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FILOSOFIA

Unidade 1 – A ação Humana

Distinção de Fazer, Agir e Acontecer


 O que fazemos inconscientemente: sonhar, ressonar;
 O que fazemos conscientemente: respirar, bocejar e tossir;
 O que nos acontece (acontecimentos): tropeçar, cair, ter um acidente;
 São todos atividades involuntárias pois o autor não tem decisão nessas atividades;

Ação
 É um ato intencional, consciente, voluntário, livre e responsável que foi praticada por um agente;
 É um acontecimento pois é algo que acontece num determinado lugar;
 Assim todas as ações são acontecimentos mas nem todos os acontecimentos são ações;
 Para que um acontecimento seja ação é necessário um agente que tem vontade de a praticar.

Rede Conceptual da ação


 Agente – É o sujeito da ação, ou seja é aquele que pratica a ação;
 Consciência – É a perceção de si como autor da ação;
 Intenção – É o propósito ou finalidade da ação;
 Motivo – É a razão que justifica a ação;
 Deliberação – É o ato de julgar o mais conveniente;
 Decisão – É a capacidade de opção e de vontade do agente.

Determinismo e liberdade da ação humana


 Sendo a ação humana um ato voluntário, resulta de uma decisão ou escolha do agente, para tomar esta
opção o agente tem recurso à liberdade ou seja possui livre-arbítrio nas suas decisões;
 O livre-arbítrio é a capacidade da vontade humana para decidir em liberdade, isto é optar entre várias
possibilidades.
 O contrário de livre-arbítrio é a sujeição da vontade à lei da causalidade, não tendo a possibilidade de
opção e todas as ações estavam predeterminadas; Esta é a perspetiva do Determinismo;
 O determinismo é uma teoria que defende que todos os acontecimentos estão causalmente
determinados por acontecimentos anteriores e pelas leis da Natureza.

Problema do livre-arbítrio
 Consiste em saber se é possível conciliar 2 crenças:
- A crença de que somos livres e responsáveis pelas nossas ações;
- A crença de que todos os acontecimentos, incluindo as ações, são casualmente determinadas
segundo as leis da natureza;
 Este problema levanta várias questões:
- Podemos ser livres num universo determinista?
- Será a liberdade apenas uma ilusão?
 Como respostas a este problema podemos destacar 2 posições:
- Incompatibilismo (Determinismo radical e Libertismo);
- Compatibilismo (Determinismo Moderado);
Determinismo Radical
 Defende que não temos livre-arbítrio e o determinismo é verdadeiro, sendo a liberdade uma ilusão;
 Todas as nossas escolhas e ações são determinadas por causas anteriores;
 Não podemos ser moralmente responsabilizados pelas nossas ações;
 As nossas escolhas não merecem punição nem elogios pois não podemos escolher como agir, apenas
fazemos o que estamos determinados a fazer;

Determinismo Moderado
 O determinismo é verdadeiro mas não é incompatível com o livre-arbítrio;
 Esta teoria considera possível a conciliação das 2 crenças;
 Defende que somos livres apesar do universo ser determinado;
 Defende que a vontade é livre se não for coagida, isto é, se não for obrigado a fazer alguma coisa, por
exemplo se alguém aponta uma arma ao agente da ação ou se sofrer de uma compulsão psicológica;
 Aceita o determinismo na natureza, considera que todos os acontecimentos estão causalmente
determinados, mas defende que existe espaço para a liberdade e responsabilidade humana;

Libertismo
 O determinismo é falso, apenas existe livre-arbítrio;
 Esta teoria defende de forma radical o livre-arbítrio, considera que todas as nossas escolhas são livres,
não sendo nem causalmente nem aleatoriamente determinadas;
 Afirma que as caraterísticas psicológicas (hábitos, crenças) podem limitar o livre arbítrio mas as
escolhas são sempre livres pois resultam de deliberações racionais (pensar, decidir e analisar);
 As deliberações racionais estão sob o controlo do agente sendo portanto livres;
 Sendo livres, podemos ser responsabilizados pelo que escolhemos fazer.

Unidade 2 – Os valores
Valores
 Os valores são critérios das nossas preferências, agimos em função dos valores que acreditamos;
 Os valores não são coisas, mas sim qualidades que o sujeito atribui às coisas;
 Os valores são sui géneris, são guias de ação;
 São os motivos ou as razões das nossas ações;

Juízos de valor e juízos de facto


Juízos de facto:
 São descritivos, descrevem a realidade de forma objetiva
 São neutros, imparciais e objetivos.
 São verificáveis, podem ser confirmados empiricamente.
 Descreve a realidade sem qualquer apreciação do sujeito.
 Têm valor de verdade, podem ser verdadeiros ou falsos.

Juízos de valor:
 São subjetivos e particulares.
 São pessoais e relativos
 São apreciativos, traduzem as nossas opiniões e apreciações.
 Não tem valor de verdade, não podem ser avaliados como verdadeiros ou falsos.

Os juízos de facto descrevem a realidade, enquanto os juízos de valor avaliam a realidade.


Natureza dos valores
 O problema consiste em saber se os valores são preferências pessoais (subjetivos), padrões culturais
(relativos) ou critérios objetivos;

Conceção objetivista
 Os valores valem por si mesmos, independentemente da apreciação do sujeito;
 O valor reside no objeto e o sujeito apenas tem de reconhecê-lo;
 Os juízos de valor têm valor de verdade, podem ser verdadeiros ou falsos;
 Há verdades morais, objetivas e universais;
 Há práticas que avaliadas de forma racional e imparcial são consideradas objetivamente más em si
mesmas dado que desrespeitam princípios que são reconhecidos como bons por todo o ser racional.
 Exemplos de princípios morais:
- Não matar; Mentir é errado; Roubar é errado; Devemos proteger as crianças.

Conceção subjetivista
 Os valores estão dependentes da apreciação do sujeito, podendo ser individual ou coletiva;
 É o sujeito quem confere valor aos objetos através da valoração, sendo a origem dos valores;
 É uma teoria segundo a qual, o valor de verdade dos juízos de valor depende das crenças, dos
sentimentos e opiniões do sujeito que os emitem;
 Não há verdades morais objetivas e universais;
 Todas as opiniões acerca de assuntos morais devem ser consideradas igualmente boas.

Críticas ao subjetivismo
 O ensino ou transmissão de valores não faria sentido, pois levaria a uma anarquia axiológica
(Desordem valorativa);
 Qualquer posição valorativa seria aceitável;

Relativismo Cultural
 É uma teoria segundo a qual, o valor dos juízos de valor é subjetivo depende do que cada sociedade
acredita ser correto ou incorreto, ou seja o que a maioria de uma sociedade aprova ou desaprova.
 Moralmente falso é aquilo que é socialmente desaprovado.
 Moralmente verdadeiro é aquilo que é socialmente aprovado.
 Defende o respeito e a tolerância por outras culturas.
 Conduz ao isolamento e estagnação

Críticas ao relativismo
 Dificulta o diálogo uma vez que se fecham sobre si próprias.
 Impede que se critiquem práticas ou costumes monstruosos.
 A tolerância defendida pelo relativismo é uma tolerância passiva, dado que consiste numa aceitação
de todas as práticas incluindo aquelas que violam os direitos humanos.
 Qualquer crítica é sinónimo de desrespeito ou discriminação, impedindo assim que se critiquem
práticas ou costumes monstruosos.

Unidade 3 - A dimensão ético-política


Problema da fundamentação da moral
 Consiste em encontrar um critério que permita distinguir uma ação moralmente correta (boa) e uma
ação moralmente incorreta (má).
 As respostas divergem Immanuel Kant, ética deontológica, e Stuart Mill, ética consequencialista;

Ética Kantiana
 É uma ética deontológica pois:
- Faz depender o valor moral da ação, da intenção com que é praticada e não das consequências
que daí resultam;
- Considera haver normas morais absolutas que não admitem o seu incumprimento seja qual
for a circunstância; Ex: matar, roubar, mentir…
- Considera que agir moralmente é cumprir o dever pelo dever, independentemente de qualquer
inclinação sensível, interesse pessoal, desejo ou sentimento.

 Distinção entre 3 tipos de ações


- Ações por dever
 Ações que cumprem o dever apenas porque é correto fazê-lo;
 A intenção de cumprir o dever é uma intenção desinteressada, não estando associada
a nenhuma outra;
 Para Kant este tipo de ações constitui uma ação moralmente boa, e uma ação legal;
 Ex: Não roubar porque é um ato errado.

- Ações conforme o dever


 Ações que cumprem não porque é correto fazê-lo, mas porque daí resulta um benefício
ou satisfação de um interesse pessoal;
 Constitui uma ação legal, mas para Kant não tem valor moral;
 Ex: Não roubar por ter medo de ser apanhado.

- Ações contrárias ao dever


 Ações que violam totalmente o dever;
 É considerada uma ação ilegal e uma ação imoral;
 Ex: Roubar, Matar, Mentir;

- Para Kant o critério da moralidade é então a intenção desinteressada;


- Só as ações por dever são consideradas moralmente corretas;

Diferença entre moralidade e legalidade


 A legalidade expressa a conformidade das ações com as normas, diz respeito às ações conforme o
dever.
 A moralidade não só expressa a conformidade das ações com as normas, mas também o respeito pelo
dever, ou seja pela obediência incondicional ao dever, diz respeito às ações por dever.

Lei moral e imperativo categórico


Lei moral
 É racional, isto é tem origem na razão, na nossa consciência.
 É uma lei formal, isto é ordena “como devemos agir”.
 É incondicional pois devemos cumprir o dever pelo dever, em qualquer circunstância.
 É uma lei universal pois diz nos que devemos agir segundo uma máxima que todos possam adotar.
 Esta lei expressa-se como um imperativo categórico.

Imperativo categórico
 Diz respeito às ações feitas por dever.
 Ordena que sejamos imparciais e desinteressados segundo a máxima.
 MÁXIMA:
- “Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei
universal”.
 Ordena que respeitemos o ser humano como um fim em si mesmo, e não como meio para atingir um
fim.
 Ordena que respeitemos o valor absoluto de cada ser racional.
 Ex: “Roubar é errado”

Imperativo hipotético
 Diz respeito às ações feitas conforme o dever.
 Diz respeito a ações movidas por inclinações sensíveis;
 Não age segundo a máxima, uma vez que as ações não pode ser universalizadas.
 Não respeita o individuo como um fim em si mesmo mas sim como um meio para atingir o fim.
 Ex: “Se queres ser reconhecido, pratica o bem”.

Diferença entre autonomia e heteronomia da vontade


 Autonomia (Vontade Boa)
- É a vontade que cumpre o dever pelo dever;
- É uma vontade puramente racional e que respeita a lei moral;

 Heteronomia
- É a vontade que invoca razões externas ao sujeito inclinações sensíveis (sentimentos);
- É a vontade que cumpre ações conforme o dever;

Críticas à ética de Kant


Kant defende que as normas morais são absolutas e que não devem ser desrespeitadas em nenhuma
circunstância.
 Os críticos de Kant defendem que em algumas circunstâncias, será aceitável desrespeitar as regras, se
daí resultar um bem maior.

Outra crítica feita a Kant reside no facto de, em algumas circunstâncias cumprir uma obrigação moral pode
implicar deixar de cumprir outra, podendo estar em conflito mais que um valor moral.
 A teoria de Kant não saberia responder perante uma situação de conflito, porque proíbe ambas as
possibilidades da ação por se revelarem moralmente incorretas.
 Os críticos consideram então, que a ética de Kant é puramente formal e não contempla situações
concretas.
Ética Stuart Mill
 É uma ética consequencialista, pois as consequências da ação é que determinam se a ação é moralmente
correta ou incorreta.
 A utilidade é o que torna uma ação moralmente valiosa, daí que o princípio da maior felicidade é
também conhecido como princípio da utilidade.
 Só se devem realizar ações que produzam a maior felicidade (sentimento de bem estar e prazer ou
ausência de dor ou sofrimento) daí que a ética de Mill seja conhecida como uma ética Hedonista.
 Todas as atividades humanas tem como finalidade a felicidade e o bem-estar.

Ação moralmente correta


 Ação que tem boas consequências, dadas as circunstâncias melhores que a ação alternativa.
 Uma ação que tem boas consequências é aquela cujo resultado contribui para o aumento de felicidade
do maior número de pessoas envolvidas na ação.
 Ação subordinada ao princípio da utilidade.
- “Age sempre de modo a produzir felicidade para o maior nº de pessoas”.

Ação moralmente incorreta


 Ação que tem más consequências, dadas as circunstâncias, piores que a ação alternativa.
 Uma ação que tem más consequências é aquela cujo resultado não contribui para o aumento de
felicidade do maior número de pessoas envolvidas na ação.
 É uma ação egoísta em que a felicidade do maior número não é tida em conta.
 Ação não subordinada ao princípio da utilidade.

Diferença entre prazeres superiores e inferiores


 A diferença entre os prazeres é meramente qualitativa;
 Prazeres superiores
- Os prazeres espirituais ligados a necessidades intelectuais, sociais e morais entre outros.
- Mais valiosos pois permitem a realização do ser Humano;
- A felicidade exige a satisfação destes prazeres;

 Prazeres inferiores
- Os prazeres ligados às necessidades físicas como beber, comer, provenientes das sensações;
- Não permitem a realização plena do ser Humano;
Normas morais e o princípio da utilidade
 As normas morais estão em vigor e devem ser respeitadas e observadas nas nossas decisões.
 Porém não devem ser seguidas cegamente pois há situações em que será aceitável não as cumprir se
daí resultar a felicidade do maior número de pessoas envolvidas na ação.
 Para Mill não há valores absolutos, assim como não há ações boas em si mesmas, só as consequências
as tornam boas ou más.

Princípio da Imparcialidade
 A ética de Mill não é uma ética egoísta, em que a felicidade individual se sobrepõe à dos outros.
 Para Mill as ações exigem imparcialidade por parte do agente, isto é os interesses do agente não
podem ser mais importantes que os dos restantes envolvidos na ação.
 A ética de Mill é uma forma de altruísmo ético pois procura incutir a solidariedade em todos.

Criticas a Stuart Mill


 Os críticos salientam a dificuldade de quantificar a felicidade e a impossibilidade de prever as
consequências possíveis da ação

 Utilitarismo justifica a prática de ações imorais e injustas


- Permite mentir, roubar ou matar para salvar a vida de alguém, contudo estas práticas são
reprováveis pela consciência moral.

 É excessivamente imparcial
- Não distingue familiares e amigos na promoção da felicidade.
- Contudo parece difícil agir em todas as situações de modo imparcial, pois não nos
comportamos da mesma maneira em relação a familiares e em relação a estranhos.
- Assim o utilitarismo exige demasiado do agente moral.

Resumo:

Immanuel Kant (Teoria deontológica) Stuart Mill (Teoria Consequencialista)

Critério da Moralidade
Intenção desinteressada da ação Consequências da ação

Lei Moral
Imperativo categórico (Máxima) Princípio da Utilidade ou da maior felicidade

Normas morais
Universais e invioláveis Podem ser violadas

Ética, Direito e Política


Ética e a Moral
 Dirigem-se à conduta do Indivíduo e à forma de como devemos viver em sociedade;
 O ser humano é um ser egoísta por natureza e portanto muitos não tem o sentido do dever e da
responsabilidade cívica para com o outro.
 Portanto a ética e a moral não são suficientes para harmonizar a vida em sociedade.
 Para diminuir os conflitos e harmonizar os interesses comuns ou seja alcançar o Bem-estar coletivo.
 Foi necessário criar o Direito e a Política.

Direito e Política
 Conjunto de normas que regulam as relações sociais estabelecendo também as formas de punição;
 A política refere-se à atividade de organização do poder com vista ao equilíbrio social da sociedade.

Normas morais
 Não estão necessariamente codificadas.
 A aceitação e o cumprimento resultam da vontade e da decisão individual.
 A transgressão é punida com remorso e culpa, com a reprovação social e marginalização do indivíduo.
Normas jurídicas
 Apresentam-se sobre a forma de códigos, leis e outras formas oficiais.
 A aceitação e o cumprimento são impostos pelo estado e têm caráter obrigatório.
 As pessoas têm de cumprir as normas, mesmo que não lhes pareçam justas.
 A transgressão é punida com multas, prisão ou pena de morte.

Teoria da justiça- John Rawls


 Como formar uma sociedade justa?
 Rawls defende que a passagem do Estado natural para um Estado social é permitida através de um
contrato social.
 É o acordo entre os indivíduos que livremente e por mútuo acordo cedem o seu poder ao Estado
encarregando-o de fazer e executar as leis necessárias à preservação dos direitos de todos, constituindo
assim a sociedade civil e o Estado
 Para isso é necessária a criação de leis e princípios.
 Esta legislação deveria ser feita numa posição original, sob o efeito do véu da ignorância.
 Deveriam ser adotados 3 princípios: Princípio da liberdade igual; Princípio da igualdade
oportunidades; Princípio da diferença
 Rawls propõem ainda a regra “Maximim”, isto é a distribuição máxima do benefício mínimo.

Posição original
 A posição original é uma situação imaginária de total imparcialidade em que os parceiros são sujeitos
racionais, livres e iguais, colocados sob o efeito de um véu da ignorância.

Véu da ignorância
 É o desconhecimento por parte de cada indivíduo da sua condição social, pessoal e económica, no
momento de estabelecimento do contrato social.
 A vantagem do véu de ignorância é que os indivíduos exijam uma organização de sociedade que seja
a mais vantajosa e a melhor para todos, não inferiorizando qualquer grupo de pessoas.

Princípios da justiça

 Princípio da liberdade igual


- É o que Rawls atribui maior importância
- O estado é quem garante a liberdade igual para todos os cidadãos sem qualquer exceção.
- Assim todos os indivíduos tem direito à liberdade de expressão, de reunião e de escolher a
religião.

 Princípio da igualdade de oportunidades/ Princípio oportunidade justa


- Este princípio consiste em garantir a todos os indivíduos as mesmas oportunidades de acesso
aos vários lugares da sociedade, independentemente da sua cor, género e condição social.
- Desde que possuam as mesmas competências têm as mesmas possibilidades de acesso.

 Princípio da diferença
- Consiste em admitir na sociedade algumas desigualdades económicas e sociais.
- Desde que essas desigualdades possam servir em benefício dos mais desfavorecidos.

Desobediência civil
 É o ato público de natureza política, contrária à lei e não violento, decidido em consciência e praticado
com o objetivo de provocar uma mudança na lei ou na política seguida pelo governo.
 O recurso à desobediência civil é legítimo depois de terem sido esgotados todos os outros meios legais
e distingue-se da objeção de consciência por ser um ato público.

Rawls e o utilitarismo
 Critica o utilitarismo por subordinar a moralidade dos atos à felicidade ou bem-estar global, ignorando
o modo justo ou injusto das ações na promoção dessa felicidade, bem como os direitos do ser humano.
 Exemplo: Numa sociedade utilitarista, cada um de nós poderá ser um infeliz, um escravo ou um
mendigo se de tal condição resultar a felicidade do maior número.

Crítica libertarista de Nozick à teoria de Rawls


 Nozick defende uma concessão minimalista do Estado, isto é o Estado deve apenas garantir a
segurança e a liberdade política, mas não deve interferir na vida económica.
 O estado não pode obrigar ninguém à distribuição de riqueza, deve permitir a generosidade, mas não
pode forçar os mais favorecidos a distribuir aquilo que tem.
 Todo o indivíduo tem direito ao que herdou ou ganhou legitimamente, por isso é imoral que nos
forcem a partilhar com os outros o que adquirimos legitimamente.

Crítica comunitarista de Sandel à teoria de Rawls


 Sandel defende que as escolhas feitas sob o véu da ignorância podem ser imparciais, mas isso não as
torna boas;
 Avaliar as escolhas como boas ou más é uma questão moral e o véu da ignorância coloca as pessoas
anteriores a qualquer conhecimento e situação moral;
 As deliberações e decisões realizadas sob o véu da ignorância na posição original são igualmente
cegas, pois implica que as escolhas sejam feitas tendo em conta o próprio bem e portanto sem qualquer
noção do bem comum.

Unidade 4 – A dimensão estética


A experiência estética
 A estética ocupa-se de todos os problemas e experiências ligados à nossa relação com os objetos, sejam
naturais ou artísticos;
 É uma experiência desinteressada, não estando ao serviço de resultados práticos;
 Ocorre quando temos uma experiência com algo que nos proporciona prazer pela contemplação do
objecto estético;
 O objecto estético
- Pode ser um objecto natural, proveniente da natureza, como o pôr-do-sol;
- Pode ser um objecto artístico, feito pelo artista, como um quadro;
 A arte é entendida como comunicação, pois transmite uma mensagem, sendo por isso transfigurativa,
ou seja interpreta a realidade de diversas formas;
 O artista é portanto o criador da arte e o espectador contempla, aprecia essa mesma arte;

Juízo estético
 Consiste num juízo de valor, tendo por base um objecto estético;
 É denominado também de juízo de gosto;
Subjetivismo estético
 A beleza depende de gostos, preferências e sentimentos pessoais;
 A apreciação de um objecto decorre da sensibilidade do sujeito perante um objeto;
 Só existem critérios subjetivos para avaliar um objeto estético;
 A beleza é considerada um juízo pessoal, estando a sua beleza no sujeito observador e não no objeto;

Objetivismo estético
 A beleza não depende de gostos ou sentimentos pessoais;
 A apreciação de um objeto baseia-se nas características e propriedades dos objetos;
 Existem critérios objetivos que permitem avaliar os objetos estéticos;
 A beleza é considerada um juízo necessário, pois está presente nos próprios objetos e o sujeito apenas
tem de reconhecer essa beleza;

Problemas de definição de arte


 Consiste em saber qual é o critério que permite distinguir o que é arte e o que não é;
 Existem 3 teorias:
- Teoria da arte como imitação;
- Teoria da arte como expressão (teoria expressivista)
- Teoria formalista da arte;

Teoria da arte como imitação


 Está teoria defende que a arte é a imitação da realidade;
 Apenas é considerada arte se apresentar fielmente a realidade;
 Segundo esta conceção a arte é a imitação e reprodução de pessoas, objetos e ações;
 Críticas
- Muitos dos objetos reconhecidos como arte, não se reduzem a imitações da realidade;
- Inferioriza o objeto artístico perante o objeto natural;

Teoria da arte como expressão (teoria expressivista)


 A conceção de arte é definida tendo em conta a expressão de sentimentos;
 Apenas é considerado arte o que produz uma emoção estética comum ao artista e ao espectador;
 O valor da arte reside assim no prazer que proporciona;
 Críticas
- A emoção causada no espectador pode divergir do estado emocional retratado pelo artista;
- A expressão artística é intencional e a expressão emotiva é sobretudo espontânea;

Teoria formalista da arte


 Esta teoria distingue a arte pela sua forma significante;
 Esta forma é que desperta no espectador uma emoção e só assim existe a arte;
 O valor da arte reside nos materiais utilizados, combinação de cores, sons e sentidos;
 Críticas
- Esta teoria parece apoiar-se numa espécie de argumento circular, pois defende que a emoção
estética resulta da forma significante destinada precisamente a despertar essa emoção no
espectador;

Unidade 5 – Argumentação e lógica formal


Lógica
 É uma disciplina da filosofia que se dedica ao estudo dos argumentos;
 Dedica-se ao estudo de leis, princípios e regras a que o pensamento deve obedecer para ser válido;
 A lógica divide-se em duas categorias:
 Lógica formal
- Estuda os argumentos dedutivos bem como as suas condições de validade;
- A validade dos argumentos depende apenas da sua forma.
 Lógica informal
o Estuda os argumentos não dedutivos e as suas condições de validade;
o A validade dos argumentos informais não depende da sua forma lógica mas do conteúdo e
contexto concreto da argumentação.

Proposição
 É uma frase declarativa, com valor de verdade;
 Ter valor de verdade significa que uma proposição pode ser considerada verdadeira ou falsa;
 A verdade é assim uma propriedade exclusiva das proposições;
 Os desejos, pedidos e promessas não são proposições pois não tem valor de verdade.

Argumento
 É a expressão verbal do raciocínio;
 É um conjunto de proposições interligadas entre si para justificar algo que defendemos;
 As proposições que apresentarmos a ideia defendida são as premissas;
 A proposição que contém a ideia defendida tem o nome de conclusão;
 Pode ter 1 ou mais premissas, mas apenas uma conclusão;
 A validade é uma propriedade própria dos argumentos;

Validade dedutiva
 Um argumento dedutivo válido é aquele cuja conclusão é uma consequência necessária das premissas;
 É logicamente impossível ter premissas verdadeiras e uma conclusão falsa;
 É um argumento em que as premissas garantem a conclusão;
 A validade depende apenas da relação lógica entre as proposições do argumento e não do seu valor
de verdade;

Argumento sólido
 Para que um argumento seja sólido tem de obedecer a duas condições:
o Tem de ser válido (relação lógica entre as proposições);
o Tem de ter todas as proposições verdadeiras;

Validade indutiva
 A validade não dedutiva depende do grau de probabilidade das razões apresentadas;
 Num argumento não dedutivo válido, se as premissas são verdadeiras então a conclusão é
provavelmente verdadeira;
 A validade indutiva depende do contexto e conteúdo concreto da argumentação;
 Quanto à validade, os argumentos podem ser fortes ou fracos;

Lógica Aristotélica

Proposição categórica
 Afirma ou nega algo sobre o Sujeito;
 É composto pelo Sujeito, Predicado, Cópula e Quantificador;

Classificação das proposições categóricas


 Quanto à quantidade:
- Universais; Ex. Todos; Nenhuns;
- Particulares; Ex: Alguns; Nem todos;
- As proposições singulares são consideradas proposições universais;
- Exemplo: Platão é um filósofo;

 Quanto à qualidade:
- Afirmativas; Ex. “Jovens são estudiosos”
- Negativas; Ex: “Jovens não são estudiosos”

4 Tipos de proposições categóricas

 Tipo A  Tipo E
- Universal afirmativa - Universal negativa
 Tipo I  Tipo O
- Particular afirmativa - Particular negativa

Distribuição dos termos na proposição


categórica
 O termo sujeito está distribuído, isto é, está tomado em toda a sua extensão, nas proposições
universais do Tipo A e E.
 O termo sujeito não está distribuído, isto é, está tomado parcialmente na sua extensão, nas proposições
particulares do Tipo I e O.
 O termo predicado está distribuído, isto é, está tomado em toda a sua extensão, nas proposições
negativas do Tipo E e O.
 O termo predicado não está distribuído, isto é, está tomado parcialmente na sua extensão, nas
proposições afirmativas do Tipo A e I.
Estrutura do silogismo categórico
 É um argumento dedutivo, formado por 2 premissas (maior e menor) e a conclusão.
 É formado por 3 termos: termo maior, termo menor e termo médio.
 Termo maior
- Consta na premissa maior e é predicado da conclusão;

 Termo menor
- Consta na premissa menor e é sujeito da conclusão;

 Termo médio
- Consta nas 2 premissas e não pode constar na conclusão;

Figura e modo do Silogismo


 O modo do silogismo é dado pelo tipo de proposições que o constituem (Tipo A, E, I, O).
 A figura do silogismo é definida pela posição que o termo médio ocupa nas premissas;

 1ª Figura:
- O termo médio é sujeito na premissa maior e predicado na premissa menor.
 2ª Figura:
- O termo médio é predicado nas duas premissas.
 3ª Figura:
- O termo médio é predicado na premissa maior e sujeito na premissa menor.
 4ª Figura:
- O termo médio é sujeito nas 2 premissas.

Regras do silogismo
 4 dos Termos:
- O termo médio não pode constar na conclusão;
- O termo médio tem de estar distribuído pelo menos uma vez;
- Nenhum termo pode ter maior extensão na conclusão do que nas premissas;
- Um silogismo só pode ter 3 termos, têm de ter o mesmo significado ao longo do silogismo;

 4 das Premissas:
- Duas premissas afirmativas pedem conclusão afirmativa;
- Duas premissas particulares nada se pode concluir;
- Duas premissas negativas nada se pode concluir;
- A conclusão segue sempre a parte mais fraca, isto é se uma premissa é negativa a conclusão
é negativa e se uma premissa é particular, a conclusão é particular;

Falácias do silogismo

 Termo médio não distribuído


 Ilícita maior e ilícita menor
- Violam a regra segundo a qual nenhum termo pode ter maior extensão na conclusão do que nas
premissas;

Unidade 5 – Argumentos não dedutivos e falácias informais


Argumentos não dedutivos
 Argumentos indutivos (induções)  Argumentos por analogia
- Generalização  Argumentos de autoridade
- Previsão

Generalização
 Consiste em atribuir a toda a classe/população o que foi observado em alguns membros dessa classe;
 É um argumento que parte do particular para concluir o geral, sendo a conclusão mais geral do que as
premissas

Previsão
 São argumentos que a partir de um ou vários casos observados se conclui o que vai acontecer no futuro;
Regras para uma boa generalização e previsão
 Partir de casos particulares representativos;
 Não existirem contra exemplos e a amostra deve ser ampla;

Argumento por analogia


 Consiste em partir de certas semelhanças entre 2 realidades e encontrar uma nova semelhança;
 Baseia-se na comparação de 2 realidades;

Regras para uma boa analogia


 As semelhanças devem ser relevantes;
 As diferenças não devem ser significativas;

Argumento por autoridade


 É o argumento que se apoia na opinião de um especialista ou de uma boa autoridade para fazer valer a
sua conclusão;

Regras para uma boa autoridade


 O especialista usado deve ser perito no tema em questão;
 Não pode existir controvérsia entre os especialistas no tema;
 O especialista não pode ter interesses pessoais no tema;

Falácias informais
 Petição de Princípio
- Consiste em assumir como verdadeiro aquilo que se pretende provar;
- Também se pode chamar de argumento circular;
- Ex: O ser humano é inteligente, porque é um ser que possui inteligência;

 Falso dilema
- Consiste em reduzir as opções possíveis a apenas duas, ignorando as restantes alternativas;
- Ex: Ou votas no partido X ou será a desgraça do país;
- Ignora-se a possibilidade de votar noutros partidos;

 Apelo à ignorância
- Consiste em tomar uma proposição como verdadeira apenas porque não se provou a sua
falsidade ou como falsa só porque não se provou que é verdadeira;
- Ex: A alma é imortal, pois até agora ninguém provou que a alma morria com o corpo;

 Ad Hominem
- Comete-se esta falácia quando, em vez de se refutar a tese, ataca-se a pessoa que a defende;
- Ex: A sua tese não tem qualquer valor porque és um ex-presidiário;

 Derrapagem ou Bola de neve


- Comete-se esta falácia quando para refutar uma tese apresenta uma premissa duvidosa e uma
série de consequências inaceitáveis;
- Ex: É péssimo que jogues a dinheiro, se o fizeres vais viciar-te no jogo, desse modo perderás
tudo o que tens e se não quiseres morrer à fome terás de roubar.

 Espantalho ou Boneco de Palha


- O orador em vez de refutar o verdadeiro argumento, ataca uma versão mais simplificada e
deturpada desse argumento, a fim de ser mais fácil refutar a tese;
- Ex: O António defende que devemos reduzir o consumo carne bovina industrializada, o
Manuel refuta dizendo que o António quer que comamos apenas alface;

Unidade 6 – A estrutura do ato de conhecer


Análise fenomenológica do conhecimento
 Sujeito cognoscente (aquele que quer conhecer)
 Objeto cognoscível (aquele que se deixa conhecer)
 Estabelecem entre si uma relação de correlação ou seja não podem trocar de papéis, melhor dizendo
o sujeito é sempre sujeito em relação a um determinado objeto e um objeto é sempre objeto
relativamente a um determinado sujeito.
 O sujeito possui então um papel ativo (obtém conhecimento) e o objeto um papel passivo.
 Para haver conhecimento são necessárias 3 etapas:
- O sujeito “sai de si”, isto é, sai da sua esfera e dirige-se para a esfera do objeto;
- O sujeito “está fora de si”, está na esfera do objeto e recolhe informação sobre o objeto;
- O sujeito “regressa a si” e organiza a informação recolhida e forma a imagem do objeto.

Definição tradicional do conhecimento


 Em que circunstâncias podemos afirmar que sabemos algo?
 Na teoria CVJ (crença verdadeira justificável) Platão defende que para haver conhecimento são
necessárias 3 condições Crença, Verdade e Justificação.
 Crença:
- Todo o conhecimento envolve uma crença, porque quando sabemos algo, acreditamos nisso;
- A crença é uma condição necessária mas não suficiente para o conhecimento;
- Sem crença não há conhecimento, assim saber e acreditar são coisas distintas;
 Verdade:
- Sem verdade não há conhecimento, só podemos conhecer verdades (conhecimento factivo);
- A verdade é uma condição necessária mas não suficiente para o conhecimento;
- Podemos ter uma crença verdadeira e ainda assim não ter conhecimento, pois esta revelou-se
verdadeira por mero acaso;
 Justificação
- Além de verdadeira, a crença tem de ser justificada, para que possa haver conhecimento, assim
tem de haver provas e boas razões que justifiquem a crença;
- A crença verdadeira sem justificação não é conhecimento;
- A justificação é uma condição necessária mas não suficiente para o conhecimento;

Crítica de Gettier à Definição tradicional de conhecimento


 Para Gettier é possível que alguém não possa conhecer mesmo estando reunidas as 3 condições (CVJ),
ou seja as 3 condições são necessárias mas não são suficientes;
 Podem existir crenças verdadeiras justificadas apenas por um golpe de sorte;
 Terá então de ser acrescentada uma quarta condição que assenta numa relação segura entre a crença
justificada e a verdade, que não exista a menor possibilidade de ser falsa;

Fontes de Justificação novas crenças


 Conhecimento a priori:
- Pelo recurso ao pensamento, independente da experiência;
- Universal (válido em toda a parte) e necessário (não poderá ser de outro modo);
- Ex: “Um solteiro não é casado”

 Conhecimento a posteriori:
- Pelo recurso à experiência sensível, depende da observação;
- É um conhecimento empírico e sensorial;
- Particular (depende dos dados observados) e contingente (poderá ser de outra forma);
- Ex: “A casa é vermelha”

Unidade 7 – Problemas do conhecimento


Origem
 De onde retiramos o conhecimento?
 Racionalismo (R. Descartes)
- O conhecimento provém da razão, podendo surgir por intuição ou por dedução;
 Empirismo (D. Hume)
- O conhecimento provém da experiência sensível;

Possibilidade
 É possível encontrar conhecimentos infalivelmente verdadeiros?
 Céticos
- Negam a possibilidade do conhecimento;
- Mostram que as nossas crenças não podem ser justificadas;
 Diferentes opiniões entre os especialistas no assunto;
 Há ilusões perceptíveis, os sentidos são enganadores;
 Regressão infinita - a prova que se apresenta para garantir uma proposição precisa
sempre de uma nova justificação e assim sucessivamente;

 Dogmatismo (R. Descartes)


- Afirma a possibilidade do conhecimento;
- Mostra que as nossas crenças podem ser justificadas;
- Esta justificação é encontrada pela razão;
 Ceticismo mitigado (D. Hume)
- Afirma a possibilidade do conhecimento;
- Mostra que as nossas crenças podem ser justificadas;
- Esta justificação é encontrada pela experiência sensível;

Limites do conhecimento
 Até onde podemos conhecer?
 R. Descartes
- Para Descartes o conhecimento não tem limites;
- A razão quando bem conduzida permite-nos conhecer realidades transcendentes;
- Prova existência de Deus
 D. Hume
- Para Hume o conhecimento tem limites;
- Não podemos conhecer realidades transcendentes, pois a experiência não o permite;

Unidade 8 - O projeto cartesiano

R.Descartes (1596 – 1650)


 Viveu numa época marcada pela dúvida e incerteza, onde nada era certo nem seguro;
 Deveu-se a vários acontecimentos que foram acontecendo
- Passagem do geocentrismo para o heliocentrismo;
- Passagem de mentalidade teocêntrica para uma mentalidade antropocêntrica;

 Descartes sente-se descontente e cheio de dúvidas face ao saber do seu tempo, pois percebe que esse
saber está assente em bases pouco firmes e frágeis, estando os conhecimentos existentes todos
desorganizados;

Objetivo de Descartes
 Fazer uma reforma do conhecimento humano e encontrar um princípio firme a partir do qual seja
possível encontrar outras verdades;
 Esse princípio tem de ser de tal modo evidente que o pensamento não possa dele duvidar;
 Para encontrar esse princípio firme, Descartes traça e organiza um método para orientar a razão na
procura do conhecimento absolutamente verdadeiro é indubitável;
 Destaca desse método a regra da evidência que manda não aceitar como verdade, aquilo que suscite
dúvida ou seja aquilo que não for evidente nem indubitável.

Dúvida Cartesiana
 Tem uma função catártica, distinguir o verdadeiro do falso;
 É uma dúvida metódica e provisória;
- É um meio para atingir a verdade indubitável;
 É uma dúvida hiperbólica;
- Considera como falso tudo aquilo que suscite a mínima dúvida;
 É uma dúvida universal e radical;
- Incide não só no conhecimento geral, como nos fundamentos e raízes desse conhecimento;
 É uma dúvida voluntária;
 É uma dúvida metafísica
- Duvida de realidades transcendentes, como a existência de Deus;
Razões para duvidar
 Argumentos a posteriori
- Sentidos são enganadores;
- Dificuldade em distinguir sonhos e a Realidade;
 Argumentos a priori
- Raciocínios ou demonstrações matemáticas;
- Existência Génio Maligno que se diverte a enganar-nos;

Cógito
 Estando eu a duvidar, é certo que estou a pensar, se eu estou a pensar então eu existo;
 “Eu penso logo existo”
 É a primeira verdade no projeto de Descartes;
 Obtêm-se por intuição de modo racional e à priori;
 É um princípio evidente e indubitável;
 Serve de modelo do conhecimento e fornece o critério de verdade;
 Considera verdade, tudo aquilo que for tão ou mais claro e evidente do que o cógito;

Tipos de Ideias
 Adventícias
- Tem origem na experiência sensível;
- Ex: Barco
 Factícias
- São fabricadas pela nossa imaginação;
- Ex: Sereia
 Inatas
- São ideias que provem da própria razão;
- Ex: Perfeição

Prova da Existência de Deus


 Descobre a ideia de perfeição, começando aqui a prova de Deus;
 Sei que não sou perfeito, pois duvidar de tanta coisa é sinal de imperfeição;
 A ideia de perfeição existe e é uma ideia clara e distinta;
 Essa ideia não pode ser causada por um ser imperfeito, pois só um ser perfeito pode ser a sua causa;
 Deus é perfeito, Bom e existe;
 Deus sendo perfeito, não pode ser enganador, logo todas as ideias claras e distintas são verdadeiras
pois são criadas e garantidas por um ser perfeito, Deus;

Importância de Deus no sistema cartesiano


 É o criador das ideias claras e distintas, como não é enganador estas ideias são verdadeiras;
 Funciona como uma garantia da verdade e o erro humano apenas provém do descontrolo da vontade;

Críticas à teoria cartesiana


 A teoria de Descartes incorre numa falácia de petição de princípio;
 É conhecida também por círculo cartesiano;
 Descartes prova a existência de Deus pelo critério das ideias claras e distintas (perfeição) e depois
tenta justificar este critério apelando a existência de Deus como garantia da veracidade destas ideias
que o sujeito pensante forma;
Unidade 9 – O projeto de David Hume

Impressões
 São atos originários do nosso conhecimento;
 Correspondem às nossas sensações e sentimentos;
 São vivas e fortes;
 Correspondem a dados da experiência atual;
 Referem-se a sensações externas (sentidos) e sentimentos (emoções e desejos);
 São as causas das ideias;

Ideias
 São as imagens pálidas das impressões no pensamento;
 Não existem ideias inatas;
 São as marcas causadas pelas impressões uma vez estas desaparecidas;
 São cópias enfraquecidas da impressão original;
 Dividem-se em ideias simples e em ideias complexas;
 Ideias simples
- São ideias derivadas diretamente das impressões, ou seja dos nossos sentidos;
 Ideias complexas
- São formadas pelo recurso à imaginação, em que o pensamento combina ideias simples e forma
ideias complexas;

Diferença entre impressões e ideias


 A diferença entre impressões e ideias é qualitativa, ou seja difere pela intensidade com que se
apresentam no pensamento;

Relação entre impressões e ideias


 Todos os conteúdos do nosso conhecimento derivam da experiência sensível;
 Uma ideia só é verdadeira se proceder de uma impressão;
 As impressões sensíveis são critério de verdade do conhecimento humano mas também o seu limite;
 Princípio da cópia
- Todas as nossas ideias são cópias das impressões sensíveis;

Tipos de conhecimento
 Questões de facto
- Está um dia de Sol em Lisboa;
- A verdade ou falsidade destas proposições depende dos factos, que podem ser comprovados
pela experiência sensível;
- Constitui um conhecimento a posteriori;

 Relações de ideias
- O quadrado tem quatro lados;
- A verdade ou falsidade destas proposições não depende da experiência sensível;
- Depende do significado dos termos, basta recorrer ao pensamento para saber se as proposições
são falsas ou verdadeiras;
- Constitui um conhecimento a priori;
- Não fornecem conhecimento à cerca do mundo;
Problema da indução / Causalidade
 O conhecimento científico baseia-se na ideia de causalidade, esta leva a questionar a indução
(generalização e indução);
 Para Hume a ideia de causa-efeito não tem correspondente na experiência, podemos no entanto ter
uma impressão da sucessão temporal de 2 acontecimentos;
 Esta impressão não nos mostra que um é a causa do outro, pois a nossa crença nas relações causais
entre as ideias provêm apenas do hábito da repetição das experiências;
 Para Hume o conhecimento científico procede da experiência, sendo qualquer generalização incerta,
pois esta é como um “salto no desconhecido” dado que nada nos garante que o futuro seja igual ao
passado;
 A indução assenta no princípio da uniformidade da natureza, contudo a indução não tem segundo
Hume justificação empírica nem racional, logo não é um procedimento credível;

Críticas a D. Hume
- Para Hume todo o conhecimento deriva da experiência, ficando assim este limitado à
experiência empírica, não permitindo conhecer realidades transcendentes;
- O conhecimento metafisico torna-se impossível, pois não tem fundamento empírico;
- Defende a impossibilidade de justificar o princípio da causalidade em que se baseia por
inferências indutivas por via empírica e racional;
 Substitui a justificação racional pelo hábito;
 Substitui a razão pelos sentidos

Unidade 9 – Conhecimento científico


Conhecimento científico
 É construído, não sendo espontâneo, é um conhecimento quantitativo e não qualitativo;
 Possui um método experimental, seguindo o modelo indutivista constituído pela observação,
hipótese, verificação e elaboração de resultados; Utiliza por vezes o método matemático;
 O seu objectivo, através de leis, fórmulas e teorias, consiste em compreender e explicar relações entre
fenómenos;
 É um conhecimento objetivo e universal sendo então um conhecimento necessário e colectivo;
 É um conhecimento racional, verificado e sistematizado;

Conhecimento vulgar/ senso comum


 Baseia-se em factos da vida quotidiana;
 Não tem método sistemático, pois constitui um processo espontâneo;
 Tem como objectivo a constatação de factos e resolução de problemas quotidianos;
 É um conhecimento particular, subjectivo e relativo a cada individuo;
 É um conhecimento dogmático, aceitando tudo sem questionar;
 É sensitivo, pois tem origem na experiência sensível;
 É mítico e mágico pois não possui uma explicação nem uma prova;

Método indutivista (método tradicional)


 Tem por base um raciocínio indutivo;
 É o método mais antigo e mais utilizado pelas ciências experimentais, empíricas;
 Tem como principal defensor Francis Bacon;

Fases do método
 1ª Observação dos fenómenos
- O cientista faz uma observação neutra, objetiva e imparcial;
- O cientista recolhe todos os dados e regista-os procurando relações entre eles;
- A observação precede a teoria;

 2ª Colocação da hipótese
- É sempre uma tentativa de explicação do problema;
- A hipótese traduz as regularidades observadas durante a análise dos factos;
- É sempre provisória;

 3ª Verificação da hipótese/ Experimentação


- Através da experimentação, que se verifica a hipótese, isto é se as regularidades observadas
se confirmam ou não;

 4ª Generalização – Formulação da lei


- Se a hipótese se confirmar generaliza-se e formula-se uma lei;

Critério da verificabilidade
 Para os indutivistas, o critério que permite distinguir uma teoria científica de uma outra é a
verificabilidade;
 O que determina que uma teoria é científica é o facto de pudermos verificar pela experiência se a
hipótese é verdadeira.

Críticas de Popper ao método indutivista


 Segundo Popper, o problema da demarcação, isto é, o que permite distinguir ciência de não
ciência, não se resolve pela verificabilidade mas sim pela falsificabilidade.
- Popper afirma que o método indutivo não permite provar o carácter universal da hipótese, pois
não é possível extrair uma lei geral, a partir da observação de casos particulares
- Exemplo dos cisnes: Por muitos cisnes brancos que tenhamos observado isso não nos permite
concluir que todos são brancos, pois basta a observação de um único preto para mostrar que a
teoria é falsa.
- Assim conclui-se que não é possível a verificação de uma teoria, pois é impossível observar todos
os casos passados, presentes e futuros.

 A observação não é o ponto de partida do método científico e ainda que o cientista recorra a esta
observação não é completamente neutra e isenta.
- Para Popper quando o cientista observa um problema transporta consigo as suas expectativas e
um conhecimento prévio daquilo que tem de explicar.
- Assim a observação tem por base uma teoria que vai orientar toda a sua pesquisa.

Método de Popper – Falsificacionismo


 Tem por base um raciocínio dedutivo;
 É também denominado de método das conjecturas e refutações;
 É uma adaptação do método hipotético dedutivo;

Fases do método
 1ª Formulação do problema
- O cientista começa pela colocação do problema e não com a observação, pois para Popper a
observação nunca é neutra;
- O problema é um facto polémico, desconhecido que “choca” com as teorias anteriores;

 2ª Observação
- A observação nunca é neutra, pois já tem uma opinião formada e algumas expectativas;

 3ª Hipótese/ Conjetura
- É uma tentativa de explicação do problema e é sempre provisória.
- Corresponde ao momento mais criativo do método e orienta todo o trabalho do cientista.

 4ª Dedução das consequências da hipótese


- O cientista procura prever o que pode acontecer se a sua hipótese ou conjetura for verdadeira.

 5ª Experimentação
- O cientista submete a hipótese a testes de falsificabilidade, isto é, a testes críticos que não
procuram verificar a hipótese mas sim refutá-la.
- Os testes servem para pôr a hipótese à prova.

- Se a hipótese resistir aos testes, não se diz que está verificada ou que é verdadeira, mas que
foi corroborada e resistiu às tentativas de refutação.
- Se não resistir então é declarada falsa e o cientista volta a começar tudo de novo.

Críticas a Popper
 O falsificacionismo não corresponde à prática científica;
- Distorce a natureza da actividade científica;
- Não é aceitável abandonar uma teoria apenas porque foi refutada por um teste experimental;
- O falsificacionismo subestima a importância das confirmações no progresso científico;
 Nem todas as teorias científicas são falsificáveis;

A ciência na perspetiva de Kuhn

Ciência Ciência Novo


Paradigma Anomalia Crise
normal extraordinária Paradigma

 Pré ciência:
- Corresponde à ausência de um paradigma científico.
- Nesta fase não existe ciência, nem comunidade científica organizada.

 Ciência normal:
- Consiste na resolução de problemas dentro de um paradigma, o cientista procura resolver os
problemas utilizando todos os procedimentos próprios do paradigma vigente, tendo o acordo
da comunidade científica.

 Paradigma:
- É o modo/modelo de fazer ciência.
- É um conjunto de procedimentos técnicos que resultam de um acordo entre os cientistas;
- Inclui leis e teorias, instrumentos científicos, métodos e “tipos” de problemas a resolver.

 Anomalia:
- É um enigma técnico ou experimental que não encontra solução no âmbito do paradigma
vigente.
- Quando há uma acumulação de anomalias instala-se um período de crise paradigmática.

 Crise:
- Corresponde a um período de instabilidade em que a confiança no pardigma é abalada.

 Ciência extraordinária:
- Corresponde a um período em que se confrontam novas explicações que são incompatíveis
com os procedimentos do paradigma anterior.

 Revolução científica:
- Carateriza-se pela instauração de um novo paradigma rival do vigente, aceite pela
comunidade científica.
- Por fim retoma-se um período de ciência normal.
- A mudança de paradigma implica uma mudança de conceitos, técnicas e valores.

Incomensurabilidade dos paradigmas


 Significa que não podemos comparar objetivamente os paradigmas, porque são muito diferentes entre
si;
 Não podemos dizer que um paradigma é melhor que outro, pois cada um tem os seus próprios
conceitos, problemas e métodos de observação;
 Por último cada paradigma corresponde a diferentes épocas e procura resolver diferentes anomalias.

Críticas a Kuhn
 Incomensurabilidade dos paradigmas
- Se não podemos comparar objetivamente os paradigmas então nunca podemos dizer que um
está mais próximo da verdade.
- Assim sendo a verdade é relativa a cada paradigma e Kuhn foi considerado um relativista.
 Critérios de escolha do paradigma
- Existe uma intersubjetividade na sua escolha, e por isso a visão de ciência de Kuhn foi
considerada irracional.

Progresso da ciência
 Popper
- A ciência progride por ensaios e erros, conjeturas e refutações procurando uma imagem cada
vez mais objetiva do mundo, cada vez mais adequada e próximas do real;
- A verdade é a meta para a qual a ciência avança, por essa razão apenas podemos mostrar que
uma teoria é verosímil, isto é, a que nos dá uma descrição mais correta da sociedade, mas
nunca completamente correta.
- A ciência não é a posse da verdade, mas o progresso em relação à verdade mediante a
eliminação de erros.
 Kuhn
- Dá-se pela substituição de teorias que resolvem melhor os problemas que vãos surgindo,
segundo critérios objetivos e subjetivos;
- A verdade é definida no interior de cada paradigma por isso não podemos dizer que a mudança
de paradigma nos aproxima da verdade, devido à sua incomensurabilidade;
- O progresso científico não é um processo contínuo e cumulativo em direção a um fim que
queremos conhecer;
- Este progresso tem por base roturas e descontinuidades, associadas à mudança de paradigma.

Objetividade da ciência
 Indutivismo (Sim)
- Através do raciocínio indutivo e da verificação experimental podemos certificar-nos de que
estamos a alargar o nosso conhecimento da realidade que tal como ela é objectivo;

 Popper (Sim)
- Cada vez que falsificamos uma conjetura alargamos a nossa compreensão daquilo que a
realidade objetivamente não é;
- Aproximamos- nos assim progressivamente do modo que ela objetivamente é.

 Kuhn (Não)
- A ciência é uma investigação influenciada não apenas por critérios objetivos mas também por
critérios subjetivos direcionados a modelos explicativos da realidade histórico e culturalmente
contextualizada e não como objetivamente é.
- O conhecimento objetivo não é independente de quem o produz e do contexto em que é
produzido, destacando-se assim a subjetividade inerente ao processo de fazer ciência.

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