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OS DESAFIOS DO JORNALISMO PARA A PAZ EM TEMPOS DE POLARIZAÇÃO:

O 8M SOB AS PERSPECTIVAS DO MBL E DA MÍDIA NINJA

Ester Alkimim Zanco Rodella


Universidade Estadual Paulista (Faac/Unesp)
esteralkimim@gmail.com

Eixo temático/Eje temático: Acceso a Justicia, Comunicación, Gestión de Conflictos y Paz

Resumo: O objetivo deste trabalho é identificar informações sobre a cobertura jornalística via
mídias digitais da 8M (Parada Internacional de Mulheres), ocorrida em 8 de março de 2019. A
abordagem será pautada nas publicações dos veículos Mídia NINJA (Narrativas
Independentes, Jornalismo e Ação) e MBL (Movimento Brasil Livre), em páginas do
Facebook, Instagram e Twitter. A proposta é analisar se em seus conteúdos essas mídias
seguem uma metodologia voltada para a comunicação para a paz ou para a violência e se
estimulam ou não a participação democrática. A abordagem da construção desses processos
de produção de sentidos pautados em interesses políticos e sociais distintos e conflituosos (em
período pós-impeachment de Dilma Roussef, primeira mulher presidente do Brasil e eleição
de Jair Bolsonaro, um presidente de orientação política conservadora) é essencial para
compreender a dinâmica da produção e do consumo de comunicação na atualidade.

Palavras-chave: Feminismos; Ativismo; 8M; Jornalismo para Paz.

Introdução

Em 8 de março de 2019, mulheres do mundo inteiro se mobilizaram para a terceira


edição da Parada 8M, uma convocatória pública à greve geral para demonstrar a importância
da produção feminina no sistema capitalista, contra a violência e o feminicídio e pelos direitos
sociais, sexuais e reprodutivos, entre outras pautas. A iniciativa, inédita no nome e no formato
dentro dos movimentos feministas, originou-se em 2017 das diversas marchas organizadas por
mulheres no Brasil e no mundo nos últimos anos: Ni Una Menos na Argentina, Chile e
Uruguai (2014), Marcha das polonesas contra a criminalização do aborto (2016), Mulheres
brasileiras contra Eduardo Cunha e a criminalização do aborto (2015), Marcha das mulheres
contra Trump (2017), além dos grupos de ativismo feminista que tradicionalmente organizam
atos em datas estratégicas, como a Marcha Mundial das Mulheres (MMM).
No Brasil, em 2019, ano de um novo mandato presidencial com Jair Bolsonaro (PSL),
as manifestações ocorreram, em grande parte, em defesa dos direitos trabalhistas e
previdenciários, como enfrentamento à conjuntura socieoeconômica e política do país.
A convocatória para a Parada 8M, em 2017, 2018 e 2019, deu-se via redes sociais na
internet, principalmente por meio do Twitter com o “twittaço” #8M e o resultado foi a
manifestação, nas ruas, de milhares de pessoas do mundo todo. O universo da Internet serviu
de caixa de ressonância para esses protestos, com poder de aglutinar apoios em questão de
segundos.
A mobilização em massa visando a melhoria das condições de vida da população,
principalmente dos mais excluídos, não é novidade na história da humanidade. Não se
conhece com exatidão a origem dos movimentos sociais desde os primórdios da existência
humana, mas encontramos relatos que indicam que, desde as eras mais remotas, grupos
divergentes se rebelavam ou manifestavam suas inquietações de alguma forma, seja por meio
de desenhos, de gestos, da oralidade ou da escrita. Em seu artigo “Os movimentos sociais e a
construção de um novo sujeito histórico”, o sociólogo François Houtart (2007), fala sobre a
existência de movimentos sociais e sua relação com a origem do cristianismo, por exemplo,
nos tempos de Jesus Cristo. O movimento liderado pela figura cristã, Jesus de Nazaré, era de
protesto social e incomodava o império romano. A Bíblia relata Jesus organizando multidões
de seguidores e defendendo minorias.

A história da humanidade caracteriza-se por uma multiplicidade de sujeitos


coletivos, portadores de valores de justiça, de igualdade, de direitos e
protagonistas de protestos e lutas. Recordemos, por exemplo, a revolta dos
escravos, as resistências contras as invasões na África e na Ásia, as lutas
camponesas da Idade Média na Europa, as numerosas resistências dos povos
nativos da América, os movimentos religiosos de protesto social no Brasil,
Sudão e China. Um salto histórico dá-se quando o capitalismo constrói,
depois de quatro séculos de existência, as bases materiais de sua reprodução,
que são a divisão do trabalho e a industrialização. Nasce o proletariado como
sujeito potencial, a partir da contradição entre capital e trabalho
(HOUTART, 2007, p.5)
Fato é que o processo de mobilização coletiva se transformou ao longo da nossa
história. Se antes os grupos/comunidades se reuniam em acampamentos, praças ou casas para
discutir melhorias e transformações de suas realidades, hoje, apesar dessas reuniões
tradicionais ainda ocorrerem, a internet se firma como um campo ainda de experiências para
discussão e propagação de reivindicações/ideias. Facebook, Twitter, Instagram e blogs, entre
outras mídias digitais, possibilitam visibilidade e mobilização não apenas em âmbito local,
mas mundial.

Historicamente, os movimentos sociais dependem da existência de


mecanismos de comunicação específicos: boato, sermões, panfletos e
manifestos passados de pessoa a pessoa, a partir do púlpito, da imprensa ou
por qualquer meio de comunicação disponível. Em nossa época, as redes
digitais, multimodais, de comunicação horizontal, são os veículos mais
rápidos e mais autônomos, interativos, reprogramáveis e amplificadores de
toda a história (CASTELLS, 2017, p.29).

A Internet abre espaço para que grupos de mobilização social divulguem suas
propostas, muitas vezes, apoiados por jornalistas independentes que “abraçam” suas causas e
elaboram estratégias que sustentam e ampliam a participação coletiva.
Como jornalista e fotógrafa voluntária na Rede Panapanã de Mulheres do Noroeste
Paulista1, sediada em Votuporanga-SP, acompanho de perto a importância das mídias sociais
para a divulgação de ideias e ações do grupo; é neste campo de comunicação que mais
obtemos resultados nas estratégias de mobilização. Essas ações de produção, edição e
veiculação de conteúdo não estão restritas apenas a mim, como jornalista, mas também a
outros membros da Rede que propagam informações pelas mídias sociais do grupo. Tais
procedimentos remetem à proposta de criação de uma inteligência coletiva (LÉVY, 1994), na
qual a comunicação, entre outros saberes, não é “engessada”, mas coletiva, compartilhada.
Para Lévy (2003), a inteligência coletiva é aquela que se distribui entre todos os indivíduos,
que não está restrita para poucos privilegiados. Assim se caracteriza a formação de um
“quinto poder” na comunicação via mídias sociais: o de mobilizar e gerar participação social,
provocando reflexões e questionamentos.
Com isso, Twitter, Facebook, agências de notícias alternativas e independentes, blogs
e websites contra-hegemônicos contribuíram não apenas para a mobilização das pessoas para
o #8M, como também para o exercício de uma democracia participativa, não apenas
1
Rede Panapanã de Mulheres do Noroeste Paulista. Disponível em: www.facebook.com/redepanapana
representativa. Lévy afirma que a “democracia só progredirá explorando da melhor forma as
ferramentas de comunicação contemporânea” (LÉVY, 1999, p.62)

Na medida em que as redes se caracterizam pela existência de laços firmados


a partir de interesses comuns, é possível identificar todo tipo de agrupamento
[...], não apenas uma interação entre os participantes [...] mas também o
engajamento em questões políticas, sociais e culturais. [...] Assim como o
mundo real é levado para as redes sociais digitais, as discussões online têm
potencial de gerar atitudes e ações no mundo físico. (MARTINO, 2014, p.
58).

As redes e mídias sociais digitais amplificaram os movimentos feministas e geraram o


que muitos especialistas chamam de “a quarta onda do feminismo”, definida pela tecnologia.
O movimento 8M nas edições 2017, 2018 e 2019 não teve grande repercussão nas mídias
tradicionais como jornais, revistas, rádios e redes de TV, mas na Internet viralizou e gerou
tanto elogios quanto críticas a sua realização.
Ao analisar as coberturas do 8M 2019 realizadas por duas mídias digitais brasileiras
muito distintas e praticamente polarizadas (uma mais radical e outra mais conservadora), a
Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) e o MBL (Movimento Brasil
Livre), surgem grandes questionamentos: esses meios de comunicação, relativamente novos, e
que surgiram com propostas de fazer uma cobertura midiática diferente da tradicional, geram
diálogos sobre o 8M que visam uma transformação social? Como se dá sua produção de
sentidos? Há a preocupação em utilizar, nos textos e imagens veiculados, uma comunicação
voltada para a paz ou para a violência? Considerando que no Brasil ainda somos uma
democracia recente (desde 1985), esses veículos midiáticos digitais estão cumprindo seu
papel de fortalecimento da participação popular, da cidadania?
Segundo explica Shinar (2008, p. 42):

O Jornalismo para a Paz (JP) e a mídia voltada para a paz são essenciais para
promover e encorajar o desenvolvimento das estruturas democráticas de
comunicação. A combinação de tais estruturas com o JP pode aumentar a
eficácia de programas de desenvolvimento, reduzir a desigualdade
socioeconômica, a corrupção e a exploração; além disso, incrementa o
respeito social e o respeito pessoal para com os componentes mais fracos das
sociedades em desenvolvimento.

Partindo dessa definição, podemos compreender que o Jornalismo para Paz, na


perspectiva dos Estudos para Paz (Peace Studies), oferece subsídios teóricos e metodológicos
para refletirmos e analisarmos a produção de conteúdo em mídia. No nosso caso, vale lembrar
que as mídias analisadas (Mídia Ninja e MBL) se configuram como antagônicas, o que
oferece a possibilidade de contraste entre as estratégias comunicacionais utilizadas por ambas
na perspectiva do Jornalismo para Paz.
Com isso, enfatizamos que nosso objetivo neste artigo é analisar o 8M 2019 a
partir das perspectivas comunicacionais apresentadas no Midia Ninja e no MBL à luz do
Jornalismo para Paz, a fim de identificar estratégicas comunicacionais para a defesa ou
desqualificação do movimento. Para tanto, utilizaremos como instrumentos metodológicos a
pesquisa bibliográfica para reunir referencial teórico sobre a comunicação e Jornalismo para
Paz, e também sobre Cibercultura. E, por outra parte, também utilizaremos a combinação de
duas metodologias, a Hermenêutica da Profundidade de John B. Thompson e a Análise de
Conteúdo de Lawrence Bardin, para a criação de categorias analíticas que nos ajudarão no
entendimento do material midiático selecionado à luz da ferramenta metodológica do próprio
Jornalismo para Paz (LYNCH; McGOLDRICK, 2000).
Assim, esperamos neste artigo apresentar uma perspectiva crítica de análise de
mídia fundamentando-nos nas diretrizes metodológicas do Jornalismo para Paz a fim de
identificarmos estratégias comunicacionais que reforçam ou rompem com a violência na
comunicação.

1. Os feminismos, o 8M e a 4ª Onda Feminista: contextos sócio-histórico e cultural

Estudiosos dos feminismos dividem a história dos movimentos em três “ondas” principais,
apesar de sabermos que desde a formação da humanidade a mulher tem lutado para garantir
seu lugar em todos os âmbitos da sociedade.
A primeira onda aconteceu em 1848 com a Convenção dos Direitos da Mulher em Nova
York, que reivindicou a ampliação das conquistas sociais e políticas das grandes revoluções
da época às mulheres. No Brasil, essa onda ganhou força a partir de 1920, com a mobilização
das chamadas "sufragettes", mulheres intelectuais de classes abastadas que exigiram o direito
ao voto feminino. Elas não escaparam de serem chamadas de "histéricas" e "carentes de
charme”. O direito de voto às mulheres foi conquistado em 1932, com um decreto do
presidente Getúlio Vargas.
Já a segunda onda feminista marca as mobilizações inspiradas no movimento estudantil de
maio de 1968 na França para exigir valorização do trabalho, liberdade sexual e fim de
desigualdades jurídicas e da violência.
A terceira onda, a partir de 1990, questiona o movimento anterior. Tal como pontua
Jussara Reis Prá, coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Mulher e Gênero da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em entrevista para o Portal Terra (2015)2

Contestações de diferentes grupos sociais promovem correntes teóricas,


como o feminismo radical e o marxista. São grupos que não se sentiam
representados por aquelas mulheres da burguesia e intelectuais. Também tem
a contestação do movimento negro, do movimento lésbico, que foram dando
o tom dos outros feminismos, como o ecológico, multicultural, pós-moderno
e crítico.

Hoje os teóricos falam em feminismos ou movimentos feministas que representam


uma gama plural de reivindicações. Para alguns especialistas, o ativismo feminista nas redes
sociais já pode ser considerado a "quarta onda", ameaçada no Brasil pela fragilização da
democracia com a eleição de Jair Bolsonaro (PSL). O presidente tem discursos e propostas
conservadoras frente às pautas de muitos movimentos feministas (contra a descriminalização
do aborto, pela ampliação de contribuição para a Previdência, o que prejudica mais as
mulheres devido à carga de trabalho dupla ou tripla que exercem). Em referência à própria
filha como “fraquejada”, entre outras ações que acenam para a possibilidade de que várias
conquistas sejam perdidas, o presidente sinaliza seu posicionamento contrário a essas pautas.
Quando a primeira edição da Parada Internacional de Mulheres foi convocada, em 8 de
Março de 2017, Dia Internacional da Mulher, o Brasil já se encontrava com sua democracia
um tanto fragilizada (pós-impeachment de Dilma Rousseff , tratado pela esquerda como
“golpe”), o que também se verificou, e se verifica, em outras partes do mundo. Dos países que
participaram da Primavera Árabe (2010), por exemplo, só a Tunísia tornou-se democrática.
Nos Estados Unidos, Donald Trump foi eleito presidente em 2016; e na Europa, a Hungria se
tornou o primeiro país a perder a classificação de “Estado livre”, em janeiro de 2019. O

2
Entrevista à Jussara Reis Prá. Portal Terra. 06 de novembro de 2015. Disponível em:
https://www.terra.com.br/noticias/ativismo-digital-e-a-nova-onda-do-
feminismo,9ef990f8c0e1eeedbd8ec3be2ccfdf1dxcr9pxyg.html
professor de Ciência Política da Universidade de Harvard, Steven Levitsky, co-autor do livro
“Como as democracias morrem”, de 2018, junto a Daniel Ziblatt (e que se tornou o livro
mais vendido pela Amazon no Brasil, no mesmo ano), disse em entrevista à BBC News
Brasil, em 19 de outubro de 20183, que

[...] é fruto da polarização quando os dois lados começam a temer e


desprezar o outro; eles passam a lançar mão de qualquer meio necessário
para impedir que o outro vença. Hoje, toda nomeação para a Suprema Corte
Americana envolve jogo duro constitucional e o mesmo se viu no Brasil,
durante o impeachment (de Dilma Rousseff), em 2016, e a exclusão da
candidatura de Lula, em 2018. Olhando para outros casos de colapso da
democracia (Brasil nos anos 60, Chile nos anos 70, Espanha nos anos 30,
Alemanha no começo dos anos 30), se percebe que, quando isso começa,
tende a se intensificar e é muito difícil de ser parado.

Em entrevista à revista do Instituto Humanitas da Unisinos (IHU)4, o doutor em direito


e advogado militante Henrique Abel defende que para entender a crise da democracia é
preciso entender o senso comum do cidadão médio. Ele destaca que em um contexto
econômico no qual as democracias têm falhado em proporcionar segurança à classe média, é
compreensível que o resultado disso seja a disseminação de um sentimento de frustração e
rancor do tipo "estou sendo prejudicado porque algumas pessoas estão sendo beneficiadas
indevidamente e em excesso". Ele aponta que o maior problema é quando são identificados
como supostos “privilegiados” (no senso comum da classe média) professores da rede
pública, refugiados, marginalizados que recebem benefícios sociais irrisórios, indígenas que
clamam por demarcações de terras, os sem-teto, etc.
Para Abel (2018),
[...] aqueles que são descrentes em relação à democracia, ou que zombam de
suas limitações e contradições, precisam lidar com o fato de que foi através
de processos reformistas de democracia representativa que
o Ocidente conseguiu progressivamente avançar em diversas questões
cruciais no último século, incluindo a consagração de direitos trabalhistas,
do direito de voto às mulheres, dos direitos civis e de igualdade racial,
da proteção de minorias, etc.

3
Entrevista de Steven Levitsky à BBC News Brasil em 19 de outubro de 2018. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45829323
4
Entrevista de Henrique Abel à Revista Humanias da Unisinos em 12 de novembro de 2018. Disponível em:
http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/584534-para-entender-a-crise-da-democracia-e-preciso-
compreender-o-senso-comum-do-cidadao-medio-entrevista-especial-com-henrique-abel
Se o 8M no Brasil surgiu em um contexto pós-impeachment da primeira mulher
presidente do país, Dilma Rousseff em 2016, em 2019 sua realização pós-eleição de Jair
Bolsonaro (PSL) foi tensionada pelo posicionamento conservador do presidente eleito frente
às pautas das mulheres que lutam e se organizam em movimentos sociais diversos (de negras,
lésbicas, trabalhadoras, rurais, sem teto, educadoras, índias etc.). No período que antecedeu e
procedeu a eleição de Bolsonaro, a polarização na sociedade e na mídia entre esquerda/direita
abriu brechas para discursos de ódio, de intolerância e de violência. A defesa da posse/porte
de armas para os cidadãos pelo presidente eleito e suas aparições em público fazendo sinal de
arma ajudaram a legitimar esse discurso de violência. As mídias digitais que analisamos aqui,
Midia Ninja e MBL, são exemplos dessa polarização. O estudo desse contexto sócio-histórico
marcado pela polarização e pela comunicação violenta é essencial para compreendermos as
abordagens das mídias estudadas.

O mundo sócio-histórico não é apenas um campo-objeto que está ali para ser
observado; ele é também um campo-sujeito que é construído, em parte, por
sujeitos que, no curso rotineiro de suas vidas cotidianas, estão
constantemente preocupados em compreender a si mesmos e aos outros, e
em interpretar as ações, falas e acontecimentos que se dão ao seu redor.
(THOMPSON, 1995, p. 358)

Para Thompson, os seres humanos não são apenas observadores ou espectadores da


história; tradições históricas, e a gama complexa de significados e valores que são passados de
geração a geração são em parte constitutivos daquilo que os seres humanos são. Ele aponta
que mesmo o que classificamos como novas experiências ou novos fatos históricos são, na
verdade, relacionados ao que veio antes. Esses “resíduos”, na concepção dele, serviriam, em
circunstâncias específicas, para esconder, obscurecer ou mascarar o presente.

Assim, quando os analistas sociais procuram interpretar uma forma


simbólica, por exemplo, eles estão procurando interpretar um objeto que
pode ser, ele mesmo, uma interpretação, e que pode já ter sido interpretado
pelos sujeitos que constroem o campo-objeto, do qual a forma simbólica é
parte. Os analistas estão oferecendo uma interpretação de uma interpretação.
(THOMPSON, 1995, p.358).

A reinterpretação do que já foi interpretado ao longo da história e a complexa gama de


valores e significados repassados de gerações, na análise de Thompson, relaciona-se com a
violência cultural defendida por Johan Galtung (2003) que permeia as abordagens das mídias
estudadas neste artigo, em especial o MBL, como veremos mais adiante. Para Galtung (1969),
a violência direta (na qual é possível identificar a vítima e o agressor e que pode ser registrada
mediante uma fotografia, um vídeo, entre outros) e a violência estrutural (quando não é
possível identificar os autores da violência, que estão sob a forma de poderes desiguais por
trás das estruturas sociais, econômicas e políticas) são institucionalizadas pelos aspectos de
uma cultura, o que dá origem à violência cultural, na qual as mídias e suas construções de
significados estão inseridas.
Porto (1998) aponta que a disputa pelo poder político não se restringe à garantia do
acesso dos cidadãos às informações, mas também inclui a luta em torno da interpretação da
realidade.

Essa distinção foi desenvolvida por Wolfsfeld (1997) em seu estudo sobre o
papel dos meios de comunicação em conflitos políticos. O autor distingue
entre as dimensões estrutural, vinculada à luta pelo acesso aos mídia, e a
dimensão cultural, relacionada à luta em torno da construção de significados.
A grande maioria dos esforços por resolver o dilema democrático ignora, ou
coloca em segundo plano, a dimensão cultural. (PORTO, 1998, p. 22).

Sendo assim, a luta não só pelo acesso à informação, mas também pelo direito de ser
ator dessa produção de informação leva as pessoas a se organizarem em movimentos que
visam uma melhora da vida em sociedade, a fim de combater todas as formas de violência,
fato que mobilizou as mulheres a se organizarem para o 8M, sendo a Internet uma grande
ferramenta de apoio nessa mobilização.

2. Potencialização do 8M na Internet
Os movimentos feministas diversos articulados principalmente via Internet (Facebook,
Instagram e Twitter, na maioria) têm, em sua páginas e perfis, sua própria mensagem
comunicando o que são, o que almejam, suas pautas de luta entre outros, o que lhes permite
uma divulgação constante e abrangente em termos de público que acessa a Internet,
reverberando algumas vezes, principalmente quando há ações pontuais como o 8M, nos meios
tradicionais de comunicação como jornais, rádios e TVs.
Em suas coberturas do 8M 2019, os dois maiores jornais de circulação nacional (Folha de
São Paulo e Estadão), por exemplo, trouxeram abordagens sobre o tema. Em 8 de março de
2019, O Estadão publicou na capa uma chamada pequena quanto ao dia, com uma matéria
grande interna, e a Folha abriu o Jornal com uma manchete sobre índices de feminicídio.
Mesmo que sua força não possa ser atribuída somente à mobilização via redes sociais, a
Internet sem dúvida contribuiu para a potencialização do 8M. Desde sua explosão na década
de 2010, as redes sociais têm servido para mobilizações políticas, dentre outros fins.

O Twitter, por exemplo, foi criado especificamente para a militância. Teve


início com o programa TXTMob criados nos EUA para, através do celular,
organizar manifestações contra a Convenção Nacional do Partido
Republicano, em 2004. Seu desdobramento, o Twitter como o conhecemos,
foi lançado dois anos mais tarde e manteve esse DNA ativista, tendo sido o
principal instrumento das manifestações iranianas de 2009 e nas inglesas de
2011. (COSTA apud HOLLANDA, 2018, p.43 ).

Um dos principais recursos usados pelos ativistas atuais na web é o que privilegia a
autonomia e a relação entre similaridades de luta. Tal como defende Castells (2017, p. 190):
“a construção autônoma das redes sociais controladas e guiadas por seus usuários é a grande
transformação social no século XXI”.
Essa forma de comunicação é essencialmente importante para se compreender os
vários “feminismos” que se formam e se anunciam (feminismo das pretas, feminismo
indígena, feminismo lésbico, etc.), unificando vozes de experiências e opressões diferentes,
mas empáticas.
A jornalista e pesquisadora Cristiane Costa (apud HOLLANDA, 2018, p. 47), afirma
que

Respondendo ao recrudescimento de um forte conservadorismo que ameaça,


inclusive direitos já conquistados, os feminismos em rede se empenham no
uso e na forma de novos instrumentos em suas lutas. Mais do que defender
racionalmente ideologias, os grupos produzem laços que tecem uma
expressiva percepção comum.

O surgimento da Parada 8M, em 2017, é exemplo da união de diversas “bandeiras” de


movimentos feministas que tinham entre si lutas em comum, principalmente as relacionadas à
violência contra a mulher, aos direitos trabalhistas e previdenciários, além de críticas ao
capitalismo e ao ultraconservadorismo em todo o mundo (uma agenda anti-racista, anti-
imperialista e anti-neoliberal). O evento foi impulsionado pelo coletivo feminista argentino
Ni Una Menos e por meio da Internet se alastrou para diversos países. A inspiração foi a
greve de 1975 na Islândia, onde as mulheres cessaram as suas atividades de trabalho,
remunerado ou não, para reivindicar atenção para as desigualdades. Também influenciaram o
8M os movimentos Ni Una Menos (na Argentina, Chile e Uruguai - 2015), Marcha das
Mulheres brasileiras contra Eduardo Cunha e a criminalização do aborto (2015), Marcha das
polonesas contra a criminalização do aborto (2016), Marcha das mulheres contra Trump
(2017), entre outras manifestações de mulheres em todo o mundo.
A ressignificação do Dia Internacional da Mulher buscou no mote “Se nossas vidas
não importam, que produzam sem nós” chamar a atenção para a importância da força
feminina na produção laboral e doméstica. A Internet foi fundamental para a divulgação das
ações programadas ao redor do mundo. No Brasil, a criação de perfil no Twitter5, página no
Facebook6 e site7 do movimento propiciou ampla difusão da Parada. Todos os coletivos
incentivaram o uso da hashtag #8M para impulsionar e evidenciar apoio à causa.

Os movimentos feministas descobriram o poder das hashtags em 2014. O


uso inicial da hashtag estava associado à publicidade, que percebeu
imediatamente seu potencial de organização e distribuição de conteúdo. Não
é à toa que a hashtag, tão afeita às campanhas publicitárias, foi eleita como
principal ferramenta política do feminismo. A própria noção de campanha
traduz novas formas de ação política. Nascidas por geração espontânea e
amplamente disseminadas, as manifestações organizadas a partir de hashtags
muitas vezes acontecem sem formar coletivos, criar blogs ou sites, nem
mesmo montar um perfil próprio nas redes sociais. Ao marcar uma diferença
com movimentos políticos tradicionais, são flexíveis tanto do ponto de vista
organizacional quanto político, pois atuam numa esfera muito particular da
sociedade civil, uma esfera na qual o consenso não é necessário. (COSTA
apud HOLLANDA, 2018, p.47)

O consenso não é necessário, a união e a empatia sim. Mas backlashes (contra-


ataques) virtuais também são recorrentes nas redes em relação a essa insurreição feminista, o
que não torna o público tão otimista com os movimentos sociais na Internet quanto Castells o
foi. O MBL, por exemplo, é uma mídia digital que possui um posicionamento político
pautado por outras agendas, nas quais a defesa dos movimentos feministas não está incluída,
como veremos mais adiante.
Neste sentido, nosso estudo avalia que, mesmo com esses contra-ataques, os
movimentos feministas resistem, reorganizam-se ao longo da história e se apropriam de meios
de comunicação que lhes permitam ter voz, como é o caso do 8M e sua relação com as mídias
digitais.

5 Perfil no Twitter “Greve de Mulheres”: https://twitter.com/GrevedeMulheres


6 Fanpage no Facebook “Greve de Mulheres”: https://www.facebook.com/GrevedeMulheres/
7 Dite “8M Brasil”: https://www.8mbrasil.com
Mídia Ninja e MBL

A Mídia NINJA (Jornalismo Independente e Narrativas de Ação) foi fundada em 2013


como um “braço” do Coletivo Fora do Eixo e ganhou visibilidade durante as manifestações
realizadas nas ruas naquele ano. Ela se autodefine em sua página na web8: “uma rede de
comunicação livre que busca novas formas de produção e distribuição de informações a partir
de novas tecnologias e de uma lógica colaborativa de trabalho”.
Atua com colaboradores no Brasil e em outros países e tem, entre seus membros
fundadores, jornalistas, artistas, produtores culturais, entre outros profissionais. É considerada
uma “mídia de esquerda” por defender a liberdade do ex-presidente Lula (PT) e se opor ao
presidente atual, Jair Bolsonaro (PSL). A Mídia Ninja tem 2,1 milhões de seguidores no
Facebook, 1,2 milhões de seguidores no Instagram e 575 mil seguidores no Twitter9.
‘O MBL10 (Movimento Brasil Livre) foi criado em 2014 e se autodefine como um
coletivo “em luta por um Brasil mais livre”; possui, entre seus membros, jornalistas,
empresários, políticos e outros colabores com formações variadas. O coletivo tem 3,4 milhões
de seguidores de seguidores no Facebook e mais de 458 mil seguidores no Twitter. No
Instagram são 867 mil seguidores.
A Mídia Ninja ainda não tem entre seus membros nenhum representante político oficial.
Nas eleições de 2018, o MBL elegeu quatro deputados e dois senadores, todos de partidos de
direita e simpatizantes do atual presidente.
Cabe ressaltar que os dois grupos de jornalismo alternativo mantêm suas atividades com
doações, mas já foram acusados de receber financiamentos externos.

Análise de conteúdo do 8M 2019: coberturas do Mídia Ninja e MBL à luz do


Jornalismo para a Paz

Para elaborarmos este estudo sobre as coberturas do MBL e da Mídia Ninja em relação ao
8M 2019 tomamos alguns procedimentos inerentes à análise de conteúdo, como organização

8
Mídia Ninja. Disponível em: www.midianinja.org
9
Consultado em 03 jul. 2019
10
MBL – Movimento Brasil Livre. Disponível em: www.mbl.org.br
preliminar do material analisado e pesquisa, nas páginas do Facebook, Instagram e Twitter, da
Mídia Ninja e do MBL, de tudo o que foi publicado em 8 de março de 2019 sobre o 8M. Com
esse material em mãos realizamos a leitura flutuante, que nos orientou quanto à interpretação
das publicações. Em nossa análise sobre o que foi publicado observamos, claramente, como
são distintas as abordagens feitas pelos dois veículos. “Uma leitura pelo analista permite
assinalar oposições, que são codificadas na forma de temas pela sua presença ou ausência em
cada texto” (BARDIN, 2016, p.180).
Como o material analisado é muito amplo e poderá servir para um estudo mais avançado
sobre o tema, neste artigo optamos por uma amostragem de publicações, todas as imagens
fotográficas, algumas com legendas, outras com textos-montagens. Dividimos os conteúdos
pautados nas categorias de Jornalismo para a Paz e Jornalismo de Guerra (ou Violência)
desenvolvidas por Jake Lynch e Annabel McGoldrick (2000), a fim de compreendermos se as
abordagens midiáticas contribuem ou não para uma compreensão das diversidades e para a
pacificação.
O Jornalismo para a Paz parte dos estudos para a paz de Johan Galtung, pesquisador
norueguês e pioneiro na reflexão sobre a possibilidade de um jornalismo mais “humano” e
menos “mercadológico”, menos violento e mais pacificador (Galtung usou os termos “Peace
Journalism”e “War Journalism”, ou Jornalismo para a Paz e Jornalismo para a Guerra, na
década de 1970).
Essa concepção de jornalismo criada por Galtung é criticada por alguns teóricos e
profissionais da comunicação, principalmente pela questão da “neutralidade” jornalística.
Hanitzsch (2004a, p.490) afirma que devido à sua função específica dentro da sociedade, não
pode ser tarefa do jornalismo libertar o mundo de crises, conflitos e outros males porque isto é
tarefa de outros sistemas sociais, como os políticos e os militares.
Contudo, em um país como o Brasil, o quinto no mundo em números de feminicídios,
segundo a Organização Mundial da Saúde (2016)11 e um dos países com maior índice de
corrupção (G1 GLOBO, 2019)12 falar em Jornalismo para a Paz ou para a Guerra em uma
análise sobre o 8M é fundamental para uma reflexão e entendimento de como as mídias
abordam temas relacionados às mulheres e de relevância social.

11
Dados da OMS – Organização Mundial da Saúde. Publicado em 12/4/2016. Disponível em:
https://nacoesunidas.org/onu-feminicidio-brasil-quinto-maior-mundo-diretrizes-nacionais-buscam-solucao/
12
Dados sobre índices de corrupção no Brasil. G1 GLOBO. Publicado em 29/1/2019. Disponível em:
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/01/29/brasil-fica-cai-para-105o-lugar-em-ranking-de-2018-dos-
paises-menos-corruptos.ghtml
Os estudos para a paz são, em si, além de multiculturais, multidisciplinares e também
interdisciplinares, uma vez que se propõem a realizar interfaces entre disciplinas e áreas do
conhecimento que permitam pensar a paz a partir de distintas perspectivas (MARTINEZ
GUZMÁN, 2005; SANDOVAL FORERO, 2012 apud CABRAL e SALHANI, 2017, p.4).
Nas perspectivas do Jornalismo para a Paz, a intenção é pensar e praticar, mesmo que a passos
curtos, uma comunicação que não foque apenas na violência de um acontecimento, mas no
porquê dele e em todos os porquês (socioeconômicos, históricos, culturais, políticos) que o
envolvem. Nas coberturas midiáticas convencionais, guerras, conflitos e movimentações
sociais são quase sempre retratados pelos mesmos ângulos; muitas histórias são ignoradas,
seja por interesses econômicos e políticos dos veículos ou pelo pautamento dos assuntos de
maneira vertical.

O jornalismo voltado para a paz (JP) é uma estratégia que visa à melhoria
das representações da mídia, da construção da realidade e da consciência
crítica. Ele propõe tratar as histórias em termos mais amplos, mais justos e
mais precisos do que aqueles ditados pela cultura e estrutura de índices de
audiência e pelos interesses de governos e movimentos. O JP explora os
antecedentes e contextos da formação de conflitos, a fim de tornar mais
transparentes as fontes de mídia, os processos e os efeitos. Ele dá voz a todas
as partes envolvidas e visa a assegurar que o conflito em si, e não as partes,
seja visto como o problema. (SHINAR, p. 43-44)

A jornalista Annabel McGoldrick ressalta que o Jornalismo para a Paz não significa negar
ou ocultar a violência (McGoldrick, 2000). A intenção é não tratar a notícia como espetáculo,
expondo a violência sem uma abordagem aprofundada sobre o porquê dela ou estimulando o
maniqueísmo (“bons” contra “maus”).
O Jornalismo para a Paz é um desafio tanto para os profissionais como para as empresas
de comunicação, dadas as condições em que muitas vezes a notícia é pautada e transmitida
(pressões por parte de políticos e grupos homogêneos, condições estruturais precárias,
conflitos ideológicos tensionados, etc.), mas é preciso repensar e reaprender a comunicação
para uma cidadania cosmopolita (NOS ALDÁS, 2010). Meios alternativos de comunicação
(como blogs, redes sociais na internet, observatórios, etc.) podem ser um ponto de partida
para que o Jornalismo para a Paz se estabeleça. A educação midiática nas escolas também é
uma forma de se trabalhar os princípios do Jornalismo para a Paz a partir da infância ou
adolescência.
O desafio da comunicação educativa é mostrar as realidades que lhe
preocupam, manifestar suas causas, transmitir os motivos por que considera
que devem ser abordados e fazer chegar suas propostas de mudança. E
sempre adotando a emoção necessária, através das possibilidades do
discurso, para que os públicos lhe prestem atenção e as incorporem no seu
pensamento e na sua atitude. Tudo isso visando aos interesses coletivos,
marcados pelas necessidades públicas e globais. Ou seja, que por fim
utilizará discursos que não serão neutros, mas que nascerão de
compromissos que promovam outros compromissos (NOS ALDÁS, 2010,
p.114)

O Jornalismo para a Paz, portanto, prevê uma comunicação solidária e inclusiva, que gere
transformação, compreensão e entendimento. Esses discursos solidários necessitam
ultrapassar os limites da comunicação e chegar ao coração e à consciência das pessoas (NOS
ALDÁS, 2010, P.123)

Abordagens reflexivas sobre as coberturas do 8M 2019 – Comunicar para Paz é


possível?

Os coletivos midiáticos na internet buscam reconfigurar os processos de produção, circulação


e consumo de conteúdos a partir de atividades mais colaborativas e democráticas. Mesmo
com essa intenção contra-hegemônica, muitas vezes essas mídias acabam reproduzindo
lógicas das mídias de massa, como verificamos em nossa análise dos coletivos Mídia Ninja e
MBL. Há escassez dialógica, escassez de contextualização histórica do 8M e, no caso do
MBL, o movimento 8M é invisível; o não dito prevalece. Sendo o 8M um movimento
feminista, logicamente suas pautas se chocam contra violências do patriarcado
(principalmente a violência cultural), que também se refletem na cobertura midiática.

Betty Reardon (1995, p.10), ao identificar o patriarcado como “sistema de


guerra”, isto é, como uma ordem social competitiva, baseada em princípios
autoritários, que pressupões um valor desigual entre seres humanos, que é
colocada em prática pela coerção, que institucionaliza a dominação
masculina em estruturas verticais e é legitimada pela cultura. É todo esse
lastro de guerra trivializado no quotidiano que é preciso escavar e trazer à
luz numa ótica renovada aos estudos para a paz. Só assim se incluirão “as
vozes e experiências que foram historicamente excluídas ou ocultadas nas
teorizações dominantes e universais da violência e da paz (COOK-
HUFFMAN, 2002, p.43)
Annabel McGoldrick e Jake Lynch (2007), importantes investigadores do Jornalismo para a
Paz, afirmam que a mídia pode contribuir para a guerra, o genocídio, o terrorismo, a opressão
e a repressão, bem como para a segurança, a dignidade, o crescimento e o poder de decisão
por cidadãos, com base na informação precisa, confiável e administrável (LYNCH e
McGOLDRICK apud SHINAR, 2008, p.43).
McGoldrick e Lynch desenvolveram, embasados nos estudos de Galtung, uma tabela que
diferencia o Jornalismo para Paz do Jornalismo para a Guerra/Violência e que nos ajudará a
compreender melhor os tipos de cobertura feitos pela Mídia Ninja e MBL:

Quadro 1. Comparativo do Jornalismo para Paz e Jornalismo de Guerra/Violência

Jornalismo para a paz Jornalismo de guerra


-Espaço e tempos abertos: causas e
consequências em qualquer lugar, inclusive -Uma parte ganha, a outra perde
na história e na cultura -Espaço e tempo fechados: causas e
-Dá voz a todas as partes, com empatia e consequências se restringem à arena, focando
entendimento em quem atirou a primeira pedra
-Humaniza todas as partes, especialmente -“Nós contra eles”; voz somente para “nós”
quando há armamentos -Orientado para elites – Tem homens da elite
-É proativo: busca a prevenção antes que a como porta-vozes
violência e guerra ocorram -É reativo: espera atos violentos para reportar.
-Foca no sofrimento de todos e dá voz a -Expõe inverdades sobre “eles” e ajuda a
mulheres, crianças e idosos encobrir as “nossas” mentiras
-Paz=não violência + criatividade -Paz=vitória + cessar fogo
-Destaca iniciativas voltadas para a paz, a fim -Oculta as iniciativas da paz ate que a vitória já
de, também, prevenir outras guerras tenha sido conquistada.
-Resultado: resolução, reconstrução,
reconciliação.

Fonte: Lynch e McGoldrick (2007) apud (CABRAL; SALHANI, 2017, p. 9)

Em termos de quantificação nas coberturas do 8M 2019, em nossa análise de conteúdo


da Mídia Ninja e do MBL verificamos as seguintes postagens, conforme quadro 2.

Quadro 2. Quantificações de postagens da Mídia NINJA e MBL sobre o 8M em 8/3/2019

Facebook:
Mídia Ninja: 198 publicações
MBL: 3 publicações
Instagram:
Mídia Ninja: 109 publicações
MBL: 6 publicações
Twitter:
Mídia Ninja: 50 publicações
MBL: 2 publicações

Fonte: elaborado pela autora.

Como há uma disparidade entre as duas mídias na quantidade de material,


selecionamos para análise de conteúdo duas publicações (imagem) de cada rede social das
duas mídias, totalizando 12 publicações.

Nas publicações do MBL, podemos observar as imagens 1 e 2 no Facebook:

Imagem 1. Imagem 2.

Fonte: MBL Facebook 13 14.

Já no Instagram, encontramos as imagens 3 e 4:

Imagem 3 Imagem 4

13
Disponível em:
https://www.facebook.com/mblivre/photos/a.204296283027856/1335478856576254/?type=3&theater
14
Disponível em:
https://www.facebook.com/mblivre/photos/a.204296283027856/1335762993214507/?type=3&theater
Fonte: MBL Instagram15 16

Já no Twitter, encontramos as seguintes imagens 5 e 6 do MBL:

Imagem 5 Imagem 6

Fonte: Twitter MBL17 18

Nas publicações do MBL no Facebook, Instagram e Twitter no dia 8 de março de


2018, quando aconteceu o 8M-Parada Internacional de Mulheres, observamos que não há
cobertura do evento, não há imagens dos manifestantes e nem abordagens sobre as
diversidades das lutas das mulheres pautadas no 8M. Nas duas imagens do Facebook o foco é

15
Disponível em: https://www.instagram.com/p/Buy-YBznFs1/
16
Disponível em: https://www.instagram.com/p/BuwpqHcHP3j/
17
Disponível em: https://twitter.com/mblivre/status/1104030129142018048
18
Disponível em: https://twitter.com/mblivre/status/1104116044849954821
a luta literal (remetendo à defesa pelo MBL do porte de armas para o cidadão comum, não a
luta por direitos ou equidade e pela responsabilidade do Estado na defesa dos cidadãos). Nas
duas imagens, as mulheres retratadas são uma policial (a cabo da PM Kátia da Silva Sastre,
que em 12 de maio de 2018, à paisana, atirou e matou um assaltante em frente a uma escola
em Suzano-SP, na presença de crianças) e uma lutadora profissional (Polyana Viana, do UFC,
que reagiu a um assalto em 7 de janeiro de 2019, no Rio de Janeiro). Nas duas publicações do
Instagram, novamente o foco não é a pauta das mulheres do 8M, mas uma referência ao fato
do ator José de Abreu se autoproclamar presidente, em fevereiro de 2019, com ironia a
Guaidó, na Venezuela, e também ao fato de ele ter cuspido em um casal em um restaurante
em São Paulo, em 2016, após ele e a esposa terem sido ofendidos com palavrões19.
Na segunda imagem, o lugar de fala é para Margaret Thatcher (voz para a elite e não
para as minorias), que foi primeira ministra do Reino Unido, considerada símbolo do
neoliberalismo. No Twitter, o MBL tem apenas duas publicações em 8 de março de 2019,
uma repetida do Facebook, que mostra a cabo da PM em ação e outra que é um vídeo da
deputada federal Gleisi Hoffman de 2017, em que ela sugere às mulheres fazerem greve de
sexo no 8M. Nenhuma das publicações aborda o 8M e suas diversidades de pautas.

Já com relação à Mídia Ninja, observamos as imagens 7 e 8 no Facebook.

Imagem 7 Imagem 8

19
https://gazetaweb.globo.com/portal/noticia.php?c=8531/ https://www.youtube.com/watch?v=r-
HdmGMfHJ4)
Fonte: Facebook Mídia Ninja20 21
Já no Instagram observamos as imagens 9 e 10 do Mídia Ninja.

Imagem 9 Imagem 10

Fonte: Instagram Mídia Ninja 22 23

Já no Twitter, encontramos as imagens 11 e 12 do Mídia Ninja.

Imagem 11 Imagem 12

Fonte: Twitter do Mídia Ninja 24 25

20
Disponível em:
https://www.facebook.com/MidiaNINJA/photos/a.235526863272133/1427247290766745/?type=3&theater
21
Disponível em:
https://www.facebook.com/MidiaNINJA/photos/a.235526863272133/1427581007400040/?type=3&theater

22
Disponível em: https://www.instagram.com/p/BuwshWdnkAt/ Em Lalish Temple, no Iraque
23
Disponível em: https://www.instagram.com/p/BuwMasLnuCU/ Buenos Aires, Argentina
24
Disponível em: https://twitter.com/MidiaNINJA/status/1104033086973661184
As abordagens da Mídia Ninja sobre o 8M 2019 revelam a diversidade das
manifestações em todo o mundo. Há fotos e vídeos das marchas em vários locais e destaque
para os cartazes que expõem as reivindicações das mulheres na data. Há falta de textos
informativos mais densos e abrangentes sobre o 8M, assim como não há legendas e créditos
em muitos vídeos e fotos publicados. Nas duas publicações do Facebook (imagens 7 e 8), os
focos são as mulheres negras, as que mais sofrem violência no Brasil e as índígenas
brasileiras, que também sofrem com a violência e a invisibilidade, inclusive nas mídias.
No Instagram, a Mìdia Ninja destaca o 8M no Iraque e na Argentina, com fotos de
mulheres pelas ruas de Lalish Temple e Buenos Aires (imagens 9 e 10). E no Twitter,
representatividade das mulheres de terreiro no Brasil e conquista de maior representatividade
das mulheres no congresso argentino (Imagens 11 e 12).
Em relação ao que é Jornalismo para a Paz e Jornalismo para a Guerra/Violência,
segundo os conceitos de Galtung (1965), observamos que as duas mídias ignoram o contexto
sócio-histórico e político do movimento, pois não há textos explicativos sobre a origem do
8M e um histórico sobre o que ocorreu antes e culminou em sua origem, em 2017 e nas
edições posteriores (2018 e 2019). No entanto, a Mídia Ninja é a mídia analisada que mais se
aproxima da ideia de Jornalismo para a Paz, pois, mesmo utilizando imagens com texto-
legenda, no máximo, faz uma cobertura imagética do movimento em várias partes do Brasil e
do mundo e mostra, nas fotos das mulheres com seus cartazes, direta ou indiretamente, quais
são as pautas do 8M. Nos materiais que analisamos, há vídeos com falas das mulheres sobre
suas mais diversas reivindicações (mulheres lésbicas, pretas, indígenas, rurais, etc.).
Quando o MBL não dá nenhuma cobertura ao movimento e nem lugar de fala para as
mulheres (o não dito) não contribui para que seu público saiba o que é o 8M. Com suas
postagens voltadas à luta literal (física) e ao dar destaque à elite (uma política neoliberalista),
a mídia digital se enquadra no conceito de Jornalismo para a Guerra/Violência de Galtung,
pois não há espaço para as “minorias” que estão nas ruas exigindo direitos ou a não retirada
dos direitos já existentes. Além de ignorar as demandas das lutas dos diversos feminismos, o
MBL evidencia - com publicações que exaltam o armamento - a violência cultural que,

25
Disponível em: https://twitter.com/MidiaNINJA/status/1104113586689978372
“atuando por mecanismos de interiorização, faz com que as violências direta e estrutural
pareçam corretas ou que, pelo menos, não pareçam erradas” (GALTUNG, 1990, p. 261).
A comunicação dotada da construção de conhecimentos e representações sociais
abriga uma pluralidade de discursos geradora de embates, por isso há a necessidade de dar
voz aos grupos mais diversos e propiciar o diálogo (FERNÁNDEZ; MIGUEL; SANTOLINO,
2014, p.63).

O pluralismo é (uma) das condições inevitáveis para a consecução dos


valores da cultura de paz e para a existência de uma comunicação
democrática; entretanto, sua ausência volta a ser (uma) das tônicas
generalizadas no sistema dos meios, tanto públicos quanto privados. (...) a
falta de pluralismo suprime a diversidade de vozes presentes na sociedade e
marginaliza os posicionamentos minoritários, uma vez que freia a
conciliação de interesses cidadãos, socioculturais, econômicos e políticos,
aprofundando a perda da qualidade democrática. (BECERRA, 2012, p.74-
75)

A ausência de conhecimento do público em relação ao assunto (8M) e todas as


complexidades que o envolvem pode levar a generalizações, estereótipos e pejorações,
estimulando uma comunicação violenta e o discurso de ódio. Para Serva (2005), essa ausência
pode fazer com que uma história complexa se torne um caso de maniqueísmo.

É provavelmente o que ocorre em todas as guerras, mas como as do passado


só conhecemos por fontes restritas, torna-se difícil saber exatamente o que
ocorreu. O mesmo pode estar acontecendo neste momento com o legado que
deixaremos para os historiadores do futuro sobre as guerras deste tempo.
(SERVA, 2005, p.98)

Considerações finais
Ao elaborar este artigo observamos como o modo de comunicar (que envolve escolhas
de imagens, vídeos e palavras ou até mesmo o que não é dito ou mostrado) pode determinar se
o jornalismo é violento ou não. Nas análises das coberturas do 8M 2019 pela Mídia Ninja e do
MBL percebemos que enquanto uma mídia abre espaço para que o movimento social dê seus
recados, no outro em nenhuma vez o movimento 8M é citado e não há lugar de fala para essas
mulheres. O não dito torna o público dessa mídia desconhecedor das lutas e conquistas das
mulheres e esse desconhecimento pode levar a estigmatizações e preconceitos quanto às lutas
das mulheres. Os recentes estudos para a paz, especificamente os de Jornalismo para a Paz
(JP) são primordiais para que elaboremos, no fazer comunicacional, seja nas mídias públicas
ou privadas, em um blog ou rede social, estratégias de sensibilização que rompam com as
violências direta, estrutural e cultural e que abram portas para uma compreensão do ser
humano diverso, mas com direitos iguais, inclusive direito de ter visibilidade e voz nas
mídias. Como diz Shinar, “a estrutura democrática e a orientação jornalística para a paz estão
intimamente ligadas” (2008, p.49). Se, como comunicadores, não pensarmos em uma
comunicação democrática que envolva, dê voz às minorias e que rompa com violências de
gênero e de outros tipos, estaremos colaborando para que as violências se naturalizem. Como
define Shinar, o Jornalismo para a Paz é uma estratégia que visa à melhoria das
representações da mídia, da construção da realidade e da consciência crítica (2008, p.43).
Shinar propõe, aliás, algumas atividades que podem ajudar as instituições midiáticas a
efetivarem o Jornalismo para a Paz, como reduzir reportagens partidárias, promover
conferências, treinamentos e intercâmbios para jornalistas, verificação de fatos (a fim de se
evitar fake news, por exemplo), estabelecer e apoiar instituições de monitoramento de mídia,
apoiar a igualdade de oportunidades na mídia para grupos étnicos, religiosos e outros, entre
outras ações que podem nos auxiliar nessa construção. Para Cabral e Salhani, o Jornalismo
para a Paz serve como diretriz para um fazer jornalístico mais completo e humanizado, no
qual o profissional se basearia nas características fundamentais do Peace Journalism durante
a produção de conteúdos noticiosos (CABRAL; SALHANI, 2017, p.13).
Pelo seu envolvimento com os mais vulneráveis, muitas vezes o Jornalismo para a Paz
recebe críticas a respeito da objetividade jornalística, mas “Não se nega que o Peace
Journalism tome partidos, mas quem o exerce o faz buscando a humanização e a
compreensão. Na prática jornalística há sempre um posicionamento por trás: pode ser a
empresa, os lucros ou o combate ao sofrimento humano; o importante é informar o público”
(NOS ALDÀS, 2016).

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8M BRASIL-FACEBOOK:
https://www.facebook.com/GrevedeMulheres

8M BRASIL-TWITTER:
https://twitter.com/grevedemulheres

8M BRASIL-INSTAGRAM:
https://www.instagram.com/8mbrasil/

Autora:

Ester Alkimim Zanco Rodella


Mestranda no Programa de Pós-graduação em Comunicação pela Faculdade de Arquitetura
Artes e Comunicação (FAAC), da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Brasil. Graduada
em Jornalismo pela Universidade Metodista de Piracicaba, fotógrafa, jornalista voluntária na
Rede Panapanã de Mulheres do Noroeste Paulista. esteralkimim@gmail.com

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