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Volume 2
Organização
Gerson Rodrigues de Albuquerque
Agenor Sarraf Pacheco
Nepan Editora
Rio Branco - Acre
2017
Núcleo de Estudos das Culturas Amazônicas e Pan-Amazônicas - Nepan
ISBN:
CDD: 469.398112
Bibliotecária:Vivyanne Ribeiro das Mercês Neves CRB-11/600
ARQUEOLOGIA
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ção e a seriação como uma forma de datação. Para os arqueólogos histó-
rico-culturalistas as principais perguntas de pesquisa são: Quando e Onde
os acontecimentos ocorreram?
O Processualismo, que surgiu do movimento de crítica à ar-
queologia tradicional provocado pela Nova Arqueologia em meados da
década de 1960, teve como principal palco de atuação além dos Estados
Unidos também a Inglaterra. Com um forte discurso cientificista, esta cor-
rente de pensamento vai partir de um preceito extremamente positivista
pela dissociação entre o objeto e o pesquisador, onde este último assume
uma objetividade e imparcialidade absoluta frente ao objeto de estudo. O
Processualismo vai clamar também pela visão antropológica do passado
humano, abordando um viés do determinismo ecológico para estabele-
cer relações atemporais entre as sociedades. Buscando auxilio em outras
ciências como biologia, geologia e matemática o Processualismo procura
por leis gerais que governem os padrões de comportamento humano
cristalizados pelos vestígios arqueológicos nos sítios. Para o Processua-
lismo a cultura material é hoje um reflexo estático de ações dinâmicas
passadas e este comportamento pertence a uma composição sistêmica e
homeostática formada pela sociedade e o seu meio-ambiente. Com um
desenho explicativo e não descritivo, o Processualismo procura também
por generalizações e universalismos no comportamento humano, aplican-
do um preceito dedutivo para a pesquisa arqueológica. Para os arqueó-
logos processualistas as principais perguntas de pesquisa são: Como e
Porquê os acontecimentos ocorreram?
As escolas Pós-processualistas surgem por volta da década de
1980 na Inglaterra, e partem de um conjunto de ideias opostas ao Pro-
cessualismo. O Pós-processualismo trabalha muito mais com a associação
do arqueólogo e seu objeto de estudo, em uma abordagem antipositivista,
marxista e pós-estruturalista, também assume um posição hermenêutica,
fenomenológica e pós-moderna. Para o arqueólogo pós-processualista o
passado é único e imutável, portanto sua abordagem vai ser muito mais
historicista e sociológica. Os vestígios arqueológicos e a cultura material
vão ser entendidos como idiossincrasias a situações particulares de cada
sociedade, e também como detentores de outras percepções além de
suas materialidades, como poder, agencia, gênero. O Pós-processualismo
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encontra na multivocalidade dos objetos, ou seja, nos diferentes significa-
dos que um objeto pode assumir dependendo do contexto em que este
está inserido ou de quem o manipula, a sua raiz lógica de funcionamento.
Para o arqueólogo pós-processualista a sua própria leitura sobre o ob-
jeto também é alvo de estudo e preocupação na arqueologia. Com uma
temática variada as escolas Pós-processualistas abarcam desde discussões
como a arqueologia interpretativa, contextual, cognitiva, até arqueologia
crítica, pública, descolonial, simétrica e outras. Para os arqueólogos Pós-
-processualistas as principais perguntas de pesquisa são: o Para, o Quê e
Para Quem fazer arqueologia?
No Brasil a história da arqueologia sempre seguiu um caminho
mais orientado pela prática, e separado basicamente em duas “escolas”
epistemológicas. A primeira herdada pela vinda de uma “missão” francesa
na década de 1960 que com isto legou uma escola arqueológica fortemen-
te ligada à história como é comum nos países europeus onde a arqueolo-
gia é concebida ainda como uma ciência auxiliar. Por ouro lado, na década
de 1970 houve outra “missão” arqueológica esta agora com participação
de norte-americanos que por sua vez deixaram uma escola voltada mais
para antropologia, onde neste caso a arqueologia é vista como uma téc-
nica apenas. Porém, longe destes reducionismos não é correto afirmar
que o melhor caminho para a formação de um pensamento próprio na
arqueologia brasileira passe necessariamente pela história, pois enquanto
estudo do homem a antropologia se destaca, e vice-versa. Por outro lado,
muito além de ambas às disciplinas, uma formação completa precisa de
uma base tanto teórica quanto prática.
Hoje a arqueologia brasileira passa ainda por uma fase de
consolidação, seja advindo do enorme mercado que se constituiu após
a redemocratização do país e dos inúmeros dispositivos criados para a
preservação do patrimônio arqueológico nacional após a década de 19802.
Ou através da formação de novas gerações de arqueólogas e arqueólogos
nos cursos e pós-graduação, após a década de 1990 ou de graduação, após
a década de 2000, em todas as regiões do Brasil. O papel da Sociedade de
Arqueologia Brasileira também merece destaque tanto na organização de
encontros entre esses profissionais, quanto na mediação da academia com
2 Com destaque para a Lei 3.924 de 1961 que versa sobre a conceituação, preservação e
exploração do patrimônio arqueológico brasileiro.
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a sociedade.Apesar da profissão ainda não ser reconhecida oficialmente, o
crescente do número de arqueólogos no país tem sido vertiginoso, assim
como o entendimento por parte da sociedade da necessidade de atuação
e zelo pelo patrimônio arqueológico.
O objeto de estudo da arqueologia é o sítio arqueológico,
geralmente amplo em sua definição; o sítio arqueológico cobre uma gama
inúmera de características indo desde um achado isolado – como uma
machadinha de pedra – até grandes modificações na paisagem – como
uma cidade inteira. Portanto, a posição assumida aqui é que o sítio arque-
ológico é constituído pela materialidade que exerce uma função específica
de um determinado tempo e espaço. A metodologia na arqueologia é basi-
camente dividida em três etapas: gabinete, campo e laboratório. Necessa-
riamente não existe uma hierarquia entre estas três tarefas, mas sim uma
cronologia a ser seguida. O trabalho de gabinete serve como preparação
para a pesquisa de campo e laboratório, pode ocorrer através de for-
mação específica ou generalista, e também concomitante as outras duas
etapas, e ao final destas. O trabalho de campo é responsável pela identifi-
cação e coleta de dados, isto é realizado com aplicação de metodologias
específicas no sítio arqueológico, para a sua localização e exploração. Por
outro lado, o trabalho de laboratório segue uma ordem de etapas que são
responsáveis pela adequação para análise das peças, seu estudo e inter-
pretação.
O trabalho de campo é constituído pelo levantamento e cole-
ta dos dados, onde o sítio é investigado cientificamente de forma a extrair
o máximo de informação possível do mesmo. O trabalho de campo ge-
ralmente desenvolve-se por etapas intercaladas com o trabalho de labo-
ratório, ou idas ao campo. Porém, nos casos da arqueologia de contrato
muitas vezes é realizado em uma etapa única e de acordo com o crono-
grama da obra. O trabalho de campo é uma atividade essencial na pesquisa
arqueológica e o que mais diferencia esta de outras ciências, convergindo
metodologia e teoria esta pratica deve ser sempre regida pela ética e
consciência na tomada de decisões. O trabalho de campo é o que real-
mente identifica o arqueólogo, pois independente das posições teóricas
tomadas ou opções metodológicas seguidas, é no trabalho de campo que
a pesquisa arqueológica é definida e as etapas posteriores orientadas.
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O levantamento arqueológico é a fase inicial de qualquer tra-
balho de campo, onde é observada a composição do sítio arqueológico,
suas dimensões e profundidade. Nessa fase é utilizada a metodologia de
caminhamento sobre a área do sítio com observação de vestígios arque-
ológicos em superfície. Realizado essencialmente de duas formas, com
um caminhamento sistemático em linhas retas e paralelas entre si, ou de
forma aleatória, onde o terreno indica o percurso a ser seguido. O cami-
nhamento é sempre a fase inicial de qualquer trabalho arqueológico de
campo, podendo muitas vezes ser previamente orientado com o estudo
geográfico e histórico do terreno a ser investigado. Um trabalho com-
plementar é sempre a intervenção em sub-superfície durante o caminha-
mento, onde são abertos pequenos trados para a observação de material
em profundidade do sítio, em alguns casos o trado é substituído por uma
pequena escavação, denominado também de poço-teste.
A coleta de dados ocorre principalmente pela escavação do
sítio arqueológico, esta fase deve ser sempre elaborada seguindo um plano
de ações bem definido para o sítio, pois a escavação é um processo único
e não recuperável. Normalmente iniciada com a abertura de um poço-tes-
te, que tem por objetivo definir a composição estratigráfica do sítio e as
características da camada arqueológica, o tipo de escavação varia muito
conforme o sítio. No caso de sítio que não possuem estruturas aparentes,
ou identificáveis no terreno, é recomendada a utilização de trincheiras
para a identificação de áreas específicas ou concentração de material ar-
queológico. No caso de sítios com limites e áreas definidas a utilização
de quadrículas é uma opção, pois permite um trabalho com maior preo-
cupação estratigráfica ou diacrônica, onde a abertura de cada quadrícula
é orientada conforme a extensão a camada arqueológica, muitas vezes
sendo utilizada como uma forma amostral de coleta e dados sobre o sítio.
Por outro lado, a utilização de escavações de superfícies amplas é uma
forma de pesquisa sincrônica do registro arqueológico, onde um mesmo
momento de deposição dos vestígios é revelado em sua extensão máxima.
Este estudo muitas vezes utilizado para revelar solos de ocupação, não
segue arbitrariedades como a divisão artificial das camadas estratigráficas.
Nenhuma metodologia de escavação é totalmente incompleta, mas sim
especifica para cada tipo de investigação, dependendo da característica do
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sítio podem ser utilizadas em combinação ou em diferentes áreas de um
mesmo sítio.
No laboratório é executada a etapa de análise dos dados, e
para isso primeiramente o material é limpo e catalogado, depois sepa-
rado e finalmente analisado. A limpeza é essencial para revelar todos os
atributos dos artefatos, quanto à catalogação, esta segue um padrão de
identificação da peça por numeração a qual corresponde sua localização
espacial (X,Y, Z) no sítio. A tipologia é o processo de análise mais comum,
partindo de certas propriedades identificáveis na peça, onde os objetos
são agrupados ou separados conforme suas similaridades e diferenças.
Para depois serem caracterizados, descritos e interpretados conforme
sua funcionalidade. O trabalho de interpretação do artefato não é uma via
única, assim como são classificados e identificados segundo suas próprias
características, os objetos também são comparados com informações ex-
ternas a estes para a determinação de sua funcionalidade ou os atributos,
como o contexto arqueológico ou informação etnográfica, teste experi-
mental, ou quando houver histórica.
A última etapa da investigação arqueológica é a publicação
dos resultados, nesta fase a combinação de todas as informações é essen-
cial para gerar algumas sínteses sobre determinada questão, ou contribuir
com a construção de novo conhecimento sobre algo ou determinado
acontecimento. A pesquisa arqueológica, pela própria natureza de seu ob-
jeto de investigação é essencialmente uma ciência indutiva. Porém, nada
impede que o resultado da investigação arqueológica seja utilizado para
refutar ou comprovar modelos dedutivos. Em suma, a pesquisa arqueoló-
gica não se encerra com a publicação dos dados, pois estes, por sua vez
vão compor os preceitos teóricos e metodológicos a serem utilizados em
novas pesquisas, e – espera-se – assim por diante.
Referência
Darvill, T. Oxford concise dictionary of Archaeology. Oxford: Oxford
University Press, 2002-2003.
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