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E EDUCAÇÃO
Pedro Vilarinho Castelo Branco
Maria Dalva Fontenele Cerqueira
Organização
HISTÓRIA, CATOLICISMO
E EDUCAÇÃO
2019
Reitor
Prof. Dr. José Arimatéia Dantas Lopes
Vice-Reitora
Profª. Drª. Nadir do Nascimento Nogueira
Superintendente de Comunicação
Profª. Drª. Jacqueline Lima Dourado
1ª edição: 2019
Revisão
Francisco Antonio Machado Araujo
Editoração
Francisco Antonio Machado Araujo
Diagramação
Wellington Silva
Capa
Mediação Acadêmica
Editor
Ricardo Alaggio Ribeiro
19 módulos
Código de Catalogação Anglo-Americano (AACR2)
E-book.
ISBN: 978-85-509-0507-5
CDD: 370.981
Bibliotecária Responsável:
Nayla Kedma de Carvalho Santos CRB 3ª Região/1188
SUMÁRIO
PREFÁCIO 7
CARLOS BORROMEU E AS INSTRUCTIONUM
FABRICAE: “NOVAS” REGRAS ARQUITETÔNICAS 17
PARA A CONSTRUÇÃO DAS IGREJAS NO SÉCULO XVI
Natália Maria da Conceição Oliveira
O
processo de elaboração e publicação de um
livro remete a uma série de circunstâncias e de
significados aos quais seus autores, organizadores
e editores estão submetidos, sejam os derivados da ordem
econômica – referentes ao acesso aos meios de produção do
livro –; sejam os de natureza técnico-editoriais – que expressam
domínio de saberes e artifícios que possibilitam a fabricação do
livro em sua materialidade; sejam os de caráter autoral (modos
de elaborar o pensamento, a escrita e sua divulgação a partir
de suas manifestações culturais, religiosas, formação escolar e
seu ambiente de leitura e escrita, os grupos sociais aos quais
pertencem, entre tantas outras variáveis), indispensáveis à sua
fabricação.
PREFÁCIO 7
Isso também se aplica à formação do leitor, em sua
apropriação ou recepção do texto, uma vez que se reconhece
que a cultura escrita está carregada de demarcações físicas e
simbólicas, cujos marcos de entendimento e de valoração são
delineados pelas sociedades em suas experiências culturais, ao
elaborarem e atribuírem significados aos textos e aos livros
em sua relação com o espaço e o tempo de sua produção e
circulação, por meio da constituição de sentidos atribuídos ao
vivido, ao escrito e ao lido, em uma contínua imbricação que
essas dimensões carregam consigo, pois, como adverte Roger
Chartier, toda história da leitura representa uma produção de
significados, e assim precisa ser lida: como uma apropriação,
como uma invenção2.
Dessa forma, o livro História, Catolicismo e Educação é
uma coletânea composta por onze artigos, organizada pelos
professores Pedro Vilarinho Castelo Branco e Maria Dalva
Fontenele Cerqueira, e constituída por textos escritos por
experientes e jovens pesquisadores, que socializam suas
pesquisas historiográficas cujas temáticas abordam a relação
entre esses três eixos temáticos. Essa obra precisa ser lida na
configuração histórica de sua elaboração e publicação, sendo
necessário atentar para dois elementos fundamentais: o
cenário acadêmico de expansão das Pós-Graduações no Brasil
ao longo dos anos 2000, mais especificamente, em História e
em Educação – áreas centrais na formulação das problemáticas
abordadas pelos textos aqui compilados - e a expansão do
campo editorial durante esse período histórico, notadamente
o piauiense, que manifestou expressivo crescimento em sua
produção a partir do incremento gerado com a ampliação do
acesso às técnicas de produção. Isso possibilitou um maior
dinamismo na publicação de livros no cenário local, em grande
medida em decorrência dos avanços técnicos, científicos e
tecnológicos alcançados no período.
8
É oportuno reconhecer que a configuração histórica
brasileira, no século XXI, estimulou e financiou a qualificação
de pesquisas acadêmicas em nível de Pós-Graduação, muitas
das quais passaram a abordar temas diversificados em variados
campos do conhecimento, como nas áreas abordadas nessa
publicação, assim como permitiu um maior dinamismo na
difusão dessas pesquisas, por meio de publicações que, outrora,
mesmo que projetadas, quase não chegavam a ser realizadas,
e/ou quando eram desenvolvidas, sequer chegavam ao
conhecimento do público em geral, pois tinham sua circulação
restrita às páginas de monografias, dissertações e teses – que,
dadas às restrições dos meios de publicação, geralmente eram
arquivadas ou ficavam circunscritas ao lócus de sua produção:
a comunidade universitária, e isso inviabilizava a difusão do
conhecimento científico entre um público mais amplo.
Com a expansão do campo de pesquisa - cenário histórico
que possibilitou a implantação, no Piauí, do Mestrado em
História do Brasil, oferecido pelo Programa de Pós-Graduação
em História3, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), no ano
de 2004 - foi possível a realização e diversificação temática
de pesquisas que, associadas ao maior acesso às técnicas
editoriais, deram condições materiais e intelectuais para que
fosse possibilitada a sua circulação por meio de livros impressos
– e em alguns casos até digitais. Isso em si já evidencia a própria
historicidade da produção historiográfica, pois nos remete ao
cenário histórico vivido no país a partir do primeiro decênio e
meio do século XXI, marcado pelo estímulo ao desenvolvimento
de pesquisas em diferentes áreas do conhecimento, inclusive
no campo das Ciências Humanas, e sua articulação a outras
esferas da vida social, ao vinculá-las ao circuito de expansão
do campo econômico e técnico vivido no Brasil neste período,
que, entre muitas conquistas sociais alcançadas, permitiu um
esboço de dinamismo no mercado editorial no Estado, e isso
PREFÁCIO 9
vem influenciando sobremaneira a expansão dessa atividade no
cenário local, sobretudo por meio da elaboração e circulação
de livros sob a forma de coletâneas de artigos científicos. Essa
forma de organização e divulgação dos textos não é recente,
nem restrita a nosso contexto. Há muitos relevantes exemplos
no campo da historiografia. Um dos mais expressivos, que
muito tem repercutido entre os historiadores, foi a trilogia
organizada por Jacques Le Goff e Pierre Nora, com sua História4.
Esse formato de publicação em coletânea também foi adotado
por outras produções bibliográficas – como a coleção História
da Vida Privada, dirigidas por Georges Duby e Phillipe Aries5,
assim como os livros organizados por Jean Boutier e Dominique
Julia6, ou por Lyn Hunt7, por Jean-Pierre Rioux e Jean-François
Sirinelli8 e tantas outras produzidas entre os séculos XX e XXI,
no cenário internacional.
Esse formato de publicação, sob a forma de coletâneas,
também vem sendo adotado no cenário brasileiro por obras
de expressiva repercussão em nossa historiografia, cuja
influência tem sido decisiva na formação de muitas gerações de
historiadores, com diferentes filiações teórico-metodológicas.
Podemos mencionar várias, mas destacamos as organizadas
por Ciro Flamarion Cardoso e Ronaldo Vainfas9 e os volumes
da História da Vida Privada no Brasil, dirigidas por Fernando
Novais, em parceria com outros colegas de ofício10.
Esse formato editorial também vem sendo adotado pelos
membros do Programa de Pós-Graduação em História, da
UFPI, para dar visibilidade às pesquisas desenvolvidas em seu
seio. Podemos elencar como exemplos as obras Os itinerários da
pesquisa em História11 e Oficina de Clio12 - que contaram com a
colaboração de docentes e discentes deste e de outros Programas
de Pós-Graduação em História, além de muitas outras
relevantes coletâneas, que têm contribuído para a propagação
das pesquisas desenvolvidas pelos professores-historiadores
10
da UFPI, em articulação com outros pesquisadores de notório
reconhecimento em nível nacional, como as obras Sentimentos e
Ressentimentos em cidades brasileiras13, História e Arte: teatro, cinema,
literatura14, Torquato Neto: um poliedro de faces infinitas 15, Cultura,
corpo e educação16, entre tantas outras coletâneas que têm
contribuído para fortalecer e consolidar o campo da produção
historiográfica e evidenciar a qualidade das pesquisas.
Com isso, intensificam-se os esforços para publicar as
pesquisas, uma vez que se sabe que o livro, ao possibilitar acesso
às ideias dos autores, pretende também delimitar papéis e
poderes nos muitos meios em que a obra circula, e por extensão,
promover o encontro desses estudos com a sociedade, inclusive
ao definir as temáticas válidas de serem discutidas no ambiente
acadêmico, naquilo que Michel de Certeau denominou de “as
regras do meio”, ao relacionar a operação historiográfica como
sendo uma escrita, substanciada numa prática e num lugar17. Ao
reconhecer isso, a presente coletânea visa a fortalecer a cultura
textual no campo da história, bem como a sua relação com
as concepções de religiosidade – aqui em destaque sobretudo
a de matriz cristã - e suas relações/vinculações com diferentes
instituições sociais, principalmente as instituições educacionais
– seja na condição de entusiasta ou de crítico. Reconhece-se
que a compreensão do que é lido, passa pelo filtro cultural do
sujeito-leitor, conforme as diferentes apropriações que cada um
pode fazer em relação ao texto em apreciação, como preconiza
Roger Chartier18.
Ao estruturar os textos em torno do eixo-temático
História, Catolicismo e Educação, os organizadores e os autores dos
capítulos passam a colaborar com pesquisas que consideram
essas temáticas como válidas de serem reconhecidas pelos
estudos da História, substanciadas em problemáticas que sejam
do interesse de sua área de estudos, pesquisadas e escritas com
adequado embasamento teórico-metodológico, que permita
PREFÁCIO 11
analisar de maneira criteriosa as fontes consultadas, no âmbito
acadêmico, dando-lhes legitimidade e legibilidade.
Com isso, segue-se um percurso já iniciado na
historiografia e mostra-se a gradativa ampliação dos estudos
sobre História e Religiosidade e sobre História da Educação,
em especial atenção para a perspectiva do “Cristianismo” –
uma vez que os autores evidenciam que o interesse temático
dessa obra consiste em estudar a relação mais específica da
História com o Catolicismo e com as propostas educacionais
derivadas dessa percepção religiosa.
Os pesquisadores que colaboram com esta coletânea
seguem as trilhas inicialmente percorridas por Johan Huizinga19
e por Marc Bloch20. O primeiro, ao defender a interdependência
entre religião e a cultura dos povos e as épocas à que pertenciam;
o segundo, ao propor um estudo que objetivou entender as
relações de poder a partir do inovador estudo sobre a crença da
sociedade no poder curativo exercido pelos reis. Várias outras
pesquisas sucederam-nas nesse campo e contribuíram para
a consolidação dessa temática em suas perspectivas teórico-
metodológicas no fazer historiográfico, o que evidencia que
sua pertinência e validade para o campo da História21.
As pesquisas que abordam as temáticas relativas à História
das Religiões ou à História das Religiosidades passaram por
expressivas transformações, uma vez que foram influenciadas
pelas reformulações que revigoraram a historiografia no século
XX, sobretudo as que contribuíram para a ampliação temática
e para o alargamento teórico-metodológico, e permitiram a
diversificação das abordagens, dos problemas e das leituras
realizadas sobre História, Religiosidade e Educação – temas
centrais que norteiam esta obra, respeitando as orientações
daqueles que passaram a defender que o mais recomendado
seria abordar esses temas sob o viés da pluralidade de
perspectivas. Um exemplo muito expressivo, nesse sentido, são
12
as pesquisas desenvolvidas por Dominique Julia, pesquisadora
que estuda tanto temas relativos à História Religiosa, quanto
à História das instituições escolares – questões centrais das
abordagens constantes nos textos da coletânea aqui analisada.
Seu principal ensinamento, que repercute na produção do
conhecimento histórico - não apenas entre aqueles que
pesquisam temas relacionados à religiosidade ou à educação,
mas à elaboração mesma do conhecimento histórico - é o que
adverte que “a história que se forma nunca é independente do
tempo que a fez nascer”22.
Os autores dos textos aqui publicados, além de expor
um esforço de pesquisas que contemplam tal ensinamento,
apresentam sintonia com os campos temáticos aos quais
se dedicam, apresentando a vitalidade da produção
historiográfica e a relevância cada vez mais acentuada em
publicar as pesquisas que abordam essas questões. Com
esse empenho, ganha a história como área consolidada de
conhecimento; ganham todos os que têm a oportunidade em
fazer dessa leitura uma forma de se apropriar dos estudos aqui
publicados e de entender em que medida estão articuladas
as pesquisas que têm como cerne as temáticas realçadas em
publicação de tal relevância. Os textos aqui apresentados, para
além de sua notória qualidade analítico-reflexiva, possibilitam
perceber o fortalecimento de um campo de pesquisa cada vez
mais vigoroso e pujante no âmago da oficina da História23.
PREFÁCIO 13
NOTAS
14
12 FONTINELES, Cláudia C. S.; CASTELO BRANCO, Pedro V.; CRUZ,
Marcelo Silva. (Orgs.). A oficina de Clio: História, Cidades e Linguagens.
Teresina: EDUFPI, 2016.
13 NASCIMENTO, Francisco Alcides do (Org.). Sentimentos e ressentimentos
em cidades brasileiras. Teresina: EDUFPI/Imperatriz (MA): Ética, 2010.
14 NASCIMENTO, Francisco de Assis de S.; SILVA, Jaison C.; FERREIRA,
Ronyere. (Orgs.). História e Arte: teatro, cinema, literatura. Teresina:
EDUFPI, 2016.
15 CASTELO BRANCO, Edwar de A.; CARDOSO, Vinícius. A. (Orgs.).
Torquato Neto: um poliedro de faces infinitas. Teresina: EDUFPI, 2016.
16 MATOS, Maria Izilda S. de.; CASTELO BRANCO, Pedro Vilarinho.
(Orgs.). Cultura, corpo e educação: diálogos de gênero. São Paulo:
Intermeios/Teresina: EDUFPI, 2015.
17 CERTEAU, Michel de. A escrita da História. 2ª ed. Tradução: Lourdes
Meneses. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.
18 CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador.
Conversações com Jean Lebrun. Tradução Reginaldo Carmello Corrêa
de Moraes. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo/
Editora UNESP, 1998.
19 HUIZINGA, Johan. O Outono da Idade Média. São Paulo: Cosac Naify,
2010.
20 BLOCH, Marc. Os Reis Taumaturgos: o caráter sobrenatural do poder
régio. França e Inglaterra. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
21 MATA, Sérgio da. História e Religião. Belo Horizonte: Autêntica Editora.
2010; MASSENZIO, Marcello. A História das Religiões na Cultura Moderna.
São Paulo: Hedra, 2005.
22 JULIA, Dominique. A religião: História religiosa. In. LE GOFF, Jacques;
Nora, Pierre. História: novas abordagens. Tradução: Henrique Mesquita,
4ª ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995, p. 121.
23 BOUTIER, Jean; JULIA, Dominique, op cit, 1998.
PREFÁCIO 15
CARLOS BORROMEU E AS
INSTRUCTIONUM FABRICAE: “NOVAS”
REGRAS ARQUITETÔNICAS PARA
A CONSTRUÇÃO DAS IGREJAS NO
SÉCULO XVI
INTRODUÇÃO
E
ste capítulo, produto da dissertação de mestrado
intitulada: Uma análise das Instructionum fabricae
et supellectilis ecclesiasticae de Carlos Borromeu,
realizada na Pontíficia Universidade Gregoriana em Roma, em
2018, que teve como como objeto de estudo as Instructionum
fabricae et supellectilis ecclesiasticae libri II, publicadas em 1577, de
Carlos Borromeu, e reeditadas no ano 2000.
A investigação apresentou como objetivo geral
compreender a instituição das Instructiones fabricae e seu lugar na
história da Igreja, pois influenciaram e continuam influenciando
a Religião Católica na questão da construção dos edifícios
sacros e do cuidado com os objetos litúrgicos.
1
“Espletando le mansioni di segretario di Stato, si prodigò per la
riconvocazione e la felice conclusione del Concilio di Trento, svolgendo
a Roma un ruolo importante nella sua parte finale”. MEZZADRI, 2006,
p. 10.
2
Michel De Certeau, citando a figura de Ormaneto, destaca que ele fez
3
Os decretos aprovados na segunda fase do Concílio de Trento
encontram-se em G. Alberigo – et al., Conciliorum oecumenicorum decreta,
2013.
Vaticana, 2000.
5
I prefetti della fabbrica e gli architetti, prima di iniziare i lavori, si
consulteranno su tutte queste prescrizioni, ma soprattutto sarà cura
del Vescovo sorvegliare che essi, nella costruzione della chiesa, non
incorrano in simili errori. (Borromeo, 2000, p. 195)
Pastor, Ludovico Von. Storia dei papi. VII, Roma: Desolée & C.
Editori, 1943.
N
a recente historiografia religião e religiosidade
constituem objetos próprios do campo de
investigação vinculado às representações e
ao cotidiano. É nesta abordagem que historiadores vêm
trabalhando estes temas no âmbito do Brasil colônia. No
entanto em relação ao universo do sertão nordestino, no
mesmo período, sobressaem-se os estudos no campo da história
eclesiástica. Resulta daí, como constatou Eduardo Hoornaert,
a necessidade de se “conhecer melhor o modo pelo qual o povo
nordestino foi formado ideologicamente e religiosamente, pois
acerca da catolicidade própria do povo nordestino sabemos
coisas genéricas” (Apud. SILVA, 1988, p. 54).
1
Texto publicado na Clio – n. 22/2004 - Revista de pesquisa História do
Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de
Pernambuco.
2
Sobre a atuação dos jesuítas da Ibiapaba no Piauí ver NUNES, Odilon.
Pesquisas para a história do Piauí. Rio de Janeiro; artenova, 1975. vol.
I, capítulos I e II.
3
Inventários e Testamentos de Jerumenha e Valença, 1762 - 1822.
Arquivo Público do Estado do Piauí: Sala do poder Judiciário.
4
Cf. MIRANDA, Maria do Carmo Tavares de. Os franciscanos e a
formação do Brasil. Recife: Universidade Federal de Pernambuco.
1976. Capítulo I.
5
Apud. SIQUEIRA, Sônia A. História da espiritualidade brasileira: a
espiritualidade afro do candomblé. In: ANAIS da XXI Reunião da
REFERÊNCIAS
Introdução
E
m geral, as disputas pelo poder expõem as mais
variadas contradições dos indivíduos (WOLKMER,
2003). São nos momentos de tensão e de conflito
que se afloram os sentimentos de reafirmação. Contudo, a
reafirmação pressupõe uma identidade, um reconhecimento
sobre si que se constrói a partir de outra referência. Desta
relação de confronto pode-se perceber a alteridade, ou ainda,
a outridade. Esta construção sobre si permite entender as
inconsistências de determinado indivíduo ou instituições,
especialmente, quando colocado em perspectiva histórica, o
que se pretende fazer no presente estudo, atento aos devidos
recortes e mediações.
1
As tentativas de criação um bispado independente no Piauí remete,
inicialmente, ao ano de 1822, nas Cortes de Lisboa, por representação
do deputado Miguel Borges. A partir daí, vários anos se sucederam
com discussões nas instâncias de poder local, sendo remetidas em
requerimentos a Sua Majestade, o Imperador, a Assembleia Geral do
5
As Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia eram bastante
amplas em definir não apenas consanguinidade, como também o
parentesco espiritual, isto é, os compadrios e afilhamentos adquiridos
nos sacramentos. Cf. VIDE (1853).
6
Contudo, por força da Constituição de 1824, artigo 102, o poder
Executivo consultou a Assembleia Legislativa antes de conceder ou negar
o beneplácito ao documento, pois este continha disposições gerais
sobre a Igreja no Brasil. Ao passar pelo crivo da Comissão Eclesiástica
(composta por clérigos) , e pela Comissão da Constituição (composta
por leigos), ambas, aprovaram a ereção, extensão e limite das dioceses,
discordando, entretanto, da indicação de seus bispos, bem como
da nomeação de vigário estrangeiro, julgando sem nenhum efeito as
orientações dadas quanto ao cabido e ao Seminário Episcopal. A esse
respeito ver: SILVA, 2012, p.97.
7
Observando as dioceses criadas no Império, elencamos como motivos
práticos de ereção de um bispado: a pacificação (diplomacia)
e definição territorial, caso de São Pedro do Rio Grande do Sul
(1848) (SANTIROCCHI, 2015), e o dinamismo econômico, caso de
Diamantina (FERNANDES, 2005) e Fortaleza (REIS, 2005), dioceses
criadas em 1854; o que não excluem a demanda pastoral que, no geral,
era precária em todas as províncias.
Referências
Bibliográficas:
ANSART, Pierre. História e Memória dos Ressentimentos.
In.: BRESCIANI, Stella; NAXARA, Márcia (org). Memória e
(res)sentimento. Indagações sobre uma questão sensível.
Campinas: Unicamp, 2004. p. 15- 36.
Documentais:
PIAUÍ. APEPI. Atas de Registro do Conselho Geral de Província
do Piauí (CGPPI). 1825- 1831. f. 176 (verso)- 178 (frente). 25ª
Sessão, de 3 de janeiro de 1832. Códice nº 519.
Introdução
N
o decorrer do período imperial, no Brasil, duas
posições religiosas no âmbito católico foram
sendo claramente delineadas: a regalista e a
ultramontana.
A primeira, baseada na doutrina política do mesmo
nome, defendia “uma vinculação mais forte da Igreja local ao
poder do Estado, mediante maior independência em relação
à Santa Sé” (CAES, 2002, p. 81); ou em palavras simples, a
ingerência do poder temporal no espiritual. O regalismo, na
prática, foi reforçado pelo Padroado Régio, o acordo entre a
Coroa e a Santa Sé, segundo o qual, em troca da manutenção
financeira da instituição católica vir custeada pelos cofres
públicos, a nomeação dos bispos e a publicação das bulas
1
No interregno dos dois bispados, governou a mesma Diocese D.
Sebastião Pinto do Rêgo. Porém, em matéria de catequese, parece
ter se limitado a manter o que fora introduzido por seu antecessor,
motivo pelo qual seu governo episcopal não será aqui analisado.
Há controvérsias se era regalista ou ultramontano. Para algumas
informações a seu respeito ver Anjos (2014a).
2
Utilizarei preferencialmente ao longo do trabalho o nome “Catecismo
Considerações finais
4
Digo espiritual porque, mesmo as famílias sendo católicas, isso não
significava que permitissem a completa ingerência da Igreja e tampouco
do Estado em seus interesses pessoais. Num processo de lutas e
experiências de classe, que estudei anteriormente (ANJOS, 2015) ficou
bem claro o poder de filtro cultural e social que a instituição familiar
exercia naquele contexto.
Referências bibliográficas
O
período que se inicia nas últimas décadas do
século XIX e se estende pelo século XX é marcado
por inúmeras transformações no cotidiano.
Assim, o processo de urbanização e aproximação com o mundo
moderno alterava costumes tradicionais e apontava para a
adoção de novos comportamentos e sociabilidades.
Essas ideias, vindas da Europa e da América do Norte,
aportavam nas grandes cidades litorâneas do Brasil e, em
seguida, espraiavam-se em ritmos e intensidade diversa pelo
restante do país. O Piauí, historicamente mergulhado nas
sociabilidades rurais, vinculado aos modelos de pensamento e
às práticas oriundas do período colonial pecuarista, procurava
aproximar-se do mundo moderno e incorporar novas práticas,
mas o fazia dentro das condições materiais e culturais
disponíveis, daí porque as mudanças se deram em ritmo lento e
gradual (QUEIROZ, 2011).
1
O catolicismo ultramontano é um modelo eclesial católico inspirado
na retomada dos princípios do Concílio de Trento, caracterizado pelo
centralismo institucional em Roma. Ganhou fôlego como uma reação
católica às ameaças que se faziam presentes no mundo ocidental pós-
revoluções burguesas à Igreja. Nesse sentido, a forma de vida católica
defendia a gestação de um novo fiel, emoldurado na neo-espiritualidade
tomista, depurado de suas crenças antigas, agora percebidas como
crendices e superstições.
2
São denominadas de desobrigas, as ações dos sacerdotes católicos que
viajam por regiões distantes das suas paróquias, celebrando missas e
oferecendo a celebração de sacramentos, em síntese, desenvolvendo
trabalhos de catequese e assistência espiritual dos fiéis.
3
A visão dos padres jesuítas, como elaborada no texto, é muito presente
nas conversas exploratórias desenvolvidas pelos autores com ex-alunos
do Colégio Diocesano, no âmbito do Projeto de Pesquisa em curso
sobre a referida escola e a atuação dos padres jesuítas no Piauí, na
segunda metade do século XX.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
O
presente capítulo tem como objetivo analisar as
representações das beatas na crítica anticlerical
do literato e livre pensador Clodoaldo Freitas
em parte de sua prosa ficcional. Para tanto, apresenta-se o
processo de secularização do mundo moderno e a Questão
Religiosa articulando a formação educacional de Clodoaldo
Freitas a esses movimentos na década de 1870, em seguida,
parte-se para as análises das representações das beatas em
alguns de seus textos ficcionais.
No período Imperial (1822-1889), o catolicismo se
constituía como a única religião oficial do Império do Brasil,
seu clero era responsável pela educação, saúde, assistência
pública, registros paroquiais e, até meados do século
XIX, os padres exerciam funções civis em nome do Estado.
1
Esta citação foi retirada do texto de Higino Cunha sobre Clodoaldo
Freitas, que é uma referência de um texto de Clodoaldo Freitas ao qual
Higino teve acesso por meio de Marcelino Freitas, filho daquele. Este
texto está hoje perdido.
2
No início do século XX, Clodoaldo Freitas critica a posição da igreja
católica ao considerar casos histero-epiléticos, largamente estudados
pela medicina, como possessões demoníacas, curáveis apenas com o
exorcismo como uma forma de permanecer triunfante na sociedade.
E aponta para o abismo que separava o catolicismo de sua civilização
contemporânea.
3
“Sílvio Romero denominou Escola do Recife o brilhante movimento
intelectual, que teve por teatro a cidade do Recife, que foi,
primeiramente, poético, depois, crítico e filosófico, e, por fim, jurídico,
sendo, em todos eles, figura preponderante Tobias Barreto”.
4
A análise das prescrições de comportamentos às mulheres é um dos
modos de afirmar como as disputas de poder na sociedade constrói
o gênero, ou seja, como os grupos buscam definir os modos como a
sociedade deve se organizar quando aos sujeitos sexuados.
5
O conceito de representação utilizado neste trabalho toma emprestada
a formulação de Chartier para examinar como a prática escriturística
de Clodoaldo Freitas constrói uma hierarquia feminina por meio da
categoria da beata em sua literatura, que configurava como um tipo
negativo de mulher, ou seja, uma categoria inferior de mulher.
6
Novela publicada no em formato de folhetim no jornal Correio do Piauí
em 1921.
Fontes:
Referências:
N
o fim do século XIX e início do século
XX, os modelos de socialização feminina
tradicionalmente vivenciados na sociedade
brasileira eram profundamente vinculados à família e ao
espaço da casa, e mostravam-se incompatíveis com os valores
e práticas modernas.
Nessa perspectiva, era necessário repensar sobre a
percepção da infância, dar outro sentido às práticas que
orientavam a transformação das meninas em mulheres adultas.
Assim, literatos e intelectuais de perfil diversificado, como
positivistas, liberais e católicos empenhavam-se em definir
os parâmetros adequados para a socialização e a formação
escolar feminina.
Atenta a essa problemática, a Igreja Católica, preocupada
em combater a laicização da sociedade, percebeu nas mulheres
1
Abdias da Costa Neves nasceu em 1876, em Teresina. Bacharel em
Direito (Recife, 1898), fundou escolas privadas, entre elas o Internato
Ateneu Piauiense. Foi Senador da República e autor de vários livros,
entre os quais o romance Um manicaca.
2
Clodoaldo Severo Conrado Freitas nasceu em 1855, na cidade de
Oeiras. Bacharelou-se em direito pela Faculdade do Recife, em 1880.
Sua obra literária conta com obras de ficção, crônicas de assuntos
variados.
3
FREITAS, op. cit.
4
A ideia de prática escriturística trabalhada no texto está fundamentada
em: CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. p. 224-226.
5
Higino Cícero da Cunha nasceu em 1858. Bacharel em Direito pela
faculdade do Recife, em 1885, trabalhou em vários cargos públicos:
foi professor do Liceu Piauiense, da Escola Normal e da Faculdade de
6
Até o ano de 1906, a Igreja Católica no Piauí estava vinculada ao
Bispado do Maranhão.
7
Sobre D. Joaquim, primeiro Bispo do Piauí, conferir: SANTOS NETO,
Fonseca dos; LIBÓRIO, Paulo de Tarso Batista. Joaquim. Teresina: Nova
Aliança, 2016.
8
Elias Martins nasceu em 1869, e faleceu no ano de 1936, em Teresina.
Bacharel em direito, jornalista de larga militância em jornais de
Teresina, particularmente no jornal O apóstolo, e defensor fervoroso das
ideias católicas. Publicou, entre outras obras, o livro Guerra Secatária
(1910) e o livro Fitas (1920).
9
Estatutos e regras para as educandas do Colégio dirigidos pelas Irmãs
dos pobres de Santa Catarina de Sena. Manuscrito do Colégio Sagrado
Coração de Jesus.
10
Santa Inês viveu no Século III da Era Cristã, e morreu como mártir, aos
13 anos, depois de recusar os insistentes pedidos de casamento de um
jovem aristocrata romano. Sua recusa estaria supostamente ligada à
sua fervorosa convicção no valor supremo da castidade.
11
Sobre a valorização das práticas femininas em torno da maternidade,
ver: A nova mãe. BADINTER, Elizabeth. Um amor conquistado. O mito do
amor materno. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 1984. p. 201.
12
Sobre a discussão a respeito da incúria materna, Elizabeth Badinter
diz que o mesmo movimento de criação discursiva que definiu a
maternidade como algo natural e inerente à mulher, criou também a
ideia de que qualquer falha no caráter dos filhos deve ser cobrada, em
primeiro, lugar a ela. A boa formação física e moral dos filhos passava
a ser de inteira responsabilidade feminina.
13
BESSE, op. cit., p. 114-115. Sobre o papel das mães na subjetivação
das filhas, Elizabeth Badinter afirma: “É a mãe quem se encarregará do
adestramento da menina. E lhe ensinará que a dependência é um estado
natural às mulheres. Ela a habituará a interromper suas brincadeiras
sem protestar, e a mudar seus planos para se submeter aos de outrem.
Desse bom hábito resultará uma docilidade de que as mulheres têm
necessidade durante toda a sua vida.”
REFERÊNCIAS
15
Sobre a relação entre a Igreja Católica e as mulheres no século XIX
ver: GIORGIO, de Michela. O modelo católico. In: PERROT, Michelle;
DUBY, Georges (org.). História das mulheres – O século XIX. Porto; São
Paulo: Edições Afrontamento; EBRADIL, 1991.
Introdução
O
presente capítulo tem como objetivo analisar
as ações educativas da Igreja Católica como
a criação de escolas confessionais no Piauí, na
primeira década do século XX, tomando como objeto o Colégio
Dom Joaquim, uma escola católica destinada ao público
masculino, fundado pela Diocese do Piauí1 em 1907, na cidade
de Parnaíba-PI.
O Colégio Dom Joaquim, instituição escolar confessional
católica, destinado ao público masculino, até então, objeto
1
Sobre a criação da diocese do Piauí Cf. SOUSA NETO, Marcelo de.
Em nome da fé; em nome dos bens: a criação da diocese do Piauí
(1822-1903). Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH,
Ano IV, n. 10, Mai. 2011.
2
Sobre os colégios católicos masculinos fundados no Piauí Cf. LOPES,
Antonio de Pádua Carvalho. Os discursos em torno do retorno dos
jesuítas ao Piauí na década de 1960: o Colégio Diocesano entre
constinuidades e rupturas. In: SOUSA, Carlos Ângelo de Menese;
CAVALCANTE, Maria Juraci Maia. (Orgs.). Os jesuítas no Brasil: entre
a Colônia e a República. Brasília: Liver Livro, 2016, p. 267-287.
3
Sobre atuação do primeiro bispo do Piauí Cf. FONSECA NETO,
Antonio; LIBÓRIO, Paulo. Dom Joaquim. Teresina: Livraria Nova
Aliança Editora, 2016.
4
Joaquim de Oliveira Lopes foi um dos padres atuantes na criação do
bispado no Piauí. Antes da criação do bispado, era o responsável
pelo Apostolado da Oração. Cf. SOUSA NETO, Marcelo de. Entre
vaqueiros e fidalgos: sociedade política e educação no Piauí (1820-
1850). Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 2013.
5
Nascido no dia 05 de julho de 1881, padre Bianor Emílio Aranha.
Estudou no Seminário da Paraíba, ordenou-se Presbítero em 05 de
novembro de 1905. De 1905 a 1906 assumiu a paroquia de Nova Cruz
. Na capital da Paraíba foi professor do Seminário. Veio para o Piauí
com Dom Joaquim de Almeida. No Piauí assumiu cargos como Diretor
do Colégio Diocesano, Reitor do Seminário, Cura da Catedral do
Piauí em 1908, e vigário de Parnaíba, onde fundou um colégio, sendo
diretor. Cf. Padre da Paróquia de Taipu VII https://cronicastaipuenses.
blogspot.com/2014/01/padres-da-paroquia-de-taipu-vii.html . Acesso
em 01/1/2018.
6
Sobre os pobres urbanos de Parnaíba Cf.: SILVA, Alexandre Welligton
dos Santos. A pobreza urbana em Parnaíba, Piauí (1890-1920). 259f.
Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal do Ceará.
Programa de Pós-Graduação em História, Fortaleza, 2018.
Referências
INTRODUÇÃO
1
A respeito disso, ver: SOUZA, Laura de Mello. O Diabo e a terra de
Santa Cruz. São Paulo: Companhia das Letras, 1986; FREYRE, Gilberto.
Casa-grande e senzala. Rio de Janeiro: Record, 2000.
2
Essa constatação foi possível com base no Recenseamento Geral do
IBGE do ano de 2010, ao apontar que, embora o número de católicos
tenha diminuído em razão da diversidade de outros grupos religiosos,
esse ainda permanece sendo o mais volumoso em relação ao número
de adeptos. Disponível em: <https://www.cps.fgv.br/cps/religiao/>.
Acesso em: 15 mar. 2019.
3
Ao longo dessa produção, o conceito de representação é utilizado
tendo como base: CHARTIER, Roger. O mundo como representação.
Trad. Patrícia Chitoni Ramos. Porto Alegre: UFRGS, 2002.
4
A respeito disso, ver: CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano:
1. Artes de fazer. 5. ed. Tradução de Ephram Ferreira Alves. Petrópolis:
Vozes, 2000.
5
Ultramontano vem do latim ultramontanus que significa além dos
montes. No catolicismo, a expressão faz referência ao importante papel
que os fiéis atribuem ao Papa no direcionamento da fé e da religião.
Mesmo que inicialmente o termo fizesse referência aos franceses no
período da Revolução Francesa e das tendências separatistas, esse
passou a ser usado por católicos de diversos países como forma de
indicar uma igreja marcada pelo centralismo romano.
6
Alguns desses considerados males modernos, na perspectiva cristã,
referiam-se ao uso da pílula anticoncepcional e uso de minissaias pelas
mulheres, a indissolubilidade do casamento, por meio da legalização
do divórcio e outras questões que iam em desacordo aos dogmas
católicos.
7
Essa aproximação maior entre Igreja e povo, na perspectiva em que
analisamos, indica-nos, com base na leitura de Marina Bandeira,
que esse processo de junção estava articulado ao momento de
descentralização das elites eclesiásticas brasileiras, que começa a
vigorar mais significativamente a partir do século XX, justamente pela
necessidade sentida pela instituição de se realocar como aliada perante
as necessidades sociais para agregar fiéis em convergência ao objetivo
maior referente à recatolização da sociedade e ao reestabelecimento
do poder social de outrora. A respeito disso ver: BANDEIRA, Marina.
A Igreja Católica na virada da Questão Social (1930- 1964): anotações
para uma história da Igreja no Brasil. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.
8
Ver: HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Trad. Laurent Léon
Scaffter. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1990.
9
O senso de 1950, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatísticas (IBGE), aponta, em relação ao fator religioso, a
manifestação cristã como preponderante; conta com o maior número
de adeptos no município, e esses números são divididos na perspectiva
do gênero feminino e masculino; o número maior relacionado ao
primeiro se sobrepunha em relação ao segundo (Fonte: Enciclopédia
dos municípios brasileiros com base no Recenseamento Geral do IBGE
de 1950).
CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
REFERÊNCIAS
FONTES
ENTREVISTAS
Introdução
A
análise da educação em sua dimensão histórica,
mais especificamente na integração das práticas
educativas à história das instituições escolares,
segundo Magalhães (2004, p. 106), “[...] desafia a uma
interdisciplinaridade [...]”. Para o autor, “[...] a informação
sobre as práticas é de natureza exclusivamente discursiva
e memorialística e a sua intelecção desafia as abordagens
e interpretações indiretas”. Assim, este estudo parte do
seguinte problema: de que forma as práticas educativas
vêm historicamente sendo desenvolvidas na integração/
apropriação com o habitus religioso em relação aos alunos
que as frequentam? Na busca de resposta para essa questão,
enfrentou-se o desafio de reconstituir, a partir de um breve olhar,
Rituais
e: A pesquisa, a partirFonte:
dasA histórias de vida/Programa
pesquisa, a partir das histórias de MAXQDA (
vida/Programa MAXQDA (2014).
Igreja/Missões
Instituiões
educativas
confessionais
habitus hábitus
pedagógico religioso
Referências
Documentos
Entrevistas orais
H
istória Eclesiástica do Maranhão: este é um dos
títulos mais conhecidos entre os estudiosos
e qualquer leitor interessado em história
eclesiástica católica no Brasil, particularmente no Maranhão,
Piauí e Pará.
Obra de muito fôlego, editada em volume único,
constitui essa História Eclesiástica um manancial de escritos,
de documentos e recortes documentais, enfim, de fontes e
indicações memoriais sobre a Igreja no Brasil-Norte, formada
em mais de três séculos, do XVII ao meado do XX.
Felipe Condurú Pacheco é o autor/organizador do livro,
publicado pelo Governo do Estado do Maranhão, em 1969,
com 850 páginas. Dedicado pesquisador, o padre, depois
bispo, Condurú Pacheco, ocupou a honrosa função de bispo
de Parnaíba, Piauí, o primeiro titular dessa sonhada Diocese,
em meados do século XX.
O livro recepciona, inteiramente, o labor escritural,
até então inédito, deixado por Dom Francisco de Paula e
1
Organizada em 4 partes, guiando-se pela cronologia gregoriana: século
XVII, 31 quesitos; século XVIII, 65 quesitos; século XIX, 146 quesitos; e
século XX, 151, ditos.
2
Bispo de São Luís do Maranhão de 22 de agosto de 1691 (confirmação)
com trasladação para a diocese de Olinda confirmada por bula de 26 de
agosto de 1695, à frente da qual fica até 1704. Em São Luís foi sucedido
por Dom Frei Timóteo do Sacramento, desde 17 de dezembro de 1696
(bula de sua trasladação de São Tomé e Príncipe para o Maranhão),
onde chegou a 8 de maio de 1697. Permaneceu bispo dessa diocese até
1714 (Apud MARQUES, 2008, p. 206).
3
A sede vacante maranhense decorreu do falecimento, em 14 de
dezembro de 1724, de Dom José Delgarte, bispo do Maranhão desde
12 de junho de 1717. Vacância que se estenderia até 1739, quando da
posse de Dom Manuel da Cruz, em 29 de junho.
4
Governou o bispado (entrou em São Luís) em 29 de junho de 1739, até
1745, quando oficialmente transferido para ser o primeiro prelado de
Mariana, MG. Mas permaneceu em São Luís ainda até 1747.
5
Na ribeira do Parnaíba, onde hoje está o núcleo central de Buriti dos
Lopes, matriz e entorno.
6
Ficou à frente do bispado de 11 de abril de 1757 a 20 de setembro de
1761, quando retirou-se para Lisboa, ficando a Diocese semi-vacante
(Condurú, p. 59).
7
E a propósito dessa interiorização da ação episcopal, lembra Condurú,
que, recusando-se a aplicar decretos punitórios contra os inacianos na
Cidade Episcopal de São Luís, Dom Antonio “retira-se para o interior
da Diocese”, no momento em que desembarca na Sé maranhense o
bispo do Pará, na condição de “visitador dos jesuítas no Maranhão”
e aplicador, em pessoa, das sanções impostas pelo Conde de Oeiras,
apoiado na própria igreja lisboeta. Reveja-se Condurú quanto à data
da criação da capitania do Piauí, sendo 1718 o respectivo ano, e não
1755. Instalada em 1759 com a posse de João Pereira Caldas.
8
Espécie de tentativa de venda de dom ou virtude espiritual por preço
temporal, segundo Dom Raphael Bluteau.
9
Segundo Condurú, Pádua e Bellas ficou à frente do bispado de 18 de
julho de 1783 (sagração, entrada em São Luís em 18/10/1784) a 29 de
12
Confirmado bispo do Maranhão em 23 de agosto de 1819 e empossado
em 11 de maio de 1820.
15
Confirmado bispo do Maranhão, pelo papa Gregório XVI, em 24 de
janeiro e sagrado em 2 de julho de 1844, ficando à frente do bispado
até 3 de abril de 1850.
16
Empossado à frente do bispado do Maranhão e Piauí em 31 de janeiro
de 1852 (por procuração), ficando nas funções até 7 de junho de 1861.
17
Filho da aristocracia baiana-reconcavina, assumiu no Maranhão em
21 de março de 1862, à frente desse bispado ficando até 6 de abril
de 1876. Irmão de pai e mãe do ex-presidente do Piauí, José Antonio
Saraiva, depois conselheiro imperial.
fevereiro de 1899.
19
Essa omissão pesou muito sobre sua reputação, de par com muitas
queixas sobre sua pessoa e atuação, justas e injustas, com “paternais
reprimendas” da Sé romana. Acusações que acharam fundamento,
menos na realidade dos fatos capitulados contra ele, do que na sua
nímia bondade, quase fraqueza, que tudo deixou de fazer, sem arcar
nunca com a corrente que o avassalava e submergia...”. “Informaram-
nos ouvintes de contemporâneos seus que então saía à noite em traje
civil ou de clergyman a visitar amigos” (PACHECO, 1969, p. 362-63).
20
Bispo de 5 de julho de 1901 a 5 de dezembro de 1905.
21
Antes de ser trasladado para São Luís, e seu primeiro arcebispo, Dom
Octaviano foi o segundo bispo do Piauí, de 1914 a 1923.
Referências bibliográficas
298
Rafaela da Costa Sousa
Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em História do
Brasil da Universidade Federal do Piauí-PPGHB/UFPI. Bolsista
da Coordenação de aperfeiçoamento de pessoal de nível
superior (CAPES). Desenvolve pesquisa com ênfase das áreas
de História e Memória, História da Educação, História do
Catolicismo. E-mail: rafaelasousa1993@gmail.com.
300
E-mail: <franciscoufpi@gmail.com>. Pesquisas com ênfase em
História e memória, teatro, Regime civil militar