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C APÍTULO 1

LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO


E CONCEITOS ASSOCIADOS

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Conhecer os conceitos básicos, definições e a evolução da logística.

 Identificar os objetivos e importância da logística.

 Analisar as oportunidades de aplicação dos princípios da logística empresarial.


Logística e Distribuição

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Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

CONTEXTUALIZAÇÃO
A logística tornou-se uma parte importante do sistema econômico de negócios
e uma das principais atividades econômicas mundiais nos últimos anos. As
atividades logísticas podem acelerar o crescimento econômico e a produtividade.
Uma logística eficiente é um determinante importante para países competitivos e
uma fonte de empregos.

Pode-se compreender a importância do tema deste curso fazendo a seguinte


pergunta: por que eu devo estudar logística? Nas várias respostas se encontram
aspectos na história recente e antiga, da mesma forma que em questões atuais
e também no futuro que se pode prever. Futuramente o ambiente econômico
demonstrará a logística como um campo mais relevante do que hoje. Mesmo a
economia doméstica crescendo pouco, em relação ao passado, devido à menor
taxa de natalidade, as limitações da disponibilidade de recursos, tais como fontes
de matérias-primas e a crescente competição com produtores e varejistas globais.
As empresas aumentarão o seu foco em gerenciar seu crescimento com o objetivo
de competir por maior participação de mercado. Quanto mais isso acontecer,
maior atenção será dada à distribuição, que pode consumir significantes
percentuais do Produto Nacional Bruto (PNB). Logo, quanto menores forem os
custos de distribuição, maiores serão as margens de lucro e as possibilidades de
investimento. Isso também significa dizer que a distribuição ficou mais eficiente.

Podemos ver vários aspectos para entender a importância da logística.


O comércio exterior, especialmente de exportação, é muito importante para
aumentar a economia e taxa de crescimento de um país. Além disso, a exportação
desempenha um papel fundamental para os países que buscam ter uma fatia
maior do mercado global. Os níveis de satisfação e sustentabilidade dos países
dependem da exportação de produtos de alto valor agregado e do aumento
da diversidade de produtos para estes mercados. As operações de comércio
exterior são cada vez mais complexas, o que reforça a importância da logística. A
logística é um componente crítico e relevante em todos os setores da agricultura,
manufatura e serviços. As operações logísticas recebem um papel de destaque,
que consiste em apoiar de forma decisiva o comércio local e internacional
através do gerenciamento competitivo dos fluxos de produtos e serviços e suas
informações.

Os custos logísticos, com destaque aos custos de armazenagem e


transportes, se constituem num expressivo componente do custo total dos
produtos comercializados. Ampliando nossa base de análise para um mundo
globalizado e com as indústrias se internacionalizando, a logística torna-se cada
vez mais decisiva e importante, pois a demanda por suprimento das indústrias

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Logística e Distribuição

e a distribuição de produtos ao mercado se elevam a escalas


É o que podemos
identificar nos vários impressionantes. Logo, qualquer pequeno erro é amplificado em muito.
portos do Brasil, Veja que, se uma parte significativa dos custos logísticos não foram bem
onde a espera gerenciados, através de processos e operações eficazes e eficientes,
para um navio
atracar pode levar as receitas e a lucratividade estarão seriamente comprometidas. É o
dias, visto que a que podemos identificar nos vários portos do Brasil, onde a espera para
capacidade dos
portos é limitada. um navio atracar pode levar dias, visto que a capacidade dos portos é
limitada. Outro fator é a demora no carregamento e descarregamento
do navio, novamente temos um problema de intralogística, ou seja, uma logística
interna de movimentação.

Considere outra questão importante. A grande preocupação com a


disponibilidade de alimentos para abastecer a população mundial. Sabe-se que
um elevado percentual do suprimento de alimentos perecíveis é perdido durante
a distribuição. Logo, as ações contra a fome mundial passam também por uma
logística eficiente.

Este capítulo trata dos diferentes conceitos relacionados à logística e sua


evolução. Vamos conhecer as atividades integrantes da logística e estudar as
possibilidades de aplicação dos princípios da logística em diferentes ambientes
de negócio.

A LOGÍSTICA: HISTÓRIA, CONCEITOS E A


EVOLUÇÃO
A logística é utilizada desde os primórdios da história humana, tais como
nos relatos bíblicos sobre líderes militares e suas guerras, que duravam longos
períodos. Eram necessários grandes e frequentes deslocamentos de materiais
e pessoas. As sociedades mais primitivas, em sua estrutura econômica, tinham
como único objetivo assegurar a sua sobrevivência, usando os recursos oferecidos
pelos meios físicos locais, a economia estava limitada a produzir variedades
restritas de produtos, nas exatas quantidades demandadas. Nestas comunidades
a cesta de consumo era determinada pelas potencialidades de suas regiões, mas
dependia das habilidades e heranças técnicas da comunidade. Uma exceção de
destaque são os Egípcios, no século IV a.C., organizados como um Estado e
realizavam trocas com outros povos. Estas condições de comércio perduraram
até o final da Idade Média (RODRIGUES; PIZOLLATO, 2004).

A partir do século XVI, com a ascensão da classe de comerciantes,


denominada de burguesia, se ampliaram as trocas de mercadorias com o exterior
e a expansão dos sistemas de produção, desenvolvimento social e econômico do

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Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

homem. Surgiu também a necessidade de um esforço elementar de produção,


comercialização, transporte e armazenagem, atrelado à necessidade de
sobrevivência. Devido especialmente à ausência de um sistema de transporte
bem desenvolvido e de adequados sistemas de armazenagem de produtos, se
limitou consideravelmente o movimento de mercadorias. A limitação era tanto no
transporte de bens como na capacidade de cada indivíduo em particular, pois não
havia tecnologia para estocagem de produtos perecíveis por longos períodos de
tempo (RODRIGUES; PIZOLLATO, 2004).

O termo “logística” tem origem francesa. Admite-se que se originou do verbo


loger que significa alojar (termo usado pelos militares e que compreendia as
atividades relativas ao transporte, ao abastecimento e ao alojamento das tropas)
e do grego Logos, que significa razão, segundo Lovelock (1996) e Magee (1977).

Este termo é também admitido como derivado do cargo “maréchal des logis”,
no exército francês a partir do século XVII, o qual era responsável por rotinas
administrativas para marchas, acampamentos e aquartelamentos (logis). Nesse
contexto é normal que as primeiras definições formais de logística tenham
saído do meio militar. Conforme Lustosa et al. (2008), uma das mais conhecidas
é atribuída ao trabalho intitulado Précis de I`Arte de la Guerre (em Português,
Sumário da Arte da Guerra), publicado em 1838, que dividiu a arte da guerra em
cinco grupos: estratégia, grande tática, logística, engenharias e pequena tática.

Com a evolução da complexidade militar, o termo se popularizou e evoluiu


para abranger um vasto espectro de atividades não beligerantes, especialmente
aquelas relacionadas com transportes, suprimentos, construções, assistência e
evacuação de feridos e doentes. Mais recentemente, na terminologia militar, a
palavra administração foi largamente substituída pelo termo logística. Lovelock
(1996) informa que ao longo da história, as guerras têm sido ganhas e perdidas
por meio do poder e da capacidade logística.

Conforme Pozo (2010), apesar de toda evolução da logística até a década de


1940, pode-se dizer que eram ainda poucos estudos e publicações sobre o tema.
Na Segunda Guerra Mundial a logística teve um papel fundamental na invasão
da Europa pelas Forças Aliadas. A inteligência americana, com a consultoria
de professores de Harvard, estudou mais a fundo a Logística, para sua melhor
utilização na participação americana na Segunda Guerra Mundial. No pós-guerra,
estes consultores tornaram-se os primeiros professores da disciplina Logística
Empresarial em Harvard, nos anos 1950 (NOVAES, 2007).

Já nos anos 1950 e 1960, as organizações começaram a se focar na


satisfação do cliente, e então surgiu o conceito de logística empresarial,
motivado por um novo comportamento do consumidor. Nos anos 1970, assiste-

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Logística e Distribuição

se à consolidação dos conceitos como o MRP (Material Requirements Planning),


Kanban e Just-in-time.

Material Requirements Planning (MRP) é um sistema de


planejamento de produção e controle de estoque, que integra dados
do sistema de inventário e a lista de materiais para estabelecer
os momentos de compra e transporte das partes ou componentes
necessários à confecção de um produto. O MRP II (Manufaturing
Resources Planning), como evolução do MRP, além das quantidades
e momentos de aquisição ou fabricação de cada item, calcula e
planeja os recursos a serem utilizados.

Segundo Novaes (2007), a partir da década de 1970 e início dos anos


1980, significativas mudanças econômicas e estruturais passaram a afetar as
sociedades comercialmente desenvolvidas e industrializadas. No início dos anos
1970, foram desenvolvidos e implantados programas diversos, como os círculos
de qualidade, os sistemas de planejamento da produção (MRP e MRP II) e os
programas de qualidade de vida no trabalho. Na década de 1980 e início dos
anos 1990, surgiram as campanhas para melhorar a produtividade, o sistema
just-in-time, a reengenharia, kaizen, dentre outros. Neste momento a logística
passou por um desenvolvimento revolucionário, determinado pelas demandas
ocasionadas pela globalização, pela mudança na economia mundial e pelo grande
uso de computadores na administração. Nesse novo contexto da economia
globalizada, as empresas passam a competir em nível mundial, mesmo dentro
de seu território local, sendo obrigadas a passar de moldes multinacionais de
operações para moldes globais de operação.

O Just-in-time é uma filosofia de gestão que estabelece


princípios para gestão de inventário de materiais ou produtos a fim
de que sejam produzidos ou adquiridos conforme a demanda exigida,
eliminando ao máximo os estoques.

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Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

No início de 1991, na Guerra do Golfo, os Estados Unidos e seus aliados,


por meio de processo logístico, movimentaram, em poucos meses, meio milhão
de pessoas e suprimentos, mais de 2,3 milhões de toneladas de equipamentos,
ao longo de 12 mil quilômetros. Como demonstrado nas últimas e mais
conhecidas guerras, Coreia, Vietnan, Malvinas e Iraque, o papel da logística foi de
extraordinária importância e progressiva complexidade (LOVELOCK, 1996).

Também no início dos anos 90, C. K. Prahalad e Gary Hamel introduziram


o termo “core competence”, mostrando que empresas bem-sucedidas, como
a Canon e a Honda, eram mais que portfólios de negócios. Elas haviam se
concentrado em determinadas capacidades (ou competências) que as colocavam
à frente dos concorrentes (WOOD JR., 1998). O que não é difícil de entender,
pois considerando a escassez de recursos e na busca de reduzir o tamanho das
organizações para aplicar os recursos nas atividades relacionadas às melhores
e maiores competências da organização, se tem maior possibilidade de grandes
retornos. Daí um forte motivo para terceirizar os serviços logísticos, tornando-se
uma tendência iniciada na fase da reengenharia e que é praticada até hoje nas
organizações modernas.

A falta de sistemas logísticos bem desenvolvidos e de baixo custo


As fontes de
vem impedindo que o intercâmbio de mercadorias ocorra de forma matéria-prima, a
sistemática com outras áreas produtivas do nosso próprio país. As fábrica e os pontos
fontes de matéria-prima, a fábrica e os pontos de venda ou de uso não de venda ou de
uso não estão
estão geralmente no mesmo lugar, então existe um hiato de tempo e geralmente no
espaço entre eles, que se chama Canal. mesmo lugar, então
existe um hiato de
tempo e espaço
Mesmo hoje, áreas geográficas de alguns países do continente entre eles, que se
asiático e africano ainda sobrevivem em pequenas aldeias, com chama Canal.
baixíssima eficiência produtiva e um padrão de vida próximo à pobreza.

A vantagem competitiva é criada pela vantagem que uma


organização tem sobre seus concorrentes, o que pode gerar maiores
receitas de vendas, ou melhores margens de lucro, ou ainda reter
mais clientes. É importante saber que existem vários tipos de
vantagem competitiva.

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Logística e Distribuição

Os sistemas logísticos, à medida que começaram a melhorar, as mercadorias


e os bens de consumo passaram a ser levados das áreas produtivas até outros
centros de consumo. Os sistemas logísticos mais eficientes trouxeram a viabilidade
de adoção da vantagem comparativa, enunciada por David Ricardo em 1820 e
descrita por Bortoto (2007): cada país ou região pode concentrar-se em produzir
aqueles produtos que têm mais vocação e melhores condições de produção.
Considerando que há condições de transferir através de comércio adequado e de
uma logística eficiente o excesso de produção para outras regiões, e de importar
os demais produtos não produzidos na região.

Embora, dentro de uma ótica mais ampla, a logística tenha existido desde o
início da civilização, a sua implementação tornou-se uma das áreas operacionais
mais desafiadoras e interessantes na atualidade. A Logística exerce um dos
principais papéis no sucesso de implementações e gerenciamento de Cadeias de
Suprimento.

A cadeia de suprimento pode ser definida como um grupo de


organizações, como fornecedores de matérias-primas, fabricantes,
distribuidores, atacadistas, varejistas, interligado por vários
processos, e que cooperam para que o produto final chegue ao
cliente final.

Desta forma, para que as organizações consigam atender a essas exigências


dos consumidores, as empresas ampliam cada vez mais suas opções de produtos
e serviços. A Logística Empresarial começa nesta necessidade do cliente, sem
essas necessidades não ocorreria movimento da produção (BOWERSOX;
CLOSS, 2007).

Nesse ambiente de mudanças contínuas, melhor denominado como


revolução, que ocorreu no setor industrial, o paradigma da produção ágil e flexível
veio substituir a produção em massa. Também ocorreu uma revolução no setor de
distribuição, bastante influenciado pelas exigências da adoção do JIT. Também
em função da maior complexidade nas operações logísticas e maiores exigências
por eficiência ao longo dos canais de distribuição.

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Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

Um canal de distribuição ou canal de marketing é uma rede


de indivíduos e organizações, tais como fabricantes, distribuidores,
representantes comerciais, atacadistas, varejistas, operadores
logísticos, associados para a distribuição de produtos ou serviços até
estes chegarem ao cliente final.

As novas exigências para a atividade logística no Brasil e no mundo se


confirmaram dentro deste novo cenário onde se pode destacar o maior controle
e a identificação de oportunidades relacionadas a prazos previamente acertados
e cumpridos integralmente, ao longo de toda a cadeia de suprimento; integração
efetiva e sistêmica entre todos os setores da organização; integração efetiva e
estreita (parcerias) com fornecedores e clientes; a busca da otimização global,
envolvendo a racionalização dos processos e a redução de custos em toda a
cadeia de suprimentos; e ainda a satisfação plena do cliente, mantendo nível
de serviço preestabelecido e adequado (exemplo: Resposta Eficiente ao
Consumidor - ECR, entre outros).

O ECR foi um movimento setorial organizado com o objetivo de


tirar proveito do Gerenciamento da Cadeia de Suprimento no âmbito
do setor de produtos de consumo e varejo alimentar para redução de
custos e melhoria dos serviços na cadeia.

Na descrição do ambiente de revolução onde surgiram a logística empresarial


e o Gerenciamento da Cadeia de suprimento, Sink, Langley Jr. e Gilson
(1996) identificam como a era da reengenharia, de estoques reduzidos e de
competição globalizada. Quando a nova competição se estabeleceu e os grandes
competidores apresentaram custos mais baixos, gestão mais eficaz ou uma
invejável capacidade de inovação, muitas organizações passaram a concentrar
seus esforços nas atividades centrais, as chamadas “core competences” ou
“competências essenciais”, que são críticas para a sua sobrevivência.

Neste contexto dinâmico começaram a aparecer as primeiras redes


varejistas, que se depararam com dois grandes problemas: a questão relacionada

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Logística e Distribuição

à manutenção de bons níveis de estoques para atender prontamente seus


clientes, o que significa altos custos e margens de lucros comprimidas, além da
deficiência na distribuição física destinada a levar os produtos até os clientes.

À medida que a economia se expandia, os consumidores demandavam uma


maior variedade de mercadorias e, consequentemente, os problemas apontados
cresciam exponencialmente, pois as exigências dos consumidores acabavam
por elevar os custos dos estoques e os custos de distribuição, especialmente
devido à gestão inadequada dos processos logísticos, não podendo atender à
sazonalidade (altos e baixos) do consumo.

Tal situação levou a estudos mais profundos destinados a melhorar o nível de


atendimento aos consumidores, otimização dos processos de manufatura e dos
sistemas logísticos.

Hoje em dia, a Hoje em dia, a logística tem sido uma grande influência, não
logística tem só na viabilização de implantação e Gerenciamento de Cadeias de
sido uma grande
influência, não só Suprimento, mas também no próprio desenvolvimento econômico dos
na viabilização países. Nos Estados Unidos, a logística contribui com percentuais
de implantação e relevantes do PIB. A indústria americana gasta bilhões de dólares
Gerenciamento
de Cadeias de em transporte de cargas, em armazenamento e estoques, e no
Suprimento, mas gerenciamento, controle e informatização do sistema logístico, que
também no próprio
desenvolvimento também ocorre no Brasil.
econômico dos
países. O leste asiático adota a política de custo mínimo de mão de
obra, alta tecnologia de produção e a logística eficiente para torná-los altamente
competitivos diante dos demais competidores globais, o que configura a logística
como o elemento central das estratégias corporativas na competição global.

O ciclo de vida dos produtos está cada vez menor, impondo uma
comercialização de produtos muito eficiente. Além disso, os mercados estão
cada vez mais inclinados a aceitar produtos substitutos se sua primeira opção
não estiver disponível. A cada novo produto tem-se várias implicações no
gerenciamento da cadeia de suprimentos e da logística em função da redução
dos tempos, compressão do ciclo dos pedidos, dos esforços crescentes na
qualificação e desenvolvimento de fornecedores, do redimensionamento dos
inventários e do sistema de transporte, bem como do nível de serviço ao cliente.

Então, em função do que vimos até aqui, conseguimos compreender o


desenvolvimento da logística, os motivos que levaram a este desenvolvimento e a
importância da logística para a economia e para as organizações.

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Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

CONCEITOS E DEFINIÇÕES
Vale lembrar
A logística como um todo tem por finalidade tornar disponíveis que a missão da
logística é entregar
produtos e serviços no local onde eles são necessários, no exato o produto certo, na
momento em que esses bens e serviços são desejados. quantidade certa,
no tempo solicitado,
em perfeitas
Vale lembrar que a missão da logística é entregar o produto certo, condições e com
na quantidade certa, no tempo solicitado, em perfeitas condições e com o menor custo de
movimentação
o menor custo de movimentação possível. possível.

O serviço ao cliente é composto por todas as interações entre


um cliente e o fornecedor do produto, antes da venda, no momento
da venda e depois da venda. O serviço ao cliente agrega valor aos
produtos e serviços em função da perspectiva e perfil do mercado
consumidor.

A logística deve ser vista como o elo entre o mercado e a atividade


operacional da empresa, tendo seu raio de ação sobre toda a organização até
a entrega do produto final. Sob o ponto de vista estratégico, a missão
Ponto de vista
do gerenciamento logístico é planejar e coordenar todas as atividades estratégico,
necessárias para alcançar níveis desejáveis de qualidade dos serviços a missão do
ao custo mais baixo possível (Christopher, 1997). Para que haja gerenciamento
logístico é planejar
integração e se atinjam estes objetivos, é necessário unir a demanda e coordenar todas
à oferta. Para isso, as áreas de produção e marketing devem trabalhar as atividades
necessárias para
juntas. A função marketing, voltada ao consumidor, busca compreender alcançar níveis
e satisfazer as necessidades dos consumidores e o nível de serviço desejáveis de
desejado. A gestão dos processos produtivos busca colaborar para o qualidade dos
serviços ao custo
estabelecimento da vantagem competitiva em custos, qualidade etc. mais baixo possível
A logística une estas duas pontas e coordena as atividades de apoio,
movimentação, transporte, administração de materiais, compras, distribuição etc.
(CARLINI, 2002).

O desafio da logística é tornar-se uma “competência essencial” nas empresas.


Isto envolve a gestão das cadeias físicas e virtual de valores (Bowersox; Closs,
2001).

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Logística e Distribuição

Porém, é importante Anteriormente, a logística era vista como fronteira final para
mencionar que a redução de custos. Sabemos hoje que é um importante diferencial
empresa deve estar competitivo, sendo cada vez mais vista como elemento central na
se atualizando
constantemente em prestação de serviço. E estes serviços agregam valores aos produtos
relação à logística, tornando-os mais competitivos frente aos demais. Porém, é importante
através de sistemas
(softwares), mencionar que a empresa deve estar se atualizando constantemente
equipamentos em relação à logística, através de sistemas (softwares), equipamentos
de controle e de controle e movimentação, bem como aos sistemas de estocagem.
movimentação, bem
como aos sistemas
de estocagem. Para melhor apresentar a relevância da logística na economia,
podemos avaliar o varejo. As atividades varejistas são muito
importantes para a economia. Por exemplo, de acordo com o IBGE (Pesquisa
Anual do Comércio, 2001), o comércio no Brasil corresponde a cerca de 26,1 %
do PIB.

As relações interpessoais no comércio varejista não ocorrem de forma aleatória


ou sem nexo, e dependem de um conjunto de forças de natureza econômica,
social e tecnológica que estão por trás do comportamento dos fabricantes, dos
comerciantes e dos consumidores finais dos produtos. Conforme Novaes (2007),
geralmente as organizações compram em atacadistas, distribuidores e fabricantes,
mas as pessoas físicas compram no comércio varejista. As questões relacionadas
a “quando” e “o quê” comprar estão relacionadas ao domicílio, a mecanismos
mentais e psicológicos que estão por trás dos valores e do comportamento dos
consumidores. Dentre as várias expectativas e/ou necessidades que impulsionam
o consumidor típico, podemos destacar algumas que dependem da logística
(NOVAES, 2007):

a) A informação sobre o produto

Seu preço, uso, restrições de funcionamento, vantagens competitivas. Hoje


se pode observar uma dinâmica muito grande na oferta de produtos. Produtos
se aprimorando, incorporando novos elementos e novas tecnologias. Não só os
produtos eletrônicos, como também os produtos de consumo corrente. Podemos
pensar no leite, que era oferecido em garrafa, depois em saco plástico e agora
embalagem tipo tetrapak e similares. Além disso, o mesmo leite apresenta
normalmente um grande número de variações, em termos de sabor, tamanho,
componentes, qualidade, e obviamente o preço.

Essa dinâmica gera uma grande demanda de informação por parte do


consumidor. Mesmo a área de marketing fazendo campanhas publicitárias,
pesquisas mercadológicas e contato direto com o consumidor, restam esforços

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Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

importantes a serem aplicados, cabendo à logística uma parte importante na


disseminação da informação.

A logística é na empresa a área que dá condições práticas de realização


de metas definidas pelo setor de marketing, e que muitas vezes são construídas
dentro do planejamento estratégico. Como exemplo, mencionamos um evento
muito comum, os encartes de supermercados e demais redes varejistas, quando
no primeiro dia de promoção e no primeiro horário, não se encontra o produto
anunciado nas lojas. Demonstra um problema no fluxo de informação e fica
claro que todo o esforço resulta em prejuízo para o varejista e até mesmo a
desconstrução de sua imagem junto ao consumidor. As informações relacionadas
aos produtos são por definição o escopo da logística, como se poderá verificar
mais à frente, neste capítulo, não só nas definições, mas também com as questões
práticas a serem vistas neste curso.

b) O produto

O produto em si mesmo, na forma e na qualidade desejadas. Está relacionado


a como o consumidor deseja receber seu produto, o que pode facilitar seu
manuseio, estocagem, movimentação e até mesmo nos fatos de venda. Significa
o respeito ao prazo de entrega desejado e contratado pelo consumidor, tipo de
embalagem, dentre outros aspectos, tal como se estabelece para o escopo da
logística.

A competitividade força as empresas a não trabalharem com foco apenas


no produto ou serviço, mas sim na combinação dos dois, formando o “pacote
de valor” ou “pacote produto-serviço”. Adota-se esta abordagem cada vez mais,
pois se considera que empresas não fornecem puramente bens ou serviços,
mas sim uma combinação entre eles, que deve ser bem gerenciada para que
haja satisfação do cliente e a lucratividade adequada. Por exemplo, considere
um restaurante, em que não pode haver um desequilíbrio entre a qualidade do
atendimento (serviço) e a qualidade dos pratos (produto).

Existem características inerentes aos produtos e serviços que implicam nas


estratégias das empresas adotadas, tais como a validade do produto, custos
com estoque, custo com ociosidade, e que devem ser analisados e buscar-se
um ponto de equilíbrio no qual viabilize a estratégia adotada, considerando os
custos, o nível de serviço adequado ao consumidor e a lucratividade. É importante
lembrar que a disponibilidade de um produto é um serviço prestado ao consumidor
e que depende dos estoques mantidos e dos custos associados. Desta forma, se
consegue ver a importância da logística no projeto e desenvolvimento de produtos.

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Logística e Distribuição

c) Posse do produto no momento desejado


Imaginemos o
transtorno que é
receber um produto Representado pelo cumprimento dos prazos prometidos e
que tem sua venda
estabelecida acordados, no que se refere à entrega do produto adquirido. A logística
para determinada é que dá condições reais de garantir ao consumidor a posse do produto
época, com dias ou no momento desejado. Para alguns produtos é comum o vendedor
semanas de atraso,
como por exemplo prometer a entrega do produto numa certa data e determinado período,
os produtos para havendo uma quebra de compromisso por deficiência no sistema de
venda em época
de natal, páscoa, informação, nas operações do depósito e no transporte.
dia das mães.
Sem dúvida serão Imaginemos o transtorno que é receber um produto que tem sua
devolvidos, o que
representa um venda estabelecida para determinada época, com dias ou semanas de
cancelamento de atraso, como por exemplo os produtos para venda em época de natal,
pedido ou venda.
páscoa, dia das mães. Sem dúvida serão devolvidos, o que representa
um cancelamento de pedido ou venda.

d) A continuidade na relação entre o consumidor e o varejista

Caracteriza a fase de pós-venda (garantia, serviço de manutenção e


consertos etc.). Esta fase talvez seja uma das maiores fragilidades dos bens
duráveis no Brasil. Os maiores problemas estão no âmbito do fabricante (falta de
peça de reposição, falta e deficiência da assistência técnica, preços de serviços
abusivos etc.). Mais uma vez, a fase de vida pós-venda é integrante do escopo da
logística.

A logística, além de ser uma ferramenta gerencial contemporânea, é também


uma importante atividade econômica. A importância da logística está no fato de
que ela permite administrar o fluxo dos bens de onde eles são produzidos para o
local certo de consumo, na forma desejada, no tempo certo e com um custo
correto.

Em outras palavras, a logística permite agilizar a circulação das mercadorias


desde o fornecedor da matéria-prima até o consumidor final do produto acabado
com ciclos temporais menores, com custos menos elevados e com nível de
serviço adequado às necessidades dos clientes.

A logística começou a se estender ao meio empresarial, de maneira ainda


restrita e fragmentada. As atividades que atualmente são consideradas logísticas
estavam com atribuições fragmentadas, conduzindo à subotimização dos custos
e do nível de serviço ao cliente, trazendo diversos objetivos colidentes. Os
profissionais de produção desejavam aumentar grandes rodadas de produção,

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Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

com poucas paradas (setup) para configurar máquinas, preferencialmente com


poucos tipos de produtos sendo produzidos para que as máquinas não parassem,
diminuindo o custo de produção, mesmo que isso significasse altos estoques.

De outro lado, os profissionais ligados ao transporte sempre escolhiam em


função dos menores fretes a fim de reduzir os custos de transporte, buscando
transportar grandes quantidades, maximizando a ocupação dos equipamentos
de transporte. Da mesma forma não se importando com os custos elevados de
estoque.

A área de marketing sempre buscava atender aos pedidos dos clientes,


preferindo os transportes mais rápidos e por consequência, mais caros, sem se
preocupar com as quantidades a serem transportadas, pois visavam atender aos
clientes, mesmo que o custo de transporte fosse elevado.

Os responsáveis pelas atividades buscavam otimização de suas áreas


sem se preocupar com as demais áreas e seus resultados. E não observavam
os resultados da organização como um todo, que trazia repetidamente a referida
subotimização dos custos.

Apesar de injustificável, a fragmentação logística ocorria pela falta de


entendimento dos trade-offs de custo, pela inércia causada pelas convenções
e tradições, pela atenção devotada a áreas julgadas mais importantes que a
logística (BALLOU, 2001). Os problemas decorrentes dessa fragmentação eram
percebidos nos custos logísticos que se elevavam. A noção de que a coordenação
das atividades poderia reduzir os altos custos, melhorar o serviço ao cliente e
diminuir os conflitos interdepartamentais propulsionou a emersão do importante
conceito da integração logística (LAMBERT; ARMITAGE, 1979).

O Trade-off, no âmbito da logística, é uma técnica que se


utiliza da redução ou perda de um ou mais resultados desejados
em troca de aumento ou ganho de outros efeitos pretendidos, desde
que se maximize o rendimento total ou a eficácia sob determinadas
circunstâncias. Nada mais é do que uma troca onde você desiste de
alguma coisa em troca de obter outra coisa deseja.

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Logística e Distribuição

Figura 1 – O papel da logística: unir bons produtos a bons mercados

Fonte: O autor.

A vantagem competitiva está relacionada ao conjunto de características


dos produtos e serviços de uma organização, que a diferencia dos demais
competidores. Atualmente a logística é uma das atividades que vem oferecendo
vantagem competitiva, uma vez que busca prover ao cliente com os níveis de
serviços desejados pelo mercado. A logística integrada é a visão e a prática
gerencial que considera a integração da organização interna e externamente,
na busca da otimização do sistema como um todo e não apenas de um dos
seus subsistemas. Colocando os resultados da organização como prioritários
em relação aos resultados individuais das áreas e suas atividades setoriais da
organização.

A logística integrada A logística integrada é um campo de estudo mais recente da gestão


é um campo de
estudo mais recente integrada, onde as atividades logísticas são desempenhadas de forma
da gestão integrada, coordenada e dentro de uma visão sistêmica. Consiste num conjunto
onde as atividades
logísticas são de componentes interligados, todas as unidades organizacionais da
desempenhadas de empresa, estendida aos seus clientes e fornecedores, trabalhando de
forma coordenada e forma coordenada para o atendimento das metas e atingir um único
dentro de uma visão
sistêmica. objetivo comum.

Adotar o conceito de logística integrada significa adotar uma visão sistêmica


da organização e seu ambiente de negócios, buscando eficiência e eficácia
através da coordenação e cooperação interempresa e entre empresas (cliente

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Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

e fornecedores) (WOOD JR., 1998). Em termos práticos, a logística empresarial


hoje pode ser compreendida como logística integrada.

Dentro do cenário de mudanças nas organizações, a partir da década de


1990, vários pesquisadores propuseram algumas definições para a expressão
logística. Segundo Chiavenato (1991), a atividade que coordena a estocagem,
o transporte, os armazéns, os inventários e toda a movimentação dos materiais
dentro da fábrica até a entrega dos produtos acabados ao cliente.

Christopher (1997, p. 2) define a logística, como:


A logística é
A logística é o processo de gerenciar
o processo
estrategicamente a aquisição, movimentação e de gerenciar
armazenagem de materiais, peças e produtos estrategicamente
acabados (e os fluxos de informações correlatas), a aquisição,
através da organização e seus canais de marketing, movimentação e
de modo a poder maximizar as lucratividades armazenagem de
presente e futura, através do atendimento dos materiais, peças e
pedidos a baixo custo. produtos acabados.

Segundo o “Council of Logístics Management” norte-americano (1998), a


logística é o processo de planejar, implementar e controlar de maneira eficiente
o fluxo e a armazenagem de produtos, bem como os serviços e informações
associadas, cobrindo desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o
objetivo de atender aos requisitos do cliente.

Sabe-se, entretanto, que esses conceitos não refletem o contexto e a


magnitude que a logística assumiu nesses últimos anos, como um elo entre o
mercado (fornecedores e clientes) e as atividades estratégicas, operacionais
e táticas de uma organização. Enquanto a gestão da manufatura busca uma
vantagem competitiva em custos, qualidade e outros, a logística une a manufatura
com as duas pontas, fornecedores e clientes, para o estabelecimento de alianças
e parcerias, integrando estrategicamente a oferta e a procura (CARLINI, 2002).
Bowersox e Closs (2001) identificam a logística como “competência essencial”,
e preveem mudanças substanciais na forma de gerenciamento do processo
logístico, como forma de responder às ameaças e oportunidades do ambiente
competitivo.
É a parte do
processo da cadeia
Anos depois, com toda evolução dos conceitos e das práticas de suprimentos que
observadas na logística, inclusive com o advento da logística reversa, o planeja, implementa
CSCMP alterou a definição da logística, informando que: e controla o fluxo
direto (à frente) e
reverso, de forma
[...] é a parte do processo da cadeia de eficiente e eficaz, de
suprimentos que planeja, implementa e materiais, serviços
controla o fluxo direto (à frente) e reverso, e informações
associadas.

25
Logística e Distribuição

de forma eficiente e eficaz, de materiais, serviços e


informações associadas, desde seu ponto de origem até
o ponto de consumo, de modo a atender aos requisitos
dos clientes (CSCMP – 2004 – Council of Supply Chain
Management Professionals).

Pode-se observar o “fluxo reverso” na última definição da logística do CSCMP,


que indica a logística reversa, todavia não pretendeu aprofundar o conceito em
todo seu escopo. Os estudos têm evoluído neste sentido. Pode-se tratar o retorno
de produtos que ainda não foram consumidos, mas que retornam pela cadeia que
os levou ao mercado com a denominação de logística reversa de pós-venda, e
àqueles que retornam após seu consumo e no término de sua vida útil com a
denominação de logística reversa de pós-consumo.

Figura 2 – Visão do processo da logística reversa

Fonte: Disponível em: <http://www.tecnologistica.com.br/wp-content/


uploads/2015/03/Figura7.jpg>. Acesso em: 26 fev. 2017.

Pode-se categorizar diferentes fluxos na logística reversa em direção oposta à


tradicional supply chain, constituindo-se o denominado “closed loop supply chain”
(cadeia de suprimento de ciclo fechado): retorno no fim do uso; retorno comercial;
retorno por garantia; sobras de produção e subprodutos; acondicionamento.
São atividades típicas da logística reversa os processos que uma organização
usa para coletar produtos usados, danificados, indesejados ou ultrapassados,
procurando recapturar algum tipo de valor deles. A logística reversa, desta forma,
é vista atualmente de maneira ampliada e como uma estratégica de ganho de
competitividade empresarial (Fleischmann, 2001).

26
Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

Atividades de Estudos:

1) Quais seriam os principais motivos para a evolução da


logística?
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____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

2) O que mudou no gerenciamento logístico com a concepção da


logística integrada ou empresarial?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

3) Afirmou-se que o objetivo da logística empresarial é pôr os


bens ou serviços certos no lugar certo e na hora certa. Quais são
os tipos de problemas que você prevê para organizações que
tentem atingir esses objetivos no Brasil?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

4) Qual a área correta da logística empresarial que planeja, opera


e controla o fluxo e as informações correspondentes ao retorno
dos bens de pós-vendas e pós-consumo ao ciclo de negócios ou
ao ciclo produtivo por meio de canais de distribuição reversos,
agregando-lhes valor de diversas naturezas?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

27
Logística e Distribuição

____________________________________________________
____________________________________________________

GERENCIAMENTO LOGÍSTICO
A logística pode ser definida como a integração da administração de
materiais com a distribuição física, ou seja, as duas grandes etapas do processo
logístico são o suprimento físico (administração de materiais) e a distribuição
física (GOMES; RIBEIRO, 2004).

Pode-se definir 6 (seis) áreas da logística a serem executadas de forma


integrada a fim de produzir as competências necessárias para a criação do
valor logístico. As áreas são: processamento de pedidos; estoques; transporte;
armazenamento; manuseio de materiais e embalagem; e rede de instalações.
A logística integrada pode ser vista como um macroprocesso com os seguintes
fluxos: informações, materiais e produtos em toda a cadeia de suprimento. Pode-
se dividir em três processos básicos: (1) suprimento físico, também denominado
de abastecimento; (2) logística interna ou apoio à produção; e (3) distribuição
física, conforme ilustra a figura a seguir:

Figura 3 – Processos Logísticos

Fonte: O autor.

a) Suprimento físico (inboud logistics): forma o elo entre a empresa e os seus


mercados fornecedores e se relaciona com a disponibilização dos materiais
e dos componentes à produção e/ou à distribuição. Compreende as atividades
relacionadas à obtenção de produtos e materiais a serem posteriormente
distribuídos aos consumidores finais e materiais usados pela produção. Diz
respeito às atividades desempenhadas desde o fornecedor até o ponto de destino

28
Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

final. Este processo visa o apoio à produção ou a revenda, abastecendo-as de


produtos ou materiais no menor prazo de tempo possível e ao menor custo total.
Envolve decisões, tais como a escolha entre armazenar ou transportar, a seleção
da modalidade de transporte, a definição da melhor localização dos estoques e da
produção, a determinação do nível de inventário a ser mantido.

Compreende, tipicamente, as atividades a seguir:

• Seleção e avaliação de fornecedores;


• Transporte;
• Manutenção de estoques;
• Processamento de compras;
• Processamento de pedidos;
• Embalagem protetora;
• Armazenagem;
• Manuseio de materiais; e
• Manutenção de informações.

b) Logística interna na produção: consiste no processo de apoio à produção,


tendo como finalidade gerenciar o estoque de produtos em processo durante
as etapas de produção até que sejam entregues os produtos acabados para a
distribuição física. A logística interna na produção também pode ser denominada
como logística de planta, interna ou operativa, envolve as atividades relacionadas
ao suporte logístico à produção, na qual as matérias-primas se transformam
em produtos acabados. Compreende as atividades internas nas instalações da
empresa, como manuseio de materiais e armazenagem, e também a gestão
dos estoques de produtos em elaboração, movimentação interna e a atividade
de transporte pode também estar envolvida nesse processo quando ocorrer o
deslocamento interplantas de mercadorias. Há organizações, como distribuidoras
e varejistas, que não abrangem exatamente estas operações e que não possuem
logística interna na produção.

c) Distribuição física (outbound logistics): este processo é considerado o


mais crítico em termos de custo para a maioria das organizações, uma vez que
responde por dois terços dos custos logísticos totais. A distribuição física de
produtos se preocupa principalmente com bens acabados ou semiacabados
destinados aos clientes finais, sobre os quais a organização não planeja executar
processamentos posteriores. É o conjunto de atividades desenvolvidas e
nomeadas como processamento de pedidos. A distribuição inclui a administração
das solicitações dos clientes, incluindo o recebimento do pedido, verificação da
disponibilidade do produto em estoque, a separação dos produtos, embalagem,
etiquetagem, conferência, faturamento, emissão do conhecimento de frete,

29
Logística e Distribuição

consolidação e expedição de produtos/materiais, entrega ao cliente e a cobrança,


bem como a manutenção de informações e a programação de produtos e faz a
ligação entre a organização e os seus consumidores. Contempla tipicamente as
atividades a seguir:

• Transporte;
• Manutenção de estoques de produtos acabados;
• Processamento de pedidos;
• Expedição;
• Embalagem protetora;
• Programação de produto;
• Armazenagem;
• Manuseio de materiais;
• Manutenção de informações; e
• Pós-venda.

Cada um desses processos logísticos e suas respectivas configurações


afetam a composição do custo total logístico e o nível que o serviço ao cliente
é oferecido. As atividades inerentes às duas grandes etapas do processo
logístico são muito semelhantes, diferindo pelo objeto do seu tratamento, que no
suprimento físico são as matérias-primas e insumos, e na distribuição física são
os produtos acabados.

De uma maneira geral, o escopo da logística empresarial pode ser


representado conforme o esquema da figura a seguir, que apresenta os fluxos
de produtos e de informações, em sentidos contrários, integrando toda a cadeia
de suprimentos. Toda a rede de fornecedores formando a rede de suprimentos
que abastece o produtor de insumos da produção (matérias-primas). A rede
de distribuição formada pelos intermediários que irão apoiar a distribuição dos
produtos acabados até às mãos dos clientes finais. As etapas do gerenciamento
logístico na rede logística são compostas genericamente de fornecedor, produtor
e consumidor, vide figura a seguir:

30
Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

Figura 4 – Escopo da logística empresarial

Fonte: O autor.

Podemos definir o Gerenciamento da Logística como a coordenação das


diferentes atividades componentes da logística, visando obter os menores custos
logísticos que atendam ao nível de serviço contratado pelo cliente. Deve-se
compreender que a razão de existir da logística é gerar valor aos clientes, para os
fornecedores e os interessados na organização.

Há uma compreensão errada de que o conceito de logística consiste


em transporte ou em estoque/armazenagem de produtos, mas o verdadeiro
significado da logística engloba o transporte, estoque/armazenagem e diversas
outras atividades, desde o suprimento, passando pela produção, até a entrega do
produto final ao cliente.

Podemos falar de logística de um produto e logística da indústria alcooleira,


por exemplo, mas de forma nenhuma dizer: logística de transporte ou logística de
estoque. Basta considerar as definições sobre a logística para esclarecer a forma
adequada de mencionar a logística e suas atividades. O que seria aceitável falar
seria logística com ênfase em transporte ou em estoque ou em armazenagem.

Segundo o CSCMP (2004), o gerenciamento logístico, seus limites e relações


são os seguintes:

31
Logística e Distribuição

As atividades de gerenciamento logístico incluem a


gestão dos transportes de suprimento e distribuição,
gestão de frota, armazenagem, manuseio de materiais,
atendimento de pedidos de compra, projeto de rede de
logística, gestão de inventário, planejamento de demanda
e suprimento, administração de provedores de serviços
logísticos. Em graus variados, a função de logística
inclui também suprimento e compras, planejamento e
programação de produção, empacotamento e montagem,
e atendimento ao consumidor. É envolvido em todos
os níveis de planejamento e execução estratégica,
operacional e tática.
O gerenciamento logístico é uma função de integração
que coordena e otimiza todas as atividades logísticas,
como também integra atividades de logística com outras
funções, inclusive marketing, vendas, manufatura,
finanças e informática.

O Council of Supply Chain Management Professional (CSCMP)


é a mais importante associação, sem fins lucrativos, a nível mundial,
de profissionais de gerenciamento de cadeias de suprimentos. Busca
estar na vanguarda dos avanços e desenvolvimentos de profissionais
nas áreas de GCS fazendo com que os conhecimentos se difundam.
Veja em seu portal as definições relativas à logística e GCS, bem
como um glossário muito relevante. Disponível em: <https://cscmp.
org/supply-chain-management-definitions>.

Atividades de Estudos:

1) Descreva a diferença entre administração de materiais,


distribuição física e logística empresarial.
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____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

32
Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

2) O processo de distribuição está associado à movimentação


física e transporte de materiais, que compreende a relação de
um fornecedor para um cliente. Nesse processo, a distribuição
física apoia-se, sobretudo, em três fundamentos gerais, que
compreendem:

a) ( ) Respeito às normas ambientais, patentes, direitos registrados


e expedição.
b) ( ) Recebimento, armazenagem e expedição.
c) ( ) Armazenagem, respeito às normas ambientais e planos
estratégicos.
d) ( ) Cotação, expedição e melhoria da competência dos
funcionários.

ATIVIDADES-CHAVE E ATIVIDADES DE
SUPORTE
As atividades componentes da logística e que devem ser gerenciadas variam
de organização para organização em função da estrutura organizacional, da
compreensão do que seja a logística e da importância das atividades individuais
para as operações da organização. Esses componentes da logística podem ser
desdobrados em atividades-chave e atividades de suporte, assim classificadas,
pois algumas atividades acontecem no canal logístico e outras dentro das
organizações. As atividades-chave estão no circuito crítico, também contribuem
majoritariamente com o custo logístico total e são essenciais à coordenação eficaz
e à conclusão das tarefas logísticas. O padrão de serviços ao cliente estabelece
o nível de produção e o grau de preparação ao qual o sistema logístico deve
reagir. Os custos logísticos aumentam em proporção direta ao nível de serviços
fornecidos ao cliente, de modo que o estabelecimento de padrões para os serviços
também afeta os custos logísticos. O estabelecimento de requisitos muito altos
pode elevar excessivamente os custos logísticos (BALLOU, 2001).

O transporte e estoque são atividades logísticas primárias na absorção de


custos. As atividades primárias são aquelas de importância fundamental para
a obtenção dos objetivos logísticos de custo e nível de serviço que o mercado
deseja, porque contribuem com a maior parcela do custo total da logística ou
são essenciais para a coordenação e para o cumprimento da tarefa logística. A
experiência mostra que cada uma representará metade ou dois terços do custo

33
Logística e Distribuição

logístico total. As atividades de apoio são aquelas que dão suporte ao desempenho
das atividades primárias, para que possamos ter sucesso na administração
organizacional, que é manter e criar clientes com pleno atendimento do mercado
e satisfação total do acionista em receber seu lucro. O transporte adiciona valor
de lugar aos produtos e serviços, enquanto o estoque adiciona valor de tempo
(BALLOU, 2001).

O transporte é essencial porque nenhuma empresa moderna pode operar


sem fornecer a movimentação de suas matérias-primas e/ou de seus produtos
acabados. Essa natureza essencial é subestimada pelas funções financeiras em
muitas organizações, que não avaliam adequadamente os riscos dos chamados
desastres nacionais, tais como greve ferroviária nacional ou recusa dos caminhoneiros
independentes em movimentar mercadorias por causa da disputa de preços de frete.
Nessas circunstâncias, os mercados não podem ser atendidos, o que faz com que
os produtos retornem ao canal logístico, deteriorando-se e tornando-se obsoletos
(BALLOU, 2001).

O estoque é essencial à gestão logística porque geralmente é impossível


ou impraticável fornecer produção instantânea e cumprir prazos de entrega aos
clientes. Ele funciona como um "pulmão" entre a oferta e a demanda, de forma que
a disponibilização de produtos necessários aos clientes pode ser mantida, enquanto
fornecem flexibilidade à produção e à logística para buscar métodos mais eficientes de
manufatura e distribuição de produtos (BALLOU, 2001).

O processamento de pedidos é a atividade-chave final. Seu custo geralmente


é menor comparado ao custo de transporte ou de manutenção de estoques. Não
obstante, o processamento de pedidos é um elemento importante no tempo total que
pode levar para que um cliente receba mercadorias ou serviços. Também é a atividade
que aciona a movimentação e a entrega dos produtos e serviços (BALLOU, 2001).

As atividades de suporte, embora possam ser tão críticas quanto as atividades-


chave em algumas circunstâncias, são consideradas aqui como contribuintes para a
realização da missão logística. Além disso, nem todas as empresas possuem todas as
atividades de suporte. Por exemplo, produtos como automóveis ou commodities, tais
como carvão, ferro e brita, que não necessitam de proteção de armazenagem contra
intempéries, não exigirão tal atividade, mesmo que sejam mantidos estoques (BALLOU,
2001).

A atividade de colocar a embalagem protetora é uma atividade de suporte do


transporte e do estoque, bem como da armazenagem e do manuseio de materiais,
porque ela contribui para a eficiência com a qual estas outras atividades são executadas.
As atividades de compra e programação de produtos frequentemente podem ser
consideradas mais uma preocupação da produção do que da logística. Entretanto,

34
Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

elas podem afetar o esforço logístico e obviamente, a eficiência do transporte e do


gerenciamento do estoque. Finalmente, a manutenção de informações apoia todas
as outras atividades logísticas para as quais ela fornece a informação necessária para
planejamento e controle (BALLOU, 2001).

Quadro 1 - Lista de atividades-chave e suporte da logística


ATIVIDADES-CHAVE DA LOGÍSTICA ATIVIDADES DE SUPORTE

1. Padrões de serviço ao cliente 1. Armazenagem


Cooperar com o marketing para: a. Determinação do espaço.
a. Determinar as necessidades e os desejos de b. Disposição do estoque e desenho das
clientes para os serviços logísticos. docas.
b. Determinar a reação dos clientes aos servi- c. Configuração do armazém.
ços. d. Localização do estoque.
c. Estabelecer o nível de serviços ao cliente.
2. Manuseio de materiais
2. Transportes a. Seleção de equipamentos.
a. Seleção do modal e do serviço de transportes. b. Políticas de reposição de equipamentos.
b. Consolidação de fretes. c. Procedimentos de coleta de pedidos.
c. Roteiro do transporte. d. Alocação e recuperação de materiais.
d. Programação de veículos.
e. Seleção de equipamentos. 3. Compras
f. Processamento de reclamações. a. Seleção de fontes de suprimento.
g. Auditoria de tarifas. b. O momento da compra.
c. Quantidades de compra.
3. Administração de estoques
a. Políticas de estocagem de matérias-primas e 4. Embalagem protetora
produtos acabados. Projeto para:
b. Previsão de vendas a curto prazo. a. Manuseio.
c. Combinação de produtos em pontos de b. Estocagem.
estocagem. c. Proteção contra perdas e danos.
d. Número, tamanho e local dos pontos de
estocagem. 5. Cooperar com a
e. Estratégias de just-in-time, de empurrar e produção/operações para:
de puxar. a. Especificar quantidades agregadas.
b. Sequência e tempo do volume de produ-
4. Fluxo de informações e processa- ção.
mento de pedidos
a. Procedimentos de interface dos estoques com 6. Manutenção de informação
pedidos de venda. a. Coleta, arquivamento e manipulação de
b. Métodos de transmissão de informações de informação.
pedido. b. Análise de dados.
c. Regras de pedidos. c. Procedimentos de controle.
Fonte: Ballou (2001).

35
Logística e Distribuição

Atividades de Estudos:
1) Quais são as diferenças elementares entre os processos de
suprimentos e de distribuição física?
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2) Quais são as atividades-chave da função logística que


devem existir nas organizações abaixo listadas? Descreva a
importância de cada uma das atividades-chave para a gestão das
organizações.

a) Um grupo musical (Orquestra Municipal do Rio de Janeiro);


____________________________________________________
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b) Um hospital de grande porte (Porto Alegre);


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c) O governo de uma cidade (Curitiba).


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36
Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

3) A logística envolve atividades denominadas chaves e de apoio.


As atividades-chave se relacionam com um fluxo de materiais até
chegar ao cliente final, e respondem pela maior parte do custo
logístico. Considerando a denominação das atividades, assinale
a alternativa que possui APENAS atividades-chave:

a) ( ) Serviço ao cliente; Compras; Manuseio de materiais;


Transporte.
b) ( ) Programação de produção; Gestão de Estoque; Transporte;
Processamento de pedidos.
c) ( ) Processamento de Pedidos; Armazenagem; Manuseio de
materiais; Fluxo de informações.
d) ( ) Serviço ao cliente; Processamento de pedido; Transportes;
Gestão de Estoques.

O SISTEMA LOGÍSTICO
Segundo Bowersox e Closs (2001), são três os subsistemas da logística:
suprimentos, apoio à produção e distribuição. Entretanto, também se entende
que há o subsistema de informações. Estes subsistemas são compostos por
atividades, e a operação destes subsistemas deve ser pautada por alguns
objetivos permanentes:

• Resposta rápida ao consumidor;


• Busca da variância mínima em todos os processos;
• Redução dos estoques de matérias-primas, produtos intermediários e
produtos finais;
• Busca da eficiência máxima no transporte;
• Garantia da qualidade dos produtos e serviços; e
• Rastreabilidade do produto durante todo o seu ciclo de vida.

Um sistema logístico é composto pela combinação de uma série de


atividades, que variam de empresa para empresa de acordo com a natureza
da atividade que essa empresa exerce, sua estrutura organizacional, porte etc.
Da mesma forma, cada uma dessas atividades logísticas possui seu grau de
importância dentro da organização de acordo com o impacto que causa na sua
atividade fim (AZEVEDO; LEAL, 2003).

37
Logística e Distribuição

Os componentes típicos dos sistemas logísticos, ou atividades, segundo


CSCMP (2004) (ex-CLM), são:

• Serviço ao cliente;
• Previsão de vendas;
• Comunicação de distribuição;
• Controle de estoque;
• Manuseio de materiais;
• Processamento de pedidos;
• Peças de reposição e serviços de suportes;
• Seleção do local da planta e armazenagem;
• Compras;
• Embalagem;
• Manuseio de mercadorias devolvidas;
• Recuperação e descarte de sucata;
• Tráfego e transporte; e
• Armazenagem e estocagem.

Normalmente se vê atribuída à logística uma série de atividades que não


têm nenhuma razão para serem atribuídas a ela. As atividades acima listadas
estabelecem o que está compreendido no sistema logístico, ou seja, são as
atividades que podem ser atribuídas à logística. Estamos falando de consenso
entre profissionais, pesquisadores e docentes ao redor do mundo. Todavia,
pode-se ver a logística de perspectivas diferentes, estamos falando de modelos
conceituais. Vejamos a logística sob as dimensões dos fluxos e do ciclo logísticos.

CICLO E FLUXO LOGÍSTICO


Numa abordagem simplificada pode-se dizer que as redes logísticas ou
cadeia de suprimento, ou seja, o ambiente de ação da logística é composto de
instalações de produção e armazenagem conectados por rotas de transporte e
que existem para suportar o fluxo de demanda, suprimentos e caixa, conforme
ilustrado mais à frente. A rede logística une os primeiros fornecedores até
o cliente final. A rede logística é basicamente um conjunto de instalações, tais
como fornecedores de matérias-primas, fabricantes, distribuidores, atacadistas,
varejistas, centros de distribuição, armazéns etc., que são conectados por rotas de
transporte, que são representadas por setas e realizadas por meios de transporte,
tais como estradas, ferrovias, canais, rotas marítimas, via aérea e dutos.

As instalações mantêm quantidades controladas de materiais denominadas


estoques. Os estoques estão presentes ao longo das cadeias de suprimentos

38
Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

pelos mais diversos motivos. Os estoques na cadeia de suprimentos são


necessários para que o processo de produção e distribuição de um produto possa
ocorrer. O estoque cíclico visa atender à demanda média entre reabastecimentos
ou ressuprimentos porque a produção ou compra de material se dá em lotes, ou
bateladas, que proporcionam economias que compensam os custos associados
à manutenção deste tipo de estoque. Como não vale a pena fazer funcionar uma
máquina ou uma linha de produção para produzir poucas unidades ou peças. Além
da economia de escala obtida na produção e transporte, se pode obter descontos
por quantidade, o que justifica a produção ou compra em lotes, e por consequência
a manutenção deste tipo de estoque. O estoque de segurança, ou mínimo, se
justifica pela incerteza quanto ao volume que vai ser demandado ou quanto à
capacidade de se produzir, ou ainda pelo tempo que vai demorar o transporte
dos produtos. Ele existe e é calculado apenas para diminuir o risco de não se ter
os produtos procurados pelo cliente por conta de problemas inesperados, como
imprevistos com o fornecedor, atrasos na entrega. Os estoques sazonais podem
ser necessários para atender os períodos de sazonalidade, tanto da demanda
pelo produto acabado como da oferta de matéria-prima. Nos momentos de
demanda baixa se pode formar estoques de produtos para atender os períodos
de alta demanda. Como um exemplo, pode-se destacar as empresas do ramo
alimentício que adquirem uma quantidade maior de matéria-prima na safra (pico
de oferta) para poder suprir a fábrica no período da entressafra (pico de demanda).
O estoque em processo são os que estão sendo processados, mas que ainda não
é um produto acabado. São materiais no processo de transformação (fabricação).
Por exemplo, carro sem motor e rodas na linha de produção, blusas sem bolso e
botões etc. O estoque em trânsito é criado uma vez que materiais ou produtos não
podem ser transportados instantaneamente de um ponto ao outro. Logo, mesmo
os materiais ou produtos que se encontrem dentro de equipamento de transporte,
ainda assim se constituem estoque. O estoque de antecipação é aquele que a
empresa forma quando antecipa sua produção para atender a uma demanda
futura esperada.

Veja na tabela a seguir alguns motivos pelos quais os estoques são


necessários, bem como a classificação de cada tipo de estoque:

Quadro 2- Forças que tornam os estoques necessários

Motivo do estoque Tipo de estoque


Incertezas. Estoque de segurança.
Produção/Transporte em lotes. Estoque de ciclo.
Tempo de transporte. Estoque em trânsito.
Tempo de processamento. Estoque em processo (Work In Process – WIP).
Sazonalidade. Estoques sazonais.

39
Logística e Distribuição

Variação na taxa de ativida-


Estoque de antecipação.
des.
Outros. Outros Estoques especulativos.

Fonte: Adaptado de Robenson, Copacino e Howe (1994, p. 954).

As instalações de produção possuem três tipos de estoque: o estoque de


matérias-primas, prontos para utilização na produção; estoque em processo e o
estoque de produtos acabados, que armazena produtos prontos para embarque.

Os tipos de estruturas de armazenagem também variam: os depósitos


normalmente contêm apenas um único tipo de estoque, estoques de produtos
acabados, mas os centros de distribuição, além do estoque de produtos
acabados muitas vezes são responsáveis pela montagem final e por isso possuem
componentes e/ou matérias-primas. Assim como as instalações, as rotas de
transporte mantêm estoque também. Esse estoque é denominado como estoque
em trânsito e consiste no estoque contido nos transportes, interlingando as
estruturas de armanzenagem. Esse estoque estreita a conexão entre as estruturas
de armazenagem da cadeia de suprimentos, tais como fornecedores, fabricantes,
distribuidores etc. Os estoques de produtos acabados que saem dos fabricantes,
ao chegarem no próximo elo da cadeia, podem passar a matéria-prima e desta
forma se integra o fluxo através do estoque de trânsito (TAYLOR, 2005).

Figura 5 – Rede logística típica


Fornecedores Ponto de Fábricas Centros de Consumidores
Consolidação Distribuição

Fluxo do Produto
Fluxo de Informação

Fonte: O autor.

40
Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

Você encontra um maior detalhamento da importância dos


estoques e os desafios do seu gerenciamento no seguinte endereço:
<http://www.ilos.com.br/web/monitoramento-de-desempenho-na-
gestao-de-estoque/>.

O que se pode ver na ilustração da figura a seguir são os fluxos logísticos,


que são compostos de materiais e produtos, informação e dinheiro. Os fluxos
de materiais incluem a armazenagem de matéria-prima, dos materiais em
processamento e dos produtos acabados ao longo de toda rede, indo desde
os fornecedores, passando pela fabricação, até o varejista para chegar ao
consumidor final. Além do fluxo de materiais (insumos e produtos), há também
o fluxo de dinheiro (capital) em sentido oposto ao fluxo de materiais e produtos.
O fluxo de informações ao longo de todo o processo e em ambos os sentidos,
evoluindo concomitante à evolução do fluxo de materiais, mas conduzindo as
informações no sentido inverso, iniciando no mercado consumidor ou clientes
finais, chegando aos fornecedores dos fornecedores.

Figura 6 – Ciclo Logístico

FLUXO DE MATERIAIS E PRODUTOS


estoque, programação de entrega, condições de pagam
ade, nível de ento
Capacid
FLUXO DE INFORMAÇÕES

Fornecedores Fabricante Distribuidor Loja de Cliente


Varejo

Pedid tos
os, so FLUXO DE INFORMAÇÕES men
licitaçõe , paga
s de devolu erviços
ção, solicitações de consertos e s

FLUXO DE DINHEIRO

Fornecedores dos Fornecedores


fornecedores dos dos fornecedores
fornecedores

Fonte: O autor.

Os produtos podem ser divididos em bens de consumo e


A logística não lida
bens industriais. A logística não lida com a totalidade dos materiais com a totalidade dos
utilizados na organização. A logística trata do fluxo dos materiais e das materiais utilizados
informações pertinentes ao atendimento de certo cliente. Logo, trata na organização.
dos materiais que circulam pela organização para atender pedidos.

41
Logística e Distribuição

A logística trata integralmente dos bens de consumo, e estes são aqueles


adquiridos e consumidos durante os processos realizados pelas organizações,
podendo ser ou não estocados em diferentes locais e momentos. Nem todos os
materiais da categoria bens de consumo são consumidos integralmente, podendo
retornar ao fluxo após passar por processos de recuperação. Os estoques são
constituídos de todo material mantido pela organização para atender demanda
futura e são valores referentes aos materiais existentes (matérias-primas, materiais
de consumo, produtos em processo, produtos acabados etc.) relacionados com a
atividade fim da organização.

Enquanto a logística baseia-se na lógica de circulação dos fluxos, a


administração de bens patrimoniais baseia-se na sua permanência e conservação.
Estes bens que são objetos da administração patrimonial, se denominam como
ativo imobilizado, integrando o ativo permanente, sendo constituído por bens ou
direitos, tangíveis e intangíveis, utilizados na consecução das atividades fim da
organização. Os bens patrimoniais não são consumidos como os bens de consumo
incluídos na conta estoque, mas eles se desgastam e sofrem perdas com o uso e
integram os custos indiretos pela via da depreciação. Desta forma, não se pode
mais confundir quais são os produtos e materiais de que a logística cuida no seu
gerenciamento, não usando a expressão logística indiscriminadamente.

Segundo Ching (1999, p. 12), a logística deve ser entendida da seguinte


forma:

Gerenciamento do fluxo logístico de materiais que começa com


a fonte de fornecimento no ponto de consumo. É mais do que
uma simples preocupação com produtos acabados, o que era
a tradicional distribuição física. Na realidade, a logística está
preocupada com a fábrica e os locais de estocagem, níveis
de estoques e sistemas de informações, bem como com seu
transporte e armazenagem.

Segundo Almeida (2009), a logística se refere à arte de administrar o fluxo de


materiais e produtos, da fonte ao usuário. Para Campos e Brasil (2007), a logística
é responsável por comprar, armazenar e distribuir materiais e produtos acabados
por toda linha de produção e pela cadeia produtiva, ao menor custo
A logística é possível e no prazo necessário. De acordo com Christopher (1997, p.
o processo 2), a logística inclui também todas as formas de movimento de produtos
de gerenciar
estrategicamente e informações:
a aquisição,
movimentação e
armazenagem de A logística é o processo de gerenciar estrategicamente a
materiais, peças e aquisição, movimentação e armazenagem de materiais, peças
produtos acabados. e produtos acabados (e os fluxos de informações correlatas)
através da organização e seus canais de marketing, de modo a

42
Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

poder maximizar as lucratividades presente e futura através do


atendimento dos pedidos a baixo custo.

Numa visão preliminar pensa-se na logística como diretamente ligada


ao fluxo de bens e materiais através de armazenagem, distribuição, aquisição,
movimentação e demais atividades que visam um processo eficaz de execução
das operações de uma organização. Todavia, percebe-se também a presença
e importância da informação nos diversos conceitos da logística, mesmo em
menor grau que os demais elementos pelos seus destaques no uso operacional.
Os fluxos de informação agregam um valor expressivo para a otimização dos
processos básicos de logística, em alguns casos até os substituindo. Para
Chopra e Meindl (2003), quanto mais eficiente for o fluxo de informações em uma
cadeia de suprimentos, menor será o estoque necessário para o atendimento da
demanda. Quanto maior for a visibilidade da cadeia de suprimentos, como sistema
de informação, e maior for a confiabilidade destas informações, menor serão os
níveis de estoque entre os elos da cadeia de suprimentos.
Logística é
o processo
Portanto, informação é uma ferramenta primordial para o adequado de planejar,
desempenho dos gestores das empresas e de todos aqueles envolvidos implementar
e controlar, de
no processo. maneira eficiente,
o fluxo e a
armazenagem de
Segundo Novaes (2007), logística é o processo de planejar, produtos, bem
implementar e controlar, de maneira eficiente, o fluxo e a armazenagem como os serviços
de produtos, bem como os serviços e informações associados, cobrindo e informações
associados,
desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o objetivo de cobrindo desde o
atender aos requisitos do consumidor. A logística incorpora prazos ponto de origem
até o ponto de
previamente definidos (e cumpridos); preços transparentes para o consumo, com o
cliente; satisfação plena do cliente (nível de serviço); integração efetiva objetivo de atender
e sistêmica entre todos os setores da empresa; integração efetiva com aos requisitos do
consumidor.
fornecedores e clientes e busca da otimização global (redução global
dos custos), incluindo estoques, transporte, avarias, perdas etc.

VALORES ADICIONADOS PELA LOGÍSTICA


A logística em sua origem estava essencialmente ligada a operações militares.
Por se tratar de serviço de apoio, não tinha prestígio nas batalhas ganhas. Hoje,
a logística tem um papel fundamental nas guerras, pois do que vale um tanque
de guerra com toda a sua tecnologia, do que vale um soldado altamente treinado,
se irá faltar a munição, combustível, alimentação, água, remédios, enfim, tudo o
que é necessário ser reposto. Da mesma forma ocorreu nas empresas, onde as
atividades de transporte e armazenagem eram apenas atividades inevitáveis e

43
Logística e Distribuição

de apoio. Os executivos não viam como estas atividades poderiam agregar valor
aos produtos. Todavia, uma dificuldade elementar no processo de produção é o
distanciamento espacial entre fabricantes e os mercados consumidores, além
do distanciamento entre os fabricantes e os fornecedores dos suprimentos. Ao
final da fabricação, o produto tem um valor agregado em função de todos os
recursos usados em sua fabricação, mas o valor ainda é incompleto aos olhos do
consumidor final, considerando que o produto ainda deve estar no local certo para
que se possa usufruir. Um eletrodoméstico somente tem todo o seu valor quando
instalado e sendo usado pelo seu proprietário.

A novidade na logística, a qual tem dado tanta projeção e


A novidade na relevância, é o conceito do gerenciamento coordenado das atividades
logística, a qual tem
dado tanta projeção relacionadas à logística e o conceito da logística como adicionadora de
e relevância, é valor aos produtos ou aos serviços. A logística agrega os valores do
o conceito do
gerenciamento tempo e do lugar dos produtos, através das informações, transportes
coordenado e estoques. Em termos competitivos, valor é o montante que os
das atividades compradores estão dispostos a pagar por aquilo que uma organização
relacionadas
à logística e o lhes oferece. Representa a receita total, ou seja, se constitui o
conceito da logística resultado das vendas dos seus produtos a um preço que os clientes se
como adicionadora
de valor aos dispuseram a pagar. A rentabilidade da empresa é a diferença do valor
produtos ou aos e o custo do produto, acrescido dos impostos. Logo, a meta central
serviços. das empresas é criar valor aos clientes que exceda o custo (PORTER,
1989).
Há um consenso
de que um negócio Há um consenso de que um negócio convencional gere 4 (quatro)
convencional gere
4 (quatro) tipos de tipos de valor em produtos ou serviços: a. Forma; b. Tempo; c. Lugar
valor em produtos e d. Posse.
ou serviços: a.
Forma; b. Tempo; c.
Lugar. Figura 7 – Valores de um produto

Fonte: O autor.

44
Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

O valor da forma é criado pela manufatura através da transformação de


matérias-primas em produtos acabados e o valor da posse é, em grande parte, de
responsabilidade do Marketing, da Engenharia e das Finanças, os quais fornecem
atividades que promovem a criação deste valor, como publicidade e informação,
suporte técnico e condições de venda (determinação de preço e disponibilidade
de crédito). A Logística cria, principalmente, dois desses valores, tempo e
lugar, além de contribuir para a criação do valor referente à posse. Os valores
do tempo e lugar são criados principalmente através dos transportes, dos fluxos
de informações e dos estoques. O Valor de Posse é criado no momento em
que se disponibiliza, através da distribuição, o produto ou serviço para o cliente
(BALLOU, 2001).

O sistema logístico mais básico que se imagine agrega o Valor de Lugar ao


produto. Quando uma empresa incorre em custos para movimentar os produtos
em direção aos clientes ou tornar um estoque disponível de maneira oportuna,
o valor que não estava lá antes foi criado para o cliente. E o cliente pagará por
este valor criado, conforme suas necessidades sejam satisfeitas e de acordo com
seu nível de satisfação (ou necessidade) com os serviços e produtos adquiridos.
Para ilustrar, podemos pegar o caso de um refrigerante sendo vendido por um
ambulante num estádio na final do campeonato de futebol e num dia superquente
de verão brasileiro. Mesmo sendo caro, o torcedor não sairá do estágio para
comprar um refrigerante por 1/5 do valor ofertado no estádio através de um
supermercado. Este refrigerante no supermercado não agrega valor ao torcedor
pela inconveniência da distância. Mesmo considerando que houve um custo de
transporte do refrigerante, o torcedor estará disposto a pagar um valor bem maior
pela conveniência, o que gera um valor que cobre todos os custos e ainda gera
uma margem de lucro elevada (BALLOU, 2001).

O Valor Tempo é outro adicionado pela logística. O estoque adiciona o valor


tempo quando posicionado próximo ao público-alvo ou aos pontos de produção.
A gestão de estoques busca manter seus níveis baixos, o quanto for possível,
e também provê a disponibilidade pretendida em função do perfil dos clientes.
O valor monetário dos produtos passou a crescer consideravelmente, gerando
custos financeiros elevados e obrigando ao cumprimento de prazos menores
(NOVAES, 2007). Para melhor demonstrar a importância do tempo no sistema
logístico, podemos mencionar o custo financeiro do estoque em trânsito dentro
de equipamentos de transporte. Logo, quanto mais tempo estes estoques
estiverem em trânsito entre a expedição das empresas e o destino, maior será
o custo financeiro incorrido. Um caso real, que pode ilustrar a demanda por
prazos de entrega cada vez mais exíguos é o caso das carrocerias do Cadillac
modelo ALLANTÉ, feitas à Pininfarina (estúdio de design). A decisão da empresa
americana foi de transportar as carrocerias entre a Itália e Detroit, por via aérea

45
Logística e Distribuição

ao invés de marítima. Esse processo demandou três voos exclusivos semanais


de Boeing 747. O estoque de carrocerias nunca era maior do que 150 unidades
e, desta forma, o capital investido em estoque pela General Motors é muito menor
do que na alternativa de transporte marítimo. Considerando que cada carroceria
custa à GM U$ 30.000 e que o volume mínimo para o transporte marítimo é
de 1.000 unidades, estamos falando em comparar estoques em trânsito de U$
4.500.000 com outro de U$ 30.000.000 na opção de transporte marítimo. Pode-
se constatar que houve uma demanda por um transporte mais rápido para evitar
custos financeiros de estoque. O que apresentamos aqui é parte dos motivos que
pressionam o prazo de entrega cada vez menor. Falamos de custo, mas com
respeito ao valor pode-se citar o produto denominado “jornal diário” como um dos
exemplos de produtos que mais têm restrição ao valor de tempo, uma vez que
ele tem que ser fechado o mais tarde possível a fim de incorporar ao máximo as
últimas notícias relevantes, e deve ser distribuído o mais cedo possível para que
não perca o valor para os leitores. Sabe-se que à medida que o tempo passa, os
exemplares não terão mais valor.

O Valor Qualidade aos olhos dos consumidores é muito importante, basta


imaginar um transporte de produtos como iogurte, onde o sistema de refrigeração
seja desligado durante o percurso com o propósito de economia de combustível.
Ao receberem o produto no supermercado o lote de produto seria aceito, mas
depois poderia resultar em reclamações dos clientes, prejudicando a imagem do
varejista. Dentro da mesma dimensão de valor, pensamos na compra de uma
geladeira no padrão inox e o recebimento de uma geladeira branca. Mesmo o
produto tendo as mesmas especificações, o mesmo preço, tendo sido entregue no
prazo, ainda assim o valor qualidade agregado não será considerado o mesmo.
Os dois produtos saem do fabricante sem restrições na qualidade intrínseca do
produto, mas ficou faltando incorporar o valor qualidade incorporado à operação
logística.

O Valor Informação também é um elemento importante das atividades


logísticas. É fácil encontrar exemplos deste valor, tal como aquele que é
percebido na possibilidade de rastrear as encomendas pela internet, ou ainda
na possibilidade de rastrear frotas e cargas permitindo que se façam ajustes
emergenciais em função de alteração, por exemplo, na demanda. Ou a importância
da informação na decisão de aceitar mais pedidos de seus clientes, considerando
que seus insumos de produção necessários estão chegando com uma precisão
de horas em função das tecnologias disponíveis.

Observa-se então a mudança de perspectiva sobre a logística, pois passou


a ser vista como quem agrega valor de lugar, de tempo, de qualidade e de
informação aos produtos. Além de agregar os quatro tipos de valores positivos

46
Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

para o consumidor final, a logística moderna procura também eliminar do processo


tudo o que não tenha valor para o cliente, ou seja, tudo que acarrete somente
custos e perda de tempo (NOVAES, 2007).

Atividade de Estudos:

1) Como o transporte contribui para adicionar valor de “lugar” a


produtos ou serviços? Como o estoque adiciona valor de “tempo”
a produtos ou serviços?
____________________________________________________
___ _________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

OBJETIVOS DA LOGÍSTICA
Considerando que um produto só tem valor na mão do cliente, podemos
afirmar que os objetivos da logística são pelo menos os descritos abaixo.
Conforme a SOLE (Society of Logistics Engineers), os oito R’s da logística são:

• Right Material (material certo).


• Right Quantity (na quantidade certa).
• Right Quality (na qualidade certa).
• Right Place (no lugar certo).
• Right Time (na hora certa).
• Right Method (com o método correto).
• Right Cost (segundo o custo correto).
• Right Impression (com uma boa impressão).

Para satisfazer a todos os requisitos não é suficiente que a logística apenas se


ocupe da entrega dos produtos e serviços aos clientes que possui no momento. A
exigência é mais abrangente, consiste em reorganizar globalmente as funções do
suprimento de materiais e produtos, da produção e das compras, da distribuição

47
Logística e Distribuição

física. A demanda da logística integrada é de reestruturá-las conjuntamente e


fazer delas um sistema. Deste sistema integrado se pode extrair os conteúdos
dos “8 R”.

Tem sido sugerido A seleção de uma boa estratégia logística exige muitos dos
que uma estratégia
logística tenha processos criativos que o desenvolvimento de uma boa estratégia
três objetivos: corporativa. As abordagens inovadoras para a estratégia logística
(1) redução de
custo, (2) redução podem oferecer uma vantagem competitiva. Tem sido sugerido que
de capital e (3) uma estratégia logística tenha três objetivos: (1) redução de custo, (2)
melhorias nos redução de capital e (3) melhorias nos serviços (BALLOU, 2001).
serviços (BALLOU,
2001).
Estes objetivos apresentados podem ser classificados como
objetivos operacionais, táticos e estratégicos. Todavia, são muitas barreiras para
que se atinjam os objetivos pretendidos e mais do que isso, para que sejam
adotadas as melhores práticas recomendadas pela logística, muitas barreiras
precisam ser consideradas, conforme as descritas a seguir.

BARREIRAS À ADOÇÃO DA LOGÍSTICA


INTEGRADA E A GESTÃO INTEGRADA DA
CADEIA DE SUPRIMENTOS
Apesar dos inúmeros benefícios pretendidos com a logística e gestão
integrada da cadeia de suprimentos, tais como redução de custos, melhoria no
planejamento da demanda, obtenção de sinergias operacionais, compartilhamento
de riscos, aumento na velocidade de resposta da cadeia, melhora no nível de
serviço ao cliente e capacidade de adaptação a mudanças, os gestores precisam
estar conscientes dos desafios associados à implantação.

Um dos maiores empecilhos para a implantação será a resistência à


mudança e movimentação para além dos processos existentes. As organizações
precisam mostrar para seus colaboradores como as mudanças de processos
podem melhorar. Os benefícios dificilmente são realizados devido às diferenças
de interesses entre as organizações, que buscam seu próprio lucro, baseadas em
uma perspectiva local e num comportamento oportunista. Algumas organizações
buscam melhorar o seu desempenho financeiro às custas de outros membros
da cadeia. Não é raro verificar um considerável antagonismo entre os membros
da cadeia de suprimentos em função da desconfiança mútua e dificuldades de
cooperação aparecem, muitas vezes, em forma de conflitos. A inércia gerencial
também figura como causa de conflitos a partir de medidas de desempenho
inadequadas, políticas desatualizadas, informações desencontradas. Estes

48
Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

impedem o aumento de desempenho da cadeia de suprimentos, provocando


problemas de qualidade, de entrega do produto, de retrabalhos e de perda de
foco nas necessidades e demandas do consumidor final. Pode-se, para efeitos
de simplificação, organizar as dificuldades da implantação em barreiras culturais,
tecnológicas e operacionais (ROSA, 2004).

Barreiras culturais: entende-se como barreiras culturais todas as barreiras


resultantes dos hábitos e comportamentos das pessoas envolvidas nos processos
colaborativos entre empresas. Apesar de ser extremamente complexo definir
todos os mecanismos que “formam” os hábitos e comportamentos de uma pessoa
dentro do ambiente empresarial, pode-se destacar a própria cultura do país, que
abrange aspectos peculiares da formação de uma nação, seus valores, tradições e
costumes, a cultura organizacional e as métricas de avaliação e recompensa, que
funcionam como mecanismo de reforço aos hábitos e comportamentos percebidos
como aceitáveis. A influência da cultura no sucesso ou fracasso de iniciativas de
expansão geográfica, parcerias ou adoção de novos processos e tecnologias é
bem conhecida, pode-se exemplificar a dificuldade encontrada pela Toyota para
implementar os mecanismos de “Lean manufacturing” em suas fábricas fora do
Japão ou da Walt Disney Company para reproduzir seu serviço receptivo e bem-
humorado com funcionários franceses na Disneyland Paris (JULIANELLI, 2014).

Lean manufacturing, ou manufatura enxuta ou Sistema Toyota


de Produção é uma filosofia de gestão baseada na redução dos
desperdícios.

Barreiras tecnológicas: o processo de colaboração e integração com


parceiros comerciais é intensivo na troca e tratamento de dados, tendo portanto,
a tecnologia da informação, papel de destaque na viabilização das iniciativas de
integração logística e da cadeia de suprimento. As barreiras tecnológicas podem
ser: incompatibilidade de sistemas, complexidade dos fluxos de informação e
problemas na infraestrutura tecnológica.

Sistemas de informação inadequados ou incompatíveis são uma barreira


fundamental para a colaboração à medida que dificultam a troca de informações
entre os parceiros da cadeia. Os problemas de incompatibilidade começam na
falta de padronização das informações contidas nos códigos de barra. Também
o uso de sistemas proprietários, projetados para lidar com as informações
das organizações internamente e, portanto, autônomos, heterogêneos e não

49
Logística e Distribuição

integrados, o que significam enorme desafio para a colaboração entre as


organizações da cadeia de suprimentos, uma vez que as informações necessárias
encontram-se dispersas nestes sistemas, como um dos maiores obstáculos para
a integração. Há um grande desafio que é lidar com a enorme complexidade dos
fluxos de informação, requerendo uma análise e interpretação de uma quantidade
enorme de informações (volume), de fontes e formatos distintos (variedade) e
para uma disponibilização em bases em tempo real para muitos tomadores de
decisão (velocidade) (JULIANELLI, 2014).

Barreiras operacionais: são os entraves relacionados aos fluxos físicos de


produtos entre as empresas, como a escassez de recursos humanos qualificados
nos níveis operacional e executivo, infraestrutura e recursos restritos e legislação
inadequada.

No que se refere à qualificação dos profissionais para a gestão integrada da


cadeia de suprimentos, um importante fator deve ser considerado: as ferramentas
de gestão desenvolvidas e ensinadas aos executivos buscam melhorar o
desempenho das partes da organização de maneira independente, ou seja, não
foram concebidas dentro do novo paradigma colaborativo indicado, fazendo
com que os profissionais envolvidos na coordenação dos fluxos de produtos não
possuam os artefatos para gerenciar apropriadamente os relacionamentos intra e
interempresas.

Outra barreira operacional para a integração refere-se à limitação dos recursos


disponíveis, nem sempre os mais adequados para viabilizar uma integração ampla
dos fluxos físicos ao longo dos parceiros comerciais. Possivelmente resultado de
estruturas operacionais incompatíveis, como perfis de frotas diferentes, ou da falta
de infraestrutura, que pode, por exemplo, obrigar uma empresa a se relacionar
com várias transportadoras, com aumento no volume de dados transacionados
e também da complexidade de suas operações, pela inexistência do modal
ferroviário. Realidade que o Brasil enfrenta pela falta de ferrovias.

A legislação também merece destaque quando analisadas as barreiras,


uma vez que concebida para intermediar as relações de empresas geridas
independentemente, tanto a estrutura tributária quanto a cível podem ser
impeditivos para a integração dos fluxos de materiais (JULIANELLI, 2014).

Comumente se classificam os componentes gerenciais, que devem receber


especial atenção por parte das organizações que enfrentam o desafio da
implantação da logística Integrada e Gerenciamento da Cadeia de Suprimento.
Estes podem ser divididos em componentes técnicos e físicos, e os componentes
gerenciais e comportamentais.

50
Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

Destaca-se dentre os componentes técnicos e físicos, o componente


“Estrutura Organizacional”, que reforça a ideia de atenção a ser dada às barreiras
acima apresentadas. Este componente trata da importância da estrutura da
organização, seu tipo de departamentalização, integração interna e a organização
da cadeia. Também sobre a importância na adoção de equipes multidisciplinares
ou de equipes compostas por pessoas de várias organizações da cadeia, a fim
de estimular a integração da cadeia e o aumento da probabilidade de sucesso
na implantação. Uma dúvida pode surgir agora: qual a relação da estrutura
organizacional com a adoção da logística integrada? Não é difícil responder, pois
como se vai adotar um conceito e práticas de integração e cooperação sem uma
estrutura organizacional que respeite, valorize e conduza nesta direção? Não
basta apenas adotar processos, deve-se também rever a estrutura organizacional
para que haja êxito.

Dentre os “componentes gerenciais e comportamentais”, destaca-se a


“Estrutura de Poder e Liderança”, que além de reforçar a ideia expressa nas
barreiras já apresentadas, demonstra a importância e atenção a ser dada à
falta de poder e a concentração de poder, pois ambas podem afetar o nível de
comprometimento dos membros da cadeia e a integração da cadeia. Não se pode
esquecer que além de definições, processos e atividades a serem adotadas,
existem valores importantes, como o poder que deve ser bem distribuído, caso
contrário a implantação fica comprometida.

INTERAÇÕES DA FUNÇÃO LOGÍSTICA COM


OUTRAS ÁREAS DAS EMPRESAS
Bowersox e Closs (2001) propõem a logística como ferramenta de gestão
do "supply chain" quando diz que o gerenciamento logístico inclui o projeto e
administração de sistemas para controlar o fluxo de materiais, os estoques em
processo e os produtos acabados, com o objetivo de fortalecer a estratégia das
unidades de negócio da empresa, desta forma localizando a logística dentro de
um cenário mais amplo.

Fontes (1996, p. 1) ressalta a importância estratégica da logística, ao afirmar


que:

O sistema logístico, estabelecendo a integração dos fluxos


físicos e de informações, responsáveis pela movimentação de
materiais e produtos, segundo Peter Drucker, a última fronteira
gerencial que resta ser explorada para reduzir tempos e custos,
melhorar o nível e a qualidade de serviços, agregar valores que
diferenciem e fortaleçam a posição competitiva da empresa.

51
Logística e Distribuição

A logística, sendo uma função que trata da otimização dos fluxos de


operações dos sistemas produtivos, atua interagindo com outros setores das
empresas, trocando informações e gerenciando conflitos porventura existentes
(GOMES; RIBEIRO, 2004).

A função logística interage basicamente com 4 (quatro) setores em uma


empresa, que são: Marketing, Finanças, Controle da Produção e Gestão de
Recursos Humanos, sendo as seguintes as variáveis de interesses comuns da
logística com tais setores (GOMES; RIBEIRO, 2004):

Marketing
• Produtos ofertados;
• Formação de preço;
• Canais de distribuição;
• Prazos de entrega.

Finanças
• Necessidades de giro de estoque;
• Políticas de investimento.

Controle de Produção
• Orçamento;
• Planejamento dos custos de revenda;
• Quadros demonstrativos, em todos os níveis.

Gestão de recursos humanos


• Políticas de recrutamento e formação de pessoal.

Em função de uma tradição tornou-se usual se organizar a partir das funções


marketing e de produção. Não é difícil entender a relevância dada a estas
funções, pois uma responde pelas tão importantes vendas e outra faz o que se
vende. E por consequência se dava um papel de apoio às demais funções da
gestão. Esta abordagem é extremamente simplória, pois não considera todo o
valor de quem distribui os produtos e garante insumos de forma adequada à
produção. São atividades logísticas que estão diretamente ligadas à eficiência
e eficácia das funções de marketing e de produção. Todavia, não se pode dizer
que os estudantes e profissionais das áreas de marketing e produção tenham
desconsiderado a importância da logística, pois ambas a consideraram em seus
escopos, mesmo que inapropriadamente. Como se pode ver na definição de

52
Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

marketing pela “American Marketing Association”: “É o processo de planejamento


e execução da concepção de preço, promoção e distribuição de ideias, bens e
serviços para criar trocas que satisfaçam metas individuais e organizacionais”.
O que a administração de marketing deveria se incumbir de escolher os canais
de distribuição para os produtos e serviços. Da mesma forma pode-se observar
em definições de gestão de operações/produção. Essa abordagem pode causar
problemas importantes à função logística, pois não se pode imaginar a função
de produção/operações tomando atitudes sobre atividades logísticas e contrárias
às estratégias das outras funções marketing e logística. Isso significa potenciais
rupturas entre as áreas da organização ou a irresponsabilidade sobre as ações e
resultados.

Ao se entender que a logística é muito mais do que um conjunto de


atividades numa organização, se deve também adotar uma visão de que estas
devem ser geridas sistemicamente para que se possa obter o máximo de
resultado do sistema total. A logística empresarial representa uma redefinição nas
estruturas organizacionais formais, incluindo suas responsabilidades e escopo de
trabalho, ou uma mudança conceitual na visão dos gestores sobre as atividades
de movimentar-estocar, que historicamente tem estado parte sob o controle do
marketing e parte sob o controle da produção/operações. Você pode se perguntar:
o que significa isso? A logística é muito mais do que uma unidade organizacional,
constitui numa função que exige uma mudança de mentalidade dos gestores e
uma revisão das estruturas organizacionais.

Logo, não deve ser vista como uma unidade ou departamento da organização,
mesmo que possa se escolher ter uma unidade organizacional assim denominada.
Todavia, se as atividades logísticas forem vistas com uma unidade organização
autônoma e com ação gerencial, o relacionamento das atividades logísticas com
as do marketing e as da produção/operação seria conforme mostrado na figura a
seguir, onde a logística ocupa uma posição, estrategicamente importante, entre
a produção e o marketing. Existem atividades comuns às duas funções, que são
denominadas atividades de interface.

53
Logística e Distribuição

Figura 8 – Principais atividades e atividades de interface com a logística

Fonte: Adaptado de Ballou (2001).

A separação das atividades logísticas da empresa em três grupos, em vez


de dois, nem sempre é necessária ou recomendada. As unidades de marketing
e produção/operações, quando estruturadas e coordenadas, podem fazer o
gerenciamento das atividades logísticas, incluindo as denominadas de interface.
Entretanto, uma unidade organizacional distinta, respondendo pela logística, pode
ser a forma mais efetiva e eficaz.

Segundo Ballou (2001), as atividades de interface não devem ser geridas por
apenas uma das áreas funcionais. Devem ser gerenciadas pelas funções a elas
relacionadas de forma colaborativa e coordenada. Caso isso não ocorra, pode
levar a resultados subótimos para a empresa através da subordinação das metas
mais abrangentes da organização às metas das funções individuais ou unidades
organizacionais. Significa dizer que objetivos setoriais ou departamentais podem
se sobrepor aos objetivos estratégicos da organização. A integração entre
marketing, logística e produção requer grande sinergia na troca de informação,
sendo necessário as organizações proporcionarem incentivos à cooperação entre
as funções participantes, logística, marketing e produção/operações. É comum
que os setores de logística e marketing tenham uma disputa, da mesma forma
com respeito à logística e produção/operações. Todavia, isso é completamente

54
Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

maléfico no que diz respeito à organização de negócios da qual fazem parte, e


por isso devem ser minimizadas ao máximo através de um controle gerencial e
avaliação de desempenho adequados.

Pode-se ver na figura anterior, que a definição do nível de serviços ao


cliente e das embalagens se constituem em atividades que devem ser tratadas
de forma coordenada e colaborativa pelo marketing e a logística, e o mesmo
deve acontecer com as compras e a programação de produtos. Ambos os casos
constituem exemplos da interface entre logística e produção.

A logística e o marketing são considerados, em muitas organizações, a


principal interface com o mercado, ou seja, se não atuarem de forma cooperativa
e coordenada pode significar permanência ou não da organização no mercado.
Talvez você possa se perguntar: como isso pode acontecer? Vejamos uma
atividade de interface entre as duas funções: aquela que trata da embalagem.

Figura 9 – Exemplo de atividade de interface entre as duas funções

Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/65qW94>. Acesso em: 2 mar. 2017.

55
Logística e Distribuição

No escopo da logística está a escolha de um tipo de embalagem, para que


o produto transportado e movimentado se mantenha intacto até chegar ao cliente
final. A logística, por sua natureza, dará atenção ao material da embalagem no
sentido de obter o acondicionamento adequado do produto, ou seja, a garantia
de que o produto manterá suas características até a entrega ao cliente final. Já
o marketing tem seu foco principal na aparência desta embalagem, de forma
que ela seja atraente para o consumidor, despertando o desejo em adquiri-la. A
logística se preocupa com a qualidade do material, e se ele conseguirá manter
as características do produto durante a armazenagem e transporte, até que o
produto chegue ao consumidor final. De outro lado, o marketing precisa que esse
produto tenha um design e uma embalagem bonita, que represente bem a marca
e desperte no consumidor o desejo de comprá-lo.

Figura 10 – Exemplo de embalagem

Fonte: Disponível em: <http://andradasnews.com/wp-content/uploads/2017/02/


WhatsApp-Image-2017-02-13-at-15.25.40-300x175.jpeg>. Acesso em: 2 mar. 2017.

Agora, se não houve uma gestão compartilhada entre as duas funções, a


decisão sobre a embalagem depender apenas da visão da função marketing,
o produto pode ter uma embalagem cara, que dificulte o transporte, exigindo
cuidados especiais na armazenagem e transporte. É possível ainda escolher uma
embalagem apenas ofertada por poucos fornecedores e estrangeiros, e ainda
não confiáveis na qualidade e no prazo de entrega. Isso tudo seria o pior dos
mundos para a função logística e para organização. Ou podemos ver a decisão
tomada apenas por parte da função logística, o que pode acarretar a escolha
de uma embalagem com péssimo design, sem nenhuma referência à marca e
à mensagem que se deseja passar ao consumidor. Ao contrário disso tudo, se

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Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

houver a gestão compartilhada na atividade que cuida da embalagem, pode-se


escolher uma embalagem que seja resistente, com custo adequado, com muitos
e confiáveis fornecedores nacionais. E ainda uma embalagem com um excelente
design e totalmente alinhada ao estilo e propostas da marca do fabricante.

Vamos ver outras importantes atividades de interface, aquelas existentes


entre as funções logísticas e de produção/operações. Qual seria a relação da
logística com a produção dentro de uma manufatura? Sabe-se que as informações
relativas ao estoque de produtos acabados devem ser fornecidas à produção, que
a partir destas desenvolve o seu plano de produção. A informação da demanda
real e dos níveis de estoque são fundamentais à produção.

Outro ponto de relacionamento da logística é o fluxo de mercadorias.


Considerando importância do fluxo na linha de produção e as definições do layout
realizadas pela logística, entende-se como a produção e logística interagem a fim
de garantir a otimização da linha de produção, pois é muito mais do que um fluxo
de informação interligando a produção e logística. Consiste na gestão coordenada
e participativa das atividades de interface.

Se assim for, ficam evidentes os resultados e a importância do equilíbrio de


forças na gestão destas atividades de interface, a fim de garantir os melhores
resultados para a organização.

De acordo com Fleury (2000), a logística deve ser vista como um instrumento
de marketing, uma ferramenta gerencial capaz de agregar valor por meio dos
serviços prestados, ou seja, deve haver uma interação ainda maior entre a função
logística e as demais funções empresariais.

Atividades de Estudos:

1) A logística e o marketing são considerados, em muitas


organizações, a principal interface com o mercado, ou seja, se
não atuarem de forma cooperativa e coordenada pode significar
permanência ou não da organização no mercado.

Da mesma forma, é importante dar a devida atenção para as


atividades de interface, caso contrário, ficam comprometidos
os benefícios da logística integrada, que são tão buscados
por empresas competitivas. As atividades de interface, se
gerenciadas por uma só das funções clássicas da administração

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Logística e Distribuição

a elas relacionadas, pode levar a um desempenho subótimo da


organização. Marque a alternativa que representa a causa o
resultado subótimo:

a) ( ) A subordinação das metas mais abrangentes da empresa às


metas das funções individuais.
b) ( ) A falta de competência técnica provável em uma das funções
da gestão.
c) ( ) Pela forte tradição e cultura organizacional.
d) ( ) Porque as atividades de interface com a logística estão
diretamente ligadas à eficiência e eficácia das funções de
marketing e de produção.

2) O que são as atividades de interface da logística e em que


diferem das demais atividades logísticas no que diz respeito ao
gerenciamento?
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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final deste primeiro capítulo, após conhecermos a evolução da
logística, os seus objetivos e atribuições. O que apresentamos até aqui evidencia
a importância da logística no cenário dos negócios neste século 21, bem como
o que mudou em sua essência desde seu surgimento. Embora não haja uma
definição única para logística, todas as definições mais recentes estabelecem
bem o que pode ser visto como logística, sua natureza e no que consiste o seu
gerenciamento.

Todavia, há outros aspectos e conceitos muito importantes que serão


estudados nos próximos capítulos. No capítulo seguinte, veremos a logística
como elemento central da prestação de serviço ao cliente e base das estratégias
empresariais neste cenário competitivo em que vivemos. Mas, antes disso,
verifique se ainda há dúvidas sobre o que foi abordado até aqui, sugerimos rever
o que for necessário e discuti-las com o grupo e com o tutor.

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Capítulo 1 LOGÍSTICA: INTRODUÇÃO, HISTÓRICO E
CONCEITOS ASSOCIADOS

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Logística e Distribuição

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