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Instituto de Educação Tecnólogica


Pós - graduação
Gestão de Projetos em Construção e Montagem - Turma nº05
09 de maio de 2015

ANÁLISE DE FALHAS EM PROJETOS DE CONSTRUÇÃO CIVIL

Cínthia Figueira da Silva


Engenheira Civil
cinthiafigueira@yahoo.com.br

RESUMO

Aponta as principais falhas em projetos da construção civil, analisa as causas que


geraram essas falhas, levanta questionamentos sobre a falta de uma gestão de
qualidade durante a execução da obra. Aborda os fatores de tempo, custo e escopo;
envolvendo projetos bem elaborados, mão-de-obra qualificada e bem remunerada e
material de qualidade durante todo o projeto.

Palavras-chave: Construção civil. Planejamento. Gestão de projetos. Projeto executivo

1 INTRODUÇÃO

Atualmente a competitividade no setor de construção civil exige das empresas


investimento em metodologia eficiente de planejamento e controle de obras, que
permita domínio pleno do projeto. O controle dos processos favorece a tomada de
decisões pontuais, racionalização dos custos, aumento da produtividade e melhoria da
qualidade, com base no conhecimento amplo das tarefas, recursos e prazos. A Figura
01 apresenta os fatores que influenciam a gestão de um projeto, independente do
ramo de atuação.
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Figura-01: Fatores que influenciam a gestão de um projeto.


Fonte: http://nej-ufba.blogspot.com.br/2012/08/gerenciamento-de-projetos-otimizacao-de.html

Gerenciar um projeto como um todo, envolve uma série de processos que ao final
resume-se em dados para tomada de decisões e comunicação. Iniciar uma
metodologia de gerenciamento de projetos em qualquer segmento, seja no setor de
construção civil, industrial ou montagem requer uma equipe capacitada para dar
suporte e forma a esta metodologia.

A falta de domínio e controle do projeto dentro das áreas de planejamento, recursos


humanos, suprimentos, engenharia, entre outros, aumenta a variabilidade em torno do
planejamento do projeto. Identificar as falhas antecipadamente minimiza os impactos
com relação ao custo, prazo e qualidade. No entanto, quando isso não ocorre, a
sucessão de falhas altera todo o escopo deste projeto. Pode-se citar uma relação de
falhas identificadas na atividade de construção civil que poderiam ser, na sua maioria,
evitadas.

• Falta de mão-de-obra qualificada;


• Falta de projeto executivo na obra;
• Incompatibilidade de projetos;
• Material entregue com atraso;
• Má qualidade do material;
• Atraso da tarefa antecedente;
• Retrabalho.
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A adoção de boas práticas para a realização de um determinado projeto não pode se


tornar um processo burocrático influenciado pela cultura herdada. É importante
procurar conhecer modelos empresariais simples e compatíveis para a obtenção de
melhores resultados.

2 JUSTIFICATIVA

Uma boa gestão em projetos da construção civil aumenta as chances de sucesso do


mesmo. Na atualidade apenas 35,00% dos projetos iniciados são bem-sucedidos e
isso gera prejuízos que dentem a impossibilitar o próprio projeto ou as novas
aquisições.

Estudos publicados nos últimos anos apontam que entre 30,00% e 40,00% do
desempenho dos projetos em construção civil é perdido por falhas de planejamento e
execução. Apontam, ainda, que apenas 35,00% dos projetos iniciados obtêm sucesso,
e que em torno de 15,00% são cancelados antes de seu término.

Uma boa gestão na elaboração dos projetos, da mão de obra empregada, da


execução dos projetos, da logística da obra, entre outros, ajuda a evitar problemas,
pois no setor da Construção Civil, não são raros os casos onde se identificam gastos
acima do orçamento, entregas atrasadas, conflitos com clientes e fornecedores. Em
boa parte desses empreendimentos, o problema só é identificado ao longo da
execução, mas foi originado durante a fase de planejamento. Com a aplicação de
técnicas e metodologia corretas de gestão de projetos, os problemas e erros
potenciais na execução de uma obra são, em grande parte, identificados nas fases
iniciais do empreendimento e por meio de uma efetiva análise e acompanhamento dos
riscos. Com isso, eles podem ser mitigados ou mesmo evitados, criando maiores
chances de sucesso.

O sucesso de um projeto deve começar a ser pensado desde o início, uma vez que
sua existência só se justifica se os resultados esperados forem claramente definidos e
acordados entre os principais interessados. Os investimentos, tanto na Construção
Civil quanto em outros setores, são também avaliados pelos indicadores TIR – Taxa
Interna de Retorno - e VPL – Valor Presente Líquido -, também utilizados para decidir
quanto à execução ou não de determinado projeto. Indicadores de sucesso bem
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definidos ampliam a possibilidade de êxito dos projetos, uma vez que tornam seu
acompanhamento mais pragmático.

A maior dificuldade na aferição ocorre devido ao não estabelecimento de objetivos ou


pela definição de itens muito subjetivos, que dão margem a interpretações distintas ou
não mensuráveis. Métricas e indicadores objetivos nem sempre são simples de serem
estabelecidos, por isso deve ser investido tempo e experiência na definição dos
mesmos, deixando o escopo do projeto o mais claro que for possível.

A falta de gestão pode ser bem exemplificada em empreendimentos públicos cujo


projeto de arquitetura muitas às vezes é alterado por dez vezes com a obra em
andamento, quase sempre, o arquiteto teve de mudar o desenho com base no que já
estava construído, ou seja, a construção definiu a arquitetura e não o contrário, isso só
ocorre por falta de gestão. Esse tipo de problema ocorre tanto no setor público quanto
no privado. Não são raros os casos em que o gestor de projetos é contratado para
resolver o problema, após situações como essa já estarem configuradas. Para os
especialistas os riscos de revisões de objetivos do projeto e escopo tendem a ser mais
comuns em projetos de longa duração. Além disso, a flexibilidade de alteração de
rumo de projetos públicos é limitada e tende a consumir mais tempo do que em
projetos da iniciativa privada.

3 DESENVOLVIMENTO

O mercado da construção civil ainda não valoriza o planejamento e controle mais


profundo nos projetos a executar, o que acarreta atrasos, falhas no escopo
comprometendo a tríplice: qualidade, custo e prazos, causando prejuízos. Os itens
seguintes abordados apontam as principais falhas em um projeto de construção civil.

3.1 Falta de mão de obra qualificada

Muitas vagas de trabalho foram abertas nos últimos anos na construção, essas vagas
não são preenchidas pois falta mão-de-obra qualificada. O setor da construção civil
brasileira, foi construído artesanalmente pelas mãos de operários majoritariamente
analfabetos e sem qualificação técnica, agora o setor paga o preço de anos sem
investimentos em formação de pessoal.
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Carpinteiros de fôrmas, armadores e profissionais de escoramento já são figuras raras


no mercado. E se nem mesmo aqueles que já atuam no setor respondem às
necessidades do mercado da construção, o que dizer dos mais de 20 milhões de
desempregados do Brasil afora, que em outros tempos seriam aqueles que poderiam
abastecer a demanda da construção?

Não existe articulação entre os agentes da indústria, falta visão estratégica, seja das
empresas, das entidades representativas e dos governos. A construção não apenas
deixou de investir no aprimoramento de seus funcionários como também atraiu uma
mão-de-obra menos qualificada, perdendo seus profissionais para as indústrias
metalúrgica, têxtil e automobilística, mais atrativas.

As empresas de ponta começaram a importar tecnologias, equipamentos e modernizar


os métodos construtivos, rompendo com o método artesanal de construir, utilizando
uma forma mais racionalizada e industrializada de trabalhar, pautada na construção
seca e em obras sistêmicas. Paralelamente, o acirramento da concorrência forçou as
empresas a promoverem mudanças profundas em seus processos de gestão e a
aprimorarem seus desempenhos técnicos/econômicos. Como consequência,
começaram a despontar sistemas de gestão da qualidade compatíveis com a norma
ISO 9000, como a NR-18 e, mais tarde, iniciativas como o PBQP-H (Programa
Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat), que tem como objetivo elevar os
patamares da qualidade e produtividade da construção civil, por meio da criação e
implantação de mecanismos de modernização tecnológica e gerencial.

Entretanto, esse cenário, apesar de exigir profissionais com conhecimentos e atitudes


bastante diferentes das qualificações formais requeridas pelas organizações do
trabalho anteriores aos novos paradigmas produtivos, não foi acompanhado pela
qualificação da mão-de-obra, que agora precisa responder às exigências de qualidade,
produtividade, redução de perdas e desperdícios, controle e sustentabilidade. O
operário braçal está perdendo gradativamente seu espaço nos canteiros, que agora,
cada vez mais industrializados, requerem a figura do montador (Figura-02).
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Figura-02: Transformação ocorrida na mão de obra brasileira.


Fonte: <http://www.construcaomercado.pini.com.br/negocios-incorporacao-
construcao/73/artigo282069-1.aspx2>

3.2 Falta de projeto executivo ou incompatibilidade nos projetos

A qualidade dos projetos executivos apresentados, para a construção de um


empreendimento, está cada vez menor, deixando de ser confiável e causando
inúmeros problemas que poderiam ser evitados com um bom projeto executivo.
Algumas vezes, com o atraso ou a correção dos projetos, a construtora dá início a
uma tarefa sem o mesmo colocando em risco o escopo inicial.

As falhas de projeto por motivo de problemas de compatibilização são comuns, é fácil


encontrar erros referentes a incompatibilidades entre os projetos de estruturas e
instalações, bem como entre os projetos de arquitetura e drenagem. Entre os erros
mais comuns pode-se relacionar a incorreta localização dos furos de passagens nas
lajes e a mudança no sentido dos pilares de um prédio.

Além disso a maioria dos projetos não são feitos com os detalhes necessários à sua
execução. Como, muitas vezes, constatado no projeto de arquitetura ou de instalações
hidrossanitárias que não contém detalhamento dos shafts, em relação, por exemplo,
ao tipo de material que será utilizado como fechamento da área de visita de
manutenção neste shaft, a altura dessa visita, etc.

Esses falhas, no projeto executivo, podem acarretar uma má qualidade da edificação,


maior índice de retrabalhos, alongamento do prazo de execução, acréscimo no custo
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da obra. A compatibilização pode representar entre 5% e 8% de economia em uma


construção.

A compatibilização de projetos tem sido um dos caminhos para elevar a qualidade dos
processos e reduzir o improviso. Deve-se Fazer a sobreposição de todas as interfaces,
para evitar desperdício de material e minimizar o retrabalho. Para isso, é utilizada a
figura do gestor de projetos que rege todos os setores (Figura-03), além de uma nova
geração de ferramentas tecnológicas que está substituindo o CAD (Design Assistido
por Computador): o BIM (Modelo de Informação da Construção), que possibilita
conceber o prédio em três dimensões, agregando diferentes projetos.

Figura-03: A figura do Gerente de Projetos.


Fonte: <http://www.au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/211/tudo-coordenado-238914-1.aspx>

3.3 Material sem qualidade e/ou atraso na entrega

Nenhuma obra é feita sem materiais e a qualidade e durabilidade de uma construção


dependem diretamente dos materiais que nela são empregados. Por isso, é
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necessário que o responsável técnico de uma edificação tenha em mente a


importância de conhecer as propriedades e aplicações mais adequadas para cada
material.

A utilização de produtos fora das normas técnicas pode causar prejuízos como
vazamentos, infiltrações e contaminação do solo. O ideal seria que estes materiais não
chegassem às revendas, fazendo com que consumidor possa se indispor com o
estabelecimento e não voltar ao local para fazer uma nova compra.

Uma boa gestão do setor de suprimentos é fundamental para controlar a qualidade


dos materiais e evitar atrasos na aquisição e entrega dos mesmos. Um planejamento
da compra de materiais, estudos da disponibilidade destes, estratégia de pré-pedido,
processamento/controle de requisição, relacionamento entre diversos setores e
funções, controle de recebimento, garantia de cumprimento dos prazos para todas as
atividades do gerenciamento de suprimentos, são essenciais.

O planejamento do transporte (entrega), documentação e verificação de remessas,


preparação e coordenação do transporte local e de fora, acompanhamento do
percurso dos insumos deste a saída dos fornecedores até a recepção na empresa,
verificação das condições de segurança e do cumprimento das datas de entrega e
armazenamento de acordo com cada material, também não devem ser esquecidos.

3.4 Atraso das tarefas e retrabalho

É possível citar como a causa principal do atraso das tarefas e retrabalho nos
canteiros de obras a falta de comunicação entre o gestor e o empreiteiro, que
ocasiona divergências entre o projeto que está no papel e a execução. Também não
pode-se deixar de frisar a falta de capacitação dos empreiteiros, tanto no que tange à
qualidade de execução da obra quanto à destreza em analisar projetos.

Com o atraso nas tarefas e o retrabalho, o cronograma inicial tende a se estender,


com isso as perdas se agravam Quando os desajustes no prazo começam a dar os
primeiros sinais, é necessário a formação de uma força tarefa com profissionais
qualificados para diagnosticar a origem do problema.

Outra medida de contenção é antecipar as contratações com fornecedores e manter


um controle mais rígido sobre todas as etapas construtivas, evitando assim que os
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atrasos se proliferem. Quando a obra atrasa, os custos fixos do canteiro extrapolam o


gasto previsto. O resultado é a redução da margem de lucro do negócio.

A percepção de que as empresas não honram seus compromissos coloca em risco as


vendas futuras da construtora e a confiança do consumidor no mercado imobiliário.
Isso é ainda mais crítico somado ao potencial da internet para reverberar experiências
frustradas de consumo.

O retrabalho dentro de um processo construtivo, na maioria das vezes, é gerado pela


falta de planejamento das operações ou pelo não alinhamento das várias etapas do
projeto. Isso, invariavelmente, gera repetição de procedimentos, e o que é pior: em
algumas fases que já eram consideradas concluídas. Para a construção civil, a
ausência de planejamento nos processos, e a consequente geração de retrabalho, não
deixa de ser um tipo de patologia dentro da obra.

4 CONCLUSÕES

É fato que qualquer empresa que não possua um sistema de gerenciamento mínimo
sobre os seus processos está completamente exposta às variáveis negativas de um
mercado de trabalho super competitivo.

As empresas de construção civil estão atualmente num ritmo muito acelerado de


realização de empreendimentos e o número dessas empresas cresceu
consideravelmente. Destaque mesmo terá aquela empresa conceituada pelos
resultados positivos no que tange aplicação eficiente de recursos materiais e
financeiros, prazos respeitados, qualidade nos produtos entregues, entre outros.

Portanto, as ferramentas estão completamente disponíveis, os profissionais estão se


preparando cada vez mais e as oportunidades de negócio estão ao alcance daqueles
que enxergarem lá na frente as vantagens da implementação de uma cultura voltada a
Gerenciamento de Projetos que possa contribuir para a melhoria do quadro atual das
empresas de construção civil.

Novas tecnologias adotadas na construção civil estão chegando aos canteiros de


obras, com benefícios para construtoras, trabalhadores e consumidores. As inovações
abrangem de técnicas construtivas a sistemas de Gestão de Projetos; de máquinas
que aumentam a segurança dos operários ao reaproveitamento de materiais
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reciclados. Para as empresas, as vantagens incluem a redução nos custos e prazos


de entrega, a valorização dos empreendimentos e o aumento da competitividade em
licitações públicas. Essas tecnologias devem ser utilizadas visando otimizar a gestão
como um todo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BLANCO, Mirian. O preço da desqualificação. Revista Digital: Negócios de


Incorporação e Construção. Ano: 2007. Disponível em:
<http://www.construcaomercado.pini.com.br/negocios-incorporacao-
construcao/73/artigo282069-1.aspx2>. Acesso em: 01 mar. 2015.

NAKAMURA, Juliana. Como compatibilizar bem projetos de diferentes


especialidades. Ano: 2011. Disponível em: <http://www.au.pini.com.br/arquitetura-
urbanismo/211/tudo-coordenado-238914-1.aspx>. Acesso em: 03 mar. 2015.

NOBRE, Gustavo. Boa gestão aumenta chances de sucesso. Revista Digital:


Gestão de Projetos e Obras. Ano: 2014. Disponível em:
<http://www.aecweb.com.br/cont/m/cm/boa-gestao-aumenta-chances-de-
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SANTOS, Allan Nunes. SANTOS, Marcus Vinicius Batista dos. Iniciando o


Gerenciamento de Projetos para Empresas na Construção Civil. Revista Digital:
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<http://www.techoje.com.br/site/techoje/categoria/detalhe_artigo/675>. Acesso em: 01
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Disponível em: <http://www.cimentoitambe.com.br/retrabalho-e-patologia-do-processo-
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SEMESTRE/ANO: 1º/2015 TURMA: 05
TÍTULO DO ARTIGO: ANÁLISE DE FALHAS EM PROJETOS DE CONSTRUÇÃO
CIVIL

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