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UNIVERSIDADE METROPOLITANA

Núcleo de Educação a Distância


DE SANTOS

Sociologia /
Ciências Sociais

NÚCLEO COMUM
1
UNIVERSIDADE METROPOLITANA
Núcleo de Educação a Distância
DE SANTOS
Créditos e Copyright

NOVO, Nanci Lancha.


Sociologia. Santos: Núcleo de Educação a
Distância da UNIMES, 2015. (Material didático.
Curso de Administração).
Modo de acesso: www.unimes.br
1. Ensino a
distância. 2. Administração. 3. Sociologia.
CDD 658

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UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS


FACULDADE DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS, COMERCIAIS,
CONTÁBEIS E ECONÔMICA
PLANO DE ENSINO

CURSO: Bacharelados / Licenciaturas / Tecnologias


COMPONENTE CURRICULAR: Sociologia
SEMESTRE: 1º / 6º
CARGA HORÁRIA TOTAL: 80 horas

EMENTA:
O indivíduo e a sociedade. Globalização e diversidade cultural. Relações
Étnico-raciais. Desigualdade de raça e etnia. Desigualdade de gênero e de idade.
Processo de socialização e movimentos sociais. Controle social e comunicação.
Mudanças sociais. Instituições sociais. População, urbanização e meio ambiente.
Responsabilidade Social. Economia e trabalho. Direitos humanos.

OBJETIVO GERAL:

Apresentar os principais conceitos da Sociologia.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

UNIDADE I
Objetivos da Sociologia; Sociologia em Questões Contemporâneas; Métodos e
Técnicas de Pesquisa; Evolução histórica da Sociologia (pré-científica).
UNIDADE II
Evolução histórica da Sociologia - A Sociologia científica de Émile Durkheim.
Evolução histórica da Sociologia - Max Weber; Evolução histórica da Sociologia -

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Karl Marx; A Sociologia Contemporânea: Sociologia do desenvolvimento; A
Sociologia Contemporânea: Outros modelos de interpretação. A Sociologia no Brasil;
Sociologia Aplicada à Administração; Sociologia aplicada à Administração – Parte I;
Parte II; Parte III e IV.
UNIDADEIII
Formas e processos de controle social; A pressão social nos grupos e a admissão em
grupos coesos – Metas grupais; O conceito de Trabalho em Sociologia; Modelos
teóricos de Administração: Taylor, Fayol, Mayo e Parsons; Globalização: contexto
histórico, conceito, repercussões sociais. O conceito de degradação social.
UNIDADE IV
Os novos paradigmas da produção e do trabalho: a desterritorialização ou
mundialização das atividades; As políticas neoliberais e as mudanças na
configuração e na atuação do Estado no final do século XX. Os novos paradigmas
do trabalho: as mudanças no conteúdo do trabalho e o impacto das novas
tecnologias.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:
UNIDADE I: Objetivos da Sociologia e Sociologia como Ciência
UNIDADE II: Evolução histórica da Sociologia e os teóricos clássicos mais
importantes
UNIDADE III: Sociologia e o mundo do trabalho, Globalização e degradação social
UNIDADE IV: Os novos paradigmas da Sociologia

BIBLIOGRAFIA BÁSICA:
BOTTOMORE, T. B. Introdução à Sociologia. Rio de Janeiro, LTC.2008. (F)
LAKATOS, Eva Maria;
MARCONI, Marina de Andrade. Sociologia Geral. São Paulo, Atlas, 2011. (F)
PAIXÃO, A. E. Sociologia geral. Curitiba: Ed. Intersaberes, 2012. (e-book)

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:
ARAÚJO, Silvia Maria de. Sociologia, um olhar crítico. São Paulo: Contexto, 2009.
(e-book)

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ARAUJO, Silvia Maria de; BRIDI, Maria Aparecida; MOTIM, Benilde Lenzi. Ensinar e
aprender sociologia. São Paulo: Contexto, 2009. (e-book)
DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
(e-book)
MARTINS, José de Souza. A sociologia como aventura: memórias. São Paulo:
Contexto, 2013. (e-book)
MARTINS, José de Souza. A sociabilidade do homem simples: cotidiano e
história na modernidade anômala. São Paulo: Contexto, 2008. (e-book)

METODOLOGIA:
A disciplina está dividida em unidades temáticas que serão desenvolvidas por
meio de recursos didáticos, como: material em formato de texto, vídeo aulas, fóruns
e atividades individuais. O trabalho educativo se dará por sugestão de leitura de
textos, indicação de pensadores, de sites, de atividades diversificadas, reflexivas,
envolvendo o universo da relação dos estudantes, do professor e do processo
ensino/aprendizagem.

AVALIAÇÃO:
A avaliação dos alunos é contínua, considerando-se o conteúdo desenvolvido
e apoiado nos trabalhos e exercícios práticos propostos ao longo do curso, como
forma de reflexão e aquisição de conhecimento dos conceitos trabalhados na parte
teórica e prática e habilidades. Prevê ainda a realização de atividades em momentos
específicos como fóruns, chats, tarefas, avaliações a distância e Prova Presencial,
de acordo com a Portaria de Avaliação vigente.

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Sumário
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Aula_Inaugural ............................................................................................................ 8

Aula 01_Objetos da Sociologia ................................................................................. 10

Aula 02_Métodos e técnicas de pesquisa ................................................................. 14

Aula 03_Evolução histórica da Sociologia ................................................................ 17

Aula 04_Evolução histórica da Sociologia - A Sociologia científica de Émile Durkheim


.................................................................................................................................. 20

Aula 05_Evolução histórica da Sociologia - Max Weber ........................................... 23

Aula 06_Evolução histórica da Sociologia - Karl Marx .............................................. 27

Aula 07_Principais conceitos sociológicos de Karl Marx ........................................... 30

Aula 08_A Sociologia Contemporânea: Sociologia do desenvolvimento .................. 34

Aula 9_A Sociologia Contemporânea: Outros modelos de interpretação ................. 37

Aula 10_ A Sociologia Contemporânea: Teorias da globalização ............................. 41

Aula 11_A Sociologia no Brasil ................................................................................. 46

Aula 12_Sociologia Aplicada à Administração .......................................................... 51

Aula 13_Sociologia aplicada à Administração – Parte I ............................................ 54

Aula 14_Sociologia aplicada à Administração – Parte II ........................................... 58

Aula 15_Sociologia aplicada à Administração – Parte III .......................................... 61

Aula 16_Sociologia aplicada à Administração – Parte IV.......................................... 63

Aula 17_Formas e processos de controle social ....................................................... 65

Aula 18_A pressão social nos grupos e a admissão em grupos coesos – Metas grupais
.................................................................................................................................. 68

Aula 19_O conceito de Trabalho em Sociologia ....................................................... 70

Aula 20_Modelos teóricos de Administração:Taylor,Fayol,Mayo e Parsons ............. 73

Aula 21_Globalização: contexto histórico, conceito, repercussões sociais. O conceito


de degradação social. ............................................................................................... 76

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Aula 22_Os novos paradigmas da produção e do trabalho: a desterritorialização ou
mundialização das atividades ................................................................................... 81

Aula 23_As políticas neoliberais e as mudanças na configuração e na atuação do


Estado no final do século XX. ................................................................................... 84

Aula 24_Os novos paradigmas do trabalho: as mudanças no conteúdo do trabalho e


o impacto das novas tecnologias. ............................................................................. 88

Aula 25_Breve história da organização dos trabalhadores e da formação dos


sindicatos. ................................................................................................................. 93

Aula 26_Sociedade Contemporânea: discutindo o conceito de Sociedade do


Conhecimento. .......................................................................................................... 99

Aula 27_Comunicação: conceito e difusão ............................................................. 103

Aula 28_Comunicação na organização ................................................................... 106

Aula 29_ Liderança nas organizações .................................................................... 109

Aula 30_ A gestão do conhecimento nas organizações .......................................... 113

Aula 31_Responsabilidade Social Empresarial ....................................................... 116

Aula 32_Ética e Responsabilidade Social Empresarial ........................................... 121

Resumo III ............................................................................................................... 125

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Aula_Inaugural

Caro aluno,
O objetivo maior que orientou a produção desse conjunto de aulas é apresentar
e discutir, de forma objetiva e crítica, os principais conceitos da Sociologia Geral e da
Sociologia Aplicada à Administração. Ele constitui um ponto de partida, uma base, que
deve ser aprofundada segundo os seus interesses pessoais e necessidades
profissionais. A Sociologia nasceu com a industrialização. Os primeiros sociólogos se
defrontaram com as mudanças que essa revolução provocou, com as transformações
nas condições de trabalho, da técnica e das relações sociais. Era preciso criar um
sentido comunitário novo, tornar compreensíveis as novas estratificações e buscar
soluções para a miséria e a alienação que pesavam sobre as massas trabalhadoras.
Consolidada a sociedade industrial e imposta sua racionalidade ao mundo, os
sociólogos buscaram tornar inteligível o todo social e apareceram as grandes sínteses
dos clássicos da Sociologia. Durkheim e Weber têm diagnósticos semelhantes sobre
os problemas de seu tempo. Mas suas análises e respostas são diferentes.
Para Durkheim, a Sociologia deve apresentar remédios para os males sociais.
Já para Weber, nenhuma ciência pode promulgar regras de conduta e os sociólogos
não são “guias espirituais”. Na perspectiva de Marx a função da Sociologia não é
solucionar os “problemas sociais” com o propósito de restabelecer o “bom
funcionamento da sociedade”, mas deve contribuir para a realização de mudanças
radicais na sociedade. Essa discussão continua nos dias de hoje. Muitas vezes, a
Sociologia é empregada como técnica para a conservação da ordem existente,
perdendo sua dimensão crítica e muitos sociólogos passam a desenvolver o seu
trabalho em empresas privadas ou estatais, em instituições políticas ou culturais que
financiam suas atividades. Hoje, vemos muitas investigações parciais, como por
exemplo, a Sociologia da Administração, uma multiplicidade de investigações
empíricas. Não seria correto subestimar a importância dessas investigações e a
riqueza de materiais que elas produzem. Entretanto, não podemos perder a visão de
conjunto que nos mostra a dinâmica social como um todo. É com o objetivo de mostrar
uma Sociologia crítica e ao mesmo tempo frutífera para orientar o futuro profissional
em seu trabalho atuante nas empresas que elaboramos essas aulas. Na Unidade I
você entrará em contato com os conceitos básicos dessa ciência e verá, através de

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sua evolução histórica, que os pensadores estão sempre em sintonia com seu tempo
e respondem às questões colocadas pelo contexto em que vivem. Na Unidade II,
priorizamos o conceito de trabalho que tem sido exaustivamente discutido pela
Sociologia uma vez que conforme as palavras de Marx “o modo de produção da vida
material condiciona o processo, em geral, da vida social, política e espiritual”.
Marxistas ou não, a maioria dos sociólogos iniciam o estudo da sociedade pela análise
do trabalho, acompanhando como as forças produtivas (meios de produção + trabalho
humano) se alteram no decorrer da História. Nesta Unidade você entrará em contato
com os principais termos usados na Sociologia uma vez que é impossível pensar a
sociedade sem esse instrumental conceitual. Depois desse estudo, você será capaz
de entender melhor como esses conceitos são aplicados para entender a organização
das empresas. Na Unidade III você estudará a sociedade contemporânea e os
processos sociais que a caracterizam, tais como a globalização e seus efeitos sobre
o trabalho e a produção e na sociedade em geral. A Sociedade da Informação e a
Responsabilidade Social Empresarial também serão temas abordados na Unidade.
Não se esqueça de fazer leituras complementares em jornais e revistas e em
publicações especializadas em sua área de estudo. Lembre-se ainda que a análise
de filmes, vídeos e a busca em sites na Internet possibilitam uma melhor compreensão
da Sociologia, disciplina importante para os profissionais de todas as áreas e para
aqueles que querem compreender melhor o homem e a sociedade.

Profa. Dra. Nanci Lancha Novo

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Aula 01_Objetos da Sociologia

Nesta aula iniciaremos o estudo dos conceitos básicos da Sociologia,


abordando seus objetos de estudo, seu caráter científico e suas relações com as
demais ciências humanas.

1. Conceituação
No sentido etimológico, sociologia (do latim socius e do grego logos) significa
estudo da sociedade. O termo foi criado em 1839 por Augusto Comté, um dos
principais elaboradores dessa nova ciência.
O objeto da Sociologia são as interações que ocorrem na vida em sociedade.
Dessas interações sociais formam-se as relações, realizam-se os processos sociais,
organizam-se as estruturas, estabelecem-se mudanças sociais. A Sociologia estuda,
portanto, aqueles fatos que são característicos da vida em grupo e não da vida do
indivíduo. O fato de termos uma língua própria, uma concepção de beleza, de trabalho,
de vestuário, nasce nas interações sociais, são comportamentos grupais e não
individuais. O indivíduo os adquire porque vive naquele grupo.

2. A Sociologia como ciência


Várias ciências têm por objetivo ampliar o conhecimento sobre o ser humano
em suas interações sociais e estudar a ação social em suas diversas dimensões. São
as chamadas Ciências Sociais: Sociologia, Economia, Antropologia, Política, Direito e
Psicologia Social. Não existe uma divisão nítida entre essas disciplinas. Embora cada
uma delas esteja voltada para um aspecto da realidade social, são complementares e
atuam juntas para explicar a complexidade da vida em sociedade.
O objeto material das Ciências Sociais é o mesmo: o homem na sociedade.
Essas ciências diferem quanto ao objeto formal, pois cada uma aborda um aspecto
da sociedade, artificialmente isolado do conjunto. Diferentemente das demais
Ciências Sociais, a Sociologia estuda o homem e o universo sociocultural como um
todo e analisa as inter-relações entre todos os fenômenos sociais ultrapassando o
campo de atuação das disciplinas específicas.

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Por exemplo: o fenômeno da dominação e subordinação é analisado em todas
as Ciências Sociais. A Antropologia o estuda na tribo, o Direito nos órgãos que
elaboram as leis, a Economia, dentro das empresas, a Política, no Estado e a
Psicologia Social, em relação à pressão grupal sobre o indivíduo. Já a Sociologia,
considera o fenômeno da dominação e subordinação como um processo social geral
que aparece em todos os setores do universo sociocultural. A Sociologia estuda a
sociedade como um todo, com características e relações que podem ser observadas
em qualquer sociedade, ou em suas partes, seja uma tribo, um tribunal, uma empresa
industrial, um Estado, um grupo de adolescentes.
A Sociologia nasce como ciência no século XIX quando são criados os métodos
de averiguação e medição. São formuladas, então, teorias sobre a sociedade que
possam ser comprovadas empiricamente, através da observação e experimentação.
A Sociologia pode ser considerada uma ciência, porque os fenômenos sociais
não são casuais, mas possuem uma certa regularidade. São previsíveis, comportam
generalizações, teorias e princípios. Além disso, o estudo desses fenômenos não se
confunde com opiniões. Constitui um estudo objetivo rigorosamente efetuado segundo
dados reais e concretos. Como em toda ciência, a comprovação dos fatos possibilita
validez universal.

3. Características dos fatos sociais


Émile Durkheim, em sua obra As regras do método sociológico, afirma que
“Antes de indagar qual o método que convém ao estudo dos fatos sociais, é
necessário saber que fatos podem ser assim chamados” (1971). Sua definição de
fatos sociais inclui as seguintes características:

 Generalidade, isto é, o fato social é comum a todos os membros de um grupo ou a


sua grande maioria. Dá feição particular a uma sociedade e permitirá distinguir, por
exemplo, um brasileiro de um boliviano.
 Exterioridade, isto é, o fato social é externo ao indivíduo, existe independentemente
de sua vontade. As maneiras de agir, pensar e sentir, comuns à média dos membros
de determinada sociedade, são exteriores às pessoas, porque as precedem,
transcendem e a elas sobrevivem.

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 Coercitividade, isto é, os indivíduos se sentem pressionados a seguir um
comportamento estabelecido. A coerção não necessita ser drástica (pena de prisão).
Igualmente eficazes são os risos, a zombaria, quando transgredimos as convenções
sociais.
Em virtude dessas características, os fatos sociais podem ser estudados
objetivamente, como “coisas”, isto é, todo objeto que é naturalmente compreensível
pela inteligência. Assim, a Sociologia estuda os fatos sociais da mesma forma que a
Biologia e a Física estudam os fatos da natureza.
Conforme observa Pérsio Santos de Oliveira, as obras de Durkheim foram
importantes para definir os métodos sociológicos e estabelecer os principais conceitos
da Sociologia. A partir do século XX, a Sociologia ganhou novo impulso e enfrentou
cientificamente, novos problemas colocados pela sociedade cada vez mais complexa.
Para entender melhor o caráter científico da Sociologia, o texto de Pérsio
Santos de Oliveira (2005:16) é extremamente esclarecedor e você o lerá a seguir:
Uma importante característica da observação científica é a objetividade, ou
seja, a possibilidade de o cientista obter resultados sem que seus
sentimentos pessoais estejam envolvidos. A objetividade é mais difícil de se
conseguir em Ciências Sociais do que nas Ciências Exatas. Por exemplo, em
Matemática dois mais dois é igual a quatro, seja a soma feita por um católico,
um muçulmano ou um ateu. Em contrapartida, no estudo de si mesmos e da
sociedade os seres humanos podem se deixar influenciar por seus
sentimentos, por ideias preconcebidas, pelas crenças que adotam, pelos
valores que aceitam. Além disso, os cientistas sociais têm também maior
dificuldade de submeter suas teses à experimentação. De fato, é muito difícil
isolar grandes grupos de pessoas e induzi-los a mudanças para verificar seus
resultados, como se faz, por exemplo, em Biologia. Apesar dessas
dificuldades, a Sociologia é perfeitamente capaz de analisar os fatos sociais
com objetividade. É essa possibilidade que faz dela uma ciência.

Reflexão
Leia o texto abaixo e reflita sobre as características do fato social:
“Antes de procurar saber qual é o método que convém ao estudo dos fatos
sociais, é preciso determinar quais são esses fatos. Não sou obrigado a falar
a língua de meu país e nem usar as moedas legais, mas é impossível agir de
outro modo. Se tentasse escapar a essa necessidade, minha tentativa seria
um completo fracasso. Se eu for um industrial, nada me proíbe de utilizar

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equipamentos e técnicas do século XIX, mas se fizer isso, com certeza vou
me arruinar, pois não poderei competir com os que usam tecnologia mais
moderna. Temos aqui, portanto, certos fatos que apresentam características
especiais. Estas consistem em maneiras de agir, pensar e sentir exteriores
ao indivíduo e dotadas de um poder coercitivo em virtude do qual se impõem
como obrigação. Logicamente, tais fatos, não poderiam ser confundidos com
fenômenos orgânicos, pois consistem em representações e ações; nem com
os fenômenos psíquicos, pois esses só existem na mente dos indivíduos e
devido a elas. Constituem, portanto, uma espécie diferente de fatos, que
devem ser classificados como fatos sociais”. (Adaptado de Émile Durkheim.
In: As regras do método sociológico. 6ª. ed. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1971)

Iniciamos esta unidade estudando os conceitos básicos da Sociologia, seu


objeto de estudo, seu caráter científico e suas relações com as demais ciências
sociais. Na próxima aula, conheceremos alguns de seus principais métodos e técnicas
de pesquisa.

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Aula 02_Métodos e técnicas de pesquisa

O objetivo desta aula é enfocar os principais métodos e técnicas de pesquisa


em Sociologia.
Quanto aos métodos os principais são:

1. Método histórico: Consiste em buscar as raízes de um fenômeno social no


passado. Por exemplo: para compreender a noção atual de família e parentesco,
pesquisa-se no passado os vários tipos de família e as fases de sua evolução social.
2. Método comparativo: Realiza comparações para verificar semelhanças e
diferenças. Exemplo: comparar a organização de empresas norte-americanas e
japonesas.
3. Método monográfico: Consiste no estudo de determinados indivíduos
(idosos), profissões (professores), condições (trabalho feminino), instituições
(empresas), grupos (índios Xavante), ou comunidades (cooperativa agropecuária)
com a finalidade de obter generalizações.
4. Método estatístico: que busca reduzir os fenômenos sociológicos, políticos,
econômicos, etc., a termos quantitativos e a termos de manipulação estatística. Por
exemplo, verificar a correlação entre o nível de escolaridade e número de filhos.
5. Método tipológico: criado pelo sociólogo Max Weber. Semelhante ao método
comparativo. Ao comparar fenômenos sociais complexos, o pesquisador cria tipos ou
modelos ideais que retém apenas os elementos essenciais do fenômeno. Por
exemplo: partindo de diversas formas de capitalismo, Weber chegou à caracterização
ideal típica do capitalismo moderno.
6. Método funcionalista: segundo o qual as partes são compreendidas em
função do papel que desempenham no todo. Por exemplo, averiguar a função dos
usos e costumes no sentido de assegurar a identidade cultural de um grupo.
7. Método estruturalista: partindo da investigação de um fenômeno concreto, a
mente constrói modelos que explicam a totalidade do fenômeno e sua variabilidade
aparente. O método analisa não os elementos em si, pois os elementos só adquirem
sentido no conjunto.

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Somente estas relações entre os fatos são invariáveis. A estrutura mental da
humanidade é a mesma, independentemente da raça, clima ou religião praticada.
Esse método foi desenvolvido por Lévi-Strauss, que analisa as estruturas elementares
de parentesco, nas sociedades primitivas e modernas.
Quanto às técnicas de pesquisa da Sociologia, Lakatos (2006) cita as
seguintes:

I. Documental: Trabalha com fontes primárias (arquivos, estatísticas oficiais, censos,


etc.) e secundárias (obras, jornais, etc.).
II. Sociometria: Descrição quantitativa das relações interpessoais visando descobrir
principalmente padrões de liderança.
III. História de vida: Consiste em obter dados referentes a determinada pessoa em
todas as fases da sua vida.
IV. Entrevista: Contato direto entre o pesquisador e o informante.
V. Questionário: Faz o levantamento de dados através de perguntas escritas sem
que haja contato do pesquisado com o investigador.
VI. Formulário: O pesquisador faz as perguntas e anota as respostas podendo
ampliar os dados com observações complementares.
VII. Observação: Pode ser sistemática (o pesquisador durante certo tempo, observa
sistematicamente os fenômenos de seu interesse) ou participante (o pesquisador
incorpora-se ao grupo que está estudando, participando de suas formas de vida).
Cada método implica o emprego de várias técnicas.

Reflexão

Pesquisa Datafolha, Folha de São Paulo, 28/7/2008.


Foram entrevistados 1541 brasileiros entre 16 e 25 anos, moradores de 168 cidades.
Margem de erros –3 pontos percentuais para mais ou para menos.

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Você considera que a Sociologia pode contribuir, através de seus métodos e


técnicas, para esse tipo de pesquisa? Entre os métodos e as técnicas estudados, qual
você identifica no levantamento realizado?
Estudamos nesta aula os principais métodos e técnicas de investigação da
Sociologia, em geral usados concomitantemente.

Na próxima aula, estudaremos a evolução histórica da Sociologia desde suas


origens até os dias atuais.

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Aula 03_Evolução histórica da Sociologia

Nesta aula iniciamos o estudo do desenvolvimento da Sociologia traçando um


breve histórico da fase denominada de pré-científica.
Desde a antiguidade, pensadores refletiram e escreveram sobre a sociedade.
Entretanto, não podem ser considerados sociólogos, pois sua principal preocupação
era propor sociedades ideais e não estudar as sociedades como ela eram.
Entre os pensadores gregos, Platão (429-341 a.C) imaginava uma sociedade
ideal governada pelos sábios e defendida pelos guerreiros. Aristóteles (384-322 a.C)
formulou a ideia de que o homem é um ser social por natureza. As obras desses
filósofos, “A República” de Platão e “A Política” de Aristóteles, são importantes estudos
sistemáticos da sociedade humana e exercem até hoje grande influência no
pensamento ocidental.
Na Idade Média, o pensamento estava estritamente ligado à Igreja Católica.
São importantes, como reflexão teórica sobre a sociedade, a obra de Santo Agostinho
(354-430), “A cidade de Deus” e de Santo Tomás de Aquino (1226-1274), a “Summa
theologica”, que apresentaram ideias e análises importantes e ajudaram a
fundamentar as modernas concepções jurídicas e sociológicas.
Durante o Renascimento, o pensamento sobre a vida social e política refletiu a
inquietude de um momento de transição. Foram desse período as obras “A Cidade do
Sol” de Tomás Campanella, “Utopia” de Tomás Morus, “Nova Atlântida” de Francis
Bacon, “O elogio da loucura” de Erasmo de Rotterdam e “O Príncipe” de Maquiavel.
Conforme afirma Costa (1987:22):
Nas obras de Tomás Morus e Maquiavel percebemos como as relações
sociais, voltam, após a predominância quase absoluta do pensamento místico
e teológico da Idade Média, a ser objeto de estudo e análise. A vida dos
homens já aparece, nessa obras, como resultado das condições econômicas
e políticas e não de sua fé ou de sua consciência individual.

O Renascimento correspondeu a uma primeira fase de sistematização do


pensamento burguês.
O pensamento do século XVII e XVIII foi pragmático e liberal, porque a
burguesia queria instaurar uma nova ordem econômica, política e social.

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Hobbes e Rousseau (1712-1778) explicam a origem da sociedade civil por um
contrato social que os homens teriam feito entre si. Locke (1632-104) e Montesquieu
(1689-1775) pregaram a divisão do Estado em três poderes, estabelecendo a mútua
fiscalização entre os poderes. Adam Smith (1723-1790), em sua obra A Riqueza das
Nações, afirma que o trabalho é capaz de transformar a matéria bruta em produtos
com valor de mercado, sendo a grande fonte de riqueza das nações.

O positivismo de Augusto Comte


Augusto Comte (1798-1857) é tradicionalmente considerado o pai da
Sociologia. Conforme afirma Della Torre (1980:31).
Augusto Comte deu maior ênfase à ideia de regularidade dos fatos sociais e,
por isso, criou uma nova ciência, que a princípio chamou física social e,
posteriormente,sociologia.
Ao caracterizar as fases da evolução da humanidade, Comte formulou a lei
dos três estados. Na primeira lição de seu “Curso de filosofia positiva” Comte afirma:

Esta lei consiste em que cada uma de nossas principais concepções, cada
ramo de nossos conhecimentos, passa sucessivamente por três estados
teóricos diferentes: o estado teológico ou fictício, o estado metafísico ou
abstrato, o estado científico ou positivo (...) No estado teológico, o espírito
humano (...) representa os fenômenos como produzidos pela ação direta e
contínua de agentes sobrenaturais (...) No estado metafísico, que no fundo é
uma simples modificação geral do primeiro, os agentes sobrenaturais são
substituídos por forças abstratas (...) Finalmente no estado positivo, o espírito
humano reconhecendo a impossibilidade de obter noções absolutas, renuncia
a procurar a origem e o destino do universo, assim como a conhecer as
causas íntimas dos fenômenos, para se dedicar unicamente a descobrir pelo
uso combinado da razão e da observação, suas leis efetivas, isto é, suas
relações invariáveis de sucessão e similitude. (Apud HUISMANN e VERGEZ,
p.293)

Comte inclui a Sociologia na sua classificação das ciências juntamente com a


Biologia, Química, Física e Matemática. A Matemática, como a mais geral e menos
complexa das ciências, por não ter sofrido grandes modificações ao longo do tempo

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e a Sociologia, por ser a menos geral e a mais complexa, cuja função é estudar as
leis sociais.
Conforme observa Castro (2008:23).

A partir de então [Comte] houve a tendência de substituir os procedimentos


filosóficos pelos científicos. Despontaram correntes visando explicar o social
com base em princípios evolucionistas (Spencer), organicistas (Lilienfeld,
Schäffle), psicológicos (Tarde), entre outros...

Reflexão

A valorização da razão e da observação empreendida por Comte, em seu


método positivo, originou uma nova visão da ciência que só considerava válido o
conhecimento comprovado. Este paradigma de ciência perdurou durante o século XIX
e início do XX.
Estudamos, nesta aula, a Sociologia pré-científica. Com Comte tivemos as
primeiras formulações objetivas sobre a sociabilidade humana, abrindo as portas para
uma nova concepção de realidade social com suas especificidades e regras. A
sistematização teórica e a metodologia da pesquisa só serão introduzidas por Émile
Durkheim.

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Aula 04_Evolução histórica da Sociologia - A Sociologia científica de Émile
Durkheim

O objetivo desta aula é estudar a contribuição de Émile Durkheim para a


constituição da Sociologia como ciência, enfocando o fato social e suas
especificidades e a questão do método.

Émile Durkheim (1858-1917)


Embora Comte seja considerado o pai da Sociologia, Durkheim é considerado
por muitos estudiosos o seu fundador. Conforme já estudamos na primeira aula,
Durkheim conseguiu definir os fatos sociais por suas características essenciais
(Exterioridade, Generalidade e Coercitividade). Além disso, conseguiu formular
orientações metodológicas para a sociologia, emancipando-a das filosofias sociais.
Lakatos dá exemplos esclarecedores para explicar as características dos fatos
sociais.
Quanto à exterioridade, exemplifica (LAKATOS, 2006):

Como cidadãos, ao atingirmos determinada idade, devemos cumprir


determinados deveres para com o Estado, que é anterior e independente de
nossa existência particular. Como filhos, já encontramos estabelecidas as
normas que regulam a instituição família em nossa sociedade. Se nos
tornarmos adeptos de uma particular religião, constatamos que seus dogmas
de fé e sua organização precederam a nossa existência e continuarão a
existir, mesmo que as reneguemos. Como comerciantes, verificamos que a
sociedade possui todo um código regulativo de nossa atividade nesse campo.
Se viermos a falecer, o Estado, a instituição família, o credo religioso e o
direito comercial continuarão a existir. (2006: pp.68, 69)

A coercitividade (drástica ou branda, direta ou indireta) é assim exemplificada:

“... se não quisermos exercer o direito e o dever de votar (...) essa coerção se
fará sentir através das sanções legais... Se, como comerciantes, deixarmos
de cumprir as obrigações legais que temos para com nossos fornecedores e
clientes, a sociedade exercerá sanções que podem consistir, inclusive, em
pena de prisão. (...) igualmente são eficazes o riso e a zombaria (...) quando

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nosso comportamento não constitui transgressão às leis, mas às convenções
da sociedade. No mundo dos negócios se não usarmos as modernas técnicas
para vencer nossos concorrentes, a lei não nos punirá, mas provavelmente
iremos à falência”.

Quanto à generalidade, a autora esclarece que:

Nas sociedades primitivas a generalidade do fato social é vista com maior


clareza em virtude da homogeneidade de seus grupos componentes e do fato
de a consciência coletiva dominar, quase totalmente, as consciências
individuais. Nas sociedades modernas, tecnologicamente desenvolvidas, a
generalidade do fato continua a existir (...) mas a relativa autonomia deixada
às consciências individuais faz com que essas sociedades congreguem
grupos que, sob determinados aspectos possuam caracteres distintivos. Por
esse motivo podemos falar em certa divergência encontrada nos costumes
de brasileiros do Norte e do Sul.

Para Durkheim, os fatos sociais devem ser tratados como “coisas”. Conforme
afirma Costa (1987:52):

Procurando garantir à Sociologia um método tão eficiente quanto o


desenvolvido pelas ciências naturais, Durkheim aconselha o sociólogo a
encarar os fatos sociais como coisas, isto é, objetos que, lhe sendo exteriores,
deveriam ser medidos, observados e comparados independentemente do que
os indivíduos pensassem ou declarassem a seu respeito. Tais formulações
seriam apenas opiniões, juízos de valor individual que podem servir de
indicadores dos fatos sociais, mas mascaram as leis da organização social,
cuja racionalidade só é acessível ao cientista.

Durkheim concebeu a sociedade como um conjunto e não como a soma de


indivíduos. A agregação e a fusão das mentalidades individuais produz uma unidade
distinta dos próprios indivíduos, chamada de “consciência coletiva”, “o tipo psíquico
da sociedade”. Ela se impõe aos indivíduos e define o que numa sociedade, é
considerado “moral”, “criminoso”, etc.
A sociedade, como todo organismo, apresenta estados normais e patológicos.
A generalidade de um fato social, isto é, sua unanimidade é garantia de normalidade,

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pois representa por consenso, a vontade coletiva. O crime, para Durkheim é um fato
social normal porque existe em todas as sociedades e em qualquer época. Além disso,
a consciência coletiva o repudia, fundamentada em valores sociais. Se um fato põe
em risco a harmonia da sociedade, consigo mesma e com as demais sociedades, é
considerado patológico, pois contraria os valores e condutas.
Para Durkheim, a Sociologia tinha por finalidade explicar a sociedade,
encontrar remédios para a vida social e comparar as diversas sociedades. Costa
(1987:56) esclarece porque Durkheim se distingue dos demais positivistas, afirmando:

O empiricismo positivista, que pusera os filósofos diante de uma realidade


social a ser especulada, transformou-se, segundo Durkheim, numa real
postura empírica, centrada naqueles fatos que poderiam ser observados,
mensurados e relacionados através de dados coletados diretamente pelo
cientista. Durkheim procurou, para isso, estabelecer os limites e as diferenças
entre a particularidade e a natureza dos acontecimentos filosóficos, históricos,
psicológicos e sociológicos. Elaborou um conjunto de conceitos e técnicas de
pesquisa que, embora norteados pelos princípios das ciências naturais,
guiavam o cientista para o discernimento de um objeto de estudo próprio e
dos meios adequados para interpretá-lo.

Reflexão
Pense: quais são os principais problemas que preocupam os sociólogos na
atualidade? É possível, em sua opinião, estudá-los cientificamente sem deixar que
nossos preconceitos e sentimentos impeçam uma visão objetiva dos mesmos,
Estudamos, nesta aula, a contribuição de Durkheim para a Sociologia. Ele se
distingue dos demais positivistas por ter ultrapassado a reflexão filosófica e buscado
as leis gerais para explicar a evolução das sociedades humanas. Definiu os fatos
sociais e suas características e, a partir daí, delineou o método de conhecimento da
Sociologia.

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Aula 05_Evolução histórica da Sociologia - Max Weber

Nesta aula estudaremos a contribuição de Max Weber para o pensamento


sociológico, o seu método científico e o papel que nele desempenha a interpretação
dos fatos sociais. Enfocaremos ainda o conceito de ação social e de ideal, tipos
criados por Weber.

Max Weber (1864-1920)


Sociólogo e cientista político alemão, Weber é considerado um dos fundadores
clássicos da Sociologia. A grande fonte filosófica na Alemanha não foi o positivismo,
mas o idealismo de Kant e Hegel que exerceram grande influência sobre o
pensamento sociológico. Essa influência mudou a concepção de objetividade do
conhecimento.

Método compreensivo
Conforme esclarece Costa (1989) “os acontecimentos não são apenas vividos,
mas também pensados e, consequentemente, a ciência não pode aprendê-los apenas
na sua exterioridade, mas também como são interiorizados pelos indivíduos”. O que
garante a cientificidade de uma explicação é o método de reflexão, não a objetividade
pura dos fatos. Os fatos sociais podem ser quantificados, mas a análise social envolve
sempre uma questão de qualidade, interpretação, subjetividade e compreensão.
Contrariando a visão positivista da história que anula as particularidades
históricas e os indivíduos, Weber considera a pesquisa histórica essencial para a
compreensão das sociedades, pois permite o entendimento das diferenças sociais
que seriam de gênese e de formação e não de estágios de evolução. O conhecimento
histórico, entendido por Weber como a busca de “evidências” é um poderoso
instrumento para o cientista social.
Weber propôs o método compreensivo, um esforço de interpretação dos dados
históricos esparsos e fragmentários. Para Julien Freund, o nome que se dá hoje ao
que Weber fazia em diferentes domínios das ciências humanas é hermenêutica1. Só
assim, o cientista pode dar um sentido à ação humana individual. Para Weber as

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Ciências Sociais têm certas vantagens sobre as Ciências Naturais porque podem
compreender as ações e intenções subjetivas dos membros dos grupos sociais.

A Ação Social
O ponto de partida da Sociologia weberiana não são os grupos e instituições,
mas a ação social, isto é, a conduta humana pública ou não que envolve significado
para o próprio agente. O homem dá sentido a sua ação social estabelecendo a
conexão entre o motivo da ação, a ação propriamente dita e seus efeitos.
Conforme esclarece Costa (1987:63):
Segundo Weber, a ordem social não difere nem se opõe aos indivíduos como
força exterior a eles, tal como pensava Durkheim: ao contrário, as normas
sociais só se tornam concretas quando se manifestam em cada indivíduo sob
a forma de motivação. Cada sujeito age levado por um motivo que se orienta
pela tradição, por interesses racionais ou pela emotividade.

O motivo, quando se manifesta na ação concreta, dá a ela um caráter –


“econômico”, “político”, etc. O objetivo que transparece na ação social permite
desvendar o seu sentido, que é social na medida em que cada indivíduo age levando
em conta a resposta ou reação de outros indivíduos.
Os efeitos que a ação social gera sobre a realidade em que ocorre, escapam
ao controle e à previsão do agente. Cabe ao cientista estabelecer conexões entre a
motivação dos indivíduos e os efeitos de sua ação no meio social.

O tipo ideal
O tipo ideal ou “idealtipo” é uma construção do pensamento que auxilia o
especialista em ciências humanas nas suas pesquisas.
Freund (1971:51) exemplifica:

A avareza é um conceito geral. Mas o ávaro que Moliére criou, é um tipo.


Harpagon não é o avarento médio; graças a um processo de aumento, de
exagero, de amplificação, Moliére lhe deu a significação de uma
individualidade característica: é uma espécie de avarento ideal. Não resume
os traços comuns aos avarentos, mas é um personagem estilizado, por
valorizar o que há de típico em tal comportamento. É de maneira análoga que
se deve entender o idealtipo de Weber, quando ele fala em sua definição, de

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uma acentuação ou de uma amplificação unilateral de pontos de vista, que
reúnem em um quadro de pensamento homogêneo traço e características de
uma realidade singular”.

É ainda Freud que explica que esse ideal tipo, é uma racionalização que não
existe em sua pureza na realidade empírica e concreta.
Entre os tipos ideais o capitalismo foi o que mais reteve a atenção de Weber.
Um de seus trabalhos mais conhecidos é “A ética protestante e o espírito do
capitalismo” no qual ele relaciona o papel do protestantismo na formação do
comportamento típico do capitalismo ocidental moderno. Weber descobre que os
valores do protestantismo (disciplina ascética, poupança, austeridade, dever e
propensão para o trabalho) criam uma nova mentalidade propícia ao capitalismo em
oposição ao alheamento e à atitude contemplativa do catolicismo.
O ideal tipo do capitalismo é uma racionalização que inclui os dados
característicos dessa doutrina econômica, mas na realidade concreta, alguns desses
dados podem estar ausentes ou se apresentar de maneira difusa. Compreende
também as tendências e fins do capitalismo mesmo que não tenham sido realizadas
em parte alguma. Importante é a singularidade e individualidade (capitalismo antigo,
moderno, europeu, etc.) dessa organização econômica. O ideal tipo não precisa
identificar-se com a realidade no sentido de exprimir conceitualmente essa realidade.
Pelo contrário, nos afasta dela para melhor dominá-la intelectual e cientificamente.
Além disso, o ideal tipo nada tem em comum com o ideal ético. Sua perfeição é de
ordem lógica e não moral.
Concluindo, para Weber, o ideal tipo não passa de um instrumento de medida
que o cientista cria segundo as necessidades de investigação. Um ideal tipo pode ser
abandonado ou substituído por outros mais apropriados. Não são em si mesmos
verdadeiros ou falsos, mas úteis ou inúteis para compreender a realidade.
Outros tipos ideais que podemos citar são a “burocracia”, tipo mais
característico do “domínio legal” e “patrimonialismo”, tipo mais característico do
“domínio tradicional” que veremos mais de perto em outro momento desse curso.
Os trabalhos de Weber foram muito importantes para a Sociologia e chamaram
a atenção para o papel da subjetividade na ação e na pesquisa social.

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Outros sociólogos alemães puseram em prática o método compreensivo de
Weber como Werner Sombart.

Reflexão
Você percebeu que o método proposto por Max Weber, o método
compreensivo, permitiu ultrapassar a visão positivista na Sociologia buscando
compreender o significado das ações do homem na sociedade, o que facilitou o
trabalho do sociólogo? Segundo Weber a Sociologia compreende, pela interpretação,
a atividade social e explica, causalmente, o desenvolvimento e os efeitos dessa
atividade.
Enfocamos, nesta aula, a contribuição de Max Weber para o pensamento
sociológico. O seu método científico prioriza não só a quantificação, mas também a
interpretação dos fatos sociais. O ponto de partida de sua sociologia não são os
grupos sociais, mas ação social, isto é, a conduta humana na qual o sociólogo deve
desvendar o sentido. O ideal tipo é um instrumento de medida que auxilia o
especialista em suas análises sociológicas.
¹ Hermenêutica: teoria ou filosofia da interpretação - capaz de tornar
compreensível o objeto de estudo, mais do que sua simples aparência ou
superficialidade. A palavra hermenêutica significa explicar ou interpretar. O termo
Hermenêutica, portanto, descreve simplesmente a prática da interpretação.

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Aula 06_Evolução histórica da Sociologia - Karl Marx

O objetivo desta aula é iniciar o estudo do pensamento de Karl Marx


considerando o contexto histórico em que ele viveu e produziu, assim como os
principais conceitos e teoria por ele elaborados.

1. Introdução: o meio liberal


No século XVIII, nasce uma incontestável aspiração à liberdade, igualdade e
propriedade. Tal é o sentido das Revoluções burguesas. Proclama-se a liberdade
individual, que explica uma prolongada desconfiança posterior para com toda
coligação (associações, sindicatos, etc.).
Para o liberalismo, o homem é naturalmente bom, existe também uma ordem
social, naturalmente boa, bastando individualizá-la e conformar-se a ela para que
reine o bem-estar social e um progresso contínuo (não dialético como em Marx), pois
essa ordem prossegue automaticamente em favor de todos. Surge daí a ideia
fundamental “laisser faire, laisser passer”, isto é, liberdade absoluta para todos os
indivíduos, liberdade de circulação dos produtos, interdição das corporações que
pudessem entravar a liberdade individual e a ordem natural. Os preços resultavam da
lei da oferta e da procura e a propriedade particular fazia a felicidade de todos.
No século XIX, o liberalismo torna-se mais dinâmico. Já não encara somente a
propriedade dos bens de raiz, mas também o banco, o crédito, a sociedade anônima.
A Escola clássica inglesa reage ao sistema econômico agrícola e considera o trabalho
como única fonte de riqueza. Entre as ideias do novo liberalismo estão: liberdade de
comércio e intercâmbio, de trabalho para homens, mulheres e crianças, sem
intervenção do Estado na regulamentação dos contratos entre patrão e empregado,
liberdade absoluta de produção e consumo, inaptidão do Estado para o mundo dos
negócios e, portanto supressão de alfândegas, aduanas, impostos, etc. A ação do
Estado deveria se limitar a assegurar a execução dos contratos, garantir a liberdade
individual mediante a segurança pública, a organização dos exércitos e garantir o
respeito ao sagrado direito de propriedade.
A experiência mostrou que as leis dos liberais não eram universais nem
eternas, pois a miséria oculta cresceu na medida do desenvolvimento dos países

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capitalistas e mostraram: a exploração do operário, a ruína das massas proletárias, a
desagregação da estrutura familiar, o incentivo à avareza, a criação de riquezas ilícitas
e imoderadas que põem em perigo a independência do Estado.
Daí a crítica ao liberalismo, crítica diversa, pois originou várias respostas, entre
as quais, a resposta marxista.

2. O Socialismo de Karl Marx


O que caracterizou as primeiras respostas socialistas (tanto na França como
na Inglaterra e Alemanha) contra o liberalismo é que elas não se apoiavam num
conhecimento real da condição operária, nem numa análise científica da vida
econômica. Somente em 1843, a escola histórica alemã, partindo de uma crítica do
liberalismo inglês (Malthus e Ricardo), propõe-se a fazer da economia política, uma
ciência do real, apoiada na estatística e na observação histórica.
A partir de 1843, Marx e Engels iniciam seus estudos apoiados nos
economistas ingleses (Adam Smith e David Ricardo). Em 1848 publicam o “Manifesto
Comunista”, marco inicial do socialismo científico. Fundamentado numa interpretação
da história (materialismo histórico-dialético) e na situação real do operário, o
socialismo tinha seu surgimento e desenvolvimento pré-determinado, isto é, a
sociedade socialista seria um acontecimento inevitável na história social humana
(determinismo histórico).
Na escolha do método, Marx reconhece sua dívida em relação à dialética
hegeliana. Para Hegel, a história é um processo coeso que envolve diversas
instâncias da sociedade e cuja dinâmica se dá por oposição entre forças antagônicas
(tese e antítese) de cujo embate emerge a síntese. Logo, os agentes sociais, apesar
de conscientes, não são os únicos responsáveis pela dinâmica dos acontecimentos.
Entretanto, Hegel é idealista, pois para ele o mundo nada mais é do que a
manifestação do Espírito Universal. Marx inverte a perspectiva hegeliana, tornando-
se um materialista.
O materialismo de Marx é econômico uma vez que as realidades econômicas
constituem a base das demais realidades. As condições determinantes de toda a
história humana são as relações de produção, base real do devir histórico.

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Marx afasta-se do materialismo grosseiro, pois a matéria é vista em suas
relações com o homem e no processo de desenvolvimento material, homem e matéria
se adaptam um ao outro (humanismo).
O materialismo marxista pode ser chamado instrumentalista. O pensamento
é sempre instrumental e o saber é antes de tudo “práxis”, pois a verdade não se
contempla, realiza-se. O homem que encontra a natureza é um pensamento engajado
na ação e, portanto no devir dialético.
Pelo trabalho, o homem se faz (evolução laboriosa), humaniza a natureza e
entra em comunhão com toda a humanidade. Mas, a paixão da apropriação privada e
o egoísmo que daí decorre, o imperialismo das nações, causam a alienação
econômica que impede o desenvolvimento do homem através do trabalho.

Reflexão
Considere o que você estudou nesta aula e reflita a respeito das duas frases
abaixo:
“Em um momento que o capitalismo atinge mais uma crise, e cogita-se um
sistema mais justo e igualitário, as ideias do filósofo alemão (Karl Marx) reassumem a
sua aspiração prática”. (Vânia N. Assunção. Revista Filosofia. Ciência & Vida).
“No capitalismo o que interessa não é quem precisa comer, mas quem tem
dinheiro para comprar a comida”. (Jacob Gorender, in: Marxismo hoje).
Nesta aula estudamos o socialismo de Karl Marx, uma das respostas aos
pressupostos do liberalismo dos séculos XVIII e XIX. O marxismo forneceu ao
proletariado uma visão da História, cujos elementos principais são os seguintes: na
sua base, o movimento histórico das sociedades é determinado pela luta de classes
geradas, por sua vez, por antagonismos de natureza econômica (relações de
produção). Por causa de Marx, milhões de homens recuperaram o gosto de viver,
descobriram que a sua vida tinha um sentido e o seu trabalho e as suas lutas uma
utilidade. Marx e Engels defenderam, no Manifesto Comunista de 1848, o papel
fundamental da luta de classes na História e o materialismo dialético como método de
análise da sociedade.

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Aula 07_Principais conceitos sociológicos de Karl Marx

Esta aula dá continuidade ao estudo da obra de Karl Marx abordando os


principais conceitos econômicos por ele elaborados e consagrados tanto na Economia
quanto na História e na Sociologia.

1. A ideia de alienação1
A ideia de alienação como domínio do econômico e social em dois sentidos:
enquanto desunião, discórdia e conflito ou como distância, afastamento e
despojamento, que é trabalhada por Marx foi fundamentada a partir das obras dos
filósofos alemães Hegel e Feuerbac.
A indústria, a propriedade privada e o trabalho assalariado alienariam,
separariam o operário dos “meios de produção” – ferramentas, matéria prima, terras
e máquina – e do fruto do seu trabalho, que se tornaram propriedade privada do
empresário capitalista. Politicamente, alguns homens eram despojados do poder, já
que o Estado, na sociedade de classes, representa apenas o interesse da classe
dominante. Além disso, o comprometimento do pensamento filosófico e científico com
o poder, expressa a visão de um grupo, impedindo o homem de pensar a sua realidade
e provocando uma nova forma de alienação.
A alienação fundamental – a da produção –, ou na linguagem de Marx, da infra-
estrutura, gera a alienação na ordem da superestrutura (pensamento humano, artes,
religião, direito). Tudo o que não é ciência pura é mistificação alienadora, uma falsa
perspectiva burguesa do mundo.

2. As classes sociais
Marx afirma na Parte I do “Manifesto Comunista,” que “A história de qualquer
sociedade até os nossos dias é a história da luta de classes”. Os inalienáveis direitos
de liberdade e justiça proclamados como naturais pelo liberalismo, caem por terra
quando as “relações de produção” dividem os homens em proprietários e não
proprietários dos meios de produção. Dessa divisão surgem as classes sociais: os
proletários despossuídos que vendem a força de trabalho em troca de salário e os

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capitalistas que “se apropriam” do produto do trabalho de seus operários em troca do
salário de que eles dependem para sobreviver.
A oposição entre essas duas classes (os demais núcleos sociais não
desempenham nenhum papel importante no modo de produção) derivam de seus
interesses inconciliáveis. Esse antagonismo nem sempre se manifesta socialmente
em forma de conflito ou guerra, mas está subjacente em toda relação social, nos
diversos níveis da sociedade e em todos os tempos.

3. O salário
No capitalismo, o operário se torna uma mercadoria, algo útil que se pode
comprar ou vender e o salário é o valor da sua força de trabalho. Como a força de
trabalho não é uma “coisa”, mas uma capacidade, inseparável do corpo do operário,
o salário deve corresponder à quantia que permita a subsistência do operário e sua
família. Conforme afirma COSTA (1987:76 -116):
O cálculo do salário depende do preço dos bens necessários à subsistência
do trabalhador. O tipo de bens necessários depende, por sua vez, dos hábitos
e costumes dos trabalhadores. Isso faz com que os salários variem de lugar
para lugar. Além disso, o salário depende ainda, da destreza e da habilidade
do próprio trabalhador. No cálculo do trabalho de um operário qualificado
deve-se computar o tempo que ele gastou com educação e treinamento para
desenvolver suas capacidades.

4. Trabalho, valor e lucro


O capitalismo transformou o trabalho em mercadoria, mas não uma mercadoria
qualquer. Ela é a única mercadoria capaz de criar valor conforme já tinham afirmado
os economistas ingleses ao perceberem o trabalho como a verdadeira fonte de
riqueza das sociedades.
Marx afirmou também que tudo que é criado pelo homem contém um trabalho
passado que pode renascer como meio de produção (uma agulha, por exemplo) e se
incorporar num novo produto.
Para Marx, o valor de uma mercadoria depende do tempo de trabalho
socialmente (técnicas vigentes, habilidades individuais médias) necessário a sua
produção. Por exemplo: o valor de um par de sapatos será a soma de todos os valores

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representados pelas mercadorias que entraram na produção (matéria prima,
instrumentos, força de trabalho).
O capitalista poderia lucrar aumentando o preço da venda do produto. Se o
sapato, por exemplo, vale $150,00, ele poderia vendê-lo por $200,00. Segundo Marx,
não é no âmbito da compra e venda que se encontram as bases estáveis para o lucro
individual do capitalista e para a manutenção do sistema. A valorização da mercadoria
se dá no âmbito da produção.
Suponhamos que o operário tenha uma jornada diária de nove horas e faça um
par de sapatos a cada três horas. Nessas 3 horas ele cria uma quantidade de valor
correspondente a seu salário, que é suficiente para obter o necessário à sua
subsistência. Nas outras seis horas, o operário produz mais mercadorias, que geram
um valor maior do que lhe foi pago. Esse valor excedente é a mais-valia, que é
apropriada pelo capitalista. Na indústria altamente mecanizada, as mesmas nove
horas de trabalho, podem produzir, por exemplo, 20 sapatos cuja qualidade depende
menos da técnica do trabalhador individual, o que implica na intensificação da
exploração e no aumento do lucro.

Reflexão
Os estudos de Marx a respeito do sistema capitalista constituem, ainda hoje,
referências fundamentais para o entendimento da dinâmica social.
Todas as conquistas do capitalismo são minimizadas quando se constata que
o progresso das nações capitalistas do primeiro mundo resulta da exploração que
essas nações exercem sobre os países emergentes. Em sua opinião, o capitalismo
representa uma solução para os problemas da humanidade?

Sugestão de filmes:-
Para ampliar sua visão sobre o tema, sugerimos que você assista aos filmes
“Tempos Modernos”, de Charles Chaplin e “Adeus Lênin”, de Wolfgang Becker.
Estudamos, nesta aula, os conceitos econômicos mais elaborados por Karl
Marx, salientando-se o de mais-valia, por meio do qual o filósofo desvendou a
exploração que o salário encobre. A transformação do trabalho em mercadoria sujeita

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às leis de mercado, fenômeno claramente configurado sob o capitalismo, também
constitui uma das contribuições importantes do filósofo.

_________
1 Alienação é a condição psico-sociológica de perda da identidade individual ou
coletiva decorrente de uma situação global de falta de autonomia. Encerra, portanto
uma dimensão objetiva - a realidade alienante - e a uma dimensão subjetiva -- o
sentimento do sujeito privado de algo que lhe é próprio.
http://www.estudantedefilosofia.com.br/conceitos/alienacao.php

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Aula 08_A Sociologia Contemporânea: Sociologia do desenvolvimento

O objetivo desta aula é estudar a contribuição da Sociologia no século XX


considerando as principais preocupações que mobilizaram os sociólogos e motivaram
seus estudos, ou seja, as repercussões sociais dos processos de internacionalização
do sistema capitalista e da industrialização.
No século XX, a internacionalização do capitalismo e a industrialização levaram
ao surgimento da Sociologia do Desenvolvimento.
As novas nações que surgiram nos continentes, asiático e africano, e as nações
latino-americanas surgidas no século XIX tiveram de desenvolver sistemas de
transporte e comunicação, mecanização da produção agrícola e formas de exploração
de recursos naturais e fontes de energia, já que se inseriram no contexto das relações
econômicas internacionais.
A modernização, a criação de uma burocracia estatal e o aparecimento de
novas classes sociais – o operariado e a burguesia nacional - dotaram essas novas
nações de uma estrutura semelhante à dos países industrializados. Todas as nações
pareciam marchar igualmente rumo ao desenvolvimento industrial. As diferenças se
expressariam apenas na velocidade do processo e no volume dos resultados
alcançados.
As nações capitalistas centrais puderam aprimorar suas tecnologias, tornando-
se maior a distância entre elas e as nações emergentes. Na nova sociedade da
abundância, inverte-se a relação entre produção e demanda. Os produtos superam a
demanda e surgem as crises decorrentes da superprodução e da especulação
financeira com reflexos mundiais.
A crise de 1929 e as Guerras Mundiais afetaram a capacidade produtiva das
nações “centrais” e alguns países periféricos formaram uma indústria nacional de bens
de consumo. A industrialização de São Paulo, feita com o capital gerado pela
exportação do café, é exemplo desse processo.
Com a recuperação das economias centrais, surgem as multinacionais.
Algumas empresas abrem filiais em países do Terceiro Mundo, incentivando o
surgimento de fábricas de componentes, de construção civil e de transportes e
impedindo o amplo desenvolvimento de indústrias de grande porte. São dessa época

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os grandes planos de desenvolvimento elaborados pelo governo brasileiro para abrir
estradas, construir usinas e outros projetos de modernização que facilitavam a
instalação das multinacionais.
Dois aspectos ficam claros nessa nova fase de expansão do capitalismo: o
fortalecimento do Estado, de quem dependia a modernização e o incentivo à indústria
nacional de artefatos subsidiários e a produção de grande porte dominada pelas
multinacionais. A indústria automobilística é a que melhor exemplifica esse processo.
Atualmente, o novo modelo econômico imposto pelo neoliberalismo, obriga a
abertura de mercado, ao criar grandes dificuldades para a indústria nacional, que é
pouco competitiva. Além disso, a diminuição das funções do Estado acaba por colocar
em cheque as indústrias nacionais dos países mais pobres, que contam com poucos
subsídios e empréstimos estatais.
Diante desse quadro, o pensamento sociológico criou novas perspectivas para
a análise das relações inter-societárias e novos conceitos para explicar os processos
que ocorriam nas diversas nações. A industrialização e o desenvolvimento econômico
passaram a constituir o objeto central de estudo dos sociólogos.
Nos países centrais, a Sociologia estuda os impasses e obstáculos ao
desenvolvimento. Surgem às teorias “desenvolvimentistas” para as quais as nações
desenvolvidas são modelos ou estágios superiores em que todo povo deve chegar.
Para esses sociólogos, entre os entraves que impedem o desenvolvimento capitalista,
estão, por exemplo, o clientelismo e as características étnicas e culturais dos povos
nativos. Os negros e índios foram responsabilizados pelo atraso do nosso continente
e as empresas familiares, com base nas relações tradicionais de parentesco e
amizade, também estariam fadadas ao fracasso.
O sociólogo William Rostow e outros representantes dos princípios
desenvolvimentistas desprezam as particularidades históricas de cada sociedade e
desconhecem que o processo histórico não é linear. Tanto a Índia, no século XVII,
como o Nordeste brasileiro, são exemplos de avanços e retrocessos de uma
sociedade.
Nos países do Terceiro Mundo, a Sociologia passou a analisar o mundo do
ponto de vista das nações periféricas. A Sociologia reelaborou os conceitos
aprendidos na Europa. Surgiram também novos conceitos, como os de “sociedade

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dual”, “periferia”, “marginalidade”, este último referindo-se ao setor que fica excluído
do processo de desenvolvimento tecnológico.
Hoje, as diversas teorias sociológicas tendem a compreender que o
desenvolvimento de uma nação é fruto também de sua história e de suas condições
internas e não apenas das relações internacionais nas quais está inserida.

Sugestão de filme:-
Nas últimas Olimpíadas de Pequim, pudemos ver a alta tecnologia e a
modernização da China. O filme “O último imperador” (1987, dirigido por Bernardo
Bertolucci), relata as transformações ocorridas no Oriente com a expansão do
capitalismo, abalando as relações tradicionais existentes na China. O filme mostra o
choque entre a cultura chinesa tradicional e a modernização do país. Vale a pena
conferir.
Estudamos nesta aula, os novos rumos da Sociologia, tomando como objeto a
internacionalização do capitalismo e da industrialização. Nos países “centrais”,
surgem as teorias “desenvolvimentistas” e, nos países “periféricos”, a preocupação
dos sociólogos é com estudos que expliquem os processos de “exclusão” e os
problemas causados pelo desenvolvimento industrial e tecnológico desigual.

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Aula 9_A Sociologia Contemporânea: Outros modelos de interpretação

Nesta aula estudaremos o desenvolvimento da Sociologia, no mundo


contemporâneo, abordando os principais autores e teorias elaboradas após as duas
grandes guerras mundiais.
Depois das duas guerras mundiais, a produção científica europeia sofreu um
duro golpe e dissolveram-se os grupos de pesquisa. Nos anos de 1960, apareceram
tendências menos dogmáticas, mais militantes e de âmbito internacional. A ascensão
dos Estados Unidos repercutiu no rumo das pesquisas sociológicas e apareceram
estudos mais pragmáticos, preocupados com os temas da integração social, controle
da violência, planificação urbana e empresarial.
Novos modelos de explicação sociológica surgem na Europa e Estados Unidos.
A Sociologia busca a interdisciplinaridade, aproxima-se das ciências humanas e
afasta-se das ciências exatas e biológicas que lhe serviram de modelo no século XIX.
Além disso, as novas teorias buscam resolver a oposição entre indivíduo e sociedade.
Privilegiar o indivíduo e suas motivações implica recortes mais reduzidos, teorias
menos abrangentes e métodos de pesquisa mais interpretativos, históricos e
qualitativos.
Nos Estados Unidos, a Escola de Chicago dedicou-se especialmente ao
estudo da cidade, que acabou resultando em uma sociologia ao mesmo tempo urbana
e pragmática. George Simmel procurou entender da cidade “seu estado de espírito”,
suas motivações, mobilidades e ritmos de vida. George Mead valorizou o caráter
simbólico e subjetivo da ação social na vertente denominada “interacionismo social”.
A partir de 1935, uma nova vertente se destacou em Chicago, representada por
Robert Merton e Talcott Parsons. As pesquisas priorizavam o empirismo, resultavam
em relatórios pormenorizados e propostas de intervenção que geralmente eram
colocadas em prática.
Um dos principais sociólogos norte-americanos, Robert Merton, aconselhava o
abandono das análises universais, buscando teorias de médio alcance aplicadas a
objetos limitados como desvios de comportamento, controle social, etc.
Merton desenvolveu novos conceitos funcionais como a noção de “equivalente
funcional” (o curandeirismo, por exemplo, pode substituir um tratamento médico

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adequado), “disfunção” (na Índia a proibição do abate da vaca, animal sagrado agrava
o problema da desnutrição), estabelecendo a distinção entre “função manifesta” e
“latente”. 1
Talcott Parsons (1902-1979) foi seguramente o sociólogo norte-americano
mais conhecido. A ideia de sociedade como sistema de partes inter-relacionadas, com
limites e tendendo geralmente a manter um equilíbrio, ideia construída no século XVII,
influenciou sociólogos até nossos dias e é encontrada na obra de Parsons.
Conforme nos explica CASTRO (2008:132), para Parsons: “Sistema social é
uma pluralidade de indivíduos motivados por uma tendência à satisfação máxima e
cuja inter-relação, quanto a esta situação, define-se em termos de um sistema de
padrões culturalmente estruturados e compartilhados”. Vários mecanismos de
controle são exigidos para enfrentar aberrações e tensões (comportamento
delinquente e criminoso, por exemplo), pressões externas ao sistema.
Em geral, seus críticos entenderam-no como um pensador conservador,
preocupado basicamente com o bom ordenamento da sociedade, sem ter muita
tolerância para com a desconformidade. Sua obsessão era determinar a função que
os indivíduos desempenhavam na estrutura social visando a excelência das coisas.
Expressões como “adaptação”, “integração”, “manutenção”, largamente
utilizadas por Talcott Parsons, colocam-no claramente no campo conservador do
pensamento sociológico, tornando inevitável que sua teoria privilegiasse a coesão, a
adaptação e a estabilidade familiar.
Apesar de ter perdido seu brilho quando enveredou para pesquisas
quantitativas, as contribuições da Escola de Chicago para a Sociologia são
incontestáveis.
Na Europa, a Escola de Frankfurt, ligada à Universidade alemã de Frankfurt,
orientou suas pesquisas para a ação revolucionária e a análise da mercantilização
das relações sociais e da produção cultural. Críticos severos dos meios de
comunicação, aos quais atribuem o sucesso do nazismo na Alemanha, dedicam-se
ao estudo desses meios e criam o conceito de indústria cultural – produção
tecnológica, lucrativa, planejada e em série de bens simbólicos. Os principais
representantes desta escola são: Horkheimer, Adorno, Marcuse, Walter Benjamin e
Eric Fromm.

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De outra geração da mesma escola é Jürgen Habermas, cujas preocupações
se voltaram para os condicionamentos do conhecimento que o levaram à conclusão
de que a neutralidade científica, proposta por muitos sociólogos, era impossível.
Habermas identificou dois tipos de razão na cultura humana: a razão
instrumental, voltada para o domínio da natureza e a superação dos limites humanos
e a razão comunicativa, voltada para a realização e a libertação humanas. Na
sociedade contemporânea, prevalece a razão instrumental que impede que os
homens se comuniquem e cheguem a um consenso.
O nome que mais se distinguiu na sociologia francesa contemporânea foi
Pierre Bourdieu, titular da cátedra de Sociologia no Collège de France que direcionou
suas pesquisas para a análise da educação e do patrimônio cultural das famílias
francesas.
A sociologia de Bourdieu estuda a lógica da dominação social nas sociedades
de classe e os mecanismos pelos quais ela se constitui, ela se disfarçou e se
perpetuou. Seus estudos tiveram uma ampla base empírica, ou seja,desenvolveram
uma sociologia da prática. Para ele, o que o mundo social fez, somente ele armado
do saber sociológico para poder desfazer.
Nesta aula você viu alguns modelos de explicação sociológica que apareceram
depois das grandes guerras. Nos Estados Unidos surgiram os estudos pragmáticos.
Mas, de modo geral, a Sociologia se aproxima das ciências humanas num projeto
interdisciplinar que busca resolver a oposição entre indivíduo e sociedade. Quanto
aos métodos, eles ocupam lugar de destaque nas abordagens históricas e
qualitativas.

Reflexão
Os sociólogos estudados nesta unidade como, por exemplo, Weber, Merton e
Parsons trabalharam com modelos teóricos voltados para a análise e a interpretação
de fenômenos e não visaram estabelecer normas práticas para sua administração.
Provocaram reflexões sobre a realidade existente e não estabeleceram modelos a
serem seguidos.
Ao contrário, Taylor, Fayol, Drucker e outros teóricos, objetivaram a
administração em si e serão estudados na Unidade II.

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1 Ritos da chuva entre os índios que serviriam para reforçar a identidade do grupo
embora não tenha efeito sobre as condições meteorológicas.

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Aula 10_ A Sociologia Contemporânea: Teorias da globalização

Nesta aula abordaremos a contribuição da Sociologia na atual fase do


desenvolvimento do sistema capitalista, ou seja, a da globalização, enfocando o
pensamento de alguns autores que se destacaram nas análises sobre as
repercussões sociais do referido processo. É importante salientarmos que nos
baseamos na obra de Cristina Costa (2005) para a elaboração desta aula.
Para Otávio Ianni1, vivemos o terceiro momento do capitalismo, denominado de
globalização. Este momento se caracteriza pela decadência dos modelos alternativos
ao capitalismo, pelo enfraquecimento dos Estados Nacionais, pelo abalo das
identidades regionais e nacionais. A informática revolucionaria a produção de bens e
a divisão internacional do trabalho com o advento da comunicação de massa, por meio
das mídias digitais.
O desenvolvimento da informática, da automação e das telecomunicações
significou uma radical transformação na maneira de se conceber os processos
produtivos que se tornaram mais integrados, centralizados e planejados. A agilidade
da produção, das trocas comerciais e dos fluxos financeiros deu novo ritmo à
economia, propiciando a mercantilização das relações sociais e fazendo surgir uma
nova mercadoria que circularia pelas redes de comunicação, a informação, ou seja,
qualquer dado que tenha valor para uma pessoa ou grupo de pessoas, dispostas a
pagar para obtê-lo.
O investimento nas comunicações cresceu aceleradamente e as antigas
regulamentações que organizavam o trabalho, a produção e as relações entre as
pessoas se dissolvem.
A informatização propiciou modificações radicais nos processos produtivos,
levando a uma reengenharia industrial com a adoção de sistemas automatizados que
geraram desemprego, obsolescência de tecnologias e de profissões.
As consequências desse processo são: o crescimento da economia informal, a
exclusão social e o empobrecimento de certos países e regiões.
As tecnologias da informação promovem, no mundo globalizado, fusões de
empresas, departamentos e processos produtivos. As unidades são substituídas por
setores da produção, que trabalham em redes de departamentos, de empresas

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conjugadas, de fornecedores, de clientes e de consumidores. Todas essas
conjugações se baseiam em conexões tecnológicas que geram um novo princípio de
pertencimento, muito diferente do nacionalismo, da vizinhança ou do parentesco.
Pertencer, estar perto é conectar-se, é ter a senha ou o código de acesso2.
Esse processo de globalização e o advento das mídias digitais e da
comunicação em rede são os temas de uma nova geração de sociólogos europeus,
entre os quais se destacam Manuel Castells, Antony Giddens.
Para Castells vivemos a fase do capitalismo informacional, porque a geração
de riqueza, através da produtividade e da competitividade de empresas, países,
regiões, pessoas, depende, sobretudo, de informação e conhecimento e da
capacidade tecnológica de processar essa informação e gerar conhecimento. Além
do mais, é realmente, um capitalismo global que pela primeira vez na história da
humanidade funciona em rede. Ou seja, tem uma nova forma organizacional,
altamente flexível, altamente dinâmica, que, ao mesmo tempo, inclui o que vale e
exclui o que não vale.
Partindo de dados empíricos, Castells conclui que nos últimos 10 anos, tivemos
um aumento substancial de produtividade, de crescimento de valor econômico, de
desenvolvimento tecnológico sem precedentes. Ao mesmo tempo, tivemos um
extraordinário aumento de desigualdade social, de polarização, de exclusão social, no
conjunto do planeta, na maioria dos países e dentro dos países. A sustentabilidade
desse sistema depende de dois elementos. Em primeiro lugar, da possibilidade de
ampliação de mercado, pois um sistema tão dinâmico, precisa integrar pessoas para
poder ter um consumo que permita o desenvolvimento.
Em segundo lugar, para poder entrar nesse mercado, as pessoas precisam ser
produtivas e produtoras. Para isso, fazem falta, ao mesmo tempo, infraestrutura
tecnológica e capacidade educativa. As pessoas sem educação não podem ser
trabalhadores e, portanto, consumidores desse sistema novo.
Quanto ao desemprego, Castells esclarece que as novas tecnologias, como
tais, não destroem empregos. Existe desemprego estrutural, mas não devido às novas
tecnologias. A causa do desemprego é, em primeiro lugar, a estrutura da população,
ou seja, a chegada de uma população jovem e a entrada maciça da mulher no trabalho
remunerado.

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Em segundo lugar, há um problema de reestruturação produtiva, isto é, certo
tipo de indústria e certo tipo de produto vão esgotando seu mercado. E não é aí que
se geram os empregos. Em São Paulo, por exemplo, há uma parte da velha indústria
(o mesmo ocorreu em Detroit e na região do Ruhr alemão), que não tem
competitividade, porque há uma mudança de tecnologia industrial e uma mudança de
mercado. Este fato gera desemprego em São Paulo. Mas, ao mesmo tempo, há outras
indústrias, em outros lugares, que geram emprego.
Em Santa Rita, Minas Gerais, sessenta e cinco novas empresas de eletrônica
e telecomunicações geram empregos de alto nível. Isso, para as pessoas que vivem
esse processo de mudança não é um consolo e os governos devem apoiar essas
pessoas, nesse momento de transição.
O que muda é o tipo de emprego, o tipo de relação trabalhista. O emprego
estável, de longo prazo, em uma empresa, com uma progressão previsível é
substituído pelo emprego flexível, que deve se adaptar constantemente às novas
indústrias, às novas relações trabalhistas e às novas tecnologias. Naquelas
sociedades, em que um setor de emprego, continuava sendo protegido, sem
exposição direta à competitividade, havia a falta de investimento de capital para criar
novos postos de trabalho. Pois, como o capital é global e o trabalho também, investe-
se o capital onde se pode criar empregos flexíveis, aos que não se está atado pelo
resto da vida. Este é o verdadeiro problema do desemprego.
Hoje, os conflitos sociais são reativos, defensivos. Os fluxos de informação, os
fluxos de capital, dissolvem as bases materiais da existência das pessoas e os
conflitos começam no nível de identidade dos valores e não se reduzem às
reivindicações econômicas

Comunidades Virtuais
Por comunidade virtual entende-se a comunicação entre as pessoas através
de meios eletrônicos. Nesse sentido, o que se estudou empiricamente mostra que
essa nova forma de comunicação não debilita as relações sociais, não é responsável
pela crise do Estado Nacional. A tecnologia não determina a sociedade, nem agora e
nem nunca. O que acontece é que nada do que fazemos se poderia fazer sem essa
tecnologia. Mas o que fazemos depende de nossa vontade.

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Existe luta, mas não luta de classes. A contradição fundamental não é que um
patrão tire dinheiro de um trabalhador, mas que toda nossa vida seja organizada com
base nas diferentes taxas de financiamento em um mercado financeiro global.
Para Castells, apesar da crescente desigualdade, um capitalismo informacional
com face humana não é uma quimera, uma utopia. Existem alguns projetos políticos
que tentam negociar, que tentam reconstruir. Onde há dominação, há resistência e
onde existe exploração, há a capacidade de reorganização da sociedade. Essa é a
história humana e temos que ver como ela se desenvolve, nos próximos anos.
O movimento ecológico, o movimento feminista, as tentativas de articulação
entre política do Estado e política de informação, como na Finlândia e em alguns
países da América Latina, de alguma forma, não são medievalistas. Há embriões de
resistência, mas não sabemos quais serão seus resultados, porque a História não se
escreve de antemão. Para Castells, a História se vive, se faz e, depois, os sociólogos,
interpretam-na.
Anthony Giddens, sociólogo inglês, é diretor da Escola de Economia de
Londres, uma das mais antigas e tradicionais do mundo, e é também professor de
sociologia da Universidade de Cambridge. Intelectual influente foi um dos principais
responsáveis pela mudança de discurso que levou o Partido Trabalhista inglês de
volta ao poder na Inglaterra.
Giddens detalha em sua extensa obra, o ideário da “terceira via”, a sua
preocupação em procurar o sentido das três grandes revoluções deste final de século:
a globalização, as transformações da intimidade e a mudança do relacionamento do
homem com a natureza. A partir dessas análises, Giddens propõe a elaboração de
políticas que sejam realistas, mas que não deixem de ser radicais; que não abram
mão da solidariedade e da inclusão social, ideais ameaçados pela visão de mercado,
que estimula o comportamento cada vez mais individualista no mundo.
Para muitos críticos do neoliberalismo, a expressão “terceira via”, tanto na
Europa Ocidental e mesmo nos Estados Unidos, é um nome alternativo para o próprio
neoliberalismo, que nada mais é que um regresso ao liberalismo sob uma capa
aparentemente modernizadora. Aqui no Brasil, “terceira via” seria uma alternativa
entre o neoliberalismo do PSDB e o neoliberalismo do PT.

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De qualquer maneira, para a Sociologia, a importância de Giddens é a sua
análise da sociedade contemporânea e das novas relações sociais nascidas no
contexto da globalização, com o advento das mídias digitais e da comunicação em
rede.

Reflexão
O progresso trouxe o desequilíbrio ecológico e a opulência não resolveu o
problema da miséria e da exclusão. Podemos cobrar do cientista social técnicas e
tecnologias seguras para planejar as ações e intervir com sucesso na nossa realidade
social?
Nesta aula você estudou que o desenvolvimento da informática, da automação
e das telecomunicações, caracterizou um novo momento do capitalismo chamado de
globalização. Os processos produtivos passam por transformações radicais, o que
obriga uma nova geração de sociólogos a repensar as relações sociais. Castells
levanta as condições de sustentabilidade do capitalismo informacional e Giddens
busca uma “terceira via” para fazer frente ao novo cenário mundial.

_______________________________

1 Um importante sociólogo brasileiro.

2 Condensado de COSTA, Cristina. Op.cit.

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Aula 11_A Sociologia no Brasil

O objetivo desta aula é apresentar o desenvolvimento da Sociologia no Brasil,


o que ocorreu no século XX, destacando os principais autores e obras que marcaram
o processo.
A Sociologia como conhecimento metódico e sistemático da sociedade, se
desenvolveu no Brasil na década de 1930 com a fundação da Universidade de São
Paulo. A criação das faculdades de Filosofia favoreceu áreas de investigação como a
Sociologia, a Política, a Antropologia, a Geografia e a Economia.
A chamada “geração de 1930” se caracterizou pelo “Redescobrimento do
Brasil”, isto é, aparecem novas interpretações da realidade brasileira que se afastam
dos estudos anteriores, que viam o Brasil sob a ótica europeia. Esse momento é
marcado pelo surgimento das obras de Caio Prado Junior (1933), Gilberto Freire
(1933), Sérgio Buarque de Holanda (1936) e Fernando de Azevedo (1937).
A obra de Caio Prado Junior, “Evolução Política do Brasil”, faz uma crítica à
historiografia brasileira e se preocupa em explicar a realidade brasileira a partir das
bases materiais. No dizer de Carlos Guilherme Mota (1977) as classes emergiram
pela primeira vez nos horizontes de explicação da realidade social brasileira –
enquanto “categoria analítica”, mostrando sua preocupação em analisar a realidade
nos moldes do método marxista.
Sérgio Buarque de Holanda escreveu “Raízes do Brasil”, ensaio sociológico
sobre o caráter nacional brasileiro. Segundo Costa (2006) “foi um dos primeiros
autores a utilizar o instrumental tipológico de Weber na análise histórica e social do
país”.
Antropólogo, sociólogo e escritor, Gilberto Freire foi o pioneiro da abordagem
cultural no estudo da formação da sociedade brasileira. Mais divulgada e comentada,
sua obra “Casa Grande e Senzala”, renovou a teoria social, apresentando ideias que
se contrapunham ao racismo, então vigente, que atribuía o atraso da sociedade
brasileira à presença dos negros e dos índios e à sua mistura com os europeus na
formação do nosso povo, gerando o mestiço.
Freire atribuía a riqueza e a força cultural dos brasileiros justamente à mistura
de raças, valorizando o mestiço, antes considerado como raça degenerada. Foi o

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primeiro que abordou a hoje chamada “história das mentalidades” ao descrever os
costumes, a moda, a vida íntima e sexual, a alimentação, etc.
Fernando de Azevedo teve um papel importante na criação da Universidade de
São Paulo e foi um dos primeiros mestres de Sociologia naquela instituição. Sua
principal obra “A Cultura Brasileira” (1943), retoma o tema da unidade nacional
fundada nas diferenças étnicas, regionais e culturais. Ele teve uma importante
participação em postos chaves da administração escolar e participou do Manifesto
dos Pioneiros da Educação Nova (1932) e sua fidelidade à educação laica
permaneceu como paradigma das campanhas em defesa da Escola Pública nos fins
dos anos de 1950.
Na década de 1930, o Brasil passou por grandes mudanças na estrutura
econômica, política e social, redefinindo-se a divisão social do trabalho e as Ciências
Sociais deixaram a vocação ensaística do período anterior para se firmarem como
conhecimento científico e disciplina acadêmica.
Em São Paulo, a Escola Livre de Sociologia e Política (1933) se inspira na
Sociologia norte-americana e principalmente no empirismo da Escola de Chicago. A
USP (1934) recebe a chamada “missão francesa” composta por Lévi-Strauss, Roger
Bastide, Braudel e outros que dão ênfase aos estudos culturais. Esses
acontecimentos foram importantes para a formação de um grupo de sociólogos que,
na década seguinte, passara a desenvolver importantes pesquisas sociológicas.
Na década de 1940, depois da Segunda Guerra Mundial, o mundo se dividiu
em dois blocos sob o controle político e ideológico dos Estados Unidos e da União
Soviética. Também mudaram o cenário mundial, a descolonização da África e da Ásia
e a emergência de novas nações.
No Brasil, o desenvolvimento da industrialização transformava as relações
sociais entre classes, entre setores e regiões. As regiões agrícolas tornavam-se cada
vez mais dependentes do Sudeste industrializado.
O pensamento sociológico ficou atento a estas mudanças e refletia sobre o
conflito de raças e etnias, condições do imigrante e do migrante nacional,
desigualdades sociais, políticas indigenistas, regionalismos, tradições. O país adquiria
consciência de sua complexidade, buscava sua identidade superando a tendência de
se identificar econômica e culturalmente com a Europa.

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É também neste período que surgem os “brazilianistas” intelectuais
estrangeiros que passam a estudar o Brasil para descobrir estruturas sociais
diferentes de seus países de origem. Há também a preocupação dos sociólogos
latino-americanos de buscar uma identidade do continente.
No pós-guerra, muitos cientistas europeus se transferiram para os Estados
Unidos e os grupos de pesquisa ligados às universidades europeias se dissolveram.
Os sociólogos brasileiros se distanciaram dos centros universitários franceses e se
voltaram para as pesquisas sobre a especificidade do Brasil.
A década de 1950 é marcada por dois grandes pensadores: Florestan
Fernandes e Celso Furtado.
Florestan Fernandes era um “sociólogo militante” preocupado sempre em unir
a teoria com a prática. Teve influência marxista, mas não hesitou em buscar recursos
em autores não-marxistas como Weber e Mannhein. Os grandes temas de sua
investigação foram capitalismo, escravismo, racismo, subdesenvolvimento,
dependência, Estado, formação do proletariado, planejamento, etc. Conforme afirma
MOTA (1977):
Nunca uma equipe de trabalho científico terá ido tão fundo, no Brasil, quanto
a de Florestan, nas investigações sobre a passagem essencial do modo de
produção escravista para a sociedade de classes: não será difícil entender
que, por esse exato motivo, não foi tolerada pelo sistema.

De sua vasta obra destacamos “Fundamentos empíricos da explicação


sociológica” e a “Sociologia numa era de revolução social” que indicam a preocupação
que Florestan teve com a implantação da ciência no Brasil, especialmente com a
Sociologia.
Celso Furtado foi o grande inovador do pensamento econômico no Brasil e na
América Latina. Propõe uma interpretação histórica da realidade econômica e, em
especial, do subdesenvolvimento, entendidos como fruto de relações internacionais
(capitalismo internacional). Antes dele, o pensamento brasileiro valia-se de
interpretações da economia, abstratas e a históricas (lei da oferta e da procura, por
exemplo) que justificavam medidas governamentais que favoreciam as classes
dominantes.

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Celso Furtado exerceu grande influência no pensamento econômico brasileiro
e sua obra mais famosa é “Formação econômica do Brasil”.
De 1940 a 1960, as ciências sociais denunciaram as desigualdades sociais, as
relações de opressão, a exploração entre regiões, classes e países. Desenvolveram
um pensamento crítico e revelador dos conflitos sociais.
O golpe militar de 1964 teve repercussões negativas no desenvolvimento das
ciências sociais. Com o Ato Institucional n° 5 (1968), que implantou legalmente a
ditadura militar no país, os principais nomes da Sociologia brasileira foram impedidos
de lecionar e expressar seu pensamento. Muitos continuaram trabalhando no exterior.
Outros formaram núcleos de pesquisa dentro ou fora da Universidade. Conforme
afirma Costa (2005:315) “o amadurecimento da sociologia e de seu papel na reflexão
sobre a sociedade brasileira foi violentamente interrompido”.
Nos anos de 1980, com a abertura política, muitos cientistas sociais, deixam a
cátedra e ingressam na política. Entre eles, Florestan Fernandes, Francisco Weffort,
Antonio Candido, Fernando Henrique Cardoso, Darcy Ribeiro, este último, importante
antropólogo que se dedicou ao estudo da questão indígena.
Nesta década, apareceram novos objetos de estudo como a condição feminina,
o menor, as favelas, a violência rural e urbana e desenvolveu-se muito a sociologia
da arte. A sociologia se enriqueceu em termos metodológicos ao dialogar com as
demais ciências sociais, principalmente com a Antropologia, mas “perdeu em
complexidade, o fortalecimento da disciplina como processo de entendimento da
realidade e no alcance de suas teorias” (Costa: 2005, p. 316).
Com a queda do Muro de Berlim e a desagregação da União Soviética, há um
declínio nos estudos sociais, fortemente identificados, muitas vezes de forma acrítica,
com a experiência socialista. Hoje, os sociólogos buscam novos conceitos para
entender o mundo globalizado.
Conforme explica Martins, “ao lado de uma sociologia que estendeu suas mãos
ao poder (...) têm surgido novas gerações de cientistas sociais que procuram realizar
com seus trabalhos uma autêntica crítica da dominação burguesa, buscando combinar
a alteração da ordem com a sua explicação” (2007: 81 ss).

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Nesta unidade você estudou o desenvolvimento da Sociologia no Brasil que
teve início com a “geração de 1930” quando os sociólogos passam a estudar o Brasil
a partir de suas bases materiais e não mais sob a ótica europeia.
Na década de 1940, os sociólogos ficaram atentos às mudanças ocorridas
depois da Segunda Guerra Mundial. O Brasil adquiria consciência de sua
complexidade e buscava sua identidade.
Em 1950, Florestan Fernandes e Celso Furtado desenvolvem um pensamento
crítico e revelador dos conflitos sociais brasileiros.
Interrompidos os estudos sociais durante os anos da ditadura militar, em 1980,
a Sociologia se debruça sobre novos objetos e dialoga com as demais ciências
sociais.
Hoje, uma nova geração e sociólogos, busca novos conceitos para entender o
Brasil no contexto do mundo globalizado.

Reflexão
Na década de 1980, a ciência brasileira estava muito atrasada em relação aos
grandes centros internacionais, onde a ciência avançava, amparada pelo Estado. Para
o regime militar, a ciência deveria estar desligada do mundo real e o cientista brasileiro
deveria absorver a ciência e tecnologia criada pelos países desenvolvidos e não
perder tempo tentando “reinventar a roda”.
Reflita sobre as relações entre Política e Ciência.

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Aula 12_Sociologia Aplicada à Administração

O objetivo desta aula é estudar a Sociologia da Administração e o que a


caracteriza como um campo da Sociologia geral e aplicada.

1.Sociologia teórica e Sociologia aplicada


Os primeiros pensadores que se debruçaram sobre o conhecimento da
sociedade, desvincularam seus estudos de uma aplicação imediata. Já, Comte e
Durkheim começaram a se preocupar com os resultados práticos de suas
investigações.
Com o tempo, o desenvolvimento das técnicas de pesquisa foi ganhando maior
espaço. O primeiro quartel do século XX foi um dos mais propícios para o
desenvolvimento não só da sociologia teórica, mas das pesquisas empíricas que
aplicavam à realidade dos dados obtidos cientificamente.
No período entre as guerras, muitos cientistas europeus refugiaram-se nos
Estados Unidos e a Sociologia neste país priorizou as pesquisas de campo. Foi grande
o desenvolvimento da Sociologia aplicada. Castro (2008) esclarece a dupla finalidade
da Sociologia aplicada – teorizar e intervir – quando afirma:

Teorizar é a finalidade explicativa, que insere os problemas na tessitura que


lhes é própria, visando o equacionamento na perspectiva da estrutura –
manutenção do status quo – ou da mudança social – transformações
estruturais – de acordo com as regularidades tendenciais (...). Daí as teorias
concluírem indicativamente, apontando as tendências para a ocorrência de
determinado fato. Intervir é uma finalidade de características terapêuticas.
Aponta (...) as opções para equacionamento e solução desses problemas.
Castro lembra que essa intervenção é racional e não política. A Sociologia
atua de modo indicativo, apontando caminhos para a decisão. A decisão, um
ato político, cabe ao empresário. Assim, quando se fala em intervenção
sociológica, o trabalho consiste em “estudar metódica e sistematicamente a
realidade, procurando descobrir as tendências de manutenção estrutural e de
mudanças, inserindo-as no contexto que lhe é próprio” (Castro, 2008:27).

2. Sociologia Aplicada à Administração

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A Sociologia Aplicada à Administração é uma das ramificações da Sociologia
Aplicada. Suas pesquisas são feitas em empresas, igrejas, escolas, prisões, hospitais,
órgãos de governo e outras organizações formais. Nelas, afirma Bernardes, “foram
estudados o poder, a liderança, a resistência as mudanças, a conformidade às
normas, o surgimento dos grupos informais, o aumento da participação das mulheres
e muitos outros fatos sociais” (2005).
Esses assuntos interessam supervisores, gerentes, diretores e candidatos a
esses cargos. A razão, segundo Bernardes é simples, pois “o administrador tem a
função de influenciar e coordenar pessoas pertencentes a grupos formais e informais
e, para ser eficiente, ele precisa conhecer os processos que direcionam o seu
comportamento”.
Lakatos, na sua classificação das Sociologias Especiais (2006), inclui a
“Sociologia aplicada à Administração” juntamente com a “Sociologia da Burocracia”,
afirmando serem “expressões mais ou menos equivalentes: ambas estudam os
fenômenos que decorrem da estrutura das organizações enquanto sistemas
especiais”. Segundo essa autora, a expressão cientificamente mais adequada seria
“Sociologia das Organizações”. Como exemplos de fatos sociais, estudados por esse
ramo da Sociologia, ele cita: “conflito de hierarquia, fenômenos decorrentes das
disfunções internas (desajustamentos provocados pelos excessos da organização
formal); análise da liderança na organização”.
A Sociologia Aplicada a Administração estuda as organizações e os papeis
profissionais que as integram, relacionados com o sistema social.

Reflexão
O quadro a seguir mostra a existência de grupos sociais formais e informais em
um mesmo ambiente de trabalho. Você considera que a Sociologia Aplicada à
Administração pode ser importante para entender melhor a dinâmica da empresa?

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Nesta aula estudamos a Sociologia aplicada à Administração ou a Sociologia


da Burocracia ou ainda, conforme salienta Lakatos, remetendo para uma
denominação mais precisa, Sociologia das Organizações. O administrador tem a
função de influenciar e coordenar pessoas pertencentes a grupos formais e informais
e para ser eficiente precisa conhecer os princípios da Sociologia Aplicada à
Administração.

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Aula 13_Sociologia aplicada à Administração – Parte I

O objetivo desta aula é abordar os conceitos básicos da Sociologia aplicada à


administração. Nela você estudará os conceitos de Contato, de processos e relações
sociais e de relações sociais organizadas e não organizadas.
Alguns conceitos básicos da Sociologia devem ser esclarecidos para que
possamos ligar essa ciência com a prática e estabelecer uma ponte entre a Sociologia
e a Administração.
Castro (2008) seleciona os seguintes conceitos: contatos e processos sociais,
relações sociais organizadas e não organizadas, status e papéis sociais, grupos
sociais, cultura, subcultura e contracultura, ideologia, controle social e desvio de
comportamento. Abordaremos esses conceitos também nas próximas aulas.
Para que seja possível haver uma associação humana é preciso que aconteça
uma interação social. Lakatos define esse conceito como “a ação social, mutuamente
orientada, de dois ou mais indivíduos em contato” acrescentando que “é a
reciprocidade das ações sociais” (2006). O simples contato físico (uma pessoa
sentada ao lado da outra no ônibus) não é suficiente para que haja interação. As
interações sociais são, pois, a essência da vida social.

1. Contatos e processos sociais


Os contatos sociais caracterizam o modo como os indivíduos participam da
interação enquanto os processos definem como se realiza a interação. O contato é a
fase inicial da interestimulação.
Como tipos de contatos sociais, podemos citar:

 Direto: sem intermediário, face a face. Ex: professor-aluno.


 Indireto: com intermediário. Ex: pessoas falando no telefone.
 Primário: com envolvimento total. Ex: família, grupos de amigos.
 Secundário: com envolvimento parcial. Ex: comprador e vendedor.
 Categórico: por meio de estereótipos: Ex: O uniforme identifica o profissional, mas
nada diz sobre suas qualidades.
 Simpático: baseado em qualidades manifestadas pelos indivíduos.

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Todas as relações de cunho social têm um aspecto dinâmico. Os indivíduos
aproximam-se, afastam-se. A isto damos o nome de processo social. Os processos
sociais básicos são:

 Comunicação, forma importante de interação que pode dar-se através de: meios
não vocais (expressões de alegria e tristeza), sons inarticulados (inflexões de voz),
palavras e símbolos.
 Socialização, por meio da qual, desde a mais tenra infância, o indivíduo se integra
ao grupo em que nasceu, assimilando o conjunto de hábitos, regras e costumes
característicos do seu grupo.

A Sociologia diferencia os demais processos sociais em associativos e


dissociativos. Entre os associativos estão:

 Cooperação: diferentes pessoas trabalham juntas para o mesmo fim.


 Competição: luta consciente ou inconsciente e contínua contra oponente não
individualizado, objetivando bens escassos (ecológicos econômicos).
 Conflito: luta consciente e intermitente (não dura permanentemente com o mesmo
nível de tensão).
 Acomodação: solução provisória e superficial do conflito que continua latente já que
as mudanças são exteriores.
Assimilação: solução definitiva do conflito, pois há mudança da personalidade.
2.
3. Relações sociais organizadas e não organizadas
As relações sociais organizadas possuem finalidades definidas. Ex: relações
sociais educacionais, culturais, jurídicas, de trabalho, etc. Possuem estabilidade e são
controladas por normas e instituições.
As relações sociais desorganizadas são relações episódicas ou efêmeras. A
Sociologia da Administração tem por objeto de estudo as relações de trabalho no
grupo organizado. Por isso é importante nos determos em alguns conceitos para
entender melhor esta parte da Sociologia aplicada.
As organizações e as empresas

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“Desde o início de sua história, o homem luta para obter alimento para a sua
sobrevivência. Muito cedo se percebeu que a satisfação dessa necessidade primordial
por meio da caça poderia ser facilitada caso levada a efeito coletivamente, uns
espantando os animais, outros os dirigindo para armadilhas, onde eram mortos por
terceiros. Assim surgiu a divisão do trabalho, com a consequente necessidade de
coordenação para que a colaboração mútua fosse efetiva. Como muitas hordas
caçavam, umas interferindo nos territórios das outras, surgiram os primeiros combates
e, em decorrência, a especialização para a luta pelos guerreiros. Naturalmente, a
caça e a pesca nem sempre eram propícias e as guerras favoráveis, o que exigiu a
intervenção dos deuses e o aparecimento dos sacerdotes para intermediar as forças
celestes com os desígnios humanos.
Tais fatos sociais fizeram surgir as primeiras organizações, uma reunindo quem
caçava, outra quem plantava, uma terceira que guerreava, outra que contatava os
deuses e outra que era a organização dos dirigentes que coordenava as demais. Com
o correr do tempo cada uma dessas organizações tornou-se perene e com uma
estrutura bem definida, uma micro sociedade dentro da tribo, militar, religiosa e
política.
Com o tempo, as necessidades básicas de sobrevivência foram completadas
por outras exigências sociais (habitações mais confortáveis, vestuário mais
sofisticado) que fizeram surgir várias organizações destinadas a satisfazê-las.
A partir dessas considerações pode-se definir organização como uma unidade
social artificialmente criada e estruturada, continuamente alterada para se manter no
tempo, e com a função de atingir resultados específicos que satisfaçam as
necessidades dos clientes existentes na sociedade e, também, as de seus
participantes.
Vê-se que a palavra organização tem significado muito amplo e por isso os
estudiosos as classificam em muitos tipos. Elas podem ser classificar como um tipo
de organização, as chamadas empresas, organização econômica, cujos clientes
trocam seu dinheiro pelos bens ou serviços que ela produz.
Artificialmente criada, para que os resultados concretos da empresa sejam
obtidos, no qual é preciso que seja administrada. Portanto, podemos definir
Administração como a aplicação de técnicas com o fim de estabelecer metas e

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operacionalizar seus objetivos pelos participantes das organizações, a fim de que
obtenham resultados que satisfaçam as suas próprias necessidades e as de seus
clientes.
“Para entender o comportamento da coletividade de pessoas, que é a
organização, o administrador pode utilizar as explicações dadas pelas Ciências
Sociais1.”

Reflexão
Leia o texto abaixo2:
“Um dos principais problemas da competição internacional é o chamado
dumping social, que consiste na busca de preços competitivos no mercado à custa do
aviltamento do trabalho. A competição internacional não pode mais tolerar, em
qualquer de seus níveis, a exploração de crianças ou adolescentes ou mesmo de seus
pais por meio de regimes despóticos de trabalho, até porque, os efeitos do
mencionado dumping social findam por propiciar, além da injusta competição
internacional, uma crise no próprio sistema produtivo que aumenta a quantidade de
produtos e diminui, perversamente, a capacidade de consumo de um número cada
vez mais crescentes de pessoas”.

Pense e responda:
Você entendeu o que é dumping social? Por que além de prejudicar o
trabalhador, ele prejudica também o sistema produtivo e, consequentemente, as
empresas?
Nesta aula, você iniciou o estudo de alguns conceitos básicos da Sociologia
aplicada à Administração, os conceitos de contatos, processos sociais e relações
sociais organizadas e não organizadas. Em nossa próxima aula, continuaremos com
o estudo de mais alguns conceitos.
_____________
1 Adaptado de Bernardes, Cyro, cap. 1. Uma ponte entre a Sociologia e a
Administração. P.11-19
2 DE MASI, Domenico. O Futuro do Trabalho: Fadiga e Ócio na Sociedade
Pós-Industrial. Rio de Janeiro: José Olympio; Brasília, DF: Ed. Da UnB, 1999.

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Aula 14_Sociologia aplicada à Administração – Parte II

Dando continuidade à aula anterior, em que iniciamos a abordagem dos


conceitos sociológicos, veremos nesta aula os conceitos abaixo.

1. Status Social e Papel Social


Status é o lugar ou posição que a pessoa ocupa na estrutura social, de acordo
com o julgamento coletivo ou consenso de opinião do grupo. (2006) Os diretores de
uma grande empresa gozam de certas regalias e vantagens, pois seu status é mais
elevado que o dos funcionários da empresa. Também seus deveres e
responsabilidades estão ligados a esse status.
Numa sociedade, o indivíduo ocupa tantos status quantos são os grupos sociais
a que pertence. Quanto mais complexa a sociedade, maior o número de status
ocupado pela pessoa. A mesma pessoa pode ter um status no grupo familiar, ser
gerente de vendas de uma empresa (status ocupacional), pertencer a uma igreja, a
um clube recreativo, etc.
Dependendo da maneira pela qual o indivíduo obtém seu status, este pode ser
classificado em: status atribuído que, independe da capacidade do indivíduo, lhe é
atribuído mesmo contra a sua vontade. Os principais fatores atribuidores de status
são: idade, sexo, raça, laços de parentesco, classe social, etc. Já o status adquirido é
obtido em função das habilidades, conhecimentos e capacidade do indivíduo.
Papel social é o comportamento que o grupo social espera de qualquer pessoa
que ocupe um determinado status social. Por exemplo, o comportamento esperado
dos pais em determinada sociedade. Bernardes (2006) exemplifica:
Em princípio, a sociedade ocidental espera que um pai ou mãe não deixe o
filho fazer o que bem entenda, inclusive punindo-o pela desobediência. Já as
tribos indígenas consideram normal permitir eu a criança aja como bem
entender. Isso significa que cada sociedade espera das pessoas
determinados comportamentos de acordo com a posição que ocupa, isto é,
que desempenhem um papel.

As organizações são micro sociedades nas quais se desenvolvem subculturas


com diferentes expectativas de papéis peculiares a cada uma delas. Bernardes (2006)
esclarece:

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(...) nas organizações burocráticas, os chefes devem ser ‘dinâmicos,
competitivos, voltados para o lucro, dedicando-se mais à empresa que à
família, sempre frios e impessoais, conservadores e de paletó e gravata’. Por
outro lado, dentro do componente tecnológico da subcultura, são atribuídas
funções a cada um dos participantes das unidades administrativas, que assim
tem um “papel” a desempenhar.

Para o administrador é importante saber que algumas formas de agir são


inesperadas, mas é possível identificar comportamentos esperados e previsíveis.

2. Grupo social
Para a Sociologia grupo social é toda reunião mais ou menos estável de duas
ou mais pessoas associadas pela interação. Devido à interação social, os grupos têm
de manter alguma forma de organização, no sentido de realizar ações conjuntas de
interesse comum a todos os seus membros. Os grupos sociais se classificam em
primários e secundários.
Grupo primário é o da família, dos amigos que se reúnem frequentemente ou o
da “panelinha” formada na empresa. Nesses grupos predominam os contatos
pessoais diretos.
Grupo secundário é aquele em que predominam os contatos impessoais com
menor expressão de sentimento, mais racionais. São exemplos as negociações num
balcão de loja e a convivência em clubes esportivos e nas organizações em que se
trabalha.
O administrador deve estar atento para essa classificação. Vejamos os
comentários de Bernardes (2006) sobre isso:
Os sociólogos reconhecem que o grupo secundário é ineficaz para satisfazer
muitas necessidades individuais razão pela qual dentro dele surgem com
naturalidade os grupos primários. Por isso, as organizações são consideradas
grupos secundáris formados por grupos primários. Por outro lado, alguns
autores dizem que os grupos primários (entre os quais se inclui a família)
bloqueiam a maturidade do ser humano. Isso porque conservam a hierarquia
tradicionalista do poder, não dando ênfase às lideranças investidas pelos
pares de autoridade que favoreça alcançar metas coletivas, em lugar das
individuais.

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Bernardes acha importante lembrar que na sociedade pós-industrial, a ética
protestante (que valoriza o individualismo), dá lugar à ética social, “com ênfase nos
relacionamentos do grupo primário (não o da família, mas o de pessoas estranhas
com semelhança de ideias e sentimentos), resultando em envolvimentos profundos,
porém de duração relativamente curta” (2006). Portanto, a empresa deve favorecer o
surgimento de grupos primários como equipes e dificultar que nasçam grupos que o
autor chama de “informais” (“panelinhas” e “igrejinhas” ou amigos que se reúnem para
atingir metas individuais), não controláveis e contrários às metas da empresa.
Nesta aula você estudou os conceitos de status, papel social e grupo social.
Continuaremos, na próxima aula, abordando os conceitos vinculados à Sociologia da
Administração.

Reflexão
Identifique, nas relações abaixo, se elas são primárias ou secundárias:

a) Vendedor e freguês;
b) Presidente da República e eleitores;
c) Professor e aluno;
d) Marido e mulher;
e) Pai e filhos;
f) Grupo de amigos que trabalham na mesma empresa.

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Aula 15_Sociologia aplicada à Administração – Parte III

O objetivo desta aula é dar continuidade ao estudo dos conceitos básicos da


Sociologia da Administração enfocando os conceitos de Cultura, subcultura,
contracultura e ideologia.

1. Cultura, subcultura e contracultura


A definição de cultura de Leslie Wite é, segundo Cyro Bernardes, adequada
para orientar o estudo das organizações. Segundo o sociólogo “Cultura é o conjunto
de:
(1) ferramentas, utensílios e objetos para vários fins;
(2) língua, hábitos, normas, crenças, valores e rituais;
(3) sentimentos e atitudes que todos os povos possuem” (2006:21). Portanto, para
Wite, no conceito de cultura estão englobados elementos materiais e não materiais.

Já a subcultura pode ser entendida, como explica Lakatos como “um meio
peculiar de vida de um grupo menor dentro de uma sociedade maior”. (2006).
Como exemplos, podemos citar que, tanto para a classe média, como para a
classe operária há a crença cultural de que a vida deve ser ganha trabalhando, mas
para a primeira, ser demitido é sinal de incapacidade e, para a segunda não, pois está
acostumada com a rotatividade da mão de obra. Outro exemplo é a subcultura do
Nordeste dentro da cultura brasileira.
A contracultura é a cultura peculiar de um grupo que se opõe à cultura mais
ampla, contestando seus padrões. O pequeno grupo nega os valores do grande grupo.
Os estudiosos da Administração estão cada vez mais usando o termo cultura e
subcultura para designar as características de uma organização e diferenciá-la das
demais. Gerentes, que tentam impor a cultura de uma sociedade aos trabalhadores
que possuem cultura distinta, fracassam. Além disso, diversas Seções (Vendas,
Compras, Pessoal) dentro de uma empresa podem ser consideradas como
subculturas, já que os processos de trabalho,normas, procedimentos e sentimentos
são diferentes. Deve-se notar também que a cultura da sociedade influencia a cultura
das organizações nela imersas.

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2. Ideologia
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Há vários significados para a palavra ideologia. Em sentido amplo é um
conjunto de ideias, concepções ou opiniões, uma teoria que orienta a ação efetiva.
Atualmente, o conceito elaborado por Marx, está incorporado ao pensamento político
e econômico, sendo utilizado por teóricos não-marxistas.
Para Marx, o conceito designa a falsa consciência que os indivíduos
manifestam acerca da realidade por falta de clareza da situação na qual se encontram
e da posição que ocupam na estrutura de classes sociais. Nas palavras de Costa “A
ideologia transforma-se então numa construção simbólica e valorativa que, em defesa
de uma ordem social, expressa uma visão de mundo relativa aos interesses de
diferentes classes sociais” (2006).
Com Karl Mannhein, o conceito perde essa rigorosa vinculação com a estrutura
de classes sociais. Para ele, os intelectuais podem romper o véu que encobre
ideologicamente a realidade.
Nesta aula, você estudou os conceitos de Cultura, subcultura, contracultura e
ideologia, bastante utilizados pela Sociologia da Administração.

Reflexão
O comportamento do homem em sociedade se torna uniformizado delineando
uma cultura. Você acha que o mesmo fenômeno ocorre nas empresas?

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Aula 16_Sociologia aplicada à Administração – Parte IV

Nesta aula, estudaremos os conceitos de estrutura, organização e


sistema.

Estrutura, organização e sistema


Em Sociologia o conceito de organização, anteriormente analisado, está em
estreita relação com o conceito de estrutura. Vários sociólogos de diferentes escolas
de pensamento desenvolveram esse conceito, “alguns como um sistema integrado de
relações e cargos, como Parsons, outros como um tecido de forças sociais em
interação, como Mannhein” (2006). Já para Marx, a estrutura social corresponde à
estrutura de classes sociais de uma sociedade.
Em todas as teorias, estrutura corresponde ao elemento mais estável da vida
social e menos sujeito às variações circunstanciais. Mesmo as transformações por
que passam as sociedades (guerras, revoluções) permitem a manutenção de alguma
continuidade.
Já o conceito de organização social aparece nas diversas teorias em oposição
à noção de estrutura, pois corresponde ao princípio dinâmico da vida social, “mais
flexível, adaptável e variável, além de possuir também, nas mais diversas teorias, um
caráter mais empírico” (2006).
Costa nos dá um exemplo para diferenciar os dois conceitos. “A organização
do sistema jurídico responsável pela regulamentação do sistema de heranças na
sociedade capitalista só pode ser compreendida como manifestação de uma ordem
estrutural capitalista” (2006).
Quanto à noção de sistema, está ligada aos princípios de estabilidade e
desenvolvimento. Para a sociologia moderna firmou-se como essencial o princípio da
interdependência das partes e nessa ótica desenvolveu-se a ideia de que os sistemas
apresentam desequilíbrios e sua estabilidade é instável,temporária e resultante de
forças em oposição. Malthus e Marx, por exemplo, perceberam tendências explosivas
e destrutivas nos sistemas sociais.
Os sistemas são classificados como abertos ou fechados, flexíveis e inflexíveis.
Conforme observa Costa (2006), os sistemas abertos, permeáveis, adaptáveis e

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passíveis
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de transformação têm mais chances de
sobreviver. Nesta aula, você estudou os conceitos de estrutura, organização e
sistema.

Reflexão
As Empresas têm objetivos?
Se mobilizarmos nossos conhecimentos ou procurarmos em um dicionário,
veremos que o termo objetivo vincula-se a buscas pessoais; no entanto, é frequente
ouvirmos que as empresas têm objetivos. Você pensa que são coincidentes os
motivos e fins que mobilizam patrões e empregados? Por que será que, atualmente,
utilizam-se os termos funções, políticas e metas?

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Aula 17_Formas e processos de controle social

Nesta aula estudaremos as formas e processos de controle social e a relação


entre metas e controle social.

Controle social
Na definição de Costa, “Chamamos de controle social aos mecanismos
materiais e simbólicos disponíveis em uma dada sociedade, que visam eliminar ou
diminuir as formas de comportamentos desviantes individuais ou coletivas” (2006).
Conforme esclarece Lakatos “O desvio é um comportamento disfuncional em
relação ao grupo onde ocorre, mas é um conceito sem conotações valorativas.
Exemplifica que o membro da quadrilha de criminosos que deseja o abandono do
crime comete um desvio em relação às normas do grupo. Desvia-se também o
intelectual inovador que combate preconceitos sociais superados e prejudiciais”
(2006).
Através da socialização introjetamos normas e valores sociais que se integram
na estrutura da personalidade. É com base nessa “pessoa social” que
compreendemos o que Harry Johnson chama de “conformidade” e “desvio”.
Entre os inúmeros mecanismos de controle social há alguns muito eficientes,
como os processos de valorização do comportamento individual, as regras de
ascensão social, os modelos sociais e as mensagens subliminares. Quando todos
esses mecanismos falham, entram em cena as formas instituídas de punição.
Como exemplo de sanções negativas, pode-se citar as econômicas. O sistema
jurídico aplica multas indenizações de prejuízos causados por outrem, etc. Tanto o
Estado, como as organizações empresariais apoiam-se no sistema jurídico. Lakatos
esclarece que: “Além das sanções legais, existem outras, como as empregadas por
organizações empresariais contra outras do mesmo tipo: mudança de fornecedor,
suspensão do pedido de serviços ou mercadorias, retirada da publicidade, etc.; pelos
consumidores em relação a determinadas empresas, através do boicote de seus
produtos...” (2006).
É importante observar que, no passado, a família, o grupo local e a igreja
exerciam a maior parte do controle social. Com a transferência da produção

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econômica da família para as empresas e com o crescimento das comunidades, o
Estado e as empresas tiveram sua função de controle fortalecida. A seguir, veremos
os conceitos de controle social e metas, aplicados à organização.
Transposto para a organização, o controle social1 “significa influenciar os
participantes a serem eficientes e eficazes no desempenho de suas tarefas,
destinadas à produção de bens e prestação de serviços.”
Nas organizações ocorrem três tipos de controle baseados nas trocas, no poder
e na autoridade. A escolha de qual controle deve se utilizar depende do tipo de
interação de metas do executor em relação às de quem o pressiona. Essas metas
podem ser paralelas, divergentes e convergentes. Assim, quando mais divergentes
elas forem, maior a dose de poder para que uma ação seja executada, o que
fatalmente desencadeará conflitos como sabotagens, greves e operações tartaruga
(trabalho em ritmo lento).
Troca, poder e autoridade são mecanismos de controle. A Troca é o controle
com influência, que tem por base recursos materiais e recompensas na forma de
remuneração pelo recebimento de algum tipo de contribuição. As duas partes
ganham, porque alcançam suas próprias recompensas que, apesar de diferentes, são
compatíveis.
Poder é o controle ou influência sobre a ação dos outros no intuito de atingir as
próprias metas, sem o consentimento desses outros (coação), contra a vontade deles
(coação) ou sem o seu conhecimento ou compreensão (manipulação).
Autoridade é o controle ou influência sobre o comportamento de outros para a
promoção de metas coletivas, com base em alguma forma verificável de
conhecimento desses outros, em razão de estarem informados da situação.
Na prática, esses três tipos de controle – poder, troca e autoridade – podem ser
encontrados na mesma empresa ou organização, pois as metas paralelas,
convergentes ou divergentes sempre estão presentes.
Esses são os conceitos mais exigidos no estudo da Sociologia aplicada à
administração. Você pode completar essa lista consultando os livros indicados na
bibliografia.
Nesta aula, você estudou as formas de controle social que variam conforme a
interação de metas.

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Reflexão
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Reflita sobre autoridade e poder:
O sociólogo Parsons analisou o processo de controle social, dizendo que os
indivíduos nos estratos superiores da sociedade, por deterem prestígio e
riqueza mais elevados que os dos estratos inferiores usufruem maior poder
sobre esses últimos. Com isso, eles obtêm destes, os serviços e vantagens
para a consecução de suas metas, aumentando as distorções criadas pela
diferenciação da sociedade em estratos. Por isso, os dirigentes da classe
superior necessitam legitimar suas posições sociais e ações, a fim de
justificar suas vantagens e prerrogativas, as quais contrastam com os ônus e
privações sofridos pelas pessoas situadas em posições inferiores.2

A partir desse texto, você considera que podemos diferenciar autoridade de


poder? Além disso, você acha que as normas de uma empresa auxiliam no exercício
do controle social?

________________________
1 Os conceitos de troca, poder e autoridade foram trabalhados conforme
BERNARDES, Ciro. Sociologia aplicada à administração. São Paulo: Saraiva,
2005.p-57
2 PARSONS apud MARCONDES, 2005, p. 53

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Aula 18_A pressão social nos grupos e a admissão em grupos coesos – Metas
grupais

O objetivo desta aula é estudar a pressão social nos grupos, a admissão em


grupos coesos e as metas grupais.
Pressão social é a ação exercida pelos membros de grupos tanto entre si
quanto para com um novato que pretende ser admitido. Para ser concretizada, a
pressão social necessita de duas bases de apoio: a existência de uma ideologia criada
pelo grupo e o conformismo de seus membros em relação a ela.
Ideologia é o conjunto de normas, crenças e valores aceitos pela maioria dos
membros de grupos influentes na sociedade, com a função de justificar seus
interesses de alcançar as metas tornadas coletivas.
A norma deve especificar em que consiste a transgressão, a pena e o agente
co-ator. A norma é tanto um hábito, como um costume ou uma lei. O hábito, como
forma costumeira de agir, não acarreta sanções graves. Já as normas julgadas
importantes e denominadas costumes, se transgredidas, podem ser objeto de
punições. Os costumes, considerados de extrema importância para a sociedade como
um todo, são codificados por escrito na forma de leis, que determinam o tipo de
transgressão, o agente coator (quem deve aplicar a lei) e a punição imposta.
As crenças são todas as cognições (ideias, tradições, superstições, mitos e
lendas) aceitas pelos membros de uma sociedade, ou por ocupantes típicos de várias
posições sociais. As crenças estão presentes em todas as sociedades, mas alteram-
se com o tempo.
O Valor é uma classe de crenças aceitas pelos membros de uma sociedade ou
por determinados segmentos da sociedade. Os valores podem ser positivos, quando
indicam o que é desejável, o que é considerado “bom” e aceito pelo grupo social, ou
negativos, quando se referem ao que não é desejável, considerado “bom” e não tem
a aceitação pelo grupo.
Normas, crenças e valores são desenvolvidos para manter a coesão, destinada
a assegurar que metas coletivas sejam alcançadas. Para que a ideologia seja
interiorizada pelos membros do grupo, é preciso doutriná-los, ou seja, convencê-los

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da pertinência dessas normas, crenças e valores, processo que ocorre com cada novo
membro.
Nas organizações, as normas heterônomas são elaboradas pela alta
administração e impostas na forma de regulamentos escritos. Já as normas
autônomas são criadas pelos próprios membros dos grupos informais nascendo no
interior dessas coletivas.
A inserção na cultura e na ideologia da organização significa “vestir a camisa
da empresa”, sentir-se integrante do “time” ou da equipe.
O processo de pressão social exercido pelos membros dos grupos foi
aproveitado por muitas organizações que criaram uma ideologia voltada para o
sucesso, como ocorreu com várias empresas fundadas no século XIX. Como exemplo,
podemos citar o caso da ABN AMRO Bank (fundada em 1824, na Holanda, atua no
Brasil há 80 anos), cujos valores básicos são: integridade, trabalho em equipe,
respeito e profissionalismo. Ele continua aumentando de porte e de lucros até hoje.
Nesta aula, você continuou estudando os conceitos básicos da Sociologia
aplicada à Administração, conhecendo o significado de pressão social nos grupos, o
processo de admissão em grupos coesos e a importância exercida pela ideologia
(normas, crenças e valores) para manter a coesão e alcançar as metas coletivas.

Reflexão
Analise o seguinte caso:
Um estudante de Administração está acostumado a chegar atrasado às aulas,
faltar sem motivo, bater papo com os colegas, não desempenhar sempre o mesmo
trabalho. Admitido em uma empresa, na qual as normas de procedimento determinam
o contrário do que estava acostumado, deve mudar o seu comportamento.
Hierarquize, por ordem decrescente de importância, os fatores que o levam a
essa mudança:
a) Ameaça de punição por seu chefe, que é considerado ranzinza e incompetente
pelos subordinados;
b) Falta de apoio dos colegas acostumados a cumprir as normas;
c) Sua individualidade independente o torna capaz de avaliar o custo/ benefício de
aceitar ou não a ideologia da empresa.

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Aula 19_O conceito de Trabalho em Sociologia

O objetivo da aula é estudar o trabalho enfocando a origem do termo e as


concepções predominantes na História.
A concepção de trabalho sempre esteve ligada a uma visão negativa. A própria
etimologia da palavra (tripalium = instrumento de tortura) associa o conceito com
tortura, sofrimento e pena.
Na verdade, o trabalho é a ação transformadora que o homem faz na natureza,
ação dirigida por finalidades conscientes. Essa ação é social, pois ao se relacionarem
para produzir sua própria existência, os homens desenvolvem condutas sociais a fim
de atender as necessidades do grupo.
O trabalho é uma ação cujo resultado se incorpora ao objeto. Além disso, é
bom ressaltar que até as tarefas mais simples, mecânicas e repetitivas são produto
da inteligência humana.
O trabalho é condição de liberdade desde que o trabalhador não se submeta a
constrangimentos externos e à exploração.
Na economia de caça e coleta, o trabalho e seu produto tinham caráter
comunitário. Na economia de produção, surgem as sociedades de classe e o trabalho
sofre mudanças estruturais e operacionais. Na sociedade escravista, os senhores
eram proprietários da força de trabalho (escravos), dos meios de produção (terras,
minas, instrumentos de produção) e do produto do trabalho. Já no chamado modo de
produção asiático (Egito na Antiguidade e civilizações pré-colombianas), a força de
trabalho pertencia ao Estado. No modo de produção feudal, o servo, ligado a terra,
tinha pouco tempo para trabalhar para si mesmo.
A partir do século XI o surgimento de novos processos econômicos deu origem
à burguesia mercantil. Com o renascimento comercial e urbano, o comércio e a
produção artesanal começam a se expandir, mas o trabalho assalariado ainda era
uma exceção: predominava o trabalho independente dos artesãos, donos dos meios
de produção e da matéria prima. No campo, continuava a predominar o trabalho servil
que começava a ser substituído pelo trabalho assalariado e por formas de
arrendamento da terra. Novas atividades profissionais surgiram nas cidades
europeias.

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No período denominado capitalismo mercantil (do século XV ao XVIII), o
trabalho independente ainda predominava, mas o regime assalariado se expandiu. O
mercantilismo foi a política econômica dos Estados absolutistas. Seus princípios eram
o metalismo, a balança comercial favorável, a intervenção do Estado na economia. O
Estado favoreceu os monopólios e a exploração comercial.
Com a Revolução Industrial, o trabalho assalariado firmou-se definitivamente.
Principal pensador do novo capitalismo, Adam Smith, defendeu em sua obra “A
riqueza das nações”, que o trabalho e não o comércio era a principal fonte geradora
de riquezas. Segundo Smith, as desigualdades sociais constituíam um incentivo ao
trabalho e ao enriquecimento. Defendia o Estado mínimo, isto é, a não intervenção do
governo na vida econômica.
A Inglaterra, “oficina do mundo” foi a pioneira na mudança do sistema
manufatureiro (o trabalhador produzia em casa para o comerciante que lhe fornecia a
matéria prima e lhe pagava por produção) para o sistema fabril. Na fábrica, o
trabalhador livre vendia sua força de trabalho em horas ou jornadas para os novos
patrões. Os trabalhadores (homens, mulheres e crianças), se agrupavam nos galpões
e se submetiam a um ritmo de trabalho cada vez mais intenso. Foi introduzido o
sistema parcelado de produção, intensificado no início do século XX quando Henry
Ford introduziu o sistema de linha de montagem na indústria automobilística. O
taylorismo, sistema de racionalização da produção, visava aumentar a produtividade
e economizar tempo. Ele foi implantado com sucesso e extrapolou os limites da fábrica
atingindo outros tipos de empresas.
Devido às péssimas condições de vida e de trabalho, os operários
desencadearam uma série de movimentos sociais que, da Inglaterra, irradiaram-se
para toda Europa industrializada.
Na maior parte do século XX, predominou o capitalismo financeiro, em que os
bancos e as instituições financeiras passaram a controlar as demais atividades
econômicas por meio de financiamentos.
Com a globalização, o capital financeiro conquistou uma posição ainda mais
dominante. Os avanços tecnológicos são o resultado do financiamento das pesquisas
pelas grandes empresas que querem baixar custos e aumentar sua competitividade
no mercado globalizado. Mas, baixar custos gera desequilíbrios e o maior deles é o

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desemprego. Diminuíram os empregos diretos e formais e surgiu um novo padrão de
emprego, flexível, precário e desprovido das garantias de estabilidade.
Esse histórico da evolução do trabalho gerou várias análises sociológicas sobre
o tema. Dessas análises, destacamos a de Karl Marx, que escolheu o ponto de vista
do proletariado em seus estudos.
Ele considerava o trabalho como uma relação entre o Homem e a Natureza,
onde o primeiro empregava as forças de que fora dotado para modificar a natureza
exterior e, ao trabalhar, modificar-se a si mesmo. A concepção marxista de trabalho,
reconhecendo-o como uma atividade criativa através da qual o homem se realiza,
significava uma mudança radical no entendimento da significação do trabalho para o
homem.
Indicamos que você leia novamente a Aula 7, da Unidade I, que trata dos
principais conceitos sociológicos de Karl Marx, retomando as ideias do autor
sobre o tema.
Nesta aula, você estudou o conceito e a evolução histórica do trabalho, assim
como a concepção que Adam Smith e Karl Marx desenvolveram sobre essa
importante atividade humana.

Reflexão
O desenvolvimento da indústria e dos estudos sobre a organização e controle
do trabalho, como força produtiva, levaram ao predomínio da concepção que separava
o trabalho manual, exercido pelos operários, do trabalho mental, a cargo dos
administradores. Esta divisão reforçou a visão que associa o trabalho manual a um
fardo, uma carga, valorizando, em contraposição, o trabalho de planejamento e sua
dimensão intelectual.
Tomando como referência as ideias de Marx, é possível entendermos que
existe trabalho que não incorpore a dimensão intelectual? Você entende que a
separação do exercício do trabalho de seu planejamento atua como mais um elemento
que reforça a estrutura de classes?

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Aula 20_Modelos teóricos de Administração:Taylor,Fayol,Mayo e Parsons

Nesta aula você estudará alguns sociólogos que refletiram sobre as


organizações econômicas e apontaram formas de racionalização de suas atividades.
Dentre as preocupações dos administradores destacam-se aquelas pertinentes
à colocação das empresas e de seu produto no mercado. Para tanto, deve-se levar
em conta quatro pré-requisitos:

-o ambiente com o qual a organização interage, pois é fonte de insumos e de consumo


dos produtos;
-a administração em si com as suas funções de decisão e produção de bens e
serviços;
-as relações de trabalho
-os objetivos da organização, tais como oferecer um produto aceitável pelo consumo,
propiciar vantagens para os proprietários, satisfazer as necessidades dos
empregados e visar à eficiência e a eficácia, além de promover e garantir o bom nome
e imagem da organização no mercado.

A seguir veremos alguns sociólogos que refletiram sobre as questões acima


explicitadas:

•Frederic W. Taylor (1856 a 1915) – preocupado com a gerência científica, visava


adequar o trabalho às exigências do capital. Organizou os processos de trabalho e de
controle sobre eles empregando métodos científicos na produção. Seu objetivo era
aumentar a produtividade no menor espaço de tempo, para isso desenvolveu estudos
medindo o tempo empregado e o tempo ideal para as tarefas procurando garantir a
prosperidade do patrão. A formação e o aperfeiçoamento do pessoal eram vistos
como o principal objetivo a ser alcançado pelos patrões e pelos empregados. A
contribuição de Taylor à organização da produção pode ser resumida nos seguintes
aspectos:
estudo do tempo necessário para cada tarefa;
chefia funcional;

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substituição de um único contramestres por vários funcionários;
padronização dos materiais e instrumentos;
padronização dos movimentos do trabalhador;
necessidade de uma sala de planejamento;
 Henri Fayol (1841 a 1925) – o autor considerava que a administração de empresas
é uma função que se reparte entre a cabeça e os membros do corpo social. Toda
empresa, segundo o autor, apresenta seis conjuntos de operações ou funções
essenciais: técnicas, comerciais, financeiras, de segurança, contábil e administrativa.
Para Fayol, administrar é “prever, organizar, comandar, coordenar e controlar”.
Enfocou também os princípios da administração entre os quais salientamos: divisão
do trabalho (produzir mais e melhor com o mesmo esforço), autoridade (direito de
mandar e poder de se fazer obedecer), disciplina (entendida como obediência,
assiduidade, respeito demonstrado segundo as convenções da empresa e seus
agentes), unidade de comando e direção, remuneração e união do pessoal;
 George Elton Mayo (1880 a 1949) – as pesquisas de Mayo e seus colaboradores
concluíram que, nas relações de trabalho, os aspectos emocionais são importantes
para o sucesso da empresa. Entre as suas ideias básicas destacamos: o sentimento
de pertencer a uma equipe gera maior produtividade, além disso, é desejável que
entre os trabalhadores se mantenham relações informais e se utilize de forma
inteligente a tendência cooperativa dos trabalhadores. A Escola das Relações
Humanas, criada por Mayo, objetivava superar os conflitos e a desorganização social
provocados pela industrialização. Suas ideias repercutiram no mundo todo,
disseminando a importância do treinamento em relações humanas;
 Talcott Parsons (1902 a 1959) – a intenção original de Parsons era a de compreender

a unidade (e previsibilidade) da ação social.


Conforme vimos em Castro, para Parsons um “sistema social é uma pluralidade de
indivíduos motivados por uma tendência à satisfação máxima e cuja inter-relação,
quanto a esta situação, define-se em termos de um sistema de padrões culturalmente
estruturados e compartilhados” (2008). Os sistemas sociais devem resolver quatro
problemas básicos:
Adaptação (acomodação do sistema às exigências reais do ambiente),
conquista de objetivos (definição e meios para alcançá-los), integração(coordenar

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e unificar as unidades do sistema) e latência (manutenção dos padrões motivacionais
e culturais do sistema).
Segundo Parsons há duas dimensões para as sociedades: instrumental e
expressiva. Alguns exemplos de sociedades expressivas poderiam incluir famílias,
igrejas, clubes, torcidas e grupos sociais menores. Seriam exemplos de sociedades
instrumentais os mercados, os agregados e as burocracias, as empresas.
Muitos sociólogos refletem sobre a realidade existente, mas não estabelecem
modelos a serem seguidos nem normas práticas para administrar. Outros como
Taylor, Fayol, Mayo e Parsons objetivam a administração em si. De qualquer forma,
como há uma interdependência entre as instituições econômicas e as demais
instituições sociais, toda investigação sociológica é importante para o trabalho do
administrador.
Nesta aula,você estudou o pensamento sociológico de Taylor, Fayol, Mayo e
Parsons e pôde conhecer e analisar, mais de perto, alguns pré-requisitos para a
administração eficaz.

Reflexão
Certamente você já ouviu falar de Charles Chaplin e de seu filme Tempos
Modernos (1936). Veja, ou reveja caso já tenha assistido o filme, concentrando sua
atenção no modelo de racionalização da produção apresentado por Chaplin. Procure
identificar no filme as ideias dos autores estudados. Há uma crítica social clara nesse
filme?

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Aula 21_Globalização: contexto histórico, conceito, repercussões sociais. O
conceito de degradação social.

O objetivo desta aula é abordar a conjuntura histórica que propiciou a


globalização, apresentando o conceito e situando algumas das principais
repercussões do processo. Enfocaremos também a questão da degradação social,
relacionado-a aos impactos negativos do fenômeno da globalização.
O entendimento do fenômeno conhecido como globalização, remete-nos para
os efeitos da conjuntura histórica que marcou as décadas de 1970 e 1980 e para a
crise que atingiu as economias do mundo ocidental, principalmente a norte-americana,
em decorrência do fim da “era do ouro”, período de prosperidade pós Segunda Guerra
Mundial, situação que foi agravada pelas crises do petróleo que marcaram o final dos
anos de 1970 e a década de 1980.
Os enfrentamentos políticos entre as potências ocidentais1 e os países árabes
produtores de petróleo ocasionaram reações da OPEP 2, que radicalizou posições
impondo bloqueio e alta de preços do produto, o que desencadeou grave crise na
economia capitalista configurando-se, na década de 1980 e início dos anos de 1990,
como a maior crise do sistema no período após a 2ª Grande Guerra Mundial.
Vejamos a visão da época segundo o renomado historiador inglês Eric
Hobsbawm3:
Na década de 1980 e início de 1990, o mundo capitalista viu-se novamente
às voltas com problemas da época do entre - guerras, que a Era de Ouro
parecia ter eliminado: desemprego em massa, depressões cíclicas severas,
contraposição cada vez mais espetacular de mendigos sem teto e luxo
abundante, em meio a rendas cada vez mais limitadas e despesas ilimitadas
do Estado.

Como decorrência das crises do período, que se estenderam por duas


décadas, ocorreram recomposições ou rearranjos na economia capitalista, processo
que possibilitou a superação da situação nos países centrais e lançou as bases de
retomada de crescimento do capitalismo. Demandadas pelo setor econômico, as
transformações redirecionaram a política, atingindo profundamente os Estados–nação
em sua soberania e os alavancaram em seu desenvolvimento sem precedentes da

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tecnologia, principalmente na área da informação, o que resultou em impactos sobre
todos os níveis da vida social.
O fundamento político da globalização, termo atribuído à nova ordem que se
instaurou, fica claro no excerto abaixo4:
Como nos indica Gorz (1998), a globalização, ou mundialização do capital
nas suas formas atuais, não é produzida pela tecnologia, mas é uma ação
política historicamente construída. A tecnologia, mormente as ligadas à
informática, é que lhes permite a efetivação desta ação política, mudando a
natureza da produção e permitindo que o capital seja transnacional e mundial.
Permite que as firmas se constituam em redes transnacionais e o capital se
desenvolva numa “espécie de extraterritorialidade”, tirando dos Estados
nacionais sua soberania. Estrutura-se um “poder sem sociedade”.

Situa-se, portanto, no plano da política a base para a criação das condições


propícias à reestruturação da atividade econômica instaurando-se, como decorrência
das decisões dos países centrais da economia capitalista, um espaço mundializado
para a produção e a circulação de mercadorias e a consequente reprodução do
capital.
Vejamos, a seguir, o entendimento de globalização conforme Mollo 5:

A globalização da economia é o processo através do qual se expande o


mercado e onde as fronteiras nacionais parecem mesmo desaparecer, por
vezes, nesse movimento de expansão. Trata-se da continuação do processo
de internacionalização do capital, que se iniciou com a extensão do comércio
de mercadorias e serviços, passou pela expansão dos empréstimos e
financiamentos e, em seguida, generalizou o deslocamento do capital
industrial através do desenvolvimento das multinacionais.

De forma bastante simplificada, podemos afirmar que a ideia chave de


globalização, enquanto fenômeno histórico atual, corresponde à expansão de
mercados em nível mundial, tanto para a produção e circulação de mercadorias
quanto para a circulação do capital.
Esta mundialização, no que concerne às atividades econômicas, foi promovida
pelos países centrais do capitalismo, o que acentuou o processo de concentração de
riquezas, promovendo, como consequência, o aumento das desigualdades entre os

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países e a emergência, no cenário mundial, do poder do capital financeiro
transnacional.
O processo de concentração de riquezas foi tão desigual entre os países, que
provocou a polarização entre eles. Desse contexto emergiu o poderoso Grupo dos 8,
o G8, que reuniu os sete países mais industrializados e desenvolvidos
economicamente do mundo. Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França,
Itália, Canadá (antigo G7, o núcleo dos mais fortes), mais a Rússia (que não participa
de todas as reuniões e está incluída principalmente pelo que representa na economia
da Europa Oriental), que foi o centro da extinta URSS6 e que hoje lidera a Comunidade
dos Estados Independentes, CEI.
As desigualdades também podem ser observadas no interior dos países,
inclusive nas economias centrais, e são decorrentes de fenômenos como o
desemprego, o rebaixamento dos níveis salariais, a ampliação da desigualdade na
distribuição de rendas e a precarização de oportunidades e condições de trabalho,
aspectos que foram agravados com a globalização. Abordaremos, nas próximas
aulas, e de forma mais detalhada, as repercussões ou impactos da globalização.
Todavia é importante salientarmos que a ampliação das desigualdades sociais gerou
um processo de exclusão social em larga escala,mundializado, o que desencadeou a
ampliação das críticas ao processo de globalização e seus efeitos perversos.
Ainda no que concerne aos efeitos negativos da globalização, é importante
destacarmos o conceito de Degradação Social expresso por Lakatos 7.
Degradação é a destituição aviltada de um grau, qualidade, dignidade ou
encargos, diminuição ou deterioração de certos aspectos. A Degradação Social
implica a perda parcial ou total do status social, a exclusão dos direitos que todo
indivíduo tem na sociedade, em seus diferentes setores como família, educação,
economia, política social etc., em seus aspectos ambientais, culturais, religiosos, de
trabalho, de saúde e outros, levando às pessoas, quase sempre, à marginalidade e/ou
marginalização.
Ampliando a discussão e aprofundando o sentido do termo globalização,
apresentamos a visão de Hardt e Negri8, que atribuem a designação Império para a
ordem atual:

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O conceito de Império caracteriza-se fundamentalmente pela ausência de
fronteiras: o poder exercido pelo império não tem limites. Antes e acima de
tudo, portanto, o conceito de império postula um regime que efetivamente
abrange a totalidade do espaço, ou que de fato governa todo o mundo
“civilizado”. Nenhuma fronteira territorial confina o seu reinado.

É importante destacarmos que os autores que atribuíram o conceito de Império


como designativo da atual ordem mundial inspiraram-se, como referência histórica,
nos antigos impérios, sobretudo o romano, cujas fronteiras alcançavam os povos
ocidentais conhecidos na época, incorporados tanto militar quanto política, econômica
e culturalmente na vida do império. O direito romano se desenvolveu considerando a
realidade do império e as instituições jurídicas abarcavam a todos.
Afirmam também os autores que o Império sucedeu à fase do imperialismo,
quando era possível reconhecer o papel de dominação que os Estados Unidos e
alguns países europeus exerceram sobre os países africanos e latino-americanos,
principalmente. Na atualidade, em contrapartida, o poder é difuso, exercido por
instituições ou organismos jurídicos de caráter global. A ideia da globalização, como
uma ordem que se estende espacial, política, econômica e culturalmente e que
pretende ser hegemônica no planeta, é vista em aproximação, portanto, com o poderio
alcançado pelo império romano. Mas, é muito importante ressalvar que, na visão dos
autores, existem possibilidades de enfrentamento desse poder da globalização:
Nosso desafio político, (...), não consiste simplesmente em resistir a esses
processos, mas em reorganizá-los e canalizá- los para novos objetivos. As
forças criadoras da multidão que sustenta o império são capazes de construir,
independentemente, um Contra-Império, uma organização política alternativa
de fluxos e intercâmbios globais (...). A multidão terá de inventar novas formas
democráticas e poderes constituintes que um dia nos conduzirão através e
para além do Império. (p.15)

Reflexão
As referências à globalização são constantes em nosso cotidiano, presentes
nos artigos de jornais e revistas, nos programas de rádio e TV e em nossas leituras
acadêmicas. Esta aula abordou aspectos que podem propiciar a ampliação do
entendimento a respeito das origens da globalização e também de alguns de seus

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efeitos, possibilitando que você reflita sobre a forma como o processo atinge a
sociedade em que vive.
Pense nisso, quais os efeitos ou decorrências da globalização mais presentes
em seu cotidiano?
Iniciamos esta unidade enfocando o fenômeno conhecido como globalização
e ressaltando alguns impactos do processo. Na próxima aula, enfocaremos as
principais mudanças no conteúdo do trabalho e na organização da produção, assim
como o processo de internacionalização das atividades econômicas.

______________________
1 Situando os EUA em primeiro plano.
2 OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo.
3 HOBSBAWN, Eric. A era dos extremos – o breve Século XX, 1914 – 1991. São
Paulo: Companhia das Letras, 1995, p.19.
4 In FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria (orgs.). Teoria e Educação no
labirinto do capital. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001, p. 32.
5 MOLLO, Maria de Lourdes Rollemberg. Globalização da Economia, Exclusão
Social e Instabilidade. Disponível em:
http://www.cefetsp.br/edu/eso/globalizacao/globalizacaoeconomia.html. Acesso em
20 de julho de 2008.
6 URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
7 LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Sociologia geral. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2008,
p. 320.
8 HARDT, M.; NEGRI, A. Império. Trad. Berilo Vargas. Rio de Janeiro: Record, 2001,
p. 14.

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Aula 22_Os novos paradigmas da produção e do trabalho: a desterritorialização
ou mundialização das atividades

Nesta aula abordaremos os novos paradigmas ou modelos de organização da


produção e do trabalho e a desterritorialização das atividades.

Telecommuting, o novo paradigma do trabalho1


A busca de um melhor aproveitamento do espaço físico da empresa,
impulsionada por constantes mudanças do mercado de trabalho, fez com que
se abrisse a necessidade de estudos que minimizassem, em curto espaço de
tempo, as necessidades de se realizar a mesma quantidade de trabalho em
um espaço físico menor, obtendo uma qualidade superior a atual e com o
aumento crescente da motivação do empregado. Essa nova postura colocará
as empresas, que a adotarem, em destaque frente à nova realidade do
mercado mundial que exige, cada vez mais, preços competitivos e agilidade
para a resolução dos problemas em curto espaço de tempo... Telecommuting
redefine o tradicional entendimento sobre o espaço de trabalho. Atualmente,
as organizações estão se focando em novos valores, tais como, inovações,
satisfação, responsabilidades, resultados e ambiente de trabalho familiar. A
alternativa do telecommuting complementa esses princípios e oferece
flexibilidade aos patrões e empregados. É um conceito novo que, a cada dia,
ganha mais força ao redor do mundo. Grandes empresas escolheram o
trabalho de telecommuting pelas facilidades que ele gera para o empregador.

A situação enfocada no artigo acima aponta para uma tendência que cresce a
cada dia em alguns setores da economia. Embora o trabalho em casa, ou fora do
espaço da empresa, não se constitua em fato recente, são outras as motivações que,
na atualidade, orientam a sua adoção como estratégia empresarial. Como fator
decisivo da reestruturação da produção, não é difícil depreender, está a preocupação
com a garantia de realização do capital empregado, ou seja, com o estabelecimento
de condições que diminuam os custos da produção permitindo, como consequência,
melhor posicionamento da empresa diante da concorrência.
Um dos aspectos mais facilmente observável na reorganização da produção é,
sem dúvida, a redução do espaço ou da área utilizada. Todavia, a maior redução diz
respeito aos postos de trabalho e aos níveis de salário. Se nos lembrarmos, por

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exemplo, das plantas das agências bancárias de pouco mais de dez anos atrás,
traremos à memória espaços amplos ocupados não só pelos correntistas, mas por um
expressivo número de funcionários, o que contrasta com a situação das agências
atuais, cada vez mais reduzidas e com menor número de bancários.
Outro exemplo bastante familiar é o das plantas das fábricas, cada vez mais
reduzidas, quer pela introdução de tecnologias poupadoras de mão de obra, quer pela
adoção da terceirização, que colocou, para além dos limites espaciais das fábricas,
uma série de atividades antes desenvolvidas no interior das unidades produtivas.
Exemplo disso é o setor de peças ou componentes, quase todo terceirizado, nas
fábricas de automóveis, atuando conforme a demanda das montadoras, ou seja, no
sistema just in time. As novas composições ou os rearranjos produtivos, em grande
parte, foram assentados em tecnologias poupadoras de mão de obra que, inicialmente
representando altos investimentos de capital, possibilitaram a economia com a
reorganização do espaço, mas, e principalmente, com a redução no número de
trabalhadores empregados.
Retomando as discussões da aula anterior, relembramos que uma das
características definidoras da globalização se constitui na ampliação ou mundialização
da atividade econômica. Constituindo um espaço integrado economicamente, o que
foi facilitado pelo desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação – as
TIC –, o capital inaugurou novas possibilidades de organização da atividade produtiva.
Frigotto2 ressalta os vários termos ou noções aplicados ao capital na fase atual,
capital transnacional, mundializado, flexível ou desregulado, ou seja, capital que
encontra livres condições para sua realização no espaço mundial. Cita ainda
Jameson, que aponta como características definidoras da presente conjuntura:
A explosão tecnológica da eletrônica moderna e seu papel como principal
fonte de lucro e inovação; o predomínio empresarial das corporações
multinacionais, deslocando as operações industriais para países distantes
com salários mais baixos; o imenso crescimento da especulação
internacional; e a ascensão dos conglomerados de comunicação com um
poder sem precedentes sobre toda a mídia e ultrapassando as fronteiras.

Os últimos anos do século XX constituíram fase de expansão dos processos


apresentados na citação e que resultaram no poderio dos grandes conglomerados

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industriais e financeiros, apoiados pelo setor de comunicações, que rompe com a
dimensão espacial e temporal aproximando e envolvendo expressiva parcela da
população do planeta em um presente mundialmente compartilhado.
As possibilidades da globalização foram decisivas para os grandes
conglomerados industriais porque possibilitaram um rearranjo da produção com o
deslocamento ou implantação de unidades produtivas em países ou regiões em que
a oferta de mão de obra possibilitou baixar os custos de produção, além de outros
atrativos oferecidos por governos locais.
Este processo ocasionou a desterritorialização da produção, o fechamento de
postos de trabalho e desemprego nas áreas de origem das fábricas e
empreendimentos e, nos países periféricos, a exploração pode ser observada pelo
baixo nível de remuneração dos trabalhadores. Como resultado ampliou-se, em
grande escala, a remuneração do capital e a concentração de renda em poder dos
conglomerados industriais transnacionais em detrimento do aumento, também
exponencial, da miséria entre os trabalhadores do mundo.

Reflexão
Pretendemos, nesta aula, apresentar algumas das características da atividade
produtiva em tempos da globalização. Referimo-nos a processos instaurados nos
últimos anos e que podem ser observados, tanto em nosso cotidiano como no dia a
dia de outros povos e países. Nós esperamos que eles provoquem suas reflexões,
como cidadãos e como futuros administradores de empresas.
Em nossa próxima aula abordaremos as transformações que marcaram a
emergência do denominado Estado Mínimo nos países ocidentais.

1FERREIRA, José Carlos. Telecommuting, o novo paradigma do trabalho.


Disponível em: <http://www.ccuec.unicamp.br/revista/infotec/artigos/ferreira.html>
Acesso em 25 de julho de 2008.
2 FRIGOTTO, G.; CIAVATTTA, M. (org.) Teoria e Educação no Labirinto do
Capital. Petrópolis, Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 2001, p.30.

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Aula 23_As políticas neoliberais e as mudanças na configuração e na atuação
do Estado no final do século XX.

O objetivo desta aula é abordar as transformações que ocorreram na


configuração do Estado, no mundo ocidental, na segunda metade do século XX, assim
como discutir o papel que as políticas denominadas de neoliberais desempenharam
no processo.
É importante esclarecermos, e de início, que o neoliberalismo não constituiu
uma doutrina ou teoria econômica, mas sim um conjunto de práticas político-
econômicas inspiradas nas ideias de alguns economistas de grande prestígio no
mundo ocidental que, preocupados com a crise que atingiu o capitalismo nas décadas
de 1970 e 1980, elaboraram recomendações que foram colocadas em prática pelos
governantes dos países centrais como formas de enfrentamento da crise. Vejamos
como Curvêlo Chaves1 posiciona-se com relação ao neoliberalismo e à conjuntura
histórica que levou à implementação inicial das ideias neoliberais:
O que se convencionou chamar de Neoliberalismo é uma prática político-
econômica baseada nas ideias dos pensadores monetaristas (representados
principalmente por Milton Friedman, dos EUA, e Friedrich August Von Hayek,
da Grã Bretanha). Após a crise do petróleo de 1973, eles começaram a
defender a ideia de que o governo já não podia mais manter os pesados
investimentos que haviam realizado após a II Guerra Mundial, pois agora
tinham déficits públicos, balanças comerciais negativas e inflação.
Defendiam, portanto, uma redução da ação do Estado na economia. Essas
teorias ganharam força depois que os conservadores foram vitoriosos nas
eleições de 1979 no Reino Unido (ungindo Margareth Thatcher como primeira
ministra) e, de 1980, nos Estados Unidos (eleição de Ronald Reagan para a
presidência daquele país). Desde então o Estado passou apenas a preservar
a ordem política e econômica, deixando as empresas privadas livres para
investirem como quisessem. Além disso, os Estados passaram a
desregulamentar e a privatizar inúmeras atividades econômicas antes
controladas por eles.

Pode-se perceber, na citação, o fundamento político-econômico das medidas


defendidas para o enfrentamento da crise destacando-se, como central, a
recomendação da redução da ação do Estado na economia, princípio defendido tanto

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por Friedman (Escola de Chicago) quanto por Hayek, opositores da intervenção do
Estado ou de qualquer limitação à liberdade dos agentes econômicos. Explica-se,
assim, a designação neoliberalismo, ou seja, um retorno ao princípio básico que
consagrou o Liberalismo nos séculos XVII e XVIII.
A partir dos anos de 1980 e da experiência dos governos de Margareth
Thatcher, no Reino Unido, e Ronald Reagan, nos Estados Unidos, as ideias
neoliberais propagaram-se como receituário assumido, inclusive, pelas agências
financiadoras mundiais, como o Banco Mundial, que impunha as medidas para os
países que recorreram aos empréstimos do Banco, os países em desenvolvimento.
Dentre os pressupostos neoliberais mais difundidos destacam-se: a mínima
intervenção do Estado na economia e no mercado de trabalho, a implementação da
política de privatização das empresas estatais, a liberdade total para circulação de
capitais internacionais com a defesa da globalização. A denominada
desburocratização do Estado que consiste em simplificar processos para facilitar
trâmites para empresas, a crítica acirrada aos impostos e a defesa do aumento da
produção como forma de desenvolver a economia.
Tudo isso, deveria ser empreendido por um Estado reduzido, mínimo,
reconhecido pela eficácia de seus processos.
A prática das ideias neoliberais resultou, de um lado, na retomada do
desenvolvimento do capitalismo, como era o propósito de seus defensores, e de outro,
na redução drástica da ação do Estado, surgindo daí o Estado Mínimo. Em muitos
países, a privatização acarretou prejuízos para o patrimônio público com a venda de
empresas estatais a preços irrisórios (inclusive de muitas reconhecidamente
rentáveis), e no combate sistemático aos direitos dos trabalhadores, quer aqueles
vinculados ao trabalho quer os de previdência social. As políticas públicas, dentre elas
as sociais, foram as mais atingidas pela redução da ação estatal, o que representou,
no âmbito mundial, o avanço da pobreza e a expansão da miséria entre muitas
populações.
O Estado Mínimo, resultante da implementação dos princípios neoliberais
constitui-se, como vimos, nas últimas décadas do século XX e foi antecedido pelo
denominado Estado do Bem Estar Social ou Estado Social, cuja atuação sofreu
críticas acirradas de Milton Friedman e Hayek, no momento de sua crise. Faremos, a

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seguir, uma retomada de processos históricos que marcaram a constituição do Estado
de Bem Estar Social, Welfare State ou Estado Social.
O Estado de Bem Estar Social ou Welfare State, que sucedeu ao Estado Liberal
propiciador da acumulação de capitais pela burguesia industrial (séc. XVIII ao início
do XX), tem suas raízes históricas na luta dos trabalhadores por seus direitos,
processo que remonta de industrialização dos países ocidentais. Todavia, foi com a
crise de 1929, nos Estados Unidos, que ocorreram as condições de sua
implementação. A crise atingiu o ápice em 1929, com a quebra da Bolsa de Nova York
(na denominada Quinta-feira Negra), e desencadeou mudanças no papel e na atuação
do Estado.
Se o Estado Liberal representou ampla liberdade para a atividade econômica e
seus agentes, a partir da década de 1930, nos Estados Unidos, a atuação do Estado
caracterizou-se pela promoção da atividade econômica estabelecendo suas diretrizes,
impulsionando-a e implementando políticas sociais que procuraram garantir
condições de sobrevivência para os trabalhadores e suas famílias. Política de pleno
emprego, melhores salários e previdência social foram alcançados durante o New
Deal, como ficaram conhecidas as reformas promovidas pelo presidente Roosevelt
sob a orientação do economista Keynes. Desta conjuntura resultou o denominado
Estado de Bem Estar Social, o Welfare State, que ficou caracterizado pelo
intervencionismo estatal nas relações entre os agentes econômicos e pela
implementação de políticas sociais universalistas (dirigidas a todos), que procuraram
minimizar a desagregação das solidariedades resultante do estabelecimento da
sociedade industrial e de crises que atingiram duramente a atividade econômica.
Esta redefinição na atuação do Estado diante da diminuição da capacidade de
autorregulação da sociedade civil observou-se, de forma clara e imprescindível, no
final da década de 1920, nos Estados Unidos, atingido pelas repercussões da grande
crise de superprodução que atingiu a economia americana e pela crise financeira. A
amplitude da crise disseminou seus efeitos, tanto internamente nos Estados Unidos
quanto nos seus parceiros comerciais, repercutindo inclusive no Brasil e criando as
condições para a Revolução de 1930. Foi a intervenção do Estado, por meio da New
Deal colocada em prática por Roosevelt, que promoveu a retomada das atividades e
do dinamismo da economia norte-americana.

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O Estado Social assumiu o papel de promotor do desenvolvimento nacional, do
crescimento da atividade econômica e da proteção social dos cidadãos. Ao Estado,
como principal agente do progresso, cabia o papel de regulador da economia e da
promoção do atendimento da demanda de grupos sociais e dos cidadãos.
A atuação do Estado Social ficou comprometida com a conjuntura econômica-
política que se impôs desde as décadas de 1970/1980 e que provocou a crise do
modelo. Constituiu a abertura do caminho para a defesa do Estado Neoliberal ou
Mínimo, que foi adquirindo sua conformação nas décadas finais do século XX.
Diante da constante redução de seus recursos, o Estado descarta, cada vez
mais, a adoção de políticas sociais amplas, universalistas, e assume a feição
propugnada há décadas pelos economistas e seus aliados políticos defensores do
Estado Mínimo.

Reflexão
É possível reconhecer, na história recente de nosso país, indicadores de
políticas neoliberais? Como você avalia o resultado delas para a sociedade brasileira?
Na próxima aula você estudará as mudanças que ocorreram no trabalho e o
impacto das novas tecnologias na produção e emprego.
________
1 CHAVES, Curvêlo. O Neoliberalismo e a Nova Ordem Mundial. Disponível em:
<http://www.culturabrasil.pro.br/neoliberalismoeglobalizacao.htm>. Acesso em 10 de
agosto de 2008.

Indicação de sites para pesquisa:


http://www.culturabrasil.pro.br/neoliberalismoeglobalizacao.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Neoliberalismo
http://www.suapesquisa.com/geografia/neoliberalismo.htm

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Aula 24_Os novos paradigmas do trabalho: as mudanças no conteúdo do
trabalho e o impacto das novas tecnologias.

O objetivo desta aula é abordar as mudanças que ocorreram no mundo do


trabalho e que modificaram, profundamente, a natureza ou o conteúdo do trabalho.
Enfocaremos as novas formas de trabalho e arranjos que ocorrem nos ambientes
produtivos. Trataremos também do trabalho informal e situaremos, ainda, o fenômeno
do desemprego estrutural.
Ao estudarmos as características da produção e do trabalho no mundo atual
encontramos, com frequência, referências à superação de uma fase moderna pela
ocorrência, em nossos dias, de processos que caracterizaram o pós-moderno. O
conceito de modernidade referente à produção e ao trabalho vincula-se ao predomínio
da industrialização, com suas amplas repercussões no mundo do trabalho e na
sociedade em geral.
A fábrica organizou a vida na primeira metade do século XX, estabeleceu
formas e tempos de trabalho, repercutiu na organização do tempo e da vida social,
acentuou o processo de urbanização ocasionando a formação de metrópoles, grande
parte delas situadas em áreas de concentração industrial, enfim, a fábrica representou
uma referência fundamental para a vida no século XX.
Muitos de nós surpreendemo-nos, ainda hoje, ao assistir o filme “Tempos
Modernos” e observar o registro que Charles Chaplin realizou sobre o trabalho nas
fábricas americanas e a vida dos trabalhadores nos anos de 1930. Prevalecia o
modelo fordista na organização da produção, a máquina imprimia o tempo da vida e
do trabalho e o poder da fábrica, oferecendo ou não emprego, repercutia na
organização da vida dos trabalhadores. Em síntese, a produção da vida e da condição
humana estava intimamente ligada à modernização como fenômeno econômico
vinculado ao predomínio da ordem industrial.
Veja, a seguir, como é explicada a situação atual, a que se atribui a designação
pós-moderna, por Hardt e Negri (2001, p. 306):1
Em nossa época, entretanto, a modernização acabou. Em outras palavras, a
produção industrial já não estende sua dominação sobre outras formas
econômicas e outros fenômenos sociais. Um sintoma dessa mudança está
patente nas alterações quantitativas no emprego. Enquanto o processo de

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modernização era indicado pela migração do trabalho da agricultura e da
mineração (setor primário) para a indústria (secundário), o processo de pós-
modernização ou informatização tem sido demonstrado pela migração da
indústria para os serviços (terciário), mudança essa que vem ocorrendo nos
países capitalistas dominantes, particularmente nos Estados Unidos, desde o
final da década de 1970. Serviços incluem uma vasta gama de atividades, de
assistência médica, educação e finanças a transporte, diversão e publicidade.
Os empregos são em sua maioria altamente movediços e envolvem
flexibilidade de aptidões. Mais importante, são caracterizados em geral pelo
papel central desempenhado pelo conhecimento, informação, afeto e
comunicação. Nesse sentido, muitos consideram a economia moderna uma
economia de informação.

O excerto acima possibilita entendermos, além dos conceitos de modernização


e pós-modernização empregados na área da economia e, por extensão, na
administração, as principais transformações que estão em curso na atividade
econômica. Vivemos já, tanto no nível mundial quanto no Brasil – considerando como
tendência – uma economia de serviços.
Isto não significa afirmar que a indústria, ou o setor secundário da economia,
deixou de existir, mas que ele perdeu a centralidade que já ocupou tanto no mundo
da economia, relacionado à produção e ao trabalho, quanto na organização e
repercussões na vida social. E, tal como ocorreu com a agricultura transformada pela
introdução de maquinaria e processos industriais, a indústria está sendo transformada
pela introdução de novas tecnologias.
Nas economias do Japão e da Alemanha, com a forte introdução das novas
tecnologias e da informática na produção, predomina o que Hardt e Negri denominam
de modelo infoindustrial, e o fechamento de postos de trabalho não é tão acentuado
quanto em economias que redirecionam suas atividades para o setor de serviços,
como os Estados Unidos, Canadá, e Reino Unido.
É importante lembrarmos que, com a globalização, apresentou-se a
oportunidade para os conglomerados industriais desterritorializarem suas unidades
produtivas, ou seja, transferirem parte das fábricas para países que apresentem
disponibilidade de mão de obra e possibilidades de baixar os custos com salários. O
fechamento interno de postos de trabalho e a transferência de atividades para outros

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países ocorrem também em outros setores da economia, como na área de
comunicações, mais especificamente de telemarketing. Os Estados Unidos
transferem para o México um grande número de serviços visando o barateamento de
custos, o que contribui para a ampliação dos problemas sociais uma vez que gera
desemprego nos EUA.
Cumpre ressaltarmos que a introdução de inovações no processo produtivo
altera o que denominamos de natureza/conteúdo do trabalho. Assim é que, a
informatização e a comunicação dominantes no setor de serviços levam ao
predomínio do trabalho imaterial, ou seja, aquele que produz um bem imaterial como
serviço, conhecimento ou comunicação. Em contraposição, afirma-se como trabalho
material aquele que resulta em produção de um bem material, um produto.
A importância da informação e da comunicação no processo de produção levou
ao estabelecimento de novos paradigmas ou modelos de funcionamento da atividade
industrial. Imperou, no século XX, o modelo fordista de produção assentado na
produção em grande escala, o que barateava os custos de produção e possibilitava a
redução no preço final dos produtos. Esta era a preocupação central do modelo
fordista.
Nas últimas décadas do século XX, a Toyota, empresa japonesa do setor
automobilístico, promoveu uma verdadeira revolução na estrutura de produção e, pelo
sucesso obtido, estabeleceu um novo modelo ou paradigma industrial. Além de
romper com a especialização de tarefas e a fixação dos trabalhadores nos postos de
trabalho e inovar criando equipes de funcionários que conheciam e praticavam
diferentes atividades, a Toyota incorporou a comunicação com o mercado para
levantar as necessidades de produção. Inaugurou uma forma de atuação integrada –
fábrica e necessidades do mercado consumidor – que alavancou uma série de
mudanças internas que alteraram profundamente a planta da fábrica.
A produção a partir da comunicação constante e feedback do mercado
possibilitaram o estabelecimento da produção “Just in time” (no tempo), implicando na
eliminação de estoques (estoque zero) e, por extensão, na supressão de áreas e
custos de funcionários do setor e, passo seguinte, introduziu controle maior sobre a
qualidade dos produtos. Esta iniciativa da Toyota, um modelo de reestruturação
industrial, repercutiu em muitas outras áreas e setores da economia. A preocupação

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em “ouvir o mercado”, ajustando a produção ou o foco da atividade à demanda
reconhecida e a prática de estoque zero, praticamente, estão generalizadas.
Quanto à inovação ou mudança tecnológica, introduzida na produção ou no
setor produtivo, houve uma mudança na configuração do desenvolvimento da
atividade, com a supressão de fases ou de atividades. Como consequência, gerou-se
uma eliminação de postos de trabalho e provocou, de forma geral, o desemprego dos
trabalhadores.
Este fenômeno, muito frequente na atualidade, gera o desemprego estrutural,
o que significa a eliminação de postos de trabalho que, dada à nova configuração da
produção, não serão mais recuperados. O impacto do desemprego estrutural em
todas as economias é grande e deve permanecer sempre na média dos 10% a 15%,
segundo estatísticas, o que gera um efeito devastador na vida dos trabalhadores.
As alterações que ocorrem no mundo do trabalho, a maioria promovida pela
introdução de novas tecnologias, amplia o desemprego e, quando agravadas pelas
condições de mudanças estruturais na produção, acarretam a redução de
possibilidades de trabalho, situação que tem levado muitos trabalhadores ao trabalho
informal, autônomo ou dependente de outrem, mas sem vínculo formal ou registro em
carteira de trabalho.
O número de trabalhadores na informalidade é expressivo, mas de difícil
levantamento e controle porque as dificuldades de localizar, oficialmente, essas
pessoas são grandes, inclusive porque não há como cruzar dados ou fontes que
registrem os casos. Todavia as pessoas existem e é importante destacarmos que a
falta de controle do número de trabalhadores nessa condição dificulta, entre outros
fatores, a implementação de políticas públicas como as da área da educação, da
saúde, dos transportes, da habitação, que devem priorizar o atendimento da
população mais necessitada.

Reflexão
Apresentamos, nessa aula, algumas das mudanças que caracterizam o mundo
do trabalho e da produção na atualidade, procurando ressaltar os processos que as
fundamentam. Salientamos também a importância e alguns impactos da introdução
da mudança tecnológica, da informatização e da comunicação na produção e no

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trabalho. Procuramos situar o desemprego estrutural, fenômeno irreversível e que
tende a crescer, assim como levantamos questões iniciais sobre o trabalho informal,
assunto que demanda cuidados oficiais e repercute na vida das populações.
Sugerimos que você observe com atenção e, se possível, estude a forma como esses
processos estão ocorrendo em sua cidade ou região.
Na próxima aula, abordaremos a formação do sindicato que, historicamente,
constituiu a principal organização de luta dos trabalhadores por seus direitos de
trabalho e melhores condições de vida.

____
1 HARDT, Michael: NEGRI, Antonio. Império. Trad. Berilo Vargas. Rio de Janeiro:
Record, 2001.(2001, p. 307).

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Aula 25_Breve história da organização dos trabalhadores e da formação dos
sindicatos.

O reconhecimento do Sindicato, como instância de organização e luta dos


trabalhadores por melhores condições de trabalho e vida, foi resultado de uma longa
trajetória de embates entre o operariado e o patronato, lutas que repercutiram na
sociedade e na política, resultando na conquista de aliados para a causa dos
trabalhadores. A seguir, veremos um breve histórico dessas lutas na Inglaterra, país
pioneiro na industrialização e na formação dos sindicatos, e no Brasil.
Veja como um especialista em Direito do Trabalho define o Sindicato:

Sindicatos são entidades associativas permanentes, que representam


trabalhadores vinculados por laços profissionais e laborativos comuns,
visando tratar de problemas coletivos das respectivas bases representadas,
defendendo seus interesses trabalhistas e conexos, com o objetivo de lhes
alcançar melhores condições de labor e de vida. (Maurício Godinho Delgado) 1

Breve histórico da formação dos sindicatos operários


A origem do movimento associativo dos trabalhadores está intimamente
vinculada ao desenvolvimento da Revolução Industrial, que teve início na Inglaterra,
em meados do século XVIII. A situação enfrentada pelos operários das primeiras
fábricas inglesas, que trabalhavam em jornadas superiores a dezesseis horas diárias,
ocasionaram as primeiras manifestações de oposição à nova forma de organização
do trabalho, o trabalho fabril, e à intensificação da exploração da mão de obra que,
reunida em um mesmo local, a fábrica, passou a receber uma remuneração fixa, o
salário, em troca do trabalho realizado.
O desenvolvimento das máquinas foi intenso e desencadeou a concorrência
entre os industriais pela obtenção de lucros. A incorporação de máquinas cada vez
mais avançadas resultou na redução de postos de trabalho, no rebaixamento dos
salários e no emprego da mão de obra de mulheres e crianças, muitas vezes vítimas
de maus tratos e desrespeito.
Tentando resistir a essa situação, os trabalhadores procuraram destruir as
máquinas mais avançadas, o principal alvo, no movimento que ficou conhecido como
Ludismo, uma referência a Ned Ludd, tecelão que havia destruído os teares da oficina

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em que trabalhava após discutir com o mestre. Esta forma de revolta elementar,
isolada e limitada não conseguiu frear o desenvolvimento da industrialização, o que
levou ao aumento do operariado e também à intensificação dos conflitos entre a classe
trabalhadora e os capitalistas.
Das fábricas, as discussões ganharam as ruas e chegaram ao Parlamento
aonde a condição de miséria, a exploração e a falta de direitos dos trabalhadores
ganharam adeptos para suas lutas. No ano de 1824, o Parlamento aprovou o direito
de livre associação, antes restrito às classes dominantes. A partir daí, os
trabalhadores avançaram na organização de suas lutas, legalizaram as associações
de correspondência, que já existiam desde o século anterior, e constituíram as trade-
unions, os sindicatos que reuniram trabalhadores do mesmo ramo industrial. As trade-
unions fortaleceram-se e tornaram-se poderosas e eficazes representantes dos
trabalhadores2:
As trade-unions passaram a fixar os salários por categorias, a regulamentar
os salários em função dos lucros obtendo aumentos que acompanhavam a
produtividade industrial, estendendo as conquistas a toda a categoria.
Negociavam também escalas de salários, deflagrando muitas greves quando
suas reivindicações não eram atendidas. Criaram também as “Caixas de
Resistência” para auxiliar financeiramente os operários desempregados ou
sustentar greves, que se tornaram poderosas instâncias de negociação.

Outro importante momento na organização da classe operária na Inglaterra foi


a formação de federações reunindo profissionais de diferentes categorias por região
e, na continuidade do processo, formaram-se as associações nacionais como centrais
sindicais que aglutinaram grande número de trabalhadores dando força e eficácia às
suas lutas.
A trajetória de organização das lutas dos trabalhadores na Inglaterra, com a
formação das trade-unions, das federações e das associações nacionais, constituiu
uma referência para a organização do movimento operário de outros países.
No Brasil, as primeiras associações de trabalhadores livres foram formadas no
período colonial tiveram caráter corporativo e estavam ligadas à Igreja. Elas deram
início à fase mutualista da organização operária que se estendeu, aproximadamente,
até 1888. Conforme LOPES3:

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O mutualismo é uma relação social que implica, de um lado, em deveres,
obrigações e prestações de serviços; e, de outro lado, em direitos,
compensações e retribuições dentro de uma escala de valores socialmente
aprovados.

A relação de reciprocidade era básica para o funcionamento dessas


instituições, pois todos contribuíam e recebiam contribuições. Elas reuniram
trabalhadores qualificados como alfaiates, entalhadores, marceneiros, funileiros,
pedreiros, ferreiros, entre outros. A vinculação com as irmandades religiosas ficou
clara na denominação que receberam, Confrarias ou Irmandades, cada qual com seu
santo padroeiro. Muitas dessas organizações tiveram participação ativa em revoltas
coloniais, como a revolta dos Alfaiates, que ocorreu em Salvador/Bahia, em 1798,
tendo como bandeira de luta, melhores condições de trabalho, de salários e de vida.
Com a independência e a formação do Estado nacional no Brasil, ocorreu a
outorga da 1ª Constituição do país, em 1824. Ela aboliu “todas as corporações de
ofícios, seus escrivães e mestres”. Todavia, ainda durante o império, foram formadas
as sociedades de auxílio mútuo, montepios e sociedades beneficentes que reuniram
os trabalhadores como instâncias de organização de suas lutas.
No final do século XIX, a influência das ideias socialistas crescia no Brasil, mas
foi nas primeiras décadas do século XX, sob a influência dos operários e militantes
anarquistas, que se formaram os sindicatos livres e uma poderosa imprensa operária
que difundiu as ideias anarquistas e mobilizou para muitas greves e enfrentamentos
com a polícia. A greve geral que parou a cidade de São Paulo, no ano de 1917,
representou a força da influência anarquista na organização das lutas do operariado
no período e desencadeou grande perseguição e expulsão de suas principais
lideranças. A fundação do Partido Comunista, em 1922, iniciou uma nova fase na
organização das lutas operárias.
A ascensão de Getúlio Vargas ao governo federal, com a Revolução de 1930,
representou um golpe para a livre associação de trabalhadores. Vargas estabeleceu
um controle sobre as instituições ao exigir o registro delas junto ao Ministério do
Trabalho e o reconhecimento oficial como condição para o funcionamento dos

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sindicatos. E, mobilizando o apoio das instituições sindicais e de suas lideranças,
Vargas constituiu a base de sustentação para sua permanência no poder.
A aprovação do salário mínimo, em 1940, e a publicação da Consolidação das
Leis do Trabalho, em 1943, garantiram para Getúlio Vargas o apoio das organizações
dos trabalhadores no país. Esta relação entre governante e movimento operário,
reconhecida como mecanismo de mobilização política da massa operária, constituiu
o fenômeno conhecido como Populismo. A morte de Getúlio Vargas (25/8/1954)
representou um corte na política populista, mas o prestígio de Vargas foi canalizado
pelo Partido Trabalhista Brasileiro, o PTB, ao qual pertencia, e por lideranças políticas
a ele vinculadas como João Goulart, que se elegeu vice-presidente nas eleições de
1960, ao concorrer junto com Jânio Quadros à presidência da República. Ambos
foram eleitos e João Goulart assumiu com a renúncia de Jânio Quadros após sete
meses de governo (agosto de 1961).
A década de 1950 e o início dos anos de 1960 representaram um período de
grande mobilização para as organizações sindicais no Brasil, fase interrompida com o
golpe de 1964. Os sindicatos ampliaram suas bases com o desenvolvimento da
industrialização e fortaleceram a organização das lutas, processo que culminou com
a formação de uma central sindical nacional, o Comando Geral dos Trabalhadores, o
CGT, que, apoiado por sindicatos e federações a ele vinculados, obteve importantes
conquistas para os trabalhadores brasileiros. O golpe de 1964 e a ditadura militar
interromperam o processo organizativo da classe trabalhadora brasileira, prendendo
e eliminando muitas de suas expressivas lideranças.
A retomada das lutas dos trabalhadores e o fortalecimento de suas
organizações representativas, como os sindicatos, intensificaram-se após 1978 e, no
inicio da década de 1980, formaram-se as centrais sindicais atuais (CGT e CUT). O
final da ditadura, em 1985, favoreceu a expansão das atividades sindicais. Todavia, a
conjuntura internacional havia mudado e as crises que atingiram o capitalismo
representaram enormes dificuldades para a organização do movimento dos
trabalhadores e para o funcionamento dos sindicatos.
O desenvolvimento acentuado da tecnologia e da informatização, a difusão das
ideias e políticas neoliberais e da globalização repercutiram na organização da
produção e ocasionaram sua reestruturação, fenômeno que se estendeu,

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praticamente, a todos os setores da economia e que resultou em fechamento de
postos de trabalho, desemprego generalizado e, como consequência, perda de
representatividade e poder das instituições sindicais. Essa situação pode ser
observada não só no Brasil, mas até mesmo nos países europeus onde os sindicatos
e as centrais sindicais de trabalhadores construíram forte e sólida reputação como
interlocutores políticos e forças sociais que ocuparam papel importante nos processos
nacionais de tomada de decisões.
Vejamos como Hardt e Negri entendem o processo em curso desde os anos de
1980:
Em vista da intensidade e da coerência das lutas da década de 1960 e 1970,
dois caminhos se abriram para o capital cumprir a tarefa de aplacar as lutas
e reestruturar o comando, e ele tentou cada um desses caminhos
separadamente. O primeiro caminho, que tinha limitada eficácia, foi a opção
repressiva – uma operação fundamentalmente conservadora. A estratégia
repressiva do capital visava a inverter completamente o processo social,
dividindo e desagregando o mercado de trabalho, e restabelecendo o controle
de todo o ciclo de produção.
(...) Ao mesmo tempo, portanto, um segundo caminho teve de entrar em jogo,
um caminho que envolveria uma transformação tecnológica visando não mais
apenas à repressão, mas mudar a própria composição do proletariado e,
dessa maneira, a integrar, dominar e obter lucros com suas novas formas e
práticas.

Conforme a visão dos autores acima citados, a informatização e a inserção


crescente de novas tecnologias na produção representam uma estratégia dos
capitalistas para enfraquecer a reação dos trabalhadores e, segundo eles, deve partir
dos trabalhadores, que estão no centro do processo, a reação contra mais essa
investida do capital. É deles o pensamento: “O proletariado inventa, efetivamente, as
formas sociais e produtivas que o capital será obrigado a adotar no futuro”. Eles
também cogitam a possibilidade de formação de um sindicato global como instância
que pode reunir as condições de enfrentamento e reação à globalização do capital.

Reflexão

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Nesta aula vimos que a formação das trade-unions, os sindicatos ingleses,
representou uma possibilidade efetiva de luta dos trabalhadores contra a exploração
e as péssimas condições de vida e de trabalho, constituindo a base para a sua
organização que se ampliou com a formação das associações nacionais, o que
resultou em ampliação do poder de luta dos trabalhadores. Salientamos que a
trajetória da organização da classe operária na Inglaterra constituiu, historicamente,
uma referência fundamental.
Aproximamos o tema da aula, abordando, ainda que de forma sucinta, a
organização dos trabalhadores no Brasil. Apresentamos também o pensamento de
Hardt e Negri a respeito do papel que os trabalhadores e suas organizações podem
representar na reação ao processo de globalização, na sua face de exclusão e
marginalização dos trabalhadores.
Tomando como referência o Brasil, o que você observa a respeito da
organização dos trabalhadores, de suas demandas, da mobilização pela manutenção
de seus direitos do trabalho? Você é sindicalizado? Por quê?

____________
1 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. - 6 ed. - São Paulo:
LTr, 2007, p. 1325. Existem também os sindicatos patronais, ou seja,
representativos dos empregadores.
2 LOPES, C. L.; TRIGUEIROS, N. N. História do Movimento Sindical no Brasil.
São Paulo/Osasco: Centro de Memória Sindical / Sindicato dos Metalúrgicos de
Osasco e Região, 1991 (Caderno 1).
3 LOPES, C. L. E. O que todo cidadão deve saber sobre sindicatos no Brasil.
São Paulo: Global, s.d.p.

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Aula 26_Sociedade Contemporânea: discutindo o conceito de Sociedade do
Conhecimento.

Nesta aula abordaremos alguns aspectos da sociedade atual que implicaram


na propagação da denominação de sociedade do conhecimento. Apresentaremos
uma visão crítica da difusão da expressão com o objetivo de auxiliar na reflexão sobre
o momento em que vivemos.
O ritmo das transformações ocorridas no período pós 2ª Grande Guerra
Mundial (1939 a 1945) foi intenso e atingiu todos os setores da sociedade. No mundo
da produção, passamos do predomínio da indústria para a rápida expansão do setor
de serviços, muitos deles relacionados à transmissão de informações. Como já vimos,
a indústria perdeu a centralidade que ocupava na vida econômica e que repercutia em
toda a organização da sociedade pela imposição de tempos, ritmo e até mesmo pela
difusão do modelo fordista, conhecido pela eficácia, para outros setores ou atividades.
Esta conjuntura levou à difusão da denominação de Sociedade Pós-Industrial ao
período em que vivemos. Não que a indústria tenha deixado de ser importante, mas
outras atividades colocaram-se como vitais para a retomada de desenvolvimento do
capitalismo, principalmente nas últimas décadas do século XX, assumindo grande
importância no estabelecimento da globalização.
Como principal característica da sociedade pós-industrial configura-se o
predomínio das atividades vinculadas ao setor de serviços que, nos países mais
desenvolvidos, amplia constantemente a demanda por mão de obra. Se, na sociedade
industrial, o trabalho físico, a padronização de atividades e a especialização de tarefas
eram dominantes, na atualidade, serão outras as habilidades requeridas no mundo do
trabalho. Dentre elas, estão a escolarização, que é fundamental para a apreensão das
informações, a criatividade e a flexibilidade no tocante ao desenvolvimento das tarefas
que, muitas vezes, embora de natureza diferentes, são exercidas simultaneamente.
Como outras características definidoras dos tempos atuais, estão a velocidade
e a quantidade da propagação da informação, o que foi possível pela criação das
redes de informação, destacando-se a rede mundial, a Internet, como uma das
principais propagadoras da informação. Salientamos, todavia, que é fundamental

NÚCLEO COMUM
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distinguirmos informação de conhecimento. Vejamos a distinção apontada por Richard
Crawford, no livro “Na Era do Capital Humano” 1:
Um conjunto de coordenadas da posição de um navio ou o mapa do oceano
são informações, a habilidade para utilizar essas coordenadas e o mapa na
definição de uma rota para o navio é conhecimento. As “coordenadas” e o
mapa são as “matérias-primas” para se planejar a rota do navio. Quando você
diferencia informação de conhecimento é muito importante ressaltar que
informação pode ser encontrada numa variedade de objetos inanimados,
desde um livro até o disquete de um computador, enquanto o conhecimento
só é encontrado nos seres humanos (...). Somente os seres humanos são
capazes de aplicar desta forma através de seu cérebro ou de suas
habilidosas mãos. A informação torna-se inútil sem o conhecimento do ser
humano para aplicá-la produtivamente. Um livro que não é lido não tem valor
para ninguém. (...)

Como você observou na leitura acima, a informação, por si só, não representa
conhecimento. Conhecer significa entender, saber mobilizar, relacionar e aplicar a
informação, o que pressupõe o domínio de muitas habilidades pelo ser humano
destacando-se, como fundamentais, o domínio da leitura e da escrita, o que se
aprende em boas escolas.
Como contraponto e auxílio para nossas reflexões, trouxemos o pensamento
de DUARTE2 (2003, p.13) a respeito do momento em que vivemos:
Reconheço, e não poderia deixar de fazê-lo, que o capitalismo do final do
século XX e início do século XXI passa por mudanças e que podemos sim
considerar que estejamos vivendo uma nova fase do capitalismo. Mas isso
não significa que a essência da sociedade capitalista tenha se alterado ou
que estejamos vivendo uma sociedade radicalmente nova, que pudesse ser
chamada de sociedade do conhecimento. A assim chamada sociedade do
conhecimento é uma ideologia produzida pelo capitalismo, é um fenômeno no
campo da reprodução ideológica do capitalismo. Dessa forma, para falar
sobre algumas ilusões da sociedade do conhecimento é preciso primeiro
explicitar que essa sociedade é, em si mesma, uma ilusão que cumpre
determinada função ideológica na sociedade capitalista contemporânea.

Conforme bem salienta o autor, é fundamental que estejamos atentos ao papel


que a ideologia representa na reprodução da sociedade, difundindo conceitos, criando

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ilusões que encobrem a realidade. Se é inegável que vivemos em momento de
ampliação das comunicações e de difusão da informação, a ideia da sociedade de
conhecimento deve ser melhor considerada, principalmente porque o processo não
se desenvolve da mesma forma e na mesma proporção e extensão em todo o planeta.
Duarte aponta as Cinco Ilusões da chamada sociedade do conhecimento:

 Primeira ilusão: o conhecimento nunca esteve tão acessível a todos como hoje, isto
é, vivemos numa sociedade na qual o conhecimento foi amplamente democratizado
pelos meios de comunicação, pela informática, pela Internet, etc.
 Segunda ilusão: a capacidade para lidar de forma criativa com situações singulares
no cotidiano;
 Terceira ilusão: o conhecimento não é a apropriação da realidade pelo pensamento,

mas sim uma construção subjetiva de processos semióticos intersubjetivos, nos quais
ocorre uma negociação de significados. O que confere validade ao conhecimento são
os contratos culturais, isto é, o conhecimento é uma convenção cultural.
 Quarta ilusão: os conhecimentos têm todos os mesmos valores, não havendo entre
eles hierarquia quanto à sua qualidade ou seu poder explicativo da realidade natural
e social.
 Quinta ilusão: o apelo à consciência dos indivíduos, seja por meio das palavras,
seja por meio dos bons exemplos dados por outros indivíduos ou por comunidades,
fazendo-os acreditarem que isso constitui o caminho para a superação dos problemas
da humanidade. Deixa-se de lado a complexa realidade política e econômica gerada
pelo imperialismo norte-americano e multiplicam-se os apelos românticos ao cultivo
do respeito às diferenças culturais. (Op. cit. p. 14 e 15).

Reflexão
Nesta aula apresentamos algumas características da denominada Sociedade
da informação e do conhecimento. Incluímos nela o pensamento crítico de Newton
Duarte com o objetivo de chamar sua atenção para a difusão da ideia e para o que
ela encobre. Fique atento, reconheça o momento em que vive, mas não tenha ilusões
sobre ele.
Em nossa próxima aula estudaremos a Comunicação, o conceito e a difusão.

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1 Apud LUCCI, E. A. Disponível em: <http://www.hottopos.com/vidlib7/e2.htm>
Acessado em 24 de julho de 2006.
2 DUARTE, N. Sociedade do Conhecimento ou Sociedade das Ilusões?
Campinas, S.P: Editora Autores Associados, 2003. (Coleção polêmicas de nosso
tempo, 86).

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Aula 27_Comunicação: conceito e difusão

Estudaremos, nesta aula, o conceito de comunicação, o que envolve e as


formas de difusão.
Vejamos o que nos apresenta o Dicionário Aurélio a respeito do termo
Comunicação1:
Comunicação. 1. Ato ou efeito de comunicar (se). 2. Ato ou efeito de emitir,
transmitir e receber mensagens por meio de métodos e/ou processos
convencionados, quer através da linguagem falada ou escrita, quer de outros
sinais, signos ou símbolos, quer de aparelhamento técnico especializado,
sonoro ou visual... 6. A capacidade de trocar ou discutir ideias, de dialogar,
de conversar com vista ao bom entendimento entre pessoas.

A comunicação, como se pode perceber, envolve mais de uma pessoa e


também uma ou mais mensagens que se pretende transmitir. Podemos entender que
comunicar significa “por em comum”, tanto as mensagens trocadas quanto às pessoas
que estão participando do ato ou efeito de comunicar-se.
Para que a comunicação ocorra é necessária a existência de um EMISSOR, ou
sujeito que emite a mensagem, de RECEPTOR(ES), ou seja aquele(s) que irá(ão)
receber a mensagem e a MENSAGEM, que deve ser transmitida.
Podemos afirmar que, pela comunicação, o emissor influencia e esclarece o
receptor. A mensagem veiculada pode ser uma notícia, uma informação, uma
orientação, de uma pessoa para outra ou, caso ocorra no interior de uma organização,
de um funcionário ou departamento para outro(s), ou ainda entre organizações. Já
constatamos também o poder de influenciar a população, exercido pelos meios de
comunicação como jornais, rádio, televisão e cinema e, ao ouvirmos que informação
é poder, não mais nos surpreendemos.
Percebemos, em nosso cotidiano, como organizações ou empresas, governo e
pessoas se empenham em obter e controlar informações e, em tendência contrária,
como se difundiram e especializaram os meios de difusão da informação formando
verdadeiras redes que democratizam o acesso à informação e constituem subsídios
para a construção do conhecimento. A mais conhecida dessas redes, a World Web
Wide (tradução: Rede Mundial de Computadores), conhecida como Internet, estende

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sua cobertura sobre todo o planeta. É importante reconhecermos, no entanto, que
existem limites no acesso a essas redes e que muitos milhões de pessoas
permanecem fora desse circuito, pessoas comuns e, até mesmo, cidades e regiões.
São necessários alguns cuidados para que o processo de comunicação atinja
seu objetivo, isto é, o envio e compartilhamento da mensagem, assim como a garantia
da resposta esperada, ou seja, a retroação ou informação de retorno, que assegura a
compreensão da mensagem pelo destinatário e o sucesso da comunicação.
Em alguns casos, em virtude daquilo que denominamos “ruídos”, ocorrem
falhas na comunicação. Tais ruídos à comunicação podem ser ocasionados por
diversos fatores, dentre os quais: interpretações e outros fatores pessoais (como por
exemplo: estado emocional de um dos agentes), ideias preconcebidas, dificuldades
com o idioma, inabilidade na comunicação, pressa, urgência, desatenção, negligência
ou desinteresse na elaboração, bem como no recebimento da mensagem.
Resta ainda salientar o papel desempenhado pelos canais ou veículos de
comunicação, que constituem o meio escolhido pelo emissor para transmissão da
mensagem, como por exemplo: presença física, telefone e Internet, cartas, jornal,
televisão. Tais canais ou veículos de comunicação se distinguem uns dos outros pela
capacidade de abordar muitos assuntos simultaneamente, de facilitar o retorno ou
resposta à mensagem e de propiciar a aproximação entre os agentes (emissor,
receptor) e conteúdo da comunicação.
A escolha do canal ou veículo de comunicação cabe ao emissor, que deve
considerar para esta finalidade o tipo da mensagem e os objetivos que pretende
alcançar.

Reflexão
Faça um exercício: fique atento (a) à troca de mensagens entre as pessoas,
em casa e no trabalho, e verifique a forma como elas são transmitidas, entendidas e
retransmitidas. Observe se o teor integral da mensagem foi preservado no
entendimento e na retransmissão.
Você sabe que a comunicação constitui uma das maiores dificuldades no
relacionamento entre as pessoas? Você se comunica bem?
Na próxima aula estudaremos a Comunicação na organização.

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1 HOLANDA. A. B. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2 ed. Rio de

Janeiro: Editora Nova Fronteira, s.d.p., p. 443.

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Aula 28_Comunicação na organização

O tema desta aula é a comunicação no interior das organizações ou empresas.


O domínio da comunicação é uma habilidade fundamental para o
Administrador, posto que a ele cabe dirigir as pessoas que integram a organização
transmitindo-lhes objetivos, orientações, motivação, reforço, bem como atuar com as
respostas dadas a todas essas questões.
Conforme CHIAVENATO 1:
É notório que o administrador despende cerca de 70% a 80% do seu tempo
em comunicação: é o tempo a que se dedica a ler e interpretar relatórios,
memos, cartas, telefonemas, e-mails, além de participar de reuniões,
trabalhos em equipe, ouvir pessoas e, é claro, falar, escrever, decidir,
esclarecer, lembrar, orientar, reforçar etc. Tudo isso é comunicação. Tudo
isso ocupa a maior parte de seu tempo. E sem dúvida, negociar, barganhar,
fazer acordos, obter consenso. E isso é negociação. Sem dúvida, o
administrador que sabe comunicar e negociar tem excelentes ferramentas
para alcançar sucesso em suas atividades.

A comunicação no interior das organizações, denominada comunicação


organizacional, assume características próprias. Em algumas organizações são
empregadas tanto estruturas formais quanto informais na comunicação, já, em outras,
a comunicação segue rigidamente a hierarquia. Cabe mencionar que, a incorporação
do computador alterou significativamente os fluxos da comunicação organizacional,
intensificando-os, no decorrer da jornada de trabalho.
Os cuidados com a comunicação nas empresas e organizações devem ser
redobrados a fim de evitar distorções e transformações no conteúdo da mensagem e
garantir que este chegue preservado integralmente até o último elo (receptor).
Conforme salienta CHIAVENATO2 é comum a ocorrência de problemas de
transformação de comunicação nas organizações, sendo os mais frequentes:
Omissão – significa a supressão de aspectos das mensagens, mantendo o
sentido da mensagem íntegro e inalterado. Pode ocorrer quando o recebedor não tem
capacidade suficiente para captar o conteúdo inteiro da mensagem e somente recebe
e passa o que pode captar. É intencional quando tem capacidade, mas pretende

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passar apenas uma parte da mensagem. (...) é mais frequente nas comunicações
ascendentes.
Distorção – significa uma alteração no sentido da mensagem em suas
passagens pelos diversos agentes do sistema. Pode ser causada pela chamada
“percepção seletiva” das pessoas, cada pessoa seleciona consciente ou
inconscientemente os estímulos e informações que lhe interessam, omitindo os
demais. Pode ocorrer também devido às diferenças de interesses e pontos de vista.
(...) a distorção ocorre, (...) tanto nas comunicações horizontais como nas verticais
(ascendentes ou descendentes).
Sobrecarga – ocorre quando os canais de comunicação conduzem um volume
de informação maior do que a sua capacidade de processá-las. A sobrecarga provoca
omissão e contribui enormemente para a distorção.
É possível reconhecer, sem precisar de estudos de muita profundidade e
abrangência, que as dificuldades na comunicação interna das organizações
constituem um problema frequente e que afeta grande parcela delas. Ao administrador
cabe acompanhar, de forma cuidadosa, o processo de comunicação interna da
organização utilizando, adequadamente, os canais formais e informais disponíveis
garantindo, a integralidade de orientações e evitando a sobrecarga de canais e de
informações que resultam, na não observância de orientações e diretrizes.
Vale esclarecer que as denominadas comunicações descendentes dizem
respeito à implementação de objetivos, estratégias e metas; às instruções sobre o
trabalho e sua racionalidade incluindo procedimentos e práticas; à retroação de
desempenho e à doutrinação, que se configuram quando a organização quer a adesão
dos funcionários para a missão e valores que a norteiam.
A comunicação ascendente como indica a expressão, é aquela que se origina
nos níveis mais baixos e é endereçada para hierarquias mais elevadas. Entre seus
tipos incluem-se: relatórios de desempenho, informações contábeis e financeiras,
sugestões para aprimoramento, indicação de problemas e exceções e reclamações
gerais de funcionários.
Como salientamos acima, a atuação do administrador é fundamental no
acompanhamento das atividades da organização, empregando criteriosamente os
canais de comunicação, procurando mantê-los sem obstruções ou impedimentos para

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o bom fluxo da comunicação interna, além de tornar exequíveis os objetivos e metas
organizacionais e, para tanto, convém que ele se constitua em uma liderança de
equipe.

Reflexão
Enfocamos, nesta aula, a comunicação no interior da organização e apontamos
os problemas mais frequentes que a afetam. Faça um exercício de reflexão: procure
observar, com muita atenção, como acontece o fluxo da comunicação na organização
em que trabalha ou em alguma que conheça. Veja se as informações são
corretamente transmitidas e retransmitidas nos diferentes níveis de hierarquia ou se
elas fluem de forma contraditória? Procure descobrir fatores que interferem na
comunicação interna.
Dando continuidade às discussões estudaremos, na próxima aula, a liderança
e seus impactos no desenvolvimento das atividades internas da organização.

_____________________
1 CHIAVENATO, Idalberto. Administração nos Novos Tempos. 2. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2004, p. 416.
2 Idem, pp. 431- 432.

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Aula 29_ Liderança nas organizações

Você estudará, nesta aula, o conceito de liderança, o papel que a liderança


pode desempenhar nas organizações e as principais teorias que tratam do assunto.
As organizações são formadas por muitas pessoas que trabalham juntas, mas
atuando em atividades e níveis diferenciados dentro da mesma organização. Algumas
delas ocupam posições como diretoria, gerência e supervisão e são corresponsáveis
pelo bom andamento do trabalho de muitas outras, o que implica em exercício de
liderança.
Os líderes desempenham papéis chaves e suas ações repercutem na vida e
no trabalho de muitas pessoas e no resultado final alcançado pela organização, o que
faz crescer o interesse por conhecer melhor o fenômeno da liderança.
É importante destacarmos que, ainda que muitas vezes, administração e
liderança sejam tratadas como expressões sinônimas, há que se diferenciar a atuação
do administrador da do líder. Enquanto cabe ao administrador gerir os recursos das
organizações e funções como as de planejamento, organização e controle das ações
com a finalidade de atingir metas e objetivos, o líder tem a possibilidade de atuar tanto
em grupos formais quanto nos informais, cabendo frisar que nem sempre o líder ocupa
a função de administrador. O ideal seria que todo o administrador atuasse como uma
liderança, o que nem sempre ocorre.
A liderança é um fenômeno social, um tipo de poder pessoal que se afirma nas
relações interpessoais resultando em influência sobre ações e comportamentos; na
maioria das vezes, a atuação do líder se reveste de intenções que influenciam os
liderados. A influência se vincula ao poder e à autoridade.
Aproximando o foco, tomamos a explicação de CHIAVENATO 1:
O poder em uma organização é a capacidade de afetar e controlar as ações
e decisões das outras pessoas, mesmo quando elas possam resistir. A
autoridade é o poder legítimo, ou seja, o poder que tem uma pessoa em
virtude do papel ou posição que exerce em uma estrutura organizacional. É o
poder legal e socialmente aceito. Uma pessoa que ocupa uma alta posição
na organização tem o que chamamos poder de posição. O poder do
presidente é maior do que o do gerente devido a sua autoridade formalmente
atribuída pela sua posição hierárquica, e não devido a suas características
pessoais que certamente o levaram até lá. A capacidade de influenciar,

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persuadir e motivar os liderados está muito ligada ao poder que se percebe
no líder.

Baseando-nos ainda em Chiavenato, apontamos os tipos de poder que um líder


pode desempenhar:

Poder coercitivo – baseado no temor e na coerção. O liderado percebe que erros


podem levar a punições e penalidades;
Poder de recompensa – baseia-se no fato do liderado esperar por receber alguma
recompensa, ainda que seja elogio ou reconhecimento do líder;
Poder legitimado – é o poder que decorre da hierarquia organizacional;
Poder de competência – baseado no conhecimento, na especialização e nas
aptidões do líder;
Poder de referência – baseado na atuação e no apelo, o líder é admirado por certos
traços de sua personalidade, dizemos que ele possui poder referencial. É o que se
denomina de poder carismático.

A respeito de Carisma, Chiavenato esclarece que ele constitui uma faculdade


excepcional e sobrenatural de uma pessoa e que a diferencia das demais. Ele traz
também a contribuição do Dicionário Aurélio que associa carisma a uma espécie de
forma mágica originada em poderes divinos ou diabólicos. Ainda que possamos
discutir a origem do carisma, o fato é que, indiscutivelmente, os líderes carismáticos
desenvolvem características e magnetismo pessoais que lhe proporcionam o poder
de influenciar outras pessoas. E, em suas áreas de atuação, eles alcançaram
destaque, como Pelé, no futebol ou Peter Drucker, na Administração.
Chiavenato aponta ainda elementos que caracterizam a liderança, influência
em uma situação, pelo processo de comunicação e visando objetivos a alcançar.
As ações da liderança são intencionais e os liderados assumem seus
propósitos e ações, o que significa poder do líder no inter-relacionamento, o exercício
do poder de influenciar pessoas, que constitui um poder pessoal.
Existem muitas teorias sobre a Liderança. Apontaremos as principais e os
conceitos chaves explicativos de cada tipologia; importante ressaltar que ainda nos
apoiamos na obra citada de Chiavenato:

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 Teoria
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sobre os Traços da Personalidade (as mais antigas) – ressaltam as
habilidades do líder em: interpretar objetivos e missões, estabelecer prioridades,
planejar e programar atividades em equipe, facilidade em solucionar problemas e
conflitos e supervisionar e orientar pessoas, além de saber delegar responsabilidades;
 Teoria sobre Estilos de Liderança (White e Lippitt) – o líder pode ser autocrático
(controla o poder), liberal (total liberdade leva à perda de controle do grupo) ou
democrático (comunicativo, facilitador, preocupa-se com o trabalho e com o grupo,
consegue maior comprometimento das pessoas);
 Teorias Situacionais de Liderança
Escolha de padrões de liderança (Tannenbaum e Schmidt) – líder deve
escolher, em cada situação, o padrão de liderança mais adequado, forças no gerente,
forças nos empregados ou forças na situação.
O modelo contingencial de Fiedler – o autor não acredita em estilo único e
melhor de liderança, defende que cada situação exige que se considere: o poder de
posição do líder, a estrutura da tarefa e a relação entre líder e membros;
Teoria caminho meta – é uma teoria contingencial que foca seus estudos em
saber como o líder influencia a percepção das metas de trabalho dos subordinados,
suas metas de autodesenvolvimento e os caminhos para atingir tais metas. A Teoria
do caminho meta é também conhecida como Teoria dos meio-objetivos e considera
que o papel da liderança é aumentar a motivação dos subordinados para atingir
objetivos pessoais e organizacionais.

 Tipos de liderança para House e Dessler


Líder apoiador: preocupação com bem-estar e necessidades do grupo,
tratamento de igualdade, fortalecimento da equipe;
Líder diretivo: líder que transmite o que pretende fazer, assumindo o
planejamento, programação de atividades, fixação de objetivos de desempenho e
padrões de comportamento, obediência às regras e procedimentos;
Líder participativo: encoraja discussões, consulta e considera participação do
grupo; líder orientado para metas ou resultados (formulam objetivos claros e
desafiadores, o comportamento do líder é o exemplo de desempenho para equipe).

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Reflexão
DE SANTOS
Nesta aula estudamos a liderança, o conceito e as principais teorias que
abordam o fenômeno. Como você observou, não existe um consenso a respeito do
líder ideal ou de qualidades que devem prevalecer.
Propomos que você observe, atentamente, na organização em que trabalha ou
em alguma que conheça bem, quais as características da(s) liderança(s). Verifique se
elas aparecem em algum dos tipos de liderança que apresentamos. Faça sua
avaliação a respeito da liderança enfocada.

Em nossa próxima aula, abordaremos a Gestão do conhecimento nas


organizações.

_______________
1 CHIAVENATO, I. Administração nos Novos Tempos. 2. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2004, p. 446-447.

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Aula 30_ A gestão do conhecimento nas organizações

Nesta aula enfocaremos a importância da educação e a questão da gestão do


conhecimento nas organizações.
Conforme vimos em aulas anteriores, a época em que vivemos diferencia-se
das que a precederam, entre outros motivos, pela importância que nela desempenha
o domínio das habilidades e competências mais diretamente vinculadas ao trato com
a informação e o conhecimento. Dentre elas, situam-se as competências leitoras e
escritoras que são indispensáveis para o entendimento, a análise e a crítica do grande
volume de informações que nos chegam, cotidianamente, pelos diferentes meios de
comunicação (jornais, TV, rádio, Internet). Ainda que consideremos que nem todos
são igualmente atingidos pelo processo, nas grandes cidades a colocação no mercado
de trabalho pressupõe o domínio de muitos saberes e a atualização constante do
trabalhador.
No âmbito das organizações, a gestão do conhecimento não é uma ideia nova.
Identificar o conhecimento que tem disponível e as pessoas que melhor se colocam
em relação a ele, são fundamentais para o desenvolvimento de uma organização e,
hoje são atributos que distinguem uma boa liderança.
Assim, com relação à gestão do conhecimento empresarial, muitos estudiosos
apontam e, dentre eles Peter Drucker, reconhecido pela contribuição na área da
Administração, algumas características e habilidades que diferenciam o trabalhador
da era da informação. Situam-se entre elas: a exigência da educação formal
(fundamental para o desenvolvimento de tarefas complexas); a aplicação do
conhecimento teórico, o que pressupõe a capacidade de análise e decisão; a
educação continuada e o conhecimento atualizado; o aprofundamento ou
especialização nas áreas que mais interessam à empresa e a disponibilidade para o
trabalho em equipe. Poderíamos afirmar que essas habilidades integram o perfil do
trabalhador exigido pelo mercado de trabalho nesse início do século XXI.
A exigência pela formação continuada e pela atualização só tende a aumentar
uma vez que a complexidade das máquinas, dos programas e do trabalho a ser
realizado aumenta a cada dia. É possível detectar que nas organizações, nos últimos

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anos, ganha importância a forma como são reconhecidos e aproveitados os
denominados recursos humanos1:
(...) são as pessoas que ingressam e participam da organização, qualquer
que seja o nível hierárquico, ou sua tarefa. Os recursos humanos estão
distribuídos no nível institucional da organização (na direção), no nível
intermediário (gerência e assessorias) e no nível operacional (técnicos,
funcionários e operários, além dos supervisores de primeira linha).
Constituem o único recurso vivo e dinâmico da organização, aliás, o recurso
que decide manipular os demais que são inertes e estáticos por si [recursos
físicos ou materiais, recursos financeiros, recursos mercadológicos, recursos
administrativos]. Além disso, constituem um tipo de recurso dotado de uma
vocação dirigida para o crescimento e o desenvolvimento. As pessoas trazem
para as organizações suas habilidades, conhecimentos, atitudes,
comportamentos, percepções, etc.

Pode-se entender da leitura da citação acima, que a posição do autor expressa


uma visão que valoriza os recursos humanos da organização e que reconhece neles
o potencial de alavancar os demais recursos e atuar, como diferencial, no crescimento
da organização.
Esta é uma tendência que avança em nossos dias e que distingue empresas
que inovam com relação aos paradigmas tradicionais de gestão de pessoal. Nelas, as
lideranças (o gestor) atuam como identificadores das competências essenciais para a
organização e dos trabalhadores que melhor se posicionam e atuam com relação a
elas, e como facilitadores, disponibilizando recursos e resolvendo situações que
extrapolem a autoridade de seus subordinados. Alocar os trabalhadores nos postos
adequados, independentemente do departamento ou setor de origem, também é uma
habilidade que o gestor deve colocar em prática aproveitando da melhor forma o
recurso humano no interior da organização.
É importante ainda salientar que a organização deve conformar-se como uma
Organização de Aprendizagem, conforme bem salienta CHIAVENATO2:
A organização que aprende é aquela que desenvolve capacidade contínua
de adaptação e mudança. Todas as organizações aprendem - escolham elas
conscientemente ou não - esse é o requisito fundamental para sua existência.
Algumas organizações fazem isso melhor do que outras. Assim, a
organização de aprendizagem é a que está continuamente desenvolvendo e

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mudando a forma de manter a empresa competitiva no futuro. Isso requer
uma visão comum e uma estratégia que esteja na cabeça de todas as
pessoas em termos tangíveis e compreensíveis para todas elas. São as
pessoas que transformam as visões e estratégias em ações específicas. E
esse processo sempre requer mudança comportamental e o desenvolvimento
gradativo de competências individuais ao longo do tempo.

Pode-se perceber da leitura do excerto acima, o papel desempenhado pelos


recursos humanos nas organizações que aprendem, e, aprender, nelas, resulta em
mudar a própria estrutura interna para manter-se competitiva no ambiente em que
está inserida, em um contexto marcado pelas mudanças contínuas e drásticas que
caracterizam os tempos atuais.

Reflexão
Você considera que a questão do conhecimento, no âmbito das organizações,
é uma preocupação somente individual ou adquire maior amplitude? Qual o objetivo
final do conhecimento e das aprendizagens nas organizações?
Na próxima aula, você ampliará os conhecimentos sobre a Responsabilidade
Social Empresarial - R.S.E.

________________________
1 CHIAVENATO, I. Administração de Recursos Humanos: fundamentos básicos. 6.
ed. São Paulo: Atlas, 2007. p.181.
2 CHIAVENATO, I. Administração de Recursos Humanos: fundamentos básicos. 6.
ed. São Paulo: Atlas, 2007. p.207.

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Aula 31_Responsabilidade Social Empresarial

O tema desta aula é Responsabilidade Social Empresarial. Nela estudaremos


o conceito, as normas legais afins e a certificação da ABNT para as empresas que
atuam em conformidade com os pressupostos da Responsabilidade Social
Empresarial.

Responsabilidade Social Empresarial

1. Breve histórico
A responsabilidade social das empresas é um tema que se firmou na segunda
metade do século XX, como decorrência das reivindicações de determinados setores
da sociedade, como por exemplo, o movimento sindical e estudantil europeu e norte-
americano, em busca de ampliação da participação social e dos direitos civis, e dos
problemas que ocorreram com a crise do Estado de Bem-estar Social (Welfare State),
que se configurou no final dos anos de 1970.
Tal panorama socioeconômico foi determinante para a alteração na forma de
percepção do papel desempenhado pelas empresas privadas na sociedade: 1
A partir desses acontecimentos, a intervenção dos agentes privados passou
a ser vista de outra maneira: a crise econômica e o crescimento do
desemprego que atingiram a Europa na década de 80 contribuíram para que
a empresa começasse a ser valorizada pela sua capacidade de salvaguardar
o emprego, valor essencial da socialização na sociedade contemporânea. O
papel da empresa vai além do econômico: ademais, de provedora de
emprego é, também, agente de estabilização social. (Kirschner, 1998, p. 20
e 21).

Com efeito, a partir deste período, é que ocorreu a ampliação da atuação dos
agentes privados (empresas ou organizações), no âmbito dos problemas sociais e
ambientais, caracterizando-se a responsabilidade social.
No Brasil o primeiro momento de discussão ocorreu em 1965, com a publicação
da Carta de Princípios do Dirigente Cristão de Empresas, que é considerada um marco
histórico quanto à responsabilidade social. Todavia, foi apenas após a década de 1980
que algumas empresas no país passaram a, além de manifestar interesse quanto às

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temáticas sociais e ambientais, preocupar-se também com a institucionalização de
programas.
O período que vai do final dos anos 80 até o fim dos anos 90 tornou-se palco
do nascimento e da consolidação de importantes fundações, institutos e
organizações da sociedade civil ligadas ao meio empresarial e tendo como
foco a questão da ética, em particular, o chamado comportamento
empresarial ético e responsável. 2

Assim, foi no decorrer da década de 1990, que se firmou a expressão


responsabilidade social corporativa, uma postura cada vez mais cobrada das
empresas pela sociedade civil e organizações não governamentais (ONG´S).

2. Conceito
Segundo o Instituto Ethos3,
Responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela
relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais
ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis
com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos
ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e
promovendo a redução das desigualdades sociais.

É importante a distinção entre ação filantrópica e ação de responsabilidade


social, sendo a primeira delas, caracterizada por ser uma ação social externa à
empresa, a qual beneficia, principalmente, a comunidade em sentido amplo
(associações, ONG´S, etc.) e organizações. Já a segunda, está vinculada diretamente
aos negócios da empresa e à forma como eles são geridos, guardando relação com
a toda a cadeia de negócios da empresa, abrangendo, assim, acionistas, empregados,
consumidores, fornecedores, governo, comunidade e meio ambiente.
Segundo o IDEC (Instituto de Defesa do Consumidor), na atualidade, pode-se
diferenciar quatro principais visões a respeito da responsabilidade social empresarial
(R.S.E):4
A primeira está relacionada à ideia de que os objetivos primordiais de uma
empresa resumem-se em gerar lucro a seus investidores, pagar impostos e
cumprir a legislação. A segunda visão incorpora a esses objetivos ações

NÚCLEO COMUM
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filantrópicas, como ajuda financeira a creches, orfanatos e programas sociais.
Outro modo de ver a RSE é como uma estratégia de negócios, na qual as
ações de responsabilidade são um instrumento para conferir um diferencial
para seus produtos e serviços. Assim, a empresa conseguiria atrair e manter
melhores empregados, além de acrescentar valor à sua imagem. Por fim, na
quarta visão a RSE é vista como parte da cultura organizacional, de forma a
produzir riquezas e desenvolvimento que beneficiem a todos os envolvidos
em suas atividades – trabalhadores, consumidores, meio ambiente e
comunidade. Essa visão inclui a promoção, pela empresa, dos seus valores
éticos e responsáveis na sua cadeia de fornecedores e nos mercados onde
atua. Para o Idec, esta é a visão de RSE que mais corresponde aos anseios
dos consumidores e da sociedade de forma geral, por ser mais abrangente.

3. Parâmetros legais:
Não há uma legislação específica a respeito da Responsabilidade Social
Empresarial no Brasil. Contudo, é certo que esta tem fundamento em inúmeras
normas vigentes no país, dentre as quais citamos a própria Constituição Federal, a
qual valoriza a condição cidadã e a dignidade da pessoa humana e prevê o valor social
do trabalho e da livre iniciativa (Art.1º); reconhece como objetivo da República
brasileira a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a promoção do
desenvolvimento e da justiça social (Art. 3º); estabelece a função social da
propriedade (Art. 5º); a valorização do trabalho e da livre iniciativa tendo por finalidade
assegurar a todos existência digna e justiça social (Art. 170). Esses são alguns dos
artigos que remetem para a questão da responsabilidade social, entendida como
compromisso de todos.
Além da Constituição Federal, podemos citar também outras fontes legais afins
como: o Código Civil, a Legislação Ambiental, a Consolidação das Leis do Trabalho,
a Legislação relacionada à integração social e no mercado de trabalho dos Deficientes
Físicos; o Código de Defesa do Consumidor, a Norma Brasileira Contábil nº. 15 de
01/01/2006; a Resolução do Conselho Federal de Contabilidade n.º 1003 de
19/08/2004.
Cabe ainda destacar a existência de uma norma da ABNT (Associação
Brasileira de Normas Técnicas), a respeito do assunto. Tal Norma, de nº 16001,
estabelece requisitos mínimos relativos a um sistema de gestão da responsabilidade.

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Essa certificação visa atender à crescente preocupação da sociedade com temas
associados à ética, à cidadania, aos direitos humanos, ao desenvolvimento
econômico, ao desenvolvimento sustentável e à inclusão social5.
Atenção: Para que uma empresa receba a Certificação relativa à Norma
16001 da ABNT, é necessária a observância das seguintes condições 6:
A organização deve estabelecer, implementar, manter e documentar
programas para atingir seus objetivos e metas da responsabilidade social. Esses
programas devem incluir, no que se refere ao trabalho: boas práticas de governança;
direitos da criança e do adolescente, incluindo o combate ao trabalho infantil; direitos
do trabalhador, incluindo o de livre associação, de negociação, a remuneração justa
e benefícios básicos, bem como o combate ao trabalho forçado; promoção da
diversidade e combate à discriminação (por exemplo: cultural, de gênero, de
raça/etnia, idade, pessoa portadora de deficiência); compromisso com o
desenvolvimento profissional; promoção da saúde e segurança.

Reflexão
Responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela
relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se
relaciona (denominados Stakeholders)7 e pelo estabelecimento de metas
empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade,
preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a
diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais. Você conhece, em
sua cidade, empresas que atuam comprometidas com a Responsabilidade Social
Empresarial? Pesquise e conheça os Programas ou projetos que ele desenvolve.
O tema da próxima aula será Ética e Responsabilidade Social Empresarial na
atualidade.
______________________________
1TORRES, C. Responsabilidade Social das Empresas. Cap. 2. Disponível em:
<http://www.balancosocial.org.br/media/ART_2002_RSE_Vertical.pdf> Acessado em:
01 de setembro de 2008.
2 Idem.

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3
DE SANTOS
O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma associação de
empresas, sem fins lucrativos, criada com a missão de mobilizar, sensibilizar e ajudar
as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as
parceiras na construção de uma sociedade sustentável e justa. Juridicamente é uma
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip). Disponível em:
<http://www.ethos.org.br/DesktopDefault.aspx?TabID=3344&Alias=Ethos&Lang=pt-
BR> Acessado em 01 de setembro de 2008.
4 IDEC. Guia de Responsabilidade Social para o consumidor. Disponível em:
<http://www.idec.org.br/arquivos/guia_RSE.pdf> Acessado em: 01 de setembro de
2008.
5 M.T.E. Inspeção do Trabalho: Fiscalização do Trabalho. Disponível em:
<http://www.mte.gov.br/fisca_trab/inclusao/lei_cotas_15.asp> Acessado em: 01 de
setembro de 2008.
6 Idem.
7 Stakeholders é um “termo em inglês amplamente utilizado para designar as partes
interessadas em uma ação social. Representa qualquer indivíduo ou grupo que possa
afetar a empresa por meio de suas opiniões ou ações, ou ser por ela afetado - público
interno, fornecedores, consumidores, comunidade, governo, acionistas, etc.” (in:
NERA, Luanda. ABC da RSE. Folha de São Paulo, São Paulo, 25 de janeiro de 2005,
caderno Sinapse, p.11.).

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Aula 32_Ética e Responsabilidade Social Empresarial

Nesta aula você estudará a importância da Responsabilidade Social


Empresarial na atualidade.
Com base no panorama histórico abordado na aula anterior, é possível afirmar
que, outrora, vigorava a ideia de que o objetivo das empresas era o de,
exclusivamente, obter lucro. Todavia, nas últimas décadas, esta visão veio sendo
alterada no sentido de as empresas assumirem papel mais ativo na busca de soluções
para problemas que atingem a sociedade, ganhando força a concepção de cidadania
empresarial.
Diante dos efeitos negativos da realização da atividade empresarial exercida
somente com o fito de maximização de lucros – dentre os quais se pode citar o
aumento da poluição ambiental, da desigualdade social, o desemprego e a
marginalização dos trabalhadores –, a sociedade civil e, em consequência, o próprio
Estado, passaram a cobrar das empresas um compromisso com a ética empresarial
e com a Responsabilidade Social Empresarial.
A atuação mais incisiva do Estado brasileiro para incentivar um compromisso
ético das empresas se deu por meio da criação de legislações específicas sobre
diversos assuntos, consoante tratado na aula anterior. Dentre as inúmeras leis que
envolvem a Responsabilidade Social Empresarial, em virtude da grande divulgação e
importância social destas, podemos citar como exemplos o Código de Defesa do
Consumidor, as leis de proteção ambiental, como a Lei de Proteção dos Mananciais.
Concomitantemente às exigências legais impostas pelo Estado, nos últimos
anos, vem crescendo o número de empresas que orientam suas ações e políticas de
acordo com a ideia da cidadania empresarial. Como exemplo dessas atitudes
voluntárias das empresas, podemos citar a elaboração e adoção de códigos de ética,
os quais, segundo Idalberto Chiavenato são1:
(...) Códigos de ética são conjuntos de normas de conduta que procuram
oferecer diretrizes para decisões e estabelecer a diferença entre certo e
errado. A preparação de códigos empresariais de ética tornou-se prática
relativamente comum a partir da década de 1980, quando as grandes
empresas começaram a implantá-los. (...) Pode-se observar que esses

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códigos, com palavras diferentes, procuram enfatizar valores muito próximos
e abordar aproximadamente os mesmos temas.

Como exemplo de código de ética empresarial, reproduzimos abaixo, trecho do


denominado Credo da Johnson and Johnson 2:
Acreditamos que nossa primeira responsabilidade seja com os médicos,
enfermeiros e pacientes, com as mães e todos os que usam nossos produtos e
serviços. (...)
Os pedidos dos clientes devem ser atendidos prontamente e com exatidão.
Nossos fornecedores e distribuidores devem poder obter lucro razoável. Temos
responsabilidade em relação a nossos empregados, os homens e mulheres que
trabalham conosco em todo o mundo.
Eles precisam ter sentido de segurança em seus empregos.
A remuneração deve ser justa e adequada, e as condições de trabalho devem
ser higiênicas, organizadas e seguras.
Outro exemplo de providência voluntária tomada por algumas empresas quanto
à R.S.E., é a publicação anual de seu Balanço Social, o qual consiste em 3:
(...) demonstrativo não obrigatório que reúne um conjunto de informações
sobre projetos, benefícios e ações sociais das empresas. No balanço social
a companhia mostra o que faz por seus profissionais, dependentes,
colaboradores e comunidade, dando transparência às suas atividades (...).

Apesar de as leis existentes atualmente no país preverem sanções aos


empresários que as descumprirem e das pressões exercidas pela sociedade civil para
atuação cidadã das empresas, certo é que muitas delas ainda não atuam de acordo
com esta nova concepção.
Todavia, é importante ressaltar o impacto econômico e de marketing obtido
pelas empresas que se engajam nos projetos de R.S.E. Estudos revelam que tais
companhias têm a preferência majoritária dos consumidores (que optam por seus
produtos) e dos trabalhadores (que as identificam como boas empregadoras, junto às
quais gostariam de prestar serviços).4
Segundo os resultados da pesquisa Responsabilidade social e ética da
administração. (Robbins e Coulter, 1998), realizada com aproximadamente 2
mil consumidores norte-americanos, mais de 65% dos entrevistados (dois

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terços). (...) afirmaram que trocariam de marca para um fabricante que
apoiasse uma causa em que acreditassem, enquanto um terço [cerca de 35%]
era mais influenciado pelo ativismo social de uma empresa do que por seus
anúncios.

Reflexão
Leia o texto e verifique os efeitos negativos gerados à imagem de grandes
empresas, alvo de denúncias com relação à atuação em desacordo com os princípios
da Responsabilidade Social Empresarial 5 :
(...) no contexto dos mais recentes acontecimentos relacionados ao tema,
podemos ressaltar as manifestações da sociedade em detrimento de algumas
empresas que sofreram denúncias por intermédio dos meios de
comunicação, recebendo o título de não responsáveis ou não éticas,
categoria que acaba nascendo ao mesmo tempo que o seu oposto: RSE, RSC
ou Empresa Socialmente Responsável. Essas empresas têm sido acusadas,
entre diversas questões, de destruir o meio ambiente e de utilizar matérias
primas que não se adequam à preservação da vida no planeta; de
aparecerem relacionadas com algum tipo de violação dos direitos humanos;
de se encontrarem ligadas à utilização de trabalho escravo ou à falta de
liberdade associativa; e/ou de se encontrarem explorando a miséria de
determinados povos ou, principalmente, de estarem relacionadas à utilização
do trabalho infantil, exploração da mão de obra de crianças e jovens.
Alguns acontecimentos recentes ilustram muito bem essa questão. Cabe aqui
citar dois exemplos: o caso da companhia de petróleo Shell, na Nigéria, em
1995, e o da marca de material esportivo Nike, durante a Copa do Mundo de
1998, na França. A gigante anglo-holandesa Royal Dutch Shell sofreu um
enorme boicote nos EUA, na segunda metade dos anos 90. Entidades
realizaram campanhas para que os motoristas não abastecessem seus
veículos nos postos Shell, por esta encontrar-se envolvida e apoiar a tortura
e a morte de duas lideranças na Nigéria (Ken Saro-Wiwa e John Kpuinen),
que por questões ambientais e étnicas se opunham à permanência da
empresa petroleira naquele país africano, conforme amplamente noticiado
pela imprensa mundial à época.
Outro caso mais recente foi o boicote sofrido pela empresa de material
esportivo Nike, que teve sua marca associada à exploração de mão de obra
infantil na Ásia, durante os jogos do Campeonato Mundial de Futebol.
Entidades de defesa dos direitos humanos denunciaram que as bolas e as

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chuteiras utilizadas na Copa da França de 98 eram fabricadas por crianças
na Indonésia, em condições subumanas. Desde então, a Nike vem
enfrentando denúncias de que explora trabalho infantil na Ásia.

Considerações Finais
Em virtude de todo o exposto a respeito da Responsabilidade Social
Empresarial tem-se que, na atualidade, é de máxima importância que o Administrador
tenha conhecimento e contribua na implementação de práticas em conformidade com
esta nova concepção de atuação das empresas ou organizações.
Procure orientar sua atuação profissional pela Ética e pelos princípios que
caracterizam a Responsabilidade Social Empresarial.

_______________
1 CHIAVENATO, I. Gestão de Pessoas: O Novo Papel dos Recursos Humanos nas
Organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1999. p. 433.
2 Idem.p.433
3 NERA, Luanda. ABC da RSE. Folha de São Paulo, São Paulo, 25 de janeiro de 2005,
caderno Sinapse, p.10.
4 TORRES, C. Responsabilidade Social das Empresas. Cap. 2. Disponível em:
<http://www.balancosocial.org.br/media/ART_2002_RSE_Vertical.pdf> Acessado em:
01 de setembro de 2008.
5 Idem.

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Resumo III
DE SANTOS
Nesta Unidade você estudou o conceito e as principais características da
globalização, assim como seus efeitos sociais e no mundo do trabalho. Abordou ainda
uma breve história do movimento dos trabalhadores e da fundação dos sindicatos,
tomando com referência o caso clássico da Inglaterra e aproximando o foco para o
desenvolvimento do processo no Brasil. Apresentou e discutiu o conceito de
sociedade do conhecimento, de comunicação e comunicação no interior das
organizações e a questão da Responsabilidade Social Empresarial.

Referências:
CHIAVENATO, I. Administração nos Novos Tempos. São Paulo: Atlas, 2007. p.
416.
CHIAVENATO, I. Administração de Recursos Humanos: fundamentos básicos. 6
ed. São Paulo: Atlas, 2007.
DUARTE, N. Sociedade do Conhecimento ou Sociedade das Ilusões?
Campinas: Autores Associados, 2003. (Coleção polêmicas de nosso tempo, 86).
FRIGOTTO, G.; CIAVATTA, M. Teoria e Educação no labirinto do
capital. Petrópolis: Vozes, 2001.
HARDT, Michael: NEGRI, Antonio. Império. Trad. Berilo Vargas. Rio de Janeiro:
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HOBSBAWN, E. A era dos extremos: – o breve Século XX, 1914 – 1991. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995, p.19.
HOLANDA. A. B. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de
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LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Sociologia geral. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
LOPES, C. L.; TRIGUEIROS, N. N. História do Movimento Sindical no Brasil.
Osasco: Centro de Memória Sindical / Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e
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LOPES, C. L. E. O que todo cidadão deve saber sobre sindicatos no Brasil. São
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NERA, L. ABC da RSE. Folha de São Paulo, São Paulo, 25 de janeiro de 2005,
Caderno Sinapse).

Links:
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Social. Disponível em:<http://www.balancosocial.org.br/media/ART_2002_RSE_Ve
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CHAVES, L. C. Neoliberalismo e a Nova Ordem Mundial. Disponível em:
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FERREIRA, J. C. Telecommuting, o novo paradigma do trabal
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Acesso:10 set. 2008.
LUCCI, E. A. A Era Pós-Industrial, a Sociedade do Conhecimento e a
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<http://www.mte.gov.br/fisca_trab/inclusao/lei_cotas_15.asp> Acesso: 01 set. 2008.

Outros sites para pesquisa:


CHAVES, L. C. Neoliberalismo e Globalização. Disponível
em:http://www.culturabrasil.pro.br/neoliberalismoeglobalizacao.htm> Acesso: 01 set.
2008.
Wikipédia, a enciclopédia livre. Neoliberalismo. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Neoliberalismo> Acesso: 01 set. 2008.

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UNIVERSIDADE METROPOLITANA
Núcleo de Educação a Distância
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Suapesquisa.com. Neoliberalismo. Disponível em:
<http://www.suapesquisa.com/geografia/neoliberalismo.htm> Acesso: 01 set. 2008.

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