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Dr.

Daniel Fabrício

A HISTÓRIA DA SEXUALIDADE NO MUNDO

Kaplan (1995) comenta que o comportamento sexual é diversificado e determinado

por uma interação complexa de fatores. É afetado pelo relacionamento dos indivíduos com

os outros, pelas próprias circunstâncias de vida e pela cultura pela qual ele vive. A

sexualidade de uma pessoa está estreitamente ligada a outros fatores da personalidade, a

conformação biológica e ao senso geral de self. Inclui a percepção de ser homem ou mulher

e reflete experiências evolutivas com o sexo ao longo de todo ciclo vital.

Aparecido (2005) relata que falar sobre sexualidade implica retomar alguns recursos

metodológicos, a história, a antropologia, a moral e a evolução social. Não se fala da

sexualidade de maneira fragmentada, dividida, estanque. As relações sexuais são relações

sociais, construídas historicamente em determinadas estruturas, modelos e valores que

dizem respeito a determinados interesses de épocas diferentes. Esse relativismo não pode

ser irresponsável. Ele nos permite perceber a construção social da sexualidade sem contudo

fazê-lo de modo destrutivo ou imaturo. É uma tarefa gigantesca .

Freud (1912) fez grandes contribuições ao estudo da sexualidade humana,

descrevendo seu desenvolvimento desde a infância. Foi o primeiro pesquisador a ousar

dizer que as crianças eram dotadas de sexualidade desde o início da vida, que se

automanipulavam em busca de prazer (prazer inicialmente oral, depois anal e finalmente

genital). O estudo da sexualidade e de seus diferentes aspectos desenvolvimentais e clínicos

passou a ter relevância a partir de seu trabalho intitulado "Três Ensaios Sobre a Teoria Da

Sexualidade". Desde então, uma série de estudiosos, pensadores e cientistas passaram a


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buscar mais conhecimento a respeito desse complexo fenômeno biopsicossocial, tanto com

referenciais psicanalíticos, quanto comportamentais e biológicos.

Masters e Johnson (1954), dois pesquisadores americanos que esclareceram

diversos aspectos da fisiologia da resposta sexual humana, foram um marco para a

compreensão da função sexual. Através de um grande laboratório humano, descreveram o

Ciclo da Resposta Sexual Humana em quatro diferentes fases, a saber: excitação, platô,

orgasmo e resolução. Propuseram uma abordagem terapêutica cognitivo-comportamental

para os Transtornos Sexuais.

Kaplan (1980), acrescentou a fase do desejo sexual a esse ciclo, estabelecendo uma

abordagem terapêutica nova e mais aprofundada para as disfunções sexuais: tratamentos

psicodinâmico focal e cognitivo-comportamental combinados. Propôs a existência de um

hipotético centro regulador do desejo sexual, envolvendo mecanismos neurobiológicos no

núcleo hipotalâmico, no sistema límbico e em outros circuitos neurais, que estaria alterado

nos transtornos dessa fase. Hoje em dia, acredita-se que este centro regulador esteja em

uma região do cérebro chamada Claustro.

Para o site abc saúde disponível em :

<htpp://www.abcsaúde.com.br/artigo.php?302.>

“O avanço na farmacologia clínica também trouxe colaborações


fundamentais para o conhecimento da neurofisiologia sexual. Algumas
drogas com efeitos serotoninérgicos, como a classe dos inibidores
seletivos da recaptação da serotonina, determinam diminuição ou
supressão total do desejo, propiciando novas linhas de pesquisa na busca
da associação desse neurotransmissor com a modulação do apetite
sexual. Sabe-se que também atua de forma crucial para a solicitação e
aceitação de parceiros sexuais. A dopamina foi apontada como essencial
para o desejo sexual.”

Estudos experimentais com animais foram sobremaneira importantes na

investigação tanto da motivação sexual quanto do comportamento de escolha de parceiros.


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Hormônios como a ocitocina e a vasopressina foram implicados na preferência sexual, na

formação de vínculo, na diminuição de agressividade e no aumento de comportamento de

proteção à prole. A ocitocina foi arrolada como o neurotransmissor do amor, do vínculo e

da monogamia.

Outros estudos se focalizaram nas mensagens enviadas pelos pares e nas

negociações entre eles para acasalamento (seleção), levando-se em conta não só o status de

saúde biológica e reprodutiva (manifestações de uma genética resistente), como também a

qualidade das mensagens enviadas.

Freire (1998) diz que muitos caminhos estão sendo trilhados pelos pesquisadores

enfocando diversos aspectos da sexualidade humana. O desafio está, acima de tudo, no

reconhecimento de um saber primitivo que está oculto por detrás dessa função tão vital de

nossa vida: uma sabedoria da natureza que determina para onde e como nossa espécie vai

prosseguir no futuro.

Sexo e sexualidade são fatos modernos e que, mesmo na história do Ocidente, nem

sempre tivemos uma palavra que englobasse a multidão de significados, ou de referentes,

que o termo sexualidade engloba. Na Grécia, por exemplo, não existia um domínio

unificado daquilo que entendemos como a nossa sexualidade. Havia, de um lado, o “reino

dos prazeres” (denominado “reino dos afrodisias”) e de outro, o “reino dos Eros”, ou o

“reino dos amores”. Com os amores lidava-se de determinada maneira e com as afrodisias,

de outra. Nas afrodísias os prazeres sensuais, ou físicos, encontravam-se na mesma chave

do prazer de beber, comer, fazer ginástica, etc. Já os Eros eram múltiplos e com

características distintas. Havia Eros entre deuses e homens, entre deuses e deuses, entre

homens e homens, homens e mulheres, animais e humanos, entre elementos naturais


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(chuva, vento, sol) e humanos etc. Todos eles existiam dentro do imaginário clássico antigo

com força performativa, ou seja, com a força de fabricar sujeitos com crenças tão grandes

quanto nossas próprias crenças, e eficazes na orientação das condutas.

Para Foucault (1986), “a sexualidade” é na verdade um termo que aparece pela

primeira vez no século XIX. A palavra existia no jargão técnico da Biologia e da Zoologia

já em 1800, mas somente próximo do final do século ela veio a ser usada amplamente em

um sentido mais próximo do significado que hoje tem para nós – como o que Oxford

English Dictionary (1889) se refere como a “qualidade de ser sexual ou possuir sexo.”

Para Macmillan (1982)

A Palavra (sexualidade) aparece neste sentido em um livro, publicado em


1989, preocupado com o porquê das mulheres estarem predispostas a
várias enfermidades que não afetam os homens – algo atribuído à
sexualidade das mulheres.” (P. 7)

Segundo Giddens (1992) a sexualidade emergiu como uma fonte de preocupação,

necessitando de soluções, pois as mulheres que almejavam prazer sexual eram

definitivamente anormais.

Ainda Macmillan (1982), o sexo masculino podia sentir excitação sexual, algo que

era proibido para as mulheres.

Ainda Foucault (1986) a sexualidade surgiu como uma forma de normalização da

sociedade dentre dos padrões da época, pois o domínio e o controle do corpo são

fundamentais para o controle da vida social e política.

Morgan (2003) escreveu que se retornarmos à Idade Média, encontraremos uma

sociedade libidinosa onde existiam poucas distinções entre vida pública e privada.

Demonstrações abertas de comportamentos sexuais eram comuns. Mesmo nos mosteiros,

conventos e igrejas medievais, comportamentos sexuais escandalosos eram um grande


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problema. Manuscritos dos séculos XVII e XVIII revelam que punições para diferentes

tipos de má conduta sexual eram calculadas nos mínimos detalhes. Algumas das ofensas

mais graves pediam castração e outras implicavam em extensas penitências. Um monge

culpado de simples fornificação com pessoas solteiras podia ser condenado a jejuar durante

um ano a água e pão, enquanto uma freira cumpriria de três a sete anos de jejum e um

bispo, 12 anos. A punição da masturbação na igreja era de 40 dias de jejum (60 dias

cantando salmos, no caso de monges e freiras). Um bispo apanhado em fornicação

cumpriria oito anos de jejum no caso da primeira ofensa e de 10 anos para cada ofensa

subseqüente.

Morgan (2003)

“A simples existência desses esquemas de punição indica até que ponto


os comportamentos sexuais representavam um constante problema para a
ordem e a rotina da vida monástica: Uma das primeiras formas de
organização. Eles constituem uma ilustração gráfica do argumento de
Freud de que para promover a ordem social e o comportamento
“civilizado”, a libido tem de ser controlada.” (P. 226)

Morgan (2003), utiliza os termos Freudianos para explicar que este processo de

adquirir o controle sobre o corpo depende de um processo social no qual o tipo de

organização e disciplina da personalidade anal torna-se dominante. Esta sublimação

forneceu parte da energia subjacente ao desenvolvimento da sociedade.

Freire (1983) afirma que o controle da sexualidade no Brasil foi longamente

explorado pela medicina. Através de uma ordem médica, o sistema monopolizante

exerceria uma norma familiar, repercutindo em toda sociedade brasileira. O sexo

desregrado foi objeto de uma atenção desmedida. De forma Subliminar, o sistema político

do Brasil colônia, exerceu através da higiene o controle da sexualidade, para assim


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descaracterizar o sistema patriarcal da época, e dessa forma conseguir obter o controle

completo da sociedade existente naquela época.

Foucault (1977), registra a forma de controle da sexualidade nas sociedades

européias. No século XIX, os colégios criaram um poderoso veículo de incitação às formas

de sexualidade que, no registro do discurso, eram justamente as mais abominadas por

médicos e pedagogos.

Focault (1986), ratifica que a sexualidade foi moldada em nossa sociedade como

uma forma de controle social e político.

Aparecido (2005) retrata essa forma de controle dizendo que está justamente ligada

à transformação do mundo medieval com o advento da sociedade capitalista, das entranhas

do feudalismo. Nesse momento, parece que a sociedade precisa muito da energia sexual

para o trabalho, e a repressão da sexualidade acontece de uma maneira muito forte. Os

protestantes caracterizaram o sexo pelo rumo da compreensão religiosa tradicional: o sexo

exclusivamente procriativo.

Ainda Foucault (1984)

“A história da sexualidade, se quisermos centrá-la nos mecanismos de


repressão, supõe duas rupturas. Uma no decorrer do século XVII onde há
o nascimento de grandes proibições, valorização exclusiva da
sexualidade matrimonial adulta, imperativo de decência, abandono
obrigatório do corpo, contenção e pudores da linguagem, a sexualidade
encerrada e confiscada ao leito familiar.”(P. 109)

Para Vitoriano (2005), o auge desse modelo se dá com a compreensão repressora da

sexualidade na época da rainha Vitória, mais conhecida com a era vitoriana. Sobre o sexo, o

silêncio.

Marcuse (1975) relata um fato interessante, onde nossa sociedade de consumo,

acabou perdendo o espírito erótico. De nada adianta multiplicar a fala sobre o sexo e a
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quantidade das relações se não se alterou a qualidade da relação. O prazer mecanizado da

sociedade de consumo, com bonecas de plásticos vibradoras, a multiplicidade das posições

e das técnicas amorosas, estímulos e jogos só aprofundam o sentimento de fracasso. Só uma

completa transformação das relações humanas, a começar pelas relações de produção

exploradoras e alienantes, fará transformar a dimensão atual da sexualidade masculina.

Devido a esses fatores descritos acima, a sexualidade masculina tem sofrido. Muitas

pessoas de fato não sabem o que sexo significa para o homem. Muitas vezes esse homem é

taxado de promiscuo, como um ser que só pensa sexo. O que a humanidade precisa

entender, é que o sexo para o homem está implicado com seu lado fisiológico, que é a

Testosterona, que falaremos no próximo tópico.

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