Resenha Bagno

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Resenha

BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. 49. Ed. São
Paulo: Loyola, 1999.

Marcos Bagno é professor do Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução


da Universidade de Brasília, doutor em filologia e língua
portuguesa pela Universidade de São Paulo, tradutor, escritor com diversos prêmios
e mais de 30 títulos publicados entre literatura e obras técnico-didáticas. Atua mais
especificamente na área de sociolinguística e literatura infanto-juvenil, bem como
questões pedagógicas sobre o ensino de português no Brasil. Em 2012 sua obra As
memórias de Eugênia recebeu o Prêmio Jabuti.

O livro “Preconceito Linguístico” do autor Marcos Bagno trata de questões


relacionadas ao modo de como se fala e escreve no âmbito escolar e na sociedade,
discorrendo sobre a não homogeneidade da língua falada no Brasil e suas variações
que decorrem, entre outros fatores, das divergências sociais e da posição geográfica
dos indivíduos. Salientando para a mutabilidade da língua falada, que não é algo
inerte, pois se transforma e se renova com o tempo.
A obra divide-se em quatro partes e faz reflexões sobre alguns aspectos da
disparidade existente entre a norma culta e língua falada pela maioria dos
indivíduos. A primeira parte, o autor analisa oito mitos existentes a respeito do
preconceito linguísticos.
Na primeira parte, o autor discorre sobre a existência de oito mitos da língua
portuguesa. Esses mitos referem-se à diversidade da língua portuguesa nas
diversas regiões do Brasil, destacando existência de preconceitos para aqueles que
não dominam a norma culta. Reconhecendo essa diversidade, Bagno analisa as
diferenças na maneira como se fala o português no Brasil e em Portugal e defende
que a maneira como se fala o português no Brasil também é correto de acordo com
as particularidades da nossa cultura. Ele atribui como origem do preconceito
linguístico a confusão criada entre língua e gramática normativa. Assim, a realização
desse preconceito se dá quando negamos, principalmente, a variedade da fala
presente nos mais variados espaços geográfico e nas diversas classes sociais. Para
o autor, isso é ainda mais grave quando exercido por aqueles que estão à frente da
educação e do ensino, como professores, linguistas e gramáticos, que na maioria
das vezes são os maiores perpetuadores desse preconceito ao tentar impor
uma norma culta que não alcança a todos os falantes da língua.

No segundo capítulo "O círculo vicioso do preconceito linguístico" pode ser


observado um alerta que o autor faz para a existência de determinados elementos
que unidos, contribuem para manter o círculo vicioso do preconceito linguístico.
Sendo composto por três elementos: a gramática tradicional; os métodos tradicionais
de ensino; e os livros didáticos. Também mostra como a atitude de alguns
profissionais como professores e jornalistas contribuem para que o preconceito
linguístico se mantenha, criticando a mídia e seus diversos meios de comunicação,
Na terceira parte, "A desconstrução do preconceito linguístico", o autor
reconhece a existência de uma crise no ensino da língua portuguesa e sugere
alternativas de mudança de atitudes, uma vez que o domínio da norma culta é algo
restrito a uma pequena minoria. Resaltando que para a desconstrução desse círculo
vicioso, se faz necessário desfazer o conflito existente entre língua escrita, que é
norteada pela ortografia e a língua falada pela ampla maioria das pessoas.
Já na última parte “O preconceito contra a linguística e os linguístas”, Bagno
retoma o debate a respeito do ensino da gramática tradicional, criticando e
salientando para a necessidade de inovação das práticas de ensino. Segundo o
autor, o novo assusta, subverte as certezas e compromete as estruturas de poder e
dominação adotadas por muito tempo, sendo necessárias transformações no ensino
da gramática, tornando-a mais coerente e acessível a todos os falantes da língua
portuguesa na Brasil.
A obra é recomendada para os profissionais da área da educação, uma vez o
seu caráter desmistificador pode ser de fundamental importância para a abordagem
desse tema em sala de aula. Os profissionais das áreas sociais também podem
fazer bom proveito da leitura desse livro. A explanação que o mesmo faz a respeito
dos preconceitos linguísticos, abre opções de debates acerca do preconceito e
exclusão social perpetuada na sociedade brasileira.
A obra tende a ser um importante instrumento de combate ao preconceito
linguístico e propõe uma reflexão detalhada do que é língua portuguesa, destacando
a necessidade de revisão dos métodos de ensino da língua portuguesa no Brasil,
pois a forma tradicional perpetua uma visão preconceituosa. Bagno usa argumentos
coerentes e uma linguagem instigante e provocativa em todo o texto, levando o leitor
a se questionar do quanto se encaixa como praticante e ao mesmo tempo vítima dos
preconceitos e mitos destacados na obra. Entretanto, não se pode ignorar o fato de
que a gramática normativa existe, e como tal determina, seu papel é estabelecer
regras para a construção do pensamento, da escrita e da oralidade nos ambientes
escolar, acadêmico e jornalístico.

Manoel Cleciano Alencar Gomes cursa o oitavo período do curso de Serviço Social
na Universidade Federal de Alagoas.

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