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Morre José Mojica Marins, o Zé do

Caixão, aos 83 anos


Artista teve complicação devido a broncopneumonia, informação foi confirmada pela filha Liz
Marins

Luiz Carlos Merten, O Estado de S.Paulo


19 de fevereiro de 2020 | 17h51

José Mojica Marins, o Zé do Caixão, morreu nesta quarta-feira, 19, aos 83 anos. O artista teve
complicação devido a uma broncopneumonia. A informação foi confirmada pela filha Liz Marins.
Detalhes sobre velório e enterro ainda não estão confirmados.

LEIA TAMBÉM > Memória: monstro do cinema, Zé do Caixão encontra o seu destino

Marins nasceu em São Paulo, em 13 de março de 1936. Os pais, de origem espanhola, eram artistas de
circo. Sempre adorou gibis e filmes. O pai chegou a ser gerente de cinema, o que permitiu ao garoto
desenvolver o imaginário no escurinho do cinema. Aos 12 anos, ganhou um câmera. Nunca mais parou
de filmar. Alguns de seus filmes artesanais chegaram a ser exibidos para plateias pagantes, o que cobria
os gastos de ‘produção’. Aos 17 anos, fundou a Companhia Cinematográfica Atlas. Recrutando atores
que testava com insetos e outros bichos, descobriu que sua vocação estava no terror escatológico.

Aventura, faroeste, drama. José Mojica Marins fez de tudo, ao longo de sua carreira como ator e diretor.
Mas foi o terror que lhe deu fama. É um daqueles casos em que o personagem sobrepujou o autor. Zé do
Caixão no Brasil, Coffin Joe nos EUA. Quem não conhece a sinistra figura de unhas longas e
encurvadas? Mesmo quando seus filmes deixaram de fazer sucesso - o último, o mais bem produzido de
sua carreira, ficou abaixo da expectativa -, a aura permaneceu intacta. As pessoas ainda o paravam na
rua, queriam tirar fotos, pediam autógrafos.

Em 1958, lançou seu western caboclo, A Sina do Aventureiro. Seis anos mais tarde, surgiu Meu Destino
em Tuas Mãos, que segue as aventuras de cinco crianças que caem, na estrada, fugindo dos pais. O líder
do grupo canta, e o filme segue a vertente aberta pelo chamado rouxinol de ouro, o ator mirim espanhol
Joselito, que cantava como ninguém. Em 1963, finalmente, foi a vez de À Meia-Noite Levarei Sua
Alma. Repetidas vezes Marins contou a história da gênese de Zé do Caixão. O personagem foi criado por
ele em 11 de outubro de 1963. Marins sonhara, terrível pesadelo, com um vulto que o arrastava para o
vulto.

Procurando reproduzir sua aflição, ele criou Zé do Caixão e lhe deu esse nome baseado, segundo dizia,
na lenda de um ser que viveu há milhões de anos na Terra e que se transformou em luz, voltando, como
luz, muito tempo depois, ao planeta de origem. O detalhe curioso é que Marins não ficou satisfeito com
a própria voz. Ele intuía que Zé do Caixão precisava de um timbre especial. Assim como tem data de
nascimento, o personagem teve um dublador - Laércio Laurelli, que dublava um ator italiano então
popular, Mario Carotenuto. A crítica caiu matando, e assim prosseguiu nos filmes seguintes. O público
encampou Zé do Caixão. O reconhecimento começou no exterior, mesmo que Glauber Rocha, um ícone
do cinema do País, tenha sido pioneiro ao reconhecer que alguma coisa havia naquele Zé do Caixão.

/
Josefel Zanatas é o verdadeiro nome do personagem. Amoral e niilista, ele exerce a função de agente
funerário. É um descrente obsessivo que não crê em Deus nem no Diabo, mas se considera superior aos
outros e busca a mulher perfeita para conceber o filho perfeito. Essa perfeição nunca é física - é um
conceito mental. Para a visualização de Zanatas/Zé do Caixão, Marins inspirou-se em Max Schenk,
protagonista de Nosferatu, de F. W. Murnau, de 1922. O personagem seguiu aparecendo em Esta Noite
Encarnarei no Teu Cadáver, O Estranho Mundo de Zé do Caixão, Trilogia do Terror e O Despertar da
Besta.

Em 2008, e com ajuda de amigos, concluiu a trilogia iniciada com À Meia-Noite Levarei Sua Alma e
que teve prosseguimento com Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver. A Encarnação do Demônio teve
orçamento de R$ 1 milhão, o mais elevado de um filme de Zé do Caixão, que teve direito a figurinos
chiques, criados pelo estilista Alexandre Herchcovitch. Marins foi convidado para o Festival de
Veneza e apresentou seu filme - claro - à meia-noite. 

Apesar da fama, ele nunca ganhou muito dinheiro com o terror. Virou figura folclórica, enveredou por
diversos gêneros (até pornô). Apresentou o Cine Trash na TV Bandeirantes, comandou O Estranho
Mundo de Zé do Caixão no Canal Brasil. Muitos estudiosos avaliam que José Mojica Marins não foi
apenas um nome visceral do cinema brasileiro mais popular. Por seus métodos de produção e pelas
ligações na Boca do Lixo, ele também teria sido decisivo para a eclosão do cinema marginal.

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