Você está na página 1de 15

15º Encontro Anual da COMPÓS - Associação Nacional dos Programas de

Pós-Graduação em Comunicação. UNESP-Bauru, 6 a 9 de junho de 2006

MIDIATIZAÇÃO, PRÁTICA SOCIAL – PRÁTICA DE SENTIDO 1


Antônio Fausto Neto

Resumo: Discute-se a construção do conceito de midiatização a partir de um


mapeamento de formulações feitas nas ultimas décadas, situando as transformações
de algumas noções a partir da própria complexificação dos processos midiáticos.
Associa-se este conceito associado ao de pratica social-prática de sentido por se
entender que a midiatizaçao se realiza por mecanismos de materialidades e de
imaterialidades.

Palavras-chave: Midiatização, prática social - prática de sentido, Linguagens,


Sócio-Técnica

1. Introduzindo
Minha proposta parte de um cuidado metodológico, que visa restringir a discussão
sobre o conceito de midiatização, considerando dois desafios: primeiro, um conceito em
formação que se encontra em meio aos resquícios dos “conhecimentos fundadores “das
teorias da comunicação” e naqueles que não estão reunidos nas “fronteiras clássicas” destes
estudos. E o segundo, por constatar que este conceito, apesar de nomeado, é ainda pouco
problematizado, na esfera dos estudos das teorias da comunicação, em cuja freguesia, persiste
uma visão dominante das questões midiáticas atreladas a uma perspectiva instrumental. Ou,
por outras perspectivas relacionadas com “teorias hegemônicas”.
Parto, do que resultam algumas observações junto à “vida em laboratório”, o universo
acadêmico de estudos de comunicação, onde este conceito já aparece desdobrado em várias
nomeações. Aparece associada a significantes como dispositivo, ambiente, máquina,
operador, sujeito, processos midiáticos, bios-midiático, tecnointeração,
molduras/emolduramentos/emoldurações, maquinária que procuram, dentre outros, desenhar
possíveis intentos de inteligibilidade sobre a questão.

1
Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho “Políticas e Estratégias de Comunicação”, do XV Encontro da
Compós, na Unesp, Bauru, SP, em junho de 2006.
Este trabalho foi apresentado no Encontro da Rede Prosul - Comunicação, Sociedade e Sentido, no seminário
sobre Midiatização, UNISINOS. PPGCC, São Leopoldo, 19/12/2005 e 06/01/2006. Colaboração dos bolsistas
Aline Weschenfelder, Clovis Okada, Mariana Bastian, Micael Behs.

1
15º Encontro Anual da COMPÓS - Associação Nacional dos Programas de
Pós-Graduação em Comunicação. UNESP-Bauru, 6 a 9 de junho de 2006

Nossa proposta não visa designar a priori a midiatização como prática social - prática
de sentido, mas chegar a uma possível construção, após se fazer um percurso que leve
também em conta as construções já sugeridas, como anteriores possibilidades de formulações
teóricas, de hipóteses e de desenhos metodológicos sobre a questão. Supõe, assim, reconhecer
que os estudos sobre a midiatização estão em processualidade, assim como o próprio
fenômeno 2 .

2. Cenários da Midiatização
Parece-nos sugestivo reunir alguns indicadores que tratariam de dar elementos sobre
os cenários onde se manifestaria a midiatização, na medida em que a mesma se passa em
vários níveis da vida social. Poderia se caracterizar como ambientes e lugares, no sentido de
que ela teria como referência matricial lugar de organização e de funcionamento. Estaria tal
funcionamento diretamente associado a mecanismos de estratégias, segundo ações que
tratariam de dar forma às suas manifestações e aos seus imbricamentos com outras práticas
não midiáticas. Ou seja, a midiatização é algo maior do que as concepções de funcionalidades
e instrumentalidades como as questões midiáticas foram entendidas da parte de construções
teóricas filiadas às escolas ou correntes de investigação, nas quais as mídias não se
constituíam em suas questões centrais. A emergência deste conceito de midiatização é uma
decorrência do próprio desenvolvimento de uma modalidade prática de comunicação que
impõe aos campos de conhecimentos demandas de leituras e de interpretações que
superariam, por assim dizer, certos “protocolos clássicos”, cujos primeiros movimentos de
compreensão dos fenômenos midiáticos trataram de aprisionar o próprio objeto.

a) Processo Histórico
A midiatização situa-se em processos e contextos históricos e em percursos de
desenvolvimento de alta complexificação que impõem a necessidade de considerar

2
Este fato gera conceitos e também programas de estudos e de investigação. É, neste contexto de intentos, que
poderíamos situar a criação do PPGCC - Processos Midiáticos da UNISINOS. Partindo de algumas referências
históricas, ainda que muito jovens, e de operadores conceituais, tentativamente descentrados, aos modelos
clássicos que trabalham os fenômenos midiáticos (mas, sem contudo, abandonar seus graus de tensionalidade ao
fenômeno), privilegia-se, como condição de produção desse Programa de Estudos a própria processualidade do
próprio campo da comunicação, bem como das manifestações dos seus objetos e de suas práticas (emergentes).
Rigorosamente, um programa de estudo em ritmo de processualidades, tanto quanto os objetos dos quais eles
cuidam.

2
15º Encontro Anual da COMPÓS - Associação Nacional dos Programas de
Pós-Graduação em Comunicação. UNESP-Bauru, 6 a 9 de junho de 2006

mecanismos de explicação que são atualizados no movimento destes próprios processos


históricos e nos quais se passa o desenvolvimento das técnicas, dos processos e das práticas
de comunicação. Nestes termos, a sociedade na qual se engendra e se desenvolve a
midiatização é constituída por uma nova natureza sócio-organizacional na medida em que
passamos de estágios de linearidades para aqueles de descontinuidades, onde noções de
comunicação, associadas a totalidades homogêneas, dão lugar às noções de fragmentos e às
noções de heterogeneidades. Por muito tempo o paradigma vigente das teorias
comunicacionais apostavam na idéia de que a convergência das tecnologias nos levaria a
estruturação de uma sociedade uniforme, como gostos e padrões, através de consumo
homogeneizado, em função de uma lógica de oferta da qual não resultaria ao consumo outra
possibilidade a não ser a ratificação desta lógica. Mas, o que vemos é a geração de fenômenos
distintos e que se caracterizam pelas disjunções entre estruturas de oferta e de apropriação de
sentidos. Este fenômeno foi alertado por alguns estudiosos: “a multiplicação, nas sociedades
humanas, de suportes tecnológicos autônomos de comunicação (autônomos em relação dos
atores individuais) que permitem a difusão das mesmas mensagens em toda a sociedade,
tornam a sociedade mais complexa do que era quando estes suportes não existiam, ou só de
maneira embrionária. Isto pode ser curioso. Pois, quanto mais midiatizada uma sociedade,
tanto mais ela se complexifica”. 3 Esta ênfase sobre o nicho produtivo e que repousa sobre
determinadas modalidades em que a técnica é posta em funcionamento, transformam o status
dos meios e do seu funcionamento. Passam operar por como “meios-pulsão” abandonando o
clássico lugar de “meio-representação”. A nova vida tecno-social é origem e meio de um
novo ambiente, no qual institui-se um novo tipo de real que está diretamente associado a
novos mecanismos de produção de sentido, nos quais nada escaparia às suas operações de
inteligibilidade. Até mesmo porque, segundo suas pretensões, nada existiria fora, portanto,
dessa nova conformidade, como possibilidade geradora de sentidos.
Estes mecanismos produzem e fazem funcionar uma nova forma de sociedade, cujas
finalidades são producionais, porém diretamente vinculadas às lógicas dos fluxos e das
operações, e tendo como fim a produção de uma nova forma de vínculo social, no caso as
estruturas de conexões.
Trata-se de uma nova forma de ambiente – da informação e da comunicação – que
mediante tecnologia, dispositivos e linguagens trata de produzir um outro conceito de

3
VERÓN, Eliseo. Conversacion sobre el futuro de la comunicación. 2002. (www.ubanet.com.ar)

3
15º Encontro Anual da COMPÓS - Associação Nacional dos Programas de
Pós-Graduação em Comunicação. UNESP-Bauru, 6 a 9 de junho de 2006

comunicação, calcado na passagem da causação à aditividade. Sociedade que tem sua


estrutura e dinâmica calcada na compressão espacial e temporal, que não só institue, como
faz funcionar um novo tipo de real, e cuja base das interações sociais não mais se tecem e se
estabelecem através de laços sociais, mas de ligações sócio-técnicas. Nestas circunstâncias, a
sociabilidade dá lugar a informacionalidade 4
O que seria este novo ambiente, a transformação da sociedade do “ato social” nas
“operações de contato”. Estamos diante de numa nova forma de organização e produção
social, onde o capital já não estaria mais apenas a serviço das estruturas, mas dos fluxos e da
informação. Marx atualiza-se, ou dele atualiza-se a noção de circulação, pois vivemos tempos
em que a ênfase da lógica produtiva do capitalismo desloca-se do território das estruturas
para aqueles dos dispositivos de circulação. E, neste caso, a circulação de imaterialidades, ou
seja, suas operações de produção de sentido que se constituem num imenso mistério e desafio
aos estudos modernos de comunicação.
É na esfera da circulação, e das condições em que a mesma se realiza, que as
realidades são afetadas por suas lógicas, produzindo-se a emergência de novas formas de
interação até então não previstas por aqueles estudiosos clássicos que pensaram a sociedade e
seus fenômenos coletivos. Ocorrem mudanças nos modos através dos quais o capitalismo
organiza a vida social - suas estruturas e o modo de agir dos seus atores, dando origem às
novas formas de mediação/intermediação. Assim, ao invés do ato social, a rede. Do vínculo,
ao fluxo. Do contrato social, à terceirização generalizada. Referências fundacionais são
mandadas para os ares, conseqüências da lógica reinante da sociedade segundo a qual
“vivemos no ar”, a tal da modernização líquida aludida por Bauman. Também se manifestam
mudanças nos ritos das instituições, como por exemplo, o declínio das religiões instituídas
nas grandes racionalidades, em favorecimento de uma emergente religiosidade flutuante,
organizada em torno de novos ecletismo e sincretismo 5 . Mudam as relações pessoais e
familiares. Terceiriza-se a função do autor, o próprio inconsciente, uma vez que “gens e
memória” são também submetidos a softs e hards. E também à própria reflexividade, hoje
transferida aos modernos narradores, os dispositivos midiáticos. Os processos de produção de
significação dão lugar a novos métodos de operações de sentidos, em função de lógicas de

4
Estas questões são largamente conceituadas por Scott Lasch, no livro Crítica de la información, ao qual este
texto é largamente devedor. Ver a edição em língua espanhola, editada por Amorrortu, Buenos Aires, 2005.
5
CHAMPION, Françoise. Religiosidade Flutuante: ecletismos e sincretimos. In: As grandes religiões do
mundo. 3ED. (org) Jean Danielou. Lisboa: Presença, 2002. p.705/733.

4
15º Encontro Anual da COMPÓS - Associação Nacional dos Programas de
Pós-Graduação em Comunicação. UNESP-Bauru, 6 a 9 de junho de 2006

sentido pelas quais palavras abandonam suas pertenças a sistemas culturais de significação e
ingressam nas lógicas de fluxos. Do ato significativo, ao accting out, ou ao ato indicial que
beira o acting out. As lutas já não têm como meta velhas teleologias morais, éticas,
confessionais e políticas. São travadas visando o acesso à operacionalidade do código e não o
exercício/aprendizado das gramáticas significacionais instituídas pelas racionalidades das
instituições que definiam os esquemas e modelos de pertença. A subjetividade não se realiza
mais pelos “pensamentos discretos”, mas segundo economias enunciativas ditadas pela lógica
dos fluxos. O ator social – o narrador – já não seria mais um intérprete, mas um operador de
indicialidades, de conexões. Não se trataria de uma lógica irracional, mas de uma
racionalidade segundo a qual não poderíamos dela estar fora, na medida em que as lógicas de
sentidos aí operadas tratam de dar sentido mesmo naquilo que seria impossível de ser
nomeado, como o real (aquilo que na psicanálise é apontado como o que sobra).

2. A midiatização entre conceitos e mecanismos de funcionamento


Faremos, então, apresentação,de modo econômico, de um marco geral pelo qual se
buscaria entender alguns conceitos sobre midiatização. Sabe-se que a midiatização pode ser,
tanto uma categoria explicativa do tipo de sociedade em que vivemos, mas também
fenômeno que apresenta no interior questões que remetem a sua complexidade, bem como
determinados mecanismos do seu próprio funcionamento. Trato, portanto, na parte que segue,
destas duas questões - à luz das construções feitas até aqui por alguns autores. Talvez, possa
traduzir em respostas à formulação contida no título deste texto.
Recorro a um certo mapeamento de referência, com certeza incompleto, mas sobre o
qual tenho convicção da sua importância como primeiras leituras sobre o conceito em
discussão, no contexto mais recente dos estudos dos processos midiáticos. Isso não quer dizer
que o conceito chegue a nós devidamente claro, com nomeação formalizada. Pelo contrário,
em alguns casos envolvem problemáticas que os extrapola. Noutros, recebe contaminações de
outras leituras. Havendo, ainda, outros tantos que apresentam formulações mais específicas,
traduzindo um painel que nos desafia a desenvolver novas formulações.

5
15º Encontro Anual da COMPÓS - Associação Nacional dos Programas de
Pós-Graduação em Comunicação. UNESP-Bauru, 6 a 9 de junho de 2006

- A ênfase nos meios, a partir dos campos


Desta perspectiva, nos parece que uma das primeiras formulações recebe os ecos de
uma “sociologia fenomenológica” formulada por Rodrigues quando destaca a existência
“cada vez mais de complexos dispositivos técnicos de mediação que ajustam nossa percepção
ao mundo e às suas capacidades de simulações” (Rodrigues, 2000: 169). Enfatiza, num
primeiro momento, os meios em si, bem como destaca sua “funcionalidade”, mas deixando
claro que nesta seara de instrumentalidade não ficará, na medida em que “minha proposta tem
sido a de caracterizar o nosso tempo como a época da autonomização do campo dos media”
(Ibidem: 171). Ou seja, nela já se visualiza um novo status atribuído não só a tais
dispositivos, mas a uma nova realidade, que calcada na autonomização de sua competência,
trata de formular novas possibilidades engendradoras de quadros de sentidos. A esta nova
realidade, chama, de modo geral, de campos sociais, e no caso do que nos interessa mais de
perto, o campo dos mídia, cuja feição de complexidade aparece no final do século passado.
Na nossa hipótese, a noção de midiatização aparece na obra de Rodrigues, “diluída” em
competências. Ou seja, quando nos diz que o campo dos medias não se limita apenas a
superintender à mediação de outros campos (Ibidem: 171) Quando ressalta o trabalho de
tematização dos meios, ao fazer emergir nas fronteiras de outros campos sociais temáticas
para “os quais nenhum dos campos detêm legitimidade indiscutível e nem consegue encontra
soluções consensuais e impô-las ao conjunto da sociedade (...). Também, quando ressalta o
papel de regulação dos media “indispensáveis às relações entre os diferentes campos sociais”
(Ibidem: 201). O que o torna também num aliado da pretensão mobilizadora dos outros
campos sociais” (Ibidem: 201). Por fim, chama atenção para sua competência específica,
referindo-se às suas funções discursivas. Mas, ao destacar a natureza de sua “simbólica
própria”, mostra dois problemas: primeiro, a ambigüidade sobre a autonomia atribuída à
noção de campo, permanecendo, a nosso ver preso à uma visão de campo de natureza
representacional: como disse, lembra Rodrigues, “o campo dos medias desempenha funções
predominante simbólicas: assegura ao mesmo tempo, o funcionamento dos dispositivos de
representações e reflete, como num espelho (grifo nosso), os diferentes domínios da
experiência” (Ibidem: 207). E, em segundo lugar, o que seria um desdobramento desta
perspectiva representacional, quando de alguma forma, situa o trabalho do campo num lugar
de mediação. Ou seja, “o papel mais importante do campo dos medias será provavelmente a
sua capacidade de tematização pública e de publicização do confronto entre os discursos

6
15º Encontro Anual da COMPÓS - Associação Nacional dos Programas de
Pós-Graduação em Comunicação. UNESP-Bauru, 6 a 9 de junho de 2006

especializados em torno das questões suscitadas por esses domínios”.(Ibidem: 210). Embora
reconheça a autonomia do campo dos mídias em agir por conta própria, na tematização e
publicização, entende, porém, que os mesmos se instalam ainda numa posição
representacional, na medida em que fazem veicular algo, cujo controle de enunciação estaria
ainda fora do seu âmbito: os outros campos sociais.
Apesar da importância das formulações de Rodrigues, quando sinalizam os primeiros
cenários sobre o fenômeno da midiatização, pode-se dizer que, historicamente, suas reflexões
colhem questões típicas ainda de uma sociedade midiática, na qual os meios são atores
importantes, não pela autonomia que gozam para construir, mas pelo fato se colocarem ainda
como um poder mediador e representacional. Deste ponto de vista, temos um conceito que
instala os meios num lugar ainda de instrumentalidades, ou seja, meios a serviço de um fim.
Tal inserção é assim comentada por Verón: “esta ideologia representacional acompanha a
localização do que chamaria a sociedade industrial mediática, e provê assim esta última de
um princípio de inteligibilidade que lhe permite “compreender” aquilo que está por chegar
uma sociedade midiática é uma sociedade onde os meios se instalam: considera-se que esses
representam suas mil facetas, constituem assim uma classe de espelho (mais ou menos
deformante, pouco importa), donde a sociedade industrial reflete e pela qual ela se
comunica. O essencial deste imaginário é que marca uma fronteira entre uma ordem que é o
“real” da sociedade (...) e outro que é da ordem da representação, da re-produção e que
progressivamente os médios tomou ao seu cargo.” (Verón, 2001: 14).

- centralidade a meio caminho


Os caminhos de transição entre a percepção dos meios como suportes de veiculação
da vida dos campos sociais e a relevância, posterior, que toma o conceito de mediação,
parecem serem construídos em contextos próximos aos nossos estudos, por Barbero com a
emergência do conceito explicativo de Mediação. Neste, conforme sugere o próprio título da
obra 6 o autor desloca a ênfase dos meios, especialmente desta sua capacidade
transposicional, mas situa a problemática da comunicação numa esfera mais complexa e que
é caracterizada pelas fortes interações entre os meios e outras formas de comunicação e de
produção de sentidos produzidos por outros campos/atores sociais. Ou seja, os meios nem
seriam veiculadores e nem gestores isolados de operações de sentidos, mas pelo contrário

6
BARBERO, J.M. De los médios a las mediaciones. Barcelona: Galli, 1985.

7
15º Encontro Anual da COMPÓS - Associação Nacional dos Programas de
Pós-Graduação em Comunicação. UNESP-Bauru, 6 a 9 de junho de 2006

estariam fortemente em interação com outras dinâmicas sócio-culturais, do que resultariam,


assim, os sentidos emergentes numa realidade social. Barbero estava situado numa paisagem
típica de sociedade industrial, e principalmente diante de um cenário “dual” de realidade - a
da América Latina - caracterizada pela presença dos modernos meios e de outras práticas
culturais calcadas na tradição de nossas sociedades. Mas, na literatura da área, já aponta-se
uma outra transição a das sociedades (cultura) midiáticas para a sociedade (culturas) da
midiatização, com ênfase especialmente a transformação dos papéis dos meios - de suportes a
atores. Assim, passam os meios a ocupar, contudo, “uma centralidade na vida cotidiana,
como fonte de informação e de entretenimento, como fonte de construções de imaginários” 7
algo que significa a passagem de um canário para outro.

- a midiatização a nu
Tais circunstâncias já vão apontando para uma nova forma de ver o fenômenos dos
mídias, que deixam de ser explicados por teorias e/ou clássicas categorias dos anos 40 e seus
desdobramentos, e passam a ter na própria complexificação da cultura da mídia, e os
cenários sócio-tecnológicos da sociedade, suas novas dimensões explicativas. A
intensificação de tecnologias voltadas para processos de conexões e de fluxos vai
transformando o estatuto dos meios, fazendo com que deixem ser apenas em mediadores e se
convertam numa complexidade maior – de um ambiente com suas operações – e as suas
incidências sobre diferentes processos de interações e práticas, em decorrência da existência
da mídia, assim considerada como algo mais complexo do que sua vocação, classicamente
colocada, a de “transportadora de significados”. É definida como uma nova matriz que se
funda em novas racionalidades com as quais realiza estratégias de produção de sentidos. A
midiatização é explicada como um novo bios (o quarto), que produz de “fato a afetação das
formas de vida tradicionais por uma qualificação de natureza informacional – tecnologia
societal, (...) cuja inclinação no sentido de configurar discursivamente o funcionamento
social em função de vetores mercadológicos e tecnológicos é caracterizada por uma
prevalência da forma sobre conteúdos semânticos” (Sodré, 2002:23). Nestes termos, ela é
compreendida como um “modo de organização” que ultrapassa largamente as dimensões
produtivas atribuídas ao clássico processo comunicacional. Articula velhas formas de

7
MATA, Maria Cristina. De la cultura masiva a la cultura mediática. In: Revista Diálogos. Lima: Felafacs,
1999.

8
15º Encontro Anual da COMPÓS - Associação Nacional dos Programas de
Pós-Graduação em Comunicação. UNESP-Bauru, 6 a 9 de junho de 2006

interação com as formas virtuais de vida, o que faz com que a sociedade midiatizada seja
aquela na qual as tecnologias de comunicação se implantam vertical e horizontalmente nas
instituições, inserindo-se de maneiras específicas e segundo ainda múltiplas dinâmicas do
funcionamento social. A midiatização da sociedade seria combinatória de conhecimentos e
operações estruturadas nas formas de tecnologias de informação que criam novos ambientes e
nos quais se produzem novas formas de interações, que tem como referências lógicas e
processos discursivos voltados para a produção de mensagens. Mas, Gomes a compreende
como algo mais amplo do que uma nova ordem de “tecno-interação”, definindo-a como “um
novo modo de ser no mundo”(...) circunstancia que para ele faz com que “supere-se à
mediação como categoria para se pensar na televisão hoje. Estamos em uma nova ambiência
que, se bem tenha fundamento no processo desenvolvido até aqui, significa um salto
qualitativo, uma viagem fundamental no modo de ser e atuar 8 .” (Gomes, 2006: 2)
Porém, a midiatização vai mais além do ambiente e do seu próprio “modo de ser”, e se
constitui a partir de formas de formas e de operações sócio-técnicas, organizando-se e
funcionando com bases em dispositivos e operações constituídas de materialidades e de
imaterialidades. Seus processos de materialidades se passam em cenas
organizacionais/produtivas e em cenas discursivas. São em tais âmbitos que se realizam as
possibilidades pelas quais a midiatização pode afetar as características e funcionamentos de
outras praticas sócio-institucionais. Mas isso não significa uma ação de natureza linear,
determinística, pois a atividade da midiatização realiza-se de modo transversal, e ao mesmo
tempo relacional. A característica de transversalidade tem a ver com o fato de que de que
suas operações, além de afetar ao seu próprio campo, afetam também o campo das
instituições bem como aqueles dos seus usuários. Tais afetações são relacionais e geram,
conseqüentemente, retornos de processos de sentido das construções feitas pelos outros
campos, e que se instauram nos modos de funcionamento da midiatização. Isso significa dizer
que a midiatização produz mais do que homogeneidades, conforme depreendem as teorias
clássicas de comunicação, na medida em que pelo contrário, gera complexidades. No
contexto de dois pontos de vistas distintos, esta questão é assim comentada: Para Augé 9 , ao
refletir sobre a incidência das técnica de comunicação, nos processos de construção de

8
GOMES, Pedro Gilberto. A midiatização no processo social. p.2. Paper apresentado no seminário temático de
Midiatização. Rede Prosul. CNPq/UNISINOS. São Leopoldo, 2005.
9
AUGÉ, Marc. A guerra dos sonhos. Lisboa: Presença, 1989.

9
15º Encontro Anual da COMPÓS - Associação Nacional dos Programas de
Pós-Graduação em Comunicação. UNESP-Bauru, 6 a 9 de junho de 2006

sentido, indaga: o que acontece com o real quando as condições da simbolização se


transformam?” (Augé, 1998: 9) De uma outra perspectiva, Silva explicando a perda de
autonomia do sujeito para produzir sentidos, atribui o fato de que o sentido se constrói
socialmente em disputas 10 . (Silva, 2005: 46)
A nosso ver, uma aproximação do fenômeno da midiatização com questões
específicas da problemática dos meios, é retomada, de uma outra perspectiva por Eliseo
Verón ao descrevê-la como “como um fenômeno de mudança social” no qual as mídias,
entendidas como tecnologias inscritas na sociedade – são fatores cada vez mais importantes
na determinação das características destes câmbios (...) na medida em que se inserem, de
maneiras específicas nas múltiplas dinâmicas do funcionamento social. As mídias se
misturam com todos os aspectos significativos do funcionamento social, instituindo relações
que por natureza são complexas, e como lembra “não causais e não pouco lineares 11 ” (Verón,
op.cit 1998: 3). Esta referência à inserção das mídias nas dinâmicas e, principalmente, no
funcionamento das instituições sociais, remete a um outro conceito, o de afetação, no sentido
de que a midiatização por ser um fenômeno que transcende aos meios e as mediações, estaria
no interior de processualidades, e cujas dinâmicas tecno-discursivas seriam desferidas a partir
de suas próprias lógicas, operações “saberes” e estratégias na direção de outros campos
sociais. Aqui, recupera-se uma parte da reflexão de Rodrigues, ampliando-se o trabalho da
midiatização como algo que ultrapassa o campo das mídia, enquanto os instrumentos, e pensa
a questão de uma perspectiva de uma lógica mais complexa. Desta perspectiva, e de estudos
que pensam a forma dos discursos, enquanto dispositivos de construção desta nova rede e de
suas teias, é que procuramos entender o conceito mesmo da midiatização e de suas afetações.
Como vimos acima, se realizam e se estruturam em torno de dispositivos organizados nas
duas cenas acima apontadas, social e discursiva. Porém, o que nos interessa como hipótese, é
a instância das linguagens como formas pelas quais os processos de midiatização realizam,
dentre tantas coisas, as operações de inteligibilidade das realidades, para não esquecer
também a própria construção de realidades. Realizam assim operações de sentidos com vistas
à produção de outras operações de sentido, cujos mecanismos e agentes de produção não se
deteriam em suas fronteiras. Daí os efeitos de seu funcionamento discursivo. É nessa
perspectiva que devem ser levadas em conta as linguagens, que dotadas de materialidade

10
SILVA, Armando. Polvos de ciudad. Bogotá: La Balsa: 2005.

10
15º Encontro Anual da COMPÓS - Associação Nacional dos Programas de
Pós-Graduação em Comunicação. UNESP-Bauru, 6 a 9 de junho de 2006

específica, que é a forma da matéria significante, e subordinadas a processos de produção


inerentes à própria economia discursiva da midiatização - põem a midiatização em processo,
voltados para o seu funcionamento e operando aquele de outras práticas sociais. Para tanto,
inserimos um diagrama, desenvolvido por Eliseo Verón que nos ajuda a entender a
midiatização e suas processualidades. Nele vemos uma paisagem constituída por três campos
- o das instituições, o das mídias e dos atores sociais. Da perspectiva deste trabalho, se
tomarmos os meios, como um “lugar central”, observaremos que esses instituem relações e
são influenciados por relações também instituídas, tanto, de um lado, pelas diferentes
instituições, como, de outro lado, pelos atores sociais. Assim, se considerarmos o esquema
nele vemos quatro zonas de afetações ou, de produção de processos de midiatização: a
relação dos meios com as instituições (dupla flecha 1); a relação dos meios com os indivíduos
(dupla flecha 2); a relação das instituições com os indivíduos (dupla flecha 3) e a maneira
pela qual os meios afetam as relações entre as instituições e os indivíduos (dupla flecha 4).

O que nos sugere este diagrama 12 , é respondido por pesquisas que procuram chamar
atenção para as seguintes questões, dentre outras:
a) de maneira crescente, as operações de midiatização afetam largamente práticas
institucionais que se valem de suas lógicas e de suas operações para produzir as
possibilidades de suas novas formas de reconhecimento nos mercados discursivos. Exemplos,
próximos a nós, nos mostram, como os campos sociais – política, religião, educação, saúde,
etc – fazem de regras da midiatização insumos para construção de suas estratégias, seus

11
VERÓN, Eliseo. Semiosis de la mediatización. Seminário Internacional Median and Social Perceptions. Rio
de Janeiro, 1998.
12
Esquema publicado no artigo de Eliseo Verón, Esquema para el analisis de la mediatización. In: Revista
Diálogos de la Comunicación. Lima: Felafacs, 1997

11
15º Encontro Anual da COMPÓS - Associação Nacional dos Programas de
Pós-Graduação em Comunicação. UNESP-Bauru, 6 a 9 de junho de 2006

produtos, para não dizer suas próprias identidades. Trata-se dentre outras coisas, de fazer
atravessar formas de discursos inerentes aos campos sociais, àquelas por operações
midiáticas, em que a “comunicação - representação” dá lugar a “comunicação - presentação”
funcionando no interior de instituições não midiáticas, como é o caso da escola, dos partidos
políticos, das práticas religiosas, etc 13 . Vários registros empíricos estão muito próximos do
nosso universo, sinalizando que não se trata apenas de uma “tomada de empréstimo”, mas de
uma transformação de protocolos enunciativos inerentes aos campos sociais, naqueles outros
pertencentes à esfera de discursividade dos mídias. As práticas comunicacionais das
instituições também afetam as praticas dos próprios campos das mídias, quando as agendas
informativas são caucionadas por lógicas de agendas de outros campos sociais 14 . O que
significa a emergência de novas operações de sentidos sobre os cenários da produção
discursiva jornalística. Por exemplo, diz o ESP, em sua edição de 3/1/2006: “Agora os
entrevistados gravam entrevistas . Fontes insatisfeitas até republicam o conteúdo em sites.
Ou seja, segundo o registro, estes procedimentos de intervenção da fonte sobre o processo de
produção da notícia- e que é apontado como arma – está ajudando a mudar a maneira como
as notícias são apuradas e apresentadas. Isso traz implicações para o futuro do
jornalismo.”
b) Também as agendas midiáticas afetam o mundo dos indivíduos, os quais muitas vezes
estruturam seus esquemas identitários, tendo como referência laços identificatórios propostos
pela midiatização. As práticas midiáticas reformulam, segundo “contratos de leituras”, o
próprio conceito da audiência que deixa de ser visto como aglomerações “à distância”,
tornando-se universo co-gestor das próprias cenas discursivas midiáticas. Mas, no esquema
da dupla flecha, os usuários produzem também manifestações sobre o que recebem, e que
podem se constituir em “estratégias desviantes” em relação aos produtos originais, ou, ainda,
em “pontos de fugas”, não recuperados pelas lógicas da produção, talvez pela circulação. O
que significa também um cenário pouco estudado pelas pesquisas.
c) As relações entre instituições e usuários sociais passam a ser mediadas por protocolos que
se apóiam nas lógicas da midiatização, como assessorias especiais, o que enseja a presença
destes conhecimentos no coração mesmo do âmbito das organizações. Isso sugere também

13
Ver as pesquisas do autor: Ensinando à Televisão - estratégias de recepção da TV Escola. João Pessoa: Ed.
Universitária, 2001; Lula Presidente - Televisão e política na campanha eleitoral de 2002. São Paulo/São
Leopoldo: Hackers/Unisinos, 2002; A Igreja Doméstica. In: Cadernos IHU. São Leopoldo: Unisinos, 2004.
Ano 2, N.7.

12
15º Encontro Anual da COMPÓS - Associação Nacional dos Programas de
Pós-Graduação em Comunicação. UNESP-Bauru, 6 a 9 de junho de 2006

que esquemas de serviços de comunicação se estruturem da parte do mundo dos usuários,


como possibilidade de se constituir uma comunicação alternativa ao protocolo comunicativo
institucional.
d) Como quarto aspecto, os modos como o campo dos mídia afeta as relações entre usuários e
as instituições e vice-versa, circunstância em que opera como um regulador, ou ainda como
um lugar de interação. Neste caso, destacam-se como experiência micro, no âmbito do campo
dos mídia, o ombusdman, até aquelas circunstâncias em que os mídia operam como gestores
de processos sociais.
e) Finalmente, chamo atenção para fenômenos que têm transformado algumas manifestações
de produção da midiatização. Vistas não mais como este lugar de transportador de
significados, em que produziam referentes por sua ação sócio-discursiva, as mídias tratam de
elaborar a transformação no seu status de operadores de produção de sentidos. Já não se trata
de falar das realidades, construídas segundo suas estratégias de enunciação. Mas, no lugar
desta, mudar o referente, para dar ênfase a sua auto-referencialidade, ou seja, falar das
operações que apontam para a realidade da construção. Ou seja, os mídias abandonam a
clássica posição mediadora, que repousava sobre uma noção de interação de
complementaridade com a recepção, ofertando-lhes sentidos sobre um mundo externo, e
passam a produzir referencias sobre si próprio. Isso se faz por processos, pelos quais a mídia
se remete à mídia, em operações explícitas, mas também aquelas que se tornam difíceis de
serem localizadas. 15
Sobre esta questão, Luhman destaca a capacidade dos meios em auto operar o
processo de produção da realidade, comentando que “a realidade dos mass medias, sua
realidade real, consiste em sua própria operação: se imprime, se difunde, se lê, se captam
emissões” (Luhmann, 2002: 5 e ss) Ou seja, o que fazer dos meios já não será simplesmente
como seqüência de operações, mas como seqüência de observações 16 .
Na sua compreensão a sociedade não estaria ausente de sua problemática sistêmica-
teórica, como querem alguns dos seus críticos. Nos insinua de forma perspicaz, como se dão
os processos de afetação que a midiatização produz no tecido social: “Os meios de massa,
apesar de sua clausura de operações, não podem substrair-se da sociedade, ficando esta neles

14
CHARRON, Jean. Los meios y las fuentes in Comunicación y política. Barcelona: Gedisa, 1994.
15
NÖTH, Winfried. La autoreferencia em los médios. In: Semiótica dos mass medias. (org) Vera Pablo
Espinosa. México: Oceano, 2005.
16
LUHMANN, Niklas. La realidad de los mass medias. Madri: Anthropos, 2002.

13
15º Encontro Anual da COMPÓS - Associação Nacional dos Programas de
Pós-Graduação em Comunicação. UNESP-Bauru, 6 a 9 de junho de 2006

assegurada mediante o trabalho de operações com os temas. Os temas são o requisito


inesquecível da comunicação: representam a heteroreferência da comunicação. Os temas
organizam a memória da comunicação, agregam aportes em contextos complexos, de forma
que na comunicação habitual se faz reconhecível se um tema deve permanecer, prosseguir ou
mudar(...) (Luhmann 2002: 17) Segundo esta perspectiva, a midiatização funciona através de
operações designadas por acoplamentos, mecanismos que “trata de vincular os meios de
massas com outros campos da sociedade. O êxito social dos temas para as massas consiste no
fato de impor a aceitação dos temas (Luhman op.cit p. 19). O que importa não é mais um
“mundo externo” a ser apontado, mas o próprio processo e as operações realizadas pela
economia enunciativa midiática para gerar a realidade. Ou seja, a ênfase está na enunciação
que assim se formula como foco para poder saber, mostrar e dizer. Ou seja, a realidade da
construção. 17
São tais relações transversais e relacionais que tornam a midiatização, uma prática
social - prática de sentido e que tem nas suas operações de algumas possibilidades de suas
inteligibilidades. Neste sentido, recupera-se a noção de linguagem de uma perspectiva outra -
entendida como operação - diferente de uma perspectiva representacional, ou formulada no
âmbito de auxiliaridades. Privilegia-se a função generativa, na medida em que esta passa a ser

17
Como dissemos, este mecanismo de auto-referencialidade apresenta-se de várias formas: as mídias falando de
si próprias, uma enviando-as as outras (O jornal nacional que você nunca viu. VEJA, 1.12.2004; Na Argentina
destaque para edição de Noticias da semana, cuja capa reúne com matéria principal: Los periodistas mais
creibles sin censura. Buenos Aires, 26.11.2005). Enunciam a defesa dos seus modelos de apuração dos
acontecimentos, no lugar do que deve ser mostrado como acontecimento produzido (Jornalismo sem fronteiras,
carta do leitor. Veja, 5.11.2005; Carta do Editor - Um Trabalho de fôlego. Época, 12.11.2201). As motivações
de programas e emissões se fundam mais em “lógicas para-jornalísticas”, como estratégias comerciais; a
credibilidade dos acontecimentos aparece associada à protagonização de suas personagens produtoras, e não aos
valores-notícias, com o desdobramento de vidas privadas, e não a observância dos valores-notícias, espécie de
racionalidade sobre a qual repousaria a produção da noticiabilidade. A vida privada se desdobra na esfera
pública (William Bonner e Fátima Bernardes a mais bela história de amor. Caras, 9.6.2005) O ex-presidente
Menen vira convidado especial do programa de sua mulher, na tevê chilena, emissão apresentada por sua
própria mulher, gênero que é convertido num espaço privado, quando se tematiza a vida do casal, e fato que é
registrado pela mídia noticiosa, com destaque. (Menen e Cecília Bolocco, em uma entrevista picante para TV
chilena. El Clarin, 25.11.2005). Os jornalistas de “operários da notícia”, viram capa de revistas, convertidos em
star de um mundo que promove seu próprio modo de ser realidade; as molduras gráficas (capas e revistas) são
objetos do discurso acadêmico e de publicações científica. O candidato a mandato político abandona o contato,
na própria territorialidade do eleitor, para, através de outro território – o rádio – transmutar-se num oficiante
religioso e através desta “conversão” capturar o voto do fiel/eleitor... Publicações semanais informativas, têm
suas capas, convertidas em objetos de reflexões e matérias de revistas especializadas e/ou de estudos
acadêmicos. (Capa de revista transforma notícia em produto. Revista FAPESP, São Paulo, dez/2005).

14
15º Encontro Anual da COMPÓS - Associação Nacional dos Programas de
Pós-Graduação em Comunicação. UNESP-Bauru, 6 a 9 de junho de 2006

uma problemática central para se compreender as operações pelas quais a midiatização – é


um lugar e também um dispositivo que liga o social e a significação. 18
Ou seja, a linguagem deixa de ser conhecida como “uma necessidade ou uma função
totalmente extrínseca, em que não caberia estudar a exigência sobre seus mecanismos, para
ser reconhecida como parte de estruturação desta nova forma de vida 19 .” (Verón, 1971: 268)
Esta noção caminhava de mãos dadas com noção de técnica. Outrora concebida com a
linguagem enquanto instrumento a serviço da veiculação e da transparência. Mas a
midiatização fundada na perspectiva, de uma nova dimensão tecnológica, faz pensar a
questão de outras formas: “se a revolução tecnológica deixou de ser uma questão de meios,
para decididamente passar a ser uma questão de fins, é por que estamos ante a configuração
de um ecossistema comunicativo conformado não só por novas máquinas ou meios, senão por
novas linguagens, sensibilidades, saberes e escrituras, pela hegemonia da experiência
audiovisual sobre a tipográfica, e pela reintegração da imagem ao campo da produção do
conhecimento. O que estamos vivendo (...) é a reconfiguração das mediações que constituem
seus modos de interpelação dos sujeitos e a representação dos vínculos que dão coesão à
sociedade 20 . (Barbero, 2004: 36)
Voltando ao título, a midiatização enquanto prática social-prática do sentido,
ultrapassa o território específico dos meios enquanto limites explicativos, mas retoma os
meios no interior de uma nova complexidade, fenômeno engendrado pelo aparecimento de
tecnologias subordinadas a lógicas de ofertas e a processos de apropriação social. Nessa
perspectiva é que a midiatização articula essas duas dimensões-transversalidade e
relacionalidade. Pois tanto técnica quanto linguagem são dispositivos mais complexos agindo
e construindo a própria vida social, diferentemente da noção em que os meios são entendidos
como instrumentos a serviço de uma causa.
Já sabemos um pouco da midiatização diante dos seus modos de ser da produção e da
recepção de mensagens. Resta-nos enfrentar as paisagens da circulação.

18
VERÓN, Eliseo. Psicologia Social e Ideologia. In: Psicologia, loucura e sociedade. Buenos Aires: Siglo XXI,
1978.
19
VERÓN, Eliseo. Condiciones de produción, modelos generativos y manifestacion ideológica. In: El proceso
ideológico (org) E. Veron. Buenos Aires Timempo Editorial, 1971.
20
BARBERO, J. M. Razon técnica y razon politica – espacios/tiempos no pensados. In: revista Alaic. N1. São
Paulo, 2004.

15

Você também pode gostar