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quando © moderno nao era um estilo e sim uma causa anatole kopp Nobele*Edusp © 1990 Livratia Nobel S.A. Impresso no Brasil/Printed in Brazil Departamento Editorial B proibida a reproducio. Nenhuma parte desta obra poderd ser reproduzida sem a permissio por escrito dos editores através de quaisquer meios: xerox, fotocépia, fotogré- fico, fotomectnico. Tampouco poderd ser copiada ov, transcrita, nem mes- mo transmitida através de meios eletrénicos ou gravagées. Os infratores serfio punidos através da Lei 5988, de 14 de dezembro de 1973, artigos 122130, SUMARIO Preficio & edicéo brasileira ae eee u Introdugio cette B Capitulo 1 Um estilo ou uma causa? ou a quem pertence © mundo? .........e.02, 15 Capituto Do Império alemio & Republica de Weimar ....0.cccccceseseeseseeess 26 Capitulo HE Em diregdo ao sol, em diregSo & liberdade ....0.esccscceeteerseeees 42 Capttuto 1V A reconstrugto do modo de vide ma URSS. Dos ance vinte aos anos wrinta ™ Capituto V Um meio ambiente ‘para mudar a vida .....2.ececeeseteeesceeees SB Capltuto VI A Franca; Le Corbusier e dois ou trés outros .. : ue Capitulo Vit A cidade funcional. De Moscou a Atenas ou as esperancas frustracas .. 146 Capitulo VIII “Vejo um tergo da Nac&o mal alojada, mal alimentada, mal vestida” 162 Capttuto 1x ‘Meu nome ¢ William Edwards ... 181 Capltuto X Emigrago de arquitetos. Arquitetura da emigraglo .......0...c00+ 208 Conclusées . 29 Baan nnn nnn nm nm mmm nn nnn na enannnsece 6 2pnnig “eourey “uasammog pun amvyernyosy snl aIMPSHoOH “HOTTAHOS uousUHD {INIA sued 2p apopiscsmn “YIIIIHIS °MID {INA sHoa 2p apuprssaatun ‘NBOVMTION PIF ‘Dypasioyy‘Dsossojoud ‘TaTANE ax°m0T suigqosnsat op apopissoamin ‘XEOTE Yom Way “uae ‘PloqunH apyp (1849814) "HOSINITY YHIN ‘oosopy “orspuouose ‘S1ZA0d PHoe] “uiptos -niag BANK YIMY ‘OBsngswsissy 2p vimraymbsy ap VNOIsT "TAN 212 MSpBH 9p Bpepissodsun ‘LAVavd Puuy ‘sudd ‘1071059 "AOSSVUXIN J0}D1A fugqosns9e ‘soIsquorS sonnbsy “NEYOIVH wo10K ‘s}iDd ‘nopHd log °9 04129 "SHOOUUVT 8UeIPH LtounDM, “uDsoanog pun amyoMo1y Jn} 24OSIOH "TAHOSLAN 25 U4D ‘nosso “vr21mb1D “YAONINNIN -THOVER vPlapen Sway ‘wnseg ‘sploquny apeprsi9azuN “SNNVHONAL any ‘erseq-uipog ‘oraymbso ‘ONAL wousny ‘o8inqsoussg 2p sapopssion uA ‘SYNOL auoudeIs ‘sung “AMOUR Her "VAT "440K HON 'SSIH 4981Y SVaw “‘wyseg ‘ploquny epopisiaqquN 'YNICHIH Oy ‘WCU “wna 0 Bp JopoHons VNICRLIH 79H ZO/DH uomNERL “LATTUAH ‘INVQUOID aumguoes isuzod ‘ossn4 ap viosse}o1d "OVE ANIVINOE DH ‘UoHMIOaZ 'YINISOM NIZISET vussow ‘sud ‘mupanolnv.p -niaimbay ap veibodoped APPIN ‘NAHOD SmoTuDAr ‘EpHquInD 'éss04 stun ado 244 “EXOD auUsdy IND ‘suDg “voyyu=4D B=yNBsIq BP TOUO}PON ounuag “AS¥HO Huot Sxofsiog ‘Kipssaanug wossDy 5084020 ‘NMOUM PUIEACT ‘seapuoy ‘injombsy 9p opdorossy ‘KNSHVAOM Waly ‘stad ‘Ousiingsy op ousismuin UsHONOR mbssrp14 Lojuosoy ‘omimbse ‘TTINTHOTE ‘SwoHT suing ‘SpoIMaHiO SONBUIT ap M1025 'YNSATAVEZ AVIA 265 ‘pes tap ‘suopmise “xV HAZ UV NMermYS ‘suDg ‘BESNGIOD 27 oRSypUNI "ZW “YEAY 42804 ‘sung ‘oi9nnbse "INVIAY WNPT HOA HON ‘women 2400) PUL 'NOLHSY 2100 sting ‘ossn4 2p D1ossofo1d “QNOA JUAAAV 2120 ‘sopoyuaseudo mbo sorppr svjad yeapsuodsas oozup 0 nos anb oxv}9 swm79p wpquio} soul ‘sopo} D 4209p “Bio o1and vpnip ons nop ou andes 28 awou olna sojanbup um opo) SOLNAWIONGVYOV perg Prowog, oaou 9 0581 opms wanb vend Saponbp sousuupuas ovs ou soy ‘opessed 0 vand juswos opnpa owoa opssapistios no opisanbsa 49s 9 ss-vostuse uss 2 “04joa-9 anbaod 01409 ng, tuto de Historia das Emanuel A preparagao deste livro beneficiowse do apoio material dos seguintes organismos: Diregio de Argi bitagao, Paris; Kennan I AK PREFACIO A EDICAO BRASILEIRA Eu tive a sorte de conhecer a inaior parte dos pa(ses europeus. Em alguns casos tratou-se de simples =e ndo sem razio — a chamar de “moderna”. Mas a América Latina continuava sendo uma desconhecida para mim e metros das revistas de arquitetura francesas consagrados a0 ‘Anatole Kopp INTRODUCAO. “De um lado do ablamo, encontrames o sistema decréplto do pensamento europeu — um ccietismo sem fundamento, aie: dspic ferapre de milhares de recess aristicas — pronto 2 buscar # er ede em qualquar luger, desde quc soja no passado. ‘Do outro lado abrese uma nova via, que ainda € preciso des: braver, terras desconhecidat que é prectso. colons 'A concepfdo de mundo do arqulteto contemporineo forja-se no ccontato com sta Spoca para que te elaborem 0s novos méfodos do Dpensamento arglteronica™ 1M. ta. Guincure 1: Sovremennaia Arktektura, n* 4,195 (Mosca) Este lvro ndo pretende ser objetivo. Ele é — admito — a expresso de uma atimude gue poderia ser qualificada como passional. Passional em re- lagio Aquela arguitetura que no decorrer dos anos vinte e trinta era chee mada de “moderna” por razdes cronolgicas ¢ que continua a ser chamada assim — quase trés quartes de século apés seu nascimento, por hébito sem divida, mas também e sobretudo porque o inicio do séculc vinte, © parti tularmente 05 anos que se seguiram & primeira guerra mundial, viram aps- reoer idéias, projetos sociais, correntes culturais ¢ movimentos politicos dos. quais se ouve periodicamente dizer que estio mortos e que os proble- mas que eles pretendiam resolver foram Fesolvides por outros meios jé ha algum termpo. Mas a0 examinar de perto, 0 que se vé é que nSo foram resolvidos ainda os problemas que assim se pretendiam, e que a "modernidade”, tal como coneebida nos anos imediatamente apés a guerra (a primeira, claro), em muitos aspectos ainda a “modernidade” de hoje, se néo pelas respos- tas que ela fornecia em seu tempo, ao menos pelas questées que ela colo- ‘cava e que ainda se colocam atualmente. ois quem pode afirmar que no decorrer desses trés quartos de século resolvemos of problemas da habitaglo, da vida nas cidades, do lazer, dos {ransportes ou da localizagfo plancjada dos locais de moradia e trabalho, para nfo falar das relagSes sociais antagonistas, antagonismos esses que $6 inscrevem no espago e contribuem para modelilo? Essas quesites dizem respeito & imensa maioria da populacdo de nosso planeta, a0 seu futuro; foram o objeto da reflexio apaixonada de numerosos arquitetos e urbs- 3 www we rwe ew r rw ww ewwvrwee wer ww rere were nistas nos anos vinte trinta. Sem solusio, apaixonam ainds. Donde a mi- nha atitude um pouco passional, que alguns leitores poderdo reprovar nes- te livro. Mas é possivel ficar frio a0 evocar 0 grande combate sécioarqui- tetOnico das décadas que se seguiram & grande guerra? Nio creio. Este livro ndo & uma Histéria da Arquitetura Moderna. Elas j8 exis- tem ¢ nfo me pareceu necessério escrever outra, Depreendersed da leitura ue Areas inteiras do que se convencionou chamar de histéria da arquite- tura moderna sequer sio evocadas. Os arquitetos e os urbanistas, os criti £08, 08 socidlogos, os economistas dos quais trataremos nas paginas que se seguem so aqueles para quem a arquitetura “moderna” no era apenas formas depuradas e técnicas contemporaneas, mas também ¢ sobretudo a tentativa de participar, 20 nivel da construgéo do ambiente, na transfor ‘magéo da sociedade. Este livro foi escrito em 1985/1986. Ainda hé pouco tempo admitia-se geralmente que, entre a arquitetura “moderna” das décadas de vinte e trin- ta e as preocupacdes sociais e politicas dos meios “progressistas” da época, cexistiam relagGes de causa ¢ efeito ¢ que, de certa mancira, uma era a ex: pressio da outra no dominio do ambiente. Todos os meios de comunicagio da imprensa especializada em arquitetura até a televisio — nos dizem hoje que isso ndo era verdade e que 0 tinico objetivo real dos “modernos” era articular entre si paralelepipedos erguidos sobre pilotis, repetindo as sim “em grande escala’" os jogos arquitetOnicos de Malevitch. Todo seu dis- ‘curso sociopolitico teria sido apenas uma maneira de impressionar, de con: seguir que © poder do momento Ihes fizesse encomendas, O objetivo deste livro € mostrar que néo foi assim, e que aqueles que com justica devem ser chamados de “modernos" eram exatamente o que aparentavam ser Para essa demonstracdo que procuro fazer, apdiome apenas sobre ‘exemplos de alguns pafses europeus; sobre 0s dos Estados Unidos de uma determinada época — a do New Deal — ¢ da Palestina, hoje Israel. Exis- tem exemplos em outros paises; refirome em especial & Tehecosloviquia, Polénia, Holanda e Hungria. Quando essos.exemplos forem estudados, acre: dito que confirmardo as teses defendidas neste livro. Anatole Kopp Paris/Bonnicux ‘Salvo indicagio em contrévi, as taducées do russo para o francts sto de Anatole opp, Jotlle Aubert Yong e Lise Fontaine Jacob, Ar tradugoes do slemio para o francts «do ings para o francts sio de Anatole Kopp, exceto as do alemio devidas Claude Schnaldt ¢ fndicadas como tal nar notes, “ CAPITULO 1 UM ESTILO OU UMA CAUSA? OU ‘A QUEM PERTENCE O MUNDO? ‘Se examinarmos 0 que se constr6i hoje, o que se mostra nas exposicoes, ‘0 que se publica nas revistas especializadas © até mesmo na grande impren. ‘sa, podemos considerar que a arquitetura — como na “Belle Epoque” da Escola de Belas Artes — no & mais do que um simples jogo de farmas ¢ volumes. Nas explicagées que cada vex mais arquitetos nos fornecem a res: peito de suas obras (ou que os seus comentadores fornecem por eles) teina ‘© mais completo mistério sobre o que se passa no interior delas. Ao que parece, 0 uso a se fazer de um edificio limitase & sua observagio do exte. rior. Quanto & arquitetura “moderna”, cla nos é apresentada cada ver mais ‘como sendo apenas 0 cendrio das “utopias sociais” das primeiras décadas do século XX e sobretudo — sabe-se agora — “o horror escondido no coragéo dessas utopias’ Por que eternamente 6 querer ver “Les Min. guettes” ® ou *PruittIgoe” ®? Por que tentar fazer erer que as operagtes desse tipo, todas datando de depois da Segunda Guerra Mundial, constitaem, © tinieo produto auténtica da arquitetura “moderna”? ‘Nio sio essas realizagdes, edificadas durante os anos cingiienta ¢ ses- senta sob a pressio conjunta das necessidades habitacionais do pés-guer. ra.¢ dos apetites financeiros dos especuladores imobilidrios, que podem tes. ‘temunhar sobre as intengées ¢ ideals da “arquitetura moderna”. As suas realizagdes auténticas que € preciso retornar, realizagées insepardveis, do contexto historico da época, a do entre as duas guerras mundiais. Parece que estamos hoje n0 dominio do pensamento arquitetural, de volta & situacio que existia antes do surgimento do Movimento Moderno. ‘Vérios arquitetos entravam numa evoluggo em mareha a ré que os cond: iu, depois de maio de 1968 aos dias de hoje, a percorrer em passos largos as etapas que separam a critica caricatural esquerdista-marxista da arqul- {etura como expresso exclusiva do poder dos monopdlios, caracteristica do pertodo de sessenta ¢ oito, As favelas como forma superior da liberdade € da vontade criadora “das massas” e, dai, passando pela “Arquitetura sem Arquiteto”, pelo “Faca voct mesmo", pela exaltagio da cidade antiga (mas esquecendo seus miasmas, seu lixo ¢ suas epidemias), pela recusa do pro- gresso técnico, pelos jogos de palavras e trocadilhos arquitetOnicos do "Pés. Modernismo” ‘20 “Neoclassicismo”, chegando — e sem diivida essa é ‘apenas uma etapa proviséria — a arquitetura considerada exclusivamente sob seus aspectos plésticos, sem nenhuma referéncia a qualquer programa funcional e aos valores de tiso das construgées. Parece entiio chegado o momento de voltarm falar nesse movimento que, dnrante os anos vinte e trinta, na agitaglo do pésguerra, viu um pe- 15 queno numero de arquitetos dispersos pelo mundo, mas unidos em tormo de certo niimero de idéiasforga, empreender o que foi uma verdadeira re volugdo arquitetdnica (revolugso que, alids, na mesma época ocorzel em todos os dominios da cultura) e para os quais o "modemo” no era um estilo mas sim uma causa. © que ha em comum, & primeira vista, entre Bruno Taut, Hannes Meyer e Walter Gropius na Alemanha; André Lurgat e Le Corbusier na Franga; Moisei Guinzburg, os irmlos Vesnine e Ivan Leonidov na URSS? ‘Sem diivida, todos eles surgiram na cena da arquitetura na década de vin- te, mas o mesmo pode ser dito de varios de seus adversérios; assim, nfo sfo as datas que importam, mas a idéia que aqueles que seriam os ‘mill fantes e pioneiros da nova arquitetura faziam de seu papel numa socie- dade que acabava de assistr, assistia e assistiia ainda @ profundas trans. formagées. Entre a revolugio industrial dos séculos XVIII e XIX e a revolugfo eco- nbmice, social e politica de Outubro de 1917 na Rissia, 0 modo de producto havia mudado. O que Le Corbusier chamara de "Sociedade Maquinista”™ estruturara uma categoria social que a imensa maioria dos arquitetos se ‘obstinava em ignorar. mas a qual a vanguarda arquitetOnica considerava com razio como sua clientela potencial, ndo enquanto individuos, mas en- quanto grupo social ocupando um lugar preciso na sociedade. Nas tomadas de posicto desse grupo, através da expressio de suas necessidades elemen- fares ¢ imediatas, mas também através de suas utopias que, como ay de Fourier ® ou de Tchernychevski ®, descreviam no 6 a sociedade ideal do futuro, mas também seu meid ambiente construido, o que se exprime so necessidades de “massa” As quais s6 uma produgSo arquitetOnica também dde “massa pode tentar responder. Assim se passou de tma arguitetura re. servada as realizagSes tnicas ¢ excepcionais & arquitetura apbiada solu. ‘gio das necessidades desse novo cliente coletivo constituide basicamente dos trabalhatiores nas indstrias e escritérios. + 0 contexto econdmico, sociale politico no qual aparece essa ideologia “moderna” na arquitetura e no urbanismo deve ser levado em conta: Bo contento do pésguerra de 1914-1918. Na Réssia, a Revolucio de Outubro de 1917 tevou os bolcheviques ao poder, que passava assim as mios dos representantes daqueles para quem nfo eristia até entao nem arquitetura nem urbanismo, Na Europa Ocidental regiSes inteiras estio em ruinas. O3 sobreviventes do grande massacre esperam que com a volta da paz 2 vida seja melhor. A Terecira Internacional reagrupa a vanguarda do movimento ‘operdio para o qual a revolugio russa constitui de agora em diante um ‘modelo universal. Em todos os palses da Europa atingidos pela guerra de- senvolverse vastas campanhas reivindicando uma vida melhor, uma trans: |__formagio das relagées sociais. Grandes parcelas da populagSo screditam ‘na iminéncia de transformagbes sociais e politicas fundamentais. Na Hun Za, na Alemanba, faliou pouco para que essas transformagées sc realizas- fem ea repressio que se segulu a esses fracassos avivou @ vontade de mudar, Dessa época freqlientemente tenta-se Teter apenas o aspecto dos “anos loucos”, da busca desenfreada de prazeres apés o grande pavor da guerra, que 6 ‘um dos componentes do estilo “Arts-Déco". Mas 0 outro as- ecto, 0 da crenga profunda nas transformagBes iminentes, foi sem divida 16 alguma mais importante entre as masses despossuidas ¢ entre certos inte Teetuais (entre os quais arquitetos urbanistas) que nesse momento se aia fam 20 movimento operdrio. nesse contexto que aparecem os “funcionalis : pe", na Alemanha; Le Corbusier e o movimento do "L'Esprit Nouveau”, na | Franga. # a revolugio que proporciona aos futuristas ruseos um campo de | aco politica e social. A Casa Domind foi concebida por Le Corbusier "Sob a impressio das devestaies causadas pola guerra na regiio de Flandres, Esse esquelelo em conereto armado deveria perslie uma resonstragio. rapida, fenquanio. que os apartamsatos erlam fnstalados pelos habltantes segundo aust ‘evessidades." Para Gropius, para toda a equipe da Bauhaus, mas também para toda Y ama série de anguitetosslees que dela ido eram metros, as cites Uanciaspoliticas socais do pequerrs sto determinantes nas torades ce posigoes arguitetOnieas e urbanisiias que adotam. E uma prefeltura soci democrata, a de Frankfurt, que dard a Ernst May a possblidade de re lear slojamentos numa escala e seguindo métodos inediton até enlf 6 holandés Mart Stam estabelsceligages com os argutstos “racionalistas™ sovlticos; André Lurcat,proximo o partido comunista ¢ membro da Asso- ciagao dos Escrhtores © Artistas Revolucionérios (AEAR) ta trabalhar na UURSS, assim como os suigos Hannes Meyer e Hans Schmidt, 0 quo sera felto também por Eenst May apes sua expericia em Frankfurt; Moboly- Nagy que vive a revoluclo Iniugara de I919 integrase & Bauhaus; Viclor Bourgeois seri um dos arguitetos do movimento operdrio belga © um at dente entusiasta dos "Constrativistas” russ. Mestro na distante Amica 5 primetras realizagtes de habitagdes ditas “socials” apareserS0 no tar dro da politica do PAW.A. (Public Works Adminstration) dureate © perfodo tals socalizante da histia dos BUA, 0 do New Deal, a0 passo duc, et. feguidos por Hier, aumerosos alunos da Bauhaus trio excreet suas av. dades na Palestina. a Na Fano nie relativamente bao debasing e industria | so detém artomada dc conscicia desses proslemas por um maior ni. fmero de pessoas, mas 0% arguitelos franceses do movimento “moderna”, | «que sc contam nos dedos de mo, no desistem de imagiversolugies argu | tetGnicas ¢ urbanas para una dernanda que ainda nio se expressa, as ‘que pressentem préxima, Sem divida, entre a URSS ~ onde um projeto lobal de reconstruséo de toda a socledade & desencadeauo e no qual 2 Arquitetura eo urbanismo consituem instrumentos entre outros —e a Franga — onde as circunstncias folam os novos arquitetor nas éreas de cexperimeniagso ou da producto, as diferengas s4o grandes, mas também txlstem pontos em coraun:o pape! predominant reserva & indstia na produg&o arquitet6nice e artistica, em detrimento do artesanato; a pesquisa fe solugdes de massa para as neceneidades de massa a renga nas virtudes pedagégicas do ambiente construfdo considerado como um instrumento de transformagdo social — como um “condensador social” dirtio os arquitetos da vanguarda sovietica — mas sobretudo a fe na iminéveia das transform gées sociais. Esse é um dos pontos essenciais da ideologia “progressista” da década de vinte: 0 mundo mudard radicalmente, e logo uma sociedade ean pee weer vee www ee eww wwwwww wer rewrr re wes: v mais justa, mais fraterna, mais igualitéria surgird das ruinas da antiga; rasta Produtividade ¢ diminuindo os prazos e custos; colocaram ao servigo da Seer ireeeentes populagdo equipamentos coletivos que substitufam certos utensflios domes. “E eu estava entre cles compartlhando sia célera Y_ticos, entio inacessiveis & maioria das familias, e trouxeram para o con: Acreditando que a aurora se aproumava a eda sombre mais 2, £¢ junto dos usuarios esses elementos da natureza dos quais € de bomtom ‘A cada passo dentro da noite sreditando no desenlace™! «SV zombar atualmente — o ar puro, o sol e 0 verde —- tao tragicamente auser, tes das habitapdes operarias da Grande Berlim, dessa Berlim de pedvas & essa espera © essa esperanca que ele exprime. E nessa espera ¢ con- * “Steineres Berlin” que Werner Hegeman descreveu como a maior “Micts- siderando essas esperancas que os arquitetos de vanguarda das décadas de kasernestadt” do mundo ®, com seus patios interiores sucessivos de cinco vinte e trinta, alguns mais conscientemente, outros. sem duvida, menos metros de largura por sels andares de altura, seus quoriee eres conscientemente, preparam-se no papel qu experimentando em escala rea) subsolo ¢ sua média de 4,5 habitantes por cOmodo, mas com — obrigado, 4s solugdes que eles acreditavam ser as da nova sociedade em gestacio, senhores arquitetos da Berlim Imperial — fachadas molduradas © fpe, A arquitetura moderna ¢ esses Siediungen — 0 termo grandes conjun- ccavelmente alinhadas ao longo de ruas sem sol e sem luz, ¢ verdad, tas tos ainda néo fora inventado — que agrupavam na Alemanha e na Austria, ‘io sem essa famosa urbanidade ‘80 cara aos criadores de hoje. aoe pret 40 redor de infraestruturas socials, culturaise tdenicas, centenas e as vezes Pagandistas da “Cidade curopéia de pedra” que € necessério conservar, ‘milhares de habitagées populares. Eram o resultado do pensamento social " restaurar e reparar. progressista alemao do século XIX ¢ comego do século XX, que de Bebel ' Rosa Luxemburgo esbogara nfo 38 08 principios de organizagio. de uma ‘utra vida politica, econémica e cultural diferente, mas também una idela tantes da cidade de pedra sempre estiveram privados, Bra normal poten da vide cotiiana livre das convengbes © aberta ava 0 futuro, ein oposisao 40 que as concepsdes arquiteténicas ligadas a essa nova mancira de cons, Aqueles impostos pelas "Mietskasernen” (casas para alugar das grandes ck. truir seguissem no essencial as linhas politicas da esquerda da epoca, que dades alemis), “Utopia sotial” em alguns de seus aspectos ¢ verdade, mas houvesse colaboragdo para atingir um objetivo contam. S80 2s municipal: experimentada e realizada na primeira "CidadeJardim” ("Garden Town") dades socialistas que edificam a maior parte dos conjuntos “moderios”, alemé (Hellerau, perto de Dresde), nos iméveis com cozinha coletiva cons- 0s sindicatos operérics sendo parte integrante das cooperativas de habi- ttuldos por iniciativa dos sindicatos antes da Primeira Guerra Mundial e, , tasdo © construgéo € é a esquerda (comunistas inclusive) que apoiaré a enfim, no vasto espago social, vetdadeira contrasociedade em certa medida Bauhaus de Weimar no:parlamento de Thuringe, e a condenagso por Gro. auto-suficiente, constitufdo pelo poderoso movimento operdrio alemao jé de plus de “todos os partidos politicos” ™ em nada muda 0 fate de que os antes da guerra de 19141918 partidarios do progresso soci e politico foram tambem ‘es que sultente Esses conjuntos em Berlim, Dessau, Frankfurt, Hamburgo, Magdebur- Fam uma arquitetura voliada para a satisfaglo da grande massa de usu. 0 varios outros lugares, dos quis os stquitetos chamavam-e Brute Tau, 7 thos potend Martin Wagner, Waiter Gropius, Mart ‘Stam, Otto Haslet, Fred Forbat, ae edo de Outubro de 1917 abolira, durante 0s “Dez Diss Emust May, Hans Scharoun, ci, foram construdes entee 1326 C1850 eee aque doula weet genes [an aan, derante 04 "Dex Diag que 0s criticos atuais da arquitctura “moderna” néo os revisitam antes de politica era relativamente facil de ser realizada ¢ que o velho aparelho de condenar ‘oda a arquitetura “moderna” a partir dos poucos exemplos que Estado obscurantista e corrompido opusera apenas uma fraca resistencia ‘les conhecem (ou que escolheram deliberadamente)? B verdade que a lin- As forcas da Revolucao, Mas, apés o triunfo destas, faltava realizar uma guagem formal desses conjuntos nfo testemunha ‘essa vontade de tornar tarefa infinitamente mais complexa: dar 20 povo russo, grossciro, inculto, Porosas formas to plenas ¢ desabrochadas que ao vé-las néo podemos dei- ‘em sua maioria camponés, uma cultura nova & altura da Revolugfo ¢ do Ear de pensar ns bles emprepudes posse eee oe hence ae = iam ta kallooes Bone cptacs dt Reveogto p do ‘He Sectomanta ao conto, bres wutade de datos hates Gor”) rc soar Sus mpae, Ene coneto de “clr adgu ‘cortigos industriais alemies condigdes de vida decente, expressa tanto pela { tinha habitualmente. Longe de se limitar & simples aquisicdo de conheci. forma bes ne quanto por suas ineliebadatenearh one mentos, 0 que se chamava durante os anos vinte, na URSS, de “revolucdio nicas, tanto pela arborizagao € arranjos paisagisti 0s como pela pesqui cultural”, abranger4 todas as 41 da vida. cromatica de interiores e exteriores, particularmente cuidada em um arg oe iGo comp Bria a te cp pee trendy dee 2 “Bn gece em et 0 eden tre io des dines que putes cntiis paca scion ats anne, me ess ect a peg Seder ae crit ae, ufos anpetoy materiis no fata basuecer 9 aiemeae ia ohne com al hale alters as oa PS ‘ mre Sen Os arquitetos dos Siediungen alemdes tentaram resolver o problema da habitagao de massas (um termo pelo qual devemos pedir desculpas, sem diivida, tanto ele pode parecer vulgar e prosaico para certas pessoas); para {sso usaram téenicas que na época ainda eram novas, aumentando assim a FB esse conceito fundamental de “cultura do modo de vida” que estaré nha base de todas as teorias arquitetonicas e artisticas da década de vinte. B ele que faz nascer na arquitetura formas de habitacio inteiramente no. vas ¢ fundadas sobre as idéias que os revoluciondrios — alguns deles, pelo 8 ia Ys} as ‘menos — faziam da sociedade do futuro. Para construir essa sociedade, fundada, como tinham explicado todos os te6ricos do socialismo, sobre no- vas relagdes de produgao, resultantes da apropriagao coletiva das méqui- has, indistrias, instrumentos de comércio € bancos, mas fundada também Sobre novas relagdes entre os individuos, os grupos sociais € 08 sexos, era indispensdvel transformar os habitos ¢ 0s comportamentos forjados pela sociedade antiga, A revolucio cultural assumia por isso o aspecto de uma ‘acdo deliberada no dominio do que na Russia era chamado de “BYT” ou "Modo de vida", ¢ a "Reconstrucio do modo de vida” era uma das tarefas prioritérias a que se impuseram os artistas em geral os arquitetos em par- ticular, Para os arquitetos modernos, que na URSS se proclamaram “cons- frutivistas”, a habitagdo antiga era reflexo da antiga célula familiar ¢ do ‘papel desta ultima dentro da sociedade. Ela devia, segundo eles, ser substi fuida por uma nova forma de alojamento que seria ao mesmo tempo uma imagem das novas relacies humanas € o molde que contribuiria para criar cessas novas relagées. Assim deveria surgir 0 que Moisel Guinzburg cha- mmava “um novo organisme arquitetural”, o “Dom-Kommiuna” ou Casa Co- munitéria. Nio é, portanto, um objetive formal que 0s arquitetos modernos da Unido Sovidtica objetivavam. O que os interessara em primeiro lugar no serd inventar formas originals e inéditas, ou copiar © Ocidente, acusagbes ‘que Ihes sergo feitas quando, no decorrer dos anos trinta, © processo do Movimento moderne acontece em arquitetura, assim como em todos os outros dominios da cultura, As formas tornadss possiveis pela utilizagéo as técnicas e materials surgldos com 2 Revolugéo Industrial serdo para fles antes de tudo instrumentos, ferramentas dessa “reconstrugéo do modo de vida” da qual eles se consideram, em igualdade com outros militantes dz cultura e da politica, como os operarios especializados. “Na altura do décimo anivers4rio de Outubro — informa a revista dos arauitetos construtivitas “Sovremennais Ardhltektura” (Arquiteturs Contemporicea) — a ativi ‘te do constr et) clarnmete eile onsite, papa o aaa oat porinco, na criaglo dos taxes condonsadores socials de noses época contra Bristo be spe a desenvolver sun atividade sobre a base dessa finalidade sociale de fuma cultars arquitelgnica de alto nal.” — Em 1925 sera constituida em Moscou uma orgenizagiio que agrups os arquictos gus se nttlam "constrtviatas,agrupamente tse que se Od Gon base num programa de ago e numa Plataforma tedrica que serd pu Silcada ‘no primero numero da “Arguitettra Conterpordnen"” Esa nova tcp a Unido dos Arsuitetos Contempordncos — serd uma organi tanto militate por uin “nove modo de vida sclalista”c sua tradutho ar ‘llenica, Ela fad reunides regulaces, organiza expongdes, manterd Felages com diversas ongabiagbes ou personalidades progresisasesirany feims,eatre das a Douhaus © Le Corbusier Em nenhim pais 2 apo po sorial da arquiteture afitmarsed com tanta forga quanto no decor fer do period “moderno” da arquittura sovia 1k Branga nfo conhecen as transformades poliias e econdmicas da Risela,e nem mesmo aquslas, menos fundamentals, ocorridas na Alem ‘ha, O movimento "moderno” nunca teve nea a mportincia que teve nes tes dots palace. © Imediato péeguera fol relativamente ealmo e a erse 2» * jtamente menos violenta que na ao cardter mais rural e menos industrial zado do pais. E 0 movimento “moderno” que na URSS e na Alemanha foi feito por grupos de profissionais — mesmo se esses grupos foram sempre minoritérios dentro das suas profissoes -~ na Franca fol, essencialmente, ‘obra de duas personalidades: Le Corbusier (associado na’ pratica arquite. tonica a seu primo Jeanneret) e André Lurgat. Outros arquitetos franceses slo, ¢ verdade, classificados entre os “modernos”: Mallet Stevens, Roux Spitz, o decane Auguste Perret e alguns outros. Mas neles © “modemo” se fimita & busca de formas novas ¢ & utllizagéo de técnicas e materiais con- tempordneos, o que 0s situa em uma categoria diferente dos arquitetos “‘modernos”, no sentido que tinha essa palavra para Gropius ou Hannes ‘Meyer, para Guinzburg ou os irm3os Vesnine. Nem Le Corbusier. nem André Lurgat chegaram a constituir ao redor deles um grupo permanente. O escritério de Le Corbusier foi mais um pon- to de passagem para estagiérios estrangeiros do que um espaco de reflexio (© que acontecia, em certa medida, apés a Segunda Guerra Mundial); quan- to a0 atelierescola fundado por André Lurcat, ele ndo durou 0 tempo sufi ciente para exercer uma influéncia efetiva. $20 portanto essas duas pessoas que, na Franga, representario a arquitetura “moderna” no sentido que atz buimos a esse termo. Na Polonia, na Tchecostovéquia, na verdade na maior parte dos patses da Europa, pequenos grupos de arquitetos questionariio 0 conceito tradicio- nal da profissio; esse movimento se estenderd até a longinqua Palestina, ‘onde os imigrantes vindos da Europa tentaro construir um “projeto de sociedade” que alia certos aspectos das utopias prérevoluciondrias fussas ‘com os principios arquitetonicos importados da Alemanha e da Europa Central. Sobre esse assunto, 0 arquiteto de origem alemai Richard Kautf- ‘mann, que, de 1920 até sua morte em 1958, consagrara o essencial de sua atividade a0 estudo dos novos estabelecimentos agricolas coletivos (Kib- dutz) que aliam uma nova concepcéo da vida em sociedade a uma pritics agricola de vanguarda em um quadro arquiteténico adaptado e expressan- do essas concepsies, escrevera: ‘"Bles (essed estabelecimentos)surgram diretamente do entusiasmo e da lire vor tade de nosso povo, tanto tempo sem la, ¢ que quls reconstruc sus antiga residéaca em condicées de Justiga socal'e em Uberdade.” Em 1977, sob 0 patrocinio do Conselho da Europa, foi inaugurada em Berlim-Oeste uma grande exposigio intitulada “Tendénclas dos Anos Vin- te”. Essa fol a iltima vez onde esse perfodo tio difamado depois e freqtien- temente apresentado como a fonte primdria dos processos arquiteténicos do pés Segunda Guerra Mundial foi considerado, sem reservas, positivo, ‘Mas aparecia ao mesmo tempo destacado de seu contexto historico, tra” tado como um movimento puramente artistico. As poucas fotografias de desempregados, de sopas populares ou de espartakistas em armas cunsti- tufam apenas um cendrio, nada articulado com 0 conteddo da exposicso nem As explicagdes dadas &s “Tendéncias” que, segundo ela, foram as dos anos vinte. No mesmo momento e na mesma cidade abria-se outra expo. sigho, mais modesta, mas cobrindo o mesmo perfodo (apenas na Alema- nha), Retomava o titulo de um filme alemao de antes da guerra consagrado ‘ a www ewww rere ewww wwe wwewr seer rer wree. ‘a Berlim dos anos vinte, do desemprego © da miséria: “Wem Gehdrt dic Welt?” (A quem pertence o mundo?) : ‘A quem pertence 0 mundo? Essa era uma das questbes ceutrais dos ‘anos vinte; a quem pertence ¢ a quem ird pertencer? Para muitos pionei ros da nova arquitetura, a resposta era clara: a0 povo, 8s massas, aos tra- balhadores, ao maior mimero. Sob essas variacbes terminolégicas se escon- xm a idéia comum da transformagio social iminente ou em curso e a as- fcensio da arquitetura a fungdes novas e superiores. A exemplo de Marx, para quem a filosofia que se havia limitado a descrever © mundo iia con- tribuir para transformélo, os criadores artisticos da vanguarda dos = vinte, entre eles os arquitetos, acreditavam que a arte, a arquitetura © a organizacio urbana deixariam de ser um reflexo da sociedade existente para se fornarem uum dos instrumentos privilegiados de sua recon! E nesse sentido que se inclinam na URSS os “artistas produtivistas’ membros da Frente de Esquerda da Arte (Levyi Front Iskusstva) que se exprimem através da revista LEF, dirigida por Vladimir Maiakovski, Para eles, a arte no deve mais se limitar a descrever a vida; ela deve organizar a prépria vida. “O modo de vida é nossa nova frente”, dizem eles. Eles mi- TitarSo por “uma arte-organizagio da vida”. e Para alguns adeptos do marxismo ortodoxo, essa concepgio de uma artcorganzasio da vida", essa arquitetura & imagem ds uma sociedad | que ainda no existe, parece ser contréria ao que é uma das teses centrais da estética marxista, a do “reflexo, segundo a qual a obra de arte s6 pode- ria ser o reflexo da sociedade ‘existente © no poderia, portanto, represen ter a do futuro e menos ainda contribuir para sua instauraclo.‘#) Se acres: cceontarmos a essa idéia limitadora do papel da arte na sociedade esse outro pressuposto do marxismo ortodoxo segundo @ qual a sociedade s6 se coloca 6s problemas que ela pode resolver em um dado momento, chegaremos ne- cessariamente & conclusio de que aqueles que acreditavamn poder prever as necessidades sociais futuras ¢ imaginar estruturas construidas que seriam ‘20 mesmo tempo sua imagem ¢ molde, eram utopistas, sonhadores, simpé- ticos e generosos talvez, mas que certamente ndo perceberam os verdadei- ros problemas, assim como antes deles os socialistas chamados de “utépi- cos” por aqueles que se proclamaram depositérios de wm socialismo que qualificaram de “clentifico”. ‘Nao entraremos aqui nesse debate te6rico. O que parece importante, voltando a0 problema desses arquitetos de entre as duas guerras, € que cles acreditavam nessas idéias, se colocaram do lado daqueles que queriam ‘transformar o mundo e pensaram que essas transformagdes necessitavam de novas formas arquitetOnicas e urbanas. Os “condensadores sociais” dos arquitetos soviéticos, as Casas Comunitérias, os clubes operarios, as indis- trias transformadas segundo L. Lissitzky em pélos da nova cultura, io ‘sho © reflexo da socicdade soviética tal qual ela existia quando esses "no- vos organismos arquiteténicos", como os chama 0 arquiteto construlivista M. Guinzburg, so propostos e ds vezes realizados. Eles eram espagos cons- ‘trufdos para uma sociedade que ainda no existia. 0 mesmo aconteceu com (0 "Gesamtkunstwerk” (a obradearte coletiva) de Walter Gropius, a “Ville Radieuse” (Cidade Radiosa) de Le Corbusier ¢ muitos outros projetos si- tuados nesse espaco estreito que As vezes separa a utopia de ontem da rea- lidade de amanhd. De qualquer modo, mesmo se pecaram por otimismo, os 2 construtivistas ¢ os funcionalistas dos anos vinte acreditavam que a hist Fla Thes reservara uma missEo; para realizila cles aceitaram riscos que imensa maioria de seus colegas ndo soube ou nito quis aceitar. Eoses rit os custaram caro. A falla de cncomendas, as difculdades materials, a incompreensio, os ataques dissimulados, 0 calc, 0s deslocamentes, pelo undo, as carreras recomegadas em diferentes paises, as persegulgdes auc foram mais freaientes que-o sucesso que uns conseguiram sleangar no final de suas vidas, fonge do pais que os viru nascer, tendo sido obriendos as vezes, por principio ou por prudéncia, « abandonar uma parte de suse crengas — ou de suas iusGes. Sem divida scetarriscos nlo € em sl prove da justeza das conviegoes dos quc os assumiramy, mas ela sem divida prove ‘a sinceridade e boaté, Os realizadores da revolucao arquiteténica dos anos vinte e trinta ‘compartitharam com outros a8 pesqulsas sobre o emprego de materials ¢ teenicas novas surgidas com a Revolugao Industral; junto com outros te taram encontrar formas arquitetOnicas que ndo estivessem em contradiel com esses materiais e ténicas, como acontecia com as formas do passao, zmas, 20 contrério, que se harmonizassem com elas; janto com outros fize. ram explodir 6 espago geomérico fechado e abriramno pata © extction, para a lnz, para o verde; mas o que eles foram 0s tiicos a tentar fol & Superagio do funcionalismo elementar e puramente utilitrio que eleva mente mareou certas reallzagdes dos anon vite e ttinta. Pata eles, a fur Go da arquitetura nfo se limitava A saisfagdo das necersidades biologicas Brimirias; eles consideravam sua funglo exatamente como a de pertelros de uma sociedade nova na qual o que Le Corbusier chamava das *Alegras | Essenciais” nfo seria mais um privilégio, mas sim um direto. } io se trata, € claro, do afirmar, através do exemplo de alguns arqui tetos, que todos 0s que poderlam sor elasalficados como “modcrnos" entre as duas querras mundias foram tambem miltantes politicos da “esquer. da” de sum época. Tal aflrmagdo seria absurda. Mas nio € menos verdadeiro cue muitos deles estavam préximos, se nfo da agdo, a0 menos das preow pagbes das comrentes progressstas de seu tempo. B esse aspecto séciopolitico de uma parte da corrente “moderna” na arquitetura que coastita a links divséria entre agucleshabltusimente im. Gluldos nessa corrente- Preocupagtes formate © techies pera alguns, for. imais © tgnicas mas tabém socials para outs, © eo esses que, ua mi ‘ha opinigo, foram os arquitetos "movlernos” no sentido pleno a palavra, Certo, hoje ¢ fel (© leltimo) erticar alguns aspectos do movimento “mo. dern”, como por exomplo a fascinasio exercida sobre o conjunto desse movimento pela estética da méquina; como a afirmagto simplista que pre. tende que o atl seja forgosamente belo e, conseailentemente, 0 belo Seja © resullado exclusive das preocupagOes wilitéias; ou ainda a negacdo pure ¢ simples da existénci de qualquer problema formal e a redugto da forma A solugdo étima de um problema colacado pelo programa. Em todos esses Pontos, fodos les relaclonados a0 problema da forios, podese hoje crit far 0 pensamento “moderna” na arquitetura. Mas, mestno Resse dominio 4a expressto formal, 6 preciso ter em mento que, fae A critica felta na ‘mesma época pelos adversirios do "moderno”, cram estes ultimos que t ham razlo, As erticas que thes cram feilas em sua époea efam em nome de principios académicos mortes, em nome de uma tradigio considerada B imutavel, em nome de um passadismo nacionalista « retrégrado. Basta con. sultar os artigos de certa imprensa na Franga referindose & arquitetura “antinacional” e “bolehevique” de Le Corbusier, da imprensa nazista em relagao A arquitetura “moderna” alema “"judew-bolchevique” ou a impren- ‘Sa arquiteténica stalinista referente aos construtivistas, acusados de esta Fem ao mesmo tempo ao servigo do trotskismo e do capitalismot O obje- tivo dessas criticas no era colocar em evidéncia os limites das teses dos ‘“modernos” em matéria de criagao de formas; seu objetivo no era desen- volvelas e ultrapassé-las, mas sufocélas, ainda embrionérias, de maneira a impedir sua aplicagio e enriquecimento. Esse resultado foi, alids, obtido ‘ha maioria dos pafses da Europa — voltaremos a isso mais tarde — © 0 ambiente que hoje é criticado com razio é muito mais o produto da sua asfixia prematura do que dessas idéias mesmo. “Wem Gehért die Welt?” A quem pertence 0 mundo? Antes de mais na- da, as multiddes andnimas que povoam os casebres das grandes cidades, sos trabalhadores, a8 massas que, se esperava, viriam a ser os verdadeiros ato- res da historia, a estas responderam, cada um a seu modo e segundo a situa ‘do existente em seu pais, os pioneiros da arquitetura “moderna”, colocando ‘seus conhecimentos, seu talento ¢ seu entusiasmo a servigo do que eles, acreditavam ser 0 “sentido da historia”. por isso que o “moderno” nao foi para eles um estilo, mas uma causa pela qual freqientemente sacrifi- ccaram aquilo que, para'a maior parte de seus cblegas, constituia justamen- te a gratificago que se poderia esperar do exercicio tradicional da profis- sfo de arquiteto: dinheiro e fama. Notas do Capitulo 1 1.LE DANTEC, JeamPierre, Larchitecture @'Hlenrl Gaudin. Yn: UArchitecture d’Au- Jourd'hul. Setembro de 1904, 2 "Les Minguettes” — Grande conjunto habitacional construfdo nos anos sessenta na periferia de Lion, Freqdentemente tomado cote exemplo de “mau” habltat social. Par almente demalido em 1984, em uma operaiao de rerovagSo. 3, JENKS, Charles. The Language of Post Modern Architecture. Nessa obra cle 46.0 dia ‘a hora da morte da arquitetura “moderna” "A argulterura ‘moderna’, esereye ele, morreu em Saint Louis (Missour) no din 15 de julho de 1972 be 1552 horas, quando o infame conjunto Pruitt-1goe, ou a0 menos al truss de seus edificios, recebeu seu coup de grdce com 0 auxdio’ de cargae ae dina Hite. (.) PrulttIgoe fol constraiéo de acordo com os ideals dos CLAM. (-.) Ele se ‘compunia de clegantes parallepipedos de Ié andares com “ruas no a” (ao abrigo dos ‘hombveis mas no da criminaliaede), sol, espago, verde — as irs ‘alegrias exsencais 5 rbanismo segundo Le Corbusier: |.) O estilo purist evocador do ambiente hosp falar destinarace 4 introdustr, por Viriade do exemplo, esses mesmas qualidades no ‘splrto de sous babitantes". 4 FOURIER, Charles (772185), Filgsofo francis. Considerado um “socialist utdpico” (gor Marx e Engels, que se diam “socialistas cientifces’ 5. TCHERNYCHEVSKT, Nicolas (281889. Escritor¢ polltico russo. Considerado coro {endo pertencido. a0 movimento "populista” (Narodnie. 6. Citado por VAN MOOS, Stanislas in: Le Corbusier, farchitecte et son mythe. Pati, 968. 4 1 ARAGON, Louls. Le roman inachevé. Paris, 2c 8 Ver nota n 1 9, HEGEMANN, Wernes. Das steineme Berlin —~ Geschichte des gristen Mictskesr- nenstadt der Welt Bertin, 1530. 10, Ver a tese de VETALE, Elodie. Henseignenent au Bauhaus de Weimar, (19194525) Université de Paris VIM, 185. UL REED, Jolm. Ten daye that chook the world, (Dez diss que abslarem o mundo) 1919 e maltiplas reedicbes sucessivas, Anda eonsiderado a URSS como tm tlSssio. 12 TROTSKI, Léon. Lee questions du mode de vie. Publicado pela primeira vez no “Pravda” em 1920. Paris, Union Odedrale dTditions, 116 13, In: Sorremenzaia Arthitektura (Arquitetura Contemportnea}, n° 3, Moscou, 1921 14 BEZALEL JEWISH NATIONAL MUSEUM em cooperacio com KEREN HAYESOD. (Catdlogo da exposicio From plonsing 10 reality, am exhibiion of the work of Rickard (Kauffman for Me sixtieth birthee), Jerusalem, 190. 1S. Ver o eatalogo da exposiggo: “Wom Gehbrt die Well” (A quem pertecce © mundo?) Kunst und Gestchaft in der Webnar Republik, Berlin, 197, O ttl "Wem Gchirt die ‘Welt fol tomado de empréstima a un filme realizado on Alersanha em 1931 por Satan DUDOW e Bertold BRECHT: "Kule Waanpe oder Wen gehort die Welt?" Ver capitulo 1. 16. HIRDINA, Karin, Pathos der Sachichkelt. Traditionen materialstischer Asthaik. Berlin, RDA, 181, pp. 6, a were www eww ere revere err e wwe reer ree

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