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aRTIGO Original

Burnout em Oncologia: um estudo com profissionais


de Enfermagem
Burnout in Oncology: a study of Nursing professionals
Stephanie Kitze1, Andrea Bezerra Rodrigues2

RESUMO INTRODUÇÃO
Objetivo: Verificar se auxiliares e técnicos de Enfermagem que trabalhavam Toda pessoa vivencia diversas formas de estresse duran-
em uma unidade Oncológica apresentavam burnout. Métodos: Foi te a vida e, normalmente, uma pessoa saudável está apta
realizada a coleta de dados com 21 técnicos e auxiliares de Enfermagem a adaptar-se a um estresse ou a enfrentá-lo até que ele
que trabalhavam há, no mínimo, um ano na unidade Oncológica de passe. Entretanto, o estresse pode exigir muito de uma
um hospital de grande porte do município de São Paulo. Para a coleta
pessoa e, caso ela não consiga adaptar-se à situação,
de dados, foi utilizado o inventário de burnout de Maslach e Jackson.
Resultados: Foi possível verificar que a população estudada apresentava
pode desenvolver dificuldade no raciocínio, incapaci-
burnout por meio da identificação dos escores de cada dimensão: dade de enfrentar o “estressor” e, até mesmo, doença
desgaste emocional, despersonalização e incompetência profissional. física ou psicológica(1).
Quanto à apresentação do burnout, esta pesquisa possibilitou mostrar O termo stress vem da palavra latina stringere, que
que 28,6% dos auxiliares e técnicos de Enfermagem apresentaram significa “restringir”. Claude Bernard, em 1867, foi um
alto nível na dimensão “desgaste emocional”, 28,6% dos auxiliares e dos primeiros fisiologistas a reconhecer as conseqüên-
técnicos apresentaram alto nível na dimensão “despersonalização” e cias potenciais do estresse no organismo. Potter define
19,1% dos auxiliares e técnicos apresentaram alto nível na dimensão stress como “qualquer tensão fisiológica ou psicológica
“incompetência profissional”. Conclusões: Quando comparados os que ameaça o equilíbrio total de uma pessoa”, podendo
resultados do presente estudo com outros realizados com enfermeiros, a
afetar a homeostasia e, conseqüentemente, levar o indi-
amostra apresentou mais alterações referentes ao burnout.
víduo a desenvolver sentimentos negativos ou contrapro-
Descritores: Esgotamento profissional; Estresse; Auxiliares de enfer- ducentes, ou mesmo ameaçar o bem-estar emocional e
magem; Enfermagem oncológica/recursos humanos psíquico, sua relação com terceiros, o modo como encara
a vida e sua atitude em relação aos entes queridos(1).
Qualquer fator que leve uma pessoa a vivenciar es-
ABSTRACT tresse é chamado “estressor”. Uma doença é um estres-
Objective: To verify if licensed practical nurses and Nursing technicians sor, mas muitas ocorrências também o são. Os estresso-
working at an Oncology department present burnout syndrome. res podem ser classificados como internos e externos. Os
Methods: Data of 21 licensed practical nurses and Nursing technicians primeiros são aqueles que se originam no interior de um
who had worked for, at least, one year at the Oncology department indivíduo, como uma febre, uma gravidez ou até mesmo
of a large hospital in the city of São Paulo, Brazil, were collected. The uma emoção – como a culpa. Já os externos são aqueles
burnout inventory developed by Maslach and Jackson was used. que se originam fora do indivíduo, como a mudança no
Results: The studied population presented burnout based on scores papel familiar ou social, a rejeição pelos colegas ou até
in each of its three dimensions. As to burnout symptoms, this study
mesmo a mudança brusca da temperatura ambiental(2).
showed that 28.6% of the sample presented high scores in “emotional
Em relação à fisiopatologia, diante da percepção de
exhaustion”; 28.6% had high scores in “depersonalization” and 19.1% in
lack of “personal accomplishment”. Conclusions: When compared to um agente estressor, o cérebro, por meio do hipotálamo,
other studies with nurses, this sample presented greater burnout. emite orientações à glândula hipófise para que libere os
hormônios responsáveis pela ativação do sistema simpáti-
Keywords: Burnout, professional; Stress; Nurses’ aides; Oncologic co – a adrenalina e a noradrenalina – ao mesmo tempo em
nursing/manpower   que inibe o sistema parassimpático. O hipotálamo segrega

Trabalho realizado no Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.
Enfermeira – São Paulo (SP), Brasil.
1

Doutora, Professora da Disciplina de Enfermagem em Oncologia da Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.
2

Autor correspondente: Stephanie Kitze – Rua Visconde de Taunay, 627 – apto. 131-B – Vila Cruzeiro – CEP 04726010 – São Paulo (SP), Brasil – Tel.: 11 5521-3968 – e-mail: tefikitze@hotmail.com
Data de submissão: 6/3/2007 – Data de aceite: 14/2/2008

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uma série de hormônios além do fator liberador de corti- O instrumento mais utilizado nas diversas pesquisas
cotropina (CRF), que é responsável pela ativação da hipó- sobre o burnout é o inventário de burnout idealizado por
fise. Esta, por sua vez, irá liberar a corticotropina (ACTH) Maslach e Jackson, que avalia as três dimensões da sín-
que, na circulação, irá desencadear a liberação dos glico- drome. Segundo Benevides-Pereira, o burnout reflete
corticóides pelas supra-renais. Esses três elementos – sis- “altos escores em desgaste emocional e despersonaliza-
tema simpático, corticotropina e glicocorticóides – são os ção e baixos escores em incompetência profissional”(10).
responsáveis pelo aumento de glicose no sangue, o que irá A maioria dos autores concorda que, apesar de
proporcionar a energia que o organismo necessita(3-4). qualquer pessoa poder vir a sofrer burnout, este incide
O processo de estresse também interfere na função principalmente nos que prestam assistência a pessoas
imunológica. Entre os principais efeitos imunossupresso- ou que são responsáveis pelo desenvolvimento de ou-
res dos glicocorticóides, há a ocorrência da alteração na tros, tais como médicos, enfermeiros, professores, assis-
função leucocitária, além da diminuição na produção de tentes sociais, psicólogos etc.(10).
citocinas e dos mediadores do processo inflamatório(3,5-6). Para Menzies, “o serviço de enfermagem sofre impac-
Frente a um evento estressor, o indivíduo faz uma to total, imediato e concentrado do estresse que advém
avaliação cognitiva do mesmo. Esse esforço cognitivo e do cuidado dos doentes”, sendo que o contato constante
comportamental que é realizado para dominar, tolerar com pessoas doentes ou acometidas fisicamente, a incer-
ou reduzir as demandas externas e internas foi denomi- teza no restabelecimento do paciente, o cuidar do pa-
nado por Lazarus e Folkman de coping(7). ciente portador de doenças incuráveis, o confronto com
Em 1981, Maslach e Jackson descreveram que, a realidade do sofrimento e da morte bem como a execu-
quando o mecanismo de coping não é efetivo, a pessoa ção de tarefas repulsivas e desgastantes são situações ge-
pode entrar na síndrome de burnout, definida como radoras de estresse para a equipe de Enfermagem(11-12).
“uma síndrome tridimensional, que decorre da resposta Em uma unidade Oncológica, onde todos esses fato-
inadequada do indivíduo a um estresse emocional crô- res estão presentes, o índice de burnout tende a ser ainda
nico, decorrente do ambiente do trabalho”(8). maior. Alguns estudos, como o de Ferreira, discutem a
O psicanalista Freudenberg é o autor mais antigo relação do burnout com a profissão de Enfermagem, es-
da concepção clínica do burnout. Ele não vê a síndrome pecialmente a Enfermagem Oncológica, área em que se
como um processo, mas como um estado decorrente da lida muito com o sofrimento alheio e com a morte(11).
atividade laboral e associado às características indivi- Hoje em dia, apesar de todo o progresso no trata-
duais*. Hoje em dia, essa conotação individualista foi mento do câncer, este ainda é considerado uma doença
abandonada e a dimensão social, incluída. grave e que gera muito sofrimento, em razão de fatores
Em relação à concepção sociopsicológica, as psi- tais como os tratamentos utilizados, que são agressivos
cólogas Christina Maslach e Susan Jackson evidencia- para o doente, as múltiplas internações e o afastamento
ram as variáveis socioambientais como coadjuvantes do do convívio social e familiar.
processo de desenvolvimento do burnout. Elas também Na pesquisa de Popim e Boemer sobre o significado
chegaram aos três principais fatores multidimensionais do cuidado em Oncologia para enfermeiros oncológicos,
da síndrome: o desgaste emocional, a despersonaliza- foi identificado que, embora haja a necessidade de um
ção e a incompetência profissional(9-10). conhecimento técnico-científico muito especializado em
O “desgaste emocional” refere-se à sensação de es- Oncologia, somam-se outros fatores como desencadean-
gotamento (tanto físico quanto mental), ao sentimento tes de sofrimento psíquico, como a habilidade no relacio-
de não dispor mais de energia para absolutamente nada, namento interpessoal e os preceitos éticos(13).
de haver chegado ao limite das possibilidades(9-10). A Inúmeros mecanismos de defesa foram sendo incor-
“despersonalização” refere-se à reação negativa, insen- porados à organização do trabalho da equipe de En-
sível ou excessivamente desligada dos diversos aspectos fermagem ao longo da história, tendo como principal
do trabalho. À medida que a despersonalização vai se de- finalidade justamente o controle das emoções, visando
senvolvendo, as pessoas deixam de tentar fazer o melhor, diminuir a ansiedade e viabilizar a assistência. Mas es-
passando a fazer o mínimo necessário, de modo que a ses, embora eficientes, muitas vezes falham – principal-
qualidade do seu desempenho também cai(9-10). Por fim, a mente diante de situações em que lidar com doenças es-
“incompetência profissional” evidencia o sentimento de tigmatizantes, mutiladoras e incuráveis, como o câncer,
insatisfação com as atividades laborais que vem realizan- faz parte do cotidiano de trabalho(11).
do, sentimento de insuficiência, baixa auto-estima, fra- No entanto, são incipientes os estudos que analisam
casso profissional e desmotivação, revelando ineficiência o estresse laboral junto à equipe de Enfermagem, que é
no trabalho. Por vezes, o profissional chega a apresentar composta por enfermeiros, auxiliares e técnicos de En-
o ímpeto de abandonar o emprego(9-10). fermagem, como um todo.

* Freudenberg HJ. Staff burn-out. J Social Issues. 1974; 30():159-65.

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OBJETIVO eficácia do enfermeiro, na realização do trabalho. A di-


O objetivo dessa pesquisa foi identificar se auxiliares e mensão “desgaste emocional” consiste de nove questões,
técnicos de Enfermagem que trabalham em uma uni- podendo pontuar de 0 a 36. A despersonalização é aces-
dade Oncológica apresentavam burnout bem como o sada por meio de cinco questões, podendo pontuar de
escore das dimensões deste.  0 a 20; e a incompetência profissional é mensurada por
oito questões, podendo pontuar de 0 a 32. A dimensão
“incompetência profissional” possui escore reverso.
MÉTODOS
Este estudo possui caráter descritivo-exploratório e uti-
Operacionalização da coleta de dados
lizou os recursos da abordagem quantitativa.
Previamente à coleta de dados, foi feita uma solicitação
formal de autorização para a coleta ao gestor da área
Campo de estudo oncológica do hospital onde o trabalho foi realizado. A
A pesquisa foi realizada em duas unidades de interna- coleta de dados foi feita pela pesquisadora no segun-
ção que atendem pacientes oncológicos clínicos e cirúr- do semestre de 2006, após a aprovação do Comitê de
gicos de um hospital privado, de grande porte, localiza- Ética em Pesquisa do hospital onde os dados foram co-
do no município de São Paulo. letados. Os entrevistados receberam explicações sobre
os objetivos e a finalidade da pesquisa, garantindo-se o
anonimato e a liberdade de participação, momento em
População e amostra que foi solicitado o preenchimento do TCLE.
A amostra foi constituída por 21 técnicos e auxiliares de Foram entregues a cada auxiliar ou técnico de En-
Enfermagem que apresentaram os seguintes critérios fermagem, individualmente, o TCLE, o inventário de
de inclusão: exerciam atividade nas unidades de inter- dados sociodemográficos e o inventário de burnout, mo-
nação oncológicas há, no mínimo, um ano e concorda- mento em que foi feita a orientação sobre o preenchi-
ram em participar da pesquisa, preenchendo o formu- mento dos mesmos e agendada uma data para a devolu-
lário de consentimento livre e esclarecido (TCLE). O ção dos instrumentos.
primeiro critério citado foi estabelecido, pois o burnout
é conseqüência da relação profissional/ambiente de tra-
balho e, portanto, necessita de um tempo de exposição Análise estatística
para que se desenvolva. Os dados do inventário demográfico foram tabulados
manualmente. As informações coletadas referentes ao
inventário de burnout foram inseridas em um banco de
Instrumento para coleta de dados dados. Esse banco utilizou o programa Excel, versão
Foram utilizados dois instrumentos para a coleta de da- 2002, aplicativo do Office 10 da Microsoft Windows XP
dos. O primeiro instrumento foi um inventário de dados Home Edition 2002.
sociodemográficos elaborado pelas autoras. O segundo Posteriormente, foram identificados os escores de
foi o inventário de burnout (MBI), desenvolvido por cada dimensão de burnout para a população estudada.
Maslach e Jackson e validado no Brasil por Lautert em Como o burnout reflete alto nível nas suas dimen-
1997, para verificar os sentimentos pessoais e atitudes sões, foi necessário classificar os escores de cada di-
dos profissionais em seu trabalho, e frente aos pacientes mensão em nível baixo/moderado ou alto. Para isso,
e demais profissionais da equipe de Saúde(14). optou-se por utilizar o percentil 75, o mesmo utilizado
Esse instrumento contém 22 questões em forma no estudo de validação do MBI no Brasil por Lautert(14).
afirmativa, sobre os sentimentos pessoais e atitudes do Ressalta-se que, para a dimensão “incompetência pro-
profissional em relação ao seu trabalho e mensuram os fissional”, foi utilizado o percentil 25, já que esta possui
três estágios de burnout. Todas as questões são pontu- escore reverso. 
adas pela escala de Likert, variando de 0 (nunca) a 4
(todo dia), na qual o maior número se aproxima de um
maior nível de burnout. RESULTADOS
A dimensão “desgaste emocional” avalia os sentimen- A população foi, em sua maioria, composta por mulhe-
tos do sujeito em relação ao estado de exaustão emocio- res (62%) na faixa etária compreendida entre 31 a 40
nal ocasionado pelo trabalho; a dimensão “despersona- anos de idade (57%) e não ter optado por trabalhar em
lização” descreve itens que supõem uma resposta fria e Oncologia (52%). Quanto ao estado civil, houve igual
impessoal do indivíduo ante os pacientes; e a dimensão freqüência de profissionais casados e solteiros (33%
“incompetência” avalia os sentimentos de competência e cada) e 44% não tinham companheiro fixo. O tempo de

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atuação na profissão variou de 18 a 300 meses (1,5 a 25 Tabela 3. Escores dos auxiliares e técnicos de Enfermagem em
despersonalização
anos), com média de 126 meses (10,5 anos) e que o tem-
po de atuação em Oncologia variou de 18 a 180 meses Escores n % % acumulada
0 2 9,5 9,5
(1,5 a 15 anos), com média de 75 meses (6,25 anos).
1 6 28,6 38,1
Na Tabela 1, pode-se visualizar que os auxiliares
2 5 23,7 61,8
e técnicos de Enfermagem apresentaram as seguintes
3 0 0 61,8
médias de escores para as dimensões de burnout: di- 4 3 14,2 76,0
mensão “desgaste emocional” (9,9); dimensão “desper- 5 1 4,8 80,8
sonalização” (3,2); e dimensão “incompetência profis- 6 1 4,8 85,6
sional” (28,4). 7 1 4,8 90,4
Tabela 1. Estatística descritiva das questões e dimensões do inventário de 8 0 0 90,4
burnout 9 0 0 90,4
Dimensões do burnout n Mínimo Máximo Média Desvio padrão 10 1 4,8 95,2
Desgaste emocional 21 2 21 9,9 5,9 11 1 4,8 100,0
Despersonalização 21 0 11 3,2 3,1 Total 21 100,0 100,0
Incompetência 21 23 32 28,4 2,2
profissional 4 em despersonalização. O escore 4 foi utilizado como
nota de corte para a dimensão “despersonalização” no
Os dados da Tabela 2 mostram que 76,2% dos auxi-
presente estudo. Com base nesta nota de corte, tem-se
liares e técnicos de Enfermagem tiveram escore até 14.
que os auxiliares e técnicos de Enfermagem com esco-
Como esse percentual foi o que mais se aproximou do
res de 5 a 11 apresentaram alto nível de despersonaliza-
percentil 75 utilizado pela autora que validou o instru-
ção (24%), e os com escores entre 0 e 4 apresentaram
mento MBI no Brasil(14), o escore 14 foi utilizado como
nível baixo/moderado nesta dimensão (76,2%).
nota de corte para a dimensão “desgaste emocional” no
Os dados da Tabela 4 mostram que 19,1% dos au-
presente estudo. Com base nessa nota de corte, observa-
xiliares e técnicos de Enfermagem tiveram escore até
se que os auxiliares e técnicos de Enfermagem com esco-
26. O escore 26 foi utilizado como nota de corte para
res de 15 a 21 apresentaram alto nível de desgaste emo-
a dimensão “incompetência profissional” no presente
cional (23,9%), e os com escores entre 2 e 14 apresenta-
estudo. Como esse percentual foi o que mais se aproxi-
ram nível baixo/moderado nesta dimensão (76,2%).
mou do percentil 25 utilizado pela autora que validou o
Tabela 2. Escores dos auxiliares e técnicos de Enfermagem em desgaste instrumento MBI no Brasil(14), o escore 26 foi utilizado
emocional
como nota de corte para a dimensão “incompetência
Escores n % % acumulada profissional” no presente estudo.
2 2 9,5 9,5
3 0 0 9,5 Tabela 4. Escores dos enfermeiros em incompetência profissional
4 2 9,5 19,0 Escores n % % acumulada
5 1 4,8 23,8 23 1 4,8 4,8
6 2 9,5 33,3 24 0 0 0
7 3 14,2 47,5 25 0 0 0
8 1 4,8 52,3 26 3 14,3 19,1
9 0 0 52,3 27 3 14,3 33,4
10 2 9,5 61,8 28 4 19,0 52,4
11 1 4,8 66,6 29 3 14,3 66,7
12 0 0 66,6 30 3 14,3 81,0
13 2 9,5 76,1 31 2 9,5 90,5
14 0 0 76,1 32 2 9,5 100,0
15 1 4,8 80,9 Total 21 100,0 100,0
16 1 4,8 85,7
17 0 0 85,7
Com base nessa nota de corte, os auxiliares e técni-
18 0 0 85,7
cos de Enfermagem com escores de 27 a 32 apresenta-
19 1 4,8 90,5
20 0 0 90,5
ram baixo/moderado nível de incompetência profissio-
21 2 9,5 100,0
nal (81%) e os com escores entre 23 a 26 apresentaram
Total 21 100,0 100,0 alto nível nessa dimensão (19%).
Com base nos dados das Tabelas 2, 3 e 4, pode-se afir-
Os dados da Tabela 3 mostram que 76,2% dos au- mar que 28,6% dos auxiliares e técnicos de Enfermagem
xiliares e técnicos de Enfermagem tiveram escore até apresentaram alto nível de desgaste emocional, 28,6%

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apresentaram alto nível de despersonalização e 19,1% dias que  identificaram um grupo de profissionais com
possuíam alto nível de incompetência profissional. um certo tempo de vivência profissional, que, segundo
alguns estudiosos sobre o burnout, é um fator predispo-
nente à síndrome, uma vez que o profissional pode en-
DISCUSSÃO trar em um período de sensibilização, tornando-se mais
Os resultados encontrados neste estudo são bastante se- vulnerável. Essa sensibilização é devida ao fato de que,
melhantes aos encontrados na pesquisa de Lautert com após esse tempo de exercício profissional, já houve a
enfermeiros brasileiros, exceto para a dimensão “des- transição das expectativas idealistas iniciais da profissão
gaste emocional”, cujo o escore médio neste estudo foi para a prática cotidiana, visualizando-se que as recom-
menor. No estudo de Lautert, foi verificado um escore pensas pessoais, profissionais e econômicas não são as
de 13,0 para desgaste emocional; 4,00 para despersona- mesmas daquelas esperadas(20-21).
lização e 25 para incompetência profissional(14). É relatado na literatura que possuir companhei-
Um estudo realizado com enfermeiros das especia- ro fixo representa um fator protetor contra o burnout.
lidades Clínica Geral, Oncologia, Terapia Intensiva e Neste estudo, houve predominância dos indivíduos sem
Infectologia utilizando o MBI verificou que os escores companheiro fixo, o que pode ter conduzido alguns pro-
de burnout encontrados no grupo de enfermeiros situ- fissionais da presente pesquisa ao burnout(19,22).
aram-se abaixo do ponto de corte em todas as dimen- No que diz respeito à opção por determinada espe-
sões, exceto para os enfermeiros de Clínica Geral que cialidade, Bianchi, adotando o modelo interacionista,
apresentaram alto nível na dimensão “incompetência explica que o fato de o profissional optar por determi-
profissional”. Os enfermeiros das outras especialidades, nada área representa um estímulo para sua atuação,
inclusive os enfermeiros oncologistas, apresentaram funcionando como um mecanismo de coping e prote-
baixo nível nas três dimensões(15). gendo contra o burnout (23), o que não ocorreu na pre-
Albaladejo et al. pesquisaram o burnout da equipe sente pesquisa.
de Enfermagem que atuava em setores de Emergência, É importante ressaltar que não foi identificado ne-
Oncologia, Cuidados Intensivos e Unidade de Interna- nhum estudo sobre o burnout em auxiliares ou técnicos
ção Clínica de um hospital em Madrid, Espanha. Para de Enfermagem atuantes em Oncologia, o que dificulta
isso, utilizaram o MBI na versão em espanhol. Os au- a comparação entre os resultados obtidos. A compara-
tores identificaram que 11,7% da população estudada ção foi feita, então, com enfermeiros da mesma espe-
apresentava alto nível de desgaste emocional, 9,2% alto cialidade.
nível de despersonalização e 16,9% alto nível de incom-
petência profissional(16).
Payne investigou o burnout de 82 enfermeiros atuan- CONCLUSÕES
tes em hospices, identificando que 16% da amostra de Quanto aos auxiliares e técnicos de Enfermagem,
profissionais apresentara alto nível em desgaste emo- esta pesquisa possibilitou concluir que 28,6% dos au-
cional, 10% em despersonalização e 31% em incompe- xiliares e técnicos apresentaram alto nível na dimensão
tência profissional(17). “desgaste emocional”; 28,6% dos auxiliares e técnicos
Comparando-se os resultados obtidos no presente apresentaram alto nível na dimensão “despersonaliza-
estudo com os dos estudos descritos, pôde-se verificar ção”; e 19,1% dos auxiliares e técnicos apresentaram
que maior porcentagem dos auxiliares e técnicos de alto nível na dimensão “incompetência profissional”.
Enfermagem apresentou alto nível nas dimensões do É importante que novos estudos sejam desenvolvi-
burnout. Assim, pode-se afirmar que uma parcela dessa dos no sentido de correlacionar variáveis predisponen-
população apresenta a síndrome. tes ao burnout, como sexo, idade, tempo de atuação na
Alguns fatores podem conduzir esses profissionais área, tipo de personalidade, entre outras, e também o
ao burnout, como o sexo, o tempo de atuação na pro- desenvolvimento de estudos longitudinais.
fissão e tempo de atuação na área, não possuir compa-
nheiro fixo e não ter optado por trabalhar na especia-
lidade. REFERÊNCIAS
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