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Resumo: O objetivo deste trabalho é identificar informações sobre a cobertura jornalística via
mídias digitais da 8M (Parada Internacional de Mulheres), ocorrida em 8 de março de 2019. A
abordagem será pautada nas publicações dos veículos Mídia NINJA (Narrativas
Independentes, Jornalismo e Ação) e MBL (Movimento Brasil Livre), em páginas do
Facebook, Instagram e Twitter. A proposta é analisar se em seus conteúdos essas mídias
seguem uma metodologia voltada para a comunicação para a paz ou para a violência e se
estimulam ou não a participação democrática. A abordagem da construção desses processos
de produção de sentidos pautados em interesses políticos e sociais distintos e conflituosos (em
período pós-impeachment de Dilma Roussef, primeira mulher presidente do Brasil e eleição
de Jair Bolsonaro, um presidente de orientação política conservadora) é essencial para
compreender a dinâmica da produção e do consumo de comunicação na atualidade.
Introdução
A Internet abre espaço para que grupos de mobilização social divulguem suas
propostas, muitas vezes, apoiados por jornalistas independentes que “abraçam” suas causas e
elaboram estratégias que sustentam e ampliam a participação coletiva.
Como jornalista e fotógrafa voluntária na Rede Panapanã de Mulheres do Noroeste
Paulista1, sediada em Votuporanga-SP, acompanho de perto a importância das mídias sociais
para a divulgação de ideias e ações do grupo; é neste campo de comunicação que mais
obtemos resultados nas estratégias de mobilização. Essas ações de produção, edição e
veiculação de conteúdo não estão restritas apenas a mim, como jornalista, mas também a
outros membros da Rede que propagam informações pelas mídias sociais do grupo. Tais
procedimentos remetem à proposta de criação de uma inteligência coletiva (LÉVY, 1994), na
qual a comunicação, entre outros saberes, não é “engessada”, mas coletiva, compartilhada.
Para Lévy (2003), a inteligência coletiva é aquela que se distribui entre todos os indivíduos,
que não está restrita para poucos privilegiados. Assim se caracteriza a formação de um
“quinto poder” na comunicação via mídias sociais: o de mobilizar e gerar participação social,
provocando reflexões e questionamentos.
Com isso, Twitter, Facebook, agências de notícias alternativas e independentes, blogs
e websites contra-hegemônicos contribuíram não apenas para a mobilização das pessoas para
o #8M, como também para o exercício de uma democracia participativa, não apenas
1
Rede Panapanã de Mulheres do Noroeste Paulista. Disponível em: www.facebook.com/redepanapana
representativa. Lévy afirma que a “democracia só progredirá explorando da melhor forma as
ferramentas de comunicação contemporânea” (LÉVY, 1999, p.62)
O Jornalismo para a Paz (JP) e a mídia voltada para a paz são essenciais para
promover e encorajar o desenvolvimento das estruturas democráticas de
comunicação. A combinação de tais estruturas com o JP pode aumentar a
eficácia de programas de desenvolvimento, reduzir a desigualdade
socioeconômica, a corrupção e a exploração; além disso, incrementa o
respeito social e o respeito pessoal para com os componentes mais fracos das
sociedades em desenvolvimento.
Estudiosos dos feminismos dividem a história dos movimentos em três “ondas” principais,
apesar de sabermos que desde a formação da humanidade a mulher tem lutado para garantir
seu lugar em todos os âmbitos da sociedade.
A primeira onda aconteceu em 1848 com a Convenção dos Direitos da Mulher em Nova
York, que reivindicou a ampliação das conquistas sociais e políticas das grandes revoluções
da época às mulheres. No Brasil, essa onda ganhou força a partir de 1920, com a mobilização
das chamadas "sufragettes", mulheres intelectuais de classes abastadas que exigiram o direito
ao voto feminino. Elas não escaparam de serem chamadas de "histéricas" e "carentes de
charme”. O direito de voto às mulheres foi conquistado em 1932, com um decreto do
presidente Getúlio Vargas.
Já a segunda onda feminista marca as mobilizações inspiradas no movimento estudantil de
maio de 1968 na França para exigir valorização do trabalho, liberdade sexual e fim de
desigualdades jurídicas e da violência.
A terceira onda, a partir de 1990, questiona o movimento anterior. Tal como pontua
Jussara Reis Prá, coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Mulher e Gênero da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em entrevista para o Portal Terra (2015)2
2
Entrevista à Jussara Reis Prá. Portal Terra. 06 de novembro de 2015. Disponível em:
https://www.terra.com.br/noticias/ativismo-digital-e-a-nova-onda-do-
feminismo,9ef990f8c0e1eeedbd8ec3be2ccfdf1dxcr9pxyg.html
professor de Ciência Política da Universidade de Harvard, Steven Levitsky, co-autor do livro
“Como as democracias morrem”, de 2018, junto a Daniel Ziblatt (e que se tornou o livro
mais vendido pela Amazon no Brasil, no mesmo ano), disse em entrevista à BBC News
Brasil, em 19 de outubro de 20183, que
3
Entrevista de Steven Levitsky à BBC News Brasil em 19 de outubro de 2018. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45829323
4
Entrevista de Henrique Abel à Revista Humanias da Unisinos em 12 de novembro de 2018. Disponível em:
http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/584534-para-entender-a-crise-da-democracia-e-preciso-
compreender-o-senso-comum-do-cidadao-medio-entrevista-especial-com-henrique-abel
Se o 8M no Brasil surgiu em um contexto pós-impeachment da primeira mulher
presidente do país, Dilma Rousseff em 2016, em 2019 sua realização pós-eleição de Jair
Bolsonaro (PSL) foi tensionada pelo posicionamento conservador do presidente eleito frente
às pautas das mulheres que lutam e se organizam em movimentos sociais diversos (de negras,
lésbicas, trabalhadoras, rurais, sem teto, educadoras, índias etc.). No período que antecedeu e
procedeu a eleição de Bolsonaro, a polarização na sociedade e na mídia entre esquerda/direita
abriu brechas para discursos de ódio, de intolerância e de violência. A defesa da posse/porte
de armas para os cidadãos pelo presidente eleito e suas aparições em público fazendo sinal de
arma ajudaram a legitimar esse discurso de violência. As mídias digitais que analisamos aqui,
Midia Ninja e MBL, são exemplos dessa polarização. O estudo desse contexto sócio-histórico
marcado pela polarização e pela comunicação violenta é essencial para compreendermos as
abordagens das mídias estudadas.
O mundo sócio-histórico não é apenas um campo-objeto que está ali para ser
observado; ele é também um campo-sujeito que é construído, em parte, por
sujeitos que, no curso rotineiro de suas vidas cotidianas, estão
constantemente preocupados em compreender a si mesmos e aos outros, e
em interpretar as ações, falas e acontecimentos que se dão ao seu redor.
(THOMPSON, 1995, p. 358)
Essa distinção foi desenvolvida por Wolfsfeld (1997) em seu estudo sobre o
papel dos meios de comunicação em conflitos políticos. O autor distingue
entre as dimensões estrutural, vinculada à luta pelo acesso aos mídia, e a
dimensão cultural, relacionada à luta em torno da construção de significados.
A grande maioria dos esforços por resolver o dilema democrático ignora, ou
coloca em segundo plano, a dimensão cultural. (PORTO, 1998, p. 22).
Sendo assim, a luta não só pelo acesso à informação, mas também pelo direito de ser
ator dessa produção de informação leva as pessoas a se organizarem em movimentos que
visam uma melhora da vida em sociedade, a fim de combater todas as formas de violência,
fato que mobilizou as mulheres a se organizarem para o 8M, sendo a Internet uma grande
ferramenta de apoio nessa mobilização.
2. Potencialização do 8M na Internet
Os movimentos feministas diversos articulados principalmente via Internet (Facebook,
Instagram e Twitter, na maioria) têm, em sua páginas e perfis, sua própria mensagem
comunicando o que são, o que almejam, suas pautas de luta entre outros, o que lhes permite
uma divulgação constante e abrangente em termos de público que acessa a Internet,
reverberando algumas vezes, principalmente quando há ações pontuais como o 8M, nos meios
tradicionais de comunicação como jornais, rádios e TVs.
Em suas coberturas do 8M 2019, os dois maiores jornais de circulação nacional (Folha de
São Paulo e Estadão), por exemplo, trouxeram abordagens sobre o tema. Em 8 de março de
2019, O Estadão publicou na capa uma chamada pequena quanto ao dia, com uma matéria
grande interna, e a Folha abriu o Jornal com uma manchete sobre índices de feminicídio.
Mesmo que sua força não possa ser atribuída somente à mobilização via redes sociais, a
Internet sem dúvida contribuiu para a potencialização do 8M. Desde sua explosão na década
de 2010, as redes sociais têm servido para mobilizações políticas, dentre outros fins.
Um dos principais recursos usados pelos ativistas atuais na web é o que privilegia a
autonomia e a relação entre similaridades de luta. Tal como defende Castells (2017, p. 190):
“a construção autônoma das redes sociais controladas e guiadas por seus usuários é a grande
transformação social no século XXI”.
Essa forma de comunicação é essencialmente importante para se compreender os
vários “feminismos” que se formam e se anunciam (feminismo das pretas, feminismo
indígena, feminismo lésbico, etc.), unificando vozes de experiências e opressões diferentes,
mas empáticas.
A jornalista e pesquisadora Cristiane Costa (apud HOLLANDA, 2018, p. 47), afirma
que
Para elaborarmos este estudo sobre as coberturas do MBL e da Mídia Ninja em relação ao
8M 2019 tomamos alguns procedimentos inerentes à análise de conteúdo, como organização
8
Mídia Ninja. Disponível em: www.midianinja.org
9
Consultado em 03 jul. 2019
10
MBL – Movimento Brasil Livre. Disponível em: www.mbl.org.br
preliminar do material analisado e pesquisa, nas páginas do Facebook, Instagram e Twitter, da
Mídia Ninja e do MBL, de tudo o que foi publicado em 8 de março de 2019 sobre o 8M. Com
esse material em mãos realizamos a leitura flutuante, que nos orientou quanto à interpretação
das publicações. Em nossa análise sobre o que foi publicado observamos, claramente, como
são distintas as abordagens feitas pelos dois veículos. “Uma leitura pelo analista permite
assinalar oposições, que são codificadas na forma de temas pela sua presença ou ausência em
cada texto” (BARDIN, 2016, p.180).
Como o material analisado é muito amplo e poderá servir para um estudo mais avançado
sobre o tema, neste artigo optamos por uma amostragem de publicações, todas as imagens
fotográficas, algumas com legendas, outras com textos-montagens. Dividimos os conteúdos
pautados nas categorias de Jornalismo para a Paz e Jornalismo de Guerra (ou Violência)
desenvolvidas por Jake Lynch e Annabel McGoldrick (2000), a fim de compreendermos se as
abordagens midiáticas contribuem ou não para uma compreensão das diversidades e para a
pacificação.
O Jornalismo para a Paz parte dos estudos para a paz de Johan Galtung, pesquisador
norueguês e pioneiro na reflexão sobre a possibilidade de um jornalismo mais “humano” e
menos “mercadológico”, menos violento e mais pacificador (Galtung usou os termos “Peace
Journalism”e “War Journalism”, ou Jornalismo para a Paz e Jornalismo para a Guerra, na
década de 1970).
Essa concepção de jornalismo criada por Galtung é criticada por alguns teóricos e
profissionais da comunicação, principalmente pela questão da “neutralidade” jornalística.
Hanitzsch (2004a, p.490) afirma que devido à sua função específica dentro da sociedade, não
pode ser tarefa do jornalismo libertar o mundo de crises, conflitos e outros males porque isto é
tarefa de outros sistemas sociais, como os políticos e os militares.
Contudo, em um país como o Brasil, o quinto no mundo em números de feminicídios,
segundo a Organização Mundial da Saúde (2016)11 e um dos países com maior índice de
corrupção (G1 GLOBO, 2019)12 falar em Jornalismo para a Paz ou para a Guerra em uma
análise sobre o 8M é fundamental para uma reflexão e entendimento de como as mídias
abordam temas relacionados às mulheres e de relevância social.
11
Dados da OMS – Organização Mundial da Saúde. Publicado em 12/4/2016. Disponível em:
https://nacoesunidas.org/onu-feminicidio-brasil-quinto-maior-mundo-diretrizes-nacionais-buscam-solucao/
12
Dados sobre índices de corrupção no Brasil. G1 GLOBO. Publicado em 29/1/2019. Disponível em:
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/01/29/brasil-fica-cai-para-105o-lugar-em-ranking-de-2018-dos-
paises-menos-corruptos.ghtml
Os estudos para a paz são, em si, além de multiculturais, multidisciplinares e também
interdisciplinares, uma vez que se propõem a realizar interfaces entre disciplinas e áreas do
conhecimento que permitam pensar a paz a partir de distintas perspectivas (MARTINEZ
GUZMÁN, 2005; SANDOVAL FORERO, 2012 apud CABRAL e SALHANI, 2017, p.4).
Nas perspectivas do Jornalismo para a Paz, a intenção é pensar e praticar, mesmo que a passos
curtos, uma comunicação que não foque apenas na violência de um acontecimento, mas no
porquê dele e em todos os porquês (socioeconômicos, históricos, culturais, políticos) que o
envolvem. Nas coberturas midiáticas convencionais, guerras, conflitos e movimentações
sociais são quase sempre retratados pelos mesmos ângulos; muitas histórias são ignoradas,
seja por interesses econômicos e políticos dos veículos ou pelo pautamento dos assuntos de
maneira vertical.
O jornalismo voltado para a paz (JP) é uma estratégia que visa à melhoria
das representações da mídia, da construção da realidade e da consciência
crítica. Ele propõe tratar as histórias em termos mais amplos, mais justos e
mais precisos do que aqueles ditados pela cultura e estrutura de índices de
audiência e pelos interesses de governos e movimentos. O JP explora os
antecedentes e contextos da formação de conflitos, a fim de tornar mais
transparentes as fontes de mídia, os processos e os efeitos. Ele dá voz a todas
as partes envolvidas e visa a assegurar que o conflito em si, e não as partes,
seja visto como o problema. (SHINAR, p. 43-44)
A jornalista Annabel McGoldrick ressalta que o Jornalismo para a Paz não significa negar
ou ocultar a violência (McGoldrick, 2000). A intenção é não tratar a notícia como espetáculo,
expondo a violência sem uma abordagem aprofundada sobre o porquê dela ou estimulando o
maniqueísmo (“bons” contra “maus”).
O Jornalismo para a Paz é um desafio tanto para os profissionais como para as empresas
de comunicação, dadas as condições em que muitas vezes a notícia é pautada e transmitida
(pressões por parte de políticos e grupos homogêneos, condições estruturais precárias,
conflitos ideológicos tensionados, etc.), mas é preciso repensar e reaprender a comunicação
para uma cidadania cosmopolita (NOS ALDÁS, 2010). Meios alternativos de comunicação
(como blogs, redes sociais na internet, observatórios, etc.) podem ser um ponto de partida
para que o Jornalismo para a Paz se estabeleça. A educação midiática nas escolas também é
uma forma de se trabalhar os princípios do Jornalismo para a Paz a partir da infância ou
adolescência.
O desafio da comunicação educativa é mostrar as realidades que lhe
preocupam, manifestar suas causas, transmitir os motivos por que considera
que devem ser abordados e fazer chegar suas propostas de mudança. E
sempre adotando a emoção necessária, através das possibilidades do
discurso, para que os públicos lhe prestem atenção e as incorporem no seu
pensamento e na sua atitude. Tudo isso visando aos interesses coletivos,
marcados pelas necessidades públicas e globais. Ou seja, que por fim
utilizará discursos que não serão neutros, mas que nascerão de
compromissos que promovam outros compromissos (NOS ALDÁS, 2010,
p.114)
O Jornalismo para a Paz, portanto, prevê uma comunicação solidária e inclusiva, que gere
transformação, compreensão e entendimento. Esses discursos solidários necessitam
ultrapassar os limites da comunicação e chegar ao coração e à consciência das pessoas (NOS
ALDÁS, 2010, P.123)
Facebook:
Mídia Ninja: 198 publicações
MBL: 3 publicações
Instagram:
Mídia Ninja: 109 publicações
MBL: 6 publicações
Twitter:
Mídia Ninja: 50 publicações
MBL: 2 publicações
Imagem 1. Imagem 2.
Imagem 3 Imagem 4
13
Disponível em:
https://www.facebook.com/mblivre/photos/a.204296283027856/1335478856576254/?type=3&theater
14
Disponível em:
https://www.facebook.com/mblivre/photos/a.204296283027856/1335762993214507/?type=3&theater
Fonte: MBL Instagram15 16
Imagem 5 Imagem 6
15
Disponível em: https://www.instagram.com/p/Buy-YBznFs1/
16
Disponível em: https://www.instagram.com/p/BuwpqHcHP3j/
17
Disponível em: https://twitter.com/mblivre/status/1104030129142018048
18
Disponível em: https://twitter.com/mblivre/status/1104116044849954821
a luta literal (remetendo à defesa pelo MBL do porte de armas para o cidadão comum, não a
luta por direitos ou equidade e pela responsabilidade do Estado na defesa dos cidadãos). Nas
duas imagens, as mulheres retratadas são uma policial (a cabo da PM Kátia da Silva Sastre,
que em 12 de maio de 2018, à paisana, atirou e matou um assaltante em frente a uma escola
em Suzano-SP, na presença de crianças) e uma lutadora profissional (Polyana Viana, do UFC,
que reagiu a um assalto em 7 de janeiro de 2019, no Rio de Janeiro). Nas duas publicações do
Instagram, novamente o foco não é a pauta das mulheres do 8M, mas uma referência ao fato
do ator José de Abreu se autoproclamar presidente, em fevereiro de 2019, com ironia a
Guaidó, na Venezuela, e também ao fato de ele ter cuspido em um casal em um restaurante
em São Paulo, em 2016, após ele e a esposa terem sido ofendidos com palavrões19.
Na segunda imagem, o lugar de fala é para Margaret Thatcher (voz para a elite e não
para as minorias), que foi primeira ministra do Reino Unido, considerada símbolo do
neoliberalismo. No Twitter, o MBL tem apenas duas publicações em 8 de março de 2019,
uma repetida do Facebook, que mostra a cabo da PM em ação e outra que é um vídeo da
deputada federal Gleisi Hoffman de 2017, em que ela sugere às mulheres fazerem greve de
sexo no 8M. Nenhuma das publicações aborda o 8M e suas diversidades de pautas.
Imagem 7 Imagem 8
19
https://gazetaweb.globo.com/portal/noticia.php?c=8531/ https://www.youtube.com/watch?v=r-
HdmGMfHJ4)
Fonte: Facebook Mídia Ninja20 21
Já no Instagram observamos as imagens 9 e 10 do Mídia Ninja.
Imagem 9 Imagem 10
Imagem 11 Imagem 12
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Disponível em:
https://www.facebook.com/MidiaNINJA/photos/a.235526863272133/1427247290766745/?type=3&theater
21
Disponível em:
https://www.facebook.com/MidiaNINJA/photos/a.235526863272133/1427581007400040/?type=3&theater
22
Disponível em: https://www.instagram.com/p/BuwshWdnkAt/ Em Lalish Temple, no Iraque
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Disponível em: https://www.instagram.com/p/BuwMasLnuCU/ Buenos Aires, Argentina
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Disponível em: https://twitter.com/MidiaNINJA/status/1104033086973661184
As abordagens da Mídia Ninja sobre o 8M 2019 revelam a diversidade das
manifestações em todo o mundo. Há fotos e vídeos das marchas em vários locais e destaque
para os cartazes que expõem as reivindicações das mulheres na data. Há falta de textos
informativos mais densos e abrangentes sobre o 8M, assim como não há legendas e créditos
em muitos vídeos e fotos publicados. Nas duas publicações do Facebook (imagens 7 e 8), os
focos são as mulheres negras, as que mais sofrem violência no Brasil e as índígenas
brasileiras, que também sofrem com a violência e a invisibilidade, inclusive nas mídias.
No Instagram, a Mìdia Ninja destaca o 8M no Iraque e na Argentina, com fotos de
mulheres pelas ruas de Lalish Temple e Buenos Aires (imagens 9 e 10). E no Twitter,
representatividade das mulheres de terreiro no Brasil e conquista de maior representatividade
das mulheres no congresso argentino (Imagens 11 e 12).
Em relação ao que é Jornalismo para a Paz e Jornalismo para a Guerra/Violência,
segundo os conceitos de Galtung (1965), observamos que as duas mídias ignoram o contexto
sócio-histórico e político do movimento, pois não há textos explicativos sobre a origem do
8M e um histórico sobre o que ocorreu antes e culminou em sua origem, em 2017 e nas
edições posteriores (2018 e 2019). No entanto, a Mídia Ninja é a mídia analisada que mais se
aproxima da ideia de Jornalismo para a Paz, pois, mesmo utilizando imagens com texto-
legenda, no máximo, faz uma cobertura imagética do movimento em várias partes do Brasil e
do mundo e mostra, nas fotos das mulheres com seus cartazes, direta ou indiretamente, quais
são as pautas do 8M. Nos materiais que analisamos, há vídeos com falas das mulheres sobre
suas mais diversas reivindicações (mulheres lésbicas, pretas, indígenas, rurais, etc.).
Quando o MBL não dá nenhuma cobertura ao movimento e nem lugar de fala para as
mulheres (o não dito) não contribui para que seu público saiba o que é o 8M. Com suas
postagens voltadas à luta literal (física) e ao dar destaque à elite (uma política neoliberalista),
a mídia digital se enquadra no conceito de Jornalismo para a Guerra/Violência de Galtung,
pois não há espaço para as “minorias” que estão nas ruas exigindo direitos ou a não retirada
dos direitos já existentes. Além de ignorar as demandas das lutas dos diversos feminismos, o
MBL evidencia - com publicações que exaltam o armamento - a violência cultural que,
25
Disponível em: https://twitter.com/MidiaNINJA/status/1104113586689978372
“atuando por mecanismos de interiorização, faz com que as violências direta e estrutural
pareçam corretas ou que, pelo menos, não pareçam erradas” (GALTUNG, 1990, p. 261).
A comunicação dotada da construção de conhecimentos e representações sociais
abriga uma pluralidade de discursos geradora de embates, por isso há a necessidade de dar
voz aos grupos mais diversos e propiciar o diálogo (FERNÁNDEZ; MIGUEL; SANTOLINO,
2014, p.63).
Considerações finais
Ao elaborar este artigo observamos como o modo de comunicar (que envolve escolhas
de imagens, vídeos e palavras ou até mesmo o que não é dito ou mostrado) pode determinar se
o jornalismo é violento ou não. Nas análises das coberturas do 8M 2019 pela Mídia Ninja e do
MBL percebemos que enquanto uma mídia abre espaço para que o movimento social dê seus
recados, no outro em nenhuma vez o movimento 8M é citado e não há lugar de fala para essas
mulheres. O não dito torna o público dessa mídia desconhecedor das lutas e conquistas das
mulheres e esse desconhecimento pode levar a estigmatizações e preconceitos quanto às lutas
das mulheres. Os recentes estudos para a paz, especificamente os de Jornalismo para a Paz
(JP) são primordiais para que elaboremos, no fazer comunicacional, seja nas mídias públicas
ou privadas, em um blog ou rede social, estratégias de sensibilização que rompam com as
violências direta, estrutural e cultural e que abram portas para uma compreensão do ser
humano diverso, mas com direitos iguais, inclusive direito de ter visibilidade e voz nas
mídias. Como diz Shinar, “a estrutura democrática e a orientação jornalística para a paz estão
intimamente ligadas” (2008, p.49). Se, como comunicadores, não pensarmos em uma
comunicação democrática que envolva, dê voz às minorias e que rompa com violências de
gênero e de outros tipos, estaremos colaborando para que as violências se naturalizem. Como
define Shinar, o Jornalismo para a Paz é uma estratégia que visa à melhoria das
representações da mídia, da construção da realidade e da consciência crítica (2008, p.43).
Shinar propõe, aliás, algumas atividades que podem ajudar as instituições midiáticas a
efetivarem o Jornalismo para a Paz, como reduzir reportagens partidárias, promover
conferências, treinamentos e intercâmbios para jornalistas, verificação de fatos (a fim de se
evitar fake news, por exemplo), estabelecer e apoiar instituições de monitoramento de mídia,
apoiar a igualdade de oportunidades na mídia para grupos étnicos, religiosos e outros, entre
outras ações que podem nos auxiliar nessa construção. Para Cabral e Salhani, o Jornalismo
para a Paz serve como diretriz para um fazer jornalístico mais completo e humanizado, no
qual o profissional se basearia nas características fundamentais do Peace Journalism durante
a produção de conteúdos noticiosos (CABRAL; SALHANI, 2017, p.13).
Pelo seu envolvimento com os mais vulneráveis, muitas vezes o Jornalismo para a Paz
recebe críticas a respeito da objetividade jornalística, mas “Não se nega que o Peace
Journalism tome partidos, mas quem o exerce o faz buscando a humanização e a
compreensão. Na prática jornalística há sempre um posicionamento por trás: pode ser a
empresa, os lucros ou o combate ao sofrimento humano; o importante é informar o público”
(NOS ALDÀS, 2016).
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Acesso em 24 jun.2019.
Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/ativismo-digital-e-a-nova-onda-do-
feminismo,9ef990f8c0e1eeedbd8ec3be2ccfdf1dxcr9pxyg.html Acesso em 24 jun.2019
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