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Filosofia – 10.

º Ano

Ética de Kant
Kant foi um filósofo alemão que ficou conhecido pelo seu trabalho relativo à ética e
à epistemologia.
Quanto à primeira, o autor considerava que o valor ético de uma ação devia estar
de acordo com a sua intenção/propósito (ética deontológica). Uma boa ação é
aquela que é unicamente motivada pelo cumprimento do dever.
Os deveres prescritos na ética kantiana não nos indicam como agir em
circunstâncias concretas: orientam-nos no que toca ao modo como devemos agir
no geral, dentro de certos limites.
Kant defende que a razão obriga a vontade a agir por motivos a priori , o que faz
sentido tendo em conta que o seu sistema de ética era racionalista. O que isto
implica é que não seja preciso experienciar certos valores (ex: lealdade, justiça) para
ser capaz de obedecer ao dever, quando este os implica.
O homem é livre porque é capaz de, através do imperativo da sua razão,
submeter-se às leis morais que ele próprio estabelece e isto só é-lhe permitido
devido à racionalidade, o que significa que apenas os seres racionais conseguem
ser morais.
À vontade que age apenas determinada pelas leis morais da razão o autor
chama vontade boa. Esta noção é um ideal de moralidade caracterizado pelo
desejo de encontrar o bem absoluto.
Kant distingue duas formas de realizar o dever moral com o intuito de esclarecer a
moralidade de cada uma. A ação por dever é aquela que é praticada apenas com
a motivação de que é o nosso dever agir de determinada maneira. Neste caso, o
agente não tem qualquer interesse terceiro. O autor considera estas ações as únicas
que são moralmente corretas. Por outro lado, as ações conforme o dever
limitam-se a coincidir com o que o dever manda, podendo ter qualquer outro
interesse que não seja o cumprimento do mesmo. Por esse motivo, estas ações
são consideradas imorais.
Kant introduz ainda a noção de imperativo categórico. Um imperativo é um
mandamento e este é categórico porque, ao contrário dos hipotéticos, não deve
ser seguido com o intuito de alcançar uma recompensa. O imperativo categórico
impõem-se racionalmente como uma lei absoluta. O autor faz duas formulações
do mesmo.

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A primeira formulação, e a mais conhecida, é:


“Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne
lei universal.”

Segundo esta lei, ao agir, devemos fazer o seguinte:


1. Identificar a máxima que estamos a seguir ao fazer a ação;

2. Ponderar se a tal máxima é universalizável (se podemos querer que se


torne universal);
3. Realizar, ou não, a ação com base na conclusão obtida.

Ora, de acordo com esta formulação, mentir é sempre incorreto. A máxima por
trás desta ação é “é possível efetuar uma falsa promessa se isso nos permitir
obter um fim desejado”. Ao universalizar esta máxima, afirmamos que todos
podem mentir se isso lhes permitir atingir um objetivo. Kant considera que nenhum
ser racional poderia eleger esta máxima como princípio universal de ação, pois
isso iria destruir todo o edifício de confiança sobre o qual assentam as relações
sociais. Existirá também a contradição lógica que é implicada pelo conceito de
mentir quando toda a gente mente (perderá o sentido).
A segunda formulação é:
“Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de
qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio.”

Tratar uma pessoa como um mero meio é usá-la como um objeto que tem valor
para nós apenas na medida em que nos permite alcançar aquilo que queremos
verdadeiramente. Repare-se que Kant diz “simplesmente como um meio”, pois
existem situações em que as pessoas são usadas como meios sem que haja
imoralidades. Por exemplo, quando nos prestam um serviço, só as estamos a usar
como meio para alcançar algo. Porém, o capitalismo acredita que não existe aqui
instrumentalização da pessoa porque recebe dinheiro e se mantém uma pessoa
racional.
O homem tem um valor intrínseco que lhe é dado pela sua racionalidade.
Segundo Kant, para que a ideia de que “o homem é um fim em si mesmo” se
imponha à vontade, é necessário considerar os fins de cada homem igualmente
importantes e bons.

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As principais críticas à ética de Kant são:


1. Não resolve conflitos entre deveres – Tem dificuldades em resolver dilemas
em que somos obrigados a agir contra o dever seja qual for a nossa escolha
(exemplo da mentira por boa causa).
2. Desculpa a negligência bem-intencionada – Ignora as consequências das
ações (exemplo de um comandante de avião interpretar mal uma situação e,
cheio de boas intenções para salvar as pessoas, toma uma decisão que leva à
morte de todos). As consequências também deviam ter um papel nos juízos
éticos.
3. Ignora o papel das emoções na moralidade – Kant considera irrelevante os
aspetos emocionais das ações. Para ele, quando somos motivados para fazer
uma determinada ação por pena ou solidariedade, por exemplo, não estamos
a seguir unicamente o dever, pelo que não é uma boa ação.

Exame de 1998
1 – Explique de que modo é tratada a temática no texto. (400 palavras)

Exame de 2000
1 – Explique o que o autor quer dizer com a expressão “Reino dos Fins”.
2 – Exponha a relevância dessa expressão na obra.

Exame de 2001
1 – Explique, explicando a sua relevância para a obra, o conceito de dever.

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Exame de 2003

1 – Esclareça, tendo em conta o seu valor na obra, em que consiste o valor moral da ação
praticada por dever.

Exame de 2004

Exame de 2007
1. Alguém decide doar anonimamente toda a sua fortuna à UNICEF, porque encontra
grande alegria no alívio do sofrimento das crianças dos países pobres.
1.1. De acordo com Kant, a ação dessa pessoa é moralmente boa? Justifique.

Exames de 2012

1. Kant defende que a ação moral é determinada


(A) pela inclinação e pela boa vontade.
(B) pelo exemplo e pelo sentimento.
(C) pela razão e pelo dever.
(D) pelo bem-estar e pela felicidade

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2. Para Kant, a lei «Age de modo que a tua regra de conduta possa ser adotada como lei
por todos os seres racionais» significa que

(A) os seres racionais estão submetidos a leis objetivas.


(B) as ações morais são avaliadas segundo as leis vigentes.
(C) as ações morais são avaliadas pelas suas consequências.
(D) os seres racionais estão submetidos às suas emoções.

3. Explique, a partir do exemplo do texto, por que razão o ato de mentir nunca é
moralmente permissível, segundo Kant.

4. Segundo Kant, o princípio da felicidade


(A) prescreve regras universais, porque todas as pessoas as podem seguir.
(B) é contrário à moral, porque torna as pessoas egoístas.
(C) é um princípio ético que a todos impõe a beatitude.
(D) pode fornecer regras, mas não uma lei moral.

5. O texto de Kant refere-se implicitamente ao imperativo categórico quando menciona


(A) as máximas da ação.
(B) as leis da vontade.
(C) regras em média corretas.
(D) o princípio da felicidade.

Exame de 2013

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1. A partir do texto, mostre por que razão, para Kant, a ação com valor moral se
fundamenta no imperativo categórico e não em imperativos hipotéticos.

2. Será que, para Kant, há deveres morais absolutos?

Exames de 2014

1. Compare, a partir do texto, a perspetiva de Kant com a de Mill relativamente àquilo que
determina o valor moral da ação.

2. Distinga, partindo do exemplo dado por Kant, agir por dever de agir em conformidade
com o dever.

3. Explique, de acordo com Kant, a relação entre autonomia e boa vontade.

4. Justifique, a partir do texto, que fazer falsas promessas é imoral, segundo Kant.

Exames de 2015

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1. Haverá alguma circunstância em que seja moralmente aceitável matar uma pessoa
inocente, sem o seu consentimento, para salvar a vida de outras cinco pessoas? Apresente
a resposta que Kant daria à questão anterior.

2. «Não mintas se queres que acreditem em ti quando dizes a verdade.» O imperativo


anterior é hipotético ou categórico? Justifique a sua resposta, distinguindo os dois tipos de
imperativo.

Exames de 2016

1. Explique por que razão, segundo Kant, «vontade livre e vontade submetida a leis morais
são uma e a mesma coisa».
2. De acordo com a ética de Kant, o motivo moralmente válido para honrar compromissos
é:
(A) o interesse dos envolvidos.
(B) o benefício social.
(C) o dever de o fazer.
(D) a simpatia pelos envolvidos.

3. Segundo Kant, o imperativo categórico pode ser formulado do seguinte modo: age
apenas segundo uma máxima tal que
(A) ela se torne uma lei universal.
(B) ela se torne um hábito para ti.
(C) possas ao mesmo tempo querer que ela se torne um hábito para ti.
(D) possas ao mesmo tempo querer que ela se torne uma lei universal.

4. Kant consideraria que uma pessoa que, motivada unicamente pelo sentimento de pena,
ajudasse uma criança perdida na praia a encontrar os seus pais
(A) praticaria uma ação com valor moral.
(B) agiria em conformidade com o dever.
(C) praticaria uma ação imoral.
(D) agiria por dever

5. A ética de Kant pode ser criticada por


(A) não defender princípios morais universalizáveis.
(B) considerar que as pessoas só devem ser tomadas como fins e nunca como meios.

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(C) não dar qualquer importância aos motivos dos agentes.


(D) considerar que as ações motivadas apenas por compaixão não têm valor moral.

Exames de 2017

1. Por que razão Kant afirma que o tipo de ação descrito no texto anterior não tem valor
moral?

2. Segundo Kant, a máxima de que devemos diminuir os outros para ver reconhecida a
nossa superioridade não está de acordo com o imperativo categórico, tal como é
apresentado na fórmula da lei universal, porque:
(A) a sua adoção por todos os agentes teria consequências negativas.
(B) não tem em conta o interesse próprio de todos os agentes.
(C) a sua adoção universal anularia o nosso sentimento de igualdade.
(D) não é possível universalizá-la sem que ela se anule a si mesma.

6. De acordo com Kant, uma pessoa que, motivada pela obediência a um mandamento da
religião que professa, dá assistência a quem vive numa situação de pobreza
(A) não tem, neste caso, uma vontade autónoma.
(B) age, neste caso, por respeito à lei moral.
(C) age, neste caso, apenas por dever.
(D) é uma pessoa que, neste caso, se autodetermina.

7. Mostre como se poderia usar a fórmula do imperativo categórico apresentada para


condenar a mentira.

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