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RESUMO
A moda está presente em nosso dia a dia, representando significados, valores e propósitos ao
mundo. Nesse contexto, as roupas são bem mais do que somente tecidos ou mercadorias de vendas
e consumo. Este artigo busca, portanto, compreender o vestuário além dos conceitos básicos,
diferenciação simbólica, modismos ou tendências, além do que se chama de sistema de moda.
Visualizando a roupa como instrumento capaz de construir relações emocionais, simbólicas e
significados individuais. Os conceitos utilizados abordam questões sobre o consumo atual e os novos
anseios sociais, bem como a função simbólica das roupas e as relações emocionais que envolvem o
sentir da moda. Inicialmente, foi realizado um levantamento de informações por meio de pesquisa
bibliográfica sobre o assunto. Identificou-se, a necessidade de realizar uma pesquisa descritiva de
opinião mediante questionário e entrevistas não-estruturadas, bem como obter-se de novas visões e
caminhos para a moda, com análises das relações de consumo e percepção dos valores perdidos
(emocionais, pessoais e simbólicos). Como resultado concluiu-se que de fato os valores emocionais
existem na moda e precisam ser resgatados, visto que o consumo atual está se modificando e cada
vez mais busca-se a essência e o sentimento de “ser”. Ao relacionar as respostas obtidas com os
princípios fundamentais da experiência amorosa pode-se perceber de que maneira ocorrem as
ligações objeto-emoção e como se tornam significativas, gerando uma reflexão sobre o momento
atual que a moda se encontra, assim como a possibilidade de agregar moda, propósitos, design
emocional e consumo consciente, ressignificando sonhos, memórias e roupas.
ABSTRACT
The fashion is present in everyday life, representing meanings, values and purposes for the world, in
this context, clothing is much more than just fabrics or mere commodities of sales and consumption.
The construction of the article therefore comprehend the clothing beyond basic concepts, symbolic
differentiation, beyond the fads or trends, besides the so-called fashion system. View the clothes how
instrument of the construct emotion relation, symbolic and individual meanings. The concepts used
address the issues of current consumption and new social desires, as well as the symbolic function of
clothing and emotional relationships that encompass the senses of fashion. Through the research and
the means of bibliographic research on the subject, it was necessary to conduct a research and a
descriptive opinion and opinion through the questionnaire and unstructured interviews, besides
obtaining new visions and directions for the fashion, with analyzes of consumer relations and
perception of lost values: emotional, personal and symbolic. As a result, it was concluded that, in fact,
emotional values exist and need to be rescued, considering that today's consumption is in the process
of modification, it is because we are looking for experiences and feelings of "being". By relating the
answers obtained with the fundamental principles of the love experience, one can see in what way the
object-emotion connections occur and how they become meaningful, generating a reflection on the
moment current in which lies the fashion and the possibility of agregate fashion, purposes, emotional
design and conscious consumption, resignifying the dreams, memories and clothes.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................5
3 O SISTEMA DA MODA
4 METODOLOGIA E DADOS.......................................................................13
5 MODA E RESSIGNIFICAÇÃO
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................26
7 REFERÊNCIAS..........................................................................................29
8 APÊNDICES..............................................................................................32
5
1 INTRODUÇÃO
Para isso serão abordadas por meio de revisão bibliográfica as mais recentes
interpretações sobre moda, consumo e sociedade, além da constituição de uma
análise sobre a função simbólica das roupas, seus aspectos emocionais e valores
sociais. Uma pesquisa descritiva de opinião será também realizada para verificar
tendências e comportamentos sociais, em questionários qualitativos e quantitativos
para amostragem. Essas análises irão gerar subsídios para a construção de uma
coleção cápsula, que consiste em uma mini coleção para temas especiais. Sendo
construída em uma nova forma de apresentar a moda à sociedade, em suas
individualidades.
3 O SISTEMA DA MODA
3.1 O sistema da moda e os reflexos do consumo
Stevenson (2012, p. 46) cita que no final do século XIX “a alta-costura era o
ápice do sistema de moda sustentada por um pequeno número de clientes
internacionais”, porém com a transição para um novo século, deu-se início da
modernização do vestuário, a alta sociedade ditava a decadência, prevalecendo o
consumo exagerado e sem moderações.
1
“Prêt-a-porter é o nome francês para “pronto para usar” – que em inglês é o ready-to-wear. Em
linhas gerais pode-se dizer que o ready-to-wear significa a produção em série e em tamanhos
predefinidos – o nosso bom e velho P-M-G” (PALOMINO, 2003, p. 27).
2
A era pós-moderna, portanto, seria o império do pluralismo e da fragmentação, características em
especial, a partir da década de 1960. Os modismos pré-modernistas foram rápidos, heterogêneos,
culturalmente não-específicos [...] (MACKENZIE, 2010, p. 122).
10
Araújo (2013, p. 37) enfatiza que as roupas vão além da mercadoria em si,
segundo ela, “se pensarmos em roupa apenas como um bem de primeira
necessidade, fruto do capitalismo, produto independente, restringiremos seu sentido
apenas a uma mercadoria meramente reprodutível”.
Mackenzie (2010, p. 128) diz que “a moda ficou tão pluralista e opera num
ritmo tão rápido que corre riscos do esgotamento e da mediocrização – numa época
em que vale tudo, já não seria mais possível radicalizar nos estilos”.
O sistema de moda vai precisar mudar por um simples fato: ele está se
destruindo. E desta vez não estou falando do meio ambiente, mas do
quanto a moda tem matado o desejo pela moda, acelerando demais,
banalizando suas coleções e seus produtos, com campanhas e ações sem
relevância a todo momento. O Volume e a rapidez talvez sejam as piores
drogas para o sistema da moda, que parece estar descontrolado, viciado,
incapaz de responder às suas próprias vontades (CARVALHAL, 2016, p.
54).
A história das roupas só existe porque por trás delas existem pessoas com
histórias. E essas histórias são de virar do avesso. Hoje, o que menos
importava era a roupa – tanto que era a mesma modelagem para todos os
vestidos. Mas a história particular de cada uma delas dá dignidade e
imprime cor, volume, textura e música que nenhum estilista consegue
imprimir em uma roupa. Porque essa impressão é pessoal de cada um
(FRAGA, in ELLE, 2016, texto digital).
O consumidor da nova era que está por vir, preza por novos anseios, pelo
cuidado com a natureza, pelo sentimento da moda com alma, com amor,
sentimentos perdidos, hoje a moda se torna muito além de conceitos básicos, é
preciso buscar seu sentido.
4 METODOLOGIA E DADOS
5 MODA E RESSIGNIFICAÇÃO
5.1 O Sentir da moda
São bem mais do que meros objetos ou bens materiais. Norman (2008)
explica que os objetos que possuímos são importantes em nossa vida, pois trazem
grandes significados não somente por exibir status ou diferenciar, mas por ser uma
expressão pessoal de cada um de nós, além disso, são recordações da nossa vida e
que proporcionam histórias, lembranças ou simplesmente uma ligação para com
aquele objeto em questão.
Por isso, é preciso compreender como ocorre essa nossa relação no Design e
por meio da roupa a ligação com nossas emoções, memórias e sonhos, e de que
maneira o lado emocional auxilia na busca pela essência individual perdida fazendo
repensar o sistema efêmero e sem sentido.
Benarush (2012 p. 116) diz que “as roupas mostram muito mais do que
somente formas, volumes, cores e texturas; nas roupas é possível também “ver” o
envolvimento emocional, corporal e sensorial das pessoas que as usaram”. A autora
ressalta ainda, que a mesma também possui identidades, sendo assim uma
representação de sua época, na qual materializa a cultura passada, da sociedade
que as criou e que as vestiu, resultando em memórias. “A partir da compreensão,
atribui-se memória à roupa. A memória tem uma função importante na criação e na
transformação de identidades” (BENARUSH, 2012, p. 116).
Ferreira (2015, p.160) trata os objetos que são carregados de memória como
objetos-documento, ele diz que as memórias são tão importantes quanto quem a
vivencia, pois, além de marcar época, fazem parte das experiências e participam dos
acontecimentos. “A memória excede o campo humano e assume os objetos como
parte complementar de sua existência [...]. Esses objetos se tornam objetos-
documento, pois retratam uma experiência, sendo importantes resquícios de
memória”.
Não se sabe dizer quanto tempo levará um objeto para se tornar especial,
tão pouco quando passará a ser animado. Do mesmo modo que a
personalidade é evolutiva e moldável, os objetos por nós vivificados também
podem evoluir na sua personalidade, não importa se estamos a falar da
personalidade intrínseca ou da personalidade de outrem impressa no
objeto, importa aqui refletir sobre a profundidade de sentimentos e histórias
por detrás das coisas. Se falarmos das roupas, por muito efémera que
esteja fadada sê-lo, a sua proximidade faz com que seja parte de nós, daí a
facilidade de ligá-la às pessoas, aos seus odores e às suas marcas que
permanecem em nós (ARAÚJO, 2013, p. 36).
Figura 1
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Figura 2
Figura 3
De acordo com Niemeyer (2008, p. 52), por meio das qualidades simbólicas o
ser humano carrega sua orientação frente ao mundo, “esta orientação é fundamental
para que ele se conheça, se reconheça, se sinta parte, enfim, integre-se”.
Niemeyer (2008, p. 53) diz ainda, que “além dos preceitos estéticos,
funcionais e ergonômicos, o designer deve estar concernente com as questões de
significação do produto”. Nesse sentido, os significados estão presentes também
nos produtos e marca, para Damazio et.al (2008, p. 67), “as marcas acabam
“marcando”, também, a vida das pessoas que com elas convivem e têm muito a nos
dizer sobre nós mesmos e nossa sociedade”.
Pode-se assim, verificar como demonstra a figura 4, que 73,3% das pessoas
declaram que procuram e dão preferência por marcas que possuem os mesmos
valores que os seus. Valores diversos, mas que demonstram a preocupação para
com o indivíduo que a usa.
Figura 4
21
Figura 5
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Figura 6
fluidez e toque sensorial. Conforme figura 6, 76% dos entrevistados gosta de vestir
algodão, popularmente conhecido pelo conforto e maciez no contato com a pele.
Sendo assim, a figura 7 revela que 84% dos entrevistados ainda possuem
guardadas peças especiais, porém não a usam. Os motivos de não uso são
refletidos na figura 8 que demonstra que 42% disseram que só não usam mais a
peça pois deixou de servir, visto assim, 20% concluíram que não possui ocasiões
para usá-la novamente, 15,3% por outros motivos, 11,3 % disseram que a peça saiu
de “moda” e os mesmos 11,3% se enquadram nas pessoas que tem receio em usar
novamente pois marcou um momento tão especial que corre o risco de estragá-la.
Conforme mostra o gráfico da figura 9, 78% responderam que possuem a vontade
de usá-las novamente através de uma ressignificação das peças.
Figura 7
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Figura 8
Figura 9
Araújo (2013) comenta que, as roupas e objetos que possuímos são fortes
meios de resgatar memórias, mesmo quando estiverem com marcas do tempo,
através de machas, puídos, tais peças são capazes de auxiliar nas nossas
lembranças e instantes marcando a existência de quem a possuiu. Andrade (2008,
p. 19) comenta, que a roupa faz parte do corpo e da alma, concede uma rede de
conexões com o indivíduo que a usa, indo além de tecidos ou sua forma e
modelagem, mas algo que em conjunto ultrapassa o material.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
5
Norman, Donald. Entrevista II [maio, 2017]. Entrevistador: Luana Roberta Sehn. Venâncio Aires,
2017. A entrevista na integra encontra-se transcrita no Apêndice B deste artigo.
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Conclui-se deste modo, que o presente trabalho foi de suma importância para
a reflexão sobre o atual momento que a moda se encontra e que por meio do sentir
a moda, as emoções que envolvem nossas relações de afeto, amor e significados
que as roupas concedem é possível retomar o valor de uma peça, reviver a moda,
resgatar os princípios, e acima de tudo ressignificar os sonhos, as emoções, os
sentidos. Através do ressignificar dá-se uma maior atenção ao consumo pessoal e
consciente, concedendo a experiência de tornar as peças que contêm nossas
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7 REFERÊNCIAS
CARVALHAL, André. A moda imita a vida: como construir uma marca de moda.
São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2015.
CARVALHAL, André. Moda com propósito: manifesto pela grande virada. São
Paulo: Paralela, 2016.
FERREIRA, Diêgo Jorge Lobato. Entre Moda, Memória e Museu. In: I Congresso
Internacional de Memória, Design e Moda/ Moda Documenta, 2014, São Paulo. I
Congresso Internacional de Memória, Design e Moda/ Moda Documenta, 2014, p.
38-44.
MACKENZIE, Mairi. Ismos: para entender a moda. São Paulo: Globo, 2011.
MALTA, Renata Barreto. A Sociedade dos Sonhos: Uma Nova Lógica que Rege os
Espetáculos Midiáticos: Renata Barreto Malta, Revista EcoPós v12, n.3 (2009)
8 APÊNDICES
Entrevistado: André Carvalhal: Existem vários formatos, desde pessoas que estão
trabalhando fazendo upcycling de peças, usando peças que já estão criadas, que já
estão disponíveis, para que não seja preciso extrair mais recursos, gastar mais
matéria prima, então essa é uma outra situação.
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Entrevistador: Luana Roberta Sehn - Como você acha que devemos trabalhar o
design emocional em produtos de moda? Quais são aspectos importantes a
considerar? Qual você acha que é o mais importante?
Nos momentos em que tudo é descartável, você acredita que o design emocional
pode ser "a chave" para um "novo olhar" na moda?