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30% a 40%
da população, dependendo do país, fumava. O cigarro foi, em termos
absolutos, a coisa mais viciante que a humanidade já inventou. Hoje ele é
execrado, com razão, e cenários assim são difíceis até de imaginar. Olhamos
para trás e nos surpreendemos ao perceber como as pessoas se deixavam
escravizar, aos bilhões, por algo tão nocivo. Enquanto fazemos isso, porém,
vamos sendo dominados por um vício ainda mais onipresente: o
smartphone.
Recompensa variável
Burrhus Frederic Skinner era um sujeito espertinho. Na faculdade que ele
entrou, a Hamilton College, em Nova York, o trote universitário consistia em
amarrar o calouro a um poste e deixá-lo lá durante a noite. “B.F.”, como se
tornaria conhecido, teve a ideia de esconder uma gilete dentro do sapato, que
usou para cortar a corda. Ele queria ser escritor, mas acabou se formando em
psicologia e virou professor da Universidade Harvard. Skinner acreditava que
todos os pensamentos e comportamentos de um indivíduo, sem exceção, são
determinados pelas experiências que ele já teve – e, portanto, podem ser
condicionados. Para tentar provar isso, Skinner fez uma série de experiências
com ratos de laboratório nos anos 1950. Colocou ratos em gaiolas com uma
alavanca que, quando pressionada, liberava comida.
Quando você entra no Instagram, por exemplo, pode receber várias fotos
novas dos seus amigos; ou nenhuma. No Facebook, pode encontrar novos
likes e comentários naquele seu post… ou nada. Essa alternância
maximiza a dependência. “Quando desbloqueamos o celular e deslizamos
o dedo para atualizar nosso e-mail ou ver a foto seguinte numa rede
social, estamos jogando caça-níqueis com o smartphone”, afirma Harris.
“As recompensas variáveis parecem manter o cérebro ocupado, desarmando
suas defesas e criando uma oportunidade para plantar as sementes de novos
hábitos. Estranhamente, nós percebemos esse estado de transe como
divertido”, diz o desenvolvedor Nir Eyal no livro Hooked: How to Build
Habit-Forming Products (“Fisgado: como construir produtos que formam
hábitos”, inédito no Brasil). “Isso acontece porque nosso cérebro está
programado para procurar incessantemente pela próxima recompensa.”
Esse mecanismo funciona graças à ação da dopamina. O cérebro libera doses
desse neurotransmissor quando comemos algo gostoso, fazemos exercício ou
interagimos com outras pessoas, por exemplo. Isso era importante durante a
evolução, pois a dopamina nos recompensa por comportamentos benéficos e
nos motiva a repeti-los. O problema é que esse processo pode ser corrompido
pela ação de drogas como a nicotina e a cocaína. Essas substâncias fazem o
cérebro liberar dopamina mesmo que não haja um comportamento benéfico. O
smartphone também.
Um detalhe torna esse ciclo especialmente viciante. Durante muito tempo,
pensava-se que as descargas de dopamina eram liberadas após o prêmio. Mas
elas acontecem antes. É o que mostrou o biólogo Robert Sapolsky, da
Universidade Stanford, a partir de um estudo com um macaco. O animal foi
treinado para saber que, quando a luz da jaula acendia, ele tinha que
pressionar uma alavanca dez vezes para ganhar comida.
E outras dez para ganhar mais. Sapolsky acreditava que o nível de dopamina
no cérebro do macaco aumentaria quando ele recebesse a recompensa. Mas,
na verdade, isso acontecia antes: quando o macaco via a luz acender. “A
dopamina não tem a ver com prazer, e sim com a antecipação do prazer”,
declarou Sapolsky, ao comentar o resultado. “Tem a ver com a busca da
felicidade, mais do que com a felicidade em si.”
(Denis Freitas/Superinteressante)
(Yasmin Ayumi/Superinteressante)
A guerra da atenção
(Denis Freitas/Superinteressante)
Adendo: como se
defender
Podemos estar viciados em nossos smartphones, mas não
somos escravos deles; veja o que fazer para retomar o
controle.
A. Desligue as notificações
Vale a pena manter as notificações do Gmail, do WhatsApp e dos aplicativos
de táxi e comida. Mas dá tranquilamente para desativar todas as demais. Não
fazem falta.
(Yasmin Ayumi/Superinteressante)
(Yasmin Ayumi/Superinteressante)