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Um diálogo sobre narrativa e consciência

Como poderia a consciência histórica ser definida a pelo propósito de estudos comparativos? A
consciência histórica denota a forma de compreensão histórica ou uma prescrição para as
aflições? A consciência histórica é essencialmente positiva, contribuindo para compreensão ou
é negativa, ao tirar facilmente o somatório histórico dos outros? Quem é o sujeito do estudo da
consciência histórica, eles estão no passado ou estão conosco aqui no presente? A consciência
seria a memória, pessoal, disseminada e despedaçada ou histórica coligida e coletada de
acordo com normas comunitárias objetivas, seria este o objeto de intervenções pedagógicas?

O dialogo a seguir, iniciado por Roger Simon e conduzido principalmente com Jörn
Rüsen, seguido da primeira rodada de trabalhos apresentados no simpósio em agosto de 2001.
Este diálogo incorporou profundamente diferentes abordagens sobre o tema ‘consciência
histórica’. Alem disto esta coleção fornece, aos futuros leitores, significativas questões.

Ambos Simon e Rüsen abordam a consciência histórica como orientação em direção a


uma ação e reflexão moral. Estas abordagens, entretanto, são distintas e divergentes no que diz
respeito à identidade, reconhecimento e narrativas. O trabalho de Simon reflete a tradição
cética francesa filtrado pelos estudos culturais norte americanos. Ele explora a consciência
histórica como sendo um tipo de encontro existencial entre os limites interpretativos dos
conceitos e a narrativa utilizada para entender a vida passada e os eventos. A abordagem de
Rüsen, em contraposição, reflete mais a tradição empírica enfatizando a necessidade de
quadros conceituais com o qual se discute e quantifica como o passado se torna
significativamente presente. Para Simon a consciência histórica é uma consciência moral que os
vestígios do passado trazem “exigindo algo de nós”. Rüsen também reconhece que o passado
exige algo de nós, mas este algo é a coerência cognitiva e a ação moral formada através das
narrativas interpretada pelos sujeitos em uma das quatro formas (como em seu capítulo neste
volume). A premissa de Rüsen é que nós compreendemos o passado em forma de narrativas.
Através de ‘competências narrativas’, Rüsen postula, a consciência histórica informa a
deliberação moral ligando o passado, presente e futuro em uma realidade percebida. A
competência narrativa traz esta realidade para o foco junto com a obrigação moral, de forma
concomitante. Para cria tipologias de possíveis narrativas interpretativas do passado, como seu
trabalho almeja, pesquisas empíricas podem pedir perguntas como ‘Qual papel a consciência
histórica pratica na vida todos os dias, na política ou em outras esferas? Existem leis
governando este desenvolvimento que são análogas as leis que governam o desenvolvimento
da lógica, moral e outras habilidades cognitivas, particularmente como elas vem sendo
delineadas por Piaget? Onde Rüsen arrefece os estudos sobre a consciência histórica, guiando
conceitos e tipologias, Simon aquece ao questionar as formas institucionalizadas e ritualizadas
de atenção sobre os outros.

Os interesses de Simon sobre a consciência histórica não se baseiam no domínio


cognitivo ou empírico, mas sim na poesia e desempenho social da memória. Como prática
social, comemoração, por exemplo, ligam diretamente o passado ao presente para criar
coerência sobre a heteroglossia e as comunidades a partir da transitoriedade das paixões e
identificações. No dialogo abaixo Simon questiona Rüsen sobre o uso de narrativas, identidade
e reconhecimento como as bases para pensar a consciência histórica. A partir da perspectiva
daqueles influenciados pelo pensamento Francês, pós-estruturalistas e psicanalíticos,
identidade e reconhecimento significam fragmento, ruptura e palimpsesto. Como conceitos,
eles são mais bem definidos como objetos de inquérito do que motivos para investigação.

Como ele menciona no dialogo a seguir, evidência para Simon não é a linha que liga o
passado, o presente e o futuro, mas tem um significado sempre inferior aquilo que realmente
significa. Ele parece afirmar que a narrativa esconde a parcialidade em fantasiar a completude
entre o passado e o presente. Seu trabalho na Universidade de Toronto explora exercícios de
rememoração a partir da insuficiência, tanto, das evidencias quanto as formas de recepção.

Através da ‘historiografia poética’ evidências históricas (partes de narrativas, fotos


partes de diários e outros artefatos do Shoah, por exemplo) são organizados precisamente para
indicar onde a habilidade de narrar falha na explanação dos significados. Esta incompletude
própria necessita de novas práticas de recepção. O tema sobre como as narrativas funcionam
para moldar a cognição e demonstrar veracidade, tem recebido muita atenção nas ciências
humanas e sociais. Isto funcionaria como um tipo de talismã para a comunidade escolar.
Considerada como forma de cognição, a narrativa é o meio de configurar as partes significantes
na melhor compreensão da totalidade. De forma parcial e política o desempenho social, as
lacunas narrativas, ao invés de totalidade, indica onde começa as lições morais quando o meio
(narrativa) não funciona.

SIMON: Em resposta a várias pessoas, eu gostaria de começar com o levantamento de


questões sobre duas coisas: a suficiência da identidade e reconhecimento como base ao falar
sobre consciência histórica ou memória, e dois, a suficiência da narrativa como Jörn aborda em
seu trabalho como sendo um conceito organizador para entender a forma da memória
coletiva...

Eu sinto que nem a identidade ou reconhecimento, nem a narrativa – como conceitos


organizadores para entender a consciência histórica- são suficientes para definir a variedade de
fenômenos que nós potencialmente estamos interessados. Penso que se levantarmos estas
questões particulares como qual é o propósito subjacente da memória e quais são as formas e
modelos em potencial de representação e transmissão, tem muito a ver com questões sobre
esperança, como nós falamos sobre o entendimento da funcionalidade da história, em como
ela pode nos unir como seres humanos. Então este é um tipo de abertura de gambito, eu
imagino.

RÜSEN: Minha questão é simples, você poderia pensar em outra forma de apresentação da
memória que não fosse a narrativa?

SIMON: Sim

RÜSEN: Dê-me um exemplo.

SIMON: A primeira resposta que pedimos para as pessoas que estejam participando de nosso
grupo é em relação a respostas não-narrativas. O argumento é que a tarefa da memória não é
necessariamente desenvolver o domínio sobre um entendimento de um evento que pode ser
transmitido por meio de narrativa. Mas sim, a primeira tarefa de memória é confrontar as
evidências de vida, vividas em outro tempo e espaço com sua própria e tentar vir a entender,
de forma suficiente ou não, a si mesmo em relação a adequação de responder aquelas
evidências. O método justaposto (juxtapatory method) é incondicionalmente não-narrativo
porque tenta manter, na própria estrutura da justaposição, as desagregações, as contradições e
as insuficiências da forma narrativa que são respostas básicas para a história material que as
pessoas são convidadas a debater sobre. O mais importante sobre isto é encontrado de forma
breve e editada no trabalho de Sam. Isto é inacreditavelmente importante em minha
concepção. Sam diz que

Nossa inabilidade de perceber as experiências dos outros é a razão porque o estudo de história é tão crucial.
Para conhecer os outros, se eles vivem do lado contrario ao nosso ou em outro lado do milênio, se faz
necessário a educação de nossa sensibilidade. Quando bem ensinada, a história nos dá prática em fazer. O
que nos permite vir a conhecer os outros é não acreditar em nossa capacidade de conhecê-los, nosso
ceticismo em relação a extraordinária habilidade de dar sentido é o que nos permite construir o mundo a
nossa volta...,

Nossa descrença nestas habilidades...Existe um ponto importante para as práticas de


relembrança que não são suficientemente tratados, com simplicidade, com a noção de criação
e transmissão de narrativas que servem como função de identidade e reconhecimento. Existe
outra maneira de constituir a operação de relembrança que eu acho importante falar sobre e
adicionar na ordem do dia. Esta é minha resposta.

RÜSEN: O que você está dizendo é muito importante para nós todos. Talvez existam aí
elementos trans-narrativos, mas nós precisamos de um conceito. Se não for narrativa, se não
for em um específico momento ou caso a narrativa não seja estruturada temporalmente pela
mente, o que é isto então? Por que é uma descrição simples? O que eu poderia ouvir de você é
que o fato não é que eles (participantes de seu grupo) recusem as narrativas; eles recusam
narrativas com significado! Eles têm o sentimento que o que está estabelecido, formas de
narrar culturalmente estabelecidas, tem sido descriminados em relação a este evento
específico. Mesmo utilizando a palavra ‘evento’ pressupõe a narrativa. Você fala sobre
evidências..., bem, isto é uma metáfora. Um evento é uma linha no curso do tempo, como você
pode entender, se você quer entender, sem tentar colocar o que o evento traz consigo para o
interior da conexão temporal para fazer sentido neste tipo de “estória” (story)?

SEIXAS: Eu acho este ponto muito importante e interessante para seguirmos a diante. Então
porque não termos mais uma contribuição neste sentido.

SIMON: Certo, Primeiramente, Eu estou usando o termo ‘evidência’, na verdade, de forma


técnica, não sendo a linha que vai ao passado, mas a noção de diferença entre a dar significado
e a inabilidade de dar significado para representar o termo. Este é o conceito de evidência de
Derridean/Levinasian A importância de focalizar qualquer conjunto de documentos é para
reconhecer a insuficiência destes documentos em representar as relações adequadas e o que
podemos saber sobre os mesmo. Claro, nós só podemos ter estes documentos como forma de
acessar vidas e outros tempos e espaços. Mas fingir que estes documentos são adequados
àquelas vidas é ingenuidade. É importante para descobrirmos como um está indo ... para
envolver a possibilidade de uma relembrança responsável, dada a divisão entre os sinais e o
que lhe é significado..

Eu quero voltar para questões mais básicas, pois acho que este é um tema em que
nossas questões e interesses fundamentais se diferem em termo de interesse nos conjuntos de
questões ou fenômenos para serem teorizados. A forma como entendo seu trabalho é sobre a
forma em que o conhecimento histórico fica mediado por meio da consciência histórica;
conhecimento histórico não sendo a mesma coisa que a consciência histórica. Consciência
histórica é como, para você, as pessoas mediam em variedade de complexidade como o
passado se torna significativo para elas. Eu estou interessado em espaços de relembrança que
possuem a possibilidade para acessar formas de representações envolventes do passado,
significação do passado, abrindo ao passado possibilidades para pensar sobre como nós
estamos vivendo como seres humanos e o que nos possibilita a esperança...pode existir no
presente. Elas (suas e minhas preocupações) são complementares, mas não as mesmas.

Eu quero dizer que existem outras formas de pensar sobre a noção de consciência
histórica que tem a ver com...ser proprietário dos espaços de atuação dentro do qual nós
olhamos as questões de como e por que o ato de relembrar se torna importante para as
pessoas e qual perspectiva tem de si mesmo como indivíduo, grupo e sociedade como um
todo. Estes são diferentes tipos de atividades, diferentes tipos de questões e problemas. Então,
neste sentido, eu gostaria de abrir este espaço para a consciência histórica.

SEIXAS: Certo, nós temos um desafio a partir de Roger Simon; é que temos duas tarefas
fundamentalmente diferentes. Eu gostaria de ver se outras pessoas tem comentários,
preocupações, questões, confusões sobre o dialogo acima. Eu mesmo estou confuso se temos
dois projetos diferentes aqui. Eu escutei diferentes conjuntos de termos sendo explicitados,
porém ainda não vi se existem dois projetos diferentes. Então deixe me abrir para discussão.

LEE: Quando você diz que a primeira reação das pessoas, que participaram de seu grupo, não é
narrativas, você esta falando em termos de alteridade e distância? ...este é um tipo de reação
inicial?

SIMON: A reação inicial, como você disse, se você pedir para as pessoas para falarem sobre ou
construir, de modo significativo, um conjunto de arquivos materiais, é uma narrativa porque
esta é a maneira pela qual pessoas falam umas com as outras sobre o sentido da
historia...realmente. Pegue a posição de Sam como um ponto alternativo. Ele diz que o que é
importante é nossa insuficiência em entender o modo de vida de outros ou a educação da
nossa sensibilidade no sentido de termos alguma humildade em relacionamento a
complexidade da alteridade. Esta é, dentre as varias formas, como eu fiz a leitura de seu
trabalho. Eu continuo citando Sam porque acho que é a forma mais concreta de acrescentar
algo realmente diferente nesta discussão.

O que temos feito, basicamente, é para criar um protocolo para tentar sustentar uma forma
particular em que pessoas possam encarar o passado que é diferente da forma de narrativa
reflexiva. O primeiro movimento é a não-narrativa. Este primeiro movimento é basicamente a
pratica de citação: pegando imagens ou qualquer coisa de arquivo familiar que eles estejam
trabalhando com ou construindo desde uma página até vinte páginas de citações que agem
uma justaposição que personifica suas respostas aos tipos de questões, contradições,
estranhamento e insuficiência de manter o passado que eles haviam pedido para encarar nos
arquivos materiais. Nós estamos pedindo, neste sentido, para as pessoas representar suas
inabilidades para criar narrativas, onde as narrativas se rompem. Isto começa a se revelar até o
que eu chamo de educação de suas sensibilidades no sentido de pensar sobre quais formas
suas vidas estão estruturadas então (elas são) insuficientes para assegurar o passado e quais
transformações particulares podem ser necessárias em nosso pensamento. De certo modo, o
passado se transforma em um passado difícil porque ele apresenta desafios para a suficiência
de nossos próprios quadros de entendimento para incorporar e manter a representação.

LEE: Eu estou tentando captar o que é exatamente a não-narrativa em sua resposta.

SIMON: A primeira resposta é...

LEE: Perplexidade, espanto, você mencionou.

SIMON: Espanto e contradição. Em meu entendimento e talvez possa ter entendido errado a
posição de Jorn, mas jorn diz claramente que narrativa não são simplesmente textuais e que
existem narrativas visuais. A organização da noção básica de narrativa é um tipo de lógica
sintética dentro da lógica de afirmação que pode representar a relação entre uma série de
eventos que vem ocorrendo através do tempo. Você está tentando contar uma “estória” e a
noção de estória contém uma lógica subscrita de síntese associada a ela. Esta é a noção de
narrativa que eu penso estar sendo discutida aqui. Quanto você demonstra as suas falhas,
através da justaposição, justaposição como forma de prender a atenção a questões de falhas e
contradições de uma maneira que estórias não fazem. Não quero dizer que estórias e
narrativas não são importantes. Eu estou apenas dizendo que existem alternativas para o
processo de relembrança...., que não estão centradas apenas nas formas narrativas. Este é
outro momento um tanto importante. Eu estou tentando demonstrar a importância deste
momento e apontando para o que Mark (Phillips) e Sam e para as coisas que eles querem dizer.

RÜSEN: Primeiramente, eu gostaria de dizer que existem elementos constitutivos não-


narrativos para qualquer narrativa histórica. A este respeito não temos divergências. Ouvindo
você, e é claro que tenho que digerir seus argumentos, gostaria de dizer duas coisas. Primeiro,
para mim, narrativa é uma resposta a alguma questão. Você descreveu a questão e a questão é
que, houve experiências de diferenças com indicações temporais que são os estranhamentos,
as perturbações, e é nisto que estamos focando. Distúrbios, significam que eles não se
encaixam em quadros de referência pré -determinados... Agora, percebendo esta insuficiência,
existe um tipo em minha teoria que se fundamenta nisto. Eu chamo de “geração de sentido
crítico” que significa ` destruir as narrativas!`. Isto significa que, mesmo de forma dialética,
construir a geração de sentido histórico ainda está relacionada, constituída, por paradigmas
narrativos. Isto é a destruição da narrativa, mesmo isto pertencendo a, pelo menos em minha
teoria, essa complexa narratologia da história. Então esta é minha oferta para chegarmos a um
acordo de paz.

WERTSCH: Eu penso que para a maioria destas questões estamos indo em direção a uma
solução, para algo chamado “dualismo funcional” ou “funcionalidade múltipla” porque sua
(Rüsen) afirmação até agora, para você narrativa é uma resposta a uma questão. Existe um
sentido que eu concordo. Eu penso que também, ao mesmo tempo, serve a outra, pelo menos
uma função. O que tende a acontecer em nossas discussões é que privilegiamos uma ou outra.
Na discussão anterior, nós falamos sobre como neurocientistas são incluídos nestas discussões.
Quando eles falam sobre memória, por exemplo, eu acho que em extensão, estão falando
sobre narrativa, eles estão falando sobre diferentes funções da narrativa, para lidar com isso
vou chamá-los de função referencial. Normalmente isto nunca entra em suas discussões,
deveriam pensar que uma narrativa responde a outra, considerando que, se você fala com
pessoas sobre memória coletiva ou consciência histórica, como Barbara Hernestein-Smith,
narrativa é o dialogo entre memórias. Então, isto não é dizer que concordo com todos e todos
estamos felizes, mas eu acho que narrativa, e muitos outros termos, memória, por exemplo,
possuem múltiplas funções e fazem sentido para tentar olhar para estes quadros múlti
funcionais e perceber o que se destaca em um ou outro caso. A psicologia simplesmente não
levanta essas questões de função dialógica da narrativa. Eles olham para as narrativas como
forma de agregar informações para o aparecimento de referências ... Eu acho que Roger está
pontuando aqui as limitações da narrativa como um tipo de recurso textual. Narrativas podem
ser tão perigosa quanto útil. Você não quer apenas as narrativas como forma de envolver
coisas e tirar nos tirar do gancho, simplificando, mas eles têm uma tendência de fazer isso.
Mas, é muito difícil imaginar a memória em forma não-narrativa além dos primeiros passos;
Quero dizer que primeiro devemos lutar para construir a narrativa como parte do problema.

LORENZ: Eu tenho uma questão para esclarecer. Você (SIMON) poderia esclarecer de que
forma você usa o termo “relembrança”? O que eu entendi de seu trabalho é que você
confronta pessoas com arquivos. Em que sentido você aplica a noção de relembrança
relacionada a este tipo de experiência?

SIMON: Obviamente relembrança não é lembrar o que aconteceu com você. Eu tenho usado
diferentes termos em diferentes tempos. Eu comecei a usar a palavra “comemoração”, mas ela
pareceu estar relacionada à celebração. A razão pela qual eu escolhi a palavra comemoração é
porque quando comecei a trabalhar nesta área eu sabia que comemoração era,
fundamentalmente, algo sobre um conjunto de atividades sociais particulares localizadas em
um tempo e espaço onde as pessoas se aproximam para as relações com o passado. Então,
quando eu uso o termo “relembrança”- Não relembrar, mas relembrança – Na verdade eu falo
sobre atividades particulares. A criação de atividades particulares em tempo e espaço onde
pessoas são organizadas por meio de conjuntos de normas e acordos sobre regras sobre como
eles estão fazendo para se empenhar em práticas de recordar as vidas de pessoas que viveram
em outros tempos e espaços. O recordar não é um recordar individual; é um recordar que é
organizado no desempenho das pessoas em ser, como membro competente, capaz de
participar de atividades de relembrança naquele espaço, o aspecto de desempenho. Este é um
tipo de questão educadora no sentido de que eu estou interessado em criar espaços públicos,
quer seja em escola ou não, no qual novas possibilidades de aprendizagem, a partir de
relembranças, podem ter lugar...

A noção de esperança é extremamente importante e eu não estou pronto para desistir


da função utópica. Existe um duplo caminho que quero percorrer até estas questões. Um se
preocupa com políticas está no nível das decisões sobre assuntos do poder relacionados a
distribuição de recursos de equidade e assim por diante. O outro tem a ver com... como nós
confrontamos e entendemos diferenças e o que significa se envolver um com o outro em
relação as diferenças, eu acho que é este tipo de coisa que Sam indica em seu texto. Um dos
trechos mais interessantes para mim e que me influenciou em repensar a gama de
possibilidades para constituir a esperança foi trabalhada por Andrew Benjamin, um filósofo, no
primeiro capítulo de seu livro Esperança Presente: Filosofia, Arquitetura e Judaísmo. Ele retoma
a posição de Levinasian que basicamente articula a ideia de futuro repousa na ruptura do
“sempre o mesmo”. Existe a necessidade de constituir o presente como sendo insuficiente para
constituir o futuro como possibilidade. Existe o momento de esperança próximo a noção de
insuficiência do presente em relação a história e a relembrança... A reconstituição da
possibilidade de diferentes termos no presente é na verdade um momento de esperança, isso
porque fornece o terreno necessário para a possibilidade de futuro que é impossível se o
presente continua sempre o mesmo. Então ai está outro tipo de pensamento sobre esperança,
que é obviamente uma concepção pós-moderna que eu penso, eu quero e tento sustentar que
junto com uma concepção mais tradicional modernista de esperança enraizada em uma visão
messiânica como uma importante forma de pensar sobre a função da história.

RÜSEN: Bem, para mim os últimos quinze minutos de discussão estão extremamente
interessantes... Eu acho que nós podemos concordar que a forma de relacionar o futuro com o
socialismo e o nacionalismo não vale a pena recuperar. Este não é o ponto central de seu
raciocínio. Eu entendo você no sentido que o fracasso dos dois tipos de se relacionar com o
futuro é uma chance de, completamente e categoricamente, nova perspectiva de futuro ao
lidar com o passado. O problema é que a forma como fazemos isso, a forma pós-moderna, e
apenas perder o ponto central. Pós- modernismo não é esperança, mas desesperança. A favor
da esperança devemos ter alguma coisa “pré”. Se for “pré” alguma coisa então tem um futuro
relacionado. Mas “pós” é exatamente o contrário. No nacionalismo, no socialismo e na forma
tradicional moderna de relacionamento da consciência histórica existe uma teleologia
escondida. Alguém aqui mesmo usou a noção de “telos”para caracterizar esperança. A questão
é, teleologia significa que o futuro relacionado ainda está obrigando pela coação a vinda do
passado. Este é um futuro próximo. O que nós temo que entender disto é a noção de
perspectiva de futuro não teleológica. E aqui eu não estou falando de insuficiência.
Insuficiência significa nós irmos alguns passos adiante e nós fizemos isso. Nós podemos ir além
das possibilidades preestabelecidas pela experiência de algo radicalmente novo e diferente?
Esta é perspectiva de futuro não teleológica. Se nos introduzirmos isto no campo da
consciência histórica então toda a lógica de dar sentido ao tempo é modificada. Porque então
nós construímos ou dizemos narrativas do passado a partir da perspectiva de futuro alem das
experiências históricas. E esta pode ser o que você achou ser a forma que pessoas fazem isto.
Isto ser narrativa ou não, não é o mais importante. Este é uma nova forma de fazer do futuro
um principio de geração de sentido para lidar com o passado e que talvez traga para nós uma
forma secular para algumas tradições de transgressão religiosa do horizonte de experiência;
mudando a origem em favor de algum desconhecido e esperado futuro. Mas eu acho que hoje
em trabalhos de memória coletiva ou consciência histórica, temos uma questão de trabalho
histórico secular, de fazer história de forma pós- teleológica e pré- esperançosa.

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