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ANÁLISE DE CASO APLICANDO OS DIVERSOS

PRINCÍPIOS DA ÉTICA

Resumo

De modo a ter uma maior percepção da ética em alguns casos que


ocorrem no dia a dia, vai ser analisado um caso inserido nos
princípios de beneficência e autonomia de modo a compreender ou
tentar compreender melhor esta temática. Foi escolhido como caso
o tema de um livro de Jodi Picoult intitulado “ Para a minha irmã”,
em que existe a polémica de o nascimento de uma das filhas de um
casal, ter sido cuidadosamente planeado e com o único propósito
de curar a sua irmã Kate que sofre de uma leucemia promielocítica
aguda. A Ana é uma dadora alogeneica (totalmente compatível) e
farta de servir de colheita humana sempre que a irmã precisa,
decidiu processar os seus pais apelando pelo direito ao seu próprio
corpo.

1. Introdução
A psicologia é uma área do conhecimento que abrange o desenvolvimento,
comportamento, crenças e sentimentos do ser humano. Para Clotet (2003), a bioética
é uma área da ciência interdisciplinar que tem como principal objectivo estudar os
aspectos éticos relacionados à vida, nas suas múltiplas possibilidades.

Os princípios básicos que fundamentam as reflexões éticas, no processo de tomada de


decisão da conduta terapêutica, inter-relacionam-se de forma dinâmica, posto que
nenhum é absoluto, devendo ser moderados entre si de forma que, isoladamente,
nenhum tem o poder de fundamentar a melhor opção terapêutica numa dada
situação. São eles: autonomia; beneficência; não-maleficência e justiça.
Beneficência

O princípio da beneficência significa actuar em favor do bem-estar ou em benefício de


outrem, evitar ou aliviar o mal e o dano. A beneficência propõe que os benefícios se
tornem maiores e os prejuízos menores. Isso salienta a necessidade de pesquisas bem
estruturadas, que não tragam riscos ao bem-estar dos sujeitos. O princípio da justiça
entende que não se pode distribuir beneficio de forma desigual na pratica da pesquisa,
isto é, não se pode gerar melhoramentos de qualquer espécie para alguns e não para
outros. Este princípio direcciona as considerações éticas dos profissionais de saúde em
algumas situações em que a autonomia dos pacientes se acha comprometida, cabendo
a terceiros – familiares ou os profissionais de saúde, sua aplicação a fim de evitar que
causem danos a si próprios. Neste caso são responsabilidades importantes da
beneficência: 1) o respeito à autonomia dos pacientes, particularmente buscando
descobrir como desejam ser auxiliadas (o princípio do respeito à autonomia modera o
da beneficência); 2) certificar-se que a terapêutica não causará danos (o princípio da
não-maleficência modera o da beneficência); 3) levar em consideração as necessidades
e os direitos dos pacientes (o princípio da justiça modera o da beneficência).

Autonomia

Autonomia ou autodeterminação é a liberdade de uma pessoa agir conforme seus


valores, prioridades, desejos e crenças próprias. Na área da saúde, reconhecer que os
indivíduos são seres livres e autónomos para determinarem seu próprio curso de acção
implica em oferecer alternativas terapêuticas, explicitar os riscos e benefícios
inerentes à cada uma delas, certificar-se de que os pacientes tenham compreendido
claramente todas as informações prestadas e respeitar a sua decisão final. O mesmo se
aplica aos indivíduos que se encontram impedidos de decidir por si mesmos, como as
crianças ou aqueles em coma, onde o profissional deve prestar informações claras aos
seus responsáveis, respeitando as decisões que forem tomadas.
De acordo com Medeiros (2002), a possibilidade de escolha é o alicerce da autonomia.
Para que haja uma acção autónoma, é preciso que existam alternativas de acção, pois
somente desta maneira o sujeito poderá escolher o que considera melhor para si.
Assim, para que a pessoa possa optar por aquilo que acredita ser o melhor para si, é
preciso que ela tenha sido esclarecida acerca da situação, das alternativas de escolha,
das implicações, benefícios e possíveis consequências. A evolução das relações entre
pacientes e profissionais de saúde é uma conquista relativamente recente e a
aceitação de que o paciente tem o direito legal e ético de decidir o que considera
melhor para si, incluindo consentir ou recusar um tratamento que lhe é proposto, à luz
de seus valores, crenças e interesses pessoais, sustenta-se no consentimento livre e
esclarecido.
Não-Maleficência

Implica em não causar dano, inclui-se na obrigação dos profissionais de saúde de não
provocar nenhum mal ou dano aos clientes. Este princípio é particularmente
importante na medida em que as acções terapêuticas que visam o benefício do
paciente podem implicar riscos de danos, às vezes inevitáveis, que devem ser
analisados no contexto do respeito ao princípio da autonomia. Insere-se aqui o
compromisso ético de evitar causar danos e sofrimentos desnecessários aos pacientes,
ao longo do curso do tratamento instituído.

Justiça

Implica no direito das pessoas terem oportunidade de acesso aos cuidados de saúde
de que necessitam de forma igual. Este principio afecta o conceito de imparcialidade,
ou seja, acesso do paciente a uma terapêutica adequada e distribuição igualitária dos
recursos disponíveis. Adicionalmente o princípio de justiça estabelece limites éticos em
relação à autonomia do indivíduo, isto é, seus limites serão determinados pelo
respeito à dignidade e liberdade de outrem ou da colectividade, o que significa que
uma decisão ou acto pessoal, ainda que autónomo, não deve causar prejuízo ou dano
à outros ou à saúde pública, cabendo exclusivamente ao Poder Legislativo, em nome
da sociedade, estabelecer os limites legais ao princípio da autonomia do indivíduo.

De acordo com o Conselho de Organizações Internacionais de Ciências Médica, toda


pesquisa com seres humanos deve ser feita de acordo com os aspectos éticos básicos.
Os princípios éticos podem ser aplicados de diferentes formas de acordo com o caso a
que se propõem. Seja na medicina, na psicologia ou em qualquer outra área, não se
pode perder a ideia de respeito ao ser humano. Este parecer contempla o conceito de
autonomia, acreditando que cada pessoa tem condições e o direito de tomar suas
decisões, a não ser por uma diminuição da capacidade de autonomia, caso das crianças
ainda dependentes dos pais, bem como de outras pessoas com capacidades
diminuídas como no caso de deficiências mentais.

2. Desenvolvimento do caso
O caso escolhido (que é o tema do livro da autora Jodi Pilcout intitulado “Para a minha
irmã”) embora seja ficção, enquadra-se perfeitamente numa realidade vivida por uma
família que vive na agonia de ter uma das filhas (Kate) com leucemia promielocítica
aguda, que foi diagnosticada aos 2 anos de idade. Como a Kate precisava de um
transplante de medula e o risco era muito elevado se fosse um dador não parental, os
pais de kate decidiram ter um filho geneticamente programado de modo a que seja
compatível com a kate, a Anna. Primeiramente o sangue do cordão umbilical da Anna
foi usado como transplante de medula. No entanto, depois de algumas recidivas a
Anna doou linfocitos, granulocitos, glóbulos vermelhos, chegando então a uma
colheita de medula óssea da propia Anna. Passados 13 anos e depois de muitos
tratamentos e recidivas, a Kate necessita de um transplante de rim que mais uma vez
seria doado pela Anna. No entanto, a Anna ao atingir alguma maturidade e cansada de
servir de colheita para salvar a irmã, decide processar os pais apelando pelo direito ao
seu corpo e pela recusa de uma doação que serviria apenas para prolongar a vida da
kate e não para cura-la.

Neste caso podemos verificar que existem aspectos éticos que envolvem o bem-estar
de um doente e a autonomia de um doador saudável. De modo a ser mais explícito vão
ser analisados diversos aspectos em separado e assim obter uma análise detalhada de
cada princípio.

Primeiramente verifica-se que o facto de Anna não se tratar de uma doente os seu
benefícios são suprimidos perante as necessidades da sua irmã que é uma doente
oncológica. Neste primeiro aspecto verifica-se que o princípio de beneficência da Anna
não é cumprido, uma vez que o bem-estar da mesma não é garantido, verificando-se
também que o princípio da justiça não é aplicado pois não há uma distribuição
equitativa do benefício. Neste caso embora haja uma diferenciação entre doente e
doador, ambos os casos devem ser analisados independentemente um do outro pela
comissão de ética, de modo a estudar-se a situação de doente e de doador, para assim
as necessidades ou bem-estar de um não suprimir a necessidade do outro. Embora a
Anna não seja doente deve avaliar-se os riscos das intervenções as quais será
submetida como doadora de modo a manter a integridade física e psicológica da
mesma.

Outro aspecto que gera controvérsia neste caso é o princípio de autonomia. Este
princípio baseia-se no consentimento e livre vontade do indivíduo. No entanto a
capacidade de autonomia é diminuída quando aplicado em crianças dependentes dos
pais, como é o caso da Anna. A Anna ao longo da sua vida submeteu-se a diversos
procedimentos médicos em prol das necessidades de sua irmã. Depois de tantos
procedimentos que se revelaram insuficientes para curar a sua irmã ao longo de 13
anos de vida, Anna revela a sua opção de negar a doação de um rim à sua irmã, que
seria o procedimento a seguir tomado par garantir a sobrevivência da mesma. Embora
os pais de Anna tenham conhecimento desta sua decisão, estes decidem na mesma
recorrer ao transplante, mesmo que a vontade da doadora não seja essa. Nesta
situação verifica-se que existe a problemática pelo facto de Anna ser menor de idade
ter de sujeitar-se às decisões dos pais, no entanto, esta já atingiu alguma maturidade
que a faz medir os riscos e avaliar a situação tendo conhecimento das consequências.
Embora esteja estabelecido que um menor de idade depende da supervisão e
coerência dos pais, neste caso esse poder parental pode ser prejudicial para o bem-
estar da criança em questão. Temos de ter em conta que no caso de uma doação o
doador (independente da idade) tem de dar o seu consentimento, no entanto, quando
se trata de uma criança essa decisão pode ser coagida pelo poder parental, podendo-
se então não se ter tido em consideração o desejo do menor. Neste tipo de situação
em que um menor é sujeito a este tipo de intervenções em prol da beneficência do
outro, a criança deve ser seguida por um elemento fora no núcleo familiar com
formação psicológica de modo a que a criança compreenda os riscos envolvidos e a sua
decisão não seja influenciada por outrem. Assim o princípio de autonomia não é
negligenciado pelo facto de se tratar de um menor.

Neste caso especifico de doação de órgãos, o legal e o moral não se encontram


equilibrados. Embora o poder legal de decidir se a Anna é sujeita a uma intervenção de
modo a salvar a irmã dependa dos pais, não é ético que a vontade da Anna não seja
tida em conta na tomada da decisão. Embora a vida da irmã dependa desta
intervenção, os pais devem exercer o seu poder parental em ambos os casos de
doente e doador de um modo coerente, de modo a não ser infringido nenhum
princípio ético em prol da necessidade de uma das filhas.
3. Bibliografia
[1] Calvetti, P., Ludwig, M., Redivo,L., Menegat, C., Muller, M., A bioetica na pesquisa em
psicologia, www.psicologia.pt

[2] Hutz, C., A ética na produção do conhecimento em psicologia, Instituto de psicologia,


Universidade Federal do Rio Grande do sul

[3] Picoult, J., Para a minha irmã. Livraria Civilização Editora.2006, 408 pág.

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