Você está na página 1de 16

Glossário Musical

Quando um termo ocorre em VERSALETES é-lhe dedicada uma entrada no glossário.

ACORDE – Tipicamente, uma combinação simultânea de três ou mais NOTAS (ver


TRÍADE), percecionada como uma unidade musical. Em circunstâncias especiais,
contudo, uma díade (combinação simultânea de duas notas) pode funcionar como
um acorde (ver ACORDE SEM TERCEIRA).

ACORDE SEM TERCEIRA – ACORDE formado pela FUNDAMENTAL e uma quinta perfeita
(ver INTERVALO). Estas notas podem ser duplicadas. O acorde constituído pela
fundamental, quinta perfeita e duplicação da fundamental à OITAVA é denominado
power chord na música rock.

ACUSMÁTICO – Termo introduzido no vocabulário musical por Pierre Schaeffer


(1919-1995), iniciador da MUSIQUE CONCRÈTE. Refere a concentração exclusiva nos
sons, sem atender às fontes sonoras, causas ou meios de produção dos sons. Deriva
do termo grego akousmatikos, que significa «aquele que se dispõe a ouvir».

ALTURA (TONAL) – Propriedade de um som em virtude da qual é percecionado como


mais agudo ou mais grave do que outros sons e como ocupando uma certa posição
relativamente a outras NOTAS (por exemplo, numa ESCALA). A altura tonal depende
da FREQUÊNCIA mas não se confunde com esta, uma vez que há sempre ligeiras
variações de frequência entre sons que percecionamos como ocorrências da
mesma nota. Enquanto a frequência é uma propriedade intrínseca do som, a altura
é relacional, em parte dependente da mente.

ÂMBITO – (ver REGISTO e TESSITURA) A gama de sons, do mais grave ao mais agudo,
que se pode obter num dado instrumento ou voz. Aplicado a obras musicais, o
termo refere a gama de sons exigida pela peça. Assim, diz-se, por exemplo, que
uma MELODIA em cantochão tem um âmbito de uma OITAVA, ou que uma dada
SINFONIA tem um âmbito de sete oitavas.
ANACRUSE – Tempo fraco, constituído por uma ou mais NOTAS, que antecipa e
prepara o primeiro tempo forte de uma dada MELODIA.

ANDAMENTO – Parte de uma composição, normalmente designada pelo mesmo


termo usado para indicar a velocidade – allegro, adagio, presto, etc. – e o caráter –
gracioso, cantabile, agitato, etc. No séc. XX tornou-se habitual os compositores
indicarem a velocidade e o caráter usando termos que não os italianos.

ARTICULAÇÃO – Num sentido mais abrangente, é a ação de fazer sobressair os


diversos trechos ou segmentos melódicos, mantendo a fluidez do texto musical. É
comum designar isto como “fraseado”, embora a analogia correta seja mais com
uma “expressão” (“trecho” ou segmento de discurso) do que com uma “frase”. Num
sentido mais estrito, a articulação consiste no modo como se “ataca”
individualmente as notas num trecho – ligadas (legato) ou desligadas (stacatto).

ATONAL – Chama-se «atonal» à música que não se rege pelas convenções da


TONALIDADE, ou da qual está ausente qualquer experiência de um «centro tonal» do
qual a música «parte» e ao qual «regressa»; ou seja, música cuja construção não
segue padrões de tensão e resolução ligados à diferente importância relativa de
cada tom nas escalas DIATÓNICAS maiores e menores. A música que não tem
propriedades melódicas (ver MELODIA) ou harmónicas (ver HARMONIA) é atonal por
definição, mas o termo aplica-se sobretudo a composições que têm tais
propriedades, embora não tenham as propriedades definidoras da tonalidade.
Outra forma de colocar o contraste entre tonalismo e atonalismo é a seguinte: uma
peça é atonal se nela não houver diferença entre notas CROMÁTICAS e notas
diatónicas.

AUMENTAÇÃO – O termo pode referir uma de três coisas: a) o aumento de um


intervalo tonal por um semitom; b) duplicação da duração de todas as notas numa
peça (por contraste, à divisão por dois da duração de todas as notas chama-se
«diminuição»); c) o «ponto de aumentação», um sinal gráfico que, colocado junto a
uma figura rítmica lhe aumenta a duração em metade do seu valor.

BARÍTONO – REGISTO vocal intermédio, entre o TENOR e o BAIXO, compreendendo


características de ambos.
BAIXO – REGISTO vocal mais grave.

BAIXO CONTÍNUO – Na música do período barroco, o termo refere a combinação do


instrumento mais grave numa formação instrumental (tipicamente o violoncelo, a
viola da gamba ou o fagote) e um CRAVO, sendo que o cravista repetia na mão
esquerda a linha do baixo, improvisando acordes com a mão direita. O baixo
contínuo pode designar somente a estrutura harmónica (ver HARMONIA) proposta
pelo compositor, sem especificação do instrumento a ser usado para o realizar.
Normalmente vem em cifras (que indicam um dado tipo de acorde ou INVERSÃO),

por baixo das NOTAS fundamentais que constituem o baixo contínuo. Por essa razão
tem também o nome de «baixo cifrado».

BEMOL – Sinal gráfico (♭) que indica a diminuição da altura de uma nota em um
semitom. Dois sinais do mesmo tipo (♭♭) [inserir símbolo para duplo bemol]
indicam um duplo bemol.

BICORDE – Num instrumento de cordas, é o resultado de fazer vibrar


simultaneamente duas cordas, beliscando-as ou friccionando-as com o arco.

CÂNONE – Forma de CONTRAPONTO em que uma ou mais réplicas da mesma melodia,


vocal ou instrumental, se sucedem e sobrepõem a esta.

CANTATA – Composição vocal, com ou sem acompanhamento instrumental, que


surgiu no séc. XVII e tinha por base um texto narrativo, religioso ou profano.

CANZONA – Género de peça instrumental nos séculos XVI e XVII, que consistia na
adaptação de música vocal polifónica.

COLORATURA – Nome que se dá a passagens de virtuosismo ornamental, sobretudo


em melodias vocais, como árias de ópera.

COMPASSO – O termo pode designar ou cada uma das divisões métricas de uma peça
musical, assinaladas por linhas verticais e que estruturam a peça numa sucessão
regular de tempos fortes e fracos, ou o tipo de compassos de que maioritariamente
a peça se compõe. Assim, de uma obra maioritariamente formada por compassos
de três tempos ou batidas diz-se que está «em compasso ternário». Os compassos
podem ser «simples» ou «compostos», consoante cada tempo ou batida se divide
em duas ou três partes iguais.

CONCERTO – Composição para ORQUESTRA e um ou mais instrumentos solistas,


tipicamente em três andamentos. No período barroco, aos concertos para
orquestra e um pequeno grupo de instrumentos dá-se o nome de concerto grosso,
em que contrastam o grosso ou tutti da orquestra e o concertino ou pequeno grupo
de instrumentos solistas. Os concerti soli, em vez de um concertino, ou pequeno
grupo de solistas, tinham apenas um solista.

CONTINUUM DE ALTURA TONAL – Uma forma de exemplificar o continuum de altura


tonal é fazer deslizar um dedo ou outro objeto sobre uma corda em vibração
(glissando), produzindo assim um som contínuo que transita de TOM para tom sem
«costuras», ao contrário do que ouvimos num glissando ao piano, em que o
continuum está dividido numa sucessão de tons discretos. A relevância desta
distinção está em que ao passo que o continuum é dado na natureza, as divisões
particulares do continuum dependem parcialmente do modo como percecionamos
o som e como tendemos a organizá-lo em ESCALAS musicais.

CONTRALTO – REGISTO vocal mais grave nas vozes femininas.

CONTRAPONTO – Combinação de duas ou mais linhas melódicas (ver MELODIA)

distintas mas relacionadas entre si harmonicamente (ver POLIFONIA).

CORDAS – Designação geral para os instrumentos de arco, em particular os que


fazem parte da ORQUESTRA convencional: violinos, violas, violoncelos e
contrabaixos.

CORNETO – Instrumento de sopro antigo, feito em madeira, com forma cónica


recurva.

CRAVO – Instrumento de tecla em que as cordas são beliscadas por um plectro


quando se pressiona as teclas, em vez de marteladas, como no piano. Teve uma
presença fortíssima no período barroco mas a crescente popularidade do piano, a
partir de meados do séc. XVIII, levou a um declínio do cravo, que caiu em desuso
no séc. XIX, vindo mais tarde a ser recuperado por alguns compositores. Um
exemplo é o Concerto para Cravo, Flauta, Oboé, Clarinete, Violino e Violoncelo, de
Manuel de Falla (1876-1946).

CROMÁTICA – Chama-se «cromática» à ESCALA que resulta da divisão da OITAVA em


doze INTERVALOS de semitom. Acerca de uma nota, diz-se que esta é «cromática»
numa peça ou MELODIA escrita numa TONALIDADE a que a nota não pertence. Por
exemplo, na ESCALA de Dó maior, todas as notas produzidas pelas teclas pretas do
piano são «cromáticas».

DIATÓNICA – Chama-se «diatónica» a uma ESCALA de sete TONS (heptatónica) que seja
constituída por cinco INTERVALOS de TOM e dois de semitom, sendo que entre
quaisquer duas NOTAS contíguas da escala não pode haver um intervalo superior a
um tom e os dois semitons não podem ocorrer contiguamente. Estão portanto
excluídas, além da escala CROMÁTICA, as escalas pentatónicas, hexatónicas e
octatónicas, e nem todas as escalas heptatónicas são diatónicas. Exemplos de
escala diatónica são as escalas maiores e as menores naturais (o tipo mais comum
de escala na música popular de hoje em dia e na música clássica europeia entre os
sec. XVIII e XX) e os antigos MODOS eclesiásticos medievais. Diz-se também de uma
nota ou ACORDE (ou conjunto de notas ou conjunto de acordes) que são
«diatónicos» numa dada TONALIDADE, ou seja, que pertencem naturalmente a essa
tonalidade. Assim, um acorde é diatónico naquelas tonalidades que têm as notas
constituintes do acorde.

DOMINANTE – Depois da TÓNICA, é o mais importante GRAU numa ESCALA DIATÓNICA

(Ver TONALIDADE e SÉTIMA DA DOMINANTE (acorde de)).

DUTÂR – Instrumento de origem persa. Género de alaúde, de braço longo e duas


cordas.

ESCALA – Sequência de NOTAS, em ordem ascendente ou descendente, que


tipicamente repete a mesma estrutura (distribuição de tons e semitons) em cada
OITAVA. Uma escala DIATÓNICA de Dó maior, por exemplo, é uma escala que começa e
termina na nota Dó (a tónica dessa escala) e exemplifica a seguinte estrutura: entre
quaisquer duas notas da escala há um INTERVALO de um TOM, exceto entre a terceira
e a quarta e entre a sétima e a repetição da tónica à oitava, onde o intervalo é de
um semitom. A esta estrutura chama-se «modo maior». As escalas mais comuns em
todo o mundo são as escalas pentatónicas (cinco notas) e heptatónicas (sete
notas), embora haja uma enorme diversidade de escalas.

FORMA-SONATA – Apesar do nome, a forma-sonata não é a estrutura geral das peças


a que se chama «SONATAS» mas a estrutura de um ou mais ANDAMENTOS (tipicamente
o primeiro) de uma sonata, SINFONIA, QUARTETO, CONCERTO, etc. Grosso modo, a forma
sonata consta de três partes: exposição (com dois temas contrastantes),
desenvolvimento (ou transição) e recapitulação.

FOUND SOUNDS – O equivalente sonoro de found objects ou found art. Sons não
produzidos pelo compositor, que são «apropriados» através da gravação e usados
para fins artísticos.

FREQUÊNCIA – Número de vibrações de um corpo numa unidade de tempo. Isto


determina uma propriedade dos sons que é medida em Hertz (Hz) ou ciclos por
segundo. Por exemplo, a tecla do piano que corresponde ao Lá central aciona uma
corda que, num piano afinado segundo as convenções atuais, produz 440 vibrações
por segundo sendo esta a sua frequência fundamental ou primeiro harmónico (ver
HARMÓNICO). Os sons mais agudos têm frequências superiores, os mais graves
frequências inferiores. Certas relações matemáticas entre estas frequências que
determinam a série dos harmónicos (ver HARMÓNICO), ou seja, a série de frequências
secundárias ou sobretons contidas em qualquer som de altura definida, foram
inicialmente exploradas pelos pitagóricos na antiguidade grega. Por exemplo, os
sons que distam entre si um intervalo de OITAVA têm sempre como frequência
fundamental o dobro ou metade da frequência fundamental do outro som
(dependendo de qual o mais agudo ou o mais grave: quanto mais agudos os sons,
maior o número de ciclos por segundo).

FUGA – Forma de composição contrapontística (ver CONTRAPONTO), tipicamente com


três ou quatro «vozes» ou linhas melódicas (ver MELODIA), em que um tema ou
sujeito inicial é «imitado» sucessivamente pelas diversas vozes. A fuga é a forma
mais desenvolvida de contraponto. O principal compositor a cultivar esta forma foi
J. S. Bach, sendo a sua Arte da Fuga (a última obra que compôs) considerada o
ponto culminante no desenvolvimento da mesma.
FUNDAMENTAL – Nota principal de um ACORDE, que lhe dá o nome. Assim, p. ex., um
acorde de Dó maior é formado pelas notas Dó, Mi e Sol, sendo que Dó é a
fundamental.

GAGAKU – Música da corte imperial japonesa, de origem medieval.

GRAU – Numa ESCALA DIATÓNICA, há sete graus, correspondendo a cada uma das sete
notas (ver NOTA) que formam a escala: TÓNICA (I), sobretónica (II), mediante (III),
subdominante (IV), DOMINANTE (V), sobredominante (VI), sensível (VII). (Quando o
INTERVALO entre VII e I é de um tom inteiro em vez de semitom, chama-se
"subtónica" ao grau VII). Estes termos designam as notas quanto à sua função
melódica ou harmónica (ver MELODIA e HARMONIA), por referência a uma dada
escala. Por exemplo, na escala de Dó maior, a nota Dó é a tónica e Sol a dominante;
na escala de Sol maior, a nota Sol é a tónica, Ré a dominante e Dó a subdominante.
Qualquer das doze notas da escala CROMÁTICA está na relação de tónica, dominante,
subdominante, etc., com outra nota, numa dada escala.

HARMONIA – A harmonia é o que resulta da combinação de sons simultâneos, de


ALTURA TONAL fixa. Apesar de usarmos o termo «harmonioso» para as combinações
consonantes, tanto a consonância como a dissonância são fenómenos abrangidos
pela harmonia. A harmonia de uma peça pode conter muitos ACORDES dissonantes,
por exemplo. Na verdade, trata-se de uma ambiguidade na palavra, entre ser usada
como predicado estético (caso em que refere fenómenos como a consonância), ou
num sentido mais restrito, para referir um fenómeno especificamente musical
(neste caso, um dos aspetos da TEXTURA musical.

HARMÓNICOS – Um TOM musical é uma entidade complexa, constituída por uma série
de tons «secundários» a que podemos chamar «sobretons», que correspondem a
múltiplos da FREQUÊNCIA ou vibração fundamental que determina a qualidade do
tom. A frequência fundamental é o primeiro harmónico. Suponhamos uma corda
ou coluna de ar vibrando à frequência fundamental de 220 Hz (que corresponde à
nota Lá abaixo do Dó central no piano). A corda ou coluna de ar não vibra apenas
nessa frequência, mas simultaneamente numa série de frequências que
correspondem a divisões da corda ou coluna de ar em duas (440 Hz), três (660 Hz),
quatro (880 Hz)... n partes, embora só consigamos percecionar alguns destes
harmónicos e tanto melhor nos sons mais graves. A distribuição relativa dos
harmónicos num determinado espetro sonoro é o principal responsável pelo seu
TIMBRE, ou «cor», a principal característica que diferencia os instrumentos.

HARPA EÓLICA – Instrumento feito de modo a produzir som por ação do vento sobre
as cordas. Bastante popular no séc. XIX.

INSTRUMENTAÇÃO – Seleção dos instrumentos com que se deverá produzir execuções


de uma obra e adaptação do texto musical às características desses instrumentos.

INTERVALO – Distância entre quaisquer duas NOTAS, expressa em TONS e semitons.


Quando as duas notas soam ao mesmo tempo diz-se que o intervalo é
«harmónico»; quando soam sucessivamente diz-se que o intervalo é «melódico».
Os principais intervalos são: segunda menor (um semitom), segunda maior (um
tom), terceira menor (um tom e um semitom), terceira maior (dois tons), quarta
perfeita (dois tons e um semitom), quarta aumentada (dois tons e dois semitons),
quinta diminuta (dois tons e dois semitons), quinta perfeita (três tons e um
semitom), sexta menor (quatro tons), sexta maior (quatro tons e um semitom),
sétima menor (cinco tons), sétima maior (cinco tons e um semitom) e oitava
perfeita (cinco tons e dois semitons).

INVERSÃO – O termo «inversão» pode referir-se tanto à inversão harmónica (notas


simultâneas) como à inversão melódica (notas sucessivas) de um INTERVALO ou
ACORDE. Para inverter um intervalo, transpomos a sua NOTA mais grave uma OITAVA
acima. Assim, da inversão do intervalo de segunda menor (ver INTERVALO) entre Mi
e Fá resulta um intervalo de sétima maior, entre Fá e Mi (uma oitava acima). Para
inverter um acorde, seguimos o mesmo procedimento, produzindo uma inversão
de cada vez que transpomos a nota mais grave. Assim, o acorde de Dó maior
formado pelas notas Dó-Mi-Sol passa a Mi-Sol-Dó, cuja inversão por sua vez dá Sol-
Dó-Mi. Um acorde constituído por n notas tem sempre n – 1 inversões. Quando o
acorde começa pela fundamental diz-se que está no estado fundamental.

KALIMBA – Instrumento musical africano, que consiste numa série de lamelas de


metal ou bambu, fixas numa caixa-de-ressonância, que vibram por ação dos
polegares.
MADEIRAS – Família de instrumentos de sopro constituída pela flauta, flautim,
clarinete, oboé, corne inglês e fagote.

MELODIA – Apesar de identificarmos intuitivamente uma melodia como tal quando


a ouvimos, aquilo que faz ao certo uma sequência de sons de ALTURA definida ser
uma melodia é objeto de discussão. Normalmente chamamos «melodia» a uma
sequência de notas que sugere «direção», movimento e desfecho. Usamos o
adjetivo «melodioso» com o sentido de «agradável ao ouvido» (talvez porque nos
seja mais fácil identificar sequências agradáveis como melodias), mas uma melodia
não tem de ser «melodiosa» neste sentido. A melodia é inseparável do RITMO no
sentido em que não pode haver melodia sem ritmo, embora possa haver ritmo sem
melodia.

METAIS – Família de instrumentos de sopro, que inclui o trompete, o trombone, a


trompa e a tuba.

MIRLITÃO – Instrumento de sopro que consiste numa forma cónica simples e uma
membrana vibratória, cujo fim é modificar a voz, dando-lhe um TIMBRE anasalado,
semelhante a um zumbido.

MISSA – A missa musical é uma versão cantada, com ou sem acompanhamento


instrumental, do serviço litúrgico com o mesmo nome. A estrutura mínima de uma
missa inclui os textos que constituem o chamado «Ordinário da Missa» (os textos
invariáveis): Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus (que por vezes inclui o Benedictus) e o
Agnus Dei. Os textos que constituem o chamado «Próprio da Missa» são os que
variam de acordo com o calendário litúrgico.

MODO – No sentido mais abrangente, o termo «modo» refere uma certa ordenação
dos INTERVALOS entre TONS compreendidos numa OITAVA (ver ESCALA, TONALIDADE e
DIATÓNICA). Na maior parte da música «ocidental» usa-se dois modos principais:
maior e menor. O primeiro exemplifica-se tocando no piano todas as teclas brancas
(contíguas) entre qualquer nota Dó e a oitava acima ou abaixo. O segundo
exemplifica-se tocando no piano todas as teclas brancas (contíguas) entre qualquer
nota Lá e a oitava acima ou abaixo (no caso das escalas menores, há ainda duas
variações do padrão «natural» a ter em conta: a escala menor harmónica e a escala
menor melódica). O que muda de um modo para outro é a posição, na escala, das
notas entre as quais há um intervalo de semitom em vez de tom inteiro (usando só
as teclas brancas do piano, os semitons estão em Mi-Fá e Si-Dó – as que não têm
teclas pretas intercalares). Desde que se mantenha a posição relativa dos
intervalos, pode-se iniciar uma escala com o mesmo modo em qualquer nota,
terminando na oitava acima. A diversidade de modos possíveis é imensa, da qual
os modos maior e menor, bem como os modos eclesiásticos da tonalidade
«ocidental» são apenas uma ínfima parte.

MUSICA ABSOLUTA – Expressão que refere a música puramente instrumental, não


programática ou ilustrativa.

MUSIQUE CONCRÈTE – Conceito introduzido por Pierre Schaeffer em finais da década


de 1940. Refere o trabalho experimental com sons gravados, que normalmente é
sujeito a uma diversidade de modificações, sendo o resultado final uma «colagem»
para reprodução e não execução.

MUZAK – Nome de uma empresa fundada na década de 1920, dedicada à produção


de «música de fundo» ou «música ambiente» para elevadores, centros comerciais,
aeroportos, escritórios, restaurantes, etc.

NOCTURNO – Género de composição, tipicamente para piano, introduzido pelo


compositor irlandês John Field (1782-1837) e cultivado por Fréderic Chopin
(1810-1849).

NOTA – Há uma ambiguidade tipo-espécime no termo «nota». Este pode referir ou


um som particular de ALTURA definida (p. ex. este Lá, a soar agora, no piano) ou um
tipo, de que todos os sons particulares que designamos pelo mesmo nome são
espécimes (p. ex. todos os sons que são Lá). Pode também referir a representação
gráfica desse som na partitura. Os nomes latinos das notas musicais foram fixados
no séc. XI.

OITAVA – Intervalo entre quaisquer duas NOTAS em que a nota mais aguda tem o
dobro da FREQUÊNCIA da nota mais grave.

ORQUESTRA – O termo pode referir qualquer formação instrumental de dimensões


consideráveis (por exemplo, no GAMELÃO indonésio ou no GAGAKU japonês) ou um
tipo de formação instrumental que se uniformizou na música chamada «ocidental»,
a partir do séc. XVIII, constituída por naipes de cordas, sopros e percussão, dirigida
por um maestro.

ORQUESTRAÇÃO – Adaptação de um texto musical para ORQUESTRA.

PAVANA – Tipo de dança cerimonial nas cortes europeias dos séc. XVI e XVII. A
pavana foi amplamente usada como modelo para ANDAMENTOS de suites
instrumentais no período barroco.

PEDAL – Nome dado a uma nota prolongada no baixo, que se mantém através de
mudanças na HARMONIA. É também designada como «bordão» ou «ponto de órgão».
Trata-se de uma das mais antigas formas de POLIFONIA. Chama-se «pedal invertida»
a uma nota pedal numa voz superior, em vez de no baixo.

PIZZICATO – Técnica usada nos instrumentos de corda com arco, que consiste em
beliscar as cordas em vez de as friccionar com o arco.

POLIFONIA – O termo deriva do grego para «muitas vozes» e opõe-se a «monofonia»


(uma só voz). O conceito de polifonia está intimamente associado ao de
CONTRAPONTO, embora abranja também a homofonia, ou seja, uma TEXTURA em que
as diversas vozes seguem o mesmo desenho rítmico ou uma sucessão de acordes
que sustentam uma só melodia, e a heterofonia, que consiste na combinação
simultânea de variações da mesma melodia.

QUARTETO – Formação instrumental ou vocal de quatro elementos. O termo é por


vezes usado como forma abreviada de «quarteto de cordas», tipicamente
constituído por dois violinos, uma viola e um violoncelo. Além da formação
instrumental, o termo pode designar um dos géneros de composição tradicional
desde o período clássico, ou uma obra particular dentro desse género. Assim, há a
tradição do quarteto de cordas e há os quartetos de cordas de Haydn, por exemplo.
Os quartetos de cordas seguem a divisão geral da sonata, tipicamente em quatro
andamentos, com o primeiro em FORMA-SONATA. A um trio de cordas suplementado
por outro instrumento é habitual chamar «quarteto com [nome do instrumento
suplementar]».

QUINTETO – Formação instrumental ou vocal com cinco elementos. O quinteto de


cordas é tipicamente constituído por dois violinos, duas violas e um violoncelo. A
um quarteto de cordas suplementado por outro instrumento é habitual chamar
«quinteto com [nome do instrumento suplementar]».

REGISTO – O registo distingue-se do ÂMBITO do seguinte modo: dentro do mesmo


registo vocal, p. ex., o tenor, há diferenças de âmbito, já que nem todos os cantores
que pertencem ao mesmo registo têm exatamente a mesma amplitude vocal. Nas
vozes humanas, os principais registos (do mais agudo para o mais grave) são:
SOPRANO, CONTRALTO, TENOR, BARÍTONO e BAIXO. Os termos para registos vocais aplicam-
se também a instrumentos, p. ex., saxofone soprano, saxofone tenor, etc. Em alguns
instrumentos de tecla, como o órgão e o cravo, o termo “registo” refere um
mecanismo que permite modificar o timbre (ver REGISTO DE ALAÚDE).

REGISTO DE ALAÚDE – mecanismo usado nos CRAVOS com dois teclados, que permite
obter um TIMBRE mais anasalado, evocativo do alaúde.

RITMO – Percecionar ritmo é ter um sentimento de movimento regular numa


sequência sonora. Depende da duração e acentuação dos sons que formam a
sequência mas não se confunde com estas. Ter experiência do ritmo envolve
formar expectativas de audição com base na divisão espontânea da sequência em
unidades de tempos fortes e fracos, formando um padrão que se repete. Depende
tanto da variação como da uniformidade.

RITMO CRUZADO – Combinação simultânea de padrões rítmicos contrastantes,


também referida como “polirritmia”.

SACABUXA – Género de trombone que remonta ao séc. XV, com uma sonoridade mais
suave que a sua versão moderna.

SERIALISMO – Técnica composicional em que as convenções da TONALIDADE dão lugar


a uma organização diferente do material sonoro (uma forma de ATONALismo,

portanto), baseada na repetição de uma série, seja esta de tons ou de figuras


rítmicas ou de outro parâmetro musical. Neste sentido, por exemplo, já no séc. XIV
alguns compositores faziam música serial, ao usarem padrões isorrítmicos, ou seja,
repetições do mesmo padrão rítmico, com alteração da altura das notas. Embora
comummente se use o termo «serialismo» como equivalente de «dodecafonismo»
(música baseada nos doze tons da escala cromática), é mais correto entender o
dodecafonismo como um exemplo, entre outros, de música serial. O serialismo
integral, por exemplo, aplica o mesmo princípio usado pelo dodecafonismo no
tratamento da organização da altura tonal a todos os parâmetros musicais
relevantes – ritmo, dinâmica, timbre.

SERPENTÃO – Instrumento de sopro antigo, feito em madeira e com som grave. A


designação vem da sua forma sinuosa.

SÉTIMA DA DOMINANTE (acorde de) – Um acorde de sétima (acorde constituído por


uma TRÍADE mais um intervalo de sétima a partir da FUNDAMENTAL) formado sobre a
DOMINANTE (o quinto grau de uma escala diatónica), de tal modo que o acorde
contém, a partir da fundamental, três intervalos: terceira maior, quinta perfeita e
sétima menor. Por exemplo, na tonalidade de Dó maior, o acorde de sétima da
dominante é formado pelas notas Sol-Si-Ré-Fá. É um acorde importante uma vez
que sugere fortemente a resolução para o acorde da tónica, em virtude de
características peculiares: contém um TRÍTONO, o mais dissonante dos intervalos
tonais, o que gera a expectativa de uma consonância: a segunda nota do acorde (no
estado fundamental) é também o sétimo grau da escala, a nota chamada «sensível»,
que «precipita» a ocorrência da tónica. Este processo de resolução está muito
claramente presente na chamada «cadência perfeita»: um acorde de sétima da
dominante no estado fundamental seguido do acorde da tónica no estado
fundamental. Assim terminam praticamente todas as obras do período barroco,
clássico e romântico.

SHAKUHACHI – Tipo de flauta japonesa, feita de bambu.

SINFONIA – Composição orquestral com origem no séc. XVIII, tipicamente em quatro


andamentos, com um dos andamentos (tradicionalmente o primeiro) em FORMA-

SONATA.

SONATA – Género de composição instrumental, em três ou quatro ANDAMENTOS, para


um ou mais instrumentos. Tipicamente, pelo menos o primeiro andamento de uma
sonata é composto em FORMA-SONATA.

SOPRANO – REGISTO vocal mais agudo.


SUSTENIDO – Sinal gráfico (♯) que indica o aumento da altura de uma nota em um
semitom. O sinal (♯♯) [inserir símbolo para duplo sustenido] indica um duplo
sustenido.

TAROLA – Instrumento de percussão que faz parte da bateria.

TENOR – REGISTO vocal mais agudo nas vozes masculinas.

TESSITURA – A parte de um dado ÂMBITO vocal que é mais comummente usada para
essa voz.

TEXTURA – A textura de uma peça é a combinação dos seus elementos verticais


(HARMONIA) e horizontais (RITMO, MELODIA), além de elementos como o TIMBRE ea
DINÂMICA. O termo refere a totalidade dos aspetos sonoros de uma peça. Das peças
em que o elemento vertical é mais preponderante diz-se que têm textura acórdica
ou homofónica. Das peças em que o elemento horizontal é mais preponderante diz-
se que têm textura contrapontística ou polifónica. Ver CONTRAPONTO e POLIFONIA.

TIMBRE – Propriedade em virtude da qual sons de duração, altura e intensidade


idênticas se distinguem entre si. A forma mais comum de designar as propriedades
tímbricas é através de metáforas visuais, como a ideia de cor ou matiz sonoro. O
timbre depende fundamentalmente do peso relativo de cada componente
harmónica do som em questão (ver HARMÓNICOS). Fazendo soar a mesma nota em
dois instrumentos diferentes, obtém-se os mesmos harmónicos, mas o peso
relativo desses harmónicos difere, donde resultam as diferenças de timbre ou
matiz sonoro.

TOCATA – Termo geral com que se designa composições para instrumento de tecla,
que se distinguiam da SONATA pelo caráter formalmente livre.

TOM – O termo «tom» tem mais de um sentido, podendo referir qualquer som de
ALTURA definida, um INTERVALO entre dois sons de altura definida, ou, na música
antiga, um MODO em que a música está escrita.

TONALIDADE – Num dos seus sentidos, o termo «tonalidade» refere qualquer género
de obra em que a composição musical se baseia em ESCALAS nas quais as NOTAS e
ACORDES desempenham papéis de diferente importância relativa, podendo as
mesmas notas e acordes desempenhar funções diferentes dependendo do contexto
(Uma forma simples de ver isto é iniciar uma MELODIA em Dó maior com a nota Si e
a terminar na mesma nota: a segunda deixa-nos na expectativa de algo mais mas a
primeira não; contudo, são a mesma nota). Em termos figurativos, na base do
tonalismo estão as ideias de «atração gravitacional» exercidas por umas notas
sobre outras, de «tensão e resolução», o contraste entre cromatismo (ver
CROMÁTICA) e diatonismo (ver DIATÓNICA). Por exemplo, as melodias tonais tendem a
começar na nota designada por «tónica» (primeira nota da escala em que a
melodia é composta) e a terminar também nessa nota. Noutro sentido, o termo
refere a escala particular em que a obra está escrita (ou aquela que é
predominante na obra). Se uma melodia está escrita, por exemplo, na «tonalidade
de Dó maior», isso significa que foi construída com base numa escala que começa e
termina na nota Dó e que essa escala está em «modo maior», ou seja, que exibe um
certo padrão de tons e semitons entre os graus da escala. Porém, numa peça escrita
numa dada tonalidade pode haver mudanças temporárias de tonalidade (ao que se
chama «modulação»), sendo usual regressar à tonalidade inicial antes da conclusão
da peça, de modo a não comprometer a predominância de uma dada tonalidade. A
música ATONAL é a que não exemplifica semelhante organização.

TÓNICA – Numa ESCALA DIATÓNICA, a tónica é o GRAU que dá o nome à escala (por
exemplo, a nota Dó na escala de Dó maior). Juntamente com a DOMINANTE, é a nota
harmonicamente mais importante neste tipo de escalas.

TRECHO – Divisão de uma linha melódica (ver MELODIA). A extensão de um trecho


varia entre algumas notas e vários compassos.

TRÍADE – Nome dado a um ACORDE formado por três NOTAS separadas por dois
INTERVALOS de terceira. Dependendo dos intervalos de que são formadas, as tríades
podem ser menores (terceira menor, terceira maior), maiores (terceira maior,
terceira menor), aumentadas (terceira maior, terceira maior) ou diminutas
(terceira menor, terceira menor).

TRIO – Formação instrumental ou vocal com três elementos. Na música do período


barroco, um dos elementos do trio, designado BAIXO CONTÍNUO, era na verdade
constituído por dois instrumentos.
TRÍTONO – INTERVALO de quarta aumentada (ou quinta diminuta), constituído por
dois tons e dois semitons. Desempenha um papel importante na HARMONIA (por
exemplo, é a presença do trítono que dá ao ACORDE de sétima da dominante o seu
caráter harmonicamente instável, gerando a expectativa de resolução na tónica).
Durante a idade média, devido ao seu caráter dissonante, era designado como
diabolus in musica.

UNÍSSONO – Duas notas soam em uníssono quando têm a mesma ALTURA. Dois
instrumentos ou vozes executam um trecho em uníssono quando tocam a mesma
sequência de notas, à mesma altura. Dado que os homens e as mulheres cantam
naturalmente à distância de uma oitava, diz-se por vezes que cantam «em
uníssono» quando cantam a mesma melodia à distância de uma oitava.

Você também pode gostar