Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FabriCO
KOL Soluções em Gestão do
Conhecimento Ltda EPP
Análise de Qualidade, Edição de Texto,
Design Instrucional, Edição de Arte,
Diagramação, Imagem de Capa,
Design Gráfico e Revisão
*Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência.
Imagens da capa: © Vitaliy Snitovets // Shutterstock; © everything possible // Shutterstock.
Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte
desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos
direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Copyright Universidade Positivo 2016
Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 – Campo Comprido
Curitiba-PR – CEP 81280-330
Ícones
Afirmação Curiosidade
Assista
Dica
Biografia
Esclarecimento
Conceito
Contexto Exemplo
Sumário
Apresentação...................................................................................................................13
Os autores.........................................................................................................................14
Capítulo 1
Mecanismos de homeostasia celular...............................................................................17
1.1 pH e tampões.............................................................................................................18
1.1.1 A importância do H+................................................................................................................................................19
1.1.2 Escala de pH.............................................................................................................................................................19
1.1.3 pKa........................................................................................................................................................................... 20
1.1.4 Soluções tampões................................................................................................................................................... 21
1.2 Equilíbrio ácido-básico...............................................................................................23
1.2.1 Sistemas tampão do sangue humano.....................................................................................................................24
1.2.2 Controle pulmonar do equilíbrio ácido-base......................................................................................................... 25
1.2.3 Controle renal do equilíbrio ácido-base................................................................................................................. 26
1.3 Distúrbios do equilíbrio ácido-base...........................................................................29
1.3.1 Acidose metabólica.................................................................................................................................................31
1.3.2 Acidose respiratória.................................................................................................................................................31
1.3.3 Alcalose metabólica............................................................................................................................................... 32
1.3.4 Alcalose respiratória............................................................................................................................................... 33
1.4 Bioenergética..............................................................................................................33
1.4.1 Introdução ao metabolismo................................................................................................................................... 34
1.4.2 Princípio geral da bioenergética............................................................................................................................. 34
1.4.3 Energia livre de Gibbs (∆G)..................................................................................................................................... 35
1.4.4 Moléculas transportadoras de energia................................................................................................................... 37
Referências.......................................................................................................................40
Capítulo 2
Proteínas e enzimas..........................................................................................................41
2.1 Aminoácidos, peptídeos e proteínas ..........................................................................41
2.1.1 Classificação de aminoácidos.................................................................................................................................. 44
2.1.2 Comportamento dos aminoácidos em soluções aquosas...................................................................................... 46
2.1.3 Ligação peptídica.................................................................................................................................................... 48
2.1.4 Classificação de proteínas....................................................................................................................................... 49
2.2 Estrutura de proteínas................................................................................................51
2.2.1 Estrutura primária...................................................................................................................................................51
2.2.2 Estrutura secundária.............................................................................................................................................. 52
2.2.3 Estrutura terciária e quaternária ............................................................................................................................ 53
2.2.4 Desnaturação.......................................................................................................................................................... 54
2.3 Enzimas......................................................................................................................54
2.3.1 Funções e características das enzimas................................................................................................................... 55
2.3.2 Mecanismos da catálise enzimática....................................................................................................................... 56
2.3.3 Enzimas regulatórias.............................................................................................................................................. 58
2.3.4 Uso das enzimas na clínica..................................................................................................................................... 60
2.4 Cinética enzimática....................................................................................................61
2.4.1 pH e temperatura....................................................................................................................................................61
2.4.2 Concentração de substrato..................................................................................................................................... 62
2.4.3 Inibição Enzimática................................................................................................................................................ 64
Referências.......................................................................................................................66
Capítulo 3
Carboidratos e glicólise.....................................................................................................67
3.1 Monossacarídeos........................................................................................................67
3.1.1 Estrutura química.................................................................................................................................................... 68
3.1.2 Funções dos monossacarídeos............................................................................................................................... 71
3.1.3 Ciclização................................................................................................................................................................ 71
3.2 Oligossacarídeos e polissacarídeos.............................................................................75
3.2.1 Formação da ligação glicosídica............................................................................................................................. 75
3.2.2 Oligossacarídeos de interesse humano...................................................................................................................76
3.2.3 Classificação dos polissacarídeos........................................................................................................................... 77
3.2.4 Polissacarídeos de interesse para a área de saúde................................................................................................. 78
3.3 Via glicolítica..............................................................................................................79
3.3.1 Importância da via glicolítica.................................................................................................................................. 80
3.3.2 A via glicolítica....................................................................................................................................................... 80
3.3.3 Regulação da via glicolítica.................................................................................................................................... 85
3.3.4 Entrada de outros monossacarídeos na via glicolítica........................................................................................... 87
3.4 Fermentação...............................................................................................................89
3.4.1 Destinos do piruvato............................................................................................................................................... 89
3.4.2 Fermentação alcoólica............................................................................................................................................ 89
3.4.3 Fermentação acética.............................................................................................................................................. 90
3.4.4 Fermentação lática................................................................................................................................................. 90
Referências.......................................................................................................................92
Capítulo 4
Respiração celular.............................................................................................................93
4.1 Primeiro estágio da respiração celular........................................................................94
4.1.1 Formação do acetil-CoA.......................................................................................................................................... 94
4.1.2 Regulação da piruvato desidrogenase.................................................................................................................... 96
4.2 Segundo estágio da respiração celular.......................................................................97
4.2.1 O ciclo do ácido cítrico............................................................................................................................................ 97
4.2.2 Regulação do ciclo do ácido cítrico.......................................................................................................................102
4.2.3 Reações anapleróticas.......................................................................................................................................... 104
4.2.4 Papel anabólico do ciclo....................................................................................................................................... 105
4.3 Fosforilação oxidativa...............................................................................................106
4.3.1 Cadeia respiratória e ATP sintase.......................................................................................................................... 107
4.3.2 Transferência de elétrons do Complexo I ao Complexo IV....................................................................................111
4.3.3 Transferência de elétrons do Complexo II ao Complexo IV...................................................................................112
4.3.4 Teoria quimiosmótica............................................................................................................................................113
4.4 Rendimento energético............................................................................................115
4.4.1 Número de ATPs....................................................................................................................................................115
4.4.2 Lançadeira malato-aspartato................................................................................................................................116
4.4.3 Lançadeira glicerol-fosfato....................................................................................................................................117
Referências..................................................................................................................... 119
Capítulo 5
Metabolismo de carboidratos........................................................................................121
5.1 Gliconeogênese........................................................................................................121
5.1.1 Formação de glicose a partir de outras fontes.......................................................................................................121
5.1.2 A via gliconeogênica............................................................................................................................................. 122
5.1.3 Regulação da gliconeogênese...............................................................................................................................128
5.1.4 Ciclo de Cori.......................................................................................................................................................... 129
5.2 Glicogênese..............................................................................................................131
5.2.1 Formação do nucleotídeo-açúcar.........................................................................................................................132
5.2.2 Formação da ligação α(1→4)..............................................................................................................................133
5.2.3 Formação da ligação α(1→6)..............................................................................................................................135
5.3 Glicogenólise............................................................................................................136
5.3.1 Atividade da glicogênio fosforilase....................................................................................................................... 136
5.3.2 Atividade da transglicosilase.................................................................................................................................137
5.3.3 Atividade da α(1→6) glicosidase........................................................................................................................ 138
5.3.4 Ação da fosfoglicomutase.....................................................................................................................................139
5.4 Regulação do metabolismo do glicogênio...............................................................139
5.4.1 Regulação da glicogênio sintase............................................................................................................................139
5.4.2 Regulação da glicogênio fosforilase..................................................................................................................... 140
5.4.3 Regulação recíproca da síntese e degradação do glicogênio................................................................................141
5.4.4 Doenças relacionadas ao metabolismo do glicogênio..........................................................................................141
Referências.....................................................................................................................144
Capítulo 6
Lipídeos e lipoproteínas.................................................................................................145
6.1 Lipídeos de armazenamento....................................................................................145
6.1.1 Ácidos graxos........................................................................................................................................................ 146
6.1.2 Classificação dos ácidos graxos.............................................................................................................................147
6.1.3 Triacilgliceróis.........................................................................................................................................................149
6.2 Lipídeos estruturais e funcionais..............................................................................150
6.2.1 Fosfolipídeos......................................................................................................................................................... 150
6.2.2 Glicolipídeos..........................................................................................................................................................152
6.2.3 Esteroides............................................................................................................................................................. 153
6.2.4 Colesterol.............................................................................................................................................................. 154
6.3 Lipoproteínas............................................................................................................156
6.3.1 Estrutura de lipoproteínas.................................................................................................................................... 156
6.3.2 Apoproteínas........................................................................................................................................................ 158
6.4 Metabolismo de lipoproteínas..................................................................................158
6.4.1 Digestão de lipídeos e formação de quilomícron..................................................................................................159
6.4.2 Formação do VLDL................................................................................................................................................161
6.4.3 LDL e HDL............................................................................................................................................................. 162
6.4.4 Aterogênese.......................................................................................................................................................... 165
Referências.....................................................................................................................168
Capítulo 7
Metabolismo de lipídeos e proteínas.............................................................................169
7.1 Lipólise......................................................................................................................169
7.1.1 Mobilização dos triacilgliceróis do tecido adiposo.................................................................................................170
7.1.2 β-oxidação dos ácidos graxos................................................................................................................................172
7.1.3 Regulação da lipólise..............................................................................................................................................176
7.1.4 Cetogênese.............................................................................................................................................................176
7.2 Lipogênese...............................................................................................................179
7.2.1 Anabolismo dos ácidos graxos.............................................................................................................................. 180
7.2.2 Síntese dos triacilgliceróis..................................................................................................................................... 186
7.2.3 Regulação da lipogênese...................................................................................................................................... 188
7.2.4 Síntese do colesterol............................................................................................................................................. 189
7.3 Metabolismo de aminoácidos..................................................................................191
7.3.1 Digestão e absorção de proteínas..........................................................................................................................191
7.3.2 Oxidação de aminoácidos......................................................................................................................................191
7.3.3 Ciclo de glicose-alanina.........................................................................................................................................193
7.3.4 Síntese de aminoácidos........................................................................................................................................ 195
7.4 Destino do grupo amino...........................................................................................197
7.4.1 Ciclo da ureia......................................................................................................................................................... 198
7.4.2 Regulação do ciclo da ureia.................................................................................................................................. 200
Referências.....................................................................................................................201
Capítulo 8
Mecanismo de ação hormonal e inter-relação metabólica...........................................203
8.1 Mecanismo de ação hormonal.................................................................................203
8.1.1 Mecanismo de ação dos hormônios esteroides e tireoideanos............................................................................ 204
8.1.2 Mecanismo de ação de hormônios peptídicos que utilizam segundos mensageiros.......................................... 206
8.1.3 Mecanismo de ação do receptor tirosina quinase.................................................................................................210
8.1.4 Controle por retroalimentação...............................................................................................................................212
8.2 Bioquímica do estado alimentado...........................................................................213
8.2.1 Fígado....................................................................................................................................................................214
8.2.2 Músculo.................................................................................................................................................................214
8.2.3 Tecido adiposo......................................................................................................................................................215
8.2.4 Obesidade..............................................................................................................................................................216
8.3 Bioquímica do jejum................................................................................................218
8.3.1 Jejum inicial...........................................................................................................................................................219
8.3.2 Jejum prolongado................................................................................................................................................ 220
8.4 Dieta, câncer e diabetes mellitus...............................................................................223
8.4.1 Dieta...................................................................................................................................................................... 223
8.4.2 Bioquímica do câncer........................................................................................................................................... 224
8.4.3 Diabetes mellitus ................................................................................................................................................... 225
Referências.....................................................................................................................226
Apresentação
Currículo Lattes:
<lattes.cnpq.br/4059301448993607>
Currículo Lattes:
<lattes.cnpq.br/7122715065713153>
O Professor João Armando Brancher é Doutor em Ciências da Saúde pela
PUC/PR, Mestre em Bioquímica pela UFPR e Graduado em Odontologia pela PUC/PR.
Atua como professor universitário desde 2001.
Currículo Lattes:
<lattes.cnpq.br/5460397708527612>
1.1 pH e tampões
Para iniciar nossos estudos, precisamos primeiramente compreender o que é o
pH de uma solução e como ele influencia nas reações químicas e na estrutura celular e
do organismo.
Desta forma, pH é o termo utilizado para definir potencial de hidrogênio, ou seja,
a concentração de H+ livre na solução e é obtido pela conversão matemática mostrada
a seguir:
1
pH = log – log [H+]
[H+]
Para manter o pH dos compartimentos do organismo, é necessário que o meio
aquoso possua um ou mais tampões. Os tampões são soluções que possuem um ácido
fraco e sua base conjugada em proporções definidas e, por isso, conseguem manter o
pH com poucas variações.
Para entender melhor esse conceito, podemos iniciar analisando a constante de
equilíbrio da água:
[H+][OH –]
Keq =
[H2O]
Conforme a fórmula, podemos perceber que a constante de equilíbrio da água
(Keq) é calculada pela multiplicação das concentrações de H+ e de OH – . O resultado,
então, é dividido pela concentração do total de moléculas de H2O, ou seja, de água.
Considerando-se a água pura, sua concentração corresponde a 55,5 molar (M),
o que equivale a (1000 g/L) / (18,015 g/mol). Tendo em vista a pequena taxa de ioni-
zação da água, o valor de 55,5 M pode ser substituído na expressão da constante de
equilíbrio:
[H+][OH –]
Keq =
[55,5]
1.1.1 A importância do H+
A concentração de H+ pode interferir diretamente na ionização das moléculas, in-
cluindo as proteínas. Essa diferença na ionização pode afetar a função das molécu-
las na célula, no sangue e em diversas outras partes do corpo. Por isso, o controle da
concentração de H+, ou seja, do pH, é fundamental para assegurar a estabilidade das
moléculas, possibilitar que as reações químicas aconteçam e manter a atividade enzi-
mática, além de algumas atividades biológicas, como a atividade cardíaca, a atividade
pulmonar, a do sistema nervoso e a de todos os tecidos. Portanto, é necessária a exis-
tência de tampões, ou seja, sistemas de ácidos e bases que possam liberar e segurar
prótons, evitando variações bruscas de pH (NELSON; COX, 2014).
Devemos lembrar que, como descrito por Brönsted-Lowry, ácido é todo com-
posto que libera prótons, e base é qualquer substância que se liga ao próton. Um doa-
dor de prótons e seu correspondente aceptor formam um par ácido-base conjugado
(NELSON; COX, 2014). Analise o exemplo a seguir:
HA H+ + A –
É importante lembrar de que HA é a molécula do ácido; H+ é o próton liberado; e
A – é a base conjugada liberada depois da dissociação do ácido. Porém, é muito impor-
tante atentar para o fato de que “a acidez é exercida pelo íon H+, e não pela molécula
do ácido” (HENEINE, 2010, p. 140).
Em relação à classificação dos ácidos, eles são categorizados em fortes e fracos.
Os ácidos fortes são aqueles que liberam totalmente o H+ que está em sua estrutura.
Portanto, a presença de um ácido forte em uma solução altera muito o pH. Já ácidos
fracos liberam parcialmente o H+ e, por isso, o efeito do ácido se manifesta fracamente
na solução aquosa. Os ácidos fracos também funcionam como tampões. Essa questão
será explorada melhor a seguir.
1.1.2 Escala de pH
Considerando o Kw da água, entre as concentrações de 1 M de H+ e 1 M de OH – , o
pH constitui uma forma de determinar a concentração de H+ e também de OH – livres
na solução aquosa por meio de uma escala, considerando a relação:
pH + pOH = 14
Dessa forma, seguindo cálculos semelhantes, pode-se calcular a concentração de
H nas mais variadas soluções e atribuir um valor que varia de 0 até 14, como mostra a
+
tabela a seguir.
Bioquímica 20
Tabela de Escala de pH
[H+] (M) pH [OH–] (M) pOH
10 (1)
0
0 10 –14
14
10–1 1 10–13 13
10–2 2 10–12 12
10–3 3 10–11 11
10–4 4 10–10 10
10–5 5 10–9 9
10–6 6 10–8 8
10–7 7 10–7 7
10–8 8 10–6 6
10–9 9 10–5 5
10–10 10 10–4 4
10–11 11 10–3 3
10–12 12 10–2 2
10–13 13 10–1 1
10–14 14 100 (1) 0
Fonte: NELSON; COX, 2014, p. 60. (Adaptado).
Observe que a última coluna da tabela apresenta o pOH. Esse índice é utilizado
para determinar a alcalinidade da solução, sendo que a expressão pOH = – log [OH –] é
semelhante à expressão do pH. Perceba também que os valores de pH apresentam re-
lação direta com as concentrações de H+ de uma solução aquosa e, portanto, não são
aleatórios. É importante observar que a escala de pH é expressa em logaritmo e que
a variação de uma unidade equivale a uma diferença na concentração de H+ de aproxi-
madamente dez vezes.
1.1.3 pKa
O grau de modificação ocasionado pela solução aquosa é uma característica de
cada ácido ou base fracos, sendo expresso pela constante de equilíbrio, da mesma
forma que a equação de equilíbrio da água:
[H+][A –]
Keq= = Ka
[HA]
Ácidos fracos são aqueles compostos que liberam apenas parte dos hidrogênios que estão em
sua estrutura, ou seja, dissociam-se pouco. Bases fracas são as que recebem pouco H+.
Bioquímica 21
0 50 100%
© FabriCO
Percentagem titulada
O gráfico anterior explica como uma solução tampão funciona: quando o pH tende
a baixar, devido à produção excessiva de ácido, a base segura prótons, ocasionando
uma alteração mínima no pH; da mesma forma, quando o pH tende a subir, devido à
eliminação excessiva de H+, o ácido libera prótons para baixar o pH, também ocasio-
nando uma alteração mínima.
É importante verificar que, para cada ácido (HA) e sua base conjugada (A –), existe
um pKa diferente e, por consequência, uma região na qual esse tampão é efetivo. Além
disso, se um ácido possui mais do que um hidrogênio ionizável, cada forma química
apresenta um pKa diferente, como mostrado na tabela a seguir.
Observe que, nessa equação, não foi acrescentada a concentração de CO2. Porém,
como a formação de H2CO3 depende da dissolução de gás carbônico em água, o au-
mento da pressão parcial de CO2 (pCO2) ocasiona um aumento da concentração de
H2CO3 e, consequentemente, de sua dissolução, originando mais prótons livres e HCO3 – .
Ou seja, quanto maior a concentração de CO2 , maior a de H+ livre na solução.
Devemos analisar também que o pH sanguíneo está próximo do final da faixa
de tamponamento do sistema tampão bicarbonato. No entanto, não é somente esse
tampão que controla o pH do fluido de forma efetiva. Para que isso ocorra, é necessá-
rio haver uma eliminação do CO2 produzido pelos tecidos e do excesso de H+ livre no
sangue. Para eliminar o CO2 , o organismo ativa o processo de ventilação pulmonar e,
para eliminar o H+ livre, o sistema renal é ativado.
4
Ventilação alveolar (normal = 1)
0
7,0 7,1 7,2 7,3 7,4 7,5 7,6
© FabriCO
Sangue
Lúmen Células
Células Espaço
do ducto intercalares
tubulares intersticial
coletor do tipo A
[H+] alta
H+
ATP Alta [K+]
K+ K+
reabsorvido
H+
excretado
na urina [K+]
© FabriCO
Simporte é a passagem de duas moléculas para o mesmo lado da membrana por meio de uma
mesma proteína transportadora. Já antiporte é a passagem de duas moléculas por uma mes-
ma proteína transportadora para lados contrários da membrana.
Agora vamos pensar que a pessoa está desenvolvendo alcalose. Lembre que a al-
calose se caracteriza pela diminuição da concentração de ácidos ou pela elevação de
bases no plasma e as respostas compensatórias serão basicamente opostas à acidose.
Analise a figura abaixo e perceba que a concentração de H+ no espaço intersticial está
baixa. Nesse caso, dentro das células tubulares, a reação H2O + CO2 , catalisada pela
enzima anidrase carbônica, será essencial para repor o H+. Veja a equação:
Sangue
Lúmen Células
Espaço
do ducto intercalares
Células interstical
coletor do tipoB
tubulares
[H+] baixa
H2O + CO2
Anidrase
carbônica
H+
HCO3– HCO3– + H+ ATP
Cl– H+
H+
ATP
K+ K+
excretado
na urina
© FabriCO
Você deve ter percebido que o mecanismo compensatório renal para equilibrar o
pH sanguíneo depende essencialmente da eliminação ou reabsorção de H+ e HCO3 –. Esses
dois eventos ocorrem praticamente em todos os túbulos renais, com exceção das por-
ções finas descendentes e ascendentes da alça de Henle e, em conjunto, contribuem
decisivamente para a manutenção do equilíbrio ácido-base e também das concentra-
ções de íons no plasma sanguíneo.
Normograma ácidobásico
PCO2
[HCO3– ] 120 100 90 80 70 60 60
60 40
56
52 35
48
30
44 Acidose respiratória crônica
40
25 Alcalose metabólica
36
Alcalose respiratória aguda
32 20
28 Alcalose respiratória crônica
12
0
© FabriCO
Pessoas que estejam acometidas por doenças pulmonares não eliminam eficiente-
mente o CO2, o que ocasiona um aumento desse gás no sangue. Naturalmente, por ação
da enzima anidrase carbônica, o CO2 reagirá com água, formando ácido carbônico que
se dissocia em HCO3 – e H+. Essa situação já foi discutida anteriormente nesse livro e você
deve lembrar que, em decorrência disso, há um aumento na concentração de H+ com
consequente queda no pH ou acidose respiratória. Perceba isso na equação abaixo.
Nesse caso, como o problema é respiratório, o sistema renal faz a compensação, li-
berando H+ para a urina. Essa eliminação de prótons aumenta o pH sanguíneo, porém
apenas moderadamente, não revertendo o pH para a faixa normal. Por isso, tanto o valor
de HCO3 – quanto de H+ estarão aumentados na acidose respiratória descompensada.
Você deve estar pensando: entendi que o H+ foi reposto, mas o HCO3 – também
aumentou. O que o ocorre com ele? Normalmente, a resposta dos rins a essa eleva-
ção é a sua eliminação. No que diz respeito ao H+, a compensação renal é a sua reten-
ção. Isso só não acontece na hipocalemia, pois a falta de potássio gera a eliminação de
prótons, ocasionando a alcalose. Esse cenário ocorre quando diminui a quantidade de
potássio no sangue e as proteínas tubulares reabsorvem esse íon, porém fazendo an-
tiporte do K+ com o H+, o que provoca a eliminação de próton e, consequentemente, a
alcalose metabólica (HALL, 2011).
Bioquímica 33
1.4 Bioenergética
Para que a vida possa acontecer, é necessário haver transformações energéticas
nas células. Para tanto, os organismos vivos desenvolveram duas estratégias básicas
para produzir energia: absorvem energia da luz solar ou captam combustíveis do meio
no qual estão inseridos e os oxidam. Entre os nutrientes que precisam ser transfor-
mados para fornecer energia à célula estão os carboidratos, as proteínas e os lipídios.
Além disso, não basta somente transformar os nutrientes. As células precisam contro-
lar e direcionar a energia produzida para sintetizar as suas próprias estruturas e arma-
zenar suas próprias moléculas. Por definição, a bioenergética estuda as transformações
ou trocas de energia realizadas pelas células das quais os organismos vivos dependem
(NELSON; COX, 2014).
Para a compreensão dessas transformações, é necessário que você analise alguns
conceitos da termodinâmica. Anteriormente, essa ciência estudava as alterações que
o calor ocasionava nos sistemas. No entanto, com o passar do tempo, os cientistas
perceberam que essa análise não era suficiente. Por esse motivo, o conceito de termo-
dinâmica foi modificado e o consenso agora é de que essa área estuda toda e qualquer
mudança que ocorra no universo.
A primeira lei da termodinâmica estabelece que “a energia não pode ser cria-
da ou destruída, mas somente convertida de uma forma em outra” (HENEINE, 2010,
p. 57). Um exemplo prático da primeira lei é o que ocorre no músculo estriado esque-
lético quando está na situação de movimento. Ele faz transformações na molécula de
glicose durante a respiração celular e utiliza e energia proveniente da degradação des-
ta molécula para produzir adenosina trifosfato (ATP). O ATP é quebrado (energia quí-
mica) para possibilitar o movimento muscular (energia cinética). Como a conversão
da energia química em cinética não tem rendimento de 100%, parte da energia dessa
transformação é liberada como calor, razão pela qual, ao fazer um exercício, o corpo
todo acaba esquentando.
Bioquímica 34
A segunda lei, que pode ser enunciada de diferentes formas, estabelece que o
universo tende a apresentar uma desordem crescente, ou seja, em todos os proces-
sos que ocorrem espontaneamente, a entropia total de um sistema deve aumentar.
(MURRAY et al., 2013).
A entropia é conceituada como a energia contida em um sistema que não é capaz de realizar
trabalho.
Essas duas leis regem todas as transformações que ocorrem no universo e, por
consequência, nos seres vivos. A partir dessas definições, vamos entender agora como
funciona o metabolismo e o que caracteriza a bioenergética.
Anabolismo
ATP
NADH
NADPH
FADH2
Moléculas
precursoras Energia
Produtos finais
química
Aminoácidos pobres em energia
Açúcares
© FabriCO
Ácidos Graxos CO2
H2O
Sendo que:
∆H = variação da entalpia;
∆S = variação da entropia;
T = temperatura absoluta.
Quando uma reação química ocorre espontaneamente, os produtos formados
têm menos energia livre do que os reagentes, assim, a reação libera energia livre que
pode ser utilizada para realizar trabalho. Nesse caso, a reação é exergônica e o ∆G
apresenta valor negativo. Por outro lado, se o ∆G for positivo, a reação é endergônica,
necessitando de energia de outra fonte; por isso, não é espontânea. Se o ∆G for igual
a zero, a reação está em equilíbrio químico. Observe na tabela a seguir as principais ca-
racterísticas das reações exergônicas e endergônicas.
Quantidade
de energia
liberada
Produtos
Curso de reação
Quantidade
de energia
liberada
Reagentes
© FabriCO
Curso de reação
NAD+
Oxidado Reduzido
H O H H O
Nicotinamida
(derivado de piridina)
NH2 2[H+] NH2 + H+
Ribose
H N
O
O CH2
R
H
HO OH
O P O
NH2
O
N N
O P O Adenosina
N N
O
O CH2
H
© FabriCO
NAD+: X = H
HO OX
NADP+: X = PO32-
FAD
O
Dimetilisoaloxazina
H H H
C N C C N C
H 3C C C C NH 2e +2H
– +
H 3C C C C NH
H 3C C C C C O H 3C C C C C O
C N N C N N
H H H
CH2 CH2
HC OH HC OH
HC OH HC OH
HC OH O O Adenina HC OH O O Adenina
FAD FADH2
H2C O P O P O Ribose H2C O P O P O Ribose
© FabriCO
O+ O– O+ O–
O FAD está presente em proteínas na forma de grupo prostético, ou seja, faz par-
te de uma proteína conjugada. As proteínas que contêm FAD são chamadas de flavo-
proteínas e estão presentes tanto no anabolismo quanto no catabolismo.
Nesse capítulo, foram discutidos os diversos mecanismos que contribuem para a
manutenção do equilíbrio ácido básico nos líquidos corporais, especialmente no san-
gue. Vimos também que as moléculas transportadoras de energia possibilitam que a
energia retirada da quebra de macromoléculas possa ser usada no processo de síntese
de outras moléculas.
Bioquímica 40
Referências
CAMPBELL, M. K; FARRELL, S. O. Bioquímica Combo. 5. ed. São Paulo: Thomson
Cengage Learning, 2007.
DEVLIN, T. M. Manual de Bioquímica com Correlações Clínicas. 7. ed. São Paulo:
Blucher, 2011.
DONN, S. M.; SINHA, S. K. Neonatal Respiratory Care. 2. ed. Philadelphia: Mosby
Elsevier, 2006.
HALL, J. E. Guyton & Hall Tratado de Fisiologia Médica. 12. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2011.
HENEINE, I. F. Biofísica Básica. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2010.
KOEPPEN, B. M.; STANTON, B. A. Berne & Levy Fisiologia. 6. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2009.
MURRAY, R. K. et al. Bioquímica Ilustrada de Harper. 29. ed. Porto Alegre: AMGH/
Artmed, 2013.
NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2014.
PAULA, J. M. P. de et al. Alteraciones del equilibrio ácido-base. Diálisis y Trasplante,
[s.l.], v. 33, n. 1, p.25-34, jan. 2012. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.
dialis.2011.06.004.
SADAVA, D. et al. Vida: a ciência da biologia. 8. ed. Porto Alegre: Artmed 2009. (v. 1:
Célula e hereditariedade).
SILVERTHORN, D. U. Fisiologia Humana: uma abordagem integrada. 5. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2010.
VIEGAS, C. A. A. Gasometria arterial. Jornal Brasileiro de Pneumologia, Brasília,
v. 28, supl. 3, p. S333-S338, out. 2002. Disponível em: <www.jornaldepneumologia.com.
br/PDF/Suple_138_45_1212%20Gasometria%20arterial.pdf>. Acesso em 2 dez. 2015.
VOET, D.; VOET, J. G.; PRATT, C. W. Fundamentos de Bioquímica: a vida em nível
molecular. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
2 Proteínas e enzimas
As proteínas são as moléculas mais abundantes nas células vivas e estão presen-
tes em todos os organismos da natureza. A palavra proteína é derivada do grego protos
e significa primeiro, primitivo, o mais importante. Essa classe de biomoléculas é respon-
sável pela maior diversidade de funções nos organismos vivos e corresponde ao produto
final da expressão do nosso código genético. As proteínas também são constituintes bá-
sicos das estruturas celulares, como o colágeno, promovem o armazenamento de ener-
gia em alguns organismos – como a ovoalbumina, principal proteína presente na clara
do ovo; e têm função regulatória – como a insulina e o glucagon, dois importantes hor-
mônios que regulam o metabolismo. Além disso, proteínas especializadas, denominadas
enzimas, podem catalisar reações bioquímicas.
Mas o que são as proteínas? Proteínas são macromoléculas complexas e orga-
nizadas cujas unidades estruturais são aminoácidos. Neste capítulo, estudaremos as
principais características dos aminoácidos e das proteínas. Além disso, veremos com
detalhes como trabalham as enzimas, uma classe de proteínas que possui atividade ca-
talítica. Nosso estudo iniciará pelo entendimento das unidades básicas formadoras das
proteínas: os aminoácidos.
H O
OH
R
© FabriCO
cadeia lateral
Identificação de aminoácidos
Nome Abreviação Símbolo Nome Abreviação Símbolo
Glicina Gly G Serina Ser S
Triptofano Trp W Treonina Thr T
Alanina Ala A Cisteína Cys C
Prolina Pro P Asparagina Asn N
Valina Val V Glutamina Gln Q
Leucina Leu L Lisina Lys K
Isoleucina Ile I Histidina His H
Metionina Met M Arginina Arg R
Fenilalanina Phe F Aspartato Asp D
Tirosina Tyr Y Glutamato Glu E
COO– COO–
+ +
H 3N C H H C NH3
CH3 CH3
© FabriCO
L-Alanina D-Alanina
Apesar de todos os aminoácidos terem uma estrutura geral comum, eles apre-
sentam propriedades químicas diferentes, de acordo com o tipo de cadeia lateral
presente. Entre as propriedades mais importantes, destaca-se o comportamento
do aminoácido em relação à água ou polaridade, podendo ser hidrofóbico e apolar
(insolúvel em água) ou hidrofílico e polar (solúvel em água). Agora que já sabemos
como os aminoácidos são identificados, vamos estudar a sua classificação.
Bioquímica 44
O impedimento estérico ocorre quando átomos se encontram próximos uns dos outros no es-
paço. Essa proximidade pode gerar uma tensão, importante fator para explicar a estrutura es-
pacial de diversas moléculas.
Fenilcetonúria é uma doença causada por um defeito na enzima que degrada o aminoácido fe-
nilalanina. Assim, há acúmulo de fenilalanina, que gera ácido fenilpirúvico e provoca retarda-
mento mental grave. O tratamento consiste na retirada da fenilalanina da dieta.
Entre os aminoácidos que possuem carga nas cadeias laterais, temos os ami-
noácidos com grupamentos R carregados positivamente e aminoácidos com grupos
R carregados negativamente. A presença de carga nessas estruturas confere pola-
ridade e solubilidade em água. Lisina, arginina e histidina apresentam carga positiva
em suas cadeias laterais e característica básica. Já glutamato e aspartato têm carga
Bioquímica 45
© FabriCO
OH CH3 SH Lisina Arginina Histidina
Serina Treonina Cisteína
Grupos R carregados
COO– COO– negativamente
+ +
H 3N C H H 3N C H
CH2 CH2 COO– COO–
+ +
C CH2 H 3N C H H 3N C H
H2N O CH2 CH2
C
H2N O COO– CH2
Asparagina Glutamina COO–
Aspartato Glutamato
N C C N C C
H + H
O O
R R
A B
Zwitteríon Zwitteríon
como ácido como base
7
III
pH
pI = 5,97
pK1 = 2,34
II
I
0
0 0,5 1 1,5 2
© FabriCO
OH (equivalentes)
–
H2O
R1 O R2 O
+
H 3N C C N C C
© FabriCO
O–
H H H
Estrutura da insulina
CADEIA A
21
1 20
2 19
3 18
4 S 17 30
CADEIA B 5 S 16 29
6 S
7 15
14 28
1 8 9 10 11 12 13
27
2 S
3 26
S
4 S 25
5 24
6 23
7 22
8 21
9
19 20
© FabriCO
10
11 12 13 14 15 16 17 18
Até agora, neste capítulo, os aminoácidos foram bastante explorados. Vimos que
a união de aminoácidos forma peptídeos e que peptídeos originam proteínas. A relação
entre os aminoácidos contidos em uma proteína e sua organização espacial é bastante
intrincada. A seguir, estudaremos a conformação tridimensional das proteínas, ou seja, a
maneira pela qual as cadeias proteicas se organizam no espaço tridimensional.
Bioquímica 51
Estruturas do colágeno
Sequência dos
aminoácidos Gly X Y Gly X Y Gly X Y
Hélice do
colágeno
do colágeno
A estrutura assumida por uma proteína após sua síntese é condição essencial para
que ela exerça sua função corretamente. Dessa forma, quando a estrutura primária de
uma proteína é alterada, dependendo da alteração conformacional resultante, sua fun-
ção também sofrerá uma modificação.
N
C
C
C
N
C
C
B
N
C
N C R R
C
R
C R
N
C
C
N
C R
C
C
N R
C
R
N
C
C R
Passo de 0,54 nm R
N
(3,6 resíduos) C
C
N
C 0,15 nm
C
N
© FabriCO
C
Mas como ficam as estruturas das proteínas que contêm mais de uma cadeia po-
lipeptídica, ou seja, as oligoméricas? Vamos usar como exemplo a proteína hemoglobi-
na, formada por quatro cadeias polipeptídicas diferentes (α1, α2, β1, β2), sendo cada
uma delas sintetizada separadamente. Após a síntese, cada cadeia isoladamente assu-
me suas estruturas secundárias e terciárias, mas a proteína só será funcional quando
houver a união de todas as cadeias. A união das estruturas terciárias de todas as ca-
deias polipeptídicas forma a estrutura quaternária. Sendo assim, apenas as proteínas
oligoméricas – que contêm mais de uma cadeia polipeptídica – apresentam estrutura
quaternária, que é mantida geralmente por ligações intermoleculares, mantendo as di-
ferentes cadeias unidas em uma única estrutura.
2.2.4 Desnaturação
Vimos anteriormente que as proteínas se organizam em estrutura primária, se-
cundária, terciária e quaternária, e têm diferentes graus de complexidade. A estrutu-
ra final adquirida pelas proteínas é denominada estrutura nativa e é essencial para
sua atividade biológica. Agora imagine que uma pessoa tem um quadro de elevação
da temperatura corporal, ou febre. Como a febre poderia prejudicar a atividade das
proteínas, especialmente das enzimas? Quando expostas a alterações de tempera-
tura, pode haver perda da estabilidade das estruturas tridimensionais da proteína e,
por consequência, perda de sua função. Essa alteração tridimensional é chamada de
desnaturação e o agente causador é a elevação da temperatura. Todavia, existem ou-
tras condições que podem desestabilizar essas estruturas. Alterações no pH, tipo de
solvente e adição de metais pesados são exemplos de situações que podem causar a
perda das estruturas tridimensionais de uma proteína. É importante ressaltar que na
desnaturação não ocorre perda da estrutura primária – sequência de aminoácidos –,
mas somente da conformação espacial. Caso ocorra perda da estrutura primária, ocorre
uma degradação proteica.
Em alguns casos, quando as condições desnaturantes são mais brandas, a proteína
pode reassumir sua conformação tridimensional quando o agente desnaturante é removi-
do. Entretanto, condições prolongadas ou intensas geram uma desnaturação irreversível.
2.3 Enzimas
As proteínas são as biomoléculas que apresentam a maior diversidade de funções
biológicas. Entretanto, nenhuma outra função é tão especializada quanto a de catálise
biológica realizada pelas enzimas. Exceto por algumas ribozimas, ou RNAs catalíticos,
todas as enzimas são proteínas e, portanto, todos os conceitos utilizados no estudo
das proteínas são aplicáveis às enzimas.
Bioquímica 55
No final do século XX, foram descritas moléculas de RNA com atividade catalítica, denomina-
das ribozimas. Seu substrato é a própria molécula de RNA e, como nas proteínas, a estrutura é
essencial para a atividade catalítica. Já foram descritas ribozimas em vírus e em células proca-
riontes e eucariontes.
Complexo enzima-substrato
Substrato
h O
N
H h
h O
h
N HO
H h
h h
O
© FabriCO
Enzima
X
Não catalisada
ΔΔGcat
(a redução em
ΔG pela catálise)
G Catalisada
A+B
P+Q
A+B P+Q
© FabriCO
Coordenada da reação
Modulação alostérica
M Modulador positivo
S Substrato
C R
– M + M
S C R M
S C R M Complexo
© FabriCO
enzima-substrato ativo
Nas alterações induzidas por ligações covalentes, grupamentos químicos são adi-
cionados ou removidos em aminoácidos específicos da enzima. Entre os grupos mais
comuns estão fosforila, metila, uridinila, acetila, sulfato, etc. Normalmente, a adição e
a remoção dos grupos são catalisadas por enzimas diferentes. Dessa forma, a fosfori-
lação/desfosforilação de uma enzima é essencial para que sua atividade seja regulada
de acordo com as necessidades da célula.
A seguir, você pode conferir o processo de regulação de uma enzima por meio do
grupo fosforila. Ele ocorre da seguinte forma: o grupamento fosforila é adicionado de
forma específica a um resíduo serina da enzima. A fonte doadora desse grupamento
fosforila é uma molécula de ATP e essa transferência é catalisada por uma enzima ci-
nase (quinase). Na forma fosforilada, essa enzima pode exercer o papel metabólico na
célula. Quando a função da enzima na forma fosforilada cessa, ela deve retornar ao es-
tado inicial, sem o grupamento fosforila. Para sua remoção, é necessária a participa-
ção de uma terceira enzima, com atividade de fosfatase.
Bioquímica 60
Mg2+
CINASE
Mg2+
© FabriCO
Pi H2O
2.4.1 pH e temperatura
As enzimas têm a velocidade alterada em resposta às variações do pH e da tempe-
ratura. Cada enzima possui uma faixa de pH na qual catalisará a reação em uma veloci-
dade máxima. Quando essa variável é alterada, a velocidade da reação também muda.
Alterações no pH do meio em que a enzima está inserida podem causar transformações
no estado de ionização das cadeias laterais dos aminoácidos envolvidos com a catálise
enzimática e, consequentemente, comprometer a eficiência da catálise. O valor de pH
em que a enzima apresenta sua velocidade máxima é chamado de pH ótimo.
Observe a figura a seguir que representa a atividade de duas enzimas: pepsina e
glicose-6-fosfatase. Perceba que a velocidade máxima da reação da pepsina ocorre em
pH ácido, enquanto a velocidade máxima da glicose-6-fosfatase ocorre em pH básico.
Perceba que alterações de pH resultam em modificações da velocidade da reação. Isso
ocorre porque, se a enzima estiver em uma solução em que o pH sofra uma diminuição
ou um aumento drástico, a ionização dos aminoácidos é alterada. Por consequência, o
formato tridimensional da proteína é perdido, ocasionando desnaturação.
Bioquímica 62
log V0
© FabriCO
2 4 6 8 10
pH
Vmáx
υ0
Vmáx
2
0
0 KM 2KM 3KM 4KM 5KM
© FabriCO
[S]
EI ESI EI + S ESI
I I I I I
I S
© FabriCO
S S
I I
A letra (a) representa a inibição competitiva. Veja que substrato e inibidor são es-
truturalmente semelhantes e capazes de se ligar ao sítio ativo enzimático. Por isso exis-
te competição. Caso o substrato se ligue ao sítio ativo, o complexo enzima-substrato
será formado e a reação segue em direção à formação de um produto. Por outro lado,
se o inibidor enzimático se ligar ao sítio ativo, forma-se o complexo enzima-inibidor (EI)
e a reação bioquímica será inibida, impedindo a formação do produto.
Agora observe a letra (b) da mesma figura. Percebeu alguma diferença na con-
formação da enzima? Veja que ela possui dois sítios para ligação, por isso, na inibição
incompetitiva, o inibidor se liga em uma região diferente do sítio-ativo. Esse tipo de ini-
bidor só é capaz de se ligar ao complexo enzima-substrato (ES) e formar o complexo
enzima-substrato-inibidor (ESI). Quando o complexo ESI é formado, a reação enzimá-
tica não prossegue e não haverá formação de produto. Na inibição mista, representada
pela letra c na figura, o inibidor pode se ligar diretamente à enzima (EI) ou ao complexo
enzima-substrato (ESI).
Bioquímica 65
Os inibidores irreversíveis, por sua vez, são aqueles capazes de se ligar, por meio
de interações covalentes ou muito estáveis, a regiões específicas das enzimas e inati-
vá-las irreversivelmente. Nesse caso, para a atividade catalítica ser recuperada, é preci-
so ocorrer a síntese de uma nova molécula de enzima.
Neste capítulo, estudamos as biomoléculas que possuem a maior diversidade de
funções nos organismos vivos: as proteínas. Vimos que elas são formadas por aminoá-
cidos e que é fundamental o conhecimento de sua estrutura para compreender as ca-
racterísticas das cadeias polipeptídicas. Além disso, examinamos com detalhe a função
das enzimas, que são proteínas especializadas presentes nas células, responsáveis pela
catálise das reações bioquímicas.
Bioquímica 66
Referências
GOMES, E. et al. Enzimas termoestáveis: fontes, produção e aplicação industrial.
Química Nova, São Paulo, v. 30, n. 1, p. 136-145, fev. 2007. Disponível em: <http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422007000100025>. Acesso em:
06/01/2017.
MURRAY, R. K. et al. Bioquímica Ilustrada de Harper. 29. ed. Porto Alegre: AMGH/
Artmed, 2013.
NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2014.
SALAZAR, S. M. Insulinoterapia en el paciente ambulatorio. Bases de la Medicina
Clínica, Santiago, n. 2, 2013. Disponível em: <www.basesmedicina.cl/diabetes/704_
insulinoterapia/contenidos.htm>. Acesso em: 05/12/2015.
SMITH, C.; MARKS, A. D.; LIEBERMAN, M. Bioquímica Médica Básica de Marks: uma
abordagem clínica. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.
VOET, D.; VOET, J. G.; PRATT, C. W. Fundamentos de Bioquímica: a vida em nível
molecular. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
3 Carboidratos e glicólise
Os carboidratos são moléculas muito importantes para todos os seres vivos, pois
apresentam inúmeras funções, desde energética até estrutural. Essas são as macro-
moléculas que estão em maior quantidade na natureza e representam mais da metade
do carbono fixado nas moléculas orgânicas.
Entre as funções biológicas encontradas nos carboidratos, podemos citar:
1. fonte de energia: um bom exemplo é a molécula de glicose, que é fundamental
para manutenção da vida;
2. síntese de outros componentes celulares: muitos carboidratos, como a própria
glicose, podem ser transformados em outros componentes celulares, como áci-
dos graxos, pentoses dos nucleotídeos, lipídios, aminoácidos e nucleotídeos;
3. armazenamento de energia: o amido e o glicogênio representam as formas
de armazenamento de energia em células vegetais e animais, respectivamente;
4. elemento estrutural das células e dos tecidos: como a celulose nos vegetais e
a quitina nos animais, além dos carboidratos associados às proteínas, também
encontrados nos tecidos animais, como as proteoglicanas e as glicoproteínas.
Todas essas atividades biológicas são possíveis devido à grande diversidade estru
tural apresentada pelos carboidratos, que se organizam em moléculas únicas, os
monossacarídeos, cadeias curtas denominadas oligossacarídeos ou cadeias longas de-
nominadas polissacarídeos. Essas três classes estruturais serão abordadas neste capí-
tulo. Veremos quais são suas características e como são formadas nos próximos tópicos.
3.1 Monossacarídeos
Os monossacarídeos são os carboidratos mais simples e apresentam a fórmu-
la geral Cn(H2O)n. São moléculas cristalinas que não apresentam cores e muitas vezes
possuem sabor adocicado. Nessa classe de moléculas, existem muitas hidroxilas (– OH)
que estão ligadas a carbonos quirais (carbono que possui quatro ligantes diferentes),
fato que origina vários isômeros (moléculas com mesma fórmula geral, porém com
mudança de posição de grupos hidroxilas em relação ao carbono quiral).
Eles são divididos em dois grupos: aldoses e cetoses. Aldoses são carboidratos
que apresentam grupo funcional aldeído e cetoses apresentam grupo funcional cetona.
Vamos entender no próximo tópico qual é a estrutura química dos monossacarídeos.
Bioquímica 68
Aldose e cetose
H
H O
C H C OH
H C OH C O
H C OH H C OH
H H
© FabriCO
gliceraldeído, diidroxiacetona,
uma aldotriose uma cetotriose
Agora, analise os carbonos indicados com asterisco nas duas pentoses da próxi-
ma figura. Eles são carbonos quirais. A aldose possui três carbonos quirais e, a cetose,
dois. Porém, o último centro quiral da estrutura, nos dois casos, está com a hidroxila
para o lado direito. Portanto, as duas moléculas são D.
Pentoses
H O
1 C 1 CH2OH
*
H 2
C OH 2
C O
HO 3
C *
H HO 3
*
C H
H 4
C* OH H 4
C* OH
CH2OH CH2OH
© FabriCO
5 5
D-Xilose D-Xilulose
Aldoses
Três carbonos Quatro carbonos Cinco carbonos
H O H O H O H O
C C C C
H O H O
C C H C OH HO C H H C OH HO C H
H O H C OH HO C H H C OH H C OH HO C H HO C H
C
H C OH H C OH H C OH H C OH H C OH H C OH H C OH
Seis carbonos
H O H O H O H O H O H O H O H O
C C C C C C C C
H C OH HO C H H C OH HO C H H C OH HO C H H C OH HO C H
H O H C OH HO C H H C OH H C OH HO C H HO C H
C
H C OH H C OH H C OH H C OH H C OH H C OH H C OH
Seis carbonos
H O H O H O H O H O H O H O H O
C C C C C C C C
H C OH HO C H H C OH HO C H H C OH HO C H H C OH HO C H
H C OH H C OH HO C H HO C H H C OH H C OH HO C H HO C H
H C OH H C OH H C OH H C OH HO C H HO C H HO C H HO C H
H C OH H C OH H C OH H C OH H C OH H C OH H C OH H C OH
© FabriCO
D- Alose D-Altrose D-Glucose D-Manose D-Gulose D-Idose D-Galactose D-Talose
Cetoses
Três carbonos Quatro carbonos Cinco carbonos
CH2OH CH2OH
CH2OH C O C O
C O H C OH HO C H
CH2OH
C O H C OH H C OH H C OH
Seis carbonos
H C OH H C OH HO C H HO C H
H C OH H C OH H C OH H C OH
Cada monossacarídeo apresenta uma função biológica, porém alguns deles pos-
suem funcionalidades mais importantes. Por exemplo, a ribose tem a função de formar
nucleotídeos; já a glicose é necessária para a formação de ATP. Os monossacarídeos
podem ser modificados, assim, suas funções biológicas também são alteradas. Outras
funções dos monossacarídeos serão mostradas no próximo tópico.
3.1.3 Ciclização
Você deve ter percebido que os carboidratos foram representados em cadeias li-
neares, na forma aberta. Porém, em soluções aquosas, os monossacarídeos podem
adquirir estrutura de cadeia cíclica, em formato de anel. Isso se deve à aproximação
do carbono que possui a dupla ligação com a hidroxila do último carbono quiral. Essa
aproximação proporciona uma reação na qual o oxigênio do grupo hidroxila faz um
ataque nucleofílico no carbono da dupla ligação, formando um anel na molécula do
monossacarídeo. Ao mesmo tempo, o átomo de hidrogênio que estava ligado ao oxi-
gênio da hidroxila do último carbono quiral é atraído para o oxigênio que tinha origi-
nalmente a dupla ligação, formando outra hidroxila. Note que, nesse caso, o carbono
que tinha a dupla ligação torna-se outro carbono quiral.
O ataque nucleofílico ocorre quando o par de elétrons do oxigênio ataca o núcleo de outro áto-
mo, normalmente o carbono, e desloca uma das ligações covalentes.
Bioquímica 72
6
CH2OH
5
H C OH
H
4 H
C C 1
OH H
HO O
3C 2C
H OH
6 6
CH2OH CH2OH
5 5
H C O H C O
H OH
4 H 4 H
C 1 C C 1 C
OH H OH H
HO OH HO H
C C C C
3 2 3 2
H OH H OH
mutarrotação
© FabriCO
α-D-glicopiranose β-D-glicopiranose
Em aldoses com mais de quatro carbonos e em cetoses com mais de cinco car-
bonos, a forma predominante é a cíclica. Essa reação entre um aldeído e um álcool ou
entre um grupo cetona e um álcool, forma um hemiacetal ou hemicetal, respectiva-
mente, sendo que o carbono participante desse grupo é chamado de anomérico. A for-
mação do hemiacetal é importante para a construção da ligação glicosídica, que será
explicada nos próximos tópicos deste capítulo.
Mas também é importante perceber na figura que, como o carbono hemiacetal
tornou-se quiral, a posição da hidroxila modifica a conformação da molécula, forman-
do anômeros. Quando a hidroxila do hemiacetal fica para cima, a molécula está na
forma β; se estiver para baixo, a molécula está na forma α. Os anômeros α e β, quando
se encontram em solução aquosa, sofrem mutarrotação.
Bioquímica 73
Piranoses e furanoses
6
CH2OH CH2OH
5
O O HC O
H H OH
H H H
4 1 HC CH
OH H OH H H
HO OH HO H2C CH
3 2
H OH H OH
α - D- Glicopiranose β - D- Glicopiranose Pirano
6 1
HOCH2 O CH2OH HOCH2 O OH O
5 2 HC CH
H HO H HO
H 4 3 OH H CH2OH C C
OH H OH H H H
© FabriCO
© FabriCO
Forma de cadeira Forma de barco
H 5 C OH
6
CH2OH
6
HOCH2
H
5
O H
4
H 1
OH H
HO OH
3 2
H OH
H 6
HOCH2 O
4
HO 6
H H
2 H
OH
© FabriCO
1
HO 3
H OH
Você deve ter percebido, observando a figura, que a molécula de glicose pode ser
representada de maneiras diferentes, desde sua cadeia linear, representada no alto da
figura, até suas formas cíclicas. Isso é importante porque as conformações tridimen-
sionais específicas de cada monossacarídeo determinarão as propriedades biológicas
e funções dos oligossacarídeos e dos polissacarídeos, moléculas que veremos a seguir.
Bioquímica 75
hidrólise condensação
H2O H2O
6 6
CH2OH CH2OH hemiacetal
5 5
H O H acetal
H O OH
H H
4 1 4 1
OH H OH H
HO H
3 2 O 3 2
H OH H OH
Maltose
© FabriCO
α-D-Glicopiranosil-(1→498)-D-Glicopiranose
Dissacarídeos
CH2OH CH2OH
O O
HO H H
OH O OH
H OH
H
H OH H OH
Lactose (galactose-β-1,4-glicose)
CH2OH CH2OH
O O H
H
OH O HO
HO CH2OH
H OH OH H
Sacarose (glicose-α-1,2-frutose)
CH2OH H OH
H O H H H
H OH H
OH H O HOH2C
HO O OH
H OH H
© FabriCO
© FabriCO
Reação da hexoquinase
O
6
HO CH2 –
O P O CH2
O– 5
H O H ATP ADP H O H
H Mg2+ H
4 1
OH H Hexoquinase OH H
HO OH HO OH
3 2
H OH H OH
Glicose Glicose-6-fosfato
© FabriCO
© FabriCO
,
ΔG 0 = 1,7 kJ/mol
Reação da fosfofrutoquinase-1
O O O
6 6 1
–
O P O CH2 –
O P O CH2 CH2 O P O–
1
O– ATP ADP O– O O–
O CH2 OH
Mg2+
5 2 5 2
H HO fosfofrutoquinase -1 H HO
H OH H OH
4 3 4 3
OH H OH H
Frutose-6-fosfato Frutose-1,6-bifosfato
© FabriCO
,
ΔG 0 = 14,2 kJ/mol
Reação da aldolase
O O O O H
6 1
–
O P O CH2 CH2 O P O– CH2 O P O– C
O– O O– C O O– HCOH O
5 2
Mg2+ + CH2 O P O–
H HO aldolase
CH2OH
H OH O–
4 3
OH H Diidroxiacetona Gliceraldeído-
fosfato 3-fosfato
Frutose-1,6-bifosfato
© FabriCO
,
ΔG 0 = 23,8 kJ/mol
,
ΔG 0 = 7,5 kJ/mol
A sexta reação, mostrada na figura a seguir, inicia a segunda fase da via glicolítica,
também chamada de compensação ou pagamento. É importante lembrar que, a partir
dessa reação, todas as moléculas estão duplicadas.
Bioquímica 83
© FabriCO
,
ΔG 0 = 6,3 kJ/mol
,
ΔG 0 = – 18,5 kJ/mol
A reação número oito inicia pela catálise que a fosfoglicerato mutase faz, ocasio-
nando a mudança de posição entre o fosfato do carbono 3 e o hidrogênio do carbono 2,
gerando o 2-fosfoglicerato. Observe na figura a seguir.
Bioquímica 84
© FabriCO
,
ΔG 0 = 4,4 kJ/mol
Reação da enolase
O O– O O–
C O H2O C O
H C O P O– C O P O–
enolase
HO CH2 O– CH2 O–
2-Fosfoglicerato Fosfoenolpiruvato
© FabriCO
,
ΔG 0 = 7,5 kJ/mol
,
ΔG 0 = –31,4 kJ/mol
Glicose
Glicose Membrana
Glicoquinase Glicoquinase
plasmática
© FabriCO
Glicose-6-fosfato
Proteína
reguladora
Frutose-6-fosfato
O Km é uma constante que pode refletir a afinidade da enzima pelo seu substrato, quanto menor
Km, maior a afinidade.
1,0
Hexoquinase I
Atividade enzimática relativa
Hexoquinase IV
(glicocinase)
0 5 10 15 20
© FabriCO
H O H
H Pi
Fosforilase
OH H
Sacarose HO OH UDP-galactose
Sacarase
H OH
Glicose UDP-glicose
D-Glicose
1-fosfato
ATP CH2OH
Hexoquinase
Fosfogluco- H O H
mutase H
HOCH2 O CH2OH OH HO
HO OH
Glicose
H HO 6-fosfato H H
H OH
D-Manose
OH H ATP
D-Frutose ATP
Hexoquinase Hexoquinase
Frutose Manose 6-fosfato
ATP Frutoquinase
6-fosfato Fosfomanose
Frutose 1-fosfato isomerase
Frutose 1-
fosfato
aldolase
Frutose 1,6-
biofosfato
Gliceraldeído + Diidroxicetona
fosfato
Triose Triose fosfato
ATP quinase isomerase
© FabriCO
Gliceraldeído
3-fosfato
3.4 Fermentação
O processo de fermentação é realizado por células que não possuem mitocôn-
drias ou quando as células, mesmo com mitocôndrias, ficam privadas de oxigênio,
situação da respiração anaeróbia. Nesses casos, o piruvato formado na glicólise se acu-
mula na célula, iniciando o processo de fermentação.
Dependendo da espécie do organismo, pode ocorrer a fermentação alcoólica,
quando se forma o etanol; a fermentação acética, quando se forma o ácido acético; ou
a fermentação lática, na qual forma-se ácido lático. É o que veremos a seguir.
© FabriCO
Piruvato Acetaldeído Etanol
O etanol formado nessa reação pode ser utilizado pelos humanos para várias ati-
vidades do dia a dia, como a produção de bebidas, desinfetantes, medicamentos, etc.
Piruvato Lactato
Referências
AHMADI, A. et al. Antiviral Potential of Algae Polysaccharides Isolated from Marine
Sources: a review. Biomed Research International. v. 2015, p. 1-10, jun. 2015. Dispo-
nível em: <www.hindawi.com/journals/bmri/2015/825203/>. Acesso em: 20/11/2015.
AKRAMIENE, D. et al. Effects of beta-glucans on the immune system. Medicina.
Lithuania, 2007. v. 43. n. 8. p. 597-606. Disponível em: <www.researchgate.net/
profile/Dalia_Akramiene/publication/5948328_Effects_of_beta-glucans_on_the_
immune_system/links/09e41509810fccea5c000000.pdf>. Acesso em: 26/11/2015.
BERG, J. M.; TYMOCZKO, J. L; STRYER, L. Bioquímica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2014.
CAMPBELL, M. K.; FARRELL, S. O. Bioquímica Combo. 5. ed. São Paulo: Thomson
Cengage Learning, 2007.
DIALLO, D. et al. Polysaccharides from the roots of Entada Africana Guill. et Perr., Mi-
mosaceae, with complement fixing activity. Journal of ethnopharmacology. Filadél-
fia, fev. 2001. v. 74. n. 2. p. 159-171.
EDENS, R. E.; LINHARDT, R. J.; WEILER, J. M. Heparin is not just an anticoagulant
anymore: six and one half decades of studies on the ability of heparin to regulate com-
plement activity. Complement Profiles. Basel, 1993. v. 1. p. 96-120. Disponível em:
<www-heparin.rpi.edu/main/files/papers/100.PDF>. Acesso em: 26/11/2015.
KRAUS, J.; FRANZ, G. Immunomodulating effects of polysaccharides from medicinal
plants. Advances in Experimental Medicinal and Biology. v. 319. p. 299-308. 1992.
MAO, G. H. et al. Antitumor and immunomodulatory activity of a water-soluble
polysaccharide from Grifola frondosa. Carbohydr Polym. v. 10. p. 406-412. 2015.
NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2014.
PAULSEN, B. S. Plant polysaccharides with immunostimulatory activities. Current
Organic Chemistry. Beijing, 2001. v. 5. n. 9. p. 939-950.
STEVAN, F. R. et al. Cytotoxicity against HeLa cells of polysaccharides from seaweeds.
Journal of Submicroscopic Cytology and Pathology. v. 33. n. 3. 2001.
VOET, D.; VOET, J. G.; PRATT, C. W. Fundamentos de Bioquímica: a vida em nível
molecular. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
4 Respiração celular
A respiração celular é a fase aeróbia, ou seja, dependente de oxigênio, do cata-
bolismo de carboidratos, proteínas e lipídeos, que envolve a formação de dióxido de
carbono (CO2) com a consequente formação de adenosina trifosfato (ATP). Os organis-
mos que utilizam o oxigênio da atmosfera em seu metabolismo, gerador de energia, e
liberam dióxido de carbono são denominados quimiotróficos e diferem dos autotrófi-
cos por serem incapazes de sintetizar o próprio alimento.
A respiração celular é classicamente dividida em três estágios. No primeiro, ocorre a
degradação dos substratos energéticos (carboidratos, lipídeos e alguns aminoácidos pro-
venientes de proteínas) e a formação de piruvato e acetil coenzima A (acetil-CoA). O se-
gundo estágio envolve a oxidação da molécula de acetil-CoA no ciclo do ácido cítrico. E
no terceiro momento, as moléculas transportadoras de elétrons, nicotinamida adenina
dinucleotídeo (NADH) e flavina adenina dinucleotídeo (FADH2) reduzidas serão oxidadas
na cadeia respiratória mitocondrial, ocorrendo o consumo de oxigênio e a formação do
ATP. Os três estágios da respiração estão indicados na figura a seguir.
Glicólise
Piruvato
e
Complexo da
piruvato-desidrogenase
e e CO2
e
Acetil-CoA
Estágio 2
Oxidação da acetil-CoA
Citrato
Oxaloacetato
e Ciclo do
ácido cítrico
e
e
CO2
CO2 e
NADH
FADH2
Estágio 3 (transportadores e– de reduzidos)
Transferência de elétrons e
fosforilação oxidativa e 1
_
2H+ + 2 O2
Cadeia respiratória
(transferência de elétrons)
H2O
© FabriCO
ADP + P¡ ATP
Açúcares e
Açúcares Glicose Piruvato Piruvato
polissacarídeos
Acetil- CoA
Ácidos Ácidos Ácidos
© FabriCO
Gorduras graxos graxos graxos
MITOCÔNDRIA
CITOSOL
Formação do acetil-CoA
CoA-SH
NAD + TPP, NADH
O O – lipoato, CO2
FAD +
C
Complexo da O S-CoA
C O piruvato-desidrogenase (E1 + E2 + E3)
C
CH3
CH3
Piruvato
Acetil-CoA
© FabriCO
∆G’0 = –33,4 kJ/mol
FAD
SH +
5 NADH + H
SH
S Di-hidrolipoil-
OH
-desidrogenase
FAD
S 4 (E3)
CO2 CH3 C– TPP
R S
Hidroxietil-TPP S
Lipoamida
HS
1 Piruvato- 2 Di-hidrolipoil-
-desidrogenase -transacetilase HS
(E1)
(E2) R
O O
3
TPP O O
CH3 C C
O– CH3 C S CH3 C S CoA
Piruvato Acetil-CoA
HS CoA
R
© FabriCO
Acetil-di-hidrolipoamida
CH3 C
S-CoA O
+ HO C COO–
Citrato–sintase
O C COO– CH2 COO–
CH2 COO–
Citrato
Oxaloacetato
© FabriCO
Essa reação é catalisada pela enzima citrato sintase e libera grande quantidade de
energia (∆G’ 0 = –32,2 kJ/mol), sendo, portanto, irreversível.
Em uma via metabólica, o produto de uma reação será o substrato da próxima. O ci-
trato formado na primeira reação do ciclo será o substrato da próxima etapa, originando
seu isômero, o isocitrato. Essa reação, catalisada pela enzima aconitase, ocorre em duas
etapas: na primeira etapa, o citrato origina o cis-aconitato mediante uma reação de desi-
dratação (perda de uma molécula de água); na segunda etapa, ocorre uma reação de hidra-
tação (entrada de uma molécula de água) para formação do isocitrato. É muito importante
observar na figura a seguir, as mudanças que ocorrem no citrato após as duas reações.
© FabriCO
∆G’0 = 13,3 kJ/mol
CH2
H C COO– + CO2
isocitrato
desidrogenase
C COO–
HO C COO–
O
H
α Cetoglutarato
Isocitrato
© FabriCO
NAD+
α-Cetoglutarato
Succinil–CoA
© FabriCO
CH2 CH2
C S–CoA CH2
Succinil-CoA-sintetase
O COO–
© FabriCO
Succinil-CoA Succinato
∆G’0= 0 kJ/mol
CH HO CH
Fumarase
HC H
HC
COO–
COO–
Fumarato L– Malato
© FabriCO
∆G’0= –3,8 kJ/mol
HO C H O C
CH2 L-Malato-desidrogenase
CH2
COO– COO–
L-Malato Oxaloacetato
© FabriCO
Uma pergunta importante a ser feita é: de que maneira o ciclo mantém constante
o número de átomos de carbono? A cada volta completa, entram dois novos carbonos
na forma de grupamento acetila, doados pelo acetil-CoA. Se esses carbonos não saís-
sem do ciclo a cada volta, novos intermediários seriam formados e o ciclo não existiria.
Assim, existem duas reações de descarboxilação que envolvem a saída de moléculas
de CO2 . Portanto, a resposta para a pergunta anterior é: o número de carbonos é man-
tido constante, pois a cada volta saem dois deles na forma de dióxido de carbono.
Entenda melhor na figura a seguir.
Bioquímica 102
CO2
Acetato Acetil-CoA Aminoácidos
+ Oxaloacetato CoASH
NADH + H (4c)
Citrato (6c)
Malato (4c)
Isocitrato (6c)
Fumarato (4c)
Ciclo dos ácidos
tricarboxílicos (TCA)
FADH2 NADH + H
+
Succinato (4c)
CO2
α-Cetoglutarato (5c)
GTP
Succinil-
GDP NADH + H
+
CoA
© FabriCO
(4c) CO2
A partir da visão geral do ciclo, é possível perceber que a cada entrada de uma
molécula de acetil-CoA são formadas três de NADH, uma de FADH2 e uma de GTP ou
de ATP. No terceiro e último estágio da respiração celular, veremos de que maneira a
célula converte essas moléculas transportadoras de elétrons em energia química (ATP).
Lembre que a reação inicial do ciclo do ácido cítrico é uma reação de condensa-
ção entre o acetil-CoA e o oxaloacetato. Na sequência, formam-se citrato, isocitrato,
α-cetoglutarato, succinil-CoA, malato e, por fim, oxaloacetato. Agora, observe atentamen-
te a figura a seguir, especificamente as três reações catalisadas pelas enzimas citrato sinta-
se, isocitrato desidrogenase e α-cetoglutarato desidrogenase. Esses são os três pontos de
regulação do ciclo. Altos níveis de NADH, succinil-CoA, citrato e ATP inibem a enzima ci-
trato sintase ao passo que o ADP ativa a mesma enzima. Da mesma forma, a enzima isoci-
trato desidrogenase é inibida pelo ATP e ativada pela presença de cálcio e ADP. Por fim, a
terceira enzima que regula o ciclo do ácido cítrico é a α-cetoglutarato desidrogenase, que é
inibida pelos altos níveis de succinil-CoA e NADH e é ativada pelo cálcio.
Acetil-CoA
NADH, succinil-CoA, citrato, ATP
ADP
citrato-sintase
Citrato
Oxaloacetato Ciclo do
ácido
cítrico Isocitrato
Malato-desidrogenase ATP
Isocitrato
desidrogenase
NADH
Ca2+,ADP
Malato
Complexo da
FADH2 α-Cetoglutarato-
-desidrogenase
α-Cetoglutarato
Succinil-CoA, NADH
Succinato-
-desidrogenase
Succinil-CoA Ca2+
GTP Inibição
(ATP)
© FabriCO
Ativação
De maneira geral, o ciclo do ácido cítrico é regulado por três fatores: disponibi-
lidade de substrato para que o ciclo ocorra; inibição pelos produtos acumulados du-
rante as reações; inibição alostérica das enzimas que catalisam as principais reações.
Esse ciclo é extremamente eficiente na conversão da energia contida na molécula de
acetil-CoA em outras formas de energia (moléculas transportadoras de elétrons e
ATP). Essa conversão é de aproximadamente 90% da energia total do acetil-CoA
(SMITH; MARKS; LIEBERMAN, 2007).
Ácidos graxos
Aminoácidos Piruvato Aminoácidos
CO2
Acetil-CoA
ATP
1
ADP + P¡
Citrato
Oxaloacetato
Aspartato
5 Isocitrato
Malato
Aminoácidos
CO2
4 TA
Amino- Fumarato α-Cetoglutarato Glutamato
ácidos
2
CO2 GDH
Succinato
Succinil-CoA
NADH NAD
+
+
NH4
© FabriCO
Valina
isoleunica Propionil-CoA Ácidos graxos de cadeia ímpar
As reações anapleróticas são fundamentais para permitir que o ciclo do ácido cí-
trico não seja interrompido devido à falta de intermediários e, consequentemente, a
produção de ATP não seja prejudicada.
Síntese de Síntese de
aminoácidos Oxaloacetato Citrato ácidos graxos
Ciclo do
TCA
Gliconeogênese Malato
Síntese de
α-Cetoglutarato aminoácido
Succinil-CoA
Neurotransmissores
(Cérebro)
síntese
© FabriCO
de heme
Estrutura mitocondrial
Espaço Complexos F0F1
intermembranas
Cristas
Membrana
externa
0,1~0,5 μm
Junções das cristas
Membrana
interna
Matriz
1~2 μm © FabriCO
Desse modo, a membrana externa está delimitada pelo citosol e pelo espaço in-
termembranas, ao passo que a interna separa o espaço intermembranas da matriz.
Na mitocôndria, ainda há um conjunto de complexos enzimáticos e proteínas
transportadoras de elétrons, chamado de cadeia respiratória. A seguir veremos com
mais detalhes como ocorre o transporte de elétrons através da cadeia respiratória
mitocondrial.
Cys
CH3
CH2 ( CH2 CH C CH2 ) H S
3
Cys
HO CH CH3 CH2 CH CH3 CH CH3 CH3
2 3
S
1
H3C 4
CH CH2 H3C CH CH2 H3C CH CH3
N N N N N N
Fe 3+ Fe 3+ Fe 3+
O N N N N N N
8
HC 5
CH3 HC CH3 H3C CH3
7 6
CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2
CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2
COO– COO– COO– COO– COO– COO–
Citocromos
Cys –
S2
Cys
Cys
Cys S2–
Fe
Fe Fe Cys
–
S2
S2– Fe Fe S2
–
– Fe
S2
Cys
Proteínas ferro-enxofre
© FabriCO
[4Fe – 4S]
Cys
Ubiquinona (Q)
CH3O CH3 (totalmente oxidada)
H+ + e–
CH3O R
Radical semiquinoona
(*QH)
CH3O CH3
OH
H+ + e–
OH
CH3O R
Ubiquinol (QH2)
(totalmente reduzido)
CH3O CH3
© FabriCO
OH
4H+
4H+ 2H+
Cyt e
Espaço Cyt e1
intermembrana CuA
FeS
FeS
Membrana Q Cyt α
Cyt bL
mitocondrial
interna FMN Cyt α3 - CuB
FeS Cyt bH
e– e–
Complexo I Complexo II Complexo III Complexo IV
© FabriCO
Matriz 1/2 O2 + 2H+ H2O
NADH + H+ NAD+ Succinato Furamato
ATP sintase
Matriz
β
α α
δ
β β
α
F1
Cabeça
b2
H+
γ
F0
a Poro
C1 C C5
2 C3 C4
H+
© FabriCO
Lado citoplasmático
O cianeto é um veneno tóxico encontrado na natureza. Isso decorre da ligação na citocromo c-o-
xidase. Com isso, a cadeia respiratória e a produção de ATP são bloqueadas, ocasionando morte
celular. O gás cianeto foi usado na II Guerra Mundial como arma de extermínio e nos campos de
concentração.
Complexo II
succinato-CoQ
redutase
Vimos que a transferência dos elétrons oriundos do NADH e FADH2 gera, neces-
sariamente, o bombeamento de prótons para o espaço intermembranas, pois esses
dois processos são acoplados. Entretanto, ainda não ocorreu a síntese do ATP, que é
o objetivo principal da respiração celular. A teoria quimiosmótica, proposta por Peter
Mitchel, explica de que maneira o bombeamento dos prótons está relacionado à sínte-
se de ATP (NELSON; COX, 2014). É o que detalharemos a seguir.
ESPAÇO INTERMEMBRANAS H+
++++++++
Membrana
Força próton-motriz Potencial de
mitocondrial
interna
resultante de membrana ∆V
––––––––
MATRIZ
H+
pH 7
+
H+ H H+
+ +
ESPAÇO INTERMEMBRANAS H+ H+ H+ H+ H H
H+ H + H+ H+ H+ H+
H+ H+ H+ H+ H+ H+
Membrana
mitocondrial
interna
Força próton-motriz
resultante de
Gradiente
de H+ ∆pH
H+ H+
MATRIZ
© FabriCO
H+ pH 7,5
Modelo quimiosmótico
Força próton–motriz
Potencial químico Potencial elétrico
Síntese de ATP impulsionada
∆pH + ∆Ψ
pela força próton-motriz
© FabriCO
(alcalino no lado interno) (negativo no lado interno)
Para que a síntese do ATP ocorra, é essencial que os prótons retornem à matriz
mitocondrial e, dessa forma, impulsionem a síntese pela ATP sintase, por meio da for-
ça próton-motriz. Esta só será gerada a partir do acúmulo de prótons no espaço in-
termembranas, que, por sua vez, só serão bombeados quando ocorrer o transporte de
elétrons através da cadeia respiratória. A fonte desses elétrons são as moléculas trans-
portadoras NADH e FADH2, geradas durante as reações de degradação dos substratos
energéticos (carboidratos, lipídeos e proteínas) e da oxidação do acetil-CoA no ciclo do
ácido cítrico. Portanto, a respiração celular encerra com a síntese do ATP.
Após estudarmos os três estágios da respiração, veremos a seguir, o rendimento
energético da degradação de uma molécula de glicose.
Bioquímica 115
Glicose
2 NADH 5 ATP
2 ATP
2 Piruvato
2 NADH 5 ATP
2 Acetil-CoA
6 NADH 15 ATP
2 NADH2 3 ATP
© FabriCO
2 GTP 2 ATP
Nesse sistema, o NADH citosólico doa seus elétrons e prótons a uma molécu-
la de oxaloacetato, que, por sua vez, é reduzida a malato pela ação catalítica da ma-
lato desidrogenase. O malato, conduzindo os elétrons oriundos do NADH citosólico,
consegue entrar na mitocôndria por meio de um transportador específico, o malato-α-
cetoglutarato. No interior da mitocôndria, ele doa seus elétrons para uma molécula de
NAD+, que é reduzida a NADH em reação catalisada pela malato desidrogenase mito-
condrial. O oxaloacetato passa por reações de transaminação e retorna para o espaço in-
termembrana na forma de aspartato através dos transportadores glutamato-aspartato.
Lançadeira malato-aspartato
Transportador de
Espaço intermembrana Matriz
malato-α-cetoglutarato
OH
OH
–
OOC – CH2 – C – COO– –
+
OOC – CH2 – C – COO–
NAD H NAD+
Malato Malato H
H+ + NADH Malato NADH + H+
Malato
O desidrogenase O
desidrogenase –
–
OOC – CH2 – C – COO– NH3+ OOC – CH2 – C – COO–
NH3+
Oxaloacetato –
OOC – CH2 – CH2 – C – COO– Oxaloacetato
–
OOC – CH2 – CH2 – C – COO–
H
H Glutamato
Glutamato
Aspartato Aspartato
aminotransferase aminotransferase
α-Cetoglutarato α-Cetoglutarato
O O
–
OOC – CH2 – CH2 – C – COO– –
OOC – CH2 – CH2 – C – COO–
H
glutamato-aspartato
Lançadeira glicerol-fosfato
Membrana Membrana
externa interna
Citosol Mitocôndria
Glicerol-3-fosfato Glicerol-3-fosfato
Desidrogenase Desidrogenase
(Citosólica) (Mitocondrial)
© FabriCO
Cadeia respiratória
Referências
ALBERTS, B. et al. Fundamentos da Biologia Celular. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
LODISH, H. et al. Biologia Celular e Molecular. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
MURRAY, R. K. et al. Bioquímica Ilustrada de Harper. 29. ed. Porto Alegre: AMGH/
Artmed, 2013.
NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2014.
SMITH, C.; MARKS, A. D.; LIEBERMAN, M. Bioquímica Médica Básica de Marks: uma
abordagem clínica. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.
VOET, D.; VOET, J. G.; PRATT, C. W. Fundamentos de Bioquímica: a vida em nível
molecular. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
5 Metabolismo de carboidratos
Os carboidratos são fontes de energia preciosas para todos os organismos. A gli-
cose é o principal combustível utilizado para gerar adenosina trifosfato (ATP) em quase
todas as células. Para algumas delas e para tecidos de mamíferos, como o nervoso e os
embrionários, além da medula renal, dos testículos e das hemácias, esse monossacarí-
deo é a única ou a fonte preferencial de energia. Por esse motivo, a taxa de açúcar no
sangue, chamada de glicemia, deve ser mantida muito bem regulada.
Nos animais, a glicose é armazenada em forma de glicogênio em vários tecidos,
principalmente no fígado e no músculo estriado esquelético. Porém, o estoque de gli-
cogênio é limitado. Por isso, é necessário outro metabolismo para auxiliar no contro-
le da glicemia, produzindo glicose a partir de combustíveis que não são carboidratos.
Esse metabolismo é a gliconeogênese, que veremos mais detalhadamente a seguir.
5.1 Gliconeogênese
O processo de gliconeogênese dos mamíferos ocorre principalmente em dois órgãos:
no fígado e nos rins. O fígado é o órgão mais importante para esse metabolismo e, em
menor proporção, a medula renal. No entanto, a gliconeogênese não é exclusiva de mamí-
feros, ocorrendo também em outros animais, vegetais, fungos e micro-organismos.
O fígado é o órgão mais importante no controle glicêmico. Ele é responsável por aproxima
damente 90% da gliconeogênese, ao passo que os rins contribuem com apenas 10% desse
processo.
originados a partir do músculo esquelético podem ser utilizados para produzir glicose
na via gliconeogênica. A tabela a seguir mostra os aminoácidos glicogênicos e os inter-
mediários metabólicos nos quais eles são transformados.
Além dos aminoácidos, a glicose pode ser formada a partir do lactato proveniente
do processo de fermentação lática, do piruvato originado da via glicolítica e do glicerol
oriundo dos triglicerídeos do tecido adiposo.
Glicose
ATP P1
Glicose 6-
Hexoquinase
fosfatase
ADP H2O
Glicose 6-fosfato
Frutose 6-fosfato
ATP P1
Frutose 1,6-
Fosfofrutoquinase-1
bifosfatase-1
ADP H2O
Frutose 1,6-bifosfato
Diidroxicetona- Diidroxicetona-
-fosfato -fosfato
(2) Gliceraldeído-
-3-fosfato
2P1 2P1
2NAD +
2NAD+
2ADP 2ADP
2ATP 2ATP
(2) 3-Fosfoglicerato
(2) 2-Fosfoglicerato
2GDP
(2)Fosfoenolpiruvato PEP-
2ADP
-Carboxiquinase
Piruvato-
2GTP
-quinase
(2) Oxaloacetato
2ATP 2ADP
Piruvato
carboxilase
© FabriCO
2ATP
(2) Piruvato
Na via glicolítica existem reações de quebra da glicose que são irreversíveis e, por
isso, é necessário que existam outras reações com enzimas diferentes, a fim de que se
possa formar glicose a partir do piruvato. Nesse processo também existem reações ca-
talisadas por enzimas alostéricas e regulatórias. Portanto, tanto a glicólise quanto a
gliconeogênese são vias irreversíveis.
A maioria dos precursores da glicose é primeiramente transformada em piruvato
ou até mesmo em intermediários do ciclo do ácido cítrico, como o oxaloacetato. Porém,
o glicerol, proveniente da quebra de triglicerídeos do tecido adiposo, entra na via como
diidroxicetona fosfato. É importante ressaltar que os ácidos graxos liberados na quebra
de triglicerídeos não podem entrar na gliconeogênese, porque os animais não possuem
a maquinaria enzimática necessária para transformar ácidos graxos em glicose.
Para entender melhor a formação de glicose a partir do piruvato, precisamos sa-
ber que a transformação de piruvato em fosfoenolpiruvato é a primeira barreira en-
frentada, sendo considerada a primeira etapa da gliconeogênese. Lembre-se de que
o piruvato é formado no citosol a partir da via glicolítica e, nesse caso, ele deve ser
transportado para a matriz mitocondrial. Outra fonte de piruvato é a reação de transa-
minação do aminoácido alanina que ocorre na matriz da mitocôndria, na qual o grupo
amino da alanina é transferido para um α-cetoácido carboxílico e o esqueleto de car-
bono resultante é o piruvato. Em ambos os casos, o piruvato formado deve estar dis-
ponível na matriz da mitocôndria para o início da gliconeogênese.
Em seguida, a piruvato carboxilase, uma enzima presente na matriz da mito-
côndria e que precisa da biotina para sua catálise, converte o piruvato a oxaloacetato.
Nessa reação, existe a participação da coenzima biotina, que serve como um ativador
do bicarbonato de forma que seja possível adicionar um grupo carboxila no piruvato.
Na mitocôndria, não existe nenhum transportador de oxaloacetato. Por esse
motivo, é necessário transformá-lo em malato antes de ser levado ao citosol. Essa
transformação é catalisada pela malato desidrogenase mitocondrial, utilizando nicoti-
namida adenina dinucleotídeo (NADH), como mostrado na figura a seguir.
OXALOACETATO MALATO
© FabriCO
OXALOACETATO FOSFOENOLPIRUVATO (PEP)
Observe que, nessa fase da gliconeogênese, foram utilizados dois compostos ri-
cos em energia: GTP e ATP. Note também que o CO2 liberado pelo oxaloacetato para
formar PEP é o mesmo que foi adicionado para formá-lo. Nesse mecanismo, ocorre
transferência de NADH mitocondrial para o citosol pela sequência de transformações
oxaloacetato-malato-oxaloacetato.
Por outro lado, se o precursor para a glicose é o lactato, existem outras manei-
ras possíveis de transformar piruvato em PEP. Nesse caso, a transformação de lactato
a piruvato forma NADH no citosol e, por isso, não é necessária a importação de agen-
tes redutores, como descrito anteriormente. Uma possibilidade é a transformação de
oxaloacetato em aspartato dentro da mitocôndria e, após a saída do aspartato, este é
convertido em oxaloacetato no citosol. A outra possibilidade envolve a transformação
do oxaloacetato a PEP pela catálise da fosfoenolpiruvato carboxiquinase mitocondrial.
Depois disso, o PEP é levado para o citosol a fim de continuar a gliconeogênese. A fi-
gura a seguir mostra esse processo.
Bioquímica 126
PEP
PEP-
-carboxiquinase CO2
citosólica
Oxaloacetato
Malato- NADH + H+
-desidrogenase-
-citosólica
NAD+
Malato
Malato PEP
NAD+ CO2
Malato-
PEP-
-desidrogenase-
carboxiquinase
-mitocondrial
NADH + H+ mitocondrial
Oxaloacetato Oxaloacetato
ADP
Piruvato- Piruvato-
-carboxilase -carboxilase ATP
CO2 CO2
Piruvato Mitocôndria Piruvato
citosol
Piruvato Piruvato
NADH + H+
Lactato-
-desidrogenase
NAD+
© FabriCO
Lactato
H H HO OH H2O H H HO OH
4 3 4 3
OH H OH H
© FabriCO
FRUTOSE–1,6–BIFOSFATO FRUTOSE–6–FOSFATO
Lúmen Pi Pi GLUT2
do RE
Transportador Concentração
de Pi (T3) sanguínea de
© FabriCO
glicose aumentada
O controle da glicemia ocorre por estimulação hormonal. Quando a glicemia aumenta, o pân-
creas libera insulina e pouco tempo depois a glicemia diminui. Quando a glicemia diminui, o
pâncreas libera glucagon, promovendo o aumento posterior da glicemia.
Glicólise Glicose
Gliconeogênese
(insulina) (glucagon e adrenalina)
Frutose 6-fosfato
PEP-carboxiquinase
F 1,6-BP (+) Piruvato
ATP (–) Oxaloacetato
quinase
Alanina (-) Piruvato-
carboxilase Acetil- CoA (+)
ADP (–)
© FabriCO
Piruvato
estar pensando: quais são as fontes de lactato? Várias células, como as hemácias, pro-
duzem lactato. Lembre que as hemácias não possuem mitocôndrias e, por esse moti-
vo, a transformação de piruvato a lactato é extremamente importante para reciclar o
NAD+ (estado de oxidação da nicotinamida adenina dinucleotídeo), consumindo NADH.
Sem essa reação, o NAD+ da hemácia seria depletado (acabaria) e a via glicolítica fica-
ria inibida, consequentemente as hemácias não produziriam ATP.
Outra fonte importante de lactato é a atividade muscular intensa sem o devido
suprimento de oxigênio. Nessas condições, o músculo trabalha em anaerobiose, ou
seja, sem oxigênio. Uma parte do lactato produzido pelo músculo é lançada na corren-
te sanguínea e é transportada para o fígado, onde ocorre a gliconeogênese, sendo que
a glicose resultante retorna ao plasma sanguíneo para nutrir os tecidos. Veja na figura
a seguir um esquema do Ciclo de Cori.
Ciclo de Cori
Lactato Glicogênio
ATP
Lactato Glicose
sanguíneo sanguínea
ATP
Lactato Glicose
5.2 Glicogênese
A glicose é guardada na forma de glicogênio tanto nos animais quanto em muitos
micro-organismos. Nos animais, o fígado e o músculo estriado esquelético são os prin-
cipais locais de armazenamento desse polissacarídeo, mas ele também aparece em
quase todas as células. No músculo, representa de 1 a 2% do peso total e, no fígado,
aproximadamente 10%. Se a glicose entrar nessas células e permanecer solta no cito-
plasma, a concentração do citosol passa para 0,4 M, aumentando muito a osmolarida-
de da célula. Armazenada na forma polimérica, a concentração diminui para 0,01 M. O
armazenamento do glicogênio ocorre em grandes grânulos citosólicos, nos quais, in-
ternamente, está a proteína glicogenina.
Reação da fosfoglicomutase
CH2O – P CH2OH
O H O
H H H
H H
OH H OH H
HO OH HO O– P
H OH H OH
© FabriCO
Reação da UDP-glicose-pirofosforilase
GRUPO GLICOSIL
CH2OH
CH2OH O
P i H H
UT PP H
O
H H OH H URIDINA DIFOSFATO
H
HO O
OH H
O O
HO O– P H OH HN
–
O P O P O
–
H OH
O N
O O CH2
GLICOSE 1-FOSFATO O
H H
H H
OH OH
© FabriCO
UDP-GLICOSE
Extremidade
Glicogênio sintase
não redutora da
UDP
cadeia do glicogênio
com n resíduos
(n>4)
CH2OH CH2OH CH2OH
O O O
H H H H H H
H H H
Extremidade 4 1 4 1 4 1
não redutora OH H OH H OH H
HO
O O O
H OH H OH H OH
© FabriCO
Glicogênio alongado com
n +1 resíduos
o o o o o o o o o o o
Núcleo do
HO o o o o o o o o o o glicogênio
Extremidade (α1 4) Enzima de ramificação
não redutora
do glicogênio
o o o o o o o
Extremidade (α1 6) Ponto de
HO o o o o o o o
não redutora ramificação
o o o o
Núcleo do
© FabriCO
Extremidade
HO o o o glicogênio
não redutora
5.3 Glicogenólise
O glicogênio é um polissacarídeo que contém uma quantidade variável de molé-
culas de glicose, em ligações α(1→4) e α(1→6). Esse polissacarídeo serve para armaze-
nar as moléculas de glicose no interior da célula animal, principalmente no hepatócito
e no miócito. Quando há uma diminuição da glicemia em virtude do jejum, o glicogê-
nio armazenado no fígado é degradado e as moléculas de glicose são liberadas contri-
buindo para a manutenção da glicemia, fato esse, que preserva o funcionamento de
algumas células, como as hemácias, que são dependentes exclusivamente de glicose,
e o sistema nervoso, que tem a glicose como combustível preferencial. O processo de
quebra do glicogênio é de extrema importância para o organismo dos animais e é cha-
mado de glicogenólise.
É importante salientar que o enquanto o glicogênio hepático supre outras células
com glicose, o glicogênio armazenado no músculo é a principal fonte de glicose para o
miócito. Essa glicose é utilizada na via glicolítica para a produção de ATP.
5 O O O
H H H H H H
H H H
4 1
OH H OH H OH H
HO O O O
3 2
H OH H OH H OH Cadeia de glicogênio
Pi (glicose)n
Glicogênio-
-fosforilase
Extremidade
não redutora
6
CH2OH CH2OH CH2OH
5
O O O
H H H H H H
H H H
4 1 O –
+
OH H OH H OH H
HO HO
3 2 O P O– O O
H OH H OH H OH
O
Glicogênio com um
© FabriCO
resíduo de glicose a menos
(glicose)n – 1
Atividade da transferase
atividade de
transferase da
enzima
desramificadora
© FabriCO
Fonte: NELSON; COX, 2014, p. 614. (Adaptado).
Membrana
plasmática
PI-3K PIP3 PIP2
P PDK-1
OH
IRS-I IRS-I
PKB
Ativa
P
GSK3
GSK3
Inativa
OHOH
P
P OH
Glicogênio P Glicogênio
sintase b sintase a
Inativa Ativa
© FabriCO
PP1
3P1
Referências
BERG, J. M.; TYMOCZKO, J. L.; STRYER, L. Bioquímica. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004.
CAMPBELL, M. K; FARRELL, S. O. Bioquímica Combo. 5. ed. São Paulo: Thomson
Cengage Learning, 2007.
DEVLIN, T. M. Manual de Bioquímica com Correlações Clínicas. 7. ed. São Paulo:
Blucher, 2011.
HALL, J. E. Guyton & Hall Tratado de Fisiologia Médica. 12. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2011.
HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica Ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed,
2012.
HENEINE, I. F. Biofísica Básica. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2010.
KOEPPEN, B. M.; STANTON, B. A. Berne & Levy Fisiologia. 6. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2009.
NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2014.
SILVERTHORN, D. U. Fisiologia Humana: uma abordagem integrada. 5. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2010.
VOET, D.; VOET, J. G.; PRATT, C. W. Fundamentos de Bioquímica: a vida em nível
molecular. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
6 Lipídeos e lipoproteínas
Os lipídeos são biomoléculas que possuem importantes funções nos organismos vi-
vos. Podem atuar como moléculas de reserva de energia, elementos estruturais das
membranas biológicas, hormônios, vitaminas, agentes emulsificantes, mensageiros intra-
celulares e isolantes térmicos. São caracterizados quimicamente por sua baixa solubilidade
em água e alta solubilidade em solventes orgânicos, como álcool, éter e acetona.
Como essa propriedade química dos lipídeos é importante no ambiente celular? A di-
ficuldade de solubilização em água é relevante, pois gera uma barreira biológica de separa-
ção entre o meio externo das células, essencialmente aquoso, e o interno, também aquoso,
conhecido como membrana celular.
Existem diferentes formas de classificação dos lipídeos, sendo que a mais utilizada os
diferencia em relação a sua função biológica. Os lipídeos que possuem função estrutural,
como os fosfolipídeos constituintes das membranas biológicas, são denominados lipídeos
estruturais ou funcionais e aqueles utilizados como reservas energéticas, como os triglice-
rídeos, são chamados lipídeos de armazenamento.
Também podemos classificar os lipídeos de acordo com a presença ou não de ácidos
graxos na estrutura lipídica: aqueles que possuem ácido graxo são chamados saponificá-
veis por reagirem com bases fortes em meio alcoólico, formando sabão, e aqueles que não
possuem ácido graxo são conhecidos como não saponificáveis.
Neste capítulo, veremos as características e as propriedades de cada classe de lipí-
deos e falaremos sobre as lipoproteínas, estruturas especializadas no transporte de lipí-
deos pelo sangue. No próximo tópico, vamos abordar os lipídeos de armazenamento.
O 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
1
C
–
O
© FabriCO
A seguir veremos de que maneira os ácidos graxos podem ser classificados e qual
é seu papel estrutural na formação dos triacilgliceróis.
Bioquímica 147
Forma trans
(ácido elaídico)
120°
10 H 10 H
C C
Forma Cis
(ácido oleico)
C C
9 H H 9
110°
© FabriCO
1
COO- COO-
Gorduras trans são ácidos graxos insaturados que possuem dupla ligação com configura-
ção trans. Eles são produzidos geralmente pela indústria e o consumo acima do recomenda-
do provoca aumento dos níveis da lipoproteína LDL, importante fator de risco para doenças
cardiovasculares.
Cadeia
hidrocarbonada
© FabriCO
Os ácidos graxos também podem ser classificados pelo tamanho de suas cadeias.
Há os de cadeia curta, com quatro a seis carbonos, os de cadeia média, (entre sete
e doze carbonos), os de cadeia longa (entre treze e dezoito carbonos) e os de cadeia
muito longa (possuem mais de dezoito carbonos).
A terceira forma de classificar um ácido graxo diz respeito a sua necessidade na
dieta. Nesse caso, temos os essenciais e os não essenciais. Os essenciais são aqueles
que o nosso organismo não consegue produzir, por isso precisamos obtê-los por meio
da dieta. Os ácidos linoleico e linolênico, conhecidos também como ômegas 6 e 3, res-
pectivamente, são importantes exemplos de ácidos graxos essenciais. Já os não essen-
ciais podem ser produzidos e não têm a dieta como única fonte de obtenção.
Bioquímica 149
6.1.3 Triacilgliceróis
Os triacilgliceróis são formados a partir da reação das hidroxilas de uma molécu-
la de glicerol com três ácidos graxos. A ligação dos ácidos graxos à molécula de glicerol
ocorre por meio de reações de esterificação com consequente formação de ligações
éster. Portanto, as moléculas de triacilgliceróis são essencialmente apolares e hidrofó-
bicas, com baixa solubilidade em água.
Estes triacilgliceróis, na maioria das vezes, são mistos, ou seja, formados por áci-
dos graxos diferentes. A nomenclatura dessas moléculas é realizada colocando o nome
do ácido graxo e sua posição na molécula de glicerol. Por exemplo: 1-palmitoleil-2-lino-
leoil-3-estearoilglicerol, pois esse triacilglicerol contém um resíduo do ácido graxo pal-
mitoleico na posição 1, do resíduo do ácido linoleico na posição 2 e do resíduo do ácido
esteárico na posição 3. Perceba que a terminação eico ou ico é substituída por oil quan-
do o ácido graxo é incorporado ao glicerol. A figura a seguir ilustra essa estrutura.
2 C1 O C1 O C1 O
CH OH
CH2 CH2 CH2
3
CH2 OH CH2 CH2 CH2
CH CH CH2
1
CH2 O C R1 9 9
CH2
O CH CH2
CH2 CH CH2
2
CH O C R2
CH2 CH CH2
O 12
18CH3 18CH3
CH2 CH2
© FabriCO
1-palmitoleil-2-linoleoil-
-3-estearoilglicerol
A função principal dessas moléculas nos animais é atuar como reserva de energia.
Elas são armazenadas em grandes quantidades em células chamadas adipócitos, que
estão distribuídas em diversas regiões do corpo. Também podem atuar como isolantes
térmicos e proteger os organismos contra impactos.
6.2.1 Fosfolipídeos
Fosfolipídeos são lipídeos constituintes das membranas biológicas que apresentam
um grupamento fosfato em sua estrutura. Existem dois tipos de fosfolipídeos: aqueles
formados por glicerol (glicerofosfolipídeos) e os formados por esfingosina (esfingoli-
pídeos). Nos glicerofosfolipídeos, o grupamento fosfato está ligado a uma molécula de
álcool e a uma molécula de glicerol dissubstituída com ácidos graxos. Esse grupamento
fosfato, mais o álcool, confere a essa região da estrutura uma alta polaridade.
Os esfingolipídeos apresentam uma molécula de esfingosina ligada a uma molécula
de ácido graxo e a um grupamento polar. As esfingomielinas são importantes represen-
tantes dessa classe, sendo utilizadas como formadores das células que formam as ba-
inhas de mielina dos axônios.
Bioquímica 151
Estrutura de fosfolipídeos
Fosfolipídeos
Glicerofosfolipídeos Esfingolipídeos
Ácido graxo
Esfingosina
Glicerol
© FabriCO
PO4 Álcool PO4 Colina
Cabeça
hidrofílica Bicamada lipídica
Fosfolipídeo
Membrana celular
Caudas
hidrofóbicas
Célula Proteína
A B
© FabriCO
Fonte: © CLUSTERX / / Shutterstock. (Adaptado).
6.2.2 Glicolipídeos
Os glicolipídeos são os lipídeos de membrana que apresentam açúcares em suas
estruturas. Podem ser divididos em galactolipídeos (sulfolipídeos) e glicoesfingolipí-
deos. Os galactolipídeos contêm resíduos de galactose ligados a uma molécula de gli-
cerol substituída por dois ácidos graxos. Caso, em vez de galactose, exista uma glicose
sulfatada, a denominação correta é sulfolipídeo. Os galactolipídeos e os sulfolipídeos
são abundantes nas células vegetais.
Nos glicoesfingolipídeos, a esfingosina está ligada a um ácido graxo e um mo-
nossacarídeo ou oligossacarídeo. Entre os glicoesfingolipídeos existem aqueles que
contêm monossacarídeos em sua estrutura e são chamados de cerebrosídeos e globo-
sídeos. Os esfingolipídeos que possuem oligossacarídeos em sua estrutura se chamam
gangliosídeos. Essas moléculas desempenham importantes funções, como o reconhe-
cimento celular, e estão distribuídas nos tecidos neurais. Na figura a seguir estão re-
presentadas as diferentes estruturas dos glicolipídeos.
Bioquímica 153
Ácido graxo
Esfingosina
Glicerol
Ácido graxo Ácido graxo
Mono ou Mono ou
© FabriCO
(SO4–)
oligossacarídeo dissacarídeo
Todos os lipídeos estruturais que estudamos até agora possuem ácidos graxos em
sua estrutura. A seguir veremos uma classe muito especial de lipídeos que não contém
ácidos graxos em sua composição, os esteroides.
6.2.3 Esteroides
Os esteroides são os lipídeos que não apresentam ácidos graxos em suas estrutu-
ras. Estão presentes na maioria dos eucariotos e são derivados de um núcleo comum,
chamado ciclopentanoperhidrofenantreno ou núcleo esteroide. Este é constituído por
quatro anéis conjugados, nomeados A, B, C e D. A estrutura química do núcleo esteroi-
de com a numeração dos átomos de carbono está indicada na figura a seguir.
Bioquímica 154
Núcleo esteroide
18
12 17
11 13 16
1
19
C D
9 15
14
2 8
10
A B
3 7
© FabriCO
5
4 6
6.2.4 Colesterol
O colesterol é um esteroide de grande importância para as células animais, pois
está presente na constituição das membranas biológicas, sendo também precursor de
várias moléculas, como os hormônios sexuais, os mineralocorticoides, o cortisol e tam-
bém os sais biliares. Existem duas fontes possíveis para obtenção de colesterol: a endó-
gena e a exógena. Na endógena, o colesterol é obtido por uma via metabólica específica
de síntese e tem como precursor o mevalonato; na via exógena, a fonte é a dieta.
Sua estrutura é composta pelo núcleo esteroide formado por quatro anéis fundidos,
aos quais estão ligados uma cadeia lateral alquila apolar, no carbono 17, e um grupo ca-
beça polar, no carbono 3. Esse grupo cabeça, representado por uma hidroxila, possui um
caráter polar, que confere à molécula a capacidade de interagir com a água. Entretanto,
o restante da molécula é essencialmente hidrofóbico. Sendo assim, o colesterol é anfipá-
tico, ou seja, consegue interagir com a água e com compostos hidrofóbicos. Na figura a
seguir, é possível observar a estrutura do colesterol.
Bioquímica 155
Estrutura do colesterol
Cadeia lateral alquila
H 22 24 26
21
20 23 25
12 18 H
17 27
11
C 13 16
1 19 H 14 D
9 15
2
10 8
A H H
3 5 B 7 Núcleo esteroide
HO
© FabriCO
Grupo-cabeça 4 6
polar
H H H H
O O
Testosterona Cortisol
OH O OH
O
HO
H
H
H H H
H
HO
© FabriCO
O
β-Estradiol Aldosterona
6.3 Lipoproteínas
Vimos que existem diversos lipídeos nos organismos, que podem ser classificados
de acordo com sua função. O que os caracteriza quimicamente é sua baixa solubilidade
em água. Agora aprenderemos de que maneira ocorre o transporte dessas moléculas
pelo organismo, tendo em vista que o sangue é um ambiente essencialmente aquoso e
os lipídeos não são solúveis nesse meio.
Para o transporte dos lipídeos existem estruturas específicas chamadas de lipo-
proteínas, que são formadas por lipídeos e por proteínas que apresentam solubilidade
em água. A seguir veremos com mais detalhes a estrutura das lipoproteínas.
Estrutura de lipoproteínas
Apoproteína B-100
Fosfolipídeo
Ester de colesteril
Triglicerídeo
© FabriCO
6.3.2 Apoproteínas
As apoproteínas ou apolipoproteínas são estruturas proteicas, presentes nas li-
poproteínas, que possuem importantes funções biológicas. Elas são responsáveis pela
solubilização dos lipídeos no plasma, pois são essencialmente hidrossolúveis. Também
respondem pela ativação ou inibição de algumas enzimas importantes para o metabo-
lismo das lipoproteínas. As lipases lipoproteicas são ativadas pela apoproteína C-II e
inibidas pela apoC-III; a lecitina colesterol acil-transferase (LCAT) é ativada por apoA-I
e inibida por A-II.
Além disso, essas apolipoproteínas também são fontes de reconhecimento celu-
lar. Por exemplo, a apoproteína B-100 é o sítio de reconhecimento pelos hepatócitos
e células do tecido periférico para que a lipoproteína LDL possa ser retirada da circula-
ção por endocitose.
Agora que já vimos a estrutura das lipoproteínas, estudaremos a seguir a função
de cada uma delas no transporte e no metabolismo de lipídeos no organismo.
Reciclagem de
Lúmen do Lipase e Monoacilgliceróis e ácidos graxos
2 sais biliares
intestino delgado colipase 3a movem-se para fora das micelas
Micelas e entram nas células por difusão.
5
Líquido
interstical
Capilar Lactífero
Linfa
para a
veia
© FabriCO
cava
Formação da VLDL
RER
N
REL
Canalículo
G biliar
VLDL
Janela
ET
Célula
endotelial
© FabriCO
E
Lúmen do sinusoide sanguíneo
Lipoproteína LDL
Éster de
Apolipoproteína
colesteril
B-100
Fosfolipídeo
Colesterol não
esterificado
© FabriCO
Você deve ter percebido que a principal apolipoproteína da LDL é a B-100. Essa apoli-
poproteína possui receptores específicos nas células periféricas e nos hepatócitos. A figura
a seguir demonstra o processo de retirada da LDL da circulação por endocitose.
O receptor de LDL
2 liga apoB-100 da LDL,
iniciando a endocitose.
3 LDL é internalizado
4 O receptor de LDL é em um endossomo.
segregado em
Golgi
vesículas e reciclado
na superfície.
Lisossomo
1 O receptor de LDL
RE
sintetizado no retículo 5 O endossomo com LDL
endoplasmático rugoso fusiona-se com o lisossomo.
move-se para a Enzimas líticas no lissosomo
membrana plasmática via 6
degradam apoB-100 e ésteres de
sistema de Golgi. colesteril, liberando aminoácidos,
ácidos graxos e colesterol.
Aminoácidos Ácidos Colesterol
graxos
Núcleo Gotículas de
gordura © FabriCO
A LDL será retirada da circulação quando a apoB-100 se ligar aos seus receptores
hepáticos ou do tecido periférico e sofrer recaptação por endocitose. Qualquer altera-
ção no receptor para B-100 no hepatócito e/ou alteração da conformação da apoB-100
impactará diretamente na remoção da LDL da circulação sanguínea.
Esse colesterol que retorna ao fígado pela LDL é fundamental para controlar a
síntese endógena de colesterol nesse órgão. O excesso de colesterol intracelular inibe
a enzima reguladora da síntese de colesterol, hidroximetilglutaril (HMG) colesterol re-
dutase e também inibe, em nível de expressão proteica, a síntese de receptores hepá-
ticos de apoB-100.
A lipoproteína de alta densidade (HDL) é responsável pelo transporte reverso do
colesterol, ou seja, é a única lipoproteína que retira o colesterol em excesso nas células
periféricas e leva até o fígado, onde esse lipídeo pode ser utilizado como precursor, por
exemplo, para a síntese de sais biliares.
A HDL é produzida no intestino delgado e no fígado, com um pequeno conteúdo
de colesterol livre e diversas apoproteínas, entre elas apoA-I, apoA-II, apoA-IV, entre
outras. Além disso, as HDL contêm em sua superfície a enzima LCAT, responsável pela
formação dos ésteres de colesteril.
À medida que a HDL transita pelos tecidos periféricos, ela capta o colesterol das
células e também das partículas de quilomícrons e VLDL presentes na circulação san-
guínea. O colesterol livre é convertido em ésteres de colesteril por meio da catálise da
LCAT e esse éster é transportado no interior das HDL.
A retirada dos ésteres de colesteril transportados pela HDL ocorre no momento
em que a lipoproteína interage com receptores presentes no fígado, chamados de SR-
BI. Os lipídeos são transferidos para o interior do hepatócito e a HDL retorna para a
circulação, onde faz a retirada de mais moléculas de colesterol das células e das outras
lipoproteínas. A figura a seguir mostra o transporte de colesterol e triacilgliceróis reali-
zado pelas lipoproteínas plasmáticas.
Bioquímica 165
Vesícula
biliar
IDL
Tecido adioso
Grandes gotas VLDL
Estômago Lipase
de lipídeos lipoproteica
Intestino
Remanescentes
delgado
de quilomícrons
ricos em colesterol
Micelas
Triacilglicerol
Células musculares
Vaso
Rota exógena
sanguíneo
Rota endógena
Ácidos graxos Linfa
© FabriCO
Quilomícrons intestinal
6.4.4 Aterogênese
A aterosclerose é a doença caracterizada pela formação da placa ateroscleró-
tica. É definida como uma doença inflamatória crônica, multifatorial, que ocorre em
resposta a uma agressão endotelial, principalmente em artérias de médio e grande ca-
libres (XAVIER, 2013). A formação dessa placa ateroesclerótica ou aterogênese ocorre
após uma lesão no endotélio. Essa lesão estimulará uma resposta inflamatória crônica,
que culminará, após uma série de etapas, na formação da placa.
Bioquímica 166
Os principais fatores de risco para a formação dessa placa são hipertensão arte-
rial, tabagismo e níveis aumentados da lipoproteína LDL. A LDL possui um papel fun-
damental na formação da placa, pois, após a lesão endotelial, essa lipoproteína entra
na camada íntima das artérias, principalmente nas de médio e grande calibres. No in-
terior da camada íntima, ela não consegue retornar à circulação e acaba sofrendo rea-
ções oxidativas mediadas por espécies reativas de oxigênio e gerando uma partícula
chamada de LDLoxidada (LDLox). Essa estrutura oxidada é reconhecida pelo nosso sis-
tema imune como estranha e ocorre o desenvolvimento de uma resposta inflamatória
em reação a sua presença na camada íntima arterial.
Dessa forma, são atraídas células de defesa para a região, como linfócitos e mo-
nócitos. Estes se diferenciam em macrófagos que, por sua vez, fagocitarão as LDLox.
Esses macrófagos que contêm partículas de LDLox em seu interior são denominados
células espumosas.
Além das células de defesa, ocorre a migração e a proliferação das células muscu-
lares lisas da camada média, que formarão uma capa fibrosa ao redor da placa ateros-
clerótica. Portanto, uma placa aterosclerótica é formada por células, restos celulares e
de matriz extracelular e em seu interior existem lipídeos e um núcleo necrótico.
O desenvolvimento dessa placa está demonstrado na figura a seguir:
Macrófago
Célula Célula espumosa carregada
espumosa
com colesterol
1 3 4 5
Lipoproteínas oxidadas Os monóctios se As células espumosas Colesterol livre acumula-se
© FabriCO
Dessa forma, o excesso de LDL se deposita na camada íntima das artérias e so-
fre modificações oxidativas que formarão a placa aterosclerótica, que poderá ocasio-
nar a obstrução da passagem de sangue ou provocar o rompimento dessa estrutura,
com extravasamento de seu conteúdo altamente trombogênico para a circulação san-
guínea. Sendo assim, a placa aterosclerótica é a maior causa de infarto agudo do mio-
cárdio e de acidentes vasculares cerebrais.
Neste capítulo, vimos que os lipídeos são biomoléculas com importantes funções
na formação de estruturas e componentes celulares, como os fosfolipídeos, glicolipí-
deos e esteróis. Além disso, os lipídeos são a mais importante reserva de energia dos
animais na forma de triacilgliceróis. Também aprendemos sobre as lipoproteínas, es-
truturas fundamentais para o transporte de lipídeos na circulação sanguínea e impor-
tantes para o entendimento do metabolismo lipídico.
Bioquímica 168
Referências
ALBERTS, B. et al. Fundamentos da Biologia Celular. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
MURRAY, R. K. et al. Bioquímica Ilustrada de Harper. 29. ed. Porto Alegre: AMGH/
Artmed, 2013.
NELSON, L. D.; COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2014.
SMITH, C.; MARKS, A. D.; LIEBERMAN, M. Bioquímica Médica Básica de Marks: uma
abordagem clínica. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.
VOET, D.; VOET, J. G.; PRATT, C. W. Fundamentos de Bioquímica: a vida em nível mole-
cular. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
XAVIER, H. T. et al. V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da aterosclero-
se. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Rio de Janeiro, v. 101, n. 4, Suplemento 1, out.
2013. Disponível em: <publicacoes.cardiol.br/consenso/2013/V_Diretriz_Brasileira_de_
Dislipidemias.pdf>. Acesso em: 11/12/2015.
7 Metabolismo de lipídeos e proteínas
Você sabia que os lipídeos e as proteínas são biomoléculas fundamentais para os
seres vivos? Os primeiros possuem funções estruturais e também representam a mais
importante reserva energética dos animais. As proteínas, por sua vez, são moléculas
que apresentam a maior diversidade de funções entre todas as biomoléculas, desde a
função estrutural até a catalítica. Para os seres humanos, elas não possuem a função
de reserva de energia, mas em algumas condições específicas, como o jejum prolonga-
do, por exemplo, podem ser utilizadas para a geração de energia.
Neste capítulo, veremos as principais reações metabólicas relacionadas a essas
biomoléculas. As reações de degradação de lipídeos são fundamentais como fonte
de energia em situações de déficit energético. Já as reações catabólicas das proteínas
acontecem na renovação normal de proteínas celulares e durante o jejum prolonga-
do. Também estudaremos as reações anabólicas dos ácidos graxos, triacilgliceróis e o
mais importante esterol das nossas células: o colesterol.
Estudaremos ainda o destino do grupamento amino, oriundo das reações de oxida-
ção dos aminoácidos, e sua eliminação na forma de ureia. O primeiro tópico deste capí-
tulo abordará uma via metabólica geradora de energia muito importante: a lipólise.
As reações catabólicas são aquelas que envolvem a degradação de moléculas maiores em pro-
dutos menores, com a liberação de energia. O inverso disso é chamado de anabolismo, no qual
moléculas menores são unidas e formam uma estrutura maior. No anabolismo, normalmente
há consumo de energia.
7.1 Lipólise
A lipólise é o processo que envolve a degradação das moléculas de triacilglicerol
com o intuito de gerar energia. Quando quebradas, elas produzem ácidos graxos livres
e glicerol. Os ácidos graxos livres originarão as moléculas de acetil-CoA, que poderão
ser oxidadas no ciclo do ácido cítrico e gerar NADH e FADH2 , que, por meio da fosfori-
lação oxidativa, originarão as moléculas de ATP. Nos países industrializados, em média
40% das necessidades energéticas diárias são supridas pela utilização dos triacilglice-
róis como fonte de energia e em alguns órgãos, como o fígado, pode chegar a 50%
(NELSON; COX, 2014).
A seguir mostraremos de que maneira ocorre a mobilização dos triacilgliceróis
armazenados nos adipócitos, a degradação dessas estruturas e como esse processo é
regulado por sinalização hormonal.
Bioquímica 170
Degradação do
Degradação do triacilglicerol
triacilglicerol
Triacilgliceróis
Glicerol
ác. graxo Triacilglicerol
lipase
glicerol
ác. graxo +
ConversãoConversão
do glicerol em intermediários
do glicerol em intermediários
Glicerol
Glicerol-quinase
L-Glicerol-3-fosfato
Glicerol-3-fosfato-desidrogenase
Diidroxicetona fosfato
Triose-fosfato-isomerase
D -Gliceraldeído-3-fosfato
© FabriCO
© FabriCO
acil-CoA
sintetase
Após a ativação do acil-CoA graxo (R-CO-SCoA), ele passa pela membrana mito-
condrial externa e se liga à carnitina – transportador específico de grupamentos acil
ativados – por meio da ação da enzima carnitina acil-transferase I. A reação do acil-
-CoA graxo com a carnitina forma a acil-carnitina (R-CO-carnitina). Na membrana mi-
tocondrial interna existe o transportador acil-carnitina/carnitina, que tem a função de
levar o acil para o interior da matriz mitocondrial, onde o acil-carnitina é convertido
em acil-CoA graxo (R-CO-SCoA) novamente por meio da reação com uma molécula de
coenzima A mitocondrial. Essa reação é catalisada pela carnitina acil-transferase II. Na
figura a seguir você pode conferir o transporte do acil-CoA para a matriz mitocondrial.
Bioquímica 173
Carnitina-
O aciltransferase ll O
R C R C
S-CoA S-CoA
4 Carnitina
O 3
1 R C
Carnitina 2 O
R C CoA-SH
CoA-SH
Carnitina
© FabriCO
Carnitina-
Transportador
aciltransferase l
Na terceira etapa da degradação dos ácidos graxos, ocorre uma reação de oxidação no carbo-
no β do grupamento acil. Essa é a reação que nomeia a via metabólica como β-oxidação.
H
R CH2 C C C S-CoA
H O trans-∆2-
Enoil-CoA
H2O
Enoil-CoA-
hidratase-
OH
R CH2 C CH2 C S-CoA
L-β-Hidroxiacil-CoA
H O
β-hidroxiacil-CoA-
NAD+
-desidrogenase
NADH + H+
Acil-CoA Acetil-CoA
2 acetilCoA
Bioquímica 176
Para a degradação de ácidos graxos com dupla ligação, é necessário que aconte-
çam duas etapas extras catalisadas por uma enzima isomerase e uma redutase. Isso é de
fundamental importância, pois a maioria dos nossos ácidos graxos é insaturada. Grande
parte deles possui cadeia com número par de carbonos, entretanto, alguns possuem ca-
deia ímpar e também precisam ser oxidados. Nesse caso, a β-oxidação acontece normal-
mente, mas no final sempre ocorrerá a formação do propionil-CoA, uma molécula com
três átomos de carbono. Esse propionil-CoA será convertido a partir de uma série de rea-
ções a succinil-CoA e poderá ser utilizado no ciclo do ácido cítrico.
7.1.4 Cetogênese
Determinadas condições metabólicas, como o jejum prolongado ou o diabetes
mellitus descompensado, induzem a um aumento expressivo das reações de degrada-
ção de ácidos graxos. Quando isso ocorre, o fígado produz, a partir dos ácidos graxos,
excesso de acetil-CoA, e, por isso, as estruturas chamadas de corpos cetônicos são
produzidos no hepatócito, vão para a circulação sanguínea e são exportados a outros
tecidos a fim de serem utilizados como fonte de energia para outras células.
Bioquímica 177
Tiolase
CoASH
O
CH3 C
CH2
C=O Acetoacetil-CoA
SCoA
O
CH3 C SCoA
HMG-CoA-sintase
CoASH
OH O
CH3 C CH2 C O
CH2
3-Hidroxi-3-
C O -metilglutaril-CoA
(HMG CoA)
SCoA
HMG-CoA-liase
Acetil-CoA
O O
CH3 C CH2 C O Acetoacetato
D-β-Hidroxibutirato- NADH
desidrogenase
Acetoacetato-decarboxilase
+ H+
NAD+ CO2
OH O
O
CH3 CH CH2 C CH3 C CH3
O
© FabriCO
D-β-Hidroxibutirato Acetona
Após serem produzidos no fígado, os corpos cetônicos entram nas células por in-
termédio da circulação e são utilizados como fonte de acetil-CoA para o ciclo do áci-
do cítrico. Nas células, o β-hidroxibutirato é reconvertido em acetoacetato e, por
meio de uma série de reações, origina duas moléculas de acetil-CoA (SMITH; MARKS;
LIEBERMAN, 2007). Na figura a seguir, é possível observar a produção e a exportação
de corpos cetônicos.
Acetoacetato
β-Hidroxibutirato
Corpos cetônicos
lo
scu
Mú
Acetoacetato
7.2 Lipogênese
A lipogênese abrange todos os processos que dizem respeito à síntese de lipídeos.
São reações anabólicas, que envolvem gasto de energia. Nós somos capazes de sin-
tetizar os lipídeos com função estrutural, como o colesterol e os fosfolipídeos, e tam-
bém aqueles com função de armazenamento, os triacilgliceróis. Veremos na sequência
as vias de síntese de ácidos graxos, de triacilglicerol e de colesterol. Embora esses lipí-
deos tenham funções fisiológicas distintas, o precursor para sua síntese é o mesmo, o
acetil-CoA. Na figura a seguir, podemos observar um fluxograma de reações do meta-
bolismo de lipídeos.
Bioquímica 180
Metabolismo de lipídeos
Triacilgliceróis
NADPH FADH2
ATP NADH
Fosforilação oxidativa
ciclo do NADH
ácido ATP
FADH2
cítrico
© FabriCO
GTP
com níveis adequados de ATP, o ciclo do ácido cítrico ficará inibido. Dessa forma, o
citrato acumulado na matriz mitocondrial é levado ao citosol por intermédio de uma
proteína transmembrana transportadora de citrato (Sistema de transporte do tricar-
boxilato). No citosol, o citrato é utilizado para formar oxaloacetato e acetil-CoA em
uma reação catalisada pela enzima citrato liase. O oxaloacetato será então convertido
a malato e, posteriormente, a piruvato. Finalmente, o piruvato formado pode retornar
à matriz mitocondrial. Nesse momento, a molécula de acetil-CoA disponível no citosol
e poderá ser utilizada para síntese de ácidos graxos. Veja na imagem seguinte, como
ocorre o transporte de acetil-CoA.
Transporte de acetil-CoA
Mitocôndria Membrana Citosol
mitocondrial COO
COO interna CH2
CH2 HO C COO
Sistema de
Citrato Citrato
HO C COO transporte do CH2
tricarboxilato
CH2 COO
COO ATP + H SCoA
O
ATP-citrato-liase
H SCoA ADP + Pi + CH3 C SCoA
Citrato-sintase
O COO
CH3 C SCoA C O
Oxaloacetato
Acetil-CoA CH2
COO
COO
NADH + H +
C O
Oxaloacetato Malato-desidrogenase
CH2 NAD +
COO COO
Malato HO C H
ADP + Pi
CH2
Piruvato-carboxilase
COO
HCO3 + ATP +
NADP
Enzima málica
NADPH + CO2
COO COO
C O C O
© FabriCO
Piruvato Piruvato
CH3 CH3
Produção do malonil-CoA
O
CH3 C SCoA
Acetil-CoA
CO2
ATP
Biotina
acetil-CoA-
ADP + Pi
-carboxilase
O O
O C CH2 C SCoA
© FabriCO
Malonil-CoA
Após a formação do malonil-CoA, a célula está pronta para fazer a síntese da ca-
deia dos ácidos graxos. Essa cadeia será formada a partir de uma sequência de quatro
reações que se repetem sucessivamente. Para cada conjunto de quatro reações, ocorre a
adição de dois carbonos. Tais reações são catalisadas por um complexo enzimático de-
nominado ácido graxo sintase. Conforme mostra a imagem seguinte, a sequência de
reações inicia com a adição do grupo malonila, oriundo do malonil-CoA, e do grupo
acetila, proveniente do acetil-CoA.
Bioquímica 183
O O
CH3 C CH2 C S
β α
HS
NADPH + H+
Redução 2
NADP+
H O
CH3 C CH2 C S
OH
HS
Desidratação 3
H2O
H O
CH3 C C C S
H
HS
NADPH + H+
Redução 4
NADP+
O
CH3 CH2 CH2 C S
aumentado em dois
carbonos
Na primeira reação ocorre a condensação dos dois carbonos do acetila com dois
carbonos do malonila e a liberação de uma molécula de CO2 . A segunda é de redução
do carbono β-cetônico e formação de um álcool a partir de uma molécula de NADPH.
Na terceira etapa, acontece uma reação de desidratação, com a saída de uma molé-
cula de água e formação de uma dupla ligação entre os carbonos α e β. Na última rea-
ção, uma molécula de NADPH será utilizada para reduzir a ligação dupla e formar um
grupamento acil saturado. Podemos ver que, após a finalização dessa sequência de
reações, temos a formação de um grupamento acil com quatro carbonos. Na próxima
etapa, esse grupamento acil com 4 carbonos passa para o sítio que tinha o grupo ace-
tila e um novo malonila entra no sítio que foi liberado. Com isso se inicia uma nova sé-
rie de quatro reações. Isso ocorre até que seja formado o palmitoil, com 16 carbonos.
Portanto, a cada novo ciclo de reações ocorre a adição de dois novos carbonos à ca-
deia carbônica até atingir 16 carbonos (palmitoil) – nesse estágio, o grupamento acil
desliga-se do complexo enzimático da ácido graxo sintase.
Para formação de ácidos graxos mais longos, existe, no retículo endoplasmático
liso e na mitocôndria, um sistema de alongamento de ácidos graxos responsável por
acrescentar mais carbonos à estrutura básica do palmitoil. As duplas ligações serão in-
corporadas por meio da atividade catalítica de um acil-CoA graxo dessaturase. Veja na
figura a seguir como ocorre a síntese de outros ácidos graxos.
Dessaturases são enzimas que colocam duplas em posições específicas nas cadeias dos ácidos
graxos (AG). Mamíferos são incapazes de produzir duplas em alguns locais da cadeia, como por
exemplo em ∆ 12 . Assim, alguns AG são essenciais, como ácido linoleico (18:2 cis ∆ 9,12).
Bioquímica 185
Dessaturação
(Apenas em
plantas)
Linoleato
18:2(Δ9,12)
Dessaturação Dessaturação
(Apenas em
plantas)
γ-Linolenato
18:3(Δ6,9,12)
α-Linoleato Alongamento
18:3(Δ9,12,15)
Eicosatrienoato
20:3(Δ8,11,14)
Dessaturação
poli-insaturados 20:4(Δ5,8,11,14)
Até aqui, vimos o modo pelo qual os ácidos graxos são sintetizados quando nos-
sas células estão com suas necessidades energéticas supridas, todavia, nós não arma-
zenamos ácidos graxos livres, mas sim triacilgliceróis! Para que isso ocorra, os ácidos
graxos precisam ser adicionados a uma molécula de glicerol-3-fosfato. A seguir vere-
mos com mais detalhes essas reações.
O
R’ C SCoA
1-acilglicerol-3-fosfato-
aciltransferase
H SCoA
O
O CH2 O C R
R’ C O C H
CH2 O PO23
© FabriCO
Ácido fosfatídico
CH2 O C R1
O O
CH O C R 2
CH2 O C R1
CH2OH O
1,2-Diacilglicerol CH O C R2
O O
Acil- R 3
C Grupo
CH2 O P O polar
-transferase S-CoA
O
CoA-SH Glicerofosfolipídeo
O
CH2 O C R1
O
CH O C R2
O
CH2 O C R3
© FabriCO
Triacilglicerol
Regulação da lipogênese
Citrato
Citrato-liase Insulina
desencadeia
a ativação
Acetil-CoA
Acetil-CoA-
-carboxilase
Glucagon e
adrenalina
desencadeiam
fosforilação/
Malonil-CoA inativação
Ativação
© FabriCO
Palmitoil-CoA Inibição
A regulação por modificação covalente é feita por intermédio dos hormônios in-
sulina, glucagon e adrenalina. A insulina promove a desfosforilação da acetil-CoA car-
boxilase e aumenta sua atividade, ao passo que o glucagon e a adrenalina inibem sua
atividade por fosforilação. Quando entendemos que a insulina é liberada em condições
de aumento dos níveis glicêmicos, faz todo sentido pensar que esse hormônio estimu-
lará a síntese de lipídeos, que são a principal reserva energética dos seres humanos.
Bioquímica 189
A inibição da atividade da enzima HMG-CoA redutase é o alvo dos fármacos chamados esta-
tinas. As estatinas são utilizadas em pacientes que apresentam níveis de colesterol sanguíneo
aumentados. Sua função é inibir a síntese endógena de colesterol e reduzir o risco de doenças
cardiovasculares.
Síntese do colesterol
3 CH3 COO Acetato
CH3
OOC CH2 C CH2 CH2 OH
OH Mevalonato
CH3 O O
CH2 C CH2 CH2 O P O P O
isopreno O O
isopreno ativado
Esqualeno
HO
© FabriCO
Colesterol
Essa molécula de colesterol poderá ter uma série de destinos metabólicos dife-
rentes e poderá originar outras moléculas, como os hormônios sexuais, os mineralo-
corticoides (aldosterona) e os glicocorticoides (cortisol). Também poderá ser utilizado
como constituinte das membranas celulares.
Bioquímica 191
PLP
Amino-
transferase
COO COO
+
H3N C H C O
R R
© FabriCO
L-Aminoácido α-Cetoácido
Oxidação de aminoácidos
Aminoácido
© FabriCO
Ureia
Ciclo glicose-alanina
Proteína
muscular
Aminoácidos
Músculo
+
NH 4
Glicose Piruvato
Glicólise Glutamato
Alanina-
-aminotransferase
α-Cetoglutarato
Alanina
Alanina
Glicose sanguínea
sanguínea
Fígado Alanina
α-Cetoglutarato
Alanina-
-aminotransferase
Glutamato
Glicose Piruvato
Gliconeogênese
+
NH 4
Ciclo da ureia
© FabriCO
Ureia
Vimos o modo pelo qual os nossos músculos fazem os grupamentos amino, oriun-
dos dos aminoácidos degradados, chegarem até o fígado. No tópico seguinte, veremos
as reações anabólicas, nas quais ocorre a síntese de aminoácidos.
Glicose-6-fosfato
4 passos
Ribose-5-
4 passos fosfato
Histidina
Eritrose-4-
3-Fosfoglicerato Serina
fosfato
Glicina
Fosfoenolpiruvato Cisteína
Alanina
Triptofano
Valina
Fenilalanina Piruvato
Leucina
Tirosina
Isoleucina
Citrato
Oxaloacetato α-Cetoglutarato
Aspartato Glutamato
Asparagina
Glutamina
Metionina
Prolina
Treonina
© FabriCO
Arginina
Lisina
α-Aminoácido α-Cetoácido
Transaminação
α-Cetoglutarato L-Glutamato
Desaminação-
-oxidativa
+
NH4 CO2
Ciclo da ureia
© FabriCO
Ureia
Ciclo da ureia
+ +
NH3 NH3
R CH COO– CH3 CH COO–
+ Aminoácidos Alanina (do músculo) Ornitina-transcarbamoilase
O NH3 α-Cetoglutarato
Argininosuccinato sintetase
C CH2 CH2 CH COO– α-Cetoácido
+ Argininosuccinase
H2N NH3
Glutamina Arginase
(dos tecidos –
OOC CH2 CH2 CH COO–
extra-hepáticos)
Glutamato
Glutamina O
–
OOC CH2 C COO–
glutaminase
Glutamato Oxaloacetato
Glutamato-desidrogenase Aspartato-aminotransferase
α-Ceto- Aspartato
glutarato +
+
NH4 NH3
HCO3 –
OOC CH2 CH COO–
Carbamoil-
2 ATP -fosfato-
-sintetase i
2 ADP + Pi
O O
Carbamoil-
-fosfato H2N C O P O–
Pi O –
Matriz + +
mitocondrial NH3 O NH3
+
H 3N (CH2)3 CH COO– H2N C NH (CH2)3 CH COO–
Ormitina Citrulina
Citosol Citrulina
ATP
PPi
+
NH3
+
NH3 H2N C NH (CH2)3 CH COO–
+
H 3N (CH2)3 CH COO– O
Ornitina
O P O– NH2
Ciclo da O N
Ureia
O ureia CH2
N
O N N
H2N C NH2
H H
H H
Intermediário
H2O OH OH citrulil-AMP
+
+ + Aspartato NH3
NH2 NH3 –
OOC CH2 CH COO–
H2N C NH (CH2)3 CH COO–
Arginina AMP
+ +
COO– NH2 NH3
© FabriCO
–
OOC CH2 CH COO– –
OOC CH2 CH NH C NH (CH2)3 CH COO–
Fumarato Arginino-succinato
Referências
ALBERTS, B. et al. Fundamentos da Biologia Celular. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
LODISH, H. et al. Biologia Celular e Molecular. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
MURRAY, R. K. et al. Bioquímica Ilustrada de Harper. 29. ed. Porto Alegre: AMGH/
Artmed, 2013.
NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2014.
SILVERTHORN, D. U. Fisiologia Humana: uma abordagem integrada. 5. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2010.
SMITH, C.; MARKS, A. D.; LIEBERMAN, M. Bioquímica Médica Básica de Marks: uma
abordagem clínica. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.
VOET, D.; VOET, J. G.; PRATT, C. W. Fundamentos de Bioquímica: a vida em nível
molecular. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
8 Mecanismo de ação hormonal
e inter-relação metabólica
Quando um organismo é pluricelular devem existir maneiras eficientes de comu-
nicação e integração entre as células. No caso dos seres humanos, os dois grandes sis-
temas responsáveis por isso são: o sistema nervoso, por meio de neurotransmissores, e
o sistema endócrino, que utiliza os hormônios. Hormônios são mensageiros químicos
produzidos por glândulas endócrinas e que, transportados pelo sangue, atuam em célu-
las-alvo distantes do local onde foram produzidos. Eles coordenam as atividades meta-
bólicas de diversos tipos de células simultaneamente, contribuindo para a manutenção
da homeostasia do organismo.
Geralmente, os hormônios do sistema endócrino atuam no metabolismo de car-
boidratos, lipídeos e proteínas, mas também exercem funções importantes no cresci-
mento e reprodução. Como vários hormônios atuam simultaneamente no organismo
haverá uma inter-relação metabólica que auxiliará o organismo a encontrar respostas
para cada situação na qual ele se encontra.
Considerando esse contexto, neste capítulo vamos tratar do mecanismo de ação
hormonal e da inter-relação metabólica, detalhando esses processos e como eles fun-
cionam no organismo.
são polares, não necessitam de transportadores na corrente sanguínea. Por esse mo-
tivo, agem rapidamente ao ativar o receptor de membrana. Por outro lado, são mais
suscetíveis à degradação, apresentando meia-vida curta.
Já os hormônios apolares atravessam a membrana celular por difusão simples,
ligando-se a receptores intracelulares. Tais hormônios são transportados no sangue
acoplados a uma proteína transportadora. Esse fato faz com que apresentem meia-
-vida longa, tendo em vista que, quando acoplados à proteína transportadora, não são
reconhecidos pelas enzimas que os degradam. Existem dois tipos de hormônios apola-
res: hormônios esteroides e hormônios tiroideanos.
A remoção do hormônio da corrente sanguínea depende de vários fatores, sendo
o principal a modificação ocasionada pelo fígado. Esse processo ocorre em duas fases,
que aumentam a solubilidade do hormônio e, na maioria dos casos, promovem sua
inativação. Depois disso, o hormônio é eliminado na urina ou nas fezes. Ele também
pode ser degradado na própria célula-alvo, na qual o complexo hormônio-receptor é
degradado no lisossoma da célula. Apenas uma pequena porção do hormônio é libera-
da, sem nenhuma modificação, por via urinária ou fecal.
© FabriCO
proteínas Tradução 5 A tradução produz novas proteínas
para os processos celulares.
Hormônios tiroideanos
Tirosina
H H H
HO C C N
H C H
O OH
Hormômios da tireoide
I I H H
H
HO O C C N
I I H C H
O OH
Tiroxina ( Tetraodotironina, T4)
I I H H
H
HO O C C N
H
© FabriCO
I H C
O OH
Triodotronina (T3)
Receptores de membrana
Hormônios peptídeos (H) não podem entrar nas células-alvo
e devem se ligar a receptores de membrana (R) para iniciar
o processo de transdução de sinal.
H H
R R
G
EA TK
Abre canais
iônicos
Sistema
de segundo
mensageiro
promove fosforilação
Proteínas
LEGENDA
TK = tirosina quinase
EA = enzima amplificadora Resposta
G = proteína G celular
© FabriCO
Proteína G
Canal iônico
ou enzima
β
α
Receptor γ
© FabriCO
GTP GDP
Segundos mensageiros são sinalizadores intracelulares que ativam uma cascata de reações na
célula.
Formação do AMPc
Proteina Hormônio Adenilil ciclase
receptora Membrana celular
α α
β
α
γ
ATP
Subunidade
Proteina quinase A inibitória
(inativa)
Proteina quinase A
fosforilação enzimática
Ativação Inibição
de enzima de enzima
específica específica
© FabriCO
Domínio
α
de interação
com o β
ligante
Fora
Dentro
Domínio
tirosina
© FabriCO
cinase INS-R VEGF-R PDGF-R EGF-R NGF-R FGF-R
Mecanismos de retroalimentação
Fator de liberação Hormônio trópico
+ +
–
Hipotálamo c Adenohipófise Órgão-alvo
Hormônio
– – b – a
do
a
órgão-alvo
a = inibição de alça longa
b = inibição de alça curta
© FabriCO
c = inibição de alça ultracurta
8.2.1 Fígado
O transportador de glicose-2 (GLUT2) do hepatócito não depende da insulina
para estar presente na membrana plasmática. Por esse motivo, em todas as situações
metabólicas, a glicose entra no hepatócito por diferença de concentração. No estado
alimentado, a disponibilidade de glicose é grande na veia porta, o que promove grande
aporte desse monossacarídeo para o hepatócito. Boa parte da glicose entra na via gli-
colítica para a formação de ATP e também pode ser usada na via das pentoses fosfato,
gerando grande quantidade de NADPH. Porém, com a estimulação da insulina, parte
da glicose que entra no hepatócito é armazenada na forma de glicogênio. Se a quanti-
dade de glicose não for muito grande, o restante é liberado no plasma para manter a
glicemia. Por outro lado, se a quantidade de glicose for excessiva, a insulina induz ao
aumento da produção de ácidos graxos e depois, por consequência, a síntese de trigli-
cerídeos, que posteriormente serão armazenados no tecido adiposo.
Os aminoácidos que chegam pelo sistema porta hepático entram no hepatócito,
que usa apenas uma parte para a síntese de suas próprias proteínas (o restante é libe-
rado na circulação sistêmica). Esse funcionamento é importante para que todos os te-
cidos possam utilizar os aminoácidos essenciais que chegam pela alimentação. Além
disso, esse processo ocorre porque as enzimas hepáticas que metabolizam os aminoá-
cidos apresentam um Km muito alto, o que significa ser necessário grande quantidade
de aminoácidos antes que ocorra o catabolismo.
8.2.2 Músculo
O tecido muscular só consegue captar glicose quando o transportador de glico-
se-4 (GLUT4) estiver na membrana plasmática e isso ocorre apenas na presença de
insulina. De fato, a insulina promove a exocitose de GLUT4 presentes no interior das
células musculares e, com isso, haverá uma entrada maior de glicose nessas células. Ao
entrar na célula muscular, a glicose é utilizada para a produção de ATP durante a glicó-
lise; o restante é armazenado na forma de glicogênio até a quantidade de no máximo
1% do peso do tecido.
Bioquímica 215
Pâncreas
(celulas β)
Glicose Glicogênio
Glicose Amino-
amino- Veia porta -ácidos
ácidos Piruvato Ureia
Síntese de
proteínas Gordura
Lactato Cérebro
Gorduras Síntese
proteica CO2 + H2O
Linfáticos (todos os Quilomícrons
Quilomícron tecidos) remanescentes
VLDL
Lactato
Gordura
Tecido muscular
© FabriCO
Você deve ter percebido que o metabolismo celular no estado alimentado depen-
de da secreção de insulina. Ela direciona o metabolismo em direção ao anabolismo:
síntese de glicogênio, síntese proteica e armazenamento de lipídeos.
8.2.4 Obesidade
Um problema comum enfrentado pelos seres humanos é o fato de ingerirem mui-
to mais alimentos do que a sua necessidade calórica diária. Se isso ocorrer, o organis-
mo humano consegue armazenar as calorias excedentes na forma de triacilgliceróis,
gerando, assim, o problema da obesidade.
Bioquímica 217
Pâncreas
(celulas β)
Insulina
Intestino Fígado
Glicose
Glicose Amino
amino- ácidos
ácidos Veia porta
Gordura Lactato
VLDL Eritrócitos
Gorduras
Quilomícron
Gordura
Linfáticos
© FabriCO
Tecido adiposo
Pâncreas
(celulas α)
Intestino Glucagon
Glicogênio Fígado
Veia porta
Glicose
Lactato
Cérebro
Eritrócitos
Alanina
Piruvato
Tecido muscular
© FabriCO
O problema é que não ocorre aumento significativo na quantidade de glicose por esses
dois ciclos, o que acontece é que a formação de glicose a partir da alanina e do lacta-
to apenas repõe a glicose convertida nessas moléculas nos outros tecidos e não contri-
buem para o seu aumento.
Assim, os aminoácidos provenientes do músculo estriado esquelético e o glicerol,
proveniente do processo de lipólise que ocorre no tecido adiposo, tornam-se fontes
importantes de carbonos necessários para a manutenção da gliconeogênese. Também
haverá aumento dos níveis de ácidos graxos no sangue em decorrência da lipólise. Isso
é importante porque vários tecidos, como o músculo cardíaco e o esquelético, desviam
seu metabolismo para o consumo desses compostos, em detrimento da utilização de
glicose e da oxidação do piruvato (DEVLIN, 2007).
No fígado, os ácidos graxos entram no processo de β-oxidação, gerando grande
quantidade de acetil-CoA. Parte do acetil-CoA é utilizada para a geração de ATP na cé-
lula hepática. O restante é desviado para a cetogênese, aumentando a produção de cor-
pos cetônicos. Quando a concentração de corpos cetônicos aumenta no plasma, eles
podem entrar no cérebro a fim de servirem como combustível alternativo para a forma-
ção de ATP. Porém a quantidade de ATP fornecida pelos corpos cetônicos ao cérebro
não é a mesma que a glicose fornece; por isso, eles não podem ser utilizados indefini-
damente. Os corpos cetônicos também podem ser utilizados pelo músculo estriado
esquelético. Quando isso acontece, o processo de proteólise e de oxidação dos ami-
noácidos é interrompido, diminuindo a liberação de alanina. Isso protege o músculo
contra perdas excessivas na massa muscular, mas diminui a quantidade de glicose sin-
tetizada no fígado.
No que diz respeito aos aminoácidos utilizados na gliconeogênese, a maior parte
deles é transformada em alanina ou em glutamina em processos metabólicos próprios.
No entanto a utilização de quaisquer dos aminoácidos no processo de gliconeogênese
requer a retirada do grupo amina. Depois disso, o grupo amina entra no ciclo da ureia e,
por esse motivo, a gliconeogênese e o ciclo da ureia estão interligados.
Perceba na figura a seguir que todos esses processos de inter-relação metabólica,
no jejum, dependem da ação hormonal.
Bioquímica 222
Pâncreas
(celulas α)
Glucagon
Intestino Proteína Fígado
Glicerol
Aminoácidos
Veia porta Ureia
Glicose Corpos
Enterócitos
Lactato cetônicos
Alanina Alanina Cérebro
Ácidos graxos
Linfáticos
Lactato Alanina
Gordura
Proteínas
Tecido muscular
© FabriCO
8.4.1 Dieta
O processo de emagrecimento requer um balanço energético negativo no indiví-
duo. Isso significa que uma menor quantidade de calorias deve ser ingerida, ao passo
que o gasto calórico deve ser aumentado. O consumo de menor quantidade de macro-
nutrientes e, consequentemente, de menos calorias, não modifica significativamen-
te o ciclo jejum-alimentação. Com isso, o indivíduo permanece no estado alimentado
por menor tempo, passando ao estado de jejum mais rapidamente, o que libera menor
quantidade de insulina e, por consequência, o armazenamento de glicogênio e triacil-
gliceróis acontece em menor quantidade. Outra maneira de reduzir calorias é simples-
mente diminuir a ingesta de triglicerídeos, o que diminui a síntese de quilomícrons e o
armazenamento desses lipídeos no tecido adiposo.
Quando uma pessoa se submete a uma dieta com porcentagem nula de carboi-
dratos, ou seja, uma dieta cetônica, o metabolismo hepático permanece quase o tempo
todo como se estivesse em jejum. Isso força o fígado a consumir lipídeos em detrimen-
to do consumo de glicose, mantendo a formação de corpos cetônicos e a transformação
dos aminoácidos da ingesta para a formação de glicose, mesmo no estado alimentado.
Deve-se salientar que uma dieta como essa, que promove aumento na ingesta de pro-
teínas, deve ser acompanhada de aumento no consumo de água. Essa observação é im-
portante porque mais ureia será formada no fígado e eliminada para a urina e, quando
isso acontece, a água do plasma também é eliminada na urina, podendo iniciar um qua-
dro de desidratação, com sobrecarga hepática e renal.
Bioquímica 224
Referências
ATTIE, A. D.; SCHERER, P. E. Adipocyte Metabolism and Obesity. Journal of Lipid
Research, Rockville, Suppl. 50, p. S395-S399, 2009. Disponível em: <www.jlr.org/
content/50/Supplement/S395.full.pdf>. Acesso em: 9 dez. 2015.
AYOUB, J. A. S.; ALONSO, P. A.; GUIMARÃES, L. M. V. Efeitos da cirurgia bariátrica
sobre a síndrome metabólica. Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva, São Paulo,
v. 24, n. 2, p. 140-143, 2011.
BERG, J. M.; TYMOCZKO, J. L.; STRYER, L. Bioquímica. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004.
BERNARDI, F.; CHICHELERO, C.; VITOLO, M. R. Comportamento de restrição alimen-
tar e obesidade. Revista de Nutrição, Campinas, v. 18, n. 1, p. 85-93, jan./fev. 2005.
Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rn/v18n1/23510.pdf>. Acesso em: 9 dez. 2015.
BLASIOLE, D. A.; DAVIS, R. A.; ATTIE, A. D. The physiological and molecular regula-
tion of lipoprotein assembly and secretion. Mol Biosystems, London, v. 3, n. 9, p. 608-19,
2007.
CAMPBELL, M. K.; FARRELL, S. O. Bioquímica Combo. 5. ed. Rio de Janeiro: Thomson
Cengage Learning, 2007.
CYPESS, A. M.; KAHN, C. R. Brown Fat as a Therapy for Obesity and Diabetes.
Current Opinion in Endocrinology, Diabetes, and Obesity, London, v. 17, n. 2, p. 143-149,
apr. 2010.
DEVLIN, T. M. Manual de bioquímica com correlações clínicas. São Paulo: Blucher,
2007.
FOX, S. I. Fisiologia humana. 2. ed. Barueri: Manole, 2007.
FRANCISCHI, R. P. P. et al. Obesidade: atualização sobre sua etiologia, morbida-
de e tratamento. Revista de Nutrição, Campinas, v. 13, n. 1, p. 17-28, jan./abr. 2000.
Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rn/v13n1/7919.pdf>. Acesso em: 9 dez. 2015.
GALVÃO, R.; KOHLMANN JR, O. Hipertensão arterial no paciente obeso. Revista
Brasileira de Hipertensão, Rio de Janeiro, v. 9, n. 3, p. 262-267, jul./set. 2002.
GARDNER, D. G.; SHOBACK, D. Endocrinologia Básica e Clínica de Greenspan. 9. ed.
Porto Alegre: McGraw Hill/Artmed, 2013.
GESTA, S. et al. Evidence for a role of developmental genes in the origin of obesity
and body fat distribution. PNAS, Washington, v. 103, n. 17, p. 6676-6681, abr. 2006.
Disponível em: <www.pnas.org/content/103/17/6676.full.pdf>. Acesso em: 13 dez. 2015.
Bioquímica 227
HALL, J. E. Guyton & Hall Tratado de Fisiologia Médica. 12. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2011.
HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica Ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed,
2012.
KAC, G.; VELÁSQUEZ-MELÉNDEZ, G. A transição nutricional e a epidemiologia da obesi-
dade na América Latina. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, Sup. 1, p. S4-S5,
2003.
KOEPPEN, B. M.; STANTON, B. A. Berne & Levy: Fisiologia, 6. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2009.
KUMAR, V.; ABBAS, A. K.; FAUSTO, N. Robbins & Cotran: patologia – bases patológi-
cas das doenças. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
LOPES, H. L. Hipertensão e Inflamação: papel da obesidade. Revista Brasileira de
Hipertensão, Rio de Janeiro, v. 14, n. 4, p. 239-244, 2007.
MOLINA, P. Fisiologia Endócrina. 4. ed. Porto Alegre: McGraw Hill / Artmed, 2015.
NELSON, D. L.; COX, M. M. Lehninger: Princípios de Bioquímica. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2014.
OLIVEIRA, C. L. et al. Obesidade e Síndrome Metabólica na Infância e Adolescência.
Revista de Nutrição, Campinas, v. 17, n. 2, p. 237-245, abr./jun. 2004. Disponível em:
<www.scielo.br/pdf/rn/v17n2/21136>. Acesso em: 9 dez. 2015.
ROBERTSON, D. S. The biochemical basis of obesity. Biomedicine & Preventive
Nutrition, Paris, v. 3, Issue 1, p. 83-90, jan./feb. 2013.
ROMERO, C. E. M.; ZANESCO, A. O papel dos hormônios leptina e grelina na gênese
da obesidade. Revista de Nutrição, Campinas, v. 19, n. 1, p. 85-91, 2006. Disponível
em: <www.scielo.br/pdf/rn/v19n1/28802.pdf>. Acesso em: 9 dez. 2015.
SIKARIS, K. A. The Clinical Biochemistry of Obesity. The Clinical Biochemist Reviews,
Perth, v. 25, n. 3, p. 165-181, 2004.
SILVA, M. P. N. da Síndrome da anorexia-caquexia em portadores de câncer. Revista
Brasileira de Cancerologia, Rio de Janeiro, v. 52, n. 1, p. 59-77, 2006.
SILVERTHORN, D. U. Fisiologia Humana – uma abordagem integrada. 5. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2010.
SOUKAS, A. C. P.; SOCCI, N. D.; FRIENDMAN, J. M. Leptin-specific patterns of gene
expression in white adipose tissue. Genes & Development, Woodbury, v. 14, n. 8,
p. 963-980, 2000.
Bioquímica 228