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Curso de

Farmacologia Geral

MÓDULO V - A

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descritos na Bibliografia Consultada.
MÓDULO V-A

INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS

Introdução

O corpo humano é um sistema complexo formado por uma infinidade de


substâncias que fatalmente entrarão em reações com os fármacos ingeridos. Também é
natural supor-se que, no caso de introdução, com fins terapêuticos ou não, de mais de
uma substância, possam elas atuar entre si.

Na prática clínica, se muitas dessas interações têm importância relativa com


pequeno potencial lesivo para os pacientes, outras são potencialmente graves, podendo
levar inclusive à morte. Há também o reverso da moeda, ou seja, interações
medicamentosas que podem ser também exploradas a fim de obter-se uma ação
terapêutica mais eficaz.

Interações entre dois ou mais medicamentos

Não obstante as tentativas, de longa data, da OMS, de reduzir as associações


medicamentosas e instituir o uso de monofármacos, a prescrição concomitante de vários
medicamentos a um mesmo paciente continua sendo uma prática médica comum e,
muitas vezes, necessária.

A modificação dos efeitos farmacológicos por interação entre fármacos pode ser no
sentido de aumentar ou diminuir a eficácia terapêutica, da mesma maneira pode acentuar
ou atenuar os efeitos indesejáveis. Podem aparecer também efeitos totalmente novos,
diferentes dos observados com quaisquer das drogas utilizadas isoladamente ou pode
não ocorrer nenhuma modificação no efeito final, apesar da cinética e do metabolismo de
uma ou ambas as drogas terem sido alterados.

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A incidência de interações medicamentosas oscila entre 3-5%, para pacientes em
uso de várias medicações, aumentando para 20% ou ainda mais, em doentes usando 10
a 20 drogas. Como o paciente internado recebe, em média, 6/8 drogas, vê-se aí a
importância do problema.

A administração simultânea de vários medicamentos a um mesmo paciente requer


muita cautela, particularmente em se tratando de drogas de pequena margem de
segurança.

Interações entre medicamentos e outras substâncias

As ações dos medicamentos podem ser influenciadas negativa ou positivamente


por outras substâncias como:

- Alimentos;
- Drogas (álcool, cigarro, maconha, cocaína);
- Solventes;
- Poluentes.
Por exemplo, a ingestão de alimentos pode afetar a absorção gastrintestinal de
muitos medicamentos, assim como algumas substâncias presentes no alimento podem
interagir com determinados fármacos. O álcool pode influenciar o metabolismo dos
medicamentos assim como potencializar a ação de outros depressores do Sistema
Nervoso.

Interações entre medicamentos fatores ligados ao paciente

Estados patológicos de pacientes como diabetes, hiper ou hipotireoidismo,


alcoólatras e diversas ordens gastrintestinais podem responder a determinados
medicamentos de maneira diversa dos pacientes sem estas afecções.

o Função Renal: se estiver alterada vai modificar a excreção;

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o Função Hepática: pode alterar o metabolismo das drogas;

o Níveis Séricos de Proteínas: vai influenciar a distribuição dos medicamentos


no organismo;

o Idade: a dosagem dos fármacos deve ser ajustada para crianças e idosos;

o Constituição Genética: diferenças genéticas e/ou alteração de alguma


enzima poderá interagir com a ação dos medicamentos.

Conceitos

Os termos estão definidos de acordo com o seu uso neste curso:

- Tempo de meia vida plasmática – Tempo que a concentração da substância leva para
atingir a metade do seu valor;

- Droga – Qualquer substância que interaja com o organismo produzindo algum efeito;

- Medicamento – É uma droga utilizada com fins terapêuticos ou de diagnóstico;

Muitas substâncias podem ser consideradas medicamentos ou não, depende da


finalidade com que foi usado.

Por exemplo:

O clorofórmio ou o éter se forem usados para anestesia, eles são considerados


medicamentos, se forem usados para cheirar e obter alterações no SNC são
considerados drogas.

A vitamina C se for obtida por meio dos alimentos é considerada um nutriente, mas
se for administrada na forma pura para correção de estados carências ou como
estimulante das defesas orgânicas é definida como um medicamento.

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- Farmacocinética-Como visto, é o que o organismo faz com droga. Compreende a
absorção, distribuição, metabolismo e a excreção da droga;

- Farmacodinâmica – É o que a droga faz com o organismo, ou seja, está relacionado


com o mecanismo de ação e os efeitos provocados pela droga;

Para ilustrar, pegaremos como exemplo um paciente que toma um comprimido de


diclofenaco (Cataflam®).

Cinética:

Ele é desintegrado pelo estômago, absorvido pelo intestino vai para a corrente
sangüínea onde é transportado até o local da inflamação.

Dinâmica:

Lá o diclofenaco atua inibindo a atividade da ciclooxigenase e conseqüentemente


diminui a produção de prostaglandinas as quais são vasodilatadores potentes, aumentam
a permeabilidade vascular e causam as reações inflamatórias, ou seja, diminuindo a
produção de prostaglandinas diminui a inflamação.

Cinética:

Depois de exercer sua função o diclofenaco é metabolizado pelo fígado e depois


eliminado pelos rins.

- Efeitos adversos ou colaterais – Efeitos provocados pelo medicamento diferente do


efeito principal;

Às vezes o efeito tóxico não é devido ao efeito colateral e sim ao efeito principal
como, por exemplo, casos de hemorragias devido ao uso de anticoagulante e casos de
coma hipoglicêmico com a insulina.

Muitas pessoas imaginam que o efeito colateral é o efeito maléfico do


medicamento, porém nem sempre isto é verdadeiro. O efeito adverso é devido ao fato da

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falta de especificidade do medicamento uma vez que as maiorias das drogas são
seletivas, porém não totalmente específicas.

Para explicar isso nós podemos fazer uma analogia, imaginamos que você precise
consertar uma torneira na cozinha de sua casa e para isso você precise fechar o registro
de água. Se o registro for exclusivo para a torneira não terá problema, porém o registro
pode ser para a casa toda então toda a residência ficará sem água, e mais o registro pode
ser para todo o prédio ou quarteirão e então todos os seus vizinhos ficarão sem água.

Com os medicamentos ocorre algo semelhante. Se o medicamento for específico


ele atuará somente no local apropriado, porém como é difícil um registro de água para
cada torneira é difícil também um medicamento atuar somente onde é objetivado,
provocando efeitos adversos.

Muitas interações podem ocorrer no sentido de aumentar ou diminuir os efeitos


colaterais dos medicamentos, portanto é interessante termos uma visão bem clara do que
são efeitos colaterais.

Por exemplo, se ainda considerarmos aquele nosso paciente que tomou o


Cataflan® e está com a síntese de prostaglandina diminuída ele poderá sentir como efeito
adverso dores de estômago, uma vez que as prostaglandinas atuam também inibindo a
secreção gástrica e aumentam a resistência da mucosa do estômago.

Portanto é interessante neste caso associar um inibidor de secreção ácida como a


ranitidina (Anti-histamínico H2). Convém observar que os antiinflamatórios não esteróides
podem provocar irritação gástrica mesmo se forem administrados por via intramuscular.

Outra associação interessante é o uso de anticolinérgicos como o biperideno para


atenuar os efeitos colaterais dos neurolépticos.

Muitas vezes pode ocorrer que o efeito colateral passa a ser o efeito principal.

Como o caso do SILDENAFIL (Viagra®) que foi desenvolvido e estava sendo


testado como uma nova droga para dilatar as coronárias. E durante os testes vários

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voluntários do sexo masculino notaram que, quando estimulados sexualmente
apresentavam uma ereção mais duradoura que o normal.

A PFIZER então resolveu mudar o rumo da pesquisa e estudar a eficácia da droga


no combate a impotência.

Podemos citar também o MISOPROSTOL (Citotec®) que é um análogo multiéster


sintético da prostaglandina E1.

Trata-se de um potente inibidor da secreção ácida e protetor gástrico, e foi


concebido para tratamento de úlceras, porém no nosso meio ele é utilizado em hospitais
para expulsão do conteúdo uterino na mulher com aborto retido, ou usado ilicitamente em
casos de aborto indevido.

A talidomida que foi utilizada como sedativo em 1961 e trouxe graves


conseqüências para gravidez devido à má formação nas extremidades do feto (braços e
pernas), hoje ela é utilizada no tratamento da hanseníase.

- Biodisponibilidade: É a fração da droga não alterada que atinge seu local de ação
após a administração por qualquer via.

Um fármaco, por exemplo, que é absorvido pelo estômago e pelo intestino precisa
em primeiro lugar atravessar o fígado antes de atingir a circulação sistêmica. Se esse
fármaco for metabolizado no fígado ou eliminado na bile, parte da forma ativa será
inativada antes que possa atingir a circulação geral e ser distribuída para seus locais de
ação.

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Os pulmões funcionam como local de depuração de várias drogas e podem
diminuir a biodisponibilidade destes pelo efeito de primeira passagem, mesmo quando
esses medicamentos são administrados por vias parenterais como SC, IM, e IV exceto as
vias intra-arteriais.

No caso representado pela figura, a biodisponibilidade do fármaco administrado por


via oral é de 0,6, ou seja, de cada 100 mg tomados apenas 60mg estarão disponíveis
para exercer seu efeito no local de ação.

Como veremos adiante muitas interações ocorrem no sentido de aumentar ou


diminuir a biodisponibilidade farmacêutica.

Interações físico-químicas

Duas ou mais drogas podem interagir diretamente no trato gastrointestinal quando


são ingeridos simultaneamente ou quando são misturados em infusão intravenosa,
frascos e seringas, especialmente em condições nas quais suas concentrações sejam
elevadas.

As interações físico-químicas de medicamentos, cujos efeitos são nocivos são


chamadas "incompatibilidade farmacêutica" e devem ser observadas ao preparar os

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medicamentos. Como exemplo tem-se o aparecimento de coloração diferente, turvação
ou precipitação de uma solução, ao se misturar com outra na seringa de injeção.

Incompatibilidade Farmacêutica

- Os beta-lactâmicos podem ser inativados pelo pH ácido de soros glicosados;

- Alguns antineoplásicos, como a doxorrubicina devem ser protegidos da luz por serem
fotossensíveis e devem ser administrados em equipos escuros;

- Um agente conservador pode inativar outro medicamento. Ex. bissulfito para as


penicilinas;

- O gluconato de Cálcio e fosfato de Potássio se forem misturados em nutrição parenteral


podem precipitar;

- As penicilinas e as cefalosporinas reagem com o grupo amino dos aminoglicosídeos e


os inativam, portanto não devem ser misturados.

É importante ressaltar esta interação uma vez que esses agentes agem
sinergicamente contra diversos micróbios e com certa freqüência são prescritos
simultaneamente para o mesmo paciente.

- As tetraciclinas são agentes quelantes eficientes contra vários cátions com os quais
formam complexos pouco solúveis. Assim sendo, a absorção no trato intestinal é
prejudicada pelo leite e seus produtos derivados, assim como pela administração
concomitante de géis de Hidróxido de Al e sais de cálcio, magnésio ou ferro.

Apesar das tetraciclinas poderem produzir distúrbios gastrintestinais (náuseas,


vômitos e diarréia) elas são melhores absorvidas em jejum uma vez que além de
interagirem com os cátions elas também são instáveis em meio ácido.

- Muitos fármacos não podem ser administrados por via oral porque são inativados pelo
pH ácido do estômago ou por enzimas digestivas. Ex: heparina, insulina, maioria das
penicilinas e cefalosporinas, etc.;

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- A colestiramina e o colestipol que são resinas trocadoras de íons (para eliminação de
sais biliares e redução de colesterol) complexos, uma série de medicamentos
(antidepressivos, neurolépticos, digitálicos, anticoagulantes) diminuindo a absorção.

Geralmente a bula do produto traz informações importantes quanto à


incompatibilidade farmacêutica, outra fonte valiosa dessas informações é o próprio
fabricante, que tem serviço de atendimento ao consumidor e/ou tabelas com as
incompatibilidades de seus produtos.

Via de regra deve-se evitar a mistura de vários medicamentos em uma mesma


solução, sempre que possível, para assim diminuir a probabilidade de interações
químicas.

Interações físico-químicas utilizadas com fins terapêuticos

Esses mecanismos também são importantes para antagonizar os efeitos


exacerbados de fármacos administrados em altas doses, assim como para prevenir
efeitos tóxicos de agentes não medicamentosos.

- Uma interação muito utilizada no caso de intoxicações por via oral, é a administração de
carvão ativado que absorve outras drogas na sua superfície porosa e assim diminui a
absorção;

- A vitamina C aumenta a absorção de ferro no organismo, devido o efeito redutor de


ácido ascórbico, ele mantém o ferro no seu estado divalente (Fe++ ou ferroso) e somente
neste estado que o ferro é absorvido pelo intestino;

- A protamina, uma substância fortemente básica é utilizada para neutralizar o excesso de


heparina (de caráter ácido) através de formação de um complexo inativo;

- EDTA cálcico dissódico é usado como agente quelante primariamente para tratar as
intoxicações por chumbo. Após a administração do CaNa2EDTA, o chumbo dos depósitos
dos tecidos moles desloca os íons de cálcio e forma o complexo PbNa2EDTA, que é
excretado na urina;

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- Desferroxamina é um agente quelante para tratar a intoxicação pelo Ferro. Após a
ingestão de quantidades excessivas de ferro, a concentração plasmática do ferro excede
a capacidade de ligação da transferrina, e o ferro livre é distribuído para dentro das
células, causando a ruptura das mitocôndrias. A desferroxamina não somente se liga ao
ferro circulante e aumenta a sua eliminação pela urina, mas pode também remover os
íons dos locais do interior dos hepatócitos.

Farmacocinética e as interações

A absorção local de administração, a distribuição, incluindo os sítios de ação,


biotransformação e eliminação determinam o tempo em que a droga começa a agir, sua
intensidade e duração.

Em geral, a intensidade de ação está mais diretamente relacionada à concentração


da droga no sítio de ação ou receptor. Enquanto a duração da ação se relaciona à
velocidade de biotransformação e eliminação da droga, e conseqüentemente a sua
remoção do local de ação.

Portanto, qualquer outra substância que interagir nestes processos vão influenciar
no tempo ou na intensidade de ação de um medicamento.

As interações farmacocinéticas são as mais freqüentes e promovem, muitas vezes,


influência significativa sobre a terapêutica medicamentosa. Ao contrário das interações
farmacodinâmicas que são quase sempre previsíveis, as alterações na farmacocinética de
uma droga induzida por outra não costumam ser intuitivamente óbvias.

A redução no grau de absorção ou a aceleração da biotransformação de um


fármaco ocasiona redução do seu nível plasmático e tende a prejudicar a eficácia
terapêutica. Inversamente, a inibição da transformação de um fármaco resulta quase
sempre na exacerbação dos efeitos, inclusive da toxicidade. Essas variações têm grande
significado, principalmente para aqueles fármacos de pequena margem de segurança, em
que as doses terapêuticas e tóxicas estão bastante próximas. Têm-se, por exemplo, os
antibióticos aminoglicosídeos, quinidina, procainamida, fenitoína, digitálicos, entre outros.

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As doses necessárias desses agentes para promover efeitos terapêuticos ótimos
diferem largamente entre os pacientes. Quando uma dose convencional é utilizada, pode
ser insuficiente para alguns, enquanto para outros pode ser excessiva, com manifestação
de toxicidade.

A concentração sérica de fármacos está em equilíbrio dinâmico com os receptores


desses fármacos. Portanto, o nível sérico de um fármaco é excelente indicador para os
efeitos tóxicos e farmacológicos.

Os parâmetros farmacológicos que representam a absorção, distribuição e


eliminação são obtidos do perfil de concentração plasmática do fármaco.

Estudos laboratoriais mostram a estreita correlação entre o nível sangüíneo dos


fármacos e a intensidade seus efeitos. O efeito de um fármaco geralmente aparece
quando a concentração deste no sangue atinge um certo valor.

A elevação de nível plasmático efetivo pode causar sérios problemas ao aproximar-


se do nível plasmático tóxico. A relação entre o nível plasmático efetivo e o nível
plasmático tóxico é denominada índice terapêutico de um fármaco.

A monitorização do paciente durante uma terapia prolongada visa essencialmente


vigiar e controlar o nível plasmático da droga, mantendo-se sempre acima de seu nível
plasmático efetivo e abaixo do nível plasmático tóxico.

Classificação das interações farmacocinéticas:

- Interações físico-químicas no trato digestivo


- Motilidade gastrointestinal
Absorção
- Flora Bacteriana
- Função da Mucosa

Distribuição - Fluxo Sangüíneo

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- Ligação Tecidual
- Ligação nas Proteínas Plasmáticas

- Indução Enzimática
Metabolismo
- Inibição Enzimática

- Filtração Glomerular
Excreção - Reabsorção Tubular
- Secreção Tubular

Absorção gastrointestinal

O grau de absorção dos fármacos é decisivo particularmente quando a via


escolhida é a via oral, para se obter o nível desejado da substância no sangue. A
velocidade de absorção de um fármaco está estreitamente relacionada ao tempo
necessário para que o fármaco atinja o seu nível plasmático efetivo.

Farmacodinâmica e as interações

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A farmacodinâmica está relacionada com os efeitos bioquímicos e fisiológicos das
drogas e o seu mecanismo de ação.

As interações medicamentosas classificadas como farmacodinâmicas se referem


quando duas ou mais drogas produzem efeitos que se interagem ou quando a interação
ocorre ao nível de receptores farmacológicos.

Um receptor farmacológico é qualquer componente biológico que interage com


uma molécula da droga, produzindo um efeito sobre o organismo. Alguns autores definem
receptor como sendo macromoléculas, portanto não consideram a água e íons como
receptores.

Quando a ligação da droga ao componente não leva a efeito algum, como no caso
da ligação dos medicamentos às albuminas, o componente não é denominado receptor.

Exemplos de Receptores

• Receptores inespecíficos:

Água: Os diuréticos osmóticos, como o manitol, não são reabsorvidos pelo rim e, portanto
retém água na luz do túbulo renal, que de outra forma seria reabsorvida. Portanto, eles
atuam sobre a água corporal ao produzirem diurese.

Alguns laxantes, como o ágar ou a metilcelulose, têm moléculas grandes demais


para serem absorvidas pelo intestino. Quando administrado por via oral, elas incham por
absorverem água, retendo assim uma quantidade maior de água na luz intestinal. A
massa resultante promove a motilidade intestinal e alivia a constipação.

Os dextrans de alto peso molecular, quando injetados por via endovenosa, fazem
com que a água dos tecidos entre para a circulação expandindo a volemia.

Íons H+ ou OH-: drogas como o cloreto de amônio e bicarbonato de sódio usado para
acidificar e alcalinizar a urina atuam sobre os íons H+ ou OH-.

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Íons metálicos: podem ser considerados como receptores dos agentes quelantes.
Dimercaprol-Hg, Penicilamina-Cu (na doença de Wilson) e o EDTA-Pb.

• Receptores específicos:

Enzimas: Várias classes de medicamentos atuam sobre enzimas como Antibacterianos,


Antineoplásicos, Cianeto, Digitálicos, Antidepressivos, Anti-hipertensivos, etc.

Ácidos Nucléicos: DNA e actinomicina D, RNA e estreptomicina.

Esteróis da membrana: Os antibióticos poliênicos (nistatina, anfotericina B) ligam-se


especificamente ao ergosterol e causam um vazamento ou lise da membrana da célula
fúngica.

A grande maioria das drogas atua sobre receptores específicos, com exceção de:
anestésicos, a maioria dos hipnóticos e sedativos; álcoois, drogas osmoticamente ativas,
drogas acidificantes e alcalinizantes e anti-sépticos.

As interações farmacodinâmicas podem ser sinérgicas ou antagônicas dos efeitos


tóxicos ou benéficos e são divididas em:

Interações sobre receptores:

Quando duas ou mais drogas atuam sobre o mesmo sistema de receptores. Por
exemplo, as interações entre agonista e antagonista adrenérgico.

Interações sobre o sistema de controle fisiológico:

Quando duas mais substâncias, mesmo agindo em receptores distintos, produzem


seu efeito em um mesmo sistema fisiológico, como por exemplo, os vasodilatadores e os
diuréticos que atuando por mecanismos diferentes vão diminuir a pressão arterial.
Os efeitos secundários de várias drogas podem ser a causa de interações
farmacodinâmicas.

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Uma droga pode alterar o meio interno normal, desse modo aumentando ou
diminuindo o efeito de outro fármaco. Um exemplo bem conhecido deste tipo de interação
é a intensificação dos efeitos tóxicos da digoxina como resultado de uma hipocalemia
induzida por diuréticos.
Essas interações são altamente previsíveis, uma vez que estão intimamente
relacionadas com a ação e o efeito das drogas no organismo.
Praticamente as associações medicamentosas são realizadas baseadas em interações
farmacodinâmicas que propiciam a terapêutica.

Exemplos de interações em nível de receptores:

• Hexemetônio bloqueia competitivamente a ação despolarizante de carbacol nas


sinapses nicotínicas dos gânglios;

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• Alguns antibióticos (por exemplo, canamicina, gentamicina) potencializam o
bloqueio despolarizante produzido pela succinilcolina na junção neuromuscular;

• A atropina bloqueia competitivamente a pilocarpina nos receptores muscarínicos;

• Os inseticidas organofosforados atuam inibindo a acetilcolinesterase, aumentando,


portanto os níveis de acetilcolina, principalmente nos terminais parassimpáticos,
estes efeitos são antagonizados pela atropina (antagonista colinérgico) e pela
pralidoxima (ativador da acetilcolinesterase) que são usados como antídotos
destes inseticidas;

• A atropina é utilizada para diminuir a salivação e secreções excessivas do trato


respiratório, em anestesia para cirurgias. Depois da cirurgia se utiliza um inibidor

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da acetilcolinesterase (neostigmina) para reverter os efeitos da atropina.

A fentolamina, as fenotiazinas e fenoxibenzamidas bloqueiam a ação da


noradrenalina sobre os receptores alfa-adrenérgicos nos vasos sangüíneos.

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• Metoprolol bloqueia os agonistas beta 1 adrenérgicos (cardíacos) como, por
exemplo, o isoproterenol;

• Os Antidepressivos Tricíclicos bloqueiam a captação de noradrenalina,


aumentando, portanto a concentração pós-sinápticas de neurotransmissores
ativos.

A guanetidina diminui a liberação de noradrenalina, e quando se efetua um pré-


tratamento crônico com guanetidina, pode-se esperar que os receptores de noradrenalina
pós-sinápticos estejam “hipersensíveis" para compensar os níveis cronicamente baixos de
noradrenalina.
Assim, quando os baixos níveis sinápticos de noradrenalina são levemente
aumentados pela desipramina, verifica-se elevação significativa da pressão arterial.
As interações que envolvem anti-hipertensivos e antidepressivos tricíclicos, L-
Dopa, fenotiazinas, simpatomiméticos de ação direta e indireta e congêneres da
anfetamina quase sempre possuem uma base semelhante.

• Nunca se devem associar os Inibidores da Monoaminooxidase (IMAO) com


antidepressivos tricíclicos, com riscos de episódios hiperpiréticos, convulsões
graves, crises hipertensivas e até morte.

Deve ser observado um intervalo mínimo de 14 dias entre a suspensão dos IMAO
e o início do tratamento com tricíclicos e vice-versa.

• Os hidrocarbonetos anestésicos gerais, o éter, o clorofórmio sensibilizam os


receptores do coração à ação das catecolaminas.

Outros receptores:

• A depressão respiratória induzida pela morfina é revertida pelo antagonista


narcótico naloxona;
• A L-Dopa é um precursor metabólico imediato da dopamina. É utilizada para
fornecer dopamina ao Sistema Nervoso Central no tratamento da Doença de
Parkinson, devido a dopamina não atravessar a barreira hemato encefálica.

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Porém a biodisponibilidade da L-Dopa é significativamente diminuída pela ação da
Dopa Descarboxilase periférica, que transforma a L-Dopa em dopamina.
Portanto a Benserida e a Carbidopa inibidores da Dopa Descarboxilase são
associadas para possibilitar que uma quantidade maior de L-Dopa alcance o cérebro.
O que permite empregar uma dose menor de levodopa e, portanto, diminuir a
incidência de seus afeitos colaterais como náusea e vômitos. Convém observar que a
Benserida e a Carbidopa não atravessam para o SNC.

Entre Antibacterianos:

• Contra determinadas bactérias, a penicilina e a estreptomicina (beta lactâmico e


aminoglicosídeos) atuam sinergicamente contra determinadas bactérias.

A penicilina, impedindo a formação da parede celular da bactéria, facilitaria a


penetração da estreptomicina que iria inibir a síntese protéica ao nível do
ribossomo. Porém, estas duas classes de antibióticos não devem ser misturados
nos mesmos frascos ou seringas intravenosas, pois são fisicamente incompatíveis;

• A penicilina, que possui ação bactericida, é antagonizada pelos antibióticos de


atividade bacteriostática de longo espectro;

• A administração conjunta de agentes bacteriostáticos (como as tetraciclinas) pode


reduzir a atividade dos beta-lactâmicos, pois estes últimos requerem células
bacterianas em crescimento ativo para o efeito máximo;

• A redução marcada na velocidade de desenvolvimento de resistência a isoniazida,


que resulta da terapia em combinação, é essencial ao uso bem sucedido da
isoniazida. Assim no tratamento da tuberculose ativa, a isoniazida nunca deve ser
usada isoladamente;

• Os antibióticos de largo espectro, utilizados por via oral (tetraciclinas, neomicina,


cloranfenicol, sulfamidas) podem potencializar os efeitos dos anticoagulantes orais,

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pelo bloqueio da síntese de Vitamina K que é efetuada pela flora intestinal,
destruída por esses antibióticos.

• As sulfonamidas são agentes bacteriostáticos que competem com o ácido -


aminobenzóico (PABA) e assim interferem com a síntese microbiana de
diidrofolato, uma etapa essencial na síntese das purinas e DNA.

O trimetropim age sinergicamente inibindo a conversão de diidrofolato a


tetraidrofolato que é a etapa seguinte desta via metabólica.

• A Ampicilina pode ser associada a um inibidor da beta-lactamase (o sulbactam)


para diminuir as chances de resistência por quebra do anel beta-lactâmico pelas
bactérias. Ex. Unasym® (Pfizer).

Outra associação que se dá por este mesmo mecanismo é a amoxicilina e o ácido


clavulônico.

------ FIM MÓDULO V - A -----

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