por que
a distribuição de cada organismo é limitada a alguns ambientes e não a outros,
e por que organismos parentes que vivem em diferentes ambientes têm formas
36 UNIUBE

Figura 21: Cinco abordagens para o estudo da ecologia. Cada


abordagem está relacionada a um nível diferente na hierarquia dos
sistemas ecológicos, mas são retratados em um único plano de
questionamento científico, com cada abordagem interagindo com
as outras em variados graus.
Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009), adaptado de Ricklefs
(2003).

e aparências de características diferentes. O interesse está justamente nas


adaptações dos organismos aos seus ambientes.

As adaptações são modificações de estrutura e função que melhor ajustam o


organismo para viver em seu ambiente: por exemplo, função renal intensificada
para conservar água no deserto; coloração críptica para evitar detecção por pre‑
dadores; folhas moldadas para serem utilizadas por certos tipos de polinizadores.
As adaptações são o resultado da mudança evolutiva pela seleção natural.
Devido à evolução ocorrer por meio da substituição de um tipo de organismo
por outro dentro de uma população, o estudo das adaptações representa um
ponto de sobreposição entre as abordagens de organismo e de população na
ecologia (RICKLEFS, 2003, p. 5, grifo nosso).

  parada para reflexão 

De que forma o estudo das adaptações representa um ponto de sobreposição entre


as abordagens de organismo e de população na ecologia?
UNIUBE  37

b. Abordagem de população

Existe uma preocupação com os números de indivíduos e suas variações ao


longo do tempo, mediante mudanças evolutivas internas às populações. Se a
variação é numérica, alteram­‑se os números de nascimentos e mortes, que
podem ser influenciadas por condições adversas do meio. Quanto aos proces‑
sos evolutivos, as ocorrências mutagênicas podem alterar significativamente o
número de indivíduos na população.

c. Abordagem de comunidade

Podemos dizer que aborda as interações entre as populações, incluindo as por


alimentação, movimentando a energia e matéria dentro do ecossistema. Existe
uma preocupação com a diversidade e abundâncias de diferentes organismos
vivendo em um mesmo lugar.

  parada para reflexão 

Qual seria a conexão entre as abordagens de população e comunidade?

d. Abordagem de ecossistema

Este estudo trabalha com a ciclagem de energia e matéria no meio ambiente,


sobre a influência de fatores físicos como o clima. Além disso, estuda a intrínseca
relação entre fatores bióticos e abióticos do meio.

e. Abordagem de biosfera

Estuda os movimentos da água, do ar, dos elementos químicos e da energia


no ambiente; influenciados pelas correntes oceânicas que carregam o calor e
umidade, fatores decisivos na determinação do clima, distribuição de organis‑
mos, movimento das populações, estrutura das comunidades e produtividades
dos ecossistemas.
38 UNIUBE

  parada para reflexão 

Por meio dos questionamentos abaixo, você terá oportunidade de refletir melhor sobre
a dinâmica dos sistemas ecológicos. Aproveite!

• Como é que um sistema vivo se mantém?

• O que podemos entender por evolução?

1.4 Subáreas da ecologia

Você já percebeu quão amplos são os campos estudados pela ecologia. Assim,
para melhorar a sistematização da metodologia e dos objetivos trabalhados, fo‑
ram se formando subáreas dentro da ecologia e que hoje compõem disciplinas
em alguns cursos de ecologia ou de pós­‑graduação, tais como:

• Autoecologia (estudo do indivíduo e seu comportamento).

Lacustres • Sinecologia trófica (estudo do organismo e suas rela‑


ções com o ambiente em relação ao comportamento
Relativo ao que está
às margens de um alimentar).
lago.

• Limnologia (estudo dos seres vivos e dos aspectos


físico­‑químicos em ambientes lacustres).

• Edafologia (estudo do comportamento da vegetação sobre solos diferentes).

• Pedologia (origem e formação dos solos).

• Climatologia (estudo dos climas e suas influências).

• Biogeografia (estudo da distribuição dos seres vivos no planeta, no passado


e no presente).
UNIUBE  39

Resumo

A ecologia é o estudo das interações dos seres vivos entre si e com o meio
ambiente.

A palavra ecologia tem origem no grego “oikos”, que significa casa, e “logos”,
estudo. Logo, seria o estudo da casa ou do lugar onde se vive. Foi o cientista
alemão Ernst Haeckel, em 1869, quem primeiro usou esse termo para designar
o estudo das relações entre os seres vivos e o ambiente em que vivem, além
da distribuição e abundância dos seres vivos no planeta Terra.

Para que possamos delimitar o campo de estudo em ecologia devemos, em


primeiro lugar, compreender os processos históricos de degradação ambiental,
e depois os níveis de organização entre os seres vivos.

Portanto, podemos dizer que o nível mais simples é o da célula, que é definida
como uma unidade morfofisiológica que compõe um organismo vivo. Assim, a
célula é a unidade básica e fundamental dos seres vivos.

Quando um conjunto de células, com as mesmas funções estão reunidas, temos


um tecido. Vários tecidos formam um órgão e um conjunto de órgãos formam
um sistema. Todos os sistemas reunidos dão origem a um organismo. Quando
vários organismos da mesma espécie estão reunidos numa mesma região, temos
uma população. Várias populações num mesmo local formam uma comunidade.
Tudo isso reunido e trabalhando em harmonia forma um ecossistema. Todos os
ecossistemas reunidos num mesmo sistema forma a biosfera, componente de
um sistema maior, que é o planeta Terra.

O meio ambiente afeta os seres vivos não só pelo espaço Territorialismo


necessário à sua sobrevivência e reprodução – levando,
Restrição dos seres
por vezes, ao territorialismo – mas também às suas vivos a um mesmo
funções vitais, incluindo o seu comportamento, através ambiente.

do metabolismo. Por essa razão, a qualidade do meio


ambiente determina o número de indivíduos e de espé‑
40 UNIUBE

cies que podem viver no mesmo hábitat. Por outro lado, os seres vivos também
alteram permanentemente o meio ambiente em que vivem.

Da evolução desses conceitos e da verificação das alterações de vários ecos‑


sistemas, principalmente quanto à sua degradação provocada pelo homem,
marcada ao longo da história, levou ao conceito da ecologia humana que estuda
as relações entre o homem e a biosfera, principalmente do ponto de vista da
manutenção da sua saúde, não só física, mas também social.

Por outro lado, apareceram também os conceitos de conservação e do con-


servacionismo que se impuseram na atuação dos governos, seja pelas ações
de regulamentação do uso do ambiente natural e das suas espécies, ou pelas
várias organizações ambientais que promovem a disseminação do conhecimento
sobre essas interações entre homem versus biosfera.

A ecologia está ligada a muitas áreas do conhecimento, dentre elas a economia.


Nosso modelo de desenvolvimento econômico baseia­‑se no capitalismo, que
promove a produção de bens de consumo cada vez mais caros, sofisticados,
mas obsoletos, e isso esbarra na ecologia, pois não pode haver uma produção
ilimitada desses bens de consumo na biosfera que é limitada e findável.

Atividades

Atividade 1
Considere a afirmação: “As populações daqueles ambientes pertencem a dife‑
rentes espécies de animais e vegetais”. Que conceitos estão implícitos nessa
frase, se levarmos em consideração:

a. Somente o conjunto de populações.

b. O conjunto de populações mais o ambiente abiótico.

Atividade 2
Duas ilhas têm o mesmo potencial de produção agrícola. Uma das ilhas tem
uma população humana de hábito alimentar essencialmente vegetariano e na
UNIUBE  41

outra há uma população humana de hábito alimentar essencialmente carnívoro.


Considerando o fluxo de energia e matéria num ecossistema, explique em que
ilha a população humana deverá ser maior.

Atividade 3
Julgue os itens abaixo em certo ou errado, de acordo com as teorias mais aceitas
sobre a origem da vida:

a. Os primeiros seres vivos eram autótrofos e aeróbicos.

b. Os primeiros compostos orgânicos teriam se formado a partir dos gases da


atmosfera primitiva.

c. O aparecimento dos coacervados pode ter sido importante para o apareci‑


mento das primeiras células.

Atividade 4
Levando em consideração o assunto proposto neste capítulo, que conselho
você daria às pessoas com relação à necessidade de preservação dos recur‑
sos naturais? Você acredita que o exercício da cidadania pode reverter a atual
situação do planeta? De que forma?

Referências
ACOT, Pascal. História da ecologia. Rio de Janeiro: Campus, 1990.

ÁVILA­‑PIRES, Fernando Dias de. Fundamentos históricos da ecologia. Ribeirão Preto:


Holos, 1999. 298 p.

BRAGA, Benedito et al. Introdução à engenharia ambiental. 2. ed. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2005.

BRANCO, Samuel Murgel. Ecologia e ecologismos: como nasceu a ecologia. In: KUPSTAS,
Márcia (Org.). Ecologia em debate. São Paulo: Moderna, 1997. (Coleção Debate na Escola.)
42 UNIUBE
CAPRA, Fritjof. A teia da vida. 6. ed. Rio de Janeiro: Cultrix, 2001. 256 p.

GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra. 2. ed. São Paulo: Peirópolis, 2000.

GONÇALVES, Alberto Cosme. Mercoágua: o desafio ecológico e as reservas de água do


Cone Sul. Ribeirão Preto: Fábrica dos Sonhos, 2001. 296 p.

ODUM, Eugene Pleasants. Fundamentos de ecologia. Tradução de Gary W. Barrett. 5. ed.


São Paulo: Thomson Learning, 2007.

PÁDUA, José Augusto. A profecia dos desertos da Líbia: conservação da natureza e


construção nacional no pensamento de José Bonifácio. Revista Brasileira de Ciências
Sociais, São Paulo, v. 15, n. 44, 2000.

RAVEN, Peter et al. Biologia vegetal. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.

RICKLEFS, Robert E. A economia da natureza. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,


2003.

ROMESIN, Humberto Maturana; VARELA, Francisco J. A árvore do conhecimento: as


bases biológicas da compreensão humana. 4 ed. São Paulo: Palas Athena, 2004.
As multidões
Capítulo fervilhantes de seres
2 vivos e o ambiente:
uma comunicação
irresistível
Ricardo Baratella

Introdução
A ecologia é uma ciência nova, mas o pensa‑
mento ecológico é muito antigo. É uma ciência Ecologia

que se encontra atualmente em grande surto Biologia do


de desenvolvimento. Pode­‑se dizer que está na ambiente; estudo do
comportamento dos
crista da onda e, também, praticamente, que está seres vivos entre
si, e das formas de
sendo redescoberta, em todo o planeta. interdependência
destes com o meio, as
influências recíprocas,
Ela deve subsidiar o julgamento de questões as maneiras de
polêmicas que dizem respeito ao desenvolvi‑ competição por
alimentos e espaço, os
mento, ao aproveitamento de recursos naturais e tipos de adaptações
ao ambiente, os
à utilização de tecnologias que implicam intensa grupamentos
intervenção humana ao ambiente, cuja avaliação em diversos
níveis tróficos, as
deve levar em conta a dinâmica dos ecossiste‑ comunidades e,
sobretudo, o papel
mas, dos organismos, enfim, o modo como a do homem, como
natureza se comporta e a vida se processa. principal modificador
do meio e do
equilíbrio biológico.
Pode­‑se dizer, ainda, que o pensamento ecológico Fonte: Soares (2004).

fez sempre parte da vida, dos equipamentos dos Naturalistas


naturalistas, de um modo quase subconsciente
O que se dedica ao
ou automático. Mas foi somente na segunda me‑ estudo da natureza
tade do século XIX que se fizeram tentativas para particularmente às
plantas e aos animais.
a individualização de uma ciência especial que Fonte: Soares (2004).
encerrasse conscientemente esse pensamento.
44 UNIUBE

A maioria das pessoas percebe que mudanças em nosso ambiente


estão ocorrendo como resultado da atividade humana.

É difícil ser contra a conservação. É impossível ser contra o desperdício.


A rigor, todos nós estamos a favor de uma sociedade que conserva seus
recursos. Acreditamos que as instituições de mercado ajudam a evitar,
e não a promover o mau aproveitamento dos bens naturais, e que, por
essa razão, em uma sociedade de mercado, os recursos disponíveis
são efetivamente preservados.

O que é ecologia? Por que é importante estudar ecologia?

A palavra ecologia, definida pelo biólogo alemão Haeckel, em 1866,


origina­‑se do grego: oikos, significa casa, e logos, ciência. Em 1870,
ele definiu a palavra com um significado mais abrangente:

Por ecologia, queremos dizer o corpo de conhecimento referente à


economia da natureza – a investigação das relações totais dos animais
tanto com seu ambiente orgânico quanto com seu ambiente inorgânico;
incluindo, acima de tudo, suas relações amigáveis e não amigáveis com
aqueles animais e plantas com os quais vêm direta ou indiretamente
a entrar em contato – numa palavra, ecologia é o estudo de todas as
inter­‑relações complexas denominadas por Darwin como as condições
da luta pela existência (RICKLEFS, 2003).

Assim, a ecologia é uma ciência biológica que estuda as relações entre


os organismos vivos e seu ambiente. A ecologia é um ramo da biologia
que, além de estudar como os seres vivos dependem uns dos outros
para sobreviver, ajuda a descobrir meios de reduzir os danos que o ser
humano causa ao ambiente.
UNIUBE  45

O estudo da ecologia é muito importante porque ajuda a compreender


a função de cada espécie na natureza. Ajuda também a compreender
a necessidade de preservar os vários ambientes naturais que a Terra
abriga. Isso certamente ajudará a tornar a interferência do homem no
ambiente o menos prejudicial possível.

Estamos diante de um momento crítico na história do nosso planeta,


numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. É possí‑
vel conciliar a expansão da economia capitalista, nos atuais padrões de
produção e consumo, com a conservação do meio ambiente? Essa ques‑
tão tem preocupado muitas pessoas, principalmente os ambientalistas.

À medida que o mundo torna­‑se mais independente e evoluído, o futuro


enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos. Após a Revolução Indus‑
trial, a noção de natureza como simples fornecedora de matéria­‑prima
para a produção de bens e de fontes energéticas para o funcionamento
desses bens arraigou­‑se profundamente na sociedade mundial.

No mundo de hoje, pobreza e desigualdade aumentam: de um lado,


disparidades cada vez maiores entre os hemisférios norte e sul; de
outro, desigualdades crescentes no interior dos países, pois a década
de 1980, longe de contribuir para a igualdade de oportunidades e de
recursos, acentuou as diferenças. Chegou­‑se até mesmo a falar, acerca
dessa década, de “mundialização da pobreza”.

Devemos somar forças e valores para gerar uma sociedade susten‑


tável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos
universais e na ampliação de práticas que levem em consideração as
perspectivas do desenvolvimento sustentável.

Na sua opinião, as sociedades dos países desenvolvidos, maiores benefi‑


ciadas pelo crescimento econômico, estariam dispostas a alterar seu padrão
de consumo visando à preservação do meio ambiente?
46 UNIUBE

Ao analisarmos os padrões de crescimento econômico dos países de‑


senvolvidos, e considerando o modelo de desenvolvimento capitalista,
o qual supõe um aumento constante na produção de mercadorias e na
geração de serviços, a expressão desenvolvimento sustentável parece
até contraditória.

Uma sociedade sustentável do ponto de vista ambiental atende às ne‑


cessidades atuais de sua população em relação a alimentos, água e ar
limpos, abrigo e outros recursos básicos sem comprometer a capacidade
de as gerações futuras atenderem às suas necessidades. Viver de forma
sustentável significa sobreviver da renda natural fornecida pelo solo, pelas
plantas, pelo ar e pela água e não exaurir ou degradar as dotações de ca‑
pital natural da Terra, que fornecem essa renda biológica (MILLER, 2007).

Ecologia não é receita de bolo. Ela representa coisas diferentes para


cada classe social, pois sua percepção está ligada às experiências
sociais concretas. Para o pescador, a ecologia é a defesa do litoral,
dos cardumes e dos manguezais, a luta contra o óleo derramado e a
pesca predatória. A visão ecológica, para os taxistas, começou com a
campanha pelo uso do gás natural nos táxis, um combustível barato e
90% menos poluente. Para o agricultor, a consciência ambiental parte
da conservação do solo e da água, da busca de alternativas aos agro‑
tóxicos e às queimadas (MINC, 2008).

Se observarmos as mudanças ambientais, por causas espontâneas


que costumamos chamar de naturais ou por interferência do homem,
geralmente ocorrem alterações nos conjuntos de seres da região
considerada. Assim, quando um pântano é drenado, certas espécies
de plantas e animais desaparecem; outras surgem aí onde antes não
existiam; terceiras, finalmente, resistem às modificações verificadas
nesse ambiente e nele persistem.

Entretanto, como em todos os outros ambientes, é preciso que exista um


certo equilíbrio entre seus elementos. A não existência de equilíbrio nos
UNIUBE  47

ambientes naturais acarreta modificações de suas características, o que


pode causar a destruição dos animais e dos vegetais que os habitam.

Agora, a história da Terra será nosso ponto de partida para algumas


reflexões sobre o estudo dos seres vivos e suas relações com o meio
ambiente.

  exemplificando! 

Considere os sete dias da semana para representar o que de fato se passou


em cinco bilhões de anos. Imagine...

Se nosso planeta nasceu numa segunda­‑feira, a zero hora, a Terra formou­‑se


na segunda, terça e quarta até o meio­‑dia. E a vida?

A vida começa na quarta­‑feira ao meio­‑dia e desenvolve­‑se de maneira es‑


plendorosa, com toda a sua diversidade e beleza orgânica durante os quatro
dias seguintes.

Somente às quatro horas da tarde de domingo é que os grandes répteis, como


os dinossauros, aparecem. Aproximadamente, cinco horas mais tarde, as
sequoias brotam da terra e os dinossauros desaparecem.

O homem surge só três minutos antes da meia­‑noite de domingo. Mas, a um


quarto de segundo antes da meia­‑noite, inicia­‑se uma grande mudança...

… a Revolução Industrial.

Estamos rodeados por inúmeras pessoas e com os demais elementos natu‑


rais, mas as pessoas acreditam que aquilo que fazem há um quadragésimo
de segundo pode durar indefinidamente.
48 UNIUBE

  saiba mais 

Dinossauros

Designação dada a numerosas espécies de grandes répteis fósseis da era


Mesozoica, que se extinguiram lentamente por falta de adaptação às novas
condições ambientais que se sucederam nos últimos 250 milhões de anos
(SOARES, 2004).

Sequoias

Nome dado a diversas árvores de grande porte, comuns no Canadá e nos


Estados Unidos, na região da Califórnia, embora existam espécimes encon‑
trados até na Argentina. Pertencem à ordem das coníferas e são os maiores
vegetais arbóreos hoje existentes em todo o mundo (SOARES, 2004).

Qual a sua opinião sobre esse texto? Em que momento fica clara a ideia de
que a sociedade humana é também parte integrante da natureza? A quem
cabe a responsabilidade de preservação da natureza?

  saiba mais 

Apolo XIII

Aventura verídica que revela as dificuldades da tripulação da nave diante


de problemas técnicos. Com esse filme, é possível explorar as dificuldades
que o homem teria para se adaptar a ambientes hostis e a impossibilidade
de vida por falta de recursos naturais.
UNIUBE  49

O texto nos faz refletir sobre como os seres humanos têm culturalmente
se visto e se relacionado no ambiente. Vivemos em uma era desafiadora,
competitiva e empolgante. A chegada da era atômica tornou o já vital
estudo do meio ambiente ainda mais excitante. Há uma conscientização
crescente de que durante este século precisamos fazer uma nova tran‑
sição cultural, na qual aprendemos a viver de forma mais sustentável
ao não degradar nosso sistema de suporte à vida.

Embora seja parte integrante do meio, a espécie humana é a única que


pode modificar seu próprio hábitat e com isso influenciar sobre todas as
formas de vida do planeta. Durante milênios, a humanidade vem explo‑
rando a Terra sem ligar para o custo. Não apenas a humanidade está na
iminência de destruir a si e a Terra, mas também a maioria das soluções
alternativas que têm sido propostas, ou já adotadas, são equivocadas.
Precisamos tomar uma ação drástica agora para salvaguardar o futuro
da vida humana e de todos os outros seres vivos.

Objetivos
Ao final do estudo deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• selecionar leituras, aplicando conceitos ecológicos e informações


sobre os seres vivos e suas relações com o meio ambiente;
• listar os tipos de ecossistemas, suas pressões antrópicas e as
causas da pressão;
• reafirmar o que é valência ecológica e como ela pode interferir
para fatores distintos na sobrevivência de um ser vivo;
• discutir a distribuição das diversas espécies no planeta, seja no
ambiente aquático ou no ambiente terrestre, levando informações
da sua autoecologia;
• interpretar a forma como atuam os fatores abióticos, limitantes e
controladores do crescimento populacional, assim como valorizar
a importância dos recursos naturais e a manutenção do equilíbrio
ambiental.
50 UNIUBE

Esquema
2.1 Ecologia, a ciência que estuda o ambiente
2.2 Níveis de organização dos seres vivos
2.3 Ecossistema
2.3.1 Produtividade nos ecossistemas
2.4 Subdivisões da ecologia
2.5 A noção de fator ecológico
2.6 As variações de temperatura
2.7 As variações da pressão atmosférica
2.8 Massas de ar
2.8.1 Principais massas de ar
2.9 Os ventos
2.9.1 Mecanismos dos ventos
2.10 Umidade atmosférica
2.10.1 Avaliação da umidade

2.1 Ecologia, a ciência que estuda o ambiente

Para sobreviver e desenvolver­‑se, os homens foram obrigados, desde a origem


de sua espécie, a produzir seus próprios meios de subsistência, transformando a
natureza ou intervindo nela. De que maneira os homens representaram através
dos tempos suas relações com a natureza?

Somos os únicos animais que transformam a natureza em benefício de sua


sobrevivência porque temos capacidade de planejar ações e criar armas, uten‑
sílios e instrumentos. No entanto, para atender às necessidades atuais, estamos
usando nossa capacidade de modo a tornar o ambiente insustentável para as
gerações futuras. Não podemos transformar, sem limites, a natureza.

Endógenos As condições favoráveis à vida só estão presentes na


O que é produzido pelo superfície do nosso planeta em volume limitado. No ar e
próprio organismo e não
nos oceanos, o domínio vital é avaliado em milhares de
proveniente de outro.
Fonte: Soares (2004). metros; no solo os organismos endógenos não descem
UNIUBE  51

muito além de alguns metros de profundidade: pela escala Biosfera


do globo, isso não representa mais do que uma diminuta
Conjunto de todos os
película de ar, água e terra. Os especialistas lhe dão o ecossistemas da Terra,
de todas as partes
nome de biosfera.
da Terra habitadas
por seres vivos.
Por muito tempo, a atividade humana, como a de todos Fonte: Soares (2004).

os seres vivos, permaneceu estreitamente ligada à bios‑


fera. Mas, nos últimos anos, estendeu­‑se mais além: um
exemplo é o da conquista da Lua, que permitiu ao homem
viver alguns dias a mais de 350.000 quilômetros da bios‑
Colmeia
fera. Não é menos verdade, porém, que, por enquanto, o
Homo sapiens continua incapaz de se libertar totalmente Cortiço de abelhas;
local onde se criam
da delgada película habitada pelos seres vivos. abelhas e elas
organizam a sua
sociedade.
Agora, para compreender melhor as relações entre os Fonte: Soares (2004).
seres vivos e o ambiente, imagine uma colmeia.

Para se alimentar, a abelha (Figura 1) de um mesmo apiário evidentemente es‑


colhe diferentes fontes de pólen ou visita lugares diferentes, pois o suprimento
apanhado em uma colmeia é, frequentemente, diferente do apanhado em outra,
já que a abundância de pólen ou o seu esgotamento em uma fonte pode influir
muito na taxa de coleta.

Figura 1: Abelha: inseto que se destaca pela sua


organização social e a facilidade com que adota a
arquitetura que o homem dá à sua colmeia.
Fonte: Foto de Ricardo Baratella (2010).
52 UNIUBE

Mas, para a sua sobrevivência, a abelha não depende apenas dos alimentos
que as plantas fornecem.

A vida existe na Terra porque o nosso planeta dispõe de fatores físicos e quí‑
micos sem os quais ela não seria possível: a luminosidade, a temperatura, a
disponibilidade de água, o ar atmosférico e as substâncias químicas utilizadas
pelos organismos.

Assim como a abelha, nenhuma espécie de ser vivo sobrevive isoladamente


na natureza. A sobrevivência de qualquer ser depende da presença desses
fatores, mas não somente deles. De fato, a simples observação da vida de um
organismo mostra que ele nunca está isolado, pois, além dos componentes
físicos e químicos, é circundado por outros seres vivos com os quais mantém
relações constantes.

Um meio, ou ambiente, é o conjunto de fatores físicos, químicos e biológicos neces‑


sários à sobrevivência de cada espécie ali existente.

  parada para reflexão 

Nesse momento, reflita sobre a seguinte indagação: por que um jardim pode ser
considerado um modelo de vida na Terra? Lembre­‑se de que nenhuma espécie de
ser vivo sobrevive isoladamente na natureza e diversos fatores físicos e químicos
influenciam nesse ambiente e na vida das espécies que ali, aos poucos, mudam a
paisagem do jardim. As relações entre as diferentes comunidades, mais as caracte‑
rísticas de clima e solo, conformam ecossistemas. A Terra é, na verdade, um grande
ecossistema, que usa a energia do Sol para gerar transformações bioquímicas que
permitem a vida.

Assim, a ecologia é a ciência pelo qual estudamos como os organismos intera‑


gem entre si e com o mundo natural.
UNIUBE  53

A tarefa da ecologia é entender a natureza e as consequências dessas intera‑


ções. Conforme usado por ecólogos, o termo ambiente inclui fatores abióticos
(físicos e químicos), tais como água, nutrientes, luz, temperatura e vento, e
fatores bióticos (seres vivos). Devido às espécies serem adaptadas para viver
em ambientes diferentes, suas interações com os ambientes biótico e abiótico
também variam. Um fator ambiental que exerça uma forte influência sobre os
indivíduos de uma espécie pode não ter qualquer influência sobre os indivíduos
de outra espécie (PURVES et al., 2005).

  saiba mais 

As interações entre os organismos e seus ambientes são processos de mão dupla.


Os organismos tanto influenciam quanto são influenciados por seus ambientes. Na
verdade, o manejo das mudanças ambientais causadas por nossa própria espécie
é um dos grandes problemas do mundo moderno. Por essa razão, os ecólogos são
frequentemente solicitados a ajudar na análise das causas dos problemas ambien‑
tais e na descoberta de soluções para eles. No entanto, é importante não confundir
a ciência da ecologia com o termo ecologia como é frequentemente utilizado em
textos populares, referindo­‑se à natureza como um tipo de superorganismo (PUR‑
VES et al., 2005).

Os seres vivos são numerosos e diversificados. Cada espécie possui suas pró‑
prias características morfológicas, fisiológicas e anatômicas.

Todo mundo é capaz de distinguir um peixe ósseo (Figura 2) de um cavalo


(Figura 3), porque as diferenças são evidentes, mas é preciso ser especialista
para se dar conta de que existem muitas espécies frequentemente parecidas
umas com as outras.

Para o ecologista, mais do que os critérios morfológicos, fisiológicos e anatômi‑


cos, predominam as características biológicas das espécies. Mas é importante
perceber que a vida dos seres vivos se desenvolve nos limites e nas possibili‑
dades do ambiente em que vivem.
54 UNIUBE

Figura 2: Peixe ósseo. Figura 3: Cavalo.


Fonte: Foto de Ricardo Baratella (2010). Fonte: Foto de Ricardo Baratella
(2010).

Diante dessas informações, questiono: O que é um hábitat? Podemos considerar


nicho ecológico a “profissão” de uma espécie?

  saiba mais 

Nicho ecológico

Posição funcional ou lugar biológico de um organismo, uma espécie ou uma população


dentro de um ecossistema. Em outras palavras, o nicho ecológico constitui o que o
indivíduo ou a espécie representa no complexo de relações entre o meio ambiente
e os seres que nele habitam, pelo que consome do ambiente como alimentos, pelo
que oferece ou contribui, servindo de nutrientes para outros seres, pelo que altera
ou evita alterações no equilíbrio homeostático do meio, por suas formas de relação
com a comunidade local, seus hábitos, suas adaptações climáticas, seu momento e
forma de reprodução etc. (SOARES, 2004).
UNIUBE  55

Para ajudá­‑lo a responder esses questionamentos, analise primeiramente a


Figura 4. Em seguida, leia as informações a seguir.

O macaco­‑prego­‑do­‑peito­‑amarelo (Figura 4) vive principalmente na Mata Atlân‑


tica. Nesse caso, estamos nos referindo ao hábitat, ao sítio ou local onde vive o
animal. Ele normalmente é encontrado em comunidades e alimenta­‑se de frutos,
sementes, castanhas, ovos, néctar, insetos e pequenos animais vertebrados.
Agora, descrevemos o nicho ecológico do macaco­‑prego­‑do­‑peito­‑amarelo,
já que representa as atividades ecológicas que uma espécie desempenha no
ecossistema.

Assim, você pode perceber que cada espécie ocupa, portanto, no meio em
que vive, um lugar por seus comportamentos alimentar, reprodutor, territorial.
É o que os ecologistas chamam de nicho ecológico de um organismo; e duas
espécies, por mais próximas que sejam uma da outra no plano da sistemática,
não ocupam nunca o mesmo nicho.

Figura 4: Macaco: mamífero da ordem primatas.


Fonte: Foto de Ricardo Baratella (2010).
56 UNIUBE

2.2 Níveis de organização dos seres vivos

O estudo da ecologia é facilitado pela compreensão dos níveis de organização


dos seres vivos. Considera­‑se como nível mais simples o protoplasma, definido
como substância viva, que é o constituinte das células. Célula é a unidade básica
dos seres vivos. Um conjunto de células com forma e função semelhantes consti‑
tui um tecido. Vários tecidos constituem um órgão. Um conjunto de órgãos forma
um sistema. Assim, os sistemas em conjunto dão origem a um organismo.

  saiba mais 

Protoplasma

Conjunto de tudo o que tem vida ou atividade na célula, abrangendo desde a mem‑
brana plasmática até todo o complexo de material amorfo e figurado intracitoplas‑
mático e intranuclear (SOARES, 2004).

Amorfo

Qualidade do que não tem forma fixa ou determinada e que foge à forma comum;
deformidade, irregularidade na forma (SOARES, 2004).

Agora, analise a Figura 5 e, em seguida, correlacione suas observações com


as definições a seguir.

Figura 5: Cada sistema ecológico reúne diferentes tipos de processos.


1: Organismo; 2: População; 3: Comunidade; 4: Ecossistema; 5: Biosfera.
Fonte: Desenho de Vanessa das Dores Duarte Teruel (2009).
UNIUBE  57

  saiba mais 

Uma população consiste em muitos organismos do mesmo tipo vivendo juntos.


As populações diferem dos organismos no sentido de que elas são potencialmente
imortais, seus tamanhos sendo mantidos através do tempo pelo nascimento de
novos indivíduos que substituem aqueles que morrem. As populações têm também
propriedades, como fronteiras geográficas, densidades (número de indivíduos por
unidade de área) e variações no tamanho ou composição (por exemplo, respostas
evolutivas às mudanças ambientais e ciclos periódicos no tamanho) que não existem
para organismos individuais (RICKLEFS, 2003).

Muitas populações de diferentes tipos que vivem no mesmo lugar formam uma
comunidade ecológica. As populações dentro de uma comunidade interagem de
várias formas. Por exemplo, muitas espécies são predadoras que comem outras
espécies de organismos; quase todas são elas próprias presas. Algumas, como
as abelhas e as plantas cujas flores elas polinizam, e muitos micróbios que vivem
junto com plantas e animais, entram em arranjos cooperativos nos quais ambas as
partes se beneficiam da interação. Todas essas interações influenciam o número
de indivíduos nas populações. Diferente dos organismos, mas semelhantes aos
ecossistemas, as comunidades não têm fronteiras rigidamente definidas; nenhum
invólucro perceptível separa uma comunidade daquilo que a rodeia. A interconecti‑
vidade dos sistemas ecológicos significa que as interações entre as populações se
espalham através do globo como os indivíduos e os materiais se movem entre os
hábitats e as regiões. Assim, a comunidade é uma abstração, representando um
nível de organização mais do que uma unidade discreta de estrutura na ecologia
(RICKLEFS, 2003).

População: é o conjunto de indivíduos de uma mesma espécie que vivem numa


determinada área e num mesmo tempo, mantendo entre si certa dependência.

Comunidade: é o conjunto de populações interdependentes que vivem em determi‑


nada área geográfica.
58 UNIUBE

Figura 6: As cinco abordagens para o estudo da ecologia.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009), adaptado de Ricklefs (2003).

Observe (Figura 6) que cada abordagem se relaciona a um nível diferente na hierar‑


quia dos sistemas ecológicos, eles são retratados em um único plano de indagação
científica com cada abordagem interagindo com outras em graus variados.

  importante! 

A abordagem de ecossistema na ecologia descreve os organismos e suas ativi‑


dades em termos de “moedas” comuns, principalmente quantidades de energia
e vários elementos químicos essenciais à vida, como o oxigênio, o carbono, o
nitrogênio, o fósforo e o enxofre. O estudo de ecossistemas lida com o movimento
de energia e matéria no ambiente e como esses movimentos são influenciados
pelo clima e outros fatores físicos do ambiente. O funcionamento do ecossistema
resulta das atividades de organismos assim como de transformações físicas e
químicas no solo, na atmosfera e na água. Assim, as atividades de organismos
tão diferentes quanto bactérias e pássaros podem ser comparadas pela descrição
das transformações de energia de uma população em unidades como watts por
metro quadrado de hábitat. Contudo, a despeito de suas semelhanças, as abor‑
dagens de ecossistemas e comunidades na ecologia proporcionam diferentes
modos de olhar o mundo natural. Podemos falar de um ecossistema de floresta,
ou podemos falar de comunidades de animais e plantas que vivem na floresta,
usando jargões diferentes que se referem às diferentes facetas do mesmo sistema
ecológico (RICKLEFS, 2003).
UNIUBE  59

E
C
O
S
S
Biocenose Biótopo
I
S
T
E
M
A

Figura 7: Estrutura de um ecossistema.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009).

Os ecologistas introduziram as denominações de biótopo para designar o suporte


inorgânico, reservando a de biocenose para o conjunto de organismos que vivem
em um biótopo determinado.

Por biótopo cumpre entender não somente o substrato (solo, água etc.), mas
também os fatores físicos e químicos (temperatura, iluminação, concentrações
iônicas etc.); a biocenose implica a coexistência de espécies animais e vege‑
tais que têm entre si relações pertencentes a diferentes tipos: comensalismo,
mutualismo, parasitismo etc.

Tomemos como exemplo uma lagoa: o biótopo, neste caso, é constituído pela
água e suas características físico­‑químicas; a biocenose é constituída pelo fi-
toplâncton, pelo zooplâncton, pelos peixes etc., pelo conjunto dos seres que
vivem no biótopo lagoa.

  saiba mais 

Iônicas

Relativo a íon. Átomo ou grupamento de átomos com excesso de elétrons ou com


alguma perda deles, disso resultando mostrar­‑se com carga elétrica negativa ou
positiva, respectivamente (SOARES, 2004).
60 UNIUBE

Comensalismo

Forma de relação harmônica interespecífica unilateral que caracteriza os comensais


(SOARES, 2004).

Mutualismo

Forma de relação harmônica interespecífica necessária à sobrevivência dos seres que


a realizam, já que, isolados, não encontram condições para viver. É um tipo de relacio‑
namento bilateral, que resulta em benefícios para ambos os associantes (SOARES,
2004).

Parasitismo

Relação desarmônica interespecífica na qual um organismo, considerado parasita,


se instala no corpo de outro, com ele mantendo estreita dependência nutritiva e dele
tirando proveitos, ainda que em nítido ou pouco perceptível detrimento deste último
(SOARES, 2004).

Fitoplâncton

Conjunto de organismos, predominantemente microscópicos, de natureza vegetal, que


flutuam nas águas e são arrastados pelas correntezas (SOARES, 2004).

Zooplâncton

Conjunto de diminutos organismos animais flutuantes (microcrustáceos, larvas de


moluscos, anelídeos e de artrópodes em geral), que vagueiam arrastados pelas
correntezas (SOARES, 2004).

É bem evidente que no fim a distinção entre biótopo e biocenose não é sempre
muito nítida. De fato, em um meio terrestre, se consideramos o solo ou a terra
como o biótopo, incluímos de uma só vez não somente o conjunto dos elementos
minerais e inorgânicos do solo, mas também os bilhões de microrganismos que
aí se encontram e que desempenham um papel extremamente importante na
elaboração e na reposição em circulação de numerosos elementos simples.
UNIUBE  61

É necessário, aliás, acrescentar a esse respeito que o termo biótopo é quase


sempre empregado incorretamente por certos ecologistas, e que são muitos os
que o utilizam para designar um povoamento vegetal em cujo seio vive esta ou
aquela espécie animal. Seria preferível, nesse caso, utilizar o termo hábitat em
vez de biótopo, visto que os vegetais são de fato organismos vivos e, por isso
mesmo, fazem parte da biocenose.

2.3 Ecossistema

Chamamos de sistema ecológico ou ecossistema qual‑ Ecossistema


quer unidade (biossistema) que abranja todos os organis‑
É um complexo de
mos que funcionam em conjunto (a comunidade biótica) relações mútuas,
com transferência de
em uma dada área, interagindo com o ambiente físico energia e de matéria,
de tal forma que um fluxo de energia produza estruturas entre o meio abiótico
e os seres vivos de
bióticas claramente definidas e uma ciclagem de materiais determinado ambiente.
entre as partes vivas e não vivas (ODUM, 1988).

Ao longo de suas vidas, os organismos transformam energia e processam ma‑


teriais. Para executar isso, os organismos devem adquirir energia e nutrientes
dos seus arredores e se livrarem de produtos de rejeito indesejado. Ao fazer
isso, eles modificam as condições do ambiente e os recursos disponíveis para
outros organismos, e contribuem para os fluxos de energia e para o ciclo de
elementos no mundo natural. Os conjuntos de organismos com seus ambientes
físicos e químicos formam um ecossistema. Os ecossistemas são sistemas eco‑
lógicos complexos e grandes, às vezes incluindo muitos milhares de diferentes
tipos de organismos vivendo numa grande variedade de meios individuais. Um
passarinho saltando entre as folhas de uma árvore em busca de lagartas e uma
bactéria decompondo o solo orgânico são ambos partes do mesmo ecossistema
de floresta. Podemos falar de um ecossistema de floresta, um ecossistema de
savana e um ecossistema de estuário como unidades distintas por causa de sua
relativamente pouca energia e poucas substâncias que são trocadas entre essas
unidades (RICKLEFS, 2003).
62 UNIUBE

O que são estuários? Onde eles se formam?

  saiba mais 

Os estuários se formam na foz de quase todos os rios, onde a água doce se mistura
à água salgada do mar e os sedimentos transportados pelo rio se depositam. Os ani‑
mais dos estuários são uma mistura de espécies de água doce e de água salgada.
Na maré baixa, essa lama fica exposta e facilita a alimentação das aves pernaltas.

Em um ecossistema em equilíbrio existe um fluxo de energia e de materiais,


além de mecanismos de feedback que contribuem para sua estabilidade. Por
exemplo, se um predador se multiplica, seu número será reduzido mais tarde pela
escassez de presas. Quando a população de predadores declina, a presa pode
atingir novamente seu número original. Esse padrão assemelha­‑se à homeostase
fisiológica de um organismo. Um ecossistema pode ou não ser equilibrado, o que
pode ser determinado pelo estudo da entrada total e da saída total de energia
e de materiais. O homem degrada os ecossistemas pela destruição de seus
mecanismos de feedback e de seus componentes vivos. Assim, quando Guam
foi devastada por um tufão em 1962, o equilíbrio geral não foi perturbado e a
recuperação foi rápida. Em contraste, a introdução do coelho doméstico na ilha
de Laysan, em 1902, redundou na quase extinção da vida vegetal por volta de
1923, quando os últimos coelhos foram mortos. Posteriormente, o repovoamento
gradual das plantas restaurou um ecossistema funcionante. Muitos ecossistemas
naturais supostamente “equilibrados” estão sofrendo modificações a longo prazo,
talvez irreversíveis, devido às atividades do homem (STORER et al., 2002).

Um ecossistema pode ser fechado quando os materiais (nutrientes, água) se


movimentam, na maior parte, no interior de seus limites; é aberto quando as
substâncias se movimentam tanto para dentro como para fora. Todos os ecos‑
UNIUBE  63

sistemas, no entanto, “vazam” um pouco. Os ecossistemas variam em tamanho


desde aqueles de um pequeno volume de solo ou água até todo o globo ter‑
restre como um único sistema vivo. Os limites são arbitrários e estabelecidos
pelo observador. Um ecossistema autossuficiente precisa incluir os seguintes
componentes: produtores (principalmente plantas verdes), consumidores (prin‑
cipalmente animais), decompositores e o ambiente físico que fornece minerais,
água e luz solar.

As ações dos componentes de um ecossistema são facilmente observadas em


uma pequena ilha onde há certo potencial de produção primária e uma capaci‑
dade de sustentação bem definida para cada tipo de nível dos consumidores.

O que é produtividade primária? O que representa a produtividade primária líquida


em um ecossistema?

2.3.1 Produtividade nos ecossistemas

Figura 8: Plantas: produtividade primária em um ecossistema.


Fonte: Foto de Ricardo Baratella (2010).
64 UNIUBE

Chama­‑se produtividade primária a produtividade dos seres vivos autotrófi‑


cos, isto é, capazes de realizar fotossíntese ou quimiossíntese. Estes são
os seres que não dependem de outros seres vivos para sobreviverem. Sem
dúvida, a maior fração da produtividade primária é derivada da fotossíntese
e é, pois, ligada aos seres clorofilados: plantas terrestres e aquáticas (água
doce e salgada). Muitas plantas podem adquirir grande porte (Figura 8) e
apresentar superfícies enormes. Mas, de modo aparentemente paradoxal,
não são estas que respondem pela maior produtividade primária. São, ao
contrário, especialmente os organismos microscópicos clorofilados do fito‑
plâncton os responsáveis pela maior parcela de toda a produtividade primária
que ocorre na Terra. É que, se seu tamanho é ínfimo, seu número é imen‑
samente grande. Sua capacidade de reprodução é fantástica e, com isso,
a reposição daqueles que são retirados do meio pelos seres que deles se
alimentam faz­‑se com extrema rapidez.

  saiba mais 

Fotossíntese

Fenômeno pelo qual organismos clorofilados produzem compostos orgânicos a partir


de materiais inorgânicos, utilizando a energia fornecida pela luz (SOARES, 2004).

Quimiossíntese

Processo natural de obtenção dos compostos orgânicos a partir de substâncias simples,


como a água e o CO2, de maneira análoga à da fotossíntese, sem contudo utilizar a
energia fornecida pelas radiações luminosas, mas, efetivamente, à custa da energia de
reações exergônicas de oxidação, previamente executadas. É, rotineiramente, prati‑
cada pelas sulfobactérias, as ferrobactérias e as nitrobactérias (SOARES, 2004).

Exergônicas

Natureza da reação química em que há liberação de energia para o ambiente


(SOARES, 2004).
UNIUBE  65

  explicando melhor 

O que é produtividade primária?

Quando, em ecologia, falamos em produtividade primária bruta, estamos nos re‑


ferindo ao total da biomassa (matéria orgânica) produzida pelas plantas, por unidade
de área e por unidade de tempo. Essa produtividade pode ser expressa, por exemplo,
em kg/m2/ano ou em calorias/m2/ano.

Já o termo produtividade primária líquida se refere ao valor da produtividade pri‑


mária bruta da qual se subtrai a biomassa (ou a energia) consumida pela respiração
da planta. A produtividade primária líquida representa a biomassa disponível para os
demais níveis tróficos.

Produtividade secundária é a que se opera em outros níveis tróficos, isto é,


dos consumidores de diversas ordens e dos decompositores.

Muitos autores preferem falar de produção quando se trata de produtividade dos


vários níveis tróficos dos consumidores, isto é, acima do nível dos produtores. Não
vemos lógica nisso: se falamos em produtividade primária e em produtividade se‑
cundária, já estamos fazendo a distinção. Se, em vez de falarmos em produtividade
secundária, falarmos em produção, nesse caso, deveríamos falar simplesmente em
produtividade dispensando o adjetivo primária, pois não haveria a secundária.

Pode­‑se investigar o número de calorias que passam de um elo para outro


de uma cadeia (ou rede) alimentar, ou de um nível trófico para outro, de uma
pirâmide. Naturalmente, pode­‑se também exprimir a produtividade em termos
de biomassa acrescida. Qualquer que seja a forma de expressão, matéria ou
energia, é indispensável referir­‑se ao tempo e à superfície ou ao volume a que
se refere à produtividade primária ou secundária.

O que dissemos até o momento referiu­‑se aos vários ecossistemas que ocorrem na
Terra, compondo a biosfera. Claro que o mesmo pode aplicar­‑se, quanto à produtivi‑
dade, a um só ecossistema, a uma associação desse ecossistema, à população de
uma espécie dessa associação e, finalmente, a um só indivíduo dessa população.
66 UNIUBE

Naturalmente, descendo dos ecossistemas aos indivíduos diminui a importância


ecológica do estudo, embora seja possível ganhar mais precisão no conheci‑
mento fisiológico do mesmo.

Agora, analise com muita atenção o Quadro 1. Segundo Philippi et al. (2006), as
causas que induzem a pressão antrópica sobre os ecossistemas, ocasionando
uma série de efeitos modificadores, exemplificando, em vários momentos, de‑
terminados fatores relevantes dessas inter­‑relações.

Quadro 1: Tipos de ecossistemas.

Pressões antrópicas
Ecossistemas Causas da pressão
(efeitos sobre os ecossistemas)

• Conversão (e fragmentação) • Crescimento da população.


das terras agrícolas para usos • Aumento de demanda por
urbanos e industriais. comida e bens industriais.
• Poluição das águas por • Urbanização.
lixiviação de nutrientes e • Políticas governamentais
Agroecos-
assoreamento. subsidiando a agricultura.
sistemas
• Escassez de água provocada • Pobreza governamental
pela irrigação. subsidiando a agricultura.
• Degradação do solo pela • Pobreza e manejo inadequado
erosão, excesso de cultivo e do ecossistema.
depleção de nutrientes. • Mudança de clima global.

• Crescimento da população.
• Pesca excessiva dos estoques. • Aumento da demanda por
• Conversão das áreas alagadas comida e turismo litorâneo.
e de outros hábitats litorâneos. • Urbanização e lazer.
• Poluição das águas de fontes • Subsídios governamentais para
agrícolas e industriais. pesca.
Ecossistemas
• Destruição de dunas, recifes e • Informação inadequada sobre
litorâneos
restingas. estoques dos recursos marinhos.
• Invasão de espécies • Pobreza e manejo inadequado
estrangeiras. do ecossistema.
• Potencial aumento do nível do • Políticas de uso da terra não
mar. coordenadas.
• Mudança de clima global.
UNIUBE  67

• Conversão (e fragmentação)
das terras de florestas para usos
urbanos e industriais. • Crescimento da população.
• Desflorestamento causando • Aumento de demanda por
perda de biodiversidade, madeira e outras fibras.
liberação de carbono estocado, • Subsídios governamentais para
Ecossistemas poluição da água e do ar. extração de madeira.
florestais • Chuva ácida pela poluição • Valoração inadequada dos
industrial. custos da poluição industrial do
• Invasão de espécies ar.
estrangeiras. • Pobreza e manejo inadequado
• Uso excessivo de água do ecossistema.
para fins agrícolas, urbanos e
industriais.

• Uso excessivo de água


para fins agrícolas, urbanos e • Crescimento da população.
industriais. • Escassez de água e distribuição
• Pesca excessiva dos estoques. geográfica desigual.
• Construção de represas para • Subsídios governamentais para
Ecossistemas
irrigação, hidroeletricidade e o uso da água.
de água doce
controle de vazão. • Pobreza e manejo inadequado
• Poluição das águas de fontes do ecossistema.
agrícolas, urbanas e industriais. • Demanda crescente por
• Invasão de espécies hidroeletricidade.
estrangeiras.

• Crescimento da população.
• Conversão (e fragmentação)
• Demanda crescente
dos campos naturais para usos
por produtos agrícolas,
agrícolas e urbanos.
especialmente carne.
Ecossistemas • Queimadas induzidas, resultando
• Informação inadequada sobre
de campos em perda de biodiversidade,
esses ecossistemas.
naturais liberação de carbono estocado e
• Pobreza e manejo inadequado
poluição do ar.
do ecossistema.
• Degradação do solo e poluição
• Ecossistema frágil (acesso e
das águas pelo gado.
transformação facilitados).

Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009).


68 UNIUBE

  importante! 

Todos os ecossistemas, inclusive a biosfera, são sistemas abertos: existe uma entrada
e saída de energia. É claro que os ecossistemas abaixo do nível da biosfera também
estão abertos, em vários graus, aos fluxos de materiais e à imigração e emigração de
organismos. Por conseguinte, representa uma parte importante do conceito de ecos‑
sistema reconhecer que existe tanto um ambiente de entrada quanto um ambiente
de saída, acoplados e essenciais para que o ecossistema funcione e se mantenha
(ODUM, 1988).

Depois de você analisar atentamente o Quadro 1, elabore um esquema simpli‑


ficado contendo todos os elementos bióticos de um ecossistema hipotético e
comente as relações que podem existir entre esses elementos.

Em seguida, eu lhe faço um questionamento: como você responderia a alguém


que diz: “não deveríamos nos preocupar com os efeitos que provocamos nos
sistemas naturais, pois a sucessão irá curar todos os males causados pelas
atividades humanas e restaurar o equilíbrio da natureza”?

A biosfera, conjunto de todos os ecossistemas da Terra, compreende um espaço que


vai desde a altitude de 6.200 metros até profundidades de cerca de 10.000 metros.
Você sabia que, no total, a vida existe numa faixa de apenas pouco mais de 15 qui‑
lômetros, ante os 14 mil quilômetros de diâmetro da Terra?

Anaeróbios Segundo Odum (1988), a evolução a longo prazo da


biosfera é moldada por (1) forças alogênicas (externas),
Termo que designa
qualquer organismo tais como mudanças geológicas e climáticas, e (2) pro‑
inferior (bactérias,
fungos e alguns cessos autogênicos (internos), que resultam das ativi‑
vermes) que dades dos organismos do ecossistema. Os primeiros
consegue viver na
ausência do oxigênio. ecossistemas, há três bilhões de anos, foram povoados
Fonte: Soares (2004).
por minúsculos heterótrofos anaeróbios que viviam de
UNIUBE  69

matéria orgânica sintetizada por processos abióticos. Algas


Depois, veio a origem e a explosão populacional de algas
Organismos inferiores,
autotróficas que, segundo se acredita, desempenharam talófitas, de estrutura
muito simples, uni
um papel dominante na conversão de uma atmosfera
ou pluricelulares,
reduzida em uma oxigenada. Desde aquela época, os clorofilados e
todos autótrofos.
organismos evoluíram durante as longas idades geoló‑ Fonte: Soares (2004).
gicas para produzir sistemas cada vez mais complexos
e diversos que (1) conseguiram o controle da atmosfera
e (2) são habitados por espécies multicelulares maiores e mais altamente orga‑
nizadas. Acredita­‑se que a mudança evolutiva ocorre principalmente por meio
da seleção natural ao nível da espécie ou abaixo dela, porém a seleção natural
acima deste nível também é importante, especialmente (1) a coevolução, ou
seja, a seleção recíproca entre autótrofos e heterótrofos interdependentes, e
(2) a seleção de grupo ou de comunidade, que provoca a manutenção de
características favoráveis ao grupo mesmo quando elas são desvantajosas aos
portadores genéticos dentro do grupo.

Observe, na Figura 9, a época aproximada de eventos da evolução biológica


comparada com níveis hipotéticos de oxigênio.

Origem dos
Primeiros mamíferos
vegetais terrestres
atmosférico atual de oxigênio

Primeiros vertebrados Primeiros


animais
Percentagem do teor

Primeiros exoesqueletos terrestres


Primeiros
metazoários
Origem da
sexualidade
Origem da célula
nucleada
Início do
aumento do O2

Rochas mais
antigas

4,65 4 3 2 1 0,7 0,4 0,1


109 ANOS ANTES DO PRESENTE

Figura 9: A evolução da biosfera e da sua atmosfera oxigenada.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009).
70 UNIUBE

  dicas 

Não deixe de assistir!

Maravilhas submarinas, da BBC Discovery Channel, 2008.

A Indonésia é uma das maravilhas naturais do planeta. Em seu paraíso submarino,


as pessoas que vivem nesse arquipélago são tão fascinantes quanto a fauna. Vale
a pena conferir!

Águas sagradas, da BBC Discovery Channel, 2007.

Viaje pelas bacias dos rios da Índia e deslumbre­‑se com as pessoas e animais que
convivem nessas sagradas terras úmidas.

A cidadela dos Robinsons (Swiss family Robinson. Estados Unidos, 1960, 126 min.
Direção de Ken Annakin.)

Essa é mais uma aventura clássica, em que uma família de náufragos procura se
adaptar às dificuldades de viver em uma ilha longe da civilização. Esse filme permite
uma análise sobre a exploração de recursos naturais e a adaptação do homem ao
meio ambiente.

A guerra do fogo (La guerre du feu. Canadá, França e Estados Unidos, 1981, 100
min. Direção de Jacques Annaud.)

Um filme que especula a descoberta e o aproveitamento do fogo pelos homens das


cavernas. Nesse caso, pode­‑se trabalhar com a relação do homem com o meio am‑
biente e as descobertas de seus benefícios por um ser racional.

Em seguida, responda aos questionamentos: qual é a sua opinião sobre esse assunto
que está representado na Figura 9? Como os cientistas explicam o desenvolvimento
da vida na Terra? O que é evolução biológica por seleção natural e como ela levou à
UNIUBE  71

atual diversidade de organismos existentes no planeta? O que determina o número


de espécies em um ecossistema?

Durante cerca de 3,4 bilhões de anos de evolução, a interdependência entre os


organismos da Terra tornou­‑se extensa e complexa, uma vez que as espécies
evoluíram junto com outras em ambientes variados que elas mesmas ajudaram
a criar. A competição, surgida por altas taxas de reprodução e recursos limitados,
produziu muitos modos de vida nos quais a luta por alimento, espaço vital, abrigo
e parceiros é minimizada. A diversificação de organismos resultante foi favorecida
por um aumento na complexidade ambiental que acompanhou o aumento do
número de espécies. A interdependência pode ocorrer desde relações amplas e
detalhadas de dependência dos animais em relação às plantas, como alimento,
até complicadas interações entre os membros de uma espécie.

Todos os seres vivos passam, durante milênios, por um processo de adaptação


provocado pela seleção natural: o meio ambiente, ao mesmo tempo em que
fornece as condições necessárias à sobrevivência, elimina os indivíduos inca‑
pazes de superar as adversidades. Alterar o meio ambiente significa alterar as
condições de vida das diferentes espécies que habitam nosso planeta.

2.4 Subdivisões da ecologia

Segundo Schroter (apud SILVA, 2009), quem estuda as relações de uma espé‑
cie individual, com o seu meio, estuda autoecologia. Esta é que estabelece os
limites de tolerância e a preferência de cada espécie em relação a cada fator
ecológico. Assim, autoecologia é, praticamente, sinônimo de ecologia fisiológica.
Alguns autores acentuam que a autoecologia despreza as interações da espécie
considerada, com as demais, isto é, a interferência dessa espécie com as ou‑
tras com as quais convive e vice­‑versa. Não vemos como isso possa ser feito,
a não ser retirando a espécie de seu meio para estudá­‑la, por exemplo, com
maior rigor, não no ambiente que lhe é peculiar, mas em outro, completamente
artificial. Ora, quem isso fizer, não estará, a nosso ver, estudando autoecologia,
72 UNIUBE

mas fisiologia. Se, depois, fizer ilações de natureza ecológica, estará, então,
estudando fisiologia ecológica.

De outro lado, pode­‑se estudar, especificamente, as correlações recíprocas entre


as espécies e as relações destas com o ambiente físico que ocupam. Quem isso
fizer estará estudando sinecologia (do grego: Syn, significa conjunto, oikos, casa
e logos, estudo). Assim, sinecologia é a ecologia dos conjuntos de seres vivos.

  dicas 

Fique mais informado!

Se tiver oportunidade não deixe de assistir ao filme Blinky Bill: o ursinho travesso
(Blinky Bill, Austrália, 1992, 97 min. Direção de Yoram Gross). Na realidade, Blink
Bill é personagem de uma série de filmes ecológicos, em que ele, um coala, e seus
amigos australianos, convivem com o desequilíbrio ecológico na floresta causado
pelo homem. Esse filme é muito utilizado para mostrar as interferências das ações
humanas no desequilíbrio ecológico, bem como comentar a necessidade de os ani‑
mais se adaptarem a um novo ambiente.

Não entendemos que autoecologia e sinecologia sejam subdivisões da ecologia,


mas apenas modos diversos de abordagem ecológica.

A sinecologia pode ser praticada de modo estático ou dinâmico. No primeiro caso,


limita­‑se a descrever os grupos de seres vivos que ocorrem em certo meio; no
segundo, procura examinar as razões pelas quais, por exemplo, em determinado
meio, grupos de seres vivos se substituem em tempos mais ou menos longos.

Também se pode abordar a sinecologia sob dois aspectos: estudando as re‑


lações do meio com os grupamentos vegetais – sinecologia mesológica; ou
estudando as reações (o comportamento) das plantas às condições do meio
– sinecologia etológica.

A sinecologia é, por assim dizer, a sociologia de todos os seres vivos, integrados


em seus diversos ambientes, não apenas do homem. Assim como temos grupos
UNIUBE  73

humanos com diferentes características, vivendo em ambientes específicos,


temos grupos de animais e grupos de plantas, ou melhor, grupos de animais (o
homem inclusive) e de plantas, vivendo em ambientes determinados.

2.5 A noção de fator ecológico

Todo organismo está submetido no meio onde vive às Edáficos


ações simultâneas de agentes climáticos, edáficos,
Relativo à constituição
químicos ou bióticos muito variados. Chamaremos fator físico­‑química do solo.
Fonte: Soares (2004).
ecológico todo elemento do meio susceptível de agir di‑
retamente sobre os seres vivos, ao menos durante uma
fase de seu ciclo de desenvolvimento. Essa definição
elimina elementos, tais como a altitude ou a profundidade. Com efeito, a altitude
atua por intermédio da temperatura, da insolação, da pressão atmosférica e não
diretamente; igualmente, a profundidade atua sobre os animais aquáticos por
intermédio do aumento de pressão e da diminuição da iluminação.

Os fatores ecológicos atuam sobre os seres vivos de diversas maneiras:

1. eliminando certas espécies dos territórios cujas características climáticas


ou físico­‑químicas não lhes convêm e, por conseguinte, intervindo em sua
distribuição geográfica;

2. modificando as taxas de fecundidade e de mortalidade das diversas espécies,


atuando sobre os ciclos de desenvolvimento e provocando migrações, por con‑
seguinte, agindo sobre a densidade das populações;
Diapausa

3. favorecendo o aparecimento de modificações adap‑ Representa uma


tativas: modificações quantitativas do metabolismo e forma de atenuação
temporária dos
também modificações qualitativas, tais como a dia- fenômenos biológicos.
Fonte: Soares (2004).
pausa, a hibernação, a estivação, as reações fotope‑
riódicas etc.
74 UNIUBE

Figura 10: Esquema que representa os limites de tolerância de uma


espécie em função da intensidade do fator ecológico estudado.
Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009).

Um fator ecológico desempenha o papel de fator limitante quando está au‑


sente ou reduzido a abaixo de um mínimo crítico, ou, então, se excede o nível
máximo tolerável.

Agora, reflita sobre os seguintes questionamentos, utilizando em sua argumenta‑


ção elementos dos textos lidos: os problemas ambientais afetam apenas a região
em que ocorrem? Você se lembra de algo que não era visto como problema
ambiental e depois passou a ser? Algum fator ecológico está afetando ou pode
vir a afetar a vida de cada um de nós em sua localidade? Qual? Por quê?

  dicas 

Vale a pena assistir!

Ferngully: as aventuras de Zack e Crysta na floresta tropical (Ferngully: the last


rainforest. Estados Unidos e Austrália, 1992, 76 min. Direção de Bill Kroyer). Dese‑
nho criado especialmente para a ECO­‑92, cuja trilha sonora foi consagrada por Elton
John. A ecologia é o tema, e a devastação da floresta recebe o enfoque principal. O
filme tratará do desequilíbrio e da dizimação de espécies ainda desconhecidas pelo
homem por pura ganância. A magia e os entes da floresta representam os segredos
que o homem poderá deixar de conhecer por suas atitudes inconsequentes.
UNIUBE  75

2.6 As variações de temperatura

Todos nós já sentimos a variação da temperatura, quer durante o dia, quer nas
diversas épocas do ano ou quando nos deslocamos de um lugar para outro.
Podemos dizer que a temperatura é bastante variável no tempo e no espaço.
Essa variação decorre de diversos fatores:

Latitude – os raios solares atingem a superfície terrestre de forma desigual, em


virtude da forma esférica da Terra. De modo geral, podemos dizer que, quanto
maior a latitude, maior a inclinação dos raios solares que incidem na superfície da
Terra. Portanto, as regiões equatoriais (baixas latitudes) são mais intensamente
aquecidas que as regiões polares (altas latitudes).

Além disso, os raios solares que atingem as altas latitudes atravessam


maior volume de atmosfera até chegar à superfície terrestre, sendo mais
intensamente absorvida do que os que atingem as baixas latitudes (regiões
equatoriais).

DISTRIBUIÇÃO DA INSOLAÇÃO NAS DIVERSAS LATITUDES

80o polo 50 100 150 radiação


quilocalorias / cm3 / ano)
70o

60o
Transferência de energia re
50o ce
bid
a
40o

30o excesso
equador
20o

10o

Figura 11: Distribuição da insolação nas diversas latitudes.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009).
76 UNIUBE

Podemos concluir, portanto, que nas regiões de baixa latitude a temperatura é


maior, enquanto nas regiões de alta latitude a temperatura é menor.

Podemos usar a seguinte fórmula geral:


menor latitude = maior temperatura
maior latitude = menor temperatura

Altura – a atmosfera terrestre não se aquece por meio dos raios solares inciden‑
tes, mas por meio das radiações refletidas pela Terra. Portanto, quanto mais nos
afastarmos da superfície de irradiação, menor será a temperatura. Em média,
para cada 200 m, haverá redução de 1º C na temperatura. Se um balão­‑sonda
estiver a 1.000 m de altura, deverá acusar 5º C a menos que a temperatura da
superfície.

Altitude – vamos tomar outra situação: uma planície a 100 m de altitude e um


planalto a 3.000 m, ambos na mesma latitude. Medindo a temperatura de ambos
os lugares, a 1 m do solo, portanto, à mesma altura, verificaremos que na planície
a temperatura será maior do que no planalto. Isso decorre do fato de a pressão
atmosférica ser maior na planície e menor no planalto. Portanto, no planalto, os
gases estarão em maior expansão, retendo menor quantidade de calor do que
na planície, onde os gases estarão mais concentrados (aglomerados). Portanto,
quando nos elevarmos em altitude ou em altura, sentiremos sempre redução na
temperatura atmosférica. Podemos, então, concluir que:

menor altitude = maior temperatura


maior altitude = menor temperatura

Distribuição dos continentes e dos oceanos – o comportamento térmico das


rochas é muito diferente do das águas. Em primeiro lugar, porque a temperatura
específica da rocha é maior que a da água. Em segundo, porque os raios sola‑
res penetram bem menos nas rochas que nas águas. Em vista disso, as rochas
aquecem­‑se intensamente quando expostas às radiações solares, esfriando­‑se
rapidamente na sua ausência. As águas, por seu lado, se aquecem e esfriam
muito lentamente, isto é, apresentam temperaturas mais estáveis.
UNIUBE  77

Como o hemisfério sul possui apenas 20% das terras emersas, a sua variação
térmica será menor que a do hemisfério norte, que possui 80% das terras emer‑
sas. Esse fenômeno ocorre também em áreas situadas próximas ao mar e em
áreas situadas no interior dos continentes.

Nas áreas próximas ao mar, as variações térmicas são mais amenas. Essas
áreas sofrem influência da maritimidade. Nas áreas situadas no interior dos con‑
tinentes, as variações térmicas são maiores. São áreas que sofrem a influência
da continentalidade.

maritimidade = variações térmicas menores


continentalidade = variações térmicas maiores

  pesquisando na web 

Faça uma consulta aos sites a seguir e deslumbre­‑se com a magia da ciência:

ABC da Energia – <http://www.abcdaenergia.com>

Agência Espacial Brasileira – <http://www.aeb.gov.br>

Agência Nacional de Vigilância Sanitária – <http://www.anvisa.gov.br>

Canal Futura – <http://www.futura.org.br>

Casa da Ciência – <http://www.cciencia.ufrj.br>

Centro de Divulgação Científica e Cultural – USP – <http://www.cdcc.sc.usp.br>

Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – <http://www.cptec.inpe.br>

Cetesb – <http://www.cetesb.sp.gov.br>

Eletronuclear – <http://www.eletronuclear.gov.br>

Escola do Futuro – USP – <http://www.futuro.usp.br>

Espaço Ciência – <http://www.eciencia.pe.gov.br/espacociencia>


78 UNIUBE

Espaço Museu do Universo Fundação Planetário – <http://www.rio.rj.gov.br/


planetario/universo>

Estação Ciência – USP – <http://www.eciencia.usp.br>

Fundação Museu de Tecnologia de São Paulo – <http://www.museutec.org.br>

2.7 As variações da pressão atmosférica

  saiba mais 

Pressão atmosférica

Peso do ar atmosférico sobre todos os corpos, à superfície terrestre, a qual se pode


medir por meio do barômetro.

Barômetro

Instrumento destinado à medição da pressão atmosférica.

Assim como a temperatura, a pressão atmosférica varia em função de vários


fatores:

Altitude – a pressão atmosférica varia com a altitude, pois quanto maior a pro‑
ximidade em relação ao nível do mar, maior será o volume de gases sobre a
superfície e, em consequência, a pressão atmosférica será maior. Portanto, a
pressão atmosférica diminui com a altitude.
UNIUBE  79

Temperatura – a pressão atmosférica varia também em função da temperatura,


pois, quando esta se eleva, o ar sofre dilatação e fica mais leve, dando origem
a áreas de baixas pressões. Ao contrário, quando a temperatura diminui, o ar
comprime­‑se e fica mais denso, dando origem a áreas de altas pressões. Por‑
tanto, a pressão atmosférica diminui com o aumento da temperatura.

2.8 Massas de ar

Massas de ar são porções da atmosfera que apresentam Massas de ar


características particulares de temperatura, umidade e
Volume grande e
pressão. Em consequência, elas podem ser quentes ou homogêneo de ar.
frias, secas ou úmidas, de alta ou baixa pressão. Essas
características das massas de ar, aliadas ao seu caráter dinâmico, permitem­‑nos
compreender a sua importância na caracterização dos diferentes tipos climáticos
existentes. A maior parte do Brasil, por exemplo, durante o verão, encontra­‑se
dominada por massas de ar quente, resultando no predomínio de temperaturas
elevadas, ao passo que durante o inverno, devido ao fortalecimento da massa de
ar polar, o sul do país é invadido por “ondas de frio” (frentes frias), ocasionando
temperaturas abaixo de zero grau e geadas.

2.8.1 Principais massas de ar

As principais massas de ar ligadas à circulação geral da atmosfera são:

Massas polares – são muito amplas e caracterizam dois importantes centros de


alta pressão: um na região polar ártica e outro na região polar antártica. Podem
ser continentais ou marítimas.

Massas tropicais – ocupam latitudes próximas aos 30º nos dois hemisférios
(proximidades dos trópicos), podendo ser continentais ou marítimas. As massas
tropicais continentais são secas e as marítimas são úmidas.

Massas equatoriais – localizadas na zona equatorial, caracterizam­‑se por ele‑


vadas temperaturas e baixas pressões.
80 UNIUBE

Ventos altos cirrostratus


cumulonimbus cirrus
altocumulus
cumulus

cumulus humilis Ar quente


Ar frio

Figura 12: Massas de ar.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2010).

2.9 Os ventos

Vento é o ar em movimento. Do ponto de vista climático, sua importância é muito


grande, pois não só contribui para manter o equilíbrio térmico da Terra, como
também é responsável pela distribuição da umidade.

Sua origem está ligada às diferenças de temperatura e de pressão existentes


entre duas regiões da atmosfera.

Você sabe o que são monções?

Qual a diferença entre brisas e ventos alísios?

  saiba mais 

As monções são ventos periódicos que, durante o inverno asiático, sopram da Ásia
para o oceano Índico (monções de inverno). São ventos frios e secos. Durante o verão
asiático, sopram do Índico para a Ásia (monções de verão). As monções de verão pro‑
piciam abundantes chuvas em vasta porção do sul e sudeste asiático. Podem dizer que
as monções de verão são fundamentais para os povos que vivem nessas áreas.

As brisas são ventos periódicos que sopram, durante o dia, do mar para o continente
(brisas marítimas) e, durante a noite, do continente para o mar (brisas terrestres).
UNIUBE  81

Lembre­‑se de que as massas líquidas demoram mais para se aquecer e esfriar do


que as massas continentais.

Os alísios são ventos constantes que sopram durante o ano todo dos trópicos para
o Equador, onde sofrem aquecimento, formando correntes convectivas. A zona de
convergência dos alísios chama­‑se convergência intertropical (CIT) ou doldrum.

Devido ao movimento de rotação da Terra, os alísios sofrem desvio para o oeste (força
de Coriolis), sendo por isso chamados alísios de sudeste (hemisfério sul) e alísios de
nordeste (hemisfério norte).

2.9.1 Mecanismos dos ventos

O mecanismo dos ventos está expresso na primeira lei da circulação atmosférica,


formulada pelo holandês Buys Ballot: “Os ventos sempre sopram das áreas de alta
pressão para as áreas de baixa pressão”. Isso quer dizer que, quando uma área
está submetida a elevadas temperaturas, o ar sofre dilatação e torna­‑se mais leve,
ficando, portanto, com baixa pressão. Para essa área, converge, então, o ar de maior
pressão atmosférica. Aproximando­‑se dos centros de baixa pressão, o ar começa a
se aquecer e torna­‑se também quente e mais leve, formando
Zona
correntes ascendentes, isto é, correntes convectivas.
Qualquer faixa
As áreas de baixa pressão (áreas receptoras de ar) chamam­ de latitude que
circunscreve a
‑se zonas ciclonais, e as áreas de alta pressão (áreas dis‑ Terra, indicada pelas
unidades de medição
persoras de ar) são chamadas zonas anticiclonais. linear ou angular.

MECANISMO DOS VENTOS


Corrente Corrente
ascendente descendente

BAIXA PRESSÃO ALTA PRESSÃO


(Zona ciclonal) (Zona anticiclonal)

Figura 13: Mecanismos dos ventos.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009).
82 UNIUBE

2.10 Umidade atmosférica

Umidade Umidade atmosférica é a presença de vapor de água na


atmosfera, proveniente da evapotranspiração que se pro‑
Qualidade ou estado
de úmido. cessa tanto nas superfícies líquidas como nos vegetais,
pela ação da energia solar.

A intensidade da evapotranspiração depende:

• da intensidade das radiações solares;

• da extensão da superfície evaporante;

• da atuação dos ventos.

2.10.1 Avaliação da umidade

Quando calculamos o peso do vapor de água por metro cúbico de ar, estamos
determinando a umidade absoluta, que é dada em gramas por metro cúbico.

Portanto:
Umidade absoluta é a quantidade de vapor de água
existente na atmosfera em um dado momento.

Agora, eu lhe faço a seguinte indagação: qual a diferença entre umidade atmosférica,
umidade absoluta e umidade relativa?

  sintetizando... 

• Umidade atmosférica: vapor de água contido na atmosfera.


UNIUBE  83

• Umidade absoluta: quantidade de vapor de água que contém a atmosfera em um


momento e lugar determinados.

• Umidade relativa: comparação entre a quantidade de vapor de água que contém


a atmosfera, em um lugar e momento dados, com a quantidade de vapor de água
que poderia reter em igual temperatura.

A atmosfera não pode continuar recebendo vapor de água indefinidamente. Há


um limite além do qual a atmosfera não pode aumentar a quantidade de vapor
de água. Quando esse limite é atingido, dizemos que o ar está saturado ou que
a atmosfera atingiu o ponto de saturação ou ponto de orvalho.

O ponto de saturação não é igual para toda a atmosfera, pois varia em função
da temperatura.

Quanto maior a temperatura, maior a quantidade de vapor de água que o ar


poderá conter, isto é, maior será o ponto de saturação.
Ponto de saturação é a capacidade máxima
da atmosfera em conter vapor de água.

Conhecendo a umidade absoluta e o ponto de saturação, podemos calcular a


umidade relativa do ar.

Observe:

Se a umidade absoluta e o ponto de saturação de uma dada atmosfera forem,


respectivamente, de 5 g e 20 g, a umidade relativa será de 25%.

Se a umidade absoluta e o ponto de saturação forem, respectivamente, de 10 g


e 20 g, a umidade relativa será de 50%.

Umidade relativa é a relação entre a umidade absoluta do ar


e o seu ponto de saturação, sendo medida em porcentagem.
84 UNIUBE

Figura 14: Variação do ponto de saturação


com a temperatura.
Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009).

  parada obrigatória 

Quando a umidade relativa atinge 100%, a atmosfera está saturada.

A umidade atmosférica é um dos elementos climáticos mais importantes, pois é uma


das características marcantes dos diferentes tipos de clima existentes.

A umidade atmosférica é medida por meio do higrômetro, que é o instrumento que


determina o grau de umidade da atmosfera.

  saiba mais 

Muitas vezes, podemos perceber que, no decorrer da vida do organismo, seu papel
ecológico também faz com que ocupe espaços (nichos) diferentes, comporte­‑se e se
UNIUBE  85

relacione diferentemente. À capacidade de sobreviver frente às variações ambientais


(físicas ou bióticas) chamamos de valência ecológica da espécie.

Valência ecológica é a capacidade que a espécie tem de ocupar hábitats variados,


suportando grandes variações ambientais.

Quadro 2: Valências diferentes para fatores distintos, segundo Odum.

Valências diferentes para fatores distintos

TEMPERATURA
Estenotérmico de estreito espectro de temperatura ou pouco resis‑
tente a grandes variações.
Euritérmico de largo espectro de temperatura ou muito resistente
a variações.
ÁGUA
Estenohídrico de estreito espectro de disponibilidade hídrica ou
pouco resistente a grandes variações.
Euriídrico de largo espectro de disponibilidade hídrica ou muito
resistente a variações.
SALINIDADE
Estenoalino de estreito espectro de variação de salinidade ou
pouco resistente a grandes variações.
Eurialino de largo espectro de variação de salinidade ou muito
resistente a variações.
ALIMENTO
Estenofágico de estreito espectro de disponibilidade de formas de
alimento ou pouco resistente a grandes variações.
Erifágico de largo espectro de disponibilidade de formas de
alimento ou muito resistente a variações.

Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009).

Cada população em um ecossistema tem uma faixa de tolerância a variações


em seu ambiente físico e químico. Os indivíduos dentro de uma mesma popu‑
lação podem apresentar faixas de tolerância ligeiramente diferentes em relação
à temperatura ou a outros fatores em razão de pequenas diferenças na compo‑
86 UNIUBE

sição genética, condição de saúde ou idade. Por exemplo, uma população de


trutas pode viver melhor entre uma estreita faixa de temperaturas, mas poucos
indivíduos conseguem sobreviver acima ou abaixo dessa faixa. Obviamente, se
a água fica muito quente ou muito fria, nenhuma das trutas consegue sobreviver
(MILLER, 2007).

Princípio dos fatores Segundo Miller (2007), diversos fatores podem afetar o
limitantes
número de organismos em uma população. Por vezes,
O excesso ou a falta um fator, conhecido como fator limitante, tem mais im‑
de um fator abiótico
pode limitar ou impedir portância que outros para o crescimento da população.
o crescimento de uma
Tal princípio ecológico, relacionado à lei de tolerância,
população, ainda que
todos os outros fatores denomina­‑se princípio dos fatores limitantes.
estejam na faixa de
tolerância ideal ou
próximas a ela.

Lei de tolerância
O que determina a existência, a abundância e distribuição de uma espécie no
ecossistema é o fato de os níveis de um ou mais fatores físicos ou químicos
estarem situados na faixa tolerada por aquela espécie.

Um fator limitante pode existir não só por causa de uma insuficiência de algum
material, como também por um excesso, como no caso de fatores tais como
calor, luz e água.

Segundo Odum (1988), alguns princípios subsidiários à lei de tolerância podem


ser expressos da seguinte maneira:

1. Os organismos podem apresentar uma larga faixa de tolerância para um fator


e uma estreita faixa para outro.

2. Os organismos que tenham faixas de tolerância largas para todos os fatores


serão provavelmente os mais amplamente distribuídos.

3. Quando as condições não são ótimas para determinada espécie em relação


a um fator ecológico, os limites poderão ser reduzidos para outros fatores
ecológicos.
UNIUBE  87

4. Frequentemente, descobre­‑se que os organismos na natureza não estão vi‑


vendo, na verdade, dentro da faixa ótima de determinado fator físico. Em tais
casos, algum outro fator ou fatores devem ter uma importância maior.

5. A época de reprodução geralmente é um período crítico quando os fatores


ambientais têm maiores probabilidades de serem limitantes.

O conceito de fatores limitantes é valioso porque proporciona ao ecologista uma


porta de entrada para o estudo de situações complexas. As relações ambien‑
tais dos organismos tendem a ser complexas, mas felizmente, todos os fatores
possíveis não têm importância igual em uma dada situação ou para um dado
organismo. Estudando determinada situação, o ecologista geralmente conse‑
gue descobrir os prováveis elos fracos e focalizar sua atenção, pelo menos ao
início, naquelas condições ambientais que apresentem mais chances de serem
críticas ou limitantes.

Chegamos, assim, ao final deste capítulo. Esperamos que você tenha assimilado
todas as informações importantes e que possa, agora, dedicar­‑se à realização
das atividades propostas.

Resumo

Cada organismo vivo tem um modo de vida particular que depende de sua estru‑
tura, fisiologia e ambiente que ocupa. A ação dos fatores abióticos produz uma
grande variedade de ambientes nas diversas partes da Terra. As condições são
bem constantes em algumas terras e mares tropicais, mas em grande extensão
da terra a temperatura, as relações de umidade e a luz solar variam muito nas
diferentes estações. Ao conjunto dessas influências denomina­‑se clima. O ciclo
vital de cada espécie ajusta­‑se intimamente às condições climáticas do ambiente.
Nenhum ser vivo sobrevive de modo inteiramente independente, mas, pelo con‑
trário, cada um é parte de uma comunidade vital integrada que inclui outros da
mesma espécie, além de muitos tipos diferentes de animais e plantas. A ecologia
é o estudo científico das inter­‑relações entre os organismos e seus ambientes e
a distribuição, o estudo de sua ocorrência no espaço e no tempo.
88 UNIUBE

Neste capítulo, você iniciou os seus estudos sobre as relações entre os organis‑
mos e seu ambiente – os fatores físicos, químicos e biológicos que os afetam e
são influenciados por eles. A ecologia é tema de jornais, revistas, livros, rádio,
televisão e política, enfim, é assunto atual e comentado em todo o planeta. Diante
dos desastres e catástrofes ecológicos que ocorrem a cada dia no mundo, essa
ciência, que estuda as inter­‑relações dos seres vivos uns com os outros e com
o ambiente, está se tornando cada vez mais importante. O conhecimento da
ecologia é uma questão de sobrevivência para o planeta.

Atividades

Atividade 1
Desde que a crosta terrestre se consolidou, a superfície do planeta sofreu pro‑
fundas modificações. Mas, desde que a vida se instalou no planeta, surgiu uma
profunda competição entre os seres vivos e uma permanente interdependência
destes com o meio ambiente. O relacionamento dos seres vivos entre si e com
o meio ambiente constitui o grande tema que criou a ecologia. O uso indiscri‑
minado da palavra ecologia tem levado acentuado desgaste de seu significado
original, às vezes por grupos interessados apenas em tirar proveito da situação,
sem interesse científico e sem a seriedade que o assunto requer. Dê o conceito
biológico da palavra ecologia e apresente um argumento favorável e outro con‑
trário às atividades dos grupos acima referidos.

Atividade 2
As espécies conquistam ambientes para manter suas vidas as mais ordenadas
e equilibradas possível. E lutam para que isso permaneça. Nessa luta, direta ou
indiretamente, as espécies relacionam­‑se entre si. Segundo essas informações e
a leitura dos textos, responda aos questionamentos, a seguir: um aquário comum
sempre pode ser considerado um ecossistema? Justifique a sua resposta.

Atividade 3
A pele humana pode ser considerada um ecossistema constituído de milhares
de bactérias e fungos, além de alguns tipos de ácaros. Da mesma maneira, um
UNIUBE  89

pequeno lago pode exemplificar um ecossistema. Na terra, existem inúmeros


ecossistemas: um quintal, um tronco podre, um animal morto, florestas, rios ou
campos. Considerando essas informações iniciais, relacione as frases I a IV
com os termos, a seguir:

( a ) comunidade

( b ) ecossistema

( c ) população

( d ) biosfera

I O grupo de seres, de mesma espécie, que vive em uma mesma região


denomina­‑se (  ).

II Em uma mesma região geográfica, várias espécies interagem, caracte‑


rizando a (  ).

III Parte do planeta que contém vida (  ).

IV Interação dos seres vivos de uma região com o ambiente físico e quí‑
mico (  ).

Atividade 4
Charles Darwin, em seu livro A origem das espécies, afirma:

“Mais espécies podem manter­‑se numa mesma área, quanto mais elas divergi‑
rem em sua estrutura, hábitos e constituição [...].”

Na frase desse cientista está implícito um conceito básico de ecologia. Que


conceito é esse?

Referências
BRAGA, Benedito et al. Introdução à engenharia ambiental. 2. ed. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2006.
90 UNIUBE
CHEIDA, Luis Eduardo. Biologia integrada. São Paulo: FTD, 2005.

FERNANDES, Valdir. Zoologia. São Paulo: EPU, 1999.

FROTA­‑PESSOA, Oswaldo. Ecologia e reprodução. São Paulo: Scipione, 2001.

MARCONDES, Ayrton. Biologia. São Paulo: Atual, 1998.

MILLER, G. Tyler. Ciência ambiental. São Paulo: Thomson Learning, 2007.

MINC, Carlos. Ecologia e cidadania. São Paulo: Moderna, 2008.

ODUM, Eugene P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988.

PAULINO, Wilson R. Biologia. São Paulo: Ática, 2002.

PHILIPPI, Arlindo et al. Curso de gestão ambiental. São Paulo: Manole, 2006.

PURVES, William K. et al. A ciência da biologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.

RICKLEFS, Robert E. A economia da natureza. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

SILVA, Francisco. O que é a ecologia. Disponível em: <http: www.ambientevrsa.org>. Acesso


em: 29 jun. 2009.

SOARES, José L. A biologia no terceiro milênio. São Paulo: Scipione, 1999.

______. Dicionário etimológico e circunstanciado de biologia. São Paulo: Scipione, 2004.

STORER, T. I. et al. Zoologia geral. São Paulo: Nacional, 2002.


Energia e nutrientes:
Capítulo
de onde vêm, para
3
onde vão

Ricardo Baratella

Introdução
Cada ciência possui um código intrínseco, uma lógica interna, métodos
próprios de investigação que se expressam nas teorias, nos modelos
construídos para interpretar os fenômenos que se propõe a explicar.
Apropriar­‑se desses códigos, dos conceitos e métodos relacionados
a cada uma das ciências, significa ampliar as possibilidades de com‑
preensão e participação efetiva nesse mundo.

Nesse contexto, a ecologia é muito mais uma ciência de relações do


que uma ciência de fatos. Os fatos são indispensáveis para estabelecer
as relações, mas a ecologia não atinge seu cume enquanto não explica
as relações que existem entre os diversos fatores do ambiente e os
organismos, entre os diversos seres que habitam a mesma região.

Um sistema vivo é sempre fruto da interação entre seus elementos


constituintes e da interação entre esse mesmo sistema e demais com‑
ponentes de seu meio. As diferentes formas de vida estão sujeitas a
transformações, que ocorrem no tempo e no espaço, sendo, ao mesmo
tempo, propiciadoras de transformações no ambiente.

Retirando do ambiente certas substâncias, nele lançando outras e


atuando mecanicamente sobre o substrato, os organismos modificam
o meio em que vivem. Isso se soma à ação dos agentes geológicos
inanimados para produzir uma perpétua evolução do meio físico. As
92 UNIUBE

modificações produzidas por umas espécies vão influir na vida delas


próprias ou de outras. Assim, todos os seres vivos de uma comunidade
dependem das variações do meio e interferem uns com os outros.

O ambiente condiciona a vida dos organismos por meio das substâncias


que lhes fornece e através das condições climáticas gerais. A temperatura,
o regime de chuvas e ventos, a quantidade de luz, a umidade atmosférica
dão, a cada região, características próprias, adequadas à vida de certas
espécies, mas impróprias para o florescimento de outras. Assim, à diver‑
sidade de climas corresponde uma diversidade de flora e de fauna.

Todos os elementos que participam da formação dos corpos das plantas


e dos animais são retirados do ambiente e há um intercâmbio ou circu‑
lação constante deles, decorrente da vida e morte dos organismos.

Mas, agora, pergunto: o que acontece com a energia em um ecossis‑


tema? As atividades humanas estão alterando os fluxos de energia e o
ciclo dos principais nutrientes no ecossistema? O que acontece com a
matéria em um ecossistema?

Todo e qualquer fenômeno que acontece na natureza necessita de


energia para ocorrer. A vida, como a conhecemos, requer basicamente
matéria e energia. Esses dois conceitos são fundamentais no tratamento
da maioria das questões ambientais. O conceito de matéria é absoluta‑
mente simples: matéria é algo que ocupa lugar no espaço. Já o conceito
de energia é um pouco mais complicado: a energia é a capacidade de
realização de trabalho. Nesse sentido, quanto maior for a capacidade
de realizar trabalho, melhor será a qualidade da energia associada. Um
litro de gasolina tem alta qualidade energética, enquanto o calor, a baixa
temperatura, possui energia de baixa qualidade (BRAGA et al., 2006).

Segundo Frota­‑Pessoa (2001), há muitas formas de energia que podem


se transformar umas nas outras: a energia hidráulica de uma queda
d’água, a energia atômica de um reator e o calor da queima do petróleo
UNIUBE  93

podem se transformar em eletricidade. Esta pode se transformar em


luz, movimento, calor e muito mais.

O curioso é que um livro na palma de sua mão tem energia potencial


de vários tipos, porque, se você tirar a mão, ele entra em movimento
(a energia potencial transforma­‑se em energia cinética), até chegar ao
chão, onde, pelo choque, produz energia sonora e térmica. O livro tam‑
bém pode produzir calor e luz, se encostarmos nele um fósforo aceso:
o fósforo aceso e o livro queimando são exemplo de energia química,
que passa a térmica e luminosa. Se uma traça se alimenta do livro, a
celulose deglutida é digerida e dá origem aos açúcares. Os açúcares,
combinados com oxigênio respiratório (mais energia química), darão a
energia necessária para mexer as perninhas da traça e suas mandíbu‑
las, que mastigarão mais celulose.

Você sabe que a energia que um produtor, como uma árvore, recebe
do Sol é aplicada na síntese de matéria orgânica, que é armazenada
principalmente como glicose e amido. Essas substâncias podem ser
decompostas para fornecerem energia utilizável pelo produtor, sempre
que é preciso executar:

a. síntese de substâncias especiais, como hormônios de cresci‑


mento, proteínas, óleos;
b. crescimento e formação de novos tecidos e órgãos, como flores
e frutos;
c. movimentos, como os do citoplasma dentro das células (ciclose),
ou a “dança dos cromossomos” durante as divisões celulares
(FROTA­‑PESSOA, 2001).

  importante! 

Primeira lei da termodinâmica (lei de conservação de energia)

Em todas as alterações físicas e químicas, a energia não é criada nem des‑


truída, embora possa ser convertida de uma forma em outra.
94 UNIUBE

Segunda lei da termodinâmica

Quando uma energia muda de uma forma para outra, alguma quantidade
de energia útil sempre se degrada em energia de baixa qualidade, mais
dispersa e menos útil.

Observe na Figura 1, que cada vez que a energia muda de uma forma
para outra, alguma quantidade inicial de entrada da energia de alta
qualidade é degradada, geralmente em calor de baixa qualidade que é
disperso no ambiente.

Agora, reflita sobre as seguintes indagações: se não existe “fora” em


“jogar fora”, por que o mundo está repleto de matéria residual? Imagine
que você tivesse o poder de abolir a lei da conservação da matéria por
apenas algumas horas. Quais as coisas mais importantes e significativas
que você faria com esse poder?

Atualmente, o mundo vive em plena era do desequilíbrio, uma vez que


os resíduos são gerados em ritmo muito maior que a capacidade de
reciclagem do meio. A Revolução Industrial do século XIX introduziu
novos padrões de geração de resíduos, que surgem em quantidades
excessivamente maiores que a capacidade de absorção da natureza
e de maneira tal que ela não é capaz de absorver e reciclar materiais
sintéticos não biodegradáveis (BRAGA et al., 2006).

Figura 1: A segunda lei da termodinâmica em ação em sistemas vivos.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009).
UNIUBE  95

A existência da comunidade de um ecossistema está ligada à energia


necessária para a sobrevivência dos seres vivos a ela pertencentes.
De maneira geral, num ecossistema, existem vegetais capazes de
realizar fotossíntese. Deles dependem todos os demais seres vivos. O
Sol é a fonte de energia utilizada pelos vegetais fotossintetizantes, que
transformam a energia solar em energia química contida nos alimentos
orgânicos. Durante a realização das reações metabólicas dos seres vi‑
vos, a energia química se transforma em calor, que é liberado e perdido
pelo ecossistema. Assim, a energia descreve um fluxo unidirecional, um
dos grandes princípios da ecologia geral.

Objetivos
Como você verificou na introdução do capítulo, todas as transforma‑
ções de energia obedecem às leis da termodinâmica. A primeira lei da
termodinâmica determina que a energia não pode ser criada nem des‑
truída; isto é, a quantidade total de energia no universo é constante. A
segunda lei da termodinâmica determina que, durante a conversão de
energia de um estado para outro, alguma energia torna­‑se indisponível
para a realização de trabalho. Essa lei governa os padrões de fluxo
de energia através dos ecossistemas.

Sendo assim, ao final do estudo deste capítulo, esperamos que você


seja capaz de:

• relatar que a vida na Terra é mantida pelo fluxo de energia pro‑


veniente do Sol, pelo ciclo da matéria ou nutrientes essenciais
na biosfera e pela gravidade;
• selecionar as atividades humanas que estão alterando os fluxos
de energia e o ciclo dos principais nutrientes no ecossistema;
• analisar que cada espécie no ecossistema exerce uma função
única, chamada de nicho ecológico;
• exemplificar que não é possível criar ou destruir energia quando
ela é convertida de uma forma para outra em alterações físicas
ou químicas.
96 UNIUBE

Esquema
3.1 Reciclagem de matéria e fluxo de energia
3.2 Energia e produtividade
3.3 A manutenção dos sistemas vivos demanda gasto de energia
3.4 Ecossistemas: bens e serviços
3.5 Reflexão e absorção
3.6 Vida no ambiente aquático
3.6.1 Água salgada
3.6.2 Água doce

3.1 Reciclagem de matéria e fluxo de energia

Todos os sistemas ecológicos dependem da transformação da energia. Para


a maioria dos sistemas, a fonte de energia em última instância é a luz do Sol.
Na terra, as plantas usam a energia solar para sintetizar moléculas orgânicas
a partir do dióxido de carbono e da água. A maioria das plantas tem estruturas
com grandes superfícies de exposição – suas folhas – para capturar a energia
solar. Suas folhas são finas porque a área da superfície para a captura da luz
é mais importante do que o corpo. Caules rígidos sustentam suas partes acima
do solo. Para obter carbono, as plantas assimilam dióxido de carbono gasoso
da atmosfera. Ao mesmo tempo, elas perdem quantidades prodigiosas de água
por evaporação do tecido de suas folhas para a atmosfera. Assim, as plantas
precisam de um suprimento constante de água para substituir a perda durante
a fotossíntese.

Não é de surpreender que a maioria das plantas esteja firmemente enraizada


no solo, num contato constante com a água contida nele (RICKLEFS, 2003).

  pesquisando na web 

Não deixe de consultar esses sites:

Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – <http://www.sbpcnet.org.br>


UNIUBE  97

USP Recicla – <http://www.inovacao.usp.br/recicla/index.php>

World Wild Foundation (WWF) – Brasil – <http://www.wwf.org.br>

  curiosidade 

Temperatura

As diferenças de temperatura no universo são de milhares de graus, mas quase toda


a vida na terra só pode existir dentro da escala de zero a 50º C ou menos. A tolerância
ao calor é influenciada pela umidade e depende, de fato, da capacidade evaporadora
do ar ou da percentagem de vapor de água em relação à saturação numa dada tem‑
peratura. No ar seco de um deserto, por exemplo, uma temperatura de 32º C não é
desagradável para o homem, mas a mesma temperatura, associada a alta umidade
relativa, é dificilmente tolerada nos trópicos.

A temperatura influencia o crescimento, frutificação e sobrevivência de plantas, das


quais muitos animais se alimentam. Um frio prolongado na primavera atrasa o de‑
senvolvimento de capins e folhas que servem de alimento a muitos insetos, roedores
e animais prestadores e pode determinar sua sobrevivência. Tempo desfavorável na
época da floração pode reduzir a produção de bagas ou sementes, forçando aves
que se alimentam delas a migrar para outros lugares em busca de alimento ou morrer
de fome (STORER et al., 2002).

As orquídeas (Figura 2) são plantas aéreas epífitas, Epífitas

podem ser fotossinteticamente ativas somente em am‑ Designação dada


às plantas que se
bientes úmidos imersos em nuvens de vapor.
desenvolvem sobre
outras plantas sem
parasitá­‑las. As epífitas
são clorofiladas,
fotossintetizantes
e suas raízes
normalmente não
penetram no caule
da planta suporte.
Fonte: Soares (2004).
98 UNIUBE

Figura 2: Orquídea.
Fonte: Foto de Ricardo Baratella (2010).

  parada para reflexão 

Luz solar

Toda energia usada pelos organismos provém do sol. A energia pode ser transfor‑
mada de um tipo em outro; não pode, porém, ser criada, nem destruída. As plantas
absorvem energia radiante do sol e, pela ação fotossintética da clorofila de suas
células, produzem carboidratos a partir de dióxido de carbono e água; sintetizam,
também, proteínas e lipídios. A energia armazenada nesses compostos é a fonte pri‑
mária usada por todos os animais. Passa de organismo para organismo e é a única
fonte de energia para a manutenção e funcionamento de todos os sistemas vivos.
Relações energéticas encontram­‑se na base de todos os processos físicos e bióticos
e determinam as atividades dos organismos.

Observe na Figura 3, que as setas indicam o percurso dos materiais do ar (CO2,


O2, N) e do solo (minerais) para as plantas e animais e o percurso inverso.

Os seres vivos necessitam de energia para manter sua constituição interna, para
locomover­‑se, para crescer etc. Essa energia provém da alimentação realizada
UNIUBE  99

Figura 3: Os ciclos químicos do dióxido de carbono, oxigênio,


nitrogênio e minerais na natureza.
Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2010).

Autótrofos

pelos seres vivos, que dividem em dois grandes grupos: Organismos que se
nutrem à própria custa,
os autótrofos e os heterótrofos. O grupo dos autótrofos
pois sendo clorofilados,
compreende os seres capazes de sintetizar seu próprio realizam a fotossíntese
e produzem matéria
alimento, sendo, portanto, autossuficientes. Esse grupo orgânica necessária ao
seu protoplasma celular
subdivide­‑se ainda em dois subgrupos:
a partir de compostos
inorgânicos, como o
• os quimiossintetizantes, cuja fonte de energia é a oxi‑ dióxido de carbono
e a água.
dação de compostos inorgânicos; Fonte: Soares (2004).

Heterótrofos
• os fotossintetizantes (Figura 4), de grande importância
para a vida no planeta, os quais utilizam o sol como Tipo de nutrição
característico dos
fonte de energia (BRAGA et al., 2006). organismos que
revelam inteira
incapacidade
de produzir a
matéria orgânica
exclusivamente a
partir de compostos
inorgânicos.
Fonte: Soares (2004).
100 UNIUBE

  saiba mais 

Pelo processo da quimiossíntese, principalmente as bactérias especializadas são


capazes de converter, sem a luz solar, simples compostos de seu meio em compostos
de nutrientes mais complexos.

  importante! 

As bactérias, ou procariotas (organismos sem núcleo individualizado, ainda que


contenha material nuclear difuso de uma célula) são os especialistas bioquímicos do
ecossistema. Cada bactéria consiste numa célula simples e única, sem um núcleo e
com cromossomos para organizar o seu DNA. No entanto, a enorme quantidade de
capacidades metabólicas das bactérias as capacita a executar muitas transformações
bioquímicas únicas. Algumas bactérias podem assimilar o nitrogênio molecular (N2,
a forma comum encontrada na atmosfera), que elas usam para sintetizar proteínas e
ácidos nucleicos. Outras podem usar compostos inorgânicos como o sulfeto de hidro‑
gênio (H2S) como fonte de energia. As plantas, os animais, os fungos e a maioria dos
protistas (retiros de seres vivos, com características mistas de animais e vegetais)
não podem executar esses feitos. Além do mais, muitas bactérias vivem sob condi‑
ções anaeróbicas (ausência de oxigênio livre) em solos úmidos e sedimentos, onde
suas atividades metabólicas regeneram nutrientes e os tornam disponíveis para as
plantas (RICKLEFS, 2003).

A maior parte dos produtores (Figura 4) captura a luz solar para formar compos‑
tos complexos como a glicose (C6H1206), por meio da fotossíntese. Apesar da
ocorrência de centenas de reações químicas durante a fotossíntese, a reação
geral pode ser resumida da seguinte maneira:

dióxido de energia
carbono água solar glicose oxigênio

6CO2 + 6H20 → C6H1206 + 602


UNIUBE  101

O grupo dos heterótrofos compreende os seres incapazes de sintetizar seu


alimento e que, para obtenção de energia, utilizam­‑se do alimento sintetizado
pelos autótrofos.

Agora, responda o seguinte questionamento: quais são os seres produtores e


consumidores num ecossistema? Por quê?

Lembre­‑se de que os componentes bióticos que integram um ecossistema podem


ser estruturados em três categorias:

• produtores (autótrofos);

• consumidores (heterótrofos);

• decompositores (heterótrofos).

  explicando melhor 

Glicose

Monossacarídeo largamente encontrado no mel, na cana­‑de­‑açúcar e nas frutas


doces, como a uva, integrante da composição da maioria dos carboidratos, notada‑
mente daqueles chamados de açúcares (SOARES, 2004).

Monossacarídeo

O mesmo que oses. Os glicídios mais simples, com pequeno número de átomos
de carbono, que, por hidrólise, fornecem compostos não mais de natureza glicídica
(SOARES, 2004).

O Sol

O aproveitamento da energia solar oferece grandes vantagens: não polui, é renovável


e existe em abundância. Entretanto, pelo fato de a sua utilização em larga escala
(grandes usinas) para geração de energia elétrica estar em fase relativamente inicial
de desenvolvimento tecnológico, a energia solar ainda não é viável economicamente,
ou seja, os custos financeiros para sua obtenção superam os benefícios.
102 UNIUBE

Figura 4: Palmeira­‑imperial: organismo


fotossintetizante.
Fonte: Foto de Ricardo Baratella (2010).

  saiba mais 

Consumidores

São seres que, pela incapacidade de fabricar o próprio alimento, dependem, direta ou
indiretamente dos produtores. São chamados também de heterótrofos, pois, por não
sintetizarem o próprio alimento, utilizam substâncias produzidas pelos autótrofos.

Os decompositores são seres especializados que reciclam matéria orgânica nos


ecossistemas. São, na maioria, alguns tipos de bactérias e fungos.

Os decompositores não ingerem alimento, como os herbívoros e os carnívoros.


Sua nutrição ocorre por um processo de absorção, mediante o lançamento de
enzimas sobre a matéria orgânica morta. Parte da matéria orgânica degradada é
absorvida e o restante é devolvido ao meio, na forma de compostos inorgânicos
que são utilizados, pelos autótrofos, para a síntese de mais alimentos.
UNIUBE  103

Figura 5: Fungos: seres heterótrofos que se


alimentam de cadáveres em decomposição.
Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009).

  importante! 

Os fungos são decompositores altamente eficientes.

Eles assumem papéis únicos no ecossistema devido à sua forma distinta de cresci‑
mento. A maioria dos fungos, como as plantas e os animais, são organismos multice‑
lulares (exceto para levedos e seus parentes). Mas, diferentemente das plantas e dos
animais, o fungo cresce a partir de um esporo microscópico sem passar pelo estágio
embrionário. A maioria dos organismos fúngicos é feita de estruturas filamentosas
chamadas de hifas, que só têm uma célula de diâmetro. Essas hifas podem formar
uma rede solta, que pode invadir os tecidos vegetais ou animais ou folhas e madeira
morta na superfície do solo, ou crescer para dentro das estruturas reprodutivas que
reconhecemos como cogumelos. Como os fungos podem penetrar profundamente,
eles rapidamente decompõem o material vegetal morto, finalmente tornando muitos
dos nutrientes contidos nele disponíveis para outros organismos. Os fungos digerem
seus alimentos externamente, secretando ácidos e enzimas em sua vizinhança ime‑
diata, cortando através da madeira morta e dissolvendo nutrientes resistentes dos
minerais do solo. Os fungos são os agentes principais da podridão – desagradável
aos nossos sentidos e sensibilidades, talvez, mas muito importantes para função do
ecossistema (RICKLEFS, 2003).
104 UNIUBE

Figura 6: Principais componentes estruturais de um ecossistema.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009), adaptado de Miller (2007).

Agora, analise atentamente a Figura 6.

Observe (Figura 6) que a reciclagem da matéria e o fluxo de energia, primeiro


do Sol, em seguida, pelos organismos e finalmente para o meio ambiente em
forma de calor de baixa qualidade ligam esses componentes.

A sobrevivência de qualquer organismo depende do fluxo da matéria e energia


que percorre seu corpo (Figura 6). Da mesma maneira, um ecossistema sobre‑
vive principalmente da combinação entre reciclagem da matéria (em vez de fluxo
unidirecional) e fluxo de energia unidirecional (MILLER, 2007).
UNIUBE  105

Precipitação

Água

Produtor Consumidor primário Consumidor secundário

Decompositores

Figura 7: Principais componentes estruturais de um ecossistema.


Fonte: Desenho de Vanessa das Dores Duarte Teruel (2009).

3.2 Energia e produtividade

Apenas 5% da energia solar que chega à Terra são capturados pela fotossín‑
tese. A energia restante ou é irradiada de volta para a atmosfera como calor ou
é consumida pela evaporação da água das plantas ou de outras superfícies. A
energia que é capturada pela fotossíntese potencia os processos ecossistêmicos
(PURVES et al., 2005).

  saiba mais 

O fluxo de energia na maioria dos ecossistemas (Figura 7) origina­‑se com a fotos‑


síntese. A taxa na qual as plantas assimilam energia é chamada de produtividade
primária bruta (PPB). A produção que permanece após a subtração da energia que
as plantas usam para sua própria manutenção é chamada de produção primária
líquida (PPL).
106 UNIUBE

Em um mesmo ecossistema, a produtividade primária varia significativamente de


acordo com a idade do indivíduo e com a estação do ano. No verão, a produtivi‑
dade bruta sofre um crescimento quando comparada à do inverno. Por sua vez,
quanto mais jovem o indivíduo, menor a produtividade primária, em decorrência
das altas perdas e consumo energéticos para seu crescimento.

A planta utiliza parte de sua PPB para sobreviver, na sua própria respiração
(Figura 8). A energia remanescente fica disponível aos consumidores. Em outras
palavras, PPL = PPB – R, em que R significa a energia utilizada na respiração.
A PPL mede a velocidade na qual os produtores podem fornecer o alimento de
que os demais organismos necessitam.

Observe (Figura 9) que a pirâmide geral de fluxo de energia mostra a diminuição


na energia disponível em cada nível trófico que se sucede na cadeia ou teia
alimentar.

  saiba mais 

Respiração

Mecanismo biológico que se faz notar pelas trocas gasosas patentes entre os seres
vivos e o meio mas que, íntima e primeiramente, visa a obtenção de energia pelas
células à custa de reações de oxidação dos materiais a ela incorporados através do
anabolismo (SOARES, 2004).

Anabolismo

Processo químico da construção da matéria viva, que se passa no organismo a nível


celular (SOARES, 2004).

Trófico

Relativo à nutrição e/ou desenvolvimento (SOARES, 2004).


UNIUBE  107

Você sabe explicar por que isso acontece? Em cada nível trófico há grande
consumo de energia para a execução das reações metabólicas. Há liberação
de energia sob a forma de calor, que é perdido pelo ecossistema. A energia
restante é armazenada nos tecidos. Portanto, a quantidade de energia disponí‑
vel é sempre menor, porque se deve descontar o que é gasto pelas atividades
próprias de cada nível trófico.

As setas (Figura 10) ilustram como a energia química do alimento é transferida


pelos vários níveis tróficos: a maior parte da energia é dissipada em calor, de
acordo com a segunda lei da termodinâmica.

Figura 8: Distinção entre a produtividade primária bruta e a produtividade primária líquida.


Fonte: Desenho de Vanessa das Dores Duarte Teruel (2009).

Figura 9: A pirâmide geral de fluxo de energia.


Fonte: Desenho de Vanessa das Dores Duarte Teruel (2009).
108 UNIUBE

Agora, questiono: as cadeias alimentares raramente têm mais de quatro níveis


tróficos. Você sabe dizer por quê? As plantas e os animais competem pelos
mesmos nutrientes de que necessitam?

Figura 10: Cadeia alimentar.


Fonte: Desenho de Vanessa das Dores Duarte Teruel (2009).

A maioria das plantas competem pelas mesmas coisas – luz solar, minerais do
solo e água – mas os animais são mais diversificados em suas necessidades.
O alimento dos animais, de qualquer tipo que seja, é obtido, finalmente, das
plantas. Cada espécie de animal necessita de quantidades determinadas dos
tipos apropriados de alimento. Os seres humanos, os ratos e a mosca­‑doméstica
podem subsistir de grande variedade de alimentos e mudar de um para outro
quando necessário. Muitas espécies, contudo, são mais especializadas e só
podem existir onde e quando encontram seu tipo particular de alimento. O cas‑
tor alimenta­‑se unicamente de casca interna de salgueiros e choupos; a larva
da borboleta­‑da­‑couve necessita de folhas de crucíferas; algumas cigarrinhas
sugam apenas a seiva de determinadas plantas e as mutucas necessitam de
sangue de mamíferos para se reproduzirem. Alguns alimentos são unicamente
disponíveis em certas épocas do ano e as espécies que deles dependem devem,
nas outras épocas, mudar de alimento, entrar em inatividade, migrar ou perecer
(STORER et al., 2002).

No oceano, em oposição a terra, existem poucas plantas grandes; o molusco


Aplysia come algas como o coelho come alface e alguns caramujos raspam o
UNIUBE  109

tapete de algas que cobre as rochas costeiras. A base da alimentação no oceano


é, porém o plâncton, composto principalmente de plantas (diatomáceas, algas)
e animais (crustáceos, larvas) microscópicos que flutuam e derivam livremente
na água. Varia na quantidade e na composição das espécies durante o ano
(como as flores silvestres num campo).

  saiba mais 

Crucíferas

Família de plantas cujas flores possuem um perianto de 4 sépalas e 4 pétalas dispos‑


tas sempre em cruz e que tem como principais representantes a couve e o repolho
(SOARES, 2004).

Perianto

Conjunto dos verticilos mais externos ou periféricos da flor, compreendendo o cálice


e a corola (SOARES, 2004).

Plâncton

Conjunto de seres vivos, geralmente de pequenas dimensões, maioria microscópicos,


que são arrastados passivamente pelas correntezas (de mares e rios) já que, mesmo
quando dotados de órgãos de locomoção, realizam movimentos tão fracos que não
conseguem vencer o fluxo das águas (SOARES, 2004).

  importante! 

Os animais fitófagos (seres que comem plantas) são os consumidores primários de


qualquer comunidade animal. Eles servem de alimento a outros animais (consumidores
secundários) e estes, a terceiros. Vários níveis tróficos (de alimentação) podem ser
reconhecidos dentro de um sistema vivo: os produtores, as plantas verdes ocupam o
primeiro nível trófico; os herbívoros ou consumidores primários ocupam o segundo;
e assim por diante. A energia que as plantas aproveitam do sol passa, assim, por
uma teia alimentar que representa todas as relações alimentares entre as espécies
110 UNIUBE

de uma comunidade biótica. Geralmente as teias alimentares são constituídas de


muitas cadeias alimentares inter­‑relacionadas e que representam vias isoladas da
teia (STORER et al., 2002).

Cadeias alimentares Uma cadeia ou teia alimentar é essencialmente um


Sistemas de
sistema de transferência de energia. A energia solar ab‑
transferência de energia sorvida pelas plantas passa pelos níveis sucessivos de
dos produtores para os
consumidores através consumidores (animais). Em cada nível, há certa perda
de uma sequência de
organismos, em que
sob forma de calor (das transformações químicas) trans‑
um se alimenta do ferido ao ambiente e a energia total decresce progressi‑
outro.
vamente ao longo da cadeia (são perdidos cerca de 90%
Teia alimentar da energia em cada nível).
Superposição com
entrelaçamento de Os animais não são capazes de utilizar diretamente a
diversas e diferentes
cadeias alimentares energia proveniente do sol. Sendo heterótrofos, utilizam
num mesmo os compostos orgânicos produzidos pelos vegetais. As‑
ecossistema.
Fonte: Soares (2004). sim, ao se alimentarem de vegetais ou de outros animais,
na verdade estão ingerindo energia química condensada
nas ligações dos compostos orgânicos.

Uma vez no organismo, os compostos orgânicos chegam às células, onde são


degradados. Nesse processo, liberam energia, que é, então, utilizada para
realizar trabalho. O processo de liberação de energia a partir de compostos
orgânicos, em presença de oxigênio, é a respiração celular.

Para cima (Figura 11), existe cada vez menos energia disponível para o nível
trófico seguinte como é sugerido pelo tamanho diferente dos quadros.

A estimativa é de que apenas aproximadamente 10% a 20% da energia de um


determinado nível trófico sejam disponíveis para o nível seguinte. Isso explica
por que a maioria das cadeias alimentares só apresenta quatro ou cinco elos.
Não existe energia suficiente acima dos maiores predadores para manter mais
um nível trófico. Em um pântano de Minnesota, a respiração dos produtores
UNIUBE  111

Figura 11: O ciclo do alimento e a pirâmide de energia.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009), adaptado de
Storer et al. (2002).

consumiu 21% da energia adquirida, os consumidores primários consumiram


30% e os predadores 60%. A grande perda de energia dos predadores resulta
de seu grande tamanho e de sua atividade (STORER et al., 2002).

  pesquisando na web 

Vamos pesquisar?

Tenha uma variedade de informações sobre a ciência, consultando os sites abaixo:

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – <http://www.inpe.br>

Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento – <http://www.agricultura.


gov.br>
112 UNIUBE

Ministério da Ciência e Tecnologia – <http://www.mct.gov.br>

Ministério da Saúde – <http://www.saude.gov.br>

Ministério do Meio Ambiente – <http://www.mma.gov.br>

Museu da Vida – <http://www.museudavida.fiocruz.br>

Responda a seguir alguns questionamentos sobre o fluxo de energia nos ecos‑


sistemas. Se for necessário, faça algumas pesquisas em livros didáticos ou na
Internet, mas não deixe de se autoavaliar a cada capítulo estudado.

• É possível aumentar o rendimento das transferências de energia de um nível


trófico para outro?

• A estrutura trófica e as relações energéticas nos ecossistemas recentemente


estabelecidos são semelhantes aos que existem nos ecossistemas mais an‑
tigos onde espécies altamente adaptadas puderam­‑se instalar?

O estudo do fluxo de energia e da produtividade nos ecossistemas acha­‑se


atualmente em plena expansão em conferências com ambientalistas de todo
o mundo. Essas pesquisas podem fazer­‑se em três níveis diferentes, o da po‑
pulação, o do nível trófico e o do ecossistema inteiro. Torna­‑se então possível
comparar entre si diversos ecossistemas ou diversas populações utilizando uma
unidade comum, a caloria.

Mas essas pesquisas não substituem nem dispensam os estudos descritivos


tradicionais. Apenas os completam, colocando­‑se de outro ponto de vista. Aos
dados relativos ao número, à biomassa e à distribuição das diversas espécies
acrescenta­‑se o estudo energético que deve apoiar­‑se sobre um bom conheci‑
mento da biologia das diversas espécies do ecossistema.
UNIUBE  113

  pesquisando na web 

Não fique longe das novas informações, consulte os sites a seguir:

Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) – UFBA <http://ufba.br/instituicoes/ufba/


mae>

Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) – <http://www.mast.br>

Museu de Ciência e Tecnologia – PUC­‑RS – <http://www.pucrs.br/mct>

Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica – <http://www.fzb.rs.gov.


br/museu/>

Museu de Geociências – UnB – <http://vsites.unb.br/ig/exte/museu/index.html>

Museu de Geociência – USP – <http://igc.usp.br/museu>

Museu de Minerais e Rochas Heinz Ebert – <http://www.rc.unesp.br/museudpm/>

A maturidade de um ecossistema é função de sua organização. Os ecossistemas


que têm maior maturidade são os mais complexos e os mais organizados. Os
ecossistemas de fraca maturidade podem ser submetidos a uma exploração
mais forte que os outros, mas a exploração produz sempre transformações
equivalentes à redução de maturidade.

No meio terrestre, o solo representa o ecossistema que tem a maturidade mais


elevada. A relação biomassa vegetal é muitas vezes mais elevada nos
biomassa animal

ecossistemas terrestres do que nos marinhos. Essa predominância da vida


vegetal pode ser posta em paralelo com a predominância das cadeias tróficas
de detritífagos sobre as cadeias tróficas de herbívoros. No meio marinho, a cir‑
culação dos elementos nutritivos faz­‑se na água, enquanto nos ecossistemas
terrestres faz­‑se no solo. Assim, ao lado de princípios gerais válidos para todos
114 UNIUBE

os ecossistemas, parece ser possível extrair leis particulares para cada um dos
dois grandes meios.

  importante! 

Os ecólogos recentemente descobriram um ecossistema de caverna no sul da Ro‑


mênia que é movido por bactérias que fixam carbono inorgânico ao usar sulfeto de
hidrogênio como fonte de energia. A produção quimioautotrófica por essas bactérias
é a base alimentar para algumas espécies de invertebrados terrestres e aquáticos
adaptados à caverna. No entanto, a maioria dos ecossistemas de caverna depende
da importação da matéria orgânica produzida pela fotossíntese.

  agora é a sua vez 

Vamos exercitar? Construa uma cadeia alimentar com os elos essenciais, servindo­‑se
de exemplos brasileiros. Indique nessa cadeia, com uma seta, o gradiente decrescente
no fluxo de energia.

3.3 A manutenção dos sistemas vivos demanda gasto de energia

Como a vida é tão especial, sendo composta de moléculas que são raras ou
inexistentes no mundo inanimado, os organismos vivos existem fora de equilíbrio
com o ambiente físico. O que o organismo perde para o seu entorno, contudo,
não é retornado para o ambiente de graça. Se fosse, a vida seria o equivalente
de uma máquina de moto­‑perpétuo. O organismo deve procurar energia ou ma‑
téria para substituir suas perdas. Para fazer isso, ele deve gastar energia. Assim,
a energia perdida como calor e movimento deve ser substituída pelo alimento
metabolizado, que o organismo captura e assimila a um certo custo. O preço de
manter um sistema vivo como um estado estacionário dinâmico é energia.

A vida se constrói sobre as propriedades físicas e as reações químicas da ma‑


téria. A difusão de oxigênio através da superfície corporal, as taxas de reações
UNIUBE  115

químicas, a resistência dos vasos ao fluxo de fluídos e a transmissão de impul‑


sos nervosos, todas obedecem às leis físicas da termodinâmica. Os sistemas
biológicos são impotentes para alterar essas qualidades físicas fundamentais
da matéria e da energia, porém, dentro de amplos limites impostos pelas res‑
trições físicas, a vida pode seguir muitas opções, e ela tem feito isso com uma
impressionante criatividade (RICKLEFS, 2003).

  pesquisando na web 

Mais um pouco de pesquisa aos sites:

Museu de Zoologia – USP – <http://www.mz.usp.br/>

Museu do Instituto Butantan – <http://www.butantan.gov.br/museu/>

Museu Histórico Nacional – <http://museuhistoriconacional.com.br>

Museu Interativo de Astronomia – UFSM – <http://www.ufsm.br/mastr>

Museu Paraense Emílio Goeldi – <http://museu­‑goeldi.br>

Núcleo Antártico – UFSM – <http://w3.ufsm.br/ccne/?secao=nucleo_antartico>

Parque CIENTEC – <http://www.parquecientec.usp.br>

Pesquisa escolar – <http://pesquisaescolar.com.br/dicionario/dic­‑encicl.htm>


116 UNIUBE

3.4 Ecossistemas: bens e serviços

Agora, analise atentamente o Quadro 1, segundo Philippi et al. (2006).

Quadro 1: Bens e serviços providos pelos ecossistemas.

Ecossistemas Bens Serviços


Agroecossistemas • Plantações de • Manutenção de algumas das funções
alimentos. da microbacia hidrográfica (infiltração,
• ­Plantações de fibras. controle de vazão, proteção parcial do
• ­Recursos genéticos solo).
(melhoramento). • ­Provisão de hábitat para pássaros,
polinizadores (abelhas), organismos
do solo importantes para a agricultura
(bactérias metabolizadoras do
nitrogênio).
• ­Formação da matéria orgânica do
solo.
• ­Sequestro do carbono atmosférico.
• ­Provisão de empregos.

Ecossistemas • ­Peixes, moluscos e • Moderador dos impactos de ventos,


litorâneos crustáceos. tempestades e marés (mangues,
• ­Algas (para dunas, recifes).
alimentação e uso • ­Provisão de hábitat para vida
industrial). silvestre (marinha e terrestre).
• ­Sal. • ­Manutenção da biodiversidade.
• ­Recursos genéticos. • ­Sequestro do carbono atmosférico.
• ­Diluição e tratamento de resíduos
(autodepuração dos corpos d’água).
• ­Provisão de locais de atração e rotas
de transporte.
• ­Provisão de hábitat para os seres
humanos.
• ­Provisão de empregos.
• ­Provisão de turismo, recreação e
lazer.
UNIUBE  117

Ecossistemas • Madeira. • Remoção de poluentes do ar;


florestais • ­Lenha. emissão de oxigênio.
• ­Água potável e de • ­Ciclagem de nutrientes.
irrigação. • ­Manutenção de várias funções da
• ­Forragem. microbacia hidrográfica (infiltração,
• ­Produtos do purificação, controle de vazão,
extrativismo (bambu, estabilização do solo).
castanhas, fibras etc.). • ­Manutenção da biodiversidade.

Ecossistemas de • Água potável e de • Tamponamento da vazão.


água doce irrigação. • ­Diluição e tratamento de resíduos
• ­Peixes. (autodepuração dos corpos d’água).
• ­Hidroeletricidade. • ­Ciclagem de nutrientes.
• ­Recursos genéticos. • ­Manutenção da biodiversidade.
• ­Provisão de hábitats aquáticos.
• ­Provisão de corredores de transporte
(hidrovias).
• ­Provisão de empregos.
• ­Provisão de turismo, recreação e
lazer.

Ecossistemas de • Pecuária e todos os • Manutenção de várias das funções


campos naturais bens decorrentes da da microbacia hidrográfica (infiltração,
atividade. purificação, controle da vazão,
• ­Água potável e de estabilização do solo).
irrigação. • ­Ciclagem de nutrientes.
• ­Recursos genéticos. • ­Remoção de poluentes do ar;
emissão de oxigênio.
• ­Manutenção da biodiversidade.
• ­Formação de solo.
• ­Sequestro do carbono atmosférico.
• ­Provisão de hábitat para os seres
humanos e para a vida silvestre.
• ­Provisão de empregos.
• ­Provisão de turismo, recreação e
lazer.

Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009), adaptado de Philippi et al. (2006).


118 UNIUBE

  pesquisando na web 

Não deixe para amanhã, pesquise agora mesmo esses outros sites:

Recicloteca – <http://www.recicloteca.org.br>

Revista Ciência Hoje – <http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2010/268>

Revista Ciência Hoje das Crianças – <http://chc.cienciahoje.uol.com.br>

Revista Ciência Hoje na Escola – <http://cienciahoje.uol.com.br/alo-professor/ch-


na-escola>

Revista National Geographic – <http://nationalgeographic.abril.com.br>

Sabesp – <http://www.sabesp.com.br>

Science @ Nasa – <http://science.msfc.nasa.gov>

Sociedade Brasileira de Química – <http://www.sbq.org.br>

É importante compreender que essa lista de bens e serviços (Quadro 1) providos


pelos ecossistemas passíveis de valoração econômica é sugestiva e de forma
nenhuma definitiva. Significa assim utilizar o enfoque ecossistêmico para avaliar
as decisões quanto ao uso dos recursos naturais, procurando uma valoração
dos bens e serviços providos pelos ecossistemas. Estes têm uma capacidade de
sustentação da vida e sua manutenção é vital para o desenvolvimento humano
e econômico de qualquer nação.
UNIUBE  119

  dicas 

Vídeos fascinantes! Vale a pena conferir!

Canal Futura

Canal de TV por assinatura com programação educativa – <http://www.futura.org.br>

Centro Franco­‑Brasileiro de Documentação Técnica e Científica (Cendotec) – <http://


www.comunidadefb.com.br/web/index_apres.php>

Programa de intercâmbio de informações sobre tecnologia e ciência entre França e


Brasil – <http://www.cendotec.org.br>

Os ecólogos usam diversas abordagens diferentes para estudar os ecossis‑


temas, focalizando as interações dos organismos com seus ambientes, as
consequentes transformações de energia e elementos químicos na biosfera,
a dinâmica de populações individuais e as interações de populações dentro
de comunidades ecológicas. Portanto, a variedade e a complexidade dos
sistemas ecológicos são compreensíveis em termos de um pequeno número
de princípios ecológicos básicos. Entre estes está a ideia de que os sistemas
ecológicos são entidades físicas e funcionam dentro de restrições físicas e
químicas que governam as transformações de energia. Além disso, todos os
sistemas ecológicos trocam matéria e energia com a sua vizinhança. Quando
as entradas e saídas estão equilibradas, diz­‑se que o sistema está num estado
estacionário dinâmico.

Os humanos representam um papel dominante no funcionamento da biosfera,


e as atividades humanas criaram uma crise ambiental de proporções globais.
Resolver nossos problemas ambientais agudos exigirá a aplicação inteligente
de princípios gerais de Ecologia dentro das esferas de ação política, econômica
e social (RICKLEFS, 2003).
120 UNIUBE

3.5 Reflexão e absorção

A superfície da Terra só recebe as radiações visíveis, uma pequena quantidade


de ultravioleta, o infravermelho e ondas de rádio. Dessa energia incidente, uma
pequena parte é utilizada pelos vegetais e potencializada, por meio da fotossín‑
tese, em alimento (matéria orgânica). Vários fatores contribuem para a variação
de radiação que ocorre entre o início da estratosfera e a superfície do planeta.
Esses fatores atuam em diversos níveis e com intensidade variável conforme
a frequência e o comprimento de onda da radiação incidente. As radiações ul‑
travioleta (abaixo de 0,3 µ de comprimento de onda) são
Camada de ozônio
absorvidas pela camada de ozônio que envolve a Terra
a uma altitude aproximada de 25 quilômetros. A camada Largamente
encontrada na
de ozônio é um dos fatores de manutenção da vida no estratosfera e na
mesosfera, formando
planeta, uma vez que esse tipo de radiação é letal quando uma camada protetora
incide em grande intensidade. As radiações visíveis e as que absorve e retém
grande parte de
radiações infravermelhas são, em grande parte, absorvi‑ radiações ultravioletas
e cósmicas que
das nas camadas intermediárias da atmosfera pela poeira incidem sobre a Terra.
e pelo vapor de água, contribuindo para o aquecimento Fonte: Soares (2004).

do ar (BRAGA et al., 2006).

  dicas 

Mais vídeos... Não perca!

Coleções da BBC – Time Life, National Geographic, Aventura Visual e Larousse


Cultural – podem ser encontradas em boas livrarias e, mais raramente, em bancas
de jornal.

Discovery Channel em português

Canal de TV por assinatura com programação educativa sobre ciências, tecnologia


e natureza – <http://www.discoveryportugues.com>.
UNIUBE  121

TV Cultura

Vídeos dos programas realizados pela emissora podem ser comprados ou podem ser
copiados mediante pagamento de taxa – <http://www.tvcultura.com.br>.

TV Escola

Programas dirigidos ao aperfeiçoamento de professores da rede pública via antena


parabólica – <http://www.mec.gov.br/seed/tvescola>.

Você sabia que:

• Uma outra parte da energia incidente é refletida pelas nuvens e por outras
partículas suspensas no ar, volta ao espaço e torna­‑se perdida para a Terra. A
esse fenômeno dá­‑se o nome de albedo, e é ele o responsável pela lumino‑
sidade observada em corpos celestes opacos, como Vênus. O albedo é uma
medida da capacidade de um dado material refletir a luz. Seu valor médio na
atmosfera externa da Terra é de aproximadamente 34%.

• A radiação remanescente chega à superfície terrestre em forma de luz direta ou


difusa, apresentando, em um dia claro, uma composição de aproximadamente
10% de radiação ultravioleta, 45% de radiação visível e 45% de infravermelho.
A dispersão é causada pelas moléculas gasosas da atmosfera (que conferem
cor azul ao céu) e pelas partículas sólidas em suspensão (que dão coloração
branca ao céu, mais notável nas grandes cidades). A radiação visível é pouco
atenuada quando transpõe camadas de nuvens – o que possibilita a realiza‑
ção da fotossíntese pelos vegetais, mesmo em dias nublados, ou a pequenas
profundidades nos mares, rios e lagos (BRAGA et al., 2006).

  curiosidade 

Embora os painéis solares atualmente custem mais por quilowatt­‑hora que as turbinas
de vento, eles ainda podem ser lucrativos se integrados a prédios, economizando
o custo de material do telhado. Em cima dos tetos de grandes prédios comerciais,
122 UNIUBE

células solares podem ser competitivas mesmo sem subsídios, se combinadas com
uso eficiente que permita ao construtor do prédio revender o excesso de energia
quando estiver abundante e mais cara – nas tardes de sol. A energia solar também
é normalmente a forma mais barata de conseguir eletricidade para os 2 bilhões de
pessoas que não têm acesso a ela no mundo em desenvolvimento.

3.6 Vida no ambiente aquático

3.6.1 Água salgada

O ambiente marinho é a fonte primária de todo nosso oxigênio e água. Propor‑


ciona a animais e plantas um hábitat muito maior, em área e volume, do que a
zona vital do ambiente terrestre. A diversificação e a distribuição dos animais
marinhos sofrem a influência de vários fatores, como a luz solar, temperatura,
pressão, salinidade das águas, solubilidade dos gases, alimento etc. Entre esses
fatores, a luz solar é muito importante para a distribuição da fauna. Vejamos
por quê.

A flora marinha, constituída principalmente por algas, necessita de luz para a


fotossíntese, a qual também libera oxigênio para os animais. Como a luz solar
não consegue penetrar a mais de 400 m de profundidade, só encontraremos flora
marinha até esse limite. Ora, a existência de animais herbívoros só é possível
onde há flora e, portanto, está sujeita ao mesmo limite. Finalmente, os animais
carnívoros conseguem viver nas grandes profundidades, mas à custa de grandes
transformações para se adaptarem ao ambiente.

Os animais marinhos separam­‑se ecologicamente como segue:

• Plâncton. Organismos que flutuam e são movidos passivamente pelos ventos,


ondas ou correntes; a maioria de tamanho muito pequeno ou microscópico,
com grande superfície em relação ao tamanho, muitas vezes com partes do
corpo alongadas ou ciliadas; inclui muitos protozoários e crustáceos, alguns
UNIUBE  123

moluscos e vermes e uma multidão de larvas, de esponjas (tunicados) até


microplantas (diatomáceas, dinoflagelados).

• Nécton. Animais que nadam livremente por atividade própria; inclui as lulas,
peixes, serpentes marinhas, tartarugas, aves marinhas, focas, baleias etc. Os
animais do plâncton e nécton do mar aberto são chamados pelágicos.

• Bentos. Animais que rastejam, se prendem ou cavam no substrato do fundo.

  saiba mais 

Tunicados

O mesmo que urocordados. Animais marinhos, fixos nas rochas do litoral, com o corpo
protegido por uma túnica (SOARES, 2004).

Diatomáceas

Algas crisófitas ricas em caroteno e xantofilas.

Caroteno

Pigmento amarelo­‑avermelhado das cenouras, tomates e certos frutos (SOARES,


2004).

Xantofilas

Pigmento de cor amarela que, quimicamente, se constitui numa flavona (SOARES,


2004).

Dinoflagelados

Protistas unicelulares, aquáticos, com a maioria de hábitat marinho e alguns com


capacidade de bioluminescência (SOARES, 2004).

Pelágicos

Que diz respeito ao mar alto, porém numa faixa próxima à superfície, de até 200 m
de profundidade (SOARES, 2004).
124 UNIUBE

Os hábitats marinhos classificam­‑se ecologicamente em:

1. Pelágico. Águas abertas dos oceanos; subdivide­‑se horizontalmente e verti‑


calmente em unidades menores.

a. Nerítico. Águas abertas sobre as plataformas continentais.

b. Oceânico. Restante das águas abertas sobre as bacias oceânicas.

2. Bêntico. O fundo; subdivide­‑se em:

a. Litoral (intertidal). Desde a linha da maré mais alta até a da maré mais baixa;
vida animal e vegetal abundante.

b. Sublitoral. Da linha da maré baixa até a extremidade da plataforma continen‑


tal; vida animal abundante; bancos de algas; principais campos de pesca.

c. Batial. O declive continental; situa­‑se abaixo da zona batipelágica oceânica.

d. Abissal. O fundo da profundidade média do oceano e abaixo desta até o


nível superior das valas oceânicas.

e. Hadal. O fundo das valas oceânicas.

  explicando melhor 

Os manguezais são os únicos locais onde encontramos árvores especificamente


adaptadas para a vida aquática salgada. A capacidade de tolerar a imersão das
raízes em água salgada permitiu que colonizassem extensas áreas de estuários e
de litorais dos trópicos. As sementes dos mangues são pontiagudas para cravarem
na lama ao cair. Aquelas que caem na maré alta muitas vezes são carregadas pela
água, mas podem flutuar e sobreviver a longas viagens marítimas para germinar no
local onde encalharem.

Nem todos os lagos do mundo são de água doce. Muitos lagos sem ligação com o
mar se tornaram muito salgados – alguns, como o mar Morto e o Grande Lago Sal‑
gado em Utah (EUA), têm uma concentração de sal muito maior que a dos oceanos,
UNIUBE  125

depois que séculos de evaporação concentraram os minerais dissolvidos. Isso os


transformaram em ambientes extremamente inóspitos.

A água salgada é mortal para boa parte das plantas, mas algumas espécies,
chamadas halófitas, eliminam o excesso de sal através de poros nas raízes ou
nas folhas, ao passo que outras o diluem, mantendo água em seus tecidos.

Os oceanos apresentam duas zonas de vida principais: a costeira e o mar aberto.


A zona costeira é parte de água quente, rasa e rica em nutrientes, que se es‑
tende da marca de maré alta na terra até a borda rasa e levemente inclinada da
plataforma continental. Essa é uma zona de numerosas interações com a terra,
portanto, é facilmente afetada pelas atividades humanas (MILLER, 2007).

Segundo Miller (2007), embora constitua menos de 10% da área oceânica do


mundo, a zona costeira abriga 90% de todas as espécies marinhas e é o local
onde estão os maiores centros de comércio pesqueiro. A maioria dos ecossiste‑
mas encontrados na zona costeira tem uma PPL muito alta por unidade de área
em decorrência do amplo suprimento de luz solar e nutrientes vegetais que são
trazidos da terra e distribuídos pelo vento e pelas correntes marítimas.

  saiba mais 

Os recifes de corais formam­‑se em águas quentes e claras da região tropical e sub‑


tropical. Essas estonteantes maravilhas naturais estão entre os mais antigos, diver‑
sificados e produtivos ecossistemas do mundo, e são a moradia de um quarto das
espécies marinhas. Numerosos pólipos de coral têm algas unicelulares que vivem
em seus tecidos. As algas produzem açúcares que complementam a alimentação do
plâncton capturado pelos pólipos.
126 UNIUBE

  importante! 

As florestas de Kelp existem em regiões costeiras rochosas, sendo mais comuns em


águas temperadas. Os Kelps são algas marinhas gigantes. Da mesma forma que a
maioria das outras algas marinhas, os Kelps se prendem às rochas por estruturas
chamadas apressórios. A partir dos apressórios, são produzidas longas tiras de te‑
cido, às vezes na extremidade de talos em forma de corda, que sobem verticalmente
na água, sustentadas por vesículas cheias de gas. As florestas de Kelp são usadas
como abrigo por muitos animais, alguns deles exclusivo desse ecossistema.

3.6.2 Água doce

As águas doces compreendem rios, riachos, córregos, lagos, lagoas, pântanos,


brejos, alagados, poças, charcos etc. Diferem da água do mar pela sua distri‑
buição descontínua e pela baixa salinidade. Por serem menos profundas que as
águas marinhas, a luz incidente chega até o fundo, variando com a profundidade
e transparência da água. O fato de a luz penetrar facilmente favorece a fotos‑
síntese e, portanto, a água fica mais oxigenada. Além disso, ocorre elevação da
temperatura (durante o dia) e, portanto, encontramos muitos animais.

As águas doces diferem dos mares por serem dispersas, de menor volume e
profundidade, mais variáveis quanto à temperatura, ao conteúdo de gases, à
penetração da luz, á turbidez, à movimentação e à flora. A água “pura” contém
apenas traços de sais, mas algumas águas salinas ou alcalinas contêm­‑nos
em grandes quantidades. Os carbonatos (especialmente CaCO3) geralmente
são mais comuns que os outros sais. Alguns corpos de água doce têm volume
quase constante, mas os de regiões áridas flutuam desde condições de inun‑
dação até um volume muito pequeno ou de seca completa numa só estação
(STORER et al., 2002).
UNIUBE  127

  saiba mais 

A água parada contém muita matéria orgânica em suspensão (ao contrário dos rios)
e, em consequência, encontramos um maior número de microrganismos, principal‑
mente se a água estiver estagnada. Essas condições favorecem a procriação de
insetos, cujas larvas são numerosas. Há muitos caranguejos e peixes de pequeno
porte. Também ocorre intercâmbio terra­‑água de sapos, rãs e cobras. Nos pântanos,
encontramos jacarés, cobras, sapos, rãs, aves e mamíferos que vão aí procriar e
buscar alimentos (FERNANDES, 1999).

As zonas de vida em água doce ocorrem onde a água, com uma concentração
de sal dissolvido menor que 1% por volume, acumula ou circula através dos
biomas terrestres. Os exemplos incluem os sistemas lênticos (água parada) de
água doce, como lagos, lagoas e áreas interiores alagadiças, e sistemas lóticos
(água corrente) como riachos e rios. Embora os sistemas de água doce cubram
menos de 1% da superfície terrestre, eles prestam vários serviços ecológicos e
econômicos importantes (MILLER, 2007).

Segundo Miller (2007), a precipitação que não penetra na terra nem evapora é
água de superfície. Ela se torna córrego quando flui para riachos. A área de
terra que fornece escoamento, sedimento e substâncias dissolvidas para um
riacho é chamada vertente ou bacia de drenagem. Pequenos riachos se juntam
para formar rios, que correm da montanha para o oceano. Os riachos recebem
grande parte de seus nutrientes dos ecossistemas terrestres que os circundam.
Tais nutrientes vêm de folhas caídas, fezes de animais, insetos e outras formas
de biomassa levadas para o riacho durante tempestades pesadas ou pela neve
derretida. Para evitar a entrada excessiva de nutrientes e poluentes em um
riacho ou rio, devemos proteger suas vertentes.

Estamos terminando esse capítulo. Bons estudos e lembre­‑se de que a busca de


informações é um procedimento importante para sua aprendizagem. Agora, faça
a leitura dos textos sugeridos e, em seguida, realize as atividades propostas.
128 UNIUBE

Resumo

A ecologia é uma ciência relativamente nova. Estuda os níveis acima de or‑


ganismos, preocupando­‑se com as relações dos seres vivos entre si e com o
ambiente que os cerca. A palavra ecologia provém do grego e significa, textual‑
mente, “estudo da casa”, ou seja, do ambiente em que os organismos vivem e
com o qual interagem.

Os ecólogos sabem que o ambiente age sobre os organismos vivos, mas que
também os organismos modificam o ambiente em que vivem.

Os ecossistemas podem ser pequenos, como uma lagoa, ou muito grandes,


como a Floresta Amazônica. Neles, existe a parte biótica, viva, representada pela
comunidade, e a parte abiótica, não viva, em que se incluem todos os fatores
físicos e químicos do ambiente. Nos ecossistemas, ocorre um intercâmbio de
matéria e de energia.

Quando se fala em transferência de energia ao longo de cada elo de uma ca‑


deia alimentar, há uma ideia fundamental a ser entendida. Nos ecossistemas,
a quantidade de energia disponível diminui à medida que vai sendo transferida
de um nível trófico para outro.

Isso permite estabelecer uma regra básica: uma cadeia alimentar não pode ter
mais quatro ou cinco elos. Quanto mais curta a cadeia, maior a quantidade de
energia disponível para os níveis tróficos mais elevados.

O fluxo unidirecional de energia de alta qualidade proveniente do sol passa


pelos materiais e seres vivos em suas interações alimentares, vai para o meio
ambiente em forma de energia de baixa qualidade (principalmente calor disperso
nas moléculas de ar ou água em baixa temperatura) e, possivelmente, volta ao
espaço em forma de calor. Projetos de ida e volta não são permitidos, pois a
energia não pode ser reciclada.

Uma vez que a Terra está fechada para a entrada de quantidade significativa de
matéria vinda do espaço, sua quantia fixa de suprimento de nutrientes deve ser
UNIUBE  129

continuamente reciclada para sustentar a vida. Lembre­‑se de que a sobrevivên‑


cia de qualquer organismo depende do fluxo da matéria e energia que percorre
seu corpo. Da mesma maneira, um ecossistema sobrevive principalmente da
combinação entre reciclagem da matéria e fluxo de energia unidirecional.

Atividades

Atividade 1
O esquema abaixo representa sucintamente o fluxo de energia e matéria entre
os seres vivos e o ambiente. Qual a principal diferença ente os dois fluxos?

  energia luminosa 

produção 
(autótrofos) 

matéria  matéria 
inorgânica  orgânica 

decomposição (respiração) 

energia dispersa 

Atividade 2
Há espécies de insetos cujos machos e fêmeas vivem no mesmo esconderijo;
porém, na hora de alimentar­‑se, a fêmea busca o sangue de outros animais,
enquanto o macho se alimenta da seiva das plantas. Nessas circunstâncias,
podemos afirmar que:

a. ambos ocupam nichos ecológicos diferentes, porém têm o mesmo hábitat.

b. ambos ocupam o mesmo nicho ecológico, porém com hábitats diferentes.

c. ambos ocupam o mesmo nicho ecológico e o mesmo hábitat.

d. o macho é consumidor e carnívoro.

e. a fêmea é carnívora.
130 UNIUBE

Atividade 3
Todos os organismos, vivos ou mortos, são fontes potenciais de alimentos para
outros organismos. Uma sequência de organismos, na qual um serve como fonte
de alimento para o próximo, recebe o nome de cadeia alimentar. Ela determina
como a energia e os nutrientes passam de um organismo a outro pelo ecos‑
sistema. Considerando os exemplos a seguir, cite um produtor, um consumidor
primário, um consumidor secundário e um decompositor entre os organismos:
vaca, eucalipto, onça, aranha, fungo, gafanhoto e cana­‑de­‑açúcar.

Atividade 4
O esquema abaixo sugere que:

a. indivíduos diferentes compõem uma população vegetal.

b. indivíduos de uma mesma espécie formam uma comunidade vegetal.

c. populações diferentes constituem uma comunidade vegetal.

d. muitas comunidades vegetais integram a biosfera.

e. muitas comunidades vegetais compõem uma sociedade.


UNIUBE  131

Referências
BRAGA, Benedito et al. Introdução à engenharia ambiental. 2. ed. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2006.

CHEIDA, Luis Eduardo. Biologia integrada. São Paulo: FTD, 2005.

FERNANDES, Valdir. Zoologia. São Paulo: EPU, 1999.

FROTA­‑PESSOA, Oswaldo. Ecologia e reprodução. São Paulo: Scipione, 2001.

MARCONDES, Ayrton. Biologia. São Paulo: Atual, 1998.

MILLER, G. Tyler. Ciência ambiental. São Paulo: Thomson Learning, 2007.

MINC, Carlos. Ecologia e cidadania. São Paulo: Moderna, 2008.

ODUM, Eugene P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988.

PAULINO, Wilson R. Biologia. São Paulo: Ática, 2002.

PHILIPPI, Arlindo et al. Curso de gestão ambiental. São Paulo: Manole, 2006.

PURVES, William K. et al. A ciência da biologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.

RICKLEFS, Robert E. A economia da natureza. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

SOARES, José L. A biologia no terceiro milênio. São Paulo: Scipione, 1999.

. Dicionário etimológico e circunstanciado de biologia. São Paulo: Scipione,


2004.

STORER, T. I. et al. Zoologia geral. São Paulo: Nacional, 2002.


A sustentação da vida:
Capítulo
seres vivos, ambiente
4
e energia

Ricardo Baratella

Introdução
Toda matéria, viva ou não viva, é feita de substâncias químicas. As me‑
nores unidades químicas são os átomos, que se unem em moléculas. Os
processos, moldando a vida, iniciaram aproximadamente há 4 bilhões
de anos com interações entre pequenas moléculas que guardavam
informações úteis.

Eventualmente a informação guardada nessas moléculas simples re‑


sultou na síntese de moléculas maiores com formas complexas, mas
relativamente estáveis. Em consequência de serem complexas e está‑
veis, essas unidades poderiam participar no aumento do número e dos
tipos de reações químicas. Algumas dessas grandes moléculas – car-
boidratos, lipídios, proteínas e ácidos nucleicos – são encontradas
em todos os sistemas vivos e desempenham funções semelhantes
(PURVES et al., 2005).

  saiba mais 

Carboidratos

Compostos da química orgânica formados essencialmente de carbono,


hidrogênio e oxigênio, cujas fórmulas podem ser representadas, de modo
simplificado e geral, C5(H2O)n.
134 UNIUBE

Lipídios

Compostos orgânicos formados por ésteres de ácidos graxos com alcoóis


(SOARES, 2004).

Proteínas

Compostos orgânicos do grupo dos protídeos, de grande peso molecular,


de número incontável na sua diversidade, constituídos por longas cadeias
de aminoácidos que formam os polipeptídeos, e que desempenham papéis
de extrema importância para a vida das células e dos organismos (SOA‑
RES, 2004).

Ácidos nucleicos

Designação genérica dos ácidos formados pela combinação de pentoses,


radicais de ácido fosfórico e bases nitrogenadas purínicas e pirimidínicas
(SOARES, 2004).

Desde a revolução científica do século XVII, a investigação dos seres


vivos guiou­‑se pelo modelo do animal­‑máquina, que associava o ser
vivo a um relógio ou a outro artefato mecânico (daí a denominação
mecanicismo). Para conhecer um organismo, bastava desmontá­‑lo e
explorá­‑lo em suas partes constitutivas, da mesma forma que um relo‑
joeiro procede no exame do relógio. No início do século XIX, prepon‑
derava a crença de que o funcionamento desses mecanismos naturais,
que são os seres vivos, podia ser explicado inteiramente a partir de seus
fenômenos físicos e químicos.

Para os mecanicistas, no entanto, a síntese artificial de substâncias


orgânicas não foi responsável apenas por garantir a unidade consti‑
tutiva do vivo e não vivo, transformando, assim, uma especulação em
fato comprovado. A síntese de substâncias orgânicas abriu as portas
para um novo programa de pesquisa, amparado pela fisiologia e ana‑
UNIUBE  135

tomia comparadas do período. Esse programa estava apto a superar


a noção de animal­‑máquina e dar lugar a uma concepção segundo a
qual o organismo é um todo formado por mais do que a mera soma ou
reunião de suas partes. O corpo orgânico passa a ser visto como uma
totalidade que obedece a um plano básico de organização. A vida de
cada parte do organismo determina mas também é determinada pela
vida do organismo como um todo. O que torna o ser vivo diferente do
ser bruto é esse arranjo particular de suas partes, organizadas segundo
um plano comum.

  saiba mais 

Há aproximadamente 3,8 bilhões de anos, a interação de sistemas de molécu‑


las passou a ocorrer em compartimentos delimitados por membranas. Dentro
dessas unidades delimitadas por membranas, ou células, foi exercido o con‑
trole sobre a entrada, a retenção e a saída de moléculas, bem como sobre as
reações químicas que ocorrem dentro da célula (PURVES et al., 2005).

Objetivos
Ao final do estudo deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• transcrever os níveis de organização dos seres vivos;


• reconhecer que a variabilidade permite aos organismos adapta‑
ções a ambientes que mudam;
• relatar como surgem as formas de propriedades emergentes;
• estruturar uma cadeia e uma teia alimentar, identificando os
diferentes níveis tróficos;
• construir e representar as pirâmides ecológicas;
• descrever cada um dos ciclos biogeoquímicos relacionados no
texto.
136 UNIUBE

Esquema
4.1 Considerações iniciais
4.2 Propriedades emergentes
4.3 O que sustenta a vida na Terra?
4.4 A teoria da evolução
4.4.1 Charles Darwin e a adaptação
4.5 O que é uma espécie?
4.5.1 Como surgem novas espécies?
4.6 Do organismo à biosfera
4.7 Ecologia: como surgiu?
4.7.1 Ecologia de populações
4.7.2 Fatores que limitam o crescimento da população
4.7.3 Potencial biótico e resistência ambiental
4.7.4 Ecologia de comunidades
4.7.5 As interações bióticas influenciam as condições sob as
quais as espécies podem sobreviver
4.8 Pirâmides alimentares
4.8.1 Pirâmide de energia
4.9 Os ciclos biogeoquímicos
4.9.1 Ciclo do carbono
4.9.2 Ciclo do nitrogênio
4.9.3 Ciclo do oxigênio
4.9.4 Ciclo da água
4.9.5 Ciclo do enxofre
UNIUBE  137

4.1 Considerações iniciais

Os primeiros organismos unicelulares reproduziram­‑se Mitose

pela duplicação de seus materiais hereditários (gené‑ Divisão celular


ticos) e pela divisão em duas novas células, em um que se processa
através de fases
processo conhecido como mitose. As células­‑filhas bem definidas, com
nítido envolvimento
resultantes eram idênticas entre si, comparadas à dos cromossomos e
célula parental. Isto é, elas eram clones. Mas com a distribuição equitativa
do material genético
reprodução sexual – a combinação de genes a partir de para as células­‑filhas.
Fonte: Soares (2004).
duas células em uma célula – surge o início da evolução
da vida. A reprodução sexual é vantajosa porque um Genes

organismo que combina sua informação genética com Unidades de


a informação de outro produz uma prole que é mais transmissibilidade
genética que
variável. A reprodução com variabilidade é a principal respondem pela
hereditariedade
característica da vida (PURVES et al., 2005). de um caráter.
Fonte: Soares (2004).
A variabilidade permite aos organismos adaptarem­‑se
a ambientes que mudam. A adaptação à mudança
ambiental é uma das características mais marcantes da vida. Um organismo é
adaptado a um ambiente quando possui características herdadas que aumentam
sua sobrevivência e habilidade para reprodução nesse ambiente. Uma vez que os
ambientes estão constantemente se alterando, os organismos que geram proles
com variabilidade apresentam vantagem sobre aqueles que produzem “clones”
geneticamente idênticos porque é mais facilmente esperado que produzam
descendentes mais bem adaptados ao ambiente no qual se encontram.

4.2 Propriedades emergentes

A biologia não pode ser visualizada como uma hierarquia na qual as unidades,
desde a menor até a maior, incluem átomos, moléculas, células, tecidos, órgãos,
organismos, populações e comunidades.
138 UNIUBE

O organismo é a unidade central no estudo da biologia. Mas para entender os


organismos, os biólogos devem estudar a vida em todos os seus níveis de organi‑
zação. Os biólogos estudam as moléculas, as reações químicas e as células para
entender o funcionamento dos tecidos e dos órgãos. Eles estudam os órgãos e
os sistemas para determinar como os organismos funcionam e mantêm as suas
homeostases internas. Nos níveis mais altos da hierarquia, os biólogos estudam
como os organismos interagem uns com outros para formar sistemas sociais,
populações, comunidades ecológicas e biomas (PURVES et al., 2005).

Cada nível de organização biológica apresenta propriedades, chamadas de


propriedades emergentes, que não são encontradas nos níveis inferiores. Por
exemplo, as células e os organismos multicelulares apresentam características e
realizam processos que não são encontrados nas moléculas que os compõem.
Mas como surgem as propriedades emergentes?

As propriedades emergentes surgem de duas formas. Primeira, muitas proprie‑


dades emergentes de sistemas resultam de interações entre suas partes. Por
exemplo, em nível de organismo, as interações de desenvolvimento da célula
originam um organismo multicelular em que as características dos indivíduos
adultos são muito mais ricas do que as encontradas na célula que os originou.
Outros exemplos de propriedades que emergem de interações complexas são
a memória e as emoções. No cérebro humano, essas propriedades resultam de
interações entre 1012 (trilhões) de células cerebrais com seus 1015 (quatrilhões)
de conexões. Nenhuma célula única, ou mesmo um pequeno grupo de células,
as possui (PURVES et al., 2005).

Segunda, as propriedades emergentes surgem porque as agregações apresen‑


tam propriedades coletivas que não existem nas suas unidades individuais. Por
exemplo, os indivíduos nascem e morrem; eles têm uma expectativa de vida. Um
indivíduo não tem uma taxa de nascimento ou uma taxa de mortalidade, mas
uma população (composta de muitos indivíduos) sim. As taxas de nascimento
e de morte são propriedades emergentes de uma população. A evolução é uma
propriedade emergente de populações que depende da variação das taxas
de nascimento e de morte, as quais emergem como resultado das diferentes
UNIUBE  139

expectativas de vida e do sucesso reprodutivo dos indivíduos nas várias popu‑


lações (PURVES et al., 2005).

  saiba mais 

Evolução

• orgânica: desenvolvimento do organismo desde o ovo até a fase adulta (ontogê‑


nese), senectude e morte;

• das Espécies: sucessão de etapas por que passaram os seres vivos, desde a
instalação da vida na Terra, com os primeiros unicelulares, até a situação atual,
com um imenso número de espécies e tipos já extintos (SOARES, 2004).

As propriedades emergentes não violam os princípios que regem os níveis de


organização inferiores. Entretanto, elas não podem ser usualmente detectadas,
preditas ou imaginadas pelo estudo dos níveis inferiores. Os biólogos nunca
descobririam a existência das emoções humanas pelo simples estudo de células
nervosas, embora possam eventualmente ser capazes de explicá­‑las em termos
de interações entre muitas células nervosas.

4.3 O que sustenta a vida na Terra?

Primeiramente, lhe proponho alguns questionamentos:

• Como os cientistas explicam o desenvolvimento da vida na Terra?

• ­Quais os fatores que permitem a vida na Terra?

Segundo Miller (2007), a vida na Terra depende de três fatores interligados:

• o fluxo unidirecional de energia de alta qualidade proveniente do sol passa


pelos materiais e seres vivos em suas interações alimentares,vai para o meio
ambiente em forma de energia de baixa qualidade (principalmente calor dis‑
140 UNIUBE

perso nas moléculas de ar ou água em baixa temperatura) e, possivelmente,


volta ao espaço em forma de calor. Projetos de ida e volta não são permitidos,
pois a energia não pode ser reciclada;

• o ciclo da matéria (átomos, íons e componentes necessários para a sobre‑


vivência dos organismos vivos) através de partes da biosfera. Uma vez que
a Terra está fechada para a entrada de quantidade significativa de matéria
vinda do espaço, sua quantia fixa de suprimento de nutrientes deve ser con‑
tinuamente reciclada para sustentar a vida. Todos os trajetos de nutrientes
nos ecossistemas são de ida e volta;

• a gravidade, que permite que a Terra retenha sua atmosfera e possibilita o


movimento dos elementos químicos entre o ar, a água, o solo e os organismos
nos ciclos da matéria.

Para Miller (2007), a vida no nosso planeta depende da água líquida que domina
a superfície terrestre. A temperatura é um fator crucial, pois a maior parte da vida
na Terra necessita de temperaturas médias entre os pontos de fusão e ebulição
da água. A Terra também tem o tamanho certo: ela contém massa gravitacional
suficiente para manter seu núcleo de ferro e níquel liquefeito e para impedir que
suas moléculas de gases leves como N2, O2, CO2 e H2O presentes na atmosfera
escapem para o espaço.

4.4 A teoria da evolução

A ideia de evolução biológica propõe que todas as espécies de organismos


vivos atuais descendem de ancestrais comuns que, ao longo do tempo, sofre‑
ram alterações. As modificações que ocorrem de uma geração para outra são
pequenas, porém quando acontecem são transmitidas a gerações sucessivas.
Os agentes da evolução estão atuando tanto no presente quanto o fizeram no
passado quando a vida surgiu na Terra. Entretanto, mudanças maiores são
ocasionadas como resultado do incrível aumento da população humana. Até
recentemente, as extinções causadas pelo homem afetaram apenas a maioria
dos grandes vertebrados, mas agora essas perdas estão sendo ampliadas pela
UNIUBE  141

perda de espécies pequenas causada, especialmente, por modificações na


vegetação da Terra.

  importante! 

Os homens têm influenciado a evolução de espécies com importância econômica


por meio da seleção artificial ou da biotecnologia. Nossa habilidade em modificar
espécies tem sido ampliada com o surgimento de técnicas de biologia molecular, que
nos permitem passar genes de uma espécie para outra, independente da distância
genética entre elas. Em um curto espaço de tempo, o homem se tornou o agente
evolutivo dominante sobre a Terra.

A evolução é um conceito ao mesmo tempo impecável e útil, hoje mais do que


nunca crucial para o bem­‑estar das pessoas, para a ciência médica e para o
entendimento do mundo. A evolução também é convincente, ela é uma teoria
a toda prova. Os indícios a seu favor são abundantes, variados, cada vez mais
numerosos, coerentes e facilmente acessíveis em museus, livros e em manuais
de estudos comprovados por cientistas.

Em quase todos os seres vivos, a evolução ocorre devagar, em um ritmo lento


demais para ser observado por qualquer cientista, mesmo que dedicasse toda a
vida a observá­‑la. Mas a ciência funciona por inferência, não só por observação
direta, e evidências obtidas por inferência não são menos conclusivas pelo fato
de serem indiretas. Mesmo assim, os céticos em relação à teoria evolucionária
perguntam: é possível ver o mecanismo evolutivo em ação? Pode ser observado
na natureza? Pode ser medido em laboratório?

Nas últimas cinco décadas, foi identificada a natureza química do gene; sabemos
hoje que ele corresponde a pedaços de DNA (Figura 1) e vem sendo estudado
ultimamente do ponto de vista bioquímico. Nos últimos anos, boa parte da
abordagem das ciências biológicas está sendo feita no nível da molécula; e o
fenômeno vida é considerado cada vez mais, como uma interação complexa de
processos físico­‑químicos, ainda não totalmente compreendidas.
142 UNIUBE

Figura 1: A molécula de DNA.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2010).

Sabemos hoje que os genes podem sofrer ocasionalmente pequenas modificações


ou mutações e essas modificações são os fatores responsáveis pelo aparecimento
das variações entre os organismos.

Seleção natural Charles Darwin é o autor da teoria da evolução. A sele-


ção natural é a teoria essencial do darwinismo. Ela se
Fenômeno admitido
primeiramente por baseia no fato de que os seres vivos sofrem mutações
Charles Darwin como genéticas e podem passá­‑las a seus descendentes. Cada
uma consequência da
luta pela vida, através nova geração tem sua herança genética colocada à prova
do qual a natureza
faria a seleção de pelas condições ambientais em que vive. A evolução é
alguns tipos, os oportunista e randômica. Primeiro, o processo evolutivo
mais adaptados às
condições ambientais, seleciona (ou seja, mantém vivos e, com mais chance de
em detrimento de
outros, que tenderiam passar adiante seus genes) os animais e plantas cujas
à extinção. mutações são mais favorecidas pelo ambiente em que
Fonte: Soares (2004).
são obrigados a viver. Segundo, as mutações ocorrem
UNIUBE  143

ao acaso, e não com o objetivo de melhorar as chances de sobrevivência de


quem as sofre.

O termo adaptação possui dois significados em biologia evolutiva. O primeiro


refere­‑se a características que aumentam a sobrevivência e o sucesso reprodu‑
tivo dos indivíduos que as possuem. Por exemplo, acredita­‑se que as asas são
adaptações para o voo, a teia de uma aranha é uma adaptação para a captura
de insetos voadores e assim por diante. O segundo significado refere­‑se ao pro‑
cesso pelo qual essas características são adquiridas, ou seja, os mecanismos
evolutivos que as produzem (PURVES et al., 2005).

Os biólogos consideram um organismo bem adaptado a um determinado am‑


biente quando é possível imaginar um organismo minimamente diferente do
anterior que se reproduz ou sobrevive com uma menor eficiência do que esse
no mesmo ambiente.

Ou seja, adaptação é um conceito relativo; para compreender a adaptação, os


biólogos devem comparar a performance de indivíduos (da mesma espécie ou
de espécies diferentes) que diferem entre si em determinadas características.

Figura 2: Charles Darwin: naturalista inglês, autor da teoria da evolução.


Fonte: H. F. Helmont (Ed.). History of the world. Nova York, 1901.
Wikipédia (2010). Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_
Darwin>. Acesso em: 7 abr. 2010.
144 UNIUBE

Por exemplo, para investigar a natureza adaptativa de teias de aranha, podemos


tentar determinar a eficiência de captura de insetos comparando teias feitas por
indivíduos de uma mesma espécie, mas que possuam pequenas diferenças em
suas conformações. Podemos também medir modificações existentes nas teias
dessa espécie em diferentes situações. A partir desses dados, será possível com‑
preender como alterações na estrutura da teia podem influenciar a sobrevivência
e o sucesso reprodutivo dos indivíduos que a teceram (PURVES et al., 2005).

4.4.1 Charles Darwin e a adaptação

A seguir, proponho algumas indagações: como os evolucionistas interpretam a


existência de semelhanças anatômicas e de desenvolvimento embrionário entre
duas espécies diferentes de animais? Compare as ideias de Darwin e de Lamarck
sobre evolução, destacando o papel que cada um atribuía ao meio ambiente.

  importante! 

Podem­‑se destacar, nas ideias de Lamarck, dois aspectos principais:

• A lei do uso e desuso só é válida em alguns casos, como em órgãos de natureza


muscular: os músculos desenvolvem­‑se por meio de exercícios e atrofiam com a
inatividade.

• A lei da transmissão de características adquiridas não é válida em nenhuma cir‑


cunstância. Os seres vivos apenas transmitem o material genético presente em
suas células reprodutoras. Não foi Lamarck quem postulou pela primeira vez a lei
da transmissão de características adquiridas; na verdade, tratava­‑se de crença geral
em sua época, quando a Genética não havia ensaiado seus primeiros passos.

4.5 O que é uma espécie?

Espécie é um conjunto de seres semelhantes que, quando cruzam, produzem


descendentes férteis, isto é, descendentes capazes de reproduzir­‑se.
UNIUBE  145

A palavra espécie significa, literalmente, “tipo”, mas o que se quer dizer com
“tipo”? Um especialista em um determinado grupo de organismos, em orquí‑
deas ou lagartos, por exemplo, normalmente consegue distinguir as diferentes
espécies desse grupo em uma determinada área simplesmente examinando­‑as
superficialmente. Os padrões de semelhanças e diferenças que unem os grupos
de organismos, separando­‑os dos outros grupos, são familiares a todos nós. Os
populares guias de campo, usados para distinguir espécies de aves, mamíferos,
insetos ou flores, existem porque a maioria das espécies é uma unidade coesa
que muda em aparência apenas gradualmente e em grandes escalas geográficas
(PURVES et al., 2005).

Entretanto, nem todos os membros de uma espécie têm tal semelhança. Por
exemplo, machos, fêmeas e indivíduos jovens podem não se parecer uns com
os outros. Como podemos decidir se indivíduos semelhantes, mas distinguíveis
devem pertencer a diferentes espécies ou ser considerados membros de uma
mesma espécie? Durante muito tempo, o conceito que vem guiando essas de‑
cisões foi o de integração genética. Se indivíduos de uma mesma população
se intercruzam, mas não o podem com indivíduos de outras populações, eles
constituem um grupo distinto no qual os genes se recombinam; isto é, eles são
unidades evolutivas independentes. Essas unidades evolutivas independentes
são comumente chamadas espécies.

4.5.1 Como surgem novas espécies?

Segundo Purves et al. (2005), a especiação é o processo pelo qual uma es‑
pécie divide­‑se em duas, que, então, evoluem em diferentes linhagens. Nem
todas as mudanças evolutivas resultam em novas espécies. Charles Darwin,
embora tenha intitulado seu livro de A origem das espécies, ele não chegou
a discutir como uma única espécie origina duas ou mais espécies­‑filhas. Em
vez disso, ele demonstrou que as espécies são afetadas pela seleção natural
ao longo do tempo.

A etapa crítica na formação de uma nova espécie (Figura 3) é a separação do


conjunto gênico da espécie ancestral em dois conjuntos separados. Subse‑
146 UNIUBE

2– As populações divergem
geneticamente Espécie-filha A
Aumento 1– Uma barreira é
formada
Distância genética

3– A incompatibilidade
sexual se forma
População que se
intercruza (espécie-mãe)

Espécie-filha B
Aumento
Tempo

Figura 3: A especiação pode ser um processo gradual.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009), adaptado de Purves et al. (2005).

quente, em cada conjunto gênico isolado, as frequências dos genes e alelos


podem mudar como resultado da ação das forças evolutivas. Durante esse
período de isolamento, se diferenças significativas foram acumuladas, as duas
populações podem não mais trocar genes se voltarem a ocupar o mesmo espaço
(PURVES et al., 2005).

  sintetizando... 

O processo de seleção natural pode levar ao aparecimento de diferenças notáveis


entre populações de uma mesma espécie. Isso dependerá, em boa parte, dos am‑
bientes distintos em que vivem essas populações. As diferenças entre populações
podem se acentuar ao ponto de indivíduos de uma população não mais se cruzarem
com os das demais, ou, caso ocorram cruzamentos, serão produzidos descendentes
estéreis. Nesse momento, aquela população passa a constituir uma nova espécie.

Agora, reflita um pouco sobre as evidências da evolução propostas por Darwin.


Em seguida, responda aos questionamentos sobre a evolução das espécies.

• O que é especiação? Diferencie raças de espécies.


UNIUBE  147

• Como se explica a existência de bactérias sensíveis e de bactérias resistentes


a um determinado antibiótico?

4.6 Do organismo à biosfera

Nesse momento, vamos recordar alguns conceitos fundamentais de Ecologia.


Ao recapitular essas definições, se surgirem dúvidas, anote­‑as e releia os capí‑
tulos novamente. Utilize sempre o glossário de seus capítulos para consultar o
significado dos termos ou das palavras que você não entender. Reveja, elabore
e organize suas anotações, assim que possível, após cada leitura.

Um outro modo de se estudar a vida é analisar as relações entre o organismo e o


meio ambiente (Figura 4). Você sabe que ao redor de um peixe, vivem em um rio
muitos outros peixes da mesma espécie; ao conjunto de organismos da mesma
espécie que vivem numa determinada área chamamos de população.

Ao reunirmos a população de peixes, de caramujos etc., teremos uma comu-


nidade ou biocenose.

Considerando essa comunidade juntamente com o meio físico (a água, a


atmosfera, o solo) teremos um ecossistema. Reunindo os vários ecossistemas
teremos a biosfera.

Figura 4: Níveis de organização: do organismo ao ecossistema.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009).
148 UNIUBE

  importante! 

Se uma comunidade for considerada junto com os fatores abióticos (não vivos) de
um rio, como temperatura da água, intensidade da luz que penetra nela, sais minerais
dissolvidos, teor de oxigênio e gás carbônico, teremos um ecossistema. Portanto, num
ecossistema existem, então, os fatores bióticos (comunidade) e abióticos.

4.7 Ecologia: como surgiu?

Você já estudou sobre o histórico do surgimento da palavra ecologia, mas apro‑


veite a leitura desse pequeno texto para aprimorar seus conhecimentos. Anote
os pontos e fatos principais utilizando seu próprio sistema de escrita. Antes de
cada leitura, reveja os conteúdos que você já aprendeu anteriormente e a seguir,
leia a matéria atribuída.

Em meados do século XIX, as pesquisas na área da ecologia natural ganharam


consistência com os estudos dos sistemas florestais e marinhos, mais tarde de‑
senvolvidos nos cursos de biologia. O biólogo alemão Ernest Haeckel aprofundou
as relações que se estabelecem entre a fauna e a flora e seu ambiente físico.
Desenvolvendo diferentes aspectos dessa interação, Haeckel estruturou o conhe‑
cimento científico do funcionamento do nicho realizado com o seu entorno ou da
lógica da casa (oikos, em grego), origem do conceito ecologia (MINC, 2008).

Portanto, ecologia significa literalmente a “ciência do hábitat”. A maioria dos


ecologistas atuais define a ecologia como a ciência que estuda as condições
de existência dos seres vivos e as suas interações no meio ambiente. Um eco‑
logista não separa o ser vivo de seu contexto, estuda­‑o em sua totalidade. A
espécie não é estudada como um indivíduo isolado ou num pequeno grupo de
indivíduos, mas numa população, isto é, no conjunto de indivíduos espalhados
em uma determinada área e renovando­‑se no tempo continuamente.

Conectando esses estudos com a geografia, a química e a física, a ecologia


natural desenvolveu os princípios do equilíbrio dos ecossistemas, os quais es‑
UNIUBE  149

tão fundados na interdependência dos seus diferentes elementos constitutivos.


Interferir em um elemento do ecossistema pode implicar alteração de todo o
seu equilíbrio. Mudar o curso de um rio, desmatar uma encosta ou eliminar al‑
guns insetos são atitudes que podem ocasionar mudanças no solo, na fauna e
no microclima. Antes do estabelecimento desses nexos causais, os efeitos de
determinadas obras e intervenções humanas somente eram percebidas anos
depois. Nas últimas décadas, os ambientalistas passaram a exigir antecipada‑
mente relatórios de impacto ambiental para se prevenir contra consequências
nefastas (MINC, 2008).

4.7.1 Ecologia de populações

Em qualquer momento no tempo, um organismo ocupa apenas um local e tem


determinada idade. Os membros de uma população, contudo, estão distribuídos
no espaço e diferem em idade e tamanho. Essas características estão entre os
componentes da estrutura populacional (PURVES et al., 2005).

Os ecólogos estudam a estrutura populacional em diferentes escalas espaciais,


variando de subpopulações locais a espécies inteiras. Eles estudam o número e
a distribuição espacial dos indivíduos porque essas características influenciam
a estabilidade das populações e afetam as interações entre espécies (PURVES
et al., 2005).

As populações possuem uma série de características próprias, exclusivas do


grupo, e não dos indivíduos tais como: densidade, taxas de natalidade e mor‑
talidade, relações de interdependência, distribuição etária, potencial biótico e
dispersão, além de características genéticas, tais como: adaptação e habilidade
reprodutiva. Assim sendo, as populações são entidades estruturadas que não
podem ser confundidas com simples agrupamentos de indivíduos independentes
entre si (BRAGA et al., 2006).

O número de indivíduos de uma espécie por unidade de área (ou volume) é


sua densidade populacional. Os ecólogos estão interessados na densidade
das populações porque populações densas frequentemente exercem fortes in‑
150 UNIUBE

fluências sobre os seus próprios membros bem como sobre as populações de


outras espécies. Outros cientistas, tais como aqueles que trabalham na agricul‑
tura, conservação ou medicina, desejam manejar as espécies para aumentar
(no caso das plantas cultivadas, espécies esteticamente atrativas ou espécies
ameaçadas de extinção) ou diminuir (no caso de pestes agrícolas e organismos
transmissores de doenças) suas densidades. Para manipular a densidade po‑
pulacional, devemos conhecer quais fatores fazem as populações aumentarem
ou diminuírem de tamanho e como eles funcionam (PURVES et al., 2005).

Geralmente, os ecólogos medem a densidade dos organismos em ambientes ter‑


restres pelo número de indivíduos por unidade de área, e o número por unidade
de volume é uma medida geralmente mais útil para organismos aquáticos.

  importante 

Para espécies cujos membros diferem em tamanho, como ocorre com a maioria das
plantas e alguns animais tais como moluscos, peixes (Figura 5) e répteis (Figura 6),
a massa total de indivíduos, sua biomassa, pode ser uma medida de densidade mais
útil do que o número de indivíduos (PURVES et al., 2005).

  saiba mais 

Natalidade é a tendência de crescimento de uma população. A taxa bruta de natali‑


dade quantifica o crescimento e é dada pela relação entre novos indivíduos nascidos
em uma unidade de tempo, sendo essa relação denominada “taxa de natalidade”.
Essa taxa assume valores positivos ou nulos e é, em geral expressa por habitantes
nascidos/1000 habitantes existentes no meio considerado (BRAGA et al., 2006).

Mortalidade é a antítese da natalidade e é quantificada pela taxa bruta de óbitos.


Em uma população isolada, onde não ocorra imigração/emigração, a diferença entre
as taxas brutas de natalidade e mortalidade indica a taxa de crescimento vegetativo
dessa população.
UNIUBE  151

Figura 5: Peixe. Figura 6: Réptil.


Fonte: Foto de Ricardo Baratella (2010). Fonte: Foto de Ricardo Baratella (2010).

O tamanho de uma população pode ser estimado por meio da marcação e recap‑
tura de indivíduos. Por exemplo, se capturarmos e marcarmos 100 indivíduos em
uma população, podemos realizar outra amostra mais tarde e contar os indivíduos
nessa amostra que já estão marcados. Se 10% dos indivíduos em nossa segunda
amostra já estivessem marcados, concluiríamos que a população contém cerca
de 1.000 indivíduos. Essa estimativa é baseada na suposição matemática de que
o número de indivíduos capturados na primeira amostra representa a mesma
proporção da população total que a proporção de indivíduos marcados para o
número total capturado na segunda amostra (PURVES et al., 2005).

  exemplificando! 

Taxa de mortalidade

Obtém­‑se a taxa de mortalidade tomando­‑se os óbitos durante um ano, multiplicando


por mil e dividindo o resultado pela população total.

Taxa de mortalidade = número de óbitos X 1000


número de habitantes

Por exemplo: se num país cuja população total é de 21.342.000, morreram 375.514
pessoas num ano, então:

375.514 X 1000 = 17,6%


21.342.000
152 UNIUBE

4.7.2 Fatores que limitam o crescimento da população

Diversos fatores podem afetar o número de organismos em uma população.


Por vezes, um fator conhecido como fator limitante, tem mais importância que
outros para o crescimento da população. Tal princípio ecológico, relacionado à
lei de tolerância, denomina­‑se princípio dos fatores limitantes: o excesso ou
a falta de um fator abiótico pode limitar ou impedir o crescimento de uma popu‑
lação, ainda que todos os outros fatores estejam na faixa de tolerância ideal ou
próximos a ela (MILLER, 2007).

Na terra, a precipitação é geralmente o fator limitante. A falta de água no deserto


limita o crescimento das plantas. Os nutrientes no solo também podem atuar
como fator limitante da terra. Suponhamos que um fazendeiro plante milho em
um solo pobre em fósforo. Mesmo que os níveis de água, nitrogênio, potássio e
outros nutrientes sejam ideais, o milho deixará de crescer depois de consumir
o fósforo disponível (MILLER, 2007).

Da mesma forma, o excesso de um fator abiótico pode ser limitante. Por exemplo,
o volume excessivo de água ou fertilizante pode matar a planta, erro bastante
comum cometido por muitos jardineiros iniciantes.

4.7.3 Potencial biótico e resistência ambiental

As populações naturais tendem a permanecer em equilíbrio dinâmico, aumen‑


tando ou diminuindo de tamanho, de forma a não atingir limites que dificultem
sua sobrevivência. Essas populações permanecem estáveis com um número
de indivíduos mais ou menos constante e isso é muito importante para que o
equilíbrio do ecossistema em que vive seja mantido.

Por potencial biótico entendemos a capacidade inata de uma população de cres‑


cer em condições favoráveis. Representa a capacidade dos organismos vivos de
se multiplicarem rapidamente por meio da reprodução. Esse potencial é bastante
grande para muitas espécies, em especial nos insetos. A mosca doméstica, por
UNIUBE  153

exemplo, apresenta de 8 a 20 gerações por ano, que se sucedem a cada duas


semanas. Uma só fêmea dessa espécie é capaz de produzir de 600 a 1.200
ovos em seu ciclo de vida. Suponhamos que um casal de moscas fecunde 600
ovos, dos quais resultem 300 machos e 300 fêmeas. Se todos sobreviverem,
serão formados 300 novos casais numa só geração. Cada um desses casais
produzirá, em uma única geração, outros 300 casais. Considerando que, em um
ano, ocorrem de 8 a 20 gerações, a partir do casal inicial surgirão nesse período
191 trilhões de indivíduos!

É evidente que isso não chega a ocorrer, pois a população de moscas, como a de
outras espécies, não cresce de acordo com o seu potencial biótico. Na verdade,
existem fatores que impedem esse crescimento (MARCONDES, 1998).

Recebe o nome de resistência ambiental o conjunto de fatores capazes de


limitar o crescimento populacional.

Entre os fatores determinantes da resistência ambiental, podem ser citados a


proporção inadequada entre os sexos na população, os efeitos do clima e da
limitação de espaço, a competição entre os indivíduos de uma mesma popu‑
lação e entre os indivíduos de populações diferentes e as numerosas causas
de morte.

4.7.4 Ecologia de comunidades

As espécies que vivem juntas em uma determinada área constituem uma comu-
nidade ecológica. Cada espécie interage de maneira única com outras espécies
em sua comunidade e com seu ambiente físico. Algumas dessas interações são
fortes e importantes; outras são fracas e afetam muito pouco o funcionamento
de uma comunidade. O estudo dessas interações e da maneira como elas in‑
fluenciam quais e quantas espécies vivem em um determinado local é o foco
da ecologia de comunidades (PURVES et al., 2005).
154 UNIUBE

4.7.5 As interações bióticas influenciam as condições sob as quais as


espécies podem sobreviver

Cada espécie pode sobreviver apenas sob um certo conjunto de condições


ambientais, as quais definem seu nicho ecológico. Se não existissem compe‑
tidores, predadores ou organismos patogênicos em seu ambiente, uma espécie
seria capaz de sobreviver sob uma amplitude mais larga de condições físicas do
que faria na presença de outras espécies que a afetam negativamente. Por outro
lado, a presença de espécies benéficas pode aumentar a gama de condições
físicas nas quais uma espécie pode sobreviver (PURVES et al., 2005).

Segundo Purves et al. (2005), um experimento realizado com duas espécies


de cracas, Balanus balanoides e Chthamalus stellatus, demonstrou a importân‑
cia dos fatores abióticos e bióticos na determinação dos nichos fundamental e
realizado dessas duas espécies. Essas cracas vivem entre os níveis de maré
alta e maré baixa em litorais rochosos do Atlântico Norte. Chthamalus adultos
vivem geralmente num ponto mais alto na zona entre marés do que Balanus
adultos, mas jovens Chthamalus estabelecem­‑se em grande número na zona
de Balanus.

Na ausência de Balanus, os jovens Chthamalus sobrevivem e crescem bem


na zona de Balanus, mas se os Balanus estão presentes, os Chthamalus são
sufocados, esmagados ou arrancados pelos Balanus maiores e de crescimento
mais rápido. Jovens Balanus estabelecem­‑se na zona de Chthamalus, mas eles
crescem muito pouco porque perdem água rapidamente quando expostos ao ar.
Chthamalus têm sucesso na competição nesta zona, mas Balanus persistem um
pouco mais alto na zona entre marés na ausência de Chthamalus. Ao remover
experimentalmente uma espécie ou a outra, os pesquisadores mostraram que
a distribuição vertical dos adultos de ambas as espécies é maior na ausência
da outra espécie. O resultado de sua interação é um zoneamento entre marés,
com Chthamalus crescendo acima de Balanus (PURVES et al., 2005).

Observe atentamente as figuras 7 e 8.


UNIUBE  155

Figura 7: Teia alimentar.


Fonte: Desenho de Vanessa das
Dores Duarte Teruel (2009).

Vamos exercitar? Faremos uma revisão de conceitos utilizando a Figura 7, antes


de estudarmos as pirâmides ecológicas. Mas, para isso, responda às questões
a seguir:

a. Identifique cada um dos componentes da teia alimentar e classifique­‑os.

b. Que elementos pertencem a mais de um nível trófico na teia alimentar apre‑


sentada?

c. Qual é o papel desempenhado pela planta nessa teia alimentar?

Costuma­‑se fazer uma avaliação quantitativa do que acontece nos ecossistemas,


construindo­‑se gráficos em forma de pirâmides. As mais comuns são as de números,
a de biomassa e a de energia.
156 UNIUBE

4.8 Pirâmides alimentares

São representações esquemáticas das cadeias alimentares.

• Pirâmide de números

A pirâmide de números representa o número total de seres vivos envolvidos em


uma cadeia alimentar. Em muitas cadeias alimentares de predatismo, o número
de produtores é maior que o de consumidores primários; esses, por sua vez, são
mais abundantes que os consumidores secundários e, assim, sucessivamente.

Figura 8: Pirâmide de números.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009).

A base corresponde aos produtores e o número de indivíduos tende a ser cada


vez menor nos outros níveis tróficos na medida em que eles se afastam dos
produtores (Figura 8).

Quando, porém, a cadeia alimentar envolve a participação de parasitas, a pirâ‑


mide de números fica invertida.

Figura 9: Representação de uma pirâmide de


números invertida.
Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009).

Observe (Figura 9) que os últimos níveis tróficos sempre são mais numerosos.
UNIUBE  157

No caso de uma cadeia alimentar em uma árvore, com insetos e pássaros, a


pirâmide é invertida e a base é menor que os outros níveis porque uma única
árvore pode ser suficiente para muitos seres vivos.

Figura 10: Pirâmide de números invertida.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009).

A pirâmide de biomassa expressa a relação da massa total dos seres vivos em


cada nível trófico. A biomassa de cada nível trófico é calculada multiplicando­
‑se o número de seres vivos pela média de massa individual. O resultado será
similar ao encontrado na pirâmide de números, a biomassa será decrescente
a partir dos produtores, que terão a maior biomassa, como mostra o esquema,
a seguir.

Figura 11: Pirâmide de biomassa.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009).

Em uma cadeia alimentar que envolve predatismo, a biomassa é decrescente


a partir dos produtores.

Figura 12: Pirâmide de biomassa invertida.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009).
158 UNIUBE

Esse tipo de pirâmide (Figura 12) ocorre, por exemplo, em uma cadeia alimentar
em que os produtores (fitoplâncton) possuem vida muito curta, multiplicação
rápida e, portanto, pequena acumulação de matéria orgânica.

4.8.1 Pirâmide de energia

As pirâmides de energia representam a quantidade de energia disponível em


cada nível trófico em determinado tempo. Geralmente é medida em kcal (qui‑
localoria).

1 kcal é a energia necessária para elevar em 1 ºC a temperatura de um litro de água.

A pirâmide de energia independe do tamanho de cada ser vivo, pois organismos


grandes, por exemplo, gastam grande parte da energia que obtêm apenas para
manter suas funções vitais.

Figura 13: Pirâmide de energia.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009).

Observe na Figura 13 que a disponibilidade de energia diminui progressivamente


a cada nível trófico.

A energia, uma vez utilizada por um organismo em seus processos vitais, não é
reaproveitada. Assim, não retorna aos produtores para ser novamente utilizada,
isto é, a energia possui um fluxo unidirecional.

Agora, analise atentamente a Figura 14 em relação ao fluxo energético.


UNIUBE  159

Figura 14: Pirâmide de energia.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009).

Algumas conclusões devem ser fixadas como:

• a fonte de energia para os seres vivos é o Sol;

• os produtores apresentam o maior nível energético;

• na medida em que se afasta do produtor, a quantidade de energia disponível


diminui.

Por essas conclusões observadas, fica evidente que a melhor posição trófica
para um consumidor, em termos de energia, é atuar o mais próximo possível dos
produtores, ocupando, de preferência, o nível de consumidor primário.

Com base nesses fatos, podemos representar a estrutura trófica por meio de uma
pirâmide, sendo a pirâmide energética a mais importante e representativa. Nela,
os produtores representam a base e os demais níveis vão se superpondo até o
cume. Definimos a relação de energia entre diferentes níveis da cadeia alimentar
como eficiência ecológica. Como uma média geral, adotamos, para os diversos
ecossistemas, o valor de 10%. Assim sendo, para energia incidente de 1.000
cal, a produção líquida dos vegetais será de 100 cal, e apenas 10 cal estarão
disponíveis para os herbívoros e 1 cal para carnívoros. Portanto, concluímos
que a pirâmide deve ter base larga e pequena altura (BRAGA et al., 2006).
160 UNIUBE

Figura 15: Pirâmide de energia: energia disponível em cada nível trófico.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009), adaptado de Braga et al. (2006).

  curiosidade 

O porco é o melhor conversor de energia até agora estudado, uma vez que, da
energia consumida, 20% mantém­‑se utilizável no próximo nível trófico. De modo
geral, a eficiência é maior nos invertebrados que nos mamíferos, pois os gastos de
manutenção para manter a temperatura constante são elevados nos homeotermos
(BRAGA et al., 2006).

4.9 Os ciclos biogeoquímicos

A denominação de biogeoquímico dá­‑se pelo fato de as substâncias circularem


através do mundo biológico e geológico. Como exemplo dos ciclos biogeoquí‑
micos têm­‑se o hidrológico, o do carbono, o do oxigênio e o do nitrogênio. A
circulação do carbono entre os elementos bióticos e abióticos de um ecossis‑
tema está correlacionada com o fluxo de energia através da fotossíntese e da
respiração. O carbono é o bloco básico para a síntese de carboidratos, gorduras,
proteínas, DNA, RNA e outros compostos orgânicos necessários à vida (PHI‑
LIPPI et al., 2006).
UNIUBE  161

4.9.1 Ciclo do carbono

Presente na estrutura de todas as moléculas orgânicas, o elemento químico


carbono é essencial para a vida. O carbono encontra­‑se primariamente dispo‑
nível para a vida na atmosfera, em forma de gás carbônico, ou nos ambientes
aquáticos, na forma de carbonatos (PAULINO, 2002).

Analise a Figura 16, que esquematiza o ciclo do carbono.

Segundo Paulino (2002), os seres produtores obtêm carbono assimilando o gás


carbônico da atmosfera ou dissolvido na água. Por meio da fotossíntese, os
seres produtores fixam e transformam o gás carbônico em matéria orgânica. Já
os consumidores obtêm carbono por intermédio dos nutrientes orgânicos dos
quais se alimentam. Tanto os produtores como os consumidores, porém, perdem
carbono da mesma forma, por meio:

• da respiração – que libera CO2 para o ambiente;

• da cadeia alimentar – ao servir de nutriente para um organismo qualquer;

Figura 16: Ciclo do carbono: um resumo.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009).
162 UNIUBE

• do fornecimento de material que fará parte da constituição do humo (detritos


orgânicos), pela morte do organismo ou liberação de parte dele (pêlos, penas,
pele, folhas, frutos etc.).

No caso dos animais, há eliminação de carbono também através da excreção


e de resíduos digestórios.

Os decompositores atuam sobre os detritos orgânicos liberando gás carbônico,


que retorna à atmosfera e se reintegra ao seu reservatório natural.

Assim, o elemento químico carbono penetra no mundo vivo na forma de gás


carbônico atmosférico ou dissolvido na água, através da fotossíntese. Esse ele‑
mento químico pode então ser devolvido ao ambiente também na forma de gás
carbônico e essa devolução é processada basicamente por intermédio da:

• respiração dos seres vivos em geral;

• decomposição de materiais orgânicos pela ação de bactérias e de fungos;

• combustão de materiais orgânicos, como carvão, petróleo e derivados, madeira


e papel, entre outros exemplos.

As queimadas de florestas, a excessiva utilização dos combustíveis fósseis repre‑


sentados pelo carvão e pelo petróleo e derivados, o desmatamento irrefreado e
envenenamento dos mares constituem exemplos de atividades humanas que vêm
promovendo um considerável desequilíbrio no ciclo do carbono na natureza.

4.9.2 Ciclo do nitrogênio

No ciclo do nitrogênio, tem­‑se a conversão do nitrogênio gasoso da atmosfera,


através da nitrificação, resultando em compostos nitrogenados utilizáveis no solo
(nitritos, nitratos) que, por sua vez, retornam à atmosfera na forma de nitrogênio
UNIUBE  163

gasoso, pela desnitrificação. O nitrogênio é um elemento fundamental na forma‑


ção dos aminoácidos, o bloco de construção das proteínas, que, por sua vez,
são necessárias para o crescimento das plantas. É importante mencionar que
determinados microorganismos do solo e algumas algas azuis são os únicos
grupos de organismos capazes de fixar ou modificar o nitrogênio atmosférico,
tornando­‑os acessíveis para a assimilação pelas plantas verdes.

Na Figura 17 está esquematizado o ciclo do nitrogênio.

O aumento acentuado da população humana e, principalmente, da taxa de


crescimento populacional após a Revolução Industrial, na segunda metade do
século XIX, implicou um aumento da produtividade agrícola para fazer frente à
demanda crescente de alimentos. Tanto o nitrogênio como o fósforo são fatores
limitantes do crescimento dos vegetais e, por isso, tornaram­‑se alguns dos prin‑
cipais fertilizantes utilizados hoje na agricultura (BRAGA et al., 2006).

Nitrogênio

Bactérias desnitrificantes Bactérias fixadoras de


convertem amônia nitrogênio nas raízes
e nitratos em nitrogênio e no solo e algas azuis
molecular Nutrição
Proteínas

Nitratos no solo e na Plantas verdes Animais


água

Excreção
Bactérias nitrificantes Morte
convertem nitrito em Ureia e ácido
nitrato úrico

Decompositores agem
Bactérias nitrificantes sobre substâncias
convertem amônia nitrogenadas de
em nitrito excretas e cadáveres

Amônia (NH3)

Figura 17: Ciclo do nitrogênio.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009).
164 UNIUBE

O ciclo do nitrogênio, assim como o do carbono, é um ciclo gasoso. Apesar


dessa similaridade, existem algumas diferenças notáveis entre os dois ciclos,
por exemplo:

a. a atmosfera é rica em nitrogênio (78%) e pobre em carbono (0,032%);

b. apesar da abundância de nitrogênio na atmosfera, somente um grupo seleto


de organismos consegue utilizar o nitrogênio gasoso;

c. o envolvimento biológico no ciclo do nitrogênio é muito mais extenso que no


ciclo do carbono.

Segundo Braga et al., (2006), no ciclo do nitrogênio, existem quatro mecanismos


bastante diferenciados e importantes:

1) fixação do nitrogênio atmosférico em nitratos;

2) amonificação;

3) nitrificação;

4) desnitrificação.

Mutualismo A fixação do nitrogênio ocorre por meio dos chamados


Forma de relação organismos simbióticos fixadores de nitrogênio, de vida
harmônica interespecífica
necessária à
livre e fotossintéticos. Entre os organismos simbióticos,
sobrevivência dos seres destaca­‑se a espécie Rhizobium, que vive em asso‑
que a realizam, já que,
isolados, não encontram ciação simbiótica (mutualismo) com raízes vegetais
condições para viver.
Fonte: Soares (2004).
leguminosas (ervilha, soja, feijão etc.). A importância
desses organismos é bastante óbvia, sendo a rotação
Aeróbias
de culturas de leguminosas uma alternativa ecológica
Seres que utilizam o ao uso de fertilizantes nitrogenados sintéticos. Dentre
oxigênio na sua respiração.
os organismos de vida livre, encontramos bactérias
Anaeróbias
aeróbias, como a Azobacter, e bactérias anaeróbias,
Seres que vivem na como a Clostridium. Também as algas, principalmente
ausência do oxigênio.
as cianofíceas, são organismos de vida livre fixadores
UNIUBE  165

de nitrogênio. Algumas bactérias fotossintéticas como a Rhodospirillum são


também fixadoras de nitrogênio.

O nitrogênio fixado é rapidamente dissolvido na água do solo e fica disponível


para as plantas na forma de nitrato. Essas plantas transformam os nitratos em
grandes moléculas que contêm nitrogênio e outras moléculas orgânicas nitro‑
genadas, necessárias à vida. Inicia­‑se, então, o processo de amonificação
(BRAGA et al., 2006).

Quando esse nitrogênio orgânico entra na cadeia alimentar, ele passa a constituir
moléculas orgânicas dos consumidores primários, secundários e assim suces‑
sivamente. Atuando sobre os produtos de eliminação desses consumidores e
do protoplasma de organismos mortos, as bactérias mineralizam o nitrogênio
produzindo gás amônia (NH3) e sais de amônio (NH4+). Dessa maneira, completa­
‑se a fase de amonificação no ciclo (BRAGA et al., 2006).

NH4+ e NH3 são convertidos em nitritos (NO2­‑) e, posteriormente, no processo


de nitrificação, de nitritos em nitratos (NO3­‑) por um grupo de bactérias quimios‑
sintetizantes. A passagem de amônia a nitrito é feito pelas Nitrossomonas; e a
passagem a nitratos, pelas Nitrobacter. Esse processo de nitrificação se pro‑
cessa aerobiamente. Por fim, temos o retorno ao nitrogênio gasoso (N2) a partir
do nitrato, pela ação das Pseudomonas. Esse fenômeno da desnitrificação é
anaeróbio e ocorre nos solos pouco aerados.

4.9.3 Ciclo do oxigênio

O oxigênio utilizado pelos seres vivos é retirado principalmente da atmosfera


em que se encontra na forma de gás oxigênio (O2).

Na respiração, átomos de oxigênio ligam­‑se a átomos de hidrogênio formando


moléculas de água (H2O). Parte dessa água é utilizada no metabolismo e voltará
ao ambiente por meio da respiração e da decomposição dos seres vivos. Outra
parte é eliminada na excreção e na transpiração (CHEIDA, 2005).
166 UNIUBE

Durante a fotossíntese, o principal processo de fornecimento de gás O2, os pro‑


dutores fixam CO2 atmosférico em sua biomassa e liberam átomos de oxigênio,
provenientes da lise da água para o ambiente na forma de gás O2, que são,
posteriormente, capturados pelos organismos.

Nas cadeias alimentares, os produtores transferem átomos de oxigênio presentes


em seus tecidos para os herbívoros e os carnívoros. Assim, o oxigênio também
circula entre os seres vivos (CHEIDA, 2005).

  saiba mais 

O oxigênio molecular representa 21% da atmosfera terrestre. As três principais fontes


de oxigênio são dióxido de carbono (CO2), a água (H2O) e o oxigênio molecular (O2);
outras fontes são os íons nitrato e sulfato, que liberam oxigênio na decomposição
e o fornecem aos seres vivos. O mais importante processo fornecedor de O2 é a
fotossíntese. Nessa reação, forma­‑se glicose e oxigênio molecular a partir de água
e gás carbônico.


Pelo fato de a fotossíntese e a respiração serem cíclicas, uma parece contrabalançar
a outra, de modo a não haver alteração na quantidade de oxigênio na atmosfera.

4.9.4 Ciclo da água

Você sabe que a água é o composto inorgânico encontrado em maior quantidade


nos organismos vivos e o mais abundante na biosfera. Daí a inexistência de
vida, como a conhecemos, na ausência absoluta de água.

Nos primeiros tempos de formação da Terra, a água surgiu na atmosfera em


consequência da atividade vulcânica. Hoje, o maior acúmulo dela se encontra
nos oceanos. Mas, indiscutivelmente, ela se constitui num fator imprescindível
UNIUBE  167

Figura 18: Ciclo da água.


Fonte: Desenho de Cilene Castejón (2009).

para a vida. Por isso, vamos encontrá­‑la num constante ciclo, passando ora pela
composição dos seres vivos ora circulando pelo meio abiótico (SOARES, 1999).

  saiba mais 

Embora o vapor de água represente apenas 0,03% da atmosfera, ele tem uma imensa
importância na manutenção da vida. Começando como vapor d’água na atmosfera,
as moléculas se unem formando gotas ou cristas de gelo que podem cair como al‑
guma forma de precipitação: neblina, chuva, neve etc. Essa precipitação pode ser
interceptada pela vegetação, cair sobre o solo, ou sobre cidades. Pode, portanto, ser
armazenada, infiltrar­‑se no solo ou escoar superficialmente.


As plantas retiram água do solo através das raízes e perdem água por transpiração
através das folhas.

A precipitação que atinge o solo e nele se infiltra tende a penetrar até alcançar
a camada de rocha impermeável. Aí será formado o lençol subterrâneo ou
lençol freático. A água que permanece na superfície do solo ou sobre a vege‑
tação, assim como a água de rios, lagos e oceanos, evapora, retornando para
a atmosfera e constituindo as nuvens.
168 UNIUBE

Você sabia que sem o ciclo da água, os ciclos biogeoquímicos não poderiam
existir e a vida não poderia ser mantida?

  importante! 

O fósforo é o material genético constituinte das moléculas dos ácidos ribonucleico


(RNA) e desoxirribonucleico (DNA) e componente dos ossos e dentes. Como o fósforo
é um elemento de ciclo fundamentalmente sedimentar, seu principal reservatório é
a litosfera, mais precisamente as rochas fosfatadas e alguns depósitos formados ao
longo de milênios. Por meio de processos erosivos, ocorre a liberação do fósforo na
forma de fosfatos, que serão utilizados pelos produtores. Entretanto, parte desses
fosfatos liberados é carregada para os oceanos, onde se perde em depósitos a gran‑
des profundidades, ou é consumida pelo fitoplâncton.

4.9.5 Ciclo do enxofre

O enxofre apresenta um ciclo basicamente sedimentar, embora possua uma


fase gasosa, porém de pouca importância. A principal forma de assimilação do
enxofre pelos seres produtores é como sulfato inorgânico. O processo biológico
envolvido nesse ciclo compreende uma série de microorganismos com funções
específicas de redução e oxidação (BRAGA et al., 2006).

Segundo Braga et al. (2006), a maior parte do enxofre que é assimilado é mine‑
ralizado em processo de decomposição. Entretanto, sob condições anaeróbias,
ele é reduzido a sulfetos, entre os quais o sulfeto de hidrogênio (H2S), composto
letal à maioria dos seres vivos, principalmente aos ecossistemas aquáticos em
grandes profundidades. Esse gás, tanto no solo como na água, sobe a camadas
mais aeradas onde então é oxidado, passando à forma de enxofre elementar,
quando, mais oxidado, ele se transforma, daí, em sulfato.

Sob condições anaeróbias e na presença de ferro, o enxofre precipita­‑se, for‑


mando sulfetos férricos e ferrosos. Esses compostos, por sua vez, permitem
que o fósforo converta­‑se de insolúvel a solúvel, tornando­‑se, assim, utilizável
(BRAGA et al., 2006).
UNIUBE  169

  importante! 

A ação do homem interfere no ciclo do enxofre por meio de grandes quantidades de


dióxido de enxofre liberadas nos processos de queima de carvão e óleo combustível
em indústrias e usinas termoelétricas. O dióxido de enxofre tem potenciais efeitos
danosos ao organismo, além de provocar, em certas situações, o que se denomina
chuva ácida e o smog industrial.

  saiba mais 

O Princípio de Gause

O biólogo russo G. F. Gause, estudando populações, concluiu que, em qualquer co‑


munidade, somente uma espécie pode ocupar determinado nicho ecológico durante
um longo período de tempo. Essa conclusão ficou conhecida como Princípio de
Gause ou Princípio da Exclusão Competitiva (CHEIDA, 2005).

Isso quer dizer que, quando indivíduos de espécies diferentes ocupam nicho ecológico
semelhante, a competição entre eles, por um ou mais recursos do ambiente, é inevi‑
tável. E, se ocuparem o mesmo nicho, a competição será tão forte que não poderão
conviver e uma das espécies será excluída (exclusão competitiva).

Em um experimento, foram cultivados separadamente Paramecium caudatum e


Paramecium aurelia. Ambos desenvolveram­‑se, mas o P. aurelia cresceu muito mais
rapidamente que o P. caudatum. Entretanto, quando as duas espécies foram coloca‑
das juntas, em um mesmo meio, o P. aurelia multiplicou­‑se muito mais rapidamente
e eliminou o P. caudatum (CHEIDA, 2005).

Estamos terminando o estudo deste capítulo ressaltando os aspectos conceituais


por meio de desenhos e observações científicas.

Faça a leitura do capítulo, refletindo sobre o que lê, anotando os pontos principais
e as dúvidas que ficaram. A seguir, vamos lhe propor a realização de atividades.
Não tema esquecer algumas informações, releia os textos e pesquise constan‑
170 UNIUBE

temente, organize o conhecimento não a partir da lógica que estrutura a ciên‑


cia, mas de situações de aprendizagem que tenham sentido, que lhe permitam
adquirir um instrumento para agir em diferentes contextos e, principalmente, em
situação de vida.

Bons estudos! E lembre­‑se que a busca de informações é um procedimento


importante para a sua aprendizagem, pois estar formado para a vida significa
mais do que reproduzir dados, denominar classificações ou identificar símbolos,
significa saber se informar, comunicar­‑se, argumentar, compreender e agir.

Resumo

O equilíbrio de um ecossistema é o estado em que as espécies que o habitam


permanecem vivas e perfeitamente integradas ao meio.

Para que isso ocorra, é necessário que seja mantida uma característica fun‑
damental dos ecossistemas: sua capacidade quase infinita de autorregulação
devida à reposição de seres. Essa reposição, base de seu equilíbrio, é feita
porque os seres têm capacidade de reproduzir e, desse modo, gerar descen‑
dentes que substituam aqueles que morrem. Os novos seres, uma vez introdu‑
zidos no meio, enfrentarão condições nem sempre favoráveis, e sobreviverão
apenas aqueles que possuírem características que lhes permitam adaptar­‑se
ao ambiente onde vivem.

Como vimos no capítulo anterior, o fluxo de energia num ecossistema é unidire‑


cional. Para isso, é necessário um suprimento externo e constante de energia,
o que é garantido pelo Sol.

Com a matéria inorgânica isso não ocorre. As substâncias inorgânicas que parti‑
cipam dos ecossistemas não necessitam de um suprimento a partir de uma fonte
externa, porque são sempre reaproveitadas, estando em constante reciclagem:
ora são encontradas nos seres vivos, ora no meio ambiente externo.
UNIUBE  171

Por envolverem seres vivos (produtores, consumidores e decompositores),


componentes geológicos e substâncias químicas, presentes nos ecossistemas,
essas reciclagens recebem o nome de ciclos biogeoquímicos.

Alguns materiais retornam ao ambiente quase tão rapidamente quanto são re‑
movidos; alguns são armazenados durante algum tempo em reservatórios como
o corpo dos vegetais e animais ou o solo e os sedimentos de lagos; e alguns
podem ligar­‑se quimicamente ou ser enterrados a grandes profundidades, numa
armazenagem de longa duração, antes de serem liberados e ficarem novamente
disponíveis para os organismos vivos.

À medida que a energia e as substâncias passam ao longo da cadeia alimentar,


os elementos vão passando para a forma de compostos orgânicos. Pela ação
dos decompositores, os átomos desses elementos encontram o caminho de
volta ao ambiente abiótico, isto é, ao solo, ar ou água, onde estão prontos para
serem novamente utilizados pelos seres vivos.

Atividades

Atividade 1
A produtividade primária em um ecossistema pode ser avaliada de várias for‑
mas. Nos oceanos, um dos métodos para medir a produtividade primária utiliza
garrafas transparentes e garrafas escuras, totalmente preenchidas com água do
mar, fechadas e mantidas em ambiente iluminado. Após um tempo de incubação,
mede­‑se o volume de oxigênio dissolvido na água das garrafas. Os valores obti‑
dos são relacionados à fotossíntese e à respiração. Explique por que o volume
de oxigênio é utilizado na avaliação da produtividade primária.

Atividade 2
Entre os vários argumentos apresentados contra a destruição da Floresta Ama‑
zônica, estão os seguintes:

a. a preservação da mata é necessária para garantir a manutenção da riqueza


de espécies e do patrimônio genético da região;
172 UNIUBE

b. a eliminação da mata deixaria exposto um solo de baixa fertilidade, pratica‑


mente inviável para a exploração agrícola.

Outro argumento muito difundido é o de que a mata funciona como o “pulmão


verde do mundo”, responsável por larga parcela da produção líquida de oxigênio
da Terra. Você concorda com esse último argumento? Por quê?

Atividade 3
Leia o texto:

Num universo em expansão, as galáxias e estrelas se afastam


a cada momento. O vazio escuro no qual elas voam torna­‑se
cada vez maior, cada vez mais solitário. Nossa pequena Espa‑
çonave Terra navega no meio das estrelas voadoras da noite.
Exceto a luz do Sol, seus outros combustíveis e suprimen-
tos estão a bordo. Não é possível voltar para se abastecer. E
não é possível descer e ir para um lugar melhor.

A Espaçonave Terra foi lançada.

E nós somos a tripulação. A única tripulação que ela tem


(TANNER, p. 24).

Releia a frase destacada do texto e responda:

a. Por que se refere à luz do Sol como combustível?

b. Quais são os outros combustíveis a que o autor se refere? E os suprimentos?

Atividade 4
Leia, atentamente, o fragmento de texto, a seguir:

Muitas espécies são introduzidas em um ambiente sem que haja uma avaliação
dos riscos associados a essa prática. Isso tem acontecido em larga escala com
peixes pelo mundo todo. A truta arco­‑íris já foi introduzida em 82 países, uma
espécie de tilápia, em 66 países e a carpa comum, em 59 países (CIÊNCIA
HOJE, 1996).
UNIUBE  173

Cite duas possíveis consequências da introdução de peixes exóticos em rios e


lagoas.

Referências
BRAGA, Benedito et al. Introdução à engenharia ambiental. 2. ed. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2006.

CHEIDA, Luis Eduardo. Biologia integrada. São Paulo: FTD, 2005.

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Anotações
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Anotações
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