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A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS NO BLOG: UM ESTUDO SOBRE 

MULTIMODALIDADE 1
 
 
Wellington Vieira Mendes 
(Bolsista UERN/PPGL/UERN) 
wvmendes@hotmail.com
 
 
RESUMO 
Este trabalho analisa como a multimodalidade contribui para a construção de sentidos no weblog. Para isso, cinco 
posts  são  analisados,  considerando  os  tópicos  da  Gramática  Visual  (KRESS  &  van  LEEUWEN,  2006).  Os  dados 
indicam que o arranjo visual no gênero não funciona como um “enfeite”; ao contrário, o significado é materializado 
nessa relação “configurada” pelo produtor do blog. 
PALAVRAS‐CHAVE: multimodalidade, blog, construção de sentidos. 
 
 
ABSTRACT 
This article examines how multimodality contributes to the construction of the sense in the weblog. Thus, five posts 
are analyzed, taking into account the topics of the Grammar of the Visual Design (KRESS & van LEEUWEN, 2006). 
The data indicate that the visual arrangement in that genre suggests that sense is materialized in that relationship set 
by the blog producer.    
KEYWORDS: multimodality, blog, construction of senses 
 
 
 
 
0. INTRODUÇÃO 
 
Os diversos gêneros, presentes com grande persistência no cotidiano das pessoas, são característicos por possuírem, 
na sua forma de constituição e de apresentação, mais do que textos escritos ou imagens justapostas aleatoriamente. 
Os manuais, os gêneros dispostos no ciberespaço, os anúncios publicitários, as charges e tirinhas, os gêneros no livro 
didático, as capas de revistas etc., possuem mais do que simples textos escritos.  

1
Este trabalho é fruto de estudos realizados na Disciplina Sintaxe e Discurso, do Programa de Pós-graduação em Letras/UERN, sob a
orientação da Profa. Dra. Maria Medianeira de Souza.
É  pertinente  acrescentar,  nesse  ponto,  que  pensar  o  próprio  texto  escrito  já  significa  visualizá‐lo  sob  diferentes 
perspectivas: a disposição, o tamanho, o formato e as cores das fontes são indícios da presença de diferentes modos 
de  representação.  Se  o  texto  escrito  (e  sua  disposição)  já  implica  o  que  os  estudos  empreendidos  pela  Semântica 
Social  e  pela  Multimodalidade  Discursiva  chamam  de  multimodalidade,  a  presença  de  elementos  como  imagens, 
sons, animações (emoticons, por exemplo), amplia ainda mais essa noção, principalmente porque pode tornar mais 
explícita a relação entre os diferentes modos de representação. 
 
In  casu,  este  trabalho  tem  a  finalidade  de  analisar  como  a  presença  de  elementos  multimodais  contribuem  para  a 
construção  de  sentidos  nos  posts  produzidos  em  weblogs 2 .  É  mister  citar,  que  neste  estudo,  o  blog  é  considerado 
gênero textual (e por que não dizer digital), tendo como referência definições recorrentes em Marcuschi (2008: 198), 
para quem os gêneros são instrumentos comunicativos com propósitos específicos.  
 
Assim, convém antecipar que no decorrer do texto, far‐se‐á uma breve resenha sobre a definição de gênero textual 
(MARCUSCHI,  2005,  2008),  relacionando  tal  noção  àquela  presente  em  Bakthin  (2003)  e,  por  conseguinte,  serão 
apresentados os tópicos da Gramática Visual, doravante GV, postulados por Kress & van Leeuwen (2006), ao mesmo 
tempo  quem  se  caracterizará  o  blog  como  um  gênero  da  esfera  digital.  Para  tanto,  cinco  posts  do  blog  intitulado 
“Palavras quase ocultas de um ser real...”, serão analisados a partir da concepção de multimodalidade, fundamentada 
essencialmente nos postulados da GV. 
 
 
1. BLOG: “UM SÓ OU MUITOS TEXTOS?” 
 
A pergunta que marca a abertura desta seção foi feita anteriormente por Komesu (2005), em artigo no qual a autora 
se  propõe  a  investigar  e  caracterizar  o  hipertexto  dentro  da  perspectiva  dos  estudos  lingüísticos.  Embora  não  seja 
propósito de Komesu (op. cit.), especificamente no dito trabalho, problematizar a questão dos blogs, a indagação da 
pesquisadora  parece  muito  pertinente  de  retomada,  justamente  pelo  plano  de  discussão  que  se  pretende  aqui: 
compreender  o  blog  como  um  texto  ou  como  muitos  textos?  Como  um  gênero  discursivo  ou  como  um  gênero 
textual? 
 
As possíveis respostas às questões ora propostas sugerem uma ambição teórica que possivelmente a delimitação do 
tempo  e  do  espaço  não  permita  exaustiva  e  satisfatória  problematização.  Todavia,  é  necessário  considerar  que, 
dependendo  do  posicionamento  tomado  em  relação  ao  primeiro  inquérito  (um  só  ou  muitos  textos),  haverá  a 
implicância  numa  argumentação  que  possa,  par  e  passu,  dar  conta  de  justificar  tal  posição  e  as  conseqüentes 
respostas ao segundo inquérito (gênero discursivo ou gênero textual). 
 

2
Os termos weblog e blog, neste artigo, são tomados um pelo outro.
Se  o  blog  for  tomado  como  um  apanhado  de  muitos  textos,  então  consequentemente  a  noção  de suporte será  de 
fundamental relevância para  a  compreensão  dos  mais  diversos propósitos  comunicativos  advindos de  tal  modo  de 
difusão. Todavia, se o blog for considerado um só texto (um gênero específico com propósitos peculiares), então a 
opção implica caracterizar a ambiência digital (a web) como uma espécie de aporte em que se produz ou se dispõe 
uma seqüência de muitos outros gêneros, cada qual com seu princípio, meio e fim. 
 
O segundo posicionamento parece, neste caso, mais adequado ao objetivo pretendido de analisar a construção de 
sentidos no weblog a partir de marcas/elementos multimodais. Mais do que simplesmente refletir uma opção por esta 
ou  por  aquela  concepção,  o  entendimento  do  blog  enquanto  gênero  específico  é  defendido  por  estudiosos  como 
Marcuschi (2005) que discorre, entre outras questões, sobre a noção de suporte. 
 
Antes  de  adentrar  no  vasto  campo  da  produção  de  Marcuschi,  citar  a  obra  Estética  da  criação  verbal,  de  Bakhtin 
(2003)  é  quase  que  uma  obrigação.  É  deste  autor  a  concepção  de  que  gêneros  discursivos  são  enunciados  que  se 
caracterizam  por  apresentarem  conteúdo  temático,  estilo  e  construção  composicional,  servindo  a  propósitos 
comunicativos específicos, quer seja do ponto de vista individual ou universal. 
 
Converge  para  essa  noção,  a  formulação  de  Marcuschi  (2008:  155),  para  quem  os  gêneros  são  textuais,  e  não 
discursivos: 
 
Os  gêneros  textuais  são  os  textos  que  encontramos  em  nossa  vida  diária  e  que  apresentam 
padrões  sociocomunicativos  característicos  definidos  por  composições  funcionais,  objetivos 
enunciativos  e  estilos  concretamente  realizados  na  integração  de  forças  históricas,  sociais, 
institucionais e técnicas [grifos neste trabalho]. 
 
Como já citado no início deste estudo, há um grande número de gêneros com os quais, diariamente, todos mantêm, 
com maior ou menor freqüência, certo contato. Isso fica muito evidente no recorte citado acima, em que o autor faz 
saber  que  os  textos  com  os  quais  se  depara  o  leitor/interlocutor  provêm  de  paradigmas  notadamente  históricos  e 
sociais. Já que o termo discurso remete, entre tantas coisas, à noções como  fala em oposição ao escrito, às diferentes 
construções lingüísticas em diferentes contextos, o termo gênero textual (não em oposição a gênero discursivo) será 
tomado aqui, com a concepção sugerida há pouco por Marcuschi. 
 
O grifo da citação amplia a idéia que se pretende discutir também nesta seção: a de que o blog é um gênero textual. 
Ora, é bem verdade que muitos weblogs comportam uma série de textos que não revelam as marcas de autoria de 
seu produtor. Para não incorrer em uma vasta e infrutífera discussão sobre autoria (que talvez não seja cabível neste 
momento),  o  exemplo  anteriormente  apontado  diz  respeito  a  páginas  de  blogs  que  abrigam  um  sem  número  de 
poesias,  músicas,  fotos  que  não  foram  escritas/produzidas  pelo  dono  do  weblog,  mas  que  foram  apenas  por  ele 
postadas. 
Nesse caso, poder‐se‐á crer que tal página funciona concretamente como suporte, compreendido aqui como “lócus 
físico  ou  virtual  com  formato  específico  que  serve  de  base  ou  ambiente  de  fixação  do  gênero  materializado  como 
texto” (MARCUSCHI, 2008: 174). Ou seja, “a intenção”, no exemplo exposto, seria a de fixar e mostrar textos que já se 
constituíram como gêneros específicos. 
 
Delimitar onde termina o suporte e onde começa o gênero (ou vice e versa) não parece, todavia, tão simples assim. É 
o próprio Marcuschi (2008: 176) que argumenta em favor de certa dificuldade para tal determinação: 
 
[...] em trabalhos anteriores, havia identificado o outdoor como um gênero, o que é feito por 
vários autores, mas hoje admito claramente que o outdoor é um suporte público para vários 
gêneros, com preferência para publicidades, anúncios, propagandas, comunicados, convites, 
declarações, editais. [grifos do autor]. 
 
De qualquer forma, o autor sugere três aspectos que de certo modo caracterizam o suporte e, conseqüentemente, 
poderiam ser parâmetros para diferenciação dos gêneros, a saber: a) suporte é um lugar (físico ou virtual); b) suporte 
tem formato específico; c) suporte serve para fixar e mostrar o texto (op. cit). Desse modo, o blog que abriga gêneros 
já conhecidos do cotidiano poderia, como já foi sugerido anteriormente, ser classificado como suporte. Apenas para 
reforçar essa proposição, o e‐mail que comporta um edital ou uma convocação circular, por exemplo, é usado com a 
função de suporte, em que apenas o locus virtual “correspondência eletrônica” foi empregado para emitir um gênero 
já conhecido por suas características composicionais, históricas e sociais. 
 
O  que  está  se  afirmando,  até  então,  é  que  há  blogs  que  não  se  caracterizariam  como  gêneros  textuais  dada  a  sua 
natureza funcional/intencional, ao passo que outros, pelo estilo concretamente materializado na integração de forças 
históricas,  sociais,  institucionais  e  técnicas  –  no  dizer  de  Bakhtin  (2003),  podem,  por  aplicação  desse  conceito,  ser 
classificados como gêneros. 
 
Por se tratar de um gênero da esfera digital, mais uma vez a recorrência a Marcuschi se faz essencial. Ele define como 
digitais  os  gêneros  que  emergem  na  ambiência  da  internet  e  que  atendem  a  propósitos  semelhantes  a  outros 
correspondentes mais convencionais. Para isso, o autor estabelece uma relação comparativa entre a carta pessoal e o 
e‐mail, entre a conversação e o chat, entre os diários pessoais e o blog. 
 
E, embora, faça Marcuschi uma espécie de comparação entre gêneros convencionais e os emergentes da ambiência 
digital, não é possível manter uma relação dual 3  entre diário pessoa e blog, tendo em vista que no primeiro, reside 
uma  função  de  “guarda‐memória”,  que  evita  que  os  segredos  guardados  há  tanto  tempo,  percam  o  sentido 

3
Esse também não deve ter sido o propósito de Marcuschi em seu ensaio “Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia
digital”, In.: MARCUSCHI, L. A. & XAVIER, A. C. Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção de sentido. Rio de Janeiro:
Lucerna, 2005.
primordial que os gerou (SCHITTINE, 2004). No segundo, o conceito clássico de secreto desaparece, tendo em vista a 
abertura da escrita “íntima” para o público que tenha acesso à rede mundial de computadores. 
 
Nas definições que circulam na própria internet, o blog é descrito como um tipo de página pessoal, com publicação 
periódica,  disposta  em  ordem  cronológica  (a  mais  recente  na  frente  e  assim  por  diante)  de  textos  e/ou  imagens  e 
links, postados por um usuário denominado blogueiro – o autor do blog. A esses textos podem se somar comentários 
que  um  “internauta”  (visitante)  pode  deixar  para  o  autor  da  página  e/ou  para  os  outros  leitores  (cf. 
http://www.cosmo.com.br, acesso em 22/09/2006). 
 
Por tudo que se disse até aqui, é possível afirmar com base em Bakhtin (op. cit.) e nos estudos de Marcuschi (2005) 
que o blog é sim um gênero textual (ou digital) pelo fato de se apresentar histórica e culturalmente sensível, além de 
ter ambiência e organização discursiva que o diferencia de outros gêneros do mesmo suporte. Ou seja, é mais um 
gênero que se apresenta no espaço midiático do hipertexto e que se materializa através da linguagem verbal e não‐
verbal, com uma infinidade de recursos que contribuem para a sua constituição. Em outras palavras, caracteriza‐se 
por uma composição presente também em outros gêneros textuais, matéria de que trata a seção seguinte. 
 
 
2. SOBRE MULTIMODALIDADE 
 
Os  gêneros  textuais,  como  já  foi  dito  anteriormente,  constroem  sentidos  e  estabelecem  relações  através  dos 
conteúdos ou discursos neles veiculados. Esses significados se concretizam através da linguagem, quer seja verbal, 
quer  seja  não‐verbal.  Em  outras  palavras,  todo  o  arranjo  visual  disposto  em  determinado  gênero  textual  (cores, 
imagens, tipos e tamanhos de fontes, formatação), e mesmo o comportamento de uma pessoa (gestos, entonações, 
expressões faciais) durante uma conversa, por exemplo, podem ser compreendidos como multimodalidade. 
 
De acordo com Dionísio (2005), os textos multimodais expõem de algum modo as relações entre a sociedade e o que 
ela  representa.  Ou  seja,  no  dizer  da  autora,  tanto  as  ações  sociais  quanto  os  gêneros  que  tornam  explícitas  essas 
ações  são  multimodais,  tendo  em  vista  a  sua  capacidade  de  produzirem,  através  de  “no  mínimo  dois  modos  de 
representação:  palavras  e  gestos,  palavras  e  entonações,  palavras  e  imagens,  palavras  e  tipográficas,  palavras  e 
sorrisos, palavras e animações, etc.” (DIONÍSIO: 178), os sentidos pretendidos pelo enunciador/interlocutor. 
 
Embora da afirmação da autora se compreenda a presença permanente da multimodalidade em todos os gêneros do 
cotidiano, Kress & van Leeuwen (2006, p. 41), sugerem: “Yet the multimodality of written texts has, by and large, been 
ignored,  whether  in  educational  contexts,  in  linguistic  theorizing  or  in  popular  common  sense.  Today,  in  the  age  of 
‘multimedia’, it can suddenly be perceived again” 4 . 

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A multimodalidade dos textos escritos vem sendo ignorada no contexto educacional, na teoria lingüística ou no senso comum. Hoje,
na era multimídia, pode de repente ser novamente percebida. [tradução livre]
A  expectativa  que  os  autores  apresentam  por  último  é,  por  assim  dizer,  um  convite  à  descoberta  de  como  a 
multimodalidade contribui para os mais diversos sentidos, dispostos numa infinidade de gêneros. Na verdade, com o 
advento  das  novas  tecnologias  da  informação  e  comunicação,  as  formas  de  se  produzir  e  de  se  processar 
conhecimentos, sentidos, significados ganharam uma nova configuração. Ou seja, como bem indica Dionísio (2005) 
estamos caminhando para um espaço em que a palavra e a imagem têm cada vez mais uma relação integrada.  
 
Todavia, como foi sugerido na introdução deste trabalho, o próprio texto escrito já traz em si recursos multimodais 
(disposição  visual,  cores,  tamanho  etc.),  contrariando  a  idéia  de  que  apenas  elementos  como  imagens,  sons, 
animações tornariam um texto multimodal. Essa argumentação é também veiculada pela mesma autora, em outra 
passagem de seu trabalho, inclusive porque se trata de análise multimodal em textos orais. 
 
Logo, para  que  o  leitor possa  compreender  um  pouco  mais a  respeito da  matéria,  é necessário acrescentar  alguns 
conceitos  mais  essenciais  e  que  serão  pertinentes  no  continuum,  quando  o  blog  será  então  analisado  nessa 
perspectiva multimodal. 
 
O primeiro ponto importante de ser esclarecido é que a multimodalidade tem seu aporte na Lingüística Sistêmico‐
Funcional (LSF). As conhecidas noções de funções da linguagem (ideacional, interpessoal, textual), introduzidas por 
Halliday (1985), estabelecem a articulação entre recursos semióticos e as formas lingüísticas. Estas mesmas funções 
são reelaboradas por Kress e van Leeuwen (2006) na obra Reading images: the grammar of visual design. É na GV que 
as  funções  de  Halliday  (1985)  são  descritas,  respectivamente,  como:  metafunção  representacional,  metafunção 
interativa e metafunção composicional, que serão mais bem apresentadas a partir de então, conforme prescrevem os 
autores anteriormente citados: 
 
1. Metafunção representacional: comunica a relação entre os participantes internos de uma imagem. Nessa função, os 
participantes podem ser classificados em dois tipos: interativos, que produzem ou visualizam imagens; representados, 
que  são  (re)tratados  nas  imagens.  Na  composição  de  tais  imagens  podem  ser  expressas  aquilo  que  Kress  e  van 
Leeuwen  (2006)  chamam  de  relações  vetoriais,  ou  seja,  a  conexão  entre  os  participantes  de  uma  determinada 
representação imagética através de processos narrativos ou através de processos conceituais. Os narrativos apresentam 
participantes  ligados  por  vetores  que  indicam  ações.  Os  principais  tipos  de  processos  narrativos  são:  processos  de  ação,  que 
implicam um Ator praticando uma ação sobre uma Meta; e os processos de reação, que implicam um Reagente que pratica a ação 
de olhar para um Fenômeno. Os processos conceituais ocorrem quando não há vetores e os participantes são apresentados de 
maneira  estática  e  atemporal.  Esse  tipo  de  processo  classifica,  estrutura  ou  confere  significado,  podendo  ser,  portanto, 
classificacionais, analíticos ou simbólicos. 
 
2.  Metafunção  interativa:  estabelece  a  relação  entre  o  leitor/observador  e  a  imagem  observada.  Essa  função 
apresenta  os  seguintes  aspectos:  contato,  distância  social,  perspectiva  e  modalidade.  Por  contato  se  compreende  a 
representação  imagética  de  participante  que  “olha”  (ou não)  nos  olhos  do  leitor.  A distância  social  corresponde  ao 
nível de interação estabelecido entre a imagem e o leitor, podendo, desta forma, estabelecer relações de maior ou 
menor  proximidade  entre  eles.    Já  a  perspectiva,  como  o  próprio  termo  sugere,  denota  o  ângulo  em  que  são 
representados os participantes. Por último, a modalidade diz respeito a verossimilhança entre o real e o imagético. 
 
3.  Metafunção  composicional:  designa  a  composição  do  conjunto  todo  coeso,  a  partir  três  princípios  de  composição 
interrelacionados, quais sejam: a) valor de informação ‐ o local dos elementos (participantes e sintagmas que relatam uns 
aos  outros  e  ao  Espectador)  tem  valores  informativos  específicos  anexados  às  várias  zonas  da  imagem:  i)  os 
elementos dispostos ao lado direito correspondem ao Novo, ao passo que os dispostos à esquerda remetem ao Dado, 
aquilo  que  já  se  supõe  conhecido  pelo  leitor;  ii)  na  parte  superior  da  imagem,  os  elementos  tem  valor  de  Ideal, 
enquanto que aqueles dispostos na parte inferior, correspondem ao Real; iii) no que se refere ao centro e margem, os 
elementos  dispostos  denotam  informação  central  e  informações  subordinadas,  respectivamente;  b)  saliência  ‐ 
estabelece uma hierarquia de importância entre os elementos, que são feitos para atrair a atenção do espectador em 
diferentes graus (plano de fundo ou primeiro plano, tamanho, contrastes de tons e cores, diferença de nitidez, etc.); 
c)  estruturação  ‐  a  presença  ou  ausência  de  planos  de  estruturação  (realizado  por  elementos  que  criam  linhas 
divisórias, ou por linhas de estruturação reais) desconecta ou conecta elementos da imagem, significando que eles 
pertencem ou não ao mesmo sentido. 
 
Essa  síntese  dos  princípios  da  GV  fundamenta  a  concepção  que  se  tem  do  blog  como  gênero  textual/digital,  a 
exemplo  de  todos  os  outros,  que  traz  em  sua  forma  de  constituição  e  organização  mais  de  um  modo  de 
representação. É justamente essa configuração multimodal do weblog que se apresenta na próxima seção. 
 
 
3. A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS NO BLOG 
 
Para  cumprir  o  objetivo  de  analisar  como  a  presença  de  diferentes  modos  de  representação  contribuem  para  a 
construção de sentidos em gêneros digitais, foi selecionado aleatoriamente, a partir de um site de busca, o weblog 
intitulado  “Palavras  quase  ocultas  de  um  ser  real..”,  do  qual  foram  destacadas  cinco  postagens  para  este  trabalho. 
Analisar  todos  os  aspectos  (em  todas  as  metafunções)  parece  empreendimento  muito  ambicioso  e,  ao  mesmo 
tempo, muito grande para o espaço que se tem aqui. Portanto, far‐se‐á neste estudo, uma análise mais considerável 
sobre  a  metafunção  composicional,  procurando  valorizar  o  caráter  de  construção  de  sentidos.  Na  segunda  seção, 
porém,  estão  presentes  alguns  comentários  acerca  da  metafunção  interativa  e  de  sua  configuração  nos  posts 
analisados.  
 
 
3.1 METAFUNÇÃO COMPOSICIONAL NOS POSTS 
 
A escolha das postagens ocorreu da mais recente para a mais antiga. A análise dos posts será apresentada a partir do 
que se pode notar como mais recorrente em todas elas, de modo que a disposição de todas as fotos de tela (figura 2), 
em tamanho menor, deriva tanto da questão já referida do espaço como da necessidade de não cansar o leitor, com a 
apresentação constante de elementos já apresentados ou mesmo inferíveis. 
 
De qualquer forma, a figura 01 apresenta a tela inicial, como forma de exemplificar o layout que geralmente é dado 
aos weblogs por seus produtores: 
 
Figura 01 – Tela Inicial do blog 

frame 1

frame 2

frame 5

frame 6 frame 3

frame 7 frame 4

 
Fonte: http://palavrasquaseocultasdeumserreal.blogspot.com/
 
 
Numa  primeira  observação  já  é  possível  notar  os  elementos  constitutivos  da  “janela”  do  weblog:  na  parte  superior 
verifica‐se uma caixa em azul (frame 1) 5  na qual estão dispostos links para pesquisa dentro do portal, para criar um 
blog e, por último, à direita, verifica‐se a opção de login, em que o usuário tem amplo acesso para efetivar edição na 
sua  página.  Todos  esses  links  estão  tipografados  com  a  mesma  fonte  (cores,  tipo  e  tamanho),  sinalizando,  desse 
modo, uma espécie de distinção entre os demais elementos constitutivos do blog. 
 
No  frame  2,  logo  abaixo,  está  em  destaque  o  título  do  blog  –  “Palavras  quase  ocultas  de  um  ser  real...”,  que  se 
complementa  com  o  texto  que  lhe  sucede  dentro  do  mesmo  frame.  Ainda  é  necessário  notar  que  esse  título  se 
apresenta saliente em relação à imagem em plano de fundo, onde se vêem representadas as cordas da caixa acústica 
de um violão. A disposição de tal imagem na parte superior da janela traz aqui a noção de elemento Ideal, ou seja, 

5
A expressão frame é aqui tomada como célula compositiva da janela de qualquer página eletrônica, conforme tratam os web
designers. Não tem, portanto, a concepção de framming (KRESS e VAN LEEUWEN, 2006) ou estruturação (ALMEIDA, 2008).
quando  o  valor  da  informação  é  mais  abstrato,  mais  subjetivo.  A  escolha  da  imagem  do  violão,  na  caixa  azul  em 
gradiente, oferece ao blog um caráter de reflexão e de racionalidade, através da musicalidade suave que a figura do 
instrumento musical e também da predominância da cor azul remetem ao leitor/visitante do blog.  
 
Na  caixa  esquerda  intitulada  “Sobre...”  (frame  5),  o  autor  do  blog  se  dirige  diretamente  ao  leitor  (Prazer,  Vicente 
Freitas), depois de discorrer sobre suas “motivações” para a escritura do blog. Esse frame é muito recorrente nos blogs 
porque é que se convencionou chamar de perfil, ou seja, é o espaço de livre apresentação do produtor da página. Na 
parte inferior (frame 7), ainda à esquerda, pode‐se notar uma lista de links (em caixa branca) que conduzem a trinta e 
dois  outros  blogs  marcados  como  “favoritos”  deste  bloguista.  Se  se  quisesse  analisar  aqui  o  aspecto  compositivo 
(metafunção composicional) da página como um todo, poder‐se‐ia afirmar que os frames da esquerda correspondem 
às informações tidas como dadas, ou seja, informações já compartilhadas ou já sabidas pelos participantes/leitores 
do blog, em oposição aos da direita, que remetem às informações novas, conforme se apresenta nos parágrafos que 
seguem. 
 
À  direita  (frame  3),  vê‐se  uma  advertência  quanto  à  questão  do  direito  autoral  e,  logo  em  seguida,  é  destacado  o 
arquivo  de  postagens  (Blog  Archive).  Abaixo  do  arquivo  há  uma  série  de  “selos”  (espécie  de  premiações  que  os 
visitantes  conferem  ao  blog)  que  pode  ser  vista  na  figura  2,  em  que  estão  presentes  as  cinco  postagens  aqui 
analisadas. Como já foi dito anteriormente, as informações trazidas à direita se constituem com valor de “novidade”, 
melhor dizendo, como algo supostamente não conhecido pelo leitor. Talvez seja essa a razão de o produtor do blog 
ter posicionado os selos e arquivos de postagens do lado direito.  
 
Por último, no centro da janela (frame 6), em maior destaque, lê‐se o post “Ah, suas asas...”, precedido pela data da 
postagem. Esse recurso é o que permite o acesso ao arquivo de postagens pelo critério da temporalidade e que é de 
certo modo responsável pela difundida comparação do gênero blog com o diário convencional. O leitor poderá notar, 
num olhar mais atento às figuras aqui trazidas, as tênues linhas que separam os quadros: data, marcador localizando 
o título da postagem, imagem, texto escrito.  
 
A  partir  dessa  observação  da  disposição  dos  elementos multimodais  que  constituem  o  blog,  é  possível  depreender 
que a estruturação (ainda quanto à metafunção composicional) é um dos princípios mais facilmente notados nesse 
gênero: as partes, anteriormente apresentadas, estão delineadas através da separação das caixas e das linhas, que se 
configuram  –  grosso  modo  –  certa  saliência  em  relação  ao  plano  de  fundo  (gradiente  em  tom  de  azul)  em  toda  a 
página. Embora tais linhas divisórias possam implicar algum tipo de “desconexão” na visão do leitor mais desavisado, 
o que ocorre na composição do blog é justamente o contrário: há conexão, com estruturação fraca, já que as caixas 
salientadas são interligadas pelo background gradiente em toda a página.  
 
Quanto à questão da predominância de tons da cor azul, desde a organização das caixas até a seleção tipográfica do 
texto escrito, pode‐se depreender a indicação do caráter de racionalidade e reflexão, conforme já se afirmou no início 
desta análise. Já no que diz respeito à disposição da imagem no centro do frame em que apresenta o post (v. figura 2), 
é  possível  afirmar  mais  imediatamente  duas  sentenças:  i)  tal  layout  reforça  o  valor  que  conferido  à  informação 
veiculada no título da postagem; ii) o título se torna mais concreto a partir dos sentidos sugeridos pelas imagens. 
 
Além  disso,  o  posicionamento  das  imagens  na  parte  superior  do  frame  de  postagem  evidencia,  como  já  foi  dito  a 
respeito  do  título  do  blog,  a  proposição  de  informação ideal,  tendo  em  vista  que,  ao mesmo  tempo  em  esconde  o 
aspecto mais concreto do texto, apresenta o aspecto mais abstrato e talvez imaterial da composição imagética. 
 
Por último, o texto disponível abaixo das imagens, nos posts, apresenta uma variação em sua forma de constituição. 
Em  quatro,  há  predominância  da  disposição  em  prosa.  Porém,  oras  há  entrada  de  parágrafo,  ora  não.  O  recuo  de 
parágrafo ocorre apenas nos posts mais longos. Isso indica que tal opção do escritor visa à atenção do leitor, uma vez 
que um longo texto, sem definição de parágrafo pode, à primeira vista, contribuir à indisposição para a leitura. 
 
Figura 2 ‐ Postagens 

   
Post 1 – “Incitamento: pulsar e néctar...”        Post 2 – “Ah, suas asas...” 

   
Post 3 – “É preciso saber jogar...”       Post 4 – “Entregue às asas...” 
 
Post 5 – “Quando o meditar me faz pleno...” 
Fonte: http://palavrasquaseocultasdeumserreal.blogspot.com/
 
 
3.2 METAFUNÇÃO INTERATIVA NOS POSTS 
 
No  que  diz  respeito  à  metafunção  interativa  é  possível  afirmar  que  não  há  contato  explícito  entre  os  participantes 
retratados  nas  imagens  das  postagens  e  o  leitor  do  texto.  Talvez  isso  ocorra  em  função  do  caráter  de  meditação, 
contemplação (post 5), da discrição íntima materializada no post 1 e do caráter mais sóbrio, em ambos, sugerido pelo 
tom de branco e preto. Os textos descrevem e narram, simultaneamente. Todavia, elementos textuais que denotam 
mais descrição se apresentam no post 5, onde a percepção de ausência de movimento na imagem se faz notar; ao 
contrário, o enlace sensual e delicado, sugerido na imagem do post 1, é ricamente narrado em primeira pessoa pelo 
autor do blog. 
 
Uma observação das imagens presentes nos outros posts (2,3 e 4) pode indicar algum tipo de interação, tendo em 
vista a existência de um possível vetor dirigido ao leitor nas imagens em que se fazem representar as aves.  
 
Para  finalizar,  pode‐se  considerar  que  nenhum  dos  mais  ínfimos,  discretos  modos  de  representação  evidenciados 
neste gênero foram alocados à toa, ou pelo mero acaso. Estando o autor do blog consciente ou não de todas essas 
possibilidades de significação, a multimodalidade vislumbrada nesta análise indica que os sentidos pretendidos pelo 
autor do blog somente se materializam a partir da aglutinação de todos os elementos semióticos já apontados. 
 
 
4. CONCLUSÃO 
 
Por tudo que foi dito até aqui, pode‐se reafirmar que os diferentes modos de representação, presentes em todos os 
gêneros  textuais  com  os  quais  se  mantém  contato,  têm  ganhado  espaço  de  discussão  e  análise  nos  últimos  anos, 
graças  ao  uso  tão  comum  e  freqüente  das  mais  diversas  mídias  de  comunicação  e  informação,  notadamente  a 
internet com todas as suas possibilidades de interação e integração, através das diversas semioses nela disponíveis. 
Há  nesse  caso,  uma  forma  de  confirmação  da  expectativa  de  Kress  e  van  Leeuwen  (2006),  quando  afirmam  a 
emergência  (ou  por  que  não  dizer  a  insurgência)  do  interesse  pela  compreensão  da  multimodalidade  dos  textos 
escritos, na era da multimídia. 
 
A  internet,  ao  que  parece,  realmente  modificou  as  formas  convencionais  de  se  produzir  e  compreender  os 
significados. Exemplo disso são os muitos gêneros que têm “surgido” na esfera digital e que, a cada dia, por força de 
imbricações ou interpenetrações dão origem a novos gêneros, aos quais não basta mais uma simples designação.  
 
Neste trabalho, o já explicitado interesse de analisar como a multimodalidade contribui para a construção de sentidos 
na  ambiência  digital,  mais  especificamente  nos  weblogs,  conduziu  para  observações  importantes  acerca  da 
constituição  do  blog  e  toda  a  sua  carga  de  sentidos,  pretendidos  tanto  por  seu  autor,  como  por  seus 
leitores/comentaristas. Isso se verifica na utilização de diversos recursos visuais como imagens, cores, tamanho de 
fontes, por exemplo, e, até mesmo na disposição gráfica do texto em parágrafos.  
 
Em síntese, por ser o weblog um gênero produzido na web com uma interface simples (com um clique de mouse se 
inserem  imagens,  sons  e/ou  vídeos),  as  marcas  multimodais  corroboram  decisivamente  para  a  construção  dos 
sentidos  e  sugerem  que  todo  o  arranjo  visual  existente no  gênero  não  funciona  apenas  como  um  adorno,  mas,  ao 
contrário, está de tal forma imbricado com os demais modos de representação que o significado é materializado tão 
somente a partir dessa (inter)relação, conscientemente “configurada” pelo produtor do weblog. 
 
 
 
5. REFERÊNCIAS 
 
 
ALMEIDA,  D.  B.  L.  (org).  Perspectivas  em  análise  visual:  do  fotojornalismo  ao  blog.  João  Pessoa:  Editora  da  UFPB, 
2008. 
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Escrita. Belo Horizonte: Autêntica, 2005a. 
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Web site: http://palavrasquaseocultasdeumserreal.blogspot.com – acesso em 22/09/2006. 
 

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