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DESAFIOS NA FORMAÇÃO
Resumo
Introdução
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ONGs são grupos sociais organizados com fins públicos não voltados para o lucro. Segundo o Código Civil,
Lei 97.970/99, Art. 53, constitui-se associações pela união de pessoas que se organizem para fins não
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econômicos. Vale ressaltar que Fundações, Associações, Organizações podem ser consideradas ONGs, porém a
verdadeira nomenclatura é OSCIPs (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público).
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Os resultados da pesquisa foram publicados no site: <http://www.abong.org.br>.
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A articulação entre saberes profissionais nas ONGs é necessária para que o processo
educativo aconteça de forma favorável e significativa, tendo em vista seus objetivos e
finalidades diferentes de acordo com as necessidades do público alvo (GOHN, 2010). Esta
tarefa caminha exatamente no campo da Pedagogia, ao estabelecer diretrizes à prática
educativa de forma produtiva, intencional, sistemática de acordo com as determinações da
sociedade (LIBÂNEO, 2008).
Saviani (2004, p. 58) enfatiza que “a Pedagogia é uma teoria construída a partir e em
função das exigências da realidade educacional” e, ainda que “a função política da educação
se cumpre na medida em que ela se realiza enquanto prática especificamente pedagógica”
(2008, p. 72). A Pedagogia, ‘teoria geral da educação’, interpenetra continuamente teoria e
prática: “a teoria vinculada aos problemas reais postos pela experiência prática e a ação
prática orientada teoricamente” (LIBÂNEO, 2008, p. 28). A Pedagogia é ‘práxis educativa’,
isto é, prática social intencionada (FRANCO, 2008; LIBÂNEO, 2008b) que se ocupa “dos
processos educativos [...], um campo de conhecimentos sobre a problemática educativa na sua
totalidade e historicidade e, ao mesmo tempo, uma diretriz orientadora da ação educativa”
(LIBÂNEO, 2008b, p. 29).
Sendo assim, o curso de Pedagogia possui como principal finalidade a formação do
educador, mas não somente um tipo de educador, e sim profissionais com habilitação
polivalente capaz de confrontar-se com os desafios impostos pela realidade educacional
contemporânea. Assim os profissionais da educação poderão estar inseridos na área da
educação formal e não formal, viabilizando o desenvolvimento de ações voltadas a
diminuição das desigualdades sociais (SAVIANI, 2004). Nessa perspectiva, Gohn (2010) e
Martins (2010) destacam que o ‘educador’, no sentido amplo, é aquele que educa, realiza e
desenvolve a ação educativa e luta por uma educação justa e igualitária para todos
independente de sua classe social ou status. O educador social precisa ajudar “a construir com
seu trabalho espaços de cidadania” (GOHN, 2010, p. 52). Na modalidade não formal os
profissionais que desenvolvem atividades pedagógicas em ONGs podem ser denominados
“formadores, animadores”, “trabalhadores sociais”, “facilitadores da aprendizagem” (GOHN,
2010), “educadores sociais” (ROMANS, 2003), “agentes educativos, multiplicadores”
(ALMEIDA, 2006).
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No início deste século surgiram vários debates que envolvem a educação brasileira,
entre eles o da formação de profissionais que atuam na promoção da aprendizagem, exigindo
dos envolvidos um olhar crítico e reflexivo (ALMEIDA, 2006). De acordo com Perrenoud
(2002) citado por Almeida (2006), os profissionais que atuam na educação formal e não
formal devem se posicionar frente à sociedade como educadores transformadores da
realidade, pois desta forma sustentam um caráter reflexivo junto ao compromisso assumido
com a educação. Paulo Freire (1987) destaca que o educador social traz em sua prática
pedagógica e política a não neutralidade, a decisão e a responsabilidade em desvelar o que
está oculto nas relações de poder que determinam a realidade.
O pedagogo precisa frente ao processo educativo – nas suas situações-contextos e
tensões sociais - assegurar as finalidades sociais e políticas e os meios apropriados para a
formação humana. Para Libâneo (2008) o caráter pedagógico está na determinação do rumo
do processo educativo global, conjugando fatores internos e externos ao processo de ensino-
aprendizagem. O autor comenta que considerando a diversidade do campo de atuação que
agrega o profissional com formação em Pedagogia, é necessário analisar as dificuldades e os
desafios que cada área demanda. Os exercícios profissionais desta categoria não podem ser
iguais, mesmo que todos estejam comprometidos com o desenvolvimento de práticas
pedagógicas. Os objetivos e realidades precisam ser integrados no sentido de promover a
aprendizagem, porém são diferentes as estratégias de trabalho que estes profissionais deverão
promover em cada ambiente, com a intenção de suprir a necessidade dos indivíduos
envolvidos. Com isto justifica-se a formação dos profissionais da educação não diretamente
docentes, ou seja, níveis diferenciados de prática pedagógica solicitam uma multiplicidade de
conhecimentos administrativos e pedagógicos e saberes específicos sobre o trabalho
desenvolvido. Enfim, “reconhecer que há processos de formação que extrapolam o campo da
educação escolar, formal propriamente dita, e clama-se pela formação de um outro
profissional” (GOHN, 2010, p. 31). Sobre isso, Franco (2008, p. 58) afirma que “quanto mais
adequado for o nosso conhecimento da realidade, tanto mais adequados serão os meios que
dispomos para agir sobre ela”.
O curso de Licenciatura em Pedagogia na atualidade assume novo aspecto, sucederam
modificações acrescentando em suas diretrizes de formação um perfil diferenciado para o
Pedagogo, que passa a agregar em sua graduação conhecimento para atuar tanto na área da
educação formal quanto não formal.
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As ONGs buscam parcerias por meio de projetos sociais, desenvolvem ações onde o
governo atende a população de forma superficial, não suprindo desta forma as reais
necessidades da comunidade, buscam oportunidades para apresentar novas ideologias na
tentativa de conquistar mais investimentos (GOHN, 2010).
Sobre isso, Gohn (2010, p. 41) afirma:
A autora destaca que esta reflexão remete uma visão ampliada sobre o papel das
instituições não-governamentais frente à sociedade contemporânea que não se trata em
hipótese alguma em competir com o Estado, sua finalidade esta relacionada à promoção de
parcerias, adquirindo desta forma recursos para desempenhar com autonomia o real papel das
entidades, proporcionando a recuperação de valores e mudanças comportamentais capazes de
desenvolver no indivíduo habilidades para enfrentar dificuldades, mas com aptidões para
recriar as condições concretas de sobrevivência diária a partir de outros embasamentos,
trazendo alternativas e perspectivas inovadoras. Conforme Silva (2007), este novo campo
abre espaço para atuação do pedagogo, onde principalmente desenvolve e elabora projetos
educacionais, planeja ações da instituição e presta suporte pedagógico, podendo também,
desempenhar o papel de educador social.
Os projetos sociais englobam em seu território de atuação uma diversidade de
profissionais, entre eles, o pedagogo. Alguns desses profissionais atuam em associações
regidas por normas, regras e recebem salário fixo como em qualquer outra empresa, enquanto
que outros profissionais atuam como voluntários. Estes em muitos casos exercem um trabalho
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paralelo e não disponibilizam de muito tempo para estarem participando das reuniões
pedagógicas, onde o profissional com formação específica em Pedagogia desenvolve projetos,
organiza os temas que serão trabalhados, seleciona o material didático e orienta os educadores
sobre as metodologias que favorecem a aprendizagem. As ONGs apresentam-se como
espaços favoráveis para o pedagogo promover a educação não formal, pois, possui maior
flexibilidade em relação há tempos, espaços, métodos e conteúdos (COLLARES, 2009;
LIBÂNEO, 2008).
É relevante ressaltar a ausência de formação específica dos educadores sociais que
desenvolvem ações junto à educação não formal. O ideal que a formação destes profissionais
caminhasse ao encontro do papel que eles desempenham, ou que estivesse à frente do
processo um profissional com formação específica em organização e direcionamento
pedagógico para estar orientando questões relacionadas ao domínio das metodologias,
apropriação das finalidades, mapeamento da educação não formal e conhecimento sobre a
realidade social do público-alvo, etc. (GOHN, 1998; 2010; LIBÂNEO, 2008). Vale destacar
que no Brasil cerca de dois milhões de educadores sociais estão exercendo trabalhos sócio-
educativos com a comunidade sem ter recebido formação adequada para desenvolver tais
práticas (SILVA; NETO; MOURA, 2009).
Sobre isso, Gohn (1998, p. 521) afirma que,
Conforme Ceroni (2006) é neste momento de articulação com novos atores sociais e
saberes distintos que o educador social percebe que a transformação não se restringe somente
em ensinar o aluno fora do âmbito escolar, mas incluir-se neste círculo que promove troca de
conhecimentos, vivenciando novas práticas, descobrindo habilidades desconhecidas e
competências fora do espaço escolar. É nítida a importância de se repensar em uma formação
que abranja novos educadores, que articule a dimensão técnica com a ética, a estética, a
política e a prática escolar, e que propicie informações sobre o significado do educar, seja em
espaços formais ou não formais, propiciando ao educador uma visão sobre as características
de cada uma das modalidades a partir das necessidades concretas dos atores sociais.
Considerações finais
A partir da nova realidade que o Terceiro Setor propiciou para o trabalho pedagógico
em diferentes áreas, contextos e públicos, buscou-se por meio da pesquisa compreender qual a
atuação do pedagogo nas ONGs, e quais as perspectivas e desafios da profissão na atualidade.
O profissional pedagogo junto às ONGs desenvolve e elabora projetos educativos, planeja
ações da instituição, presta suporte pedagógico, busca parcerias, entre outras ações. O
trabalho do pedagogo está direcionado a oportunizar novas experiências educativas a crianças,
adolescentes, jovens e adultos, auxiliar no fortalecimento do vínculo familiar e comunitário,
viabilizar a descoberta de novas potencialidades e fortalecer a autoestima dos sujeitos.
Percebe-se também mudanças na organização do trabalho pedagógico na educação não
formal, para um cenário de aprendizagem, onde o educador e o educando, participam juntos, e
tornam-se parceiros e coparticipantes no processo. Assim, ensinar não é transferir saberes,
mas arquitetar possibilidades para a sua produção e construção dentro e fora do espaço
escolar.
Este estudo sinaliza que compromissos devem ser assumidos com a formação do
profissional pedagogo, permitindo aos envolvidos na pesquisa e na formação destes
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profissionais a visão dos diversos aspectos que englobam o perfil que este profissional assume
na atualidade. Acredita-se ser fundamental formar este profissional para a atuação em
diferentes contextos sociais, possibilitando visão ético-profissional relacionada à
responsabilidade social e política na construção de uma sociedade solidária e justa. Nesse
sentido é preciso incentivar a investigação de situações educativas que ocorrem em ambientes
não escolares, capacitar para elaboração, desenvolvimento e avaliação de programas e
projetos educativos, que considerem a diversidade sócio-cultural e as necessidades sociais dos
diferentes espaços da vida em sociedade.
Outro aspecto interessante é o perfil e as competências deste profissional para atuação
no Terceiro Setor, como: conhecimento e experiências relativos à gestão participativa e
educação comunitária; compreensão do processo histórico-social, administrativo e
operacional em que está inserido; competência técnica para planejar, organizar, liderar e
avaliar programas e projetos sociais e; habilidade para enfrentar desafios, administrar
conflitos, buscar parcerias e captar recursos.
Este estudo proporcionou uma reflexão sobre a formação inicial e continuada do
pedagogo, frente às demandas da profissão nas situações/contextos não escolares, uma vez
que as novas propostas das Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia (2006)
ressaltam a atuação do pedagogo na educação não formal. Porém, esta condição precisa sair
das entrelinhas desta resolução, a fim de repensar a formação profissional do pedagogo, uma
vez que, contextos diferenciados requerem saberes específicos. A necessidade de redefinir
com clareza a construção de instrumentos metodológicos de avaliação e análise das ações que
vem sendo realizadas aponta a urgência de uma especialização que prepare para estes novos
contextos sociais.
Cabe destacar que existem poucas produções em relação à formação e o trabalho dos
profissionais nas ONGs, até mesmo pelas discussões em torno do reconhecimento da
profissão de educadores/pedagogos sociais, e ainda que, existam muitos trabalhos nas ONGs
em torno às práticas que nelas acontecem por meio de programas e projetos sociais, poucas
reconhecem a formação e a especificidade do trabalho do profissional pedagogo no Terceiro
Setor frente às demandas postas pela Pedagogia social.
Sendo assim, a pesquisa abre possibilidades para a produção de novas pesquisas na
área a partir dos relatos de experiência dos próprios pedagogos que já trabalham nas ONGs,
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das suas percepções sobre a formação, atuação profissional e ações desenvolvidas no Terceiro
Setor.
REFERÊNCIAS
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FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
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