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Jeffrey Kopstein & Mark Lichbach

Bonga A. Merace

Bonga A. Merace1

O que é Política Comparada?


No âmbito da Ciência Política, a política comparada é vista como um sub-
campo ligada aos estudos comparados. A teoria política e as relações
internacionais são áreas de saberes distintas pelo seu objecto de estudo mas
que estão relacionados com os estudos de política comparada. Por conseguinte,
os primeiros comparativistas eram os teóricos clássicos da Grécia antiga tais
como: Platão, Aristóteles que estudaram os diferentes tipos de ordem política
(aristocracia, oligarquia, democracia, tirania, etc.).

Aqueles teóricos ofereceram-nos as bases explicativas das razões que levavam a


mudança de um governo para outro, contudo concentravam-se na melhor
forma de governo, ao invés de dizer sistematicamente porque temos um certo
tipo de governo.

Os teóricos políticos contemporâneos, no âmbito da ciência política ainda dão


continuidade nesta tradição. Continuam escrever diferentes tipos de ordens
políticas e analisam a estrutura das ideias sobre as ordens primárias de modo
a questiona-las.

Os comparativistas, pelo contrário, tendem a eliminar as suas avaliações


normativas a favor da abordagem descritiva de modo a explicar porque as
coisas/mundo é como é. Devido o seu carácter de cientificidade, os
comparativistas estão preocupados em oferecer uma explicação sistemática de
como o mundo é como é, buscam responder questões tais como, porque alguns
países tornaram-se fascistas, comunistas ou democráticos. Mais do que avaliar
se a democracia e boa ou não, os comparativistas ocupam-se em entender e
identificar as condições gerais — sócias, económicas, ideológicas, institucionais
e internacionais, das quais as democracias aparecem, tornam-se instáveis,
colapsam em ditaduras e por vezes reimergem como democracias.

Que relação existe entre a politica comparada e relações


internacionais?

Tal como política comparada, o sub-campo das relações internacionais têm as


suas bases na Grécia antiga com teóricos políticos tais como Tucídedes.
Contudo, grandes estudiosos contemporâneos das relações internacionais

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Licenciando Em Ciência Política - Universidade Eduardo Mondlane -UEM Outubro 2014
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procuram também explicar, porque os Estados recorrem a guerra uns com os


outros, embora estudam também as relações comerciais entre os Estados.

Os estudiosos da política comparada concentram-se na política doméstica,


enquanto que os estudiosos das relações internacionais concentram-se no
estudos da política externa entre os Estados.

Não obstante, nos finais do século XX, esta abordagem evidenciou uma
mudança, por um lado, muitos estudiosos das RI reconhecem que o que ocorre
dentro dos Estados pode determinar o fenómeno de guerra ou paz. Por exemplo
será que teria havido a II GM se Hitler não tivesse sido eleito em 1932?

Os comparativistas também reconhecem o grande impacto que as RI tem sobre


quase em todos países do mundo. A guerra ou o início para a guerra
geralmente influencia a política doméstica, tanto como o comércio externo.

Existem uma conexão íntima entre as RI e a política doméstica.

Tipos de Regimes

Embora, os comparativistas, pensem sobre um conjunto de questões, estão


intrinsecamente interessados com as origens e o impacto dos diferentes tipos
de governos, ou seja, “tipos de regimes”. Deste modo, se depreendemos que
existe diferentes tipos de ordens políticas no mundo, quais são as suas
principais características, e porque aparecem, onde e quando?

O que é democracia e que não é? A classificação dos países em termos dos


tipos de regime e intrínseco. Muitos comparativistas não simplesmente aceitam
o termo (democracia) pelo facto das suas instituições serem democráticas. Mas,
eles operam dentro de um conjunto de definições da democracia que contem
certos elementos: eleições competitivas, eleições multipartidárias, liberdade de
expressão e de reunião, estado de direito, que muitos comparativistas exigem
para que um país seja considerado ou classificado democrático.

Analogamente, quando os comparativistas classificam um país como


comunista, geralmente querem dizer que este país é governado por um partido
comunista que busca transformar a sociedade que governa de acordo com as
suas doutrinas ideológicas, Marxistas-Leninistas. Na verdade os países nunca
são perfeitamente democráticos, islamistas, fascistas, comunistas, etc. As
democracias as vezes violam as suas leis ou os processos eleitorais que são não
nem livres nem justas. Portanto, não faz sentido categorizar um país como
democrático se inibe a liberdade de expressão ou falsifica os resultados
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eleitorais. É deste modo que podemos entender porque um certo tipo de regime
existe num contexto e não no outro.

Instrumentos de análise, interesses, identidade e instituições2.

Os comparativistas geralmente discordam na forma como avaliam as condições


que produzem os tipos de regimes políticos em questão.

O primeiro grupo dos comparativistas defende que o que interessa é


primariamente o interesse material. Os indivíduos são actores
racionais/calculistas. Reconhecem politicamente quando servem seus
interesses e apoiam um tipo de regime que maximiza seus interesses/gamhos.
São racionais dado que minimizam suas perdas e maximizam os ganhos
(custo/beneficio). Nesta perspectiva para se compreender a política de um dado
país, o que se deve estudar é o interesse material na sociedade e como esses
interesses se estruturam para conquistar o poder.

Os grandes interesses existentes num estado democrático são normalmente


organizados em grupos de interesses, organizações comercias, movimentos
sociais, e partidos políticos, etc.

Por outro lado, o segundo grupo dos comparativistas, advogam que não existe
algo como interesse objectivo foram de um conjunto de valores ou ideias que
definem esses interesses. O que você é, sua identidade, determinam o que você
necessita. Assim, ao invés de se concentrar no interesse material, para
entender a política é crucial concentrar-se na identidade dominante de uma
dada sociedade. A religião e etnicidade são dois elementos-chave que tornam
identidade. Nas democracias, os cientistas políticos tem consistentemente
mostrado que a religião e etnicidade são bons (embora não perfeitos), prevêem
como as pessoas votam e que tipo de políticas preferem/votam. Por exemplo,
nos EUA, os Judeus votam em Democratas enquanto que a maioria dos
baptistas do sul vota nos Republicanos.

O terceiro grupo dos comparativistas defende a ideia de que tanto os interesses


materiais como identidades, não explicam por si mesmos como funciona a
política de determinado país. O que lhes interessa bastante são instituições,
regras autoritativas e procedimentos que estruturam como flui o poder.
Indivíduos podem desejar certo tipo de política (novos cuidados de saúde, por
exemplo) e tem uma identidade que os apoia (pode ser, étnica “sou guardião do

2Segundo Bratton & Van de Walle “instituições é um conjunto de procedimentos políticos, ou


seja, regras do jogo político”
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meu irmão”), mas as regras do jogo político podem ser estruturados na lógica
de uma minoria que pode facilmente bloquear a passagem de tal política.

Portanto, se quiser analisar o funcionamento da política de certo país, deve-se


concentrar nas regras autoritativas do jogo político, isto é, instituições. A vida
política surge com instituições. Democracias tem instituições para eleger
lideres (órgãos de gestão eleitoral), legislativas, judiciárias, executivas, etc.
Instituições como as de eleição dos governantes têm grande impacto na política
de um certo país. Países não democráticos também possuem instituições tais
como: Partido comunista, polícia secreta, etc.

Tal como nas democracias, as instituições, dos países não democráticos


configuram a arena política e influenciam nos tipos de políticas que são
adoptadas.

Estas três vertentes dos estudos determinantes da política (interesses,


identidades e instituições) representam abordagens dominantes da política
comparada. Dão-nos um conjunto dos instrumentos de análise para
compreender algumas questões essenciais da política comparada.

Consideremos a seguinte questão: porque alguns países são democráticos e


outros não? (caso de estudo de PC). Os comparativistas, que dão importância
ao interesse concentrar-se-ão no tamanho da classe média deste país, partindo
do pressuposto de que países pobres têm uma classe média baixa, diminuindo
portanto, as chançes da sustentação da democracia. Comparativistas que
estudam identidades e valores explicam com base da presença ou ausência da
democracia pela robustez dos compromissos da população ao governo
representativo e pela participação democrática. Por fim os institucionalistas,
olham para que tipo de arranjos políticos (presidencialismo, parlamentarismo,
semi-presidencialismo, bicameralismo, etc.), garantem que, eleições, liberdade
de expressão, e regras do jogo continuarão a ser praticadas.

Os comparativistas fornecem-nos instrumentos de análises tais como:


interesses (teoria da escolha racional), identidades (abordagem cultural) e
instituições (institucionalismo), não somente para os determinantes dos tipos
de regimes, isto é, porque alguns países são democráticos e outros não, mas
também, usam estes conceitos para entender porque alguns países tem um
certo tipo de políticas públicas que são implementadas.

Os conceitos/teorias de racionalidade, culturalista e institucionalista podem


ser usados para avaliar um conjunto amplo de temas que os comparativistas
estudam:
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 Porque algumas democracias têm sistemas bipartidários, enquanto


outros possuem sistemas multipartidários?
 Porque que os grupos étnicos minoritários se mobilizam politicamente
em certos países e durante um período mas em outros não?
 Porque algumas pessoas entram na política através de partidos e
eleições, enquanto outros fazem demonstrações nas ruas, protestam ou
mesmo optam pelo terrorismo?

Referência bibliográfica:

KOPSTEIN, Jeffrey & LICHBACH, Mark, “Comparative Politics: Interests,


Identities, and Institutions in a Changing Global Order” in: Comparative
Politics, second edition, Cambridge University Press

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