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var Cantos da mitologia marubo evenagio Pedro de Niemeyer Cesarino A pari dos cants de ‘Armando Mariano Marubo Antonio Brasil Marubo Paulino Joaquim Marubo Lauro Brasil Marubo Robson Dionisio Doles Marubo editoralll34 QUANDO A TERRA DEIXOU DE FALAR Cantos da mitologia marubo Organizagio, tradugio ¢ apresentagio Pedro de Niemeyer Cesarino A partir dos eantos de Armando Mariano Marubo, Antonio Brasil Marubo, Paulino Joaquim Marubo, Lauro Brasil Marubo € Robson Dionisio Doles Marubo editorall34. EDITORA 34 Editora 34 Leda, Rua Hungria, 592. Jardim Europa CEP 01455-000 Sio Paulo - SP Brasil Tel/Fax (11) 3811-6777 www.editora34.com.br Copyright © Editora 34 Ltda,, 2013 Organizagio, tradugio e apresentagdo © Pedro de Niemeyer Cesarino, 2013 sta obra possui autorizagio para publicacio de tradugoes ¢ transcrigées de cantos originalmente produzidos por cantadores marubo do Alto Rio Itui (Amazonas, Brasil. Os dros dos cats originals esto reservados aos canta (Os valores ferent ao dio autora desta be foam itgealnste convertidos em exemplares, gratuitamente distribuidos entre as comunidades marubo e diversas instiigées de ensino. ‘A FOTOCOMA DE QUALQUER FOLHA DESTE LIVRO E LEGAL # CONFIGURA UMA /ROPRIAGKO INDEVIDA DOS DIREFTOS INTELECTUAIS E PATRIMONIAIS DO AUTOR, Imagem da capa: Antonio Brasil Marubo, Pacamares celestes, 2005, caneta bidrogrifica s/ papel, 21 x 29,7 em (detalhe) Capa, projeto grafico e editoragio cletronica: Bracher & Malta Producao Grafica Revisio: Alberto Martins, Isabel Junqueira 1" Edigdo - 2013 CIP - Brasil. Catalogacio na-Fonte (Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ, Brasil) (Cena, Peo de Nimes, 1977 (05644 Quando a Tees deo de falar camo a milo mio eg teadugi ¢apesenagi de Peo de Nie CCsaina. — Sto Pals Ears 34,2013, (0 Ego) sop, ISBN 97888-7526:5170 “Tea bile, porsguse mara 1. Liat aban Bd. 2.Miologa marco, Amol I. Titulo. a coo - 595 re QUANDO A TERRA DEIXOU DE FALAR Apresentacao, Pedro de Niemeyer Cesarino .. 1. Naf Mai vand, “A formacao do Céu e da Terra” 1.1. Mai Vana enemativo, “Quando a Terra deixou de falar” 1.2. Kot Mai vand, “A formagio da Terra-Névoa” . Kana kawa, “Raptada pelo Raio” .. . Shono Romeya, “Pajé Samaiima”.. |. Sheta Vekd, “A historia de Sheta Vek” . Shoma Wetsa, “O surgimento dos brancos bravos” Rane Nawavo pakaya, “A guerra do Povo Adorno’ Rome Owa Romeya, “Pajé Flor de Tabaco” .. . Roka, “Origem da vida breve”... . Isko metaska, *O desaninhador de japés” 10. Temt Txoki, “Temi Txoki, 0 surgimento de Lua” 11. Inka ro8 yoka, “Pedindo machado ao Inca”. 12. Tama rera, “Rachando Arvore” .. WV OENANAYN Mapa Bibliografa.. Sobre os cantadores. Sobre o tradutor 69 85 Tay 129 163 187 193 207 219 257 283 295 307 309 315 317 9 Isko metaska O desaninhador de japés Cantado por Lauro Brasil Marubo. O Isko metaska saiti €a versio marubo do famoso mito pan-ame- rindio do desaninhador de passaros, tomado por Lévi-Strauss como cixo de construgio das Mitolégicas. Na presente narrativa (conhecida também por outros povos pano), Vo Nea, 0 protagonista, realiza um périplo por duas regides do cosmos depois de se ver isolado no alto de uma arvore. Ele é deixado ali por seus meios-irmaos que, ent bam sua esposa. A histéria se desenvolve em torno de uma disputa entre pares, pois irmios so potenciais rivais para o casamento, lé onde as parceiras afins (primas cruzadas) so escassas. Nos mitos jé com os quais Lévi-Strauss inaugurava as Mitolégicas, a relagao conflituosa se dava entre o her6i e seu pai (considerado como afim no sistema de Parentesco jé) ou entre a pessoa e seus cunhados.! Aqui, essa mesma estrutura de competigio entre dois polos masculinos se mantém, mas com outras posigées. “A intriga do mito do desaninhador”, escreve Lévi-Strauss a propésito de narrativas similares presentes também da América do Norte, “repousa sobre o antagonismo entre aliados e, mais particularmente, entre doador e tomador de mulher, eventualmente se enfraquecendo até um vago lago de amizade [...|”.2 Nao deixa de ser curiosa a seguinte observacao sobre os Baniwa (do noroeste amaz6ni- ¢o) encontrada também nas Mitoldgicas: “entre os ensinamentos que ‘05 Baniwa passam aos jovens esta o de ‘nio seguir as mulheres de seus irmaos’. Uma visada te6rica sobre a sociedade mostra de fato que todo homem, para que possa com seguranca obter uma esposa, deve poder rou- 1 Cf, LevieStrauss (1964: 49 ss.) ¢ (1971; 457). 2 Idem ibidem. 0 desaninhador de japos dispor de uma irma. Mas nada exige que ele tenha um itmao. Como explicam os mitos, isso pode inclusive se tornar incomodo”.? Nao por acaso, Vo Nea pode também ser compreendido como ‘uma figura da solidao. Ele é duas vezes meio-irmao: na terra ¢ entre 03 urubus, com 0s quais o protagonista se encontra em um determinado momento da historia, Sempre na posigao da liminaridade ou do aban- dono, acaba por ter também um destino solitério. Transforma-se em ‘uma grande capivara que caminha sozinha na mata, raramente avista~ da pelos Marubo, Vé Nea expressa, além disso, uma singular poténcia de vinganga, através da qual elimina todos os seus vinculos de paren- tesco (os mesmos vinculos que, antes, se mostravam ambivalentes, par ). Tal poténcia assume novamente uma dimensao etiol6gica ¢ cos= molégica: ela é uma forma utilizada pelo pensamento marubo para fazer surgir um novo estado de coisas, tal como no caso da transforma Gio dos antepassados em animais, Uma violéncia concebida, portanto, como modo de transformagio do mundo antigo. “© desaninhador de japés” traz ainda algumas passagens exem= plares do que tem sido chamado de “perspectivismo amerindio”,t isto 6 uma disposisto especifica das cosmologias xamanfsticas para as quais a distingZo entre humanos ¢ animais nao se da pot uma cisdo ontolégica irreversivel (humanos possuem a cultura, animais esto res- tritos & natureza, tal como na metafisica moderna), mas sim por uma questo de posiedo (de seus pontos de vista, animais se concebem como humanos possuem cultura similar & dos humanos). As narrativas fa= Jam justamente daquele momento em que tal estado de comunicabili= dade métua, marcado pela partilha de uma forma humanoide genérica, ainda no havia se esgotado. Foi apenas depois, por decorréncia di diversas agdes (mais ou menos desastradas) realizadas pelos antepassa~ dos, que 0s pontos de vista e as posigées se demarcaram. Deu-se entdo essa separacao, essa incomunicabilidade que caracteriza 0 mundo atual. Se agora apenas 0s xamas sio capazes de mudar de posigio, antes © cruzamento de estados era algo como a condigao geral de um cosmos 3 Lévi-Strauss (1966: 258) — tradugio minha, 4.4 nogio foi formulada pelos antropélogos Eduardo Viveiros de Castro e Ti Stolze Lima a partir do estudo de diversas ernografias amerindias. Ver Eduardo Vivei- ros de Castro (2002) e Tania Stolze Lima (1996; 21-49). 220 - Isko metaska que ainda estava por se formar. A despeito dos limites impostos pela experincia ordindria, nada impede, porém, que as perspectivas se er\i- zem em momentos tais como a doenca, a alucinagao, 0 sonho € 0 Xi manismo. Mas antes tudo era diferente. ££ 0 que veremos adiante, no momento em que V6 Nea, preso no topo da drvore, encontra 6 Povo: dos japos. O desaninhador de japés " a 1 “Isko ond Nawavo “Povo Jap6, vamos K6 vake vindsho!”" Pegar pequenos passaros!” A ikiana Assim decidem’ Katso shata akavo E leve vara fazem 5 Thi ntka anki Enquanto Vo Nea V6 Nea sheni Isso tudo escuta “E evemeravo “Meus meios-irmaos K6 vake viavo Japés foram apanhar Ato wetsa vidnd!” ‘Também quero buscar!” 10 Aiki aoi Eo que diz Wa atokiriki E de seus irmaos Nikéai nishoki A partida ouve A awé nika Eos escuta “Isko ond Nawavo “Vamos pegar passaros!” 1s “K6 vake vinona’ Disse 0 Povo Japé Ivaini voavo” E entio partiu” Thi mikavaj Assim ele diz Wanit Rave atvo ‘Want Rave, sua mulher Vevo ayakevai Segue na frente 2» A kaki aoi Bele vai atras A kakt ota Para entao encontrar Ad rakati A casa dos irmaos A nokokaiki Na casa chegando A awé ola Ele ali vé 25 At6 ewa yoshaki A mie dos irmaos 5 A narrativa comega com o que dizem entre si os meios-iemaios (por parte de pai) do protagonista, Vo Nea. Dizem que vio pegarfilhotes de japé no alto do matamata- zeiro (Eschweilera coriacea, uma das mais altas érvores amaz6nicas) para fazer adornos com suas penas. Nessa narrativa, elementos diversos sio marcados pelo classficador “jap6” (isko), uma vez que se trata de uma istéria rlativa aos membros do Povo Jap6. ae Isko metaska 30 35 40 45 50 Wa ikot veyoki Washme teris aktki A awé tsaomai A tachikaiki “Yosha ma yOsha Evemeravorora? Awe aki voiya A awé akaki?” “A mlvemeravo K6 vake vinona Ivaini voavo” Thi mtkavai At6 voa atxoki Want Rave atvo Vevoya akevai Wa ato atxoki Ere ere avi Vo Nea sheni Isko waka poketi A votokaiki A awé ofa Ma potakaya A otvai A kaki aoi Shapo chindivoya Wa ato atxoki Ere ere aoi © Trata-se de um dos irmilos de VO v¥é que os iemiios ja passaram pelo ri © desaninhador de jap6s Diante do terreiro A fiar algodio E dali mesmo. Ele se aproxima “Velha, minha velha Cadé os irmaos? © que foram Fazer para li?” “Seus meios-irmaos ‘Vamos pegar passaros’ Assim disseram e foram” Assim escuta E segue 0s irmaos ‘Want Rave, sua mulher Dispara na frente Os irmaos segue Correndo correndo ‘V6 Nea, 0 antepassado Ali no Rio-Japé ‘Na beira chega Ealive O rio enlameado Assim mesmo vé Segue atras de Shapo, mais sabido® Ele mesmo segue Correndo correndo 6 chefe e mais sabido. O protagonista lameado. 23 Vo Nea sheni V6 Nea, antepassado A nokovaisho Ao ali chegar 58 Isko awé retesho Da anta-japé que A ato pidki Para comer mataram Isko awd shaoki Ossos da anta-japo? Niwa tedne Num galho do matamaté Tekor aintasho Apoiados encontra 60 Isko awd pichi Costelas de anta-japé Paitai naktki Feito degraus de escada A mashteinisho Que eles ajeitaram Aato ota Os irmaos vé Ere tachi aoi ‘Ao chegar apressado 6s Vo Nea sheni De Vi Nea Avis yoasho Piadas fazem Osa me aiva Dele dao risadas Tachikai aoi Quando vem chegando Want Rave atvo Com Want Rave, a mulher 70 A vevo ashoki Na sua frente At0 osa imatnd Todos riem Ato nokovaisho Ao verem o irmao ‘A evemeravo “Meus meios-irmaos Awerkia yoasho De qual histéria 7s A oséirai E que voces ‘Ma and iki?” Tanto dio risadas?” Awé aki aoa E respondem “KO vake pimaa “Rimos dos japés Osairivi ikina” Alimentando filhotes” 80 A aki aiya £0 que dizem roe anta da classe “jap”, pois as personagens pertencem ao Povo Japé (Isko 24 Isko metaska “No askd andna” Iki vanavaiki “Tsoa vi kakatsi?” Awé aki aoa 85 “Aamiarao A apa apata” A ikinanai Ato askémaind Vo Nea sheni 90 “Eevemeravo A eas kotrao ‘A apa apatandna” Aiki aoi “A apa apata!” 95 Ato aki aoa Isko paitiniki Ereina kawai Niwa teane Tsaoakei kashoki 100 Wetsa wetavaraki ‘Aawe ofa K6 vake nanemai Rod vake nanea Or anaki 105 A rondakei Wetsa wetavarasho A awé ola Shea vake nanemai Nasava aoi (0 desaninhador de japos “Agora assim faremos” Eles combinam “Quem filhotes pegaré?” Perguntam-se e entio “Va voeé, irmo Va pegar passaros!” Dizem entre si E responde Vo Nea, 0 antepassado “Os meios-irmaos Querem que eu va Pegar passaros” Assim mesmo diz “Va pegar passaros!” ‘Ordenam os irmaos Enna escada-jap6 Ele sobe correndo Em um galho Ali mesmo senta ‘Um ninho puxa E quando encontra Entre filhotes Filhote mais belo Para ele olha E pendurado deixa Outro ninko puxa E dentro encontra Filhote mais feio Que entio retira 225 10 “A kai arina “Ai vaio filhote E evemeravo!” Meus meios-irmaos!” Aiki aoi Assim mesmo diz Wetsa wetavarasho Outro ninho puxa A awé ofa E dentro encontra 1s Rod vake nanemai Filhote mais belo A rond akesi E pendurado deixa Wetsa wetavarasho Outro ninho puxa A aweé ofa E ali encontra Shea vake nanemai Filhote mais feio 120 A nasava aot Que entao retira “A kai arina “Ai vai o filhote E evemeravo!” Meus meios-irmios!” Auwé iki amaino E eles reclamam* “NO otsh vindnd “Escolheremos aqui 25 A apa apaset” Jogue logo todos!” A aki afya ‘Assim mesmo dizem Awé aské akaki Mas ele insiste Wetsa wetavarasho Outro ninho puxa A awe ota E dentro encontra 130 Rod vake nanemai Filhote mais belo A rono akesi E pendurado deixa Wetsa wetavarasho Outro ninho puxa A aweé ofa E ali encontra Shea vake nanemai Filhote mais feio 135 A nasa voai Que ele retira 5 Os japés, admirados por sua loquacidade e vida coletiva, constroem ninhos com formato de grandes bolsas que ficam pendentes dos altos galhos dos matamatazeitos, ‘Na narrativa, Vo Nea puxa essas bolsas para procurar os pissaros, mas ndo arranca, aaquelas em que encontra os flhores mais belos, que ele quer pegar para si mesmo. eas Isko metaska “A kai arina!” “Ai vai o filhote!” Awé iki amatno E ento reclamam “A apa apase “Ele nao esta A atimavaiki” Jogando todos!” 140 Isko awa pichi Na escada feita Até paiti até De costelas de anta Ereina kawai Correndo sobem Isko aud pichiki E escada feita ‘At paiti aoa De costelas de anta 14s Shatepake owia Escada cortam Isko awd shao E osso de anta Niwa teane No galho da arvore Ato tekorata No galho colocado Pakeva owia Eles derrubam 150 Até.askd amaind E logo entao V6 Nea sheni V6 Nea, 0 antepassado Roa vake ronoa Um belo filhore ‘Awé ron akea No ninho pendurado Nasavavai Logo vai tirando 155 “Arod vakero “Filhote mais belo A kai arina Ai vai o filhote Eevemeravo!” Irmaos, meus irmaos!” Awe iki amatno Mas 0 que diz Ari ntkiitakima Eles nfo escutam 160 Want Rave aivo E Wani Rave, a mulher Mepa akevaiki Levam pela mao Sai ii Vio gritocantando? Os iemaos vo embora soltando gritos ritmados, gritocantos, saiki, (0 desaninhador de japés 227, At6 reshnivaimai O canto soa Kendkaikai E chama os irmaos 16s aa ikaikaini Berrando berrando “Eevemeravo “Meus meios-irmios Ea ewei vendwe!” Venham me buscar!” A iki aoi Assim mesmo diz Vo Nea sheni V6 Nea, o antepassado 170 Saiié Mas 0 gritocanto Ato reshnivaimai Ja longe soa Kenatima avai EVO Nea se cala Niwa tedne Ali no galho A tsaoakesho Fica sentado 175 Yene vari istni Forte sol-cigarra!? Masaka tsaoi Seus cabelos queima V6 Nea sheni Vo Nea, o antepassado Yene vari istki Sob 0 sol-cigarra Piskovaivai Ali descoberto 180 Niwa tedine No galho do matamata Tsaokia aoi ica mesmo sentado V6 Nea sheni V6 Nea, antepassado Vart aka tanana No sol exposto Tata ene merasho Agua de sapo 185 A aki aoi Na drvore encontra Wakapasha vetsaki E forte sede Aw is6 katxisho Com sua urina Aaki aoi Sede satistaz!! Vo Nea sheni V6 Nea, o antepassado 1A expressio original se refere a um dos s6is que marcam as estagdes do calen- dal wat rc i Macaco barrigudo. Desa gordura ele Nata * Urubus comem toda es fea gene, Donde orem opie de comida, ma no Vo Nea, que € our tipo de es de seus irmios, 244 Isko metaska 560 Asheniakiki Da gordura come Tetdvaivai Ha ha, pigarreia A aki aoi ‘Com a garganta Pikt mashtevai Refeigao termina Vanaina oi E vai falando 56S “Matoni mera “0 irmao de vocés ‘Awesakarai Por que veio? ‘A awe oara Que faz aqui? ‘A yoamashéro ‘Ainda nada contou ‘A ntkana!” Escutem-no!"*? 570 Até aki aoi ‘Assim ordena ‘At® papa sheniki O velho pai “Nokeni merapa “Nosso mei Avwesakarai Por que mesmo ‘Mr ané oara?” ‘Veio para ci?” 375 Ato aki aoa ‘Assim perguntam “Eri chinashose “Por coisa alguma Neskamat eaki E que nao vim ‘Atona shavosbo Por roubarem mulher Ea rawiavo E rivais virarem sso Bta neskai” E que assim fiquei” A ikiana Assim mesmo diz A awe you A sua histéria Nikaki avaiki les escutam € “Nokeni merapa “Nosso meit 58S A natéro Vai com isso ‘A ato kopita” Deles se vingar” 7 © Povo Urubu tem uma etiqueta similar 4 dos Marubo atuais: pergunta-se sobre ox peopésitos dem vse apenas depos que cle erminou asta eeGaoy (© desaninhador de japés 245 A ikiana Sheté Tae inisho Shete Vero Kene Auwé para yotxiki Aa inaki Yosthia aya 590 At6 shara métiki Aa inaki oe Yostkia aiya “A nato aktrao Mr kamé askaki” Iki yost owia Yostkia avai 600 At6 shara matiki Inakia aiya “Papani ewa Mr kameé yost “Metsomaroa!’ 605 Mr kame aki” Akt yost owia Askaki avaiki “Seka txaka niko Nokeni merarao “1 Pard: engano, me pela genteurubas ” Trata-se, a rigor, de um ‘espa pets pergnas, como ser recriagio postica, Na tradugs 246 fo (mati) feito de uma se Assim dizem Pajé Sheté Tae E Shete Vero Kene Sua pimenta-truque®! A ele entregam E assim ensinam Vespas vorazes*? Ace entregam E assim ensinam “Com isso aqui Faga assim assim” Eo que ensinam Ensinam e entio Vespas vorazes Eles entregam “Aos seus pais Isso também ensine ‘Nisso nao toquem!” Assim mesmo diga” Eo ‘que ensinam E depois entio “O seu feioso Nosso meio-irmao truque. Trata-se ig de uma pimenta especial preparada 0 de toc, ceo tome liberade de empress oe Isko metaska yr 610 = Aaenetat” Leve-o emboral A aki aiya Fo que diz ‘Ato aki aoi E logo manda ‘At6 aki aoa E tendo mandado Seka txaka niko O mais feioso 61s ‘Atoni meraki Seu meio-irmio Teainivaiki No ombro coloca Vei Nai Shavayash Da Morada do Céu-Morte Ronopakekarii ‘Vai descendo planando Ped akeakei Girando girando 20 Aki apakarai E logo chegam ‘Aivé ewa iniki No lugar de despertar# A awé papa De sua mae Ané vesokiia De seu pai Wa wai repiki No fim do rogado 2s Anitxt pakei Ali mesmo pousam A aki await E irmio deixando ‘Awe kamatnd 0 feioso logo volta Ewani papaki Mae e pai Meramavai V6 Nea vai encontrar 630 Yene vari istni Todo sem eabelo ‘Awé vo keyoti Pelo sol queimado Ewani papaki E seus pais Onatima aoi Nio o reconhecem A tachikaisho E ao chegar 635 A ewanisho Amie e pai ‘A awé papaki Ble assim pergunta “Evemeravorora “Meus irmaos Awesavaia Que fazem agora “8 Chefe Urubu (urubu-rei) manda seus filhos (os uru! rem o protagonista de volta para a terra. ‘4 Metifora para aldeia (no original, linha 623) Jbus pretos mais feios) leva © desaninhador de japés 247 640 645, 650 655 660 665 Isko Ona Nawavo” To tachi aoi “Awesa amai A mino aneki A at6 anea Mako ia ashand Ivai ini voavo” Thi nika anaki “B ato oino” Aiki aoi Aa askaki A awe ofa Shapo chinaivoya A aweé aiki At6 vitchnaki Want Rave aivo A vevo ashoki Tachikara aoi Auwé tachikaramai A awe ewaki Yostkia aoi “Ewa ma ewa E ato pimans Wakapashakemei Aa keyoki Oka oko oksi Mr kame ak” ‘com seu veneno e assim facilita a pesca 248 4 izaram de “Lago do Careca” o tal lugat, com Vo Nea. Lé estdo jogando folhas espremidas dk ee Os filhos do Povo Japo2” Pergunta ao chegar “La foram eles No lago batizado Com seu nome No Lago do Careca ‘Timbé foram jogar”** Assim mesmo escuta “Vou procuré-los” Assim diz E quando vai Ele antes encontra Shapo, mais sabido Com sua mulher Que havia roubado Com mulher Wani Rave Vindo na frente Ele vem chegando E enquanto isso A sua mae Ele assim ensina “Mie, minha mae Pimenta oferecerei Agua de beber Com a 4gua acabe Agua entorne Faga mesmo assim” Isko metaska lugar, assim fazendo piada letimbé, que entorpece os peixes 670, 680 685 690 Aiki aoi A awe yostash A awe ewaki ‘A wakapasbaki (Oka ok6 okdi ‘Awe aki avaiki ‘Aw8 tachikardmai Shapo chinaivoya “Aa ikori E mia pimano” A aki aoi “A and pimand Aa yotxiro A shana ariwe Ewa ma ewal Awé aki aoa Aa yotxiki Shana aki avaiki “Ae pinona Mr kamé yamai” A akt yost Aa yotxiki A teshavaiki A tsiovaimai A yotxi piki “Yotxi roaparaki!” Aiki aoi ‘Aweé keyouaimai A teshavidiki © desaninhador de japés Assim diz E tendo ensinado A sua mie Agua de beber Entorna entorna Assim faz € Vem chegando Shapo, mais sabido. “Entre aqui irmio Comida te darei Assim diz “Para o irmao Aquela pimenta Esquente logo Mie, minha mie! E assim entao Aquela pimenta Ela esquenta “Para mim mesmo Pimenta nao sirva” Ele havia ensinado Daquela pimenta Um pouco pega Para irmao coloca E pimenta come “Pimenta deliciosa!” Irmao diz E quando termina Outro pouco pega 249 695 705 710 as 250 Tsdovai aot Ali coloca Awé aské akaki Assim mesmo faz A yotxi pirao Pimenta ele come Vanaina aoi E vai falando “Yotxi sheniyarakt!” “Pimenta gordurosa!"46 Aiki aoi Irmo diz Ondttpakis Sem nada perceber “Yorxi naf aktkil” Aweé iki amatnd Assim ele diz “Wakapasha avaral” “Traga agua!” Awe iki amatno Assim ele pede “Ewa ma ewa “Mie, minha mae A wakapashana Nio tem mesmo Aa yamara?” Agua de beber?” Awé aki aoa V6 Nea diz “Wakapasha yamana” “Agua acabou” “Ai, pimenta ardida!” A ikiands Ela responde Waa chomoki E naquele pore Ata avetavai Ele vai procurar Awé askdmainé E assim entao Shapo chindivoya Shapo, mais sabido Aa kakise Vai logo saindo “Ak6vaitanona” “La fora encontrarei” © A pimenta é uma substincia admirada na culinéria marubo. Isko 720 ns 730 735 740 Thia karai A oki amatné. Wa waka pokett A votokaraki A awé ola A wakapashaki Ma a netséya A otanaki Waka tavairiki Tsas ipakai A aki aoi Auwé askématnd V6 Nea sheni A shotovaritki A awé ota A wakapashaki A itimavai Wa epe tavaki Wasa iki pakei Awé aki amaind Awé askdmatnd V6 Nea sheni Richkia aoi V6 Nea sheniki Assim diz e vem Mas ao chegar Na beira do igarapé Em seu encontro Ali ele vé Agua de beber Ji toda seca Assim mesmo vé Pelo rio desce Abrindo caminho*” Assim mesmo vai E logo entio Vo Nea, 0 antepassado ‘Vem mesmo atras E nio encontram Agua de beber Que ja secou Ao lado da jarina Buraco ele cava‘ E enquanto 0 irmao Agua ali procura®? V6 Nea, o antepassado Seu irmao mata V6 Nea, 0 antepassado 47 0 imo de V6 Nea vai abrindo caminho pelo mato (tsas, uma onomatopeia, para os galhos quebrados e afastados) para encontrar égua. armazenatia agua. 48 0 irmio cava a terra ao lado de uma touceira de jarina, que supostamente + Nesta e noutras passagens, o cantador se utiliza de duas férmulas-padrio de coneacio praticamente iguais (Aue aki amatnd/ Aw@ askamatnd}, que eu aproveito para inseririnformagies subentendidas nos versos, a fim de esclarecer a leitura © desaninhador de japés ‘Awé mao vakd E seu duplo solitario® Rapakekai ‘Vai logo saindo Wa nai shavaya Para aquele céu 745 Shavd avainita Para o céu sobe Nai Kot Nawavo Nas pimentas-névoa Kot yotxi vanati Do Povo do Géu-Névoa Kot yotxi pei Nas folhas-névoa Vott iki irinds Ali se enrola 750 Kol mai tsomtsho Na terra-névoa agarrado Nioi kaoi Ali vai viver Ave andshorao Para assim fazer Kot shae merano ‘Tamandué-névoa aparecerst Want rave atvo Mulher Wani Rave 755 Sheté yotxi pasand Da pimenta come Youe yovekai outra vira Nat posha meisho No pulmao do céus Tsaoi kaoi Agarrada fica Ave andshorao Para assim fazer 760 Pésé nat merano Preguicga malhada aparecer™ Aska avainiki E depois entao “Isko Ona Nawavo “A gente do Povo Jap A até ashi Vou procuré-los E and o1na” Onde jogam timbs”s* $® Robson diz que o cantador ndo estava certo ao mencionar © “duplo solitirio” (do vat), que éruim endo vai para detno celeste aposa more, Deve er mene sionado o chin nat plo do peito ou coragio, que tem um dextino difereniada, 51 O duplo do irmao de V6 Nea vai para o iiltimo estrato celeste da cosmografia Imarubo,a Morada do Géu-Névoa (Kot Mai Shaya, «lise gata olka das plan tages de pimenta. Transforma-se em tamandud-név Py — dd devs nossa tee que nao é, portanto, o aman= Metafora para drvore Bradypus variegatus, Entre os Marubo, tis pescarias com timbé sio eventos coletivos, que costue ‘mam reunir toda a parentela residente em uma maloca. 282. Isko metaska ee 765 770 780 790 A kiana Shete shara motiki A vivai iniki Awe kakt ota A tachikaiki A awe ntka Aid ashai Aaot A shoko shokosa Nokovdi aoi A nokovitisho Rovo pana peiki Tova tovatashoki Shovo aki avaiki A sheté shara motiki ‘A aw® kepea Aa kepeki A awe ntkat Wa ia kesoki Aa katxisho Vake kokaishoi “Mako ia iri” Iki kokd yoi Aa askdi Awe kokd imatné Sheté shara motiki A awe kepéa Noko tachi aoi ‘Txakarki aoi Auwé askamatnd “A awesai A takarimai? MT and iki (0 desaninhador de japés Bo que diz E vespas vorazes Ele vai levando E no caminho vé Quando vai chegando Ele algo escuta No lago pescarem V6 Nea vé Todos juntos juntos Ali chegando E ao chegar Folhas de acai-jap6 ‘Arranca e arranca Abrigo faz E vespas vorazes Ele vai soltando E ao soltar Ele algo escuta Na beira do lago ‘Mies reunidas Para os filhos cantarem “0 lago do carecaca. Lo que cantam ‘Assim elas fazem E enquanto cantam Vespas vorazes [As vespas solta E elas chegam As criangas berram E dizem entao “Por que sera Que esto berrando? Va logo vocé 253 Ene ene ariwé!” Aiki aoi Calar as eriangast"8* Di 1 Aaskitance Ma beans 4 feaarki ‘Também eles berram sokoini aoi Dos parentes tod A patxo kintki ieee A ereikoi ‘As vespas invadem 805 A wetsaki Daquele o “ reRT tseweki A pr eee 4 poe As vespas invadem Area Assim acontece avo ente do Pov 810 Sheté shara motino eek Atokia keyoa Todos exterminam Matsi matsi atai E assim acalmam Aaa E logo depois ae harceanit Que todos terminaram 4 pana iow Feito frutos inchados* shara métino As vespas vorazes Wei iki amatno Vio voltando Kepokia avaiki E ele recolhe’” Pe tebetoe E andando ve coe Montes de corpos Rik es Ao ali chegar Bs oe 2 O lago contorna evaiki E passando encontra 5 Os proprios parents elamam ent fas. Nio perbom sido que aromecendo, oun acinar ae cing $8 Fruto ni i demicado (parece strata da amaparan, Apocynaceu) Escondido em um abrigo, Vo Nea espera as vespas voltarem (gordas, d _manho de um fruto por terem c Pe in ioe hupado todo o sangue das pessoas) e as fecha no esto» 254 Isko metaska A awe ota ‘Ali mesmo vé s25 Shane Vama sheni © velho Shane Vama ‘A tsisma meweya ‘Uma traira segurando A tachi inamai Ali ele encontra “Koka ma koka “Tio, meu tio®* Mia aské aivo Nao fazia assim 830 Imismata miaki De mim nao mangava ‘Atoni raveya Mas deles é ‘A raveyata ‘Também mais um Aa miai” E também voce” A kiana Assim diz 35 Atsisma keoki Espeto de peixes Vidkesnaki Do tio toma A tsisma keone Eo espeto ‘A napotaktki Em sua barriga Richkiki aoa ‘Na barriga bate 340 Wetsa wetsakai E vai virando Shane Vama sheni ‘Antepassado Shane Vama Ave anéshorao Para entao fazer Shane ka merano A saracura aparecer Askd aki aoi ‘Assim acontece 845 VoNea sheni ‘Antepassado V6 Nea Aské aki atai ‘Assim mesmo faz Isko Ona Naweavo As carcagas Potaini ini Do Povo Jap6 ‘Ato akt avaiki Ele ali ajeita 850 Nioake kawasho E fica em pé V6 Nea sheni Antepassado V6 Nea 58 Irmo da mae. ‘ 2 59 Seu tio carrega um espeto no qual enfiara as trairas pescadas. Robson oprotagonista bate nas cosas dese tio com oespet eno na ey versio da historia. (0 desaninhador de japés “E evemeravo “Meus meios-irmaos Ma é akana Todos mesmo matei Roa aki verina! Venham terminar!” A ikiands Eo quediz Pa ika ikaini Ooo — urubus chama A aki aoi Assim logo faz V6 Nea sheni Vo Nea, 0 antepassado® 600 final do Isko metaska saiti se junta a0 Kama Txi Ni roubo do fogo de Onga. Lauro, no entanto, aqui termina a sua versio. Disseram-n fe, 20 retornar para casa, V6 Nea coloca o estojo com as vespas em um canto da rmaloca. Seus pais, desobedecendo as instrugbes do filho, mexem nas vespas, que acabam sugando também 0 seu sangue. Vé Nea fica triste e decide ele mesmo comer a pimenta dos urubus. Termina por se transformar em capivara e vai viver em um determinado rio (yora waka). Essa capivara é maior do que as que se encontram por aie costums andar sozinha pelo mato. Outra versio desta narrativa conta que as vespas ficam com vergonha (ravta) de terem matado a familia de Vé Nea e, por conta disso, vao embora para o céu. Uma parte vai para 0 olho do tucuma (pani peso tandiri) e vira mel arapua ‘ou mel de tucuma (pant vakd); outras vio para o olho da samaiima (shono pe +i) e-viram mel arapua de samaiima (shon6 vako). Outras, ainda, vao para o mata ta (nftua) e para a paxiiba (tao), virando outras espécies de mel. E por isso que as vespas chara sugam sangue dos animais. Quando se mata uma caga, elas sentem de Jonge o cheiro do sangue. Outras destas vespas viraram tiva, uma abelha que suga = seiva de certas érvores e que faz um mel de ma qualidade. Isko metas

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