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OS MAIAS
Eça de Queiroz
1) TÍTULO E SUBTÍTULO DA OBRA:
2) A ANALEPSE:
A narrativa da obra é interrompida por uma grande analepse (recuo no tempo), com um
ritmo narrativo rápido, sem grandes pormenores, o que a aproxima do ritmo da novela,
distante do ritmo mais lento, típico do romance, que domina a obra.
A analepse começa no capítulo I e estende-se até ao IV.
Principais acontecimentos referidos: juventude de Afonso; juventude e amores de
Pedro; infância e juventude de Carlos.
Funções da analepse: dar a conhecer traços de gerações anteriores que levam à
existência dos dois homens de fim de século – Afonso e Carlos; relação com um
pessimismo existencial, uma das linhas de fundo da obra, crença profunda, embora
irónica, no Destino, havendo a consciência da imperfeição da vida humana.
4) INTRIGA PRINCIPAL:
Na analepse: a Educação
Educação tradicional portuguesa – estagnação, atravessa 3 gerações (Mª Eduarda
Runa, Pedro da Maia, Eusebiozinho); ligação ao passado; recurso à Cartilha; estudo do
Latim e do Catecismo; baseia-se na memorização; no caso de Pedro, o professor é o
abade, com o apoio de Mª Eduarda Runa e a oposição de Afonso:
Educação inglesa – novidade (Carlos); culto do físico; secundarização do sentimento;
aponta para conhecimentos úteis e práticos; implica o estudo de uma língua viva, o
inglês, o objetivo é formar indivíduos úteis para a sociedade para transformarem o país;
o professor é mestre Brown, tem o apoio de Afonso.
Eusebiozinho Carlos
Conhecimento teórico; Conhecimento prático;
Aprendizagem do latim; Aprendizagem de línguas vivas (inglês);
Bacharel em Direito, depois desembargador; Formatura em Medicina;
Isolamento e intolerância; Abertura, tolerância e convivência;
Fragilidade, decadência física, covardia; Elegância e destreza;
Falhanço; Educação deficiente para o meio social
Recurso à prostituição; lisboeta: faltava educar a vontade – falha
Corrupção (deslealdade, falsidade, calúnia). quando entregue a si mesmo;
Diletantismo;
Romântico, apesar da educação britânica;
Imoralidade (incesto).
Temas discutidos:
c) As finanças:
O país tem absoluta necessidade dos empréstimos ao estrangeiro;
Cohen, calculista e cínico: tendo responsabilidades pelo cargo que desempenha,
afirma alegremente que o país vai direitinho para a bancarrota.
d) A história e a política:
Ega Alencar
Delira com a bancarrota como determinante Teme a invasão espanhola: perigo para a
da agitação revolucionária; independência nacional;
Defende a invasão espanhola; Defende o Romantismo político – república
Defende o afastamento violento da governada por génios e a fraternização dos
Monarquia, aplaude a instalação da povos;
República; Esquece o adormecimento geral do país.
Aproximação às ideias do autor.
Outros intervenientes:
Cohen: há gente séria nas camadas políticas dirigentes; Ega exagera;
Dâmaso Salcede: se houvesse uma invasão espanhola, ele “raspava-se” para Paris;
toda a gente fugiria como uma lebre.
Rufino Alencar
O bacharel transmontano; Poeta Ultrarromântico;
O tema do Anjo da Esmola; Tema da democracia romântica;
Desfasamento entre a realidade e o discurso; Desfasamento entre a realidade e o
Falta de originalidade; discurso;
Recurso a lugares-comuns; Excessivo lirismo carregado de conotações
Retórica oca e balofa; sociais;
Aclamação pelo público tocado no seu Exploração do público seduzido por
sentimentalismo. excessos estéticos estereotipados;
A aclamação do público.
6) PERSONAGENS DE AMBIENTE
Geralmente, as personagens da crónica de costumes são planas, representam grupos,
classes ou mentalidades, habitando determinados ambientes. Mantêm os mesmos
gestos e linguagens, o que ajuda a caracterizar a classe que representam.
Craft
Inglês rico e boémio, colecionador de bricabraque; formação e
mentalidade britânicas (pontos comuns com Carlos).
Jacob Cohen
Judeu banqueiro, representante da alta finança; competência
duvidosa, materialista.
Raquel Cohen
Mulher romântica e adúltera; mesma função da condessa de
Gouvarinho.
Steinbroken
Diplomata, representante do superficialismo e ignorância do
cargo, excesso de neutralidade, zelo, formalismo.
Eusebiozinho
Fidalgo de província, cobarde, malefícios da educação
portuguesa retrógrada.
Guimarães
Vive em Paris, representante das ideias democratas e
comunistas; provoca o reconhecimento e desencadeia a
catástrofe.
Cruges
Maestro e pianista: música; homem são, tímido, contrasta com a
negatividade dos tipos apresentados.
Rufino
Deputado de Monção, mentalidade provinciana e retrógrada,
oratória parlamentar.
Os símbolos cromáticos
a) O vermelho
“ Aquela sombrinha escarlate […] quase envolvia, parecia envolvê-lo todo – como uma
larga mancha de sangue.” Cap. I
“…ao lado de Maria, como uma camélia escarlate na casaca.” Cap. I
“…abria lentamente um grande leque negro pintado de cores vermelhas.” Cap. XI
Simbolismo: Maria Monforte e Maria Eduarda são portadoras de um vermelho
feminino, jogo que desencadeia a libido, despertam a sensualidade à sua
volta. Espalham a morte. A paixão excessiva é destruidora (suicídio de
Pedro, a morte de Afonso e o desejo da morte em Carlos).
b) O amarelo e dourado
“…uma senhora loura, os cabelos loiros, de um loiro julvo.” Cap. I
“…uma senhora alta, loira…” Cap. VI
“…era toda forrada, paredes e teto, de um brocado amarelo, cor de botão-de-oiro.”
Cap. XIII
Simbolismo: O amarelo indica o caráter ardente da paixão. Cor dupla: luz do
ouro – de essência divina e luz da terra – Verão e Outono.
1.º caso: cor dos deuses (veículo do poder, da juventude, da eternidade).
2.º caso: é anunciadora da velhice, do Outono, da proximidade da morte.
c) O negro
“Seus olhos muito negros.” Cap. III
“…dois olhos maravilhosos e irresistíveis.” Cap. I
“O negro profundo de dois olhos que se fixaram nos seus…” Cap. VII
Simbolismo: Cor que prefigura a Morte.
Cor que simboliza uma paixão possessiva e destruidora.
Conclusão:
Maria Monforte e Maria Eduarda conjugam estes três elementos: cabelo de ouro,
olhos pretos e leque preto pintado de flores vermelhas, sombrinha escarlate.
Elas são a vida e a morte, o divino e o humano, a aparência e a realidade; a
força que se torna fraqueza.
● Modos de Expressão
- A Descrição
A Descrição é minuciosa, visando a captação sensível da realidade (linha, cores e
formas) de acordo com os princípios da Escola Realista, que estabelece a sintonia
entre o meio ambiente e aquele que nele vive.
Ajuda a criação de atmosferas especiais de carácter indicial.
A descrição apresenta traços de realismo impressionista (novidade em Eça) →
valoriza a impressão pura, a perceção imediata, intelectualizada, com o seu carácter
fragmentário e fugaz. Tira o maior partido da cor e da luminosidade, em quadros de ar
livre, com objetos de contornos esfumados.
● Linguagem
- O uso expressivo do adjetivo e do advérbio
Quase todo o substantivo é acompanhado de adjetivo(s), em séries binárias
ou ternárias.
O adjetivo e o advérbio tendem a exprimir juízos, interpretações, mais do
que atributos objetivos das coisas ou dos factos.
É frequente também o adjetivo exprimir, de forma indireta e impessoal, a
posição (irónica) do narrador relativamente aos factos narrados.
A adjetivação dupla é usada por Eça para caracterizar os objetos,
exprimindo as duas faces da realidade: a objetiva e a subjetiva (Tem
também a função primordialmente musical e rítmica).
- Advérbio
Idêntica função à do adjetivo.
Exprimir indiretamente o estado de espírito das suas personagens, ou os
seus traços psíquicos, é injetar atitudes morais nos objetos inanimados com
os quais têm relação.
- O Verbo
Utiliza com grande frequência o imperfeito, o gerúndio, a conjugação
perifrástica, na maior parte das vezes como instrumentos de retardamento
da ação e dando lugar a descrições.
O uso do gerúndio – tem um sentido de duração, de continuidade, com
grande poder descritivo.
O verbo é aplicado com forte carga psicológica, realista e irónica.
A colocação e a combinação dos verbos na frase são variadíssimas e
riquíssimas.
Emprega formas verbais seguidas a fim de marcar a rápida sucessão das
ações.
- O Diminutivo
Pequenez
Carinho ou ternura
Ironia, depreciação ou sentido pejorativo
- O estrangeirismo
Particularmente os galicismos e os anglicismos, o que acontece por duas razões:
Suprir a inexistência da palavra ou da construção ajustada na língua
portuguesa.
Servir os objetivos críticos do autor: a ridicularização da alta sociedade
lisboeta da 2ª metade do século XIX, deslumbrada com a língua, com a
moda e com os hábitos franceses e ingleses.