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Cultura Corporativa

Mentalidade Ética

ANBIMA

Data: 22/11/2018
Sumário

I. A ética e os grandes filósofos...................................................................................................................... 3


A ética ......................................................................................................................................................... 3
II. Ética e moral no contexto filosófico .......................................................................................................... 5
III. A cultura da ética empresarial no século XXI ........................................................................................ 7
IV. A crise do comportamento humano ..................................................................................................... 9
V. O indivíduo e a prática da ética ............................................................................................................... 11
VI. A ética no dia a dia .............................................................................................................................. 13
VII. Princípios fundamentais para a ética empresarial .............................................................................. 16
Empresas como comunidade .................................................................................................................... 16
Excelência .................................................................................................................................................. 17
Influência................................................................................................................................................... 17
Integridade ................................................................................................................................................ 18
Julgamento ................................................................................................................................................ 19
A preocupação com o todo ....................................................................................................................... 19
VIII. BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................................... 20

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I. A ética e os grandes filósofos

A ética

A ética pode ser entendida como um sinalizador do desenvolvimento histórico e cultural da


humanidade que regula a moral, a filosofia, a religião e a sociedade.

É de extrema importância destacar que a ética está diretamente ligada aos hábitos e costumes, e
esses mudam de acordo com o tempo e a localização. Sendo assim, o que é considerado ético hoje
pode não o ser amanhã e o que é considerado certo em determinado país ou localidade pode não
o ser em outro.

A evolução do conceito de ética é determinada pela mudança dos valores morais e pelas leis
vigentes, ao longo das várias épocas históricas. Podemos voltar no tempo e começarmos a analisar
o conceito de ética na civilização grega; podemos até recuar um pouco mais e perceberemos que
os sistemas filosóficos e teológicos da Grécia tiveram origem no Egito, país no qual escritores gregos
como Tales, Anaxágoras, Sócrates, Platão e Aristóteles estudaram com sábios africanos.

Diante da perspectiva da civilização dominante, concluiremos que houve uma noção de ética na
civilização grega, que evolui até os nossos dias.

A ética na civilização grega tinha uma relação muito estreita com a política, tendo como base a
cidadania e a forma de organização social. Compreendemos que as teorias éticas incidiam sobre
essa relação entre o cidadão e a polis, na qual a conduta do indivíduo determinava o bem-estar

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coletivo. Segundo as correntes filosóficas de Sócrates, Aristóteles e Platão, o ponto em comum é
que o homem deve pôr os seus conhecimentos a serviço da sociedade, de modo que cada um de
seus membros possa ser feliz.

Já na Idade Média, a ética tem seu conceito alterado radicalmente. A Igreja teve a influência de
Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, que defendiam que só o encontro do homem com Deus
lhe permitiria atingir a felicidade. Entre os séculos IV e XIV, a ética passa a ser imposta, confundindo-
se com a religião e a moral, e continua a ser apenas normativa.

Com o Renascimento no final do século XIV, há um regresso ao humanismo da Antiguidade, período


de transformações nas ciências no qual o homem passa a ser o centro do universo. A economia vê
nascer a burguesia, e a ética burguesa assume novos contornos que se pautam por novos valores.
A partir daí, passam a surgir teorias éticas que se afastam dos valores do cristianismo, começando
a abalar os alicerces de uma ética apenas normativa, sólida nos valores da Antiguidade.

Sócrates consagrou-se por delimitar o domínio do estudo que trata das ações humanas, criou um
estilo próprio de pesquisa ética, analítica e argumentativa que tem influência até os dias de hoje.
Platão, discípulo de Sócrates, acreditava que todos os homens estavam em busca da felicidade; no
entanto, sempre se questionava onde estaria esse bem supremo. Como Sócrates, Platão também
teve seus discípulos, entre eles, Aristóteles, pensador que analisava depoimentos sobre a vida das
pessoas e das diferentes cidades gregas. Aristóteles também comparava o ser e o bem, relevando
as diversidades de ambos e enfatizando que cada substância terá o seu ser em busca do seu bem,
para que o homem atinja a felicidade. Mas Aristóteles compreendia que o homem não necessitava
de um único bem supremo; em sua complexidade, necessitava de vários bens, de diversos tipos,
formando um conjunto.

No final do século XVIII, volta-se a destacar a análise da subjetividade com o pensador alemão Kant
(1724 -1804), na busca de uma ética universal, na igualdade entre os homens. Sua filosofia se
chamou filosofia transcendental, por buscar no próprio homem o conhecimento verdadeiro e o agir
livre. Para a igualdade fundamental, Kant necessitaria chegar a uma moral única, racional.

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II. Ética e moral no contexto filosófico

No contexto filosófico, ética e moral possuem diferentes significados. A ética está associada ao
estudo fundamentado dos valores morais que orientam o comportamento humano em sociedade,
enquanto a moral são os costumes, as regras, os tabus e as convenções estabelecidas por cada
sociedade.

Os termos possuem origem etimológica


distinta. A palavra “ética” vem do
grego “ethos”, que significa “modo de ser”
ou “caráter”. Já a palavra “moral” tem origem no termo latino “morales”, que significa “relativo aos
costumes”.

Ética é o estudo dos assuntos morais, do modo de ser e agir dos seres humanos, além dos seus
comportamentos e caráter. A ética na filosofia busca descobrir o que motiva cada indivíduo de agir
de um determinado jeito, além de diferenciar o que significa o bom e o mau, o mal e o bem.

Moral é o conjunto de regras aplicadas no cotidiano e usadas continuamente por cada cidadão.
Essas regras orientam cada indivíduo, norteando as suas ações e os seus julgamentos sobre o que é
moral ou imoral, certo ou errado, bom ou mau.

No sentido prático, a finalidade da ética e da moral é muito semelhante. Ambas são responsáveis
por construir as bases que vão guiar a conduta do homem, determinando o seu caráter, altruísmo
e virtudes, e por ensinar a melhor forma de agir e de se comportar em sociedade.

A ética, para a filosofia clássica, estudava a maneira de buscar a harmonia entre todos os indivíduos,
uma forma de conviver e viver com outras pessoas, de modo que cada um buscasse seus interesses
e todos ficassem satisfeitos.

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Com o crescimento mundial e o início da Revolução Industrial, surgiu a ética na filosofia
contemporânea, que se defronta com uma enorme variedade de tendências morais derivadas do
pluralismo cultural existente. Dentro de uma mesma sociedade, encontramos correntes morais
diferentes, que se formam a partir dos juízos de valores recebidos por cada sujeito em seu ciclo de
convivência. A imparcialidade exigida da ética faz com que nenhuma dessas vertentes morais seja
aceita como a melhor tendência.

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III. A cultura da ética empresarial no século XXI

Até os anos 1950, a ética empresarial, como conceito, ainda não havia se fundado nos estudos
acadêmicos e na linguagem comum da sociedade. Os aspectos morais das atividades econômicas,
quando abordados, giravam em torno de questões trabalhistas. Apenas no final dos anos 1960, as
relações entre economia e sociedade se ampliaram, e assim também se deu com a preocupação
com o direito dos empregados. Surgiram as questões em torno do direito das minorias, das
mulheres, da proteção ambiental, da saúde e da segurança. Não se pode deixar de dizer que o
crescimento de novas tecnologias, dos sistemas de comunicação mundial e da globalização
econômica e cultural também fez com que o interesse pelas questões éticas no campo econômico
aumentasse. Dados os escândalos recentes de corrupção envolvendo as maiores empresas do país,
as reflexões sobre a ética estão aumentando.

Proteger os ativos tangíveis de uma empresa é muito mais


fácil do que proteger seus ativos intangíveis, como sua
credibilidade e reputação. Aquilo que depende da conduta
humana é muito mais complexo. Por isso, a necessidade de
desenvolver a ética dentro das corporações está cada dia mais latente.

A ética pressupõe que todos terão boas condutas, sobretudo quando não estiverem sendo vigiados
e monitorados. Já a lei pune e previne ações através de uma obrigação legal – o dever. Ambas fazem
parte das ferramentas de compliance.

Na década de 1970, o economista Milton Friedman disse que “o negócio dos negócios são os
negócios”, demonstrando uma visão focada no lucro acima de qualquer coisa, sem preocupação
com a maneira pela qual esses negócios são gerados. Felizmente, a sociedade evoluiu muito desde
então, passando a valorizar a transparência e as boas práticas de governança corporativa.

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Não apenas a operação Lava Jato e outras operações nacionais e internacionais, mas também a
atuação dos órgãos reguladores e
autorreguladores têm ilustrado que os processos em curso e as penalidades aplicadas já alteraram
o cálculo de qualquer agente econômico que tenha em mente a violação da confiança pública ou a
quebra do dever fiduciário em busca de ganho privado. Está evidente que os lucros a qualquer
custo não valem mais a pena.

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IV. A crise do comportamento humano

Durante séculos, o homem teve diversas mudanças em relação ao modo de trabalho. Há décadas,
o trabalhador era admitido em uma determinada empresa e ali permanecia até sua aposentadoria.
A empresa era uma espécie de “mãe”, onde seus funcionários poderiam recorrer em caso de
urgência familiar e problemas com os filhos. Fornecia creches, escolas, assistência à saúde, aos
familiares dos funcionários, além de um bom plano de aposentadoria. O trabalhador permanecia
naquela empresa com satisfação e orgulho, trabalhando, em sua maioria, com prazer e motivação.

Atualmente, existe uma disputa acirrada por


uma fatia do mercado consumidor e esse
ritmo de mudança cada vez mais frenético
faz com que as empresas precisem se
adaptar.

Por conseguinte, o trabalhador é obrigado a seguir o mesmo passo, uma vez que, se não consegue
se adaptar, é mandado para fora do mercado de trabalho.

Atualmente, existe uma disputa acirrada por uma fatia do mercado consumidor e esse ritmo de
mudança cada vez mais frenético faz com que as empresas precisem se adaptar. Por conseguinte, o
trabalhador é obrigado a seguir o mesmo passo, uma vez que, se não consegue se adaptar, é
mandado para fora do mercado de trabalho.

Parafraseando Richard Sennett, o mundo do trabalhador atual é um mundo de incertezas, que o


deterioram, corrompem e o fazem ter uma postura de se enganar ao achar que escolhe o rumo de
sua carreira, quando, na verdade, não está em suas mãos o controle dessa situação. Talvez essa

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corrosão de caracteres seja uma consequência inevitável, visto que a instabilidade pretende ser
normal, assim como as ações a curtíssimo prazo, e os laços de confiança e compromisso cada vez
mais diluídos. Não há mais “ações de longo prazo”, o que afrouxa esses laços de confiança e
compromisso e divorcia a vontade do comportamento.

Aliado a isso, ocorre um quase desaparecimento da rotina devido à flexibilidade do trabalho atual,
que atende às demandas do novo capitalismo. O capitalismo contemporâneo é movido por essa
constante mudança e pelas engrenagens da globalização.

O capitalismo contemporâneo exige que se queira sempre mais e mais; ninguém nunca está
satisfeito com o salário, o emprego e a posição social que tem. Assim, não se mexer é sinal de
fracasso, é ser deixado de fora. A pessoa precisa correr o risco para tentar encontrar sua motivação
pessoal, profissional e financeira.

E o que fazemos diante desse cenário? Vale a reflexão sobre o conceito de ética elucidado pelo
pensador Mario Sergio Cortella que define a ética “como o conjunto de valores e princípios que
usamos para responder a três grandes questões da vida: quero, devo e posso? Nem tudo que eu
quero eu posso; nem tudo que eu posso eu devo; e nem tudo que eu devo eu quero”.

Mas quem define isso? Cada um de nós define através de princípios da sociedade, sendo religiosos
ou não, ou seja, através de normatizações.

Há 20 anos, em um auditório, algumas pessoas fumariam e outras não.


Há 10 anos, haveria uma placa: “É proibido fumar”.

Às vezes aparece como norma; por exemplo, quando o uso do cinto de segurança passou a ser
obrigatório no Brasil, muita gente tentava burlar a lei. Hoje, a pessoa entra no carro e coloca o cinto
sem lembrar-se da multa. Isso significa que a ética vai se construindo com essas ações.

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V. O indivíduo e a prática da ética

Para se compreender o mundo dos negócios, faz-se necessário compreender as inter-relações e


como os indivíduos estão encaixados nas organizações. Muitas empresas enfatizam uma visão
totalmente vazia do indivíduo. As organizações não se fazem somente por méritos individuais, mas
por um conjunto de práticas, constituído pela organização coletiva. O sucesso da organização se dá
por aqueles indivíduos que se sentem satisfeitos em fazerem parte dela; esses executam seu
trabalho como parte de seu próprio ser. Importante refletir que, antes de serem indivíduos que
entram em acordo uns com os outros, são membros de famílias e grupos, que sabem o seu lugar e
as suas funções.
No mundo dos negócios, há muitos
outros fatores envolvidos, como a
preocupação com aspectos da vida
familiar e comunitária, o que definirá
as escolhas feitas pelos indivíduos.
Certas escolhas e acordos lhe serão
permitidos ou não, conforme esses
aspectos, e haverá muitas situações
em que negociar será de mau gosto ou
um tabu. O que é isso senão uma
definição de ética?

A concepção de negócios como uma prática terá como alicerce regras e entendimentos básicos,
onde se fica claro que nem tudo vale ou é permitido e há limites para o que os indivíduos podem ou
não fazer.

É importante ressaltar que negócios não envolvem somente as atividades que têm por objetivo
ganhar dinheiro, pois se pode estar em um sem ter como objetivo primordial esse fim. Os negócios
têm por propósito o fornecimento de bens essenciais e desejáveis, a prosperidade e tornar a vida

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mais fácil. Envolve também parceiros, consumidores, não sendo suficientes por si só. Os negócios
devem envolver uma rede de entendimentos e acordos, confiança mútua e transações reais, sendo,
portanto, uma prática.

Os valores pessoais – que são definidos pelas outras organizações das quais os indivíduos fazem
parte, como religiosas ou políticas – irão se destacar quando determinado indivíduo se conflitar com
os valores da organização. Isso geralmente ocorre quando o indivíduo sofre pressão para fazer algo
que considera errado ou antiético. No geral, nas organizações éticas, grande parte de seus valores
coincide com os valores de seus membros, tornando seus objetivos adaptados uns aos outros.

Além dos valores individuais, os valores da sociedade serão os valores dos negócios, da necessidade,
da descoberta, da inovação e da iniciativa pessoal. Os negócios, o modo como esses estimulam a
produtividade e a distribuição de bens por toda a sociedade definirão a própria estrutura e o caráter
dessa sociedade.

É sabido pelos empresários que o estímulo à produtividade, o serviço ao público e o zelo pelos
próprios empregados são a essência dos negócios. Os lucros virão como consequência.

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VI. A ética no dia a dia

Será que você pratica a ética no seu dia a dia? Pense nas situações abaixo e procure refletir sobre o
seu comportamento em cada uma delas.

Para subir na empresa, você apresenta ao seu superior a ideia de outra pessoa?
Nessa situação, você está se apropriando da ideia de outrem. Imagine-se na posição daquele que
tem a ideia roubada: você certamente ficaria muito indignado e não é para menos. Afinal, alguém
em quem se acreditava traiu sua confiança e receberá as glórias indevidamente.

Você ocupa o cargo de direção e usa tal situação para obter vantagens dos pares ou de seus
subordinados?
Cuidado! Se você tem essa atitude, certamente está cometendo abuso de poder. E, dependendo da
forma que tenta obter vantagem, pode até ser acusado de assédio moral.

Você trocou de emprego ou foi demitido e começa a falar das informações a que teve acesso
enquanto estava na empresa?
Cuidado! Se você age dessa forma, certamente está divulgando informações confidenciais,
desrespeitando, assim, as obrigações de confidencialidade assumidas.

Você costuma participar de fofocas?


Muitas vezes ouvimos algo e contamos para outras pessoas. O detalhe é que, na maioria das vezes,
o que falamos é diferente do que ouvimos. Se quem nos ouviu conta para mais alguém, a distorção
vai aumentando. Quando o fato não é uma verdade, isso pode criar um grande problema
atrapalhando, inclusive, o clima organizacional da empresa. Portanto, antes de dizer algo, é preciso
ter certeza de que é verdade. Também não é bom falarmos mal das pessoas. Isso não leva a nada e
certamente prejudicará alguém.

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A empresa acaba de lançar um programa, buscando o fortalecimento da cultura de governança
corporativa. Qual é o seu comportamento?
Você declara que está comprometido com o programa, mas perante os seus subordinados diz “isto
não vai funcionar aqui”. Se você tem essa atitude, não está exercendo padrão de conduta ético e
está “minando” a mudança de cultura da empresa.

Você assume seus erros?


Quando alguém assume que errou, está se dando a chance de acertar em uma próxima vez, já que,
geralmente, aprendemos com nossos erros. Claro que não podemos gastar mais a borracha que o
lápis, errar mais que acertar, mas podemos encarar o erro como uma oportunidade de
aprendizagem. É um grande problema quando não assumimos nossos erros. Às vezes, até deixamos
que outra pessoa seja repreendida indevidamente, e isso também é antiético.

Você pratica a política “conheça seu fornecedor” estabelecida pela sua empresa?
Se a resposta a essa pergunta não foi afirmativa, cuidado: você pode estar demasiadamente
distraído – para não dizer, atrasado – com relação à gestão de riscos e às práticas de due diligence
de terceiros, como forma de proteger a sua empresa de fornecedores “perigosos”.

Tomando conhecimento de que o terceiro contratado para a prestação de serviços de consultoria


não está entregando o “serviço contratado”, mas continua a ser remunerado, qual é a sua atitude?
Você não se envolve, pois a contratação não está diretamente relacionada a você. Se você tem essa
atitude, não está exercendo padrão de conduta ético e pode estar contribuindo para a omissão de
uma possível situação de conflito de interesses, quiçá uma fraude.

Outras atitudes antiéticas que devem ser evitadas:


 Pegar atestados médicos sem estar doente, só para faltar ao trabalho.
 Levar da empresa onde trabalha pequenos objetos como clipes, envelopes, canetas, lápis,
etc., como se isso não fosse apropriação indébita.
 Comercializar os benefícios recebido da empresa, como vale-transporte e vale-refeição.
 Mentir para o cliente sobre um prazo de entrega que sabe que não poderá cumprir.

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Agir corretamente leva a uma carreira longa, respeitada e sólida. Ser ético pode fazer a diferença
entre o seu sucesso e o seu fracasso. Entenda que agir eticamente vai muito além de não roubar ou
não fraudar a empresa.

Nos negócios, a ética passa pelo respeito aos clientes, aos colegas e aos seus líderes. Errar é humano,
mas falhas éticas destroem carreiras e organizações.

Empresas não são apenas entidades jurídicas, são


formadas por pessoas e só existem por causa delas. As
empresas precisam de profissionais que entendem o valor
de suas atitudes e procuram se comportar
adequadamente. A conduta ética hoje em dia tem sido
diferencial para contratações, promoções e até mesmo
demissões. Agir eticamente é um dever pessoal de cada
um de nós enquanto indivíduos e profissionais.

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VII. Princípios fundamentais para a ética empresarial

Apresentando os conceitos de Robert Solomon, seis princípios são fundamentais para definir as
virtudes na ética empresarial. Esses princípios unidos formam uma estrutura integrada em que a
sociedade, seja o indivíduo em si, a própria comunidade ou as empresas, trabalham juntos, não uns
contra os outros.

Os princípios fundamentais são a comunidade, a excelência, a influência, a integridade, o


julgamento e a responsabilidade com o todo. A empresa que se baseia nesses parâmetros traz uma
concepção de ética extraída dos negócios como uma prática contínua e bem-sucedida; a ética
definida por pessoas que trabalham e vivem juntas. As pessoas são éticas em virtude da própria
ação que desempenham, não com base em um padrão externo.

Empresas como comunidade

A comunidade abordada parte do pressuposto que os indivíduos, antes de serem autônomos,


autossuficientes que pensam e determinam o que são, são membros da empresa e, como tal, têm
interesses comuns com a instituição.

Com esse princípio, altera-se o que move as empresas. Ao


invés da motivação somente pelo lucro, as empresas
passam a ser movidas pela vontade coletiva e ambição
de seus empregados. Esses fazem o que podem para se
adaptar, cumprirem suas obrigações e merecerem o
respeito dos outros e de si mesmos.

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Excelência

A excelência indica um senso de missão, um compromisso que vai além do potencial da empresa.
Excelência de como fazer bem e fazer o bem, o que sintetiza as exigências do mercado e da ética.

No mundo dos negócios, pode-se afirmar que a excelência vende, é a chave do sucesso. A excelência
deve ser recompensada, mas não deve buscar a recompensa. Seria a recompensa um incentivo,
uma agradável consequência da excelência.

Apesar das incertezas do mercado, pela prática da ética acredita-se que o melhor produto, serviço
ou ideia vencerá de fato. No entanto, não se deve recompensar apenas os resultados, pois isso
promoveria o aspecto de competição. Não se pode ignorar as virtudes envolvidas em cada esforço.

Influência

O empregado é influenciado pela empresa na qual trabalha, desenvolvendo sua identidade pessoal,
em grande parte, por meio dela.

Pelos princípios da ética, acredita-se que as aspirações e virtudes do indivíduo definem um senso
de propósito coletivo e de bem-estar social. No entanto, importante atentar que as empresas,
mesmo as melhores, não estão livres de tensões e conflitos. Conflitos de lealdade e obrigações
podem ocorrer de forma tão séria que se tornam dilemas éticos, contradições e concepções
contrárias de responsabilidade.

Os indivíduos são influenciados pelo meio em que vivem, pelos grupos dos quais fazem parte;
portanto, as empresas das quais ele fizer parte irão moldar, de certa forma, o que eles pensam a
respeito de si mesmos e o modo como se comportam. Os valores pessoais são também sociais, não
podendo distingui-los totalmente de valores corporativos. Se o indivíduo identifica seus valores com
os da empresa, permanecerá e terá sucesso nela. Ao escolher a empresa, o indivíduo aceita um

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conjunto de obrigações específicas, assume uma lealdade, adota um padrão de excelência e
consciência, muitas vezes, definidos pelo próprio cargo que ocupa.

Integridade

A integridade é de extrema importância para a ética dos negócios, devido aos conflitos de interesses
e do choque de lealdade que ocorrem nas empresas.
Pode-se entender por integridade um complexo de virtudes que formam um caráter coerente, uma
personalidade identificável e confiável. Para tanto, os valores e virtudes do indivíduo devem ser
compatíveis com os da empresa.

Ao escolher uma empresa, o indivíduo, automaticamente, concorda em agir a seu favor, de acordo
com seus interesses, pactuando com suas metas e valores. Ao discordar desses fatores, a
integridade fará com que o empregado aja com desobediência e deslealdade, pedindo a demissão.
Isso não dá à integridade duplo significado, pois ela inclui nosso senso de influência e lealdade, mas
também nosso senso de autonomia moral.

Na organização, a integridade fará com que o empregado cumpra seus papéis e práticas que
definem sua função. Importante citar a integridade pública, definida pela integridade que se espera
dos colegas de trabalho ao agir dizendo a verdade; evitando negociações duvidosas ou ilícitas;
permanecendo leal, mesmo sob pressão; recusando subornos, entre outras atitudes. Nessa
questão, pode-se considerar agir com integridade como ser ético.

A integridade está correlacionada aos próprios padrões do indivíduo, à sua própria autoridade e
pode, até mesmo, em determinadas situações permitir ou exigir que se transgridam algumas regras
em favor da fidelidade a si mesmo. Nesse sentido, distancia-se dos padrões da ética. A falta de
integridade se faz de difícil definição. Parte-se do pressuposto que integridade não é um ato que
possa ser praticado; ou a pessoa tem ou não.

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Além da fidelidade a si mesmo, a integridade deve estar atenta ao respeito para com as outras
pessoas. No mundo dos negócios, a integridade requer saber negociar e fazer concessões, bem
como ter convicção e empenho. Imaginar que o significado de ser íntegro é estar fechado às
influências externas é um erro. A integridade envolve abertura, afeição e flexibilidade, além de
envolver princípios e um senso de sociedade e coragem moral, sendo isso defender os outros como
a si mesmo.

Julgamento

Serve para orientar quando os papéis dos indivíduos se conflitarem ou não houver quaisquer
princípios especiais para auxiliar em uma decisão.

O bom julgamento será aprendido através da experiência, podendo ser estimulado, enfatizado e
praticado. Esse servirá na tomada de decisão que, muitas vezes, é uma tarefa árdua pela falta de
prática ou experiência que os indivíduos têm. Algumas regras são desenvolvidas para facilitar a
tomada de decisão, mas essas, sozinhas, não são suficientes para todos os casos.

A preocupação com o todo

O último princípio diz respeito à preocupação com o todo. O objetivo da ética é cultivar seres
humanos completos, mas há a tendência de separar a vida pessoal dos negócios.

Em oposição à essa tendência, o holismo demonstra a preocupação com o todo e não com as partes
isoladas. Como exemplo de holismo, pode-se perceber a questão da responsabilidade corporativa.
A responsabilidade social, por exemplo, não deve ser vista apenas como uma forma de filantropia
empregada pelas empresas, mas como o objetivo central dessas, pois o propósito real dos negócios
deve ser enriquecer tanto os empresários como a sociedade pela qual eles são responsáveis.

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VIII. BIBLIOGRAFIA

 DUBRIN, A. J. Fundamentos do comportamento organizacional. Trad. James Sunderland


Cook e Martha Malvezzi Leal. São Paulo: Thomson, 2003. 471 p.

 MATTAR NETO, J. A. Filosofia e ética na administração. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 1-34.

 SENNETT, R. A corrosão do caráter: as consequências pessoais do trabalho no novo


capitalismo. Trad. Marcos Santarrita. 9. ed. Rio de Janeiro: Record, 2005. 204 p.

 SINGER, P. Ética prática. Trad. Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 399
p.

 SOLOMON, R. C. Ética e excelência: cooperação e integridade nos negócios. Trad. Maria Luiza
X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. 460 p.

 TRASFERETTI, J. Ética e responsabilidade social. Campinas, SP: Editora Alínea, 2006. 131 p.

 VALLS, A. L. M. O que é ética. 9. ed. São Paulo: Brasiliense, 2000. 83 p.

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Texto
Aline Pousada Reginato

Coordenação do Conteúdo
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