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AULA 8
A RELAÇÃO ESTADO, SOCIEDADE
E ESCOLA 1
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a u l a
A relação Estado, sociedade
e escola 1
INTRODUÇÃO Na medida em que nos encaminhamos para vislumbrar mais uma paisagem
nesta nossa viagem, insistem em me vir à mente as palavras do sociólogo
Manuel Castells: “a sombra da crise estende-se pelo mundo”.
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A título de exercício, Pedro Demo levanta algumas esferas de poder cujo abuso determina a fabricação
de vítimas no sentido político:
a) Poder econômico. Um dos abusos palpáveis do poder econômico se dá nas fraudes de compras, em
que o consumidor é lesado na quantidade (fraude no peso, no tamanho, na consistência), na qualidade
(fraude na especificação do produto, diferença de conteúdo, efeitos colaterais), no preço, no contrato de
compra, na garantia e assim por diante.
b) Poder político. A burocratização do Estado é, por exemplo, forma típica de abuso de poder político,
pois favorece a clássica estruturação das vantagens: oligarquização do poder, concentração de privilégios,
imposição da impunidade, mordomias, corrupção em geral etc. As duas formas mais típicas do abuso do
poder político são o estado de privilégio, e o estado de impunidade ou de exceção. O estado de privilégio
caracteriza-se pela situação de concentração de vantagens, entendida como direito de exploração. Aos
desiguais, somente deveres; aos privilegiados, todos os direitos.
O estado de impunidade caracteriza-se pela capacidade de produzir a fraude sem ser molestado pela
vítima, porque a esta se nega o direito de reagir. É, certamente, a situação mais drástica de prepotência
política, porque é concebida e exercida de modo ilimitado. O poder impune necessariamente se corrompe,
pois a impunidade é a forma máxima de sua corrupção.
c) Poder da informação. Faz parte dos conteúdos mais legítimos da democracia a transparência da informação,
evitando processos administrativos vedados ao conhecimento do público. Foi por falta dessa transparência
que em épocas passadas o governo tomou decisões escondidas, elaboradas no âmbito de umas poucas
pessoas, que se criam capazes de representar a maioria sem a consultar. Quando menos se esperava, a
sociedade se viu diante de uma dívida externa incontrolável...
Ao mesmo tempo, a censura, o controle dos órgãos de comunicação ou seu monopólio, a indústria cultural,
a moral, a cívica atuavam como instrumentos de manipulação, através dos quais se pretendia “fazer a
cabeça” da maioria, em favor de vantagens para a minoria.
É fato marcante de nossa época que os sistemas de comunicação e informação são fonte relevante de
poder. Sua influência cotidiana já é avassaladora e tende a crescer indefinidamente.
d) Poder político. O saber especializado é também fonte de poder, sobretudo na versão tecnológica.
Além de fonte, o saber pode estar a serviço do poder. É o caso da tecnocracia, que tem como uma de
suas marcas colocar a serviço do poder o saber especializado de que dispõe. O abuso do poder aparece
de inúmeras formas, por vezes muito criativas: a construção de uma linguagem ininteligível ao público,
a título de superioridade; os planejamentos ineficientes e ineficazes, que servem à lógica dinâmica do
poder; a montagem de mandar inatos da pretensa inteligência; a tecnologia subserviente ao lucro, à
exploração, à destruição do meio ambiente e da qualidade de vida; as políticas sociais que fabricam
sobretudo formas de controle social e de desmobilização dos desiguais; o desconhecimento da sabedoria
popular. E Demo ainda enfatiza que: “sem qualquer pretensão de exaustividade, aí estão algumas for-
mas de abuso do poder, que produzem vítimas no espaço da coibição do exercício da cidadania. É mister
levar em conta que tal situação é crônica, pois é uma forma de opressão que encontrou, para além dos
traços próprios da organização econômica e social, traços culturais de forte consolidação na população”
(DEMO, 1988, pp. 26-32).
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Vimos nesta aula duas concepções diferentes sobre a relação entre Estado,
sociedade e escola: uma concepção que enfatiza a existência de um indivíduo
universal e de uma sociedade organizada através do consenso. A segunda
concepção (marxista) centra-se nas classes sociais e em suas trajetórias históricas,
sem esquecer o significado e o valor das características individuais. Classes sociais
diferentes possuem interesses divergentes; os conflitos são inevitáveis e, portanto,
as soluções para os mesmos passam por exaustivas negociações.
A escola pode ser entendida também como uma das diversas arenas de negociação
entre diferenças de classe, como é o caso das diferenças entre cultura dominante
e cultura popular, entre saber dominante e saber popular.
Por ser a educação uma função do Estado, o poder para transformá-la ou
conservá-la está em suas mãos, já que todo o financiamento da educação pública
é administrado pelo poder governamental.
Contudo, é no dia-a-dia da sala de aula que a educação se realiza e, nesse
microcontexto social, os professores são os administradores e gestores do ensino.
Para o bem ou para o mal, a favor das classes mais desfavorecidas economicamente
ou a favor das elites. A escolha é inevitável.
AUTO-AVALIAÇÃO
• Como a cultura e o saber dominantes podem ser apresentados aos seus alunos
sem desmerecer a cultura e o saber que eles possuem?
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