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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE ENGENHARIA ELÉTRICA, MECÂNICA E DE COMPUTAÇÃO

Introdução às Componentes Simétricas


e Cálculo de Curtos-circuitos

Antônio César Baleeiro Alves


(Professor Titular)

Goiânia, 2020

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ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO AO MÉTODO DE COMPONENTES SIMÉTRICAS ........................... 4
1.1 Definições ......................................................................................................................... 4

1.2 Equações de análise .......................................................................................................... 7

1.3 Propriedades da transformação ......................................................................................... 9

2. MODELOS DE EQUIPAMENTOS PARA COMPONENTES SIMÉTRICAS ................. 10


2.1 Modelo de uma linha de transmissão trifásica ............................................................... 10

2.2 Modelo de um gerador síncrono ..................................................................................... 14

2.3 Modelo de um sistema trifásico YgY: fonte balanceada e carga desequilibrada ........... 16

2.4 Exemplo numérico.......................................................................................................... 20

2.5 Modelo de transformadores trifásicos ............................................................................ 21

2.6 Significado físico das componentes simétricas .............................................................. 22

3. CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO E COMPONENTES SIMÉTRICAS ....................... 24


3.1 Modelagem de um curto-circuito fase-terra em componentes simétricas ...................... 24

3.2 Correntes de curto-circuito trifásico e de curto-circuito fase-terra com equivalente de


Thévenin ............................................................................................................................... 28

3.3 Capacidade de curto-circuito .......................................................................................... 33

3.3.1 Potência de curto-circuito trifásico .......................................................................... 35

3.3.2 Potência de curto-circuito monofásico .................................................................... 36

3.3.3 Impedância de sequência zero a partir das potências de curto-circuito ................... 38

3.4 Exemplo numérico de cálculo de curto-circuito fase-terra ............................................. 38

4. POTÊNCIA EM COMPONENTES SIMÉTRICAS ............................................................ 44


4.1 Potência complexa .......................................................................................................... 44

4.2 Potências ativas em componentes simétricas ................................................................. 45

5. MEDIÇÃO DE GRANDEZAS EM COMPONENTES SIMÉTRICAS .............................. 46


5.1 Introdução ....................................................................................................................... 46

5.2 Medição da tensão de sequência zero ............................................................................. 46

5.3 Medição da tensão de sequência negativa ...................................................................... 47

5.4 Medição da corrente de sequência zero .......................................................................... 48


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6. MODELAGEM DE LINHAS COM RETORNO PELO SOLO .......................................... 50


6.1 Introdução ....................................................................................................................... 50

6.2 Revisão dos conceitos de parâmetros de linhas de transmissão ..................................... 50

6.3 Impedâncias próprias e mútuas primitivas de linhas não-transpostas ............................ 52

6.4 Impedâncias próprias e mútuas primitivas de Carson .................................................... 53

6.5 Linha monofásica de Carson .......................................................................................... 55

6.5.1 Cálculo das impedâncias da linha monofásica de Carson ....................................... 57

6.6 Linha bifásica de Carson ................................................................................................ 60

6.7 Equações das impedâncias modificadas de Carson ........................................................ 62

6.8 Exemplo de aplicação das equações modificadas de Carson ......................................... 63

6.9 Impedâncias de sequência de linhas de acordo com metodologia IEEE Std 80............. 69

6.9.1 Impedâncias de sequência zero própria e mútua de linhas ...................................... 74

6.9.2 Exemplo numérico................................................................................................... 75

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 79


APÊNDICE: EQUAÇÕES DE CARSON ............................................................................... 82

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INTRODUÇÃO ÀS COMPONENTES SIMÉTRICAS E CÁLCULO DE


CURTOS-CIRCUITOS

1. INTRODUÇÃO AO MÉTODO DE COMPONENTES SIMÉTRICAS

1.1 Definições

O método de Componentes Simétricas para análise de circuitos


elétricos foi proposto por Fortescue no artigo intitulado “Method of Symmetrical
Coordinates Applied to the Solution of Polyphase Networks”, no AIEE em 1918.
Segundo Sato (2008), este método pode ser enunciado como a seguir: um sistema
trifásico desequilibrado pode ser decomposto em três sistemas equilibrados
e esta decomposição é única.
A figura 1.1 ilustra o método de decomposição em componentes
simétricas para três fasores desequilibrados.
Figura 1.1 – Fasores tensões desequilibradas e as tensões de componentes simétricas

As relações analíticas (1.1) são as chamadas equações de síntese do


método de Componentes Simétricas.
𝑉̂𝐴 = 𝑉̂𝐴+ + 𝑉̂𝐴− + 𝑉̂𝐴0 ,
𝑉̂𝐵 = 𝑉̂𝐵+ + 𝑉̂𝐵− + 𝑉̂𝐵0 , (1.1)
𝑉̂𝐶 = 𝑉̂𝐶+ + 𝑉̂𝐶− + 𝑉̂𝐶0 .

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Supondo-se que sejam conhecidos os fasores tensões desequilibradas


(lado esquerdo de (1.1)), as chamadas componentes de fase, 𝐴, 𝐵 e 𝐶, o sistema
exibe nove incógnitas possuindo, dessa forma, uma infinidade de soluções.
No entanto, para que o sistema (1.1) tenha solução única, introduz-
se o operador complexo, designado pela letra 𝑎, definido a seguir:
2𝜋
𝑎 = 𝑒 𝑗 3 = 1∠1200 ,
(1.2)

1 √3
𝑎 =− +𝑗 .
2 2
Este operador, 𝑎, é tal que são válidas as seguintes relações (ELGERD, 1976):
4𝜋
𝑎2 = 𝑒 𝑗 3 = 1∠2400 = 1∠ − 1200 ,
(1.3)
1 √3
𝑎2 = − − 𝑗 ,
2 2

𝑎0 = 𝑎3 = 1, (1.4)

𝑎∗ = 𝑎2 , (1.5)

(𝑎2 )∗ = 𝑎, (1.6)

1 + 𝑎 + 𝑎2 = 0, (1.7)
em que a* significa o conjugado de a.
Graficamente, segundo Sato (2008), o operador 𝑎 pode ser ilustrado
como na figura 1.2.

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Figura 1.2 – Visualização gráfica do operador complexo 𝑎

Portanto, as equações de síntese são reescritas como a seguir:


𝑉̂𝐴 = 𝑉̂𝐴+ + 𝑉̂𝐴− + 𝑉̂𝐴0 ,
𝑉̂𝐵 = 𝑎2 𝑉̂𝐴+ + 𝑎𝑉̂𝐴− + 𝑉̂𝐴0 , (1.8)
𝑉̂𝐶 = 𝑎𝑉̂𝐴+ + 𝑎2 𝑉̂𝐴− + 𝑉̂𝐴0 ,
as quais constituem um sistema de equações determinado que decorre das
equações de equivalência mostradas a seguir:
𝑉̂𝐵+ = 𝑎2 𝑉̂𝐴+ ,
𝑉̂𝐵− = 𝑎𝑉̂𝐴− ,
𝑉̂𝐶+ = 𝑎𝑉̂𝐴+ , (1.9)
𝑉̂𝐶− = 𝑎2 𝑉̂𝐴− ,
𝑉̂𝐴0 = 𝑉̂𝐵0 = 𝑉̂𝐶0 .

As relações mostradas em (1.8) são usualmente expressas na forma


matricial, como (1.10).

𝑉̂𝐴 1 1 1 𝑉̂𝐴+
̂
[𝑉𝐵 ] = [𝑎2 𝑎 1] [𝑉̂𝐴− ] (1.10)
𝑉̂𝐶 𝑎 𝑎2 1 𝑉̂𝐴0
ou seja,
̂ = [𝑇]𝑽
𝑽 ̂𝑺, (1.11)
em que a matriz [𝑇] é:
1 1 1
[𝑇] = [𝑎2 𝑎 1],
𝑎 𝑎2 1
onde, [𝑇] é a matriz de transformação de componentes simétricas, cuja ordem
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̂e 𝑽
é 3×3. Os vetores 𝑽 ̂ 𝑺 são, respectivamente,

𝑉̂𝐴
̂ = [𝑉̂𝐵 ],
𝑽
𝑉̂𝐶

𝑉̂𝐴+
̂ 𝑺 = [𝑉̂𝐴− ],
𝑽
𝑉̂𝐴0

̂ , 𝑉̂𝐴 , 𝑉̂𝐵 e 𝑉̂𝐶 , são designadas como componentes


sendo que as componentes de 𝑽
̂ 𝑺 , 𝑉̂𝐴+ , 𝑉̂𝐴− e 𝑉̂𝐴0 , são designadas como
de fase, e as componentes de 𝑽
componentes de sequência, ou componentes simétricas.
As componentes simétricas, cujos índices são +, – e 0, são designados
por componentes de sequência positiva, sequência negativa e sequência zero,
respectivamente. Ao invés da notação 𝑉̂𝐴+ , 𝑉̂𝐴− e 𝑉̂𝐴0 , pode-se usar simplesmente
𝑉̂+ , 𝑉̂− e 𝑉̂0 , de acordo com Elgerd (1976). Outra notação usual é a seguinte: 𝑉̂+ ,
𝑉̂− e 𝑉̂0 para 𝑉̂1 , 𝑉̂2 e 𝑉̂0 , respectivamente. Consequentemente, a equação (1.10)
pode ser reescrita como a seguir:

𝑉̂𝐴 1 1 1 𝑉̂1
[𝑉̂𝐵 ] = [𝑎2 𝑎 1] [𝑉̂2 ]
𝑉̂𝐶 𝑎 𝑎2 1 𝑉̂0

1.2 Equações de análise

Se forem conhecidas as tensões (ou as correntes) em coordenadas 𝐴,


𝐵 e 𝐶, as componentes de sequência serão obtidas com a relação matricial (1.12),
que, no caso, está exemplificado para as tensões de fase.

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𝑉̂1 𝑉̂+ 1 𝑎 𝑎2 𝑉̂𝐴


1
̂ ̂
[𝑉2 ] = [ 𝑉− ] = 3 [1 𝑎2 𝑎 ] [𝑉̂𝐵 ]. (1.12)
𝑉̂0 𝑉̂0 1 1 1 𝑉̂𝐶

Ressalta-se que, na expressão (1.12), aparece no segundo membro a matriz


inversa de [𝑇], que é a seguinte matriz:

1
1 𝑎 𝑎2
[𝑇]−1 = 3
[1 𝑎2 𝑎 ].
1 1 1

Da relação (1.12) são extraídas as chamadas equações de análise:


1
𝑉̂1 = 𝑉̂+ = (𝑉̂𝐴 + 𝑎𝑉̂𝐵 + 𝑎2 𝑉̂𝐶 ),
3
1
𝑉̂2 = 𝑉̂− = (𝑉̂𝐴 + 𝑎2 𝑉̂𝐵 + 𝑎𝑉̂𝐶 ), (1.13)
3
1
𝑉̂0 = (𝑉̂𝐴 + 𝑉̂𝐵 + 𝑉̂𝐶 ).
3

De modo análogo ao que se fez com tensões, pode-se escrever a


relação matricial para correntes:

𝐼̂1 𝐼̂+ 1 𝑎 𝑎2 𝐼̂𝐴


1
̂ ̂
[𝐼2 ] = [𝐼− ] = 3 [1 𝑎2 𝑎 ] [𝐼̂𝐵 ]. (1.14)
𝐼̂0 𝐼̂0 1 1 1 𝐼̂𝐶
As relações (1.12) e (1.14) são especialmente importantes porque
permitem obter as componentes simétricas da tensão e da corrente a partir das
tensões de fase (isto é, as tensões em coordenadas 𝐴, 𝐵 e 𝐶). Em resumo, em
forma matricial compacta têm-se as seguintes relações:
̂ = [𝑇]𝑽
𝑽 ̂𝑺, (1.15)
̂ 𝑺 = [𝑇]−1 𝑽
𝑽 ̂, (1.16)
𝑰̂ = [𝑇]𝑰̂𝑺 , (1.17)
𝑰̂𝑺 = [𝑇]−1 𝑰̂, (1.18)

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̂ e 𝑰̂ são vetores de três componentes nas fases 𝐴, 𝐵 e 𝐶, respectivamente,


onde 𝑽
tensões e correntes. O índice 𝑆 indica componentes de sequência e os vetores de
sequência são definidos como mostrados a seguir:
𝐼̂+
𝑰̂𝑺 = [𝐼̂− ], (1.19)
𝐼̂0

𝑉̂+
̂ 𝑺 = [ 𝑉̂− ].
𝑽 (1.20)
𝑉̂0

1.3 Propriedades da transformação

É oportuno lembrar que a matriz de transformação de componentes


simétricas, [𝑇], goza de propriedades especiais, que são:
1 0 0
𝑇 ∗ ∗ 𝑇
[𝑇] [𝑇] = [𝑇] [𝑇] = 3 [0 1 0] (1.21)
0 0 1

1 0 0
−1
[𝑇] [𝑇] = [0 1 0] (1.22)
0 0 1

[𝑍𝑆 ] = [𝑇]−1 [𝑍𝐴𝐵𝐶 ][𝑇] (1.23)

Essas propriedades são úteis na obtenção de outras relações e de


modelos de equipamentos em componentes simétricas.
A questão que surge é a seguinte: como aplicar o método das
componentes simétricas à solução de circuitos desequilibrados? Para tal é
necessário representar os equipamentos dos sistemas elétricos (geradores, linhas
de transmissão, transformadores e cargas) através de modelos de circuitos
elétricos apropriados. Este assunto é tratado no próximo capítulo.

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INTRODUÇÃO ÀS COMPONENTES SIMÉTRICAS E CÁLCULO DE


CURTOS-CIRCUITOS

2. MODELOS DE EQUIPAMENTOS PARA COMPONENTES SIMÉTRICAS

Para aplicar o método das componentes simétricas na resolução de


circuitos, os modelos dos equipamentos elétricos para a sequência positiva, a
sequência negativa e para a sequência zero devem ser obtidos.
A título de exemplificação da metodologia de modelagem de
equipamentos, são obtidos os modelos de sequência de uma linha trifásica, de um
gerador síncrono e de um sistema trifásico a três com cargas desequilibradas.
Neste texto, os modelos de outros equipamentos, como por exemplo,
transformadores não são desenvolvidos passo a passo, sendo apenas mostrados,
mas podem ser encontrados em (SATO, 2015), (KINDERMANN, 2010), (SATO,
2008), (BARIONI et al, 2000) e (ELGERD, 1976).

2.1 Modelo de uma linha de transmissão trifásica

A figura 2.1 ilustra o esquema básico de uma linha de transmissão de


energia elétrica formada de três condutores provida de um eventual retorno pela
terra na hipótese de ocorrência de desequilíbrio. Neste caso, as capacitâncias não
são consideradas e nem o acoplamento magnético entre as fases.
Figura 2.1 – Seção k-m de uma linha de transmissão trifásica com retorno pelo solo (SATO, 2008)

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Na figura, as tensões 𝑉̂𝐴𝑘 , 𝑉̂𝐵𝑘 e 𝑉̂𝐶𝑘 são medidas da barra 𝑘, nas


fases 𝐴, 𝐵 e 𝐶, respectivamente, até o ‘terra’, sendo, portanto, tensões de fase. De
modo análogo, as tensões de fase 𝑉̂𝐴𝑚 , 𝑉̂𝐵𝑚 e 𝑉̂𝐶𝑚 são medidas a partir da barra
𝑚. 𝑉̂𝑛𝑚 e 𝑉̂𝑛𝑘 são tensões entre o neutro local e as barras 𝑚 e 𝑘, respectivamente.
No caso em que 𝐼̂𝑛 = 0, sistema equilibrado, as tensões 𝑉̂𝑛𝑚 e 𝑉̂𝑛𝑘 são nulas.
Considerando o esquema da figura 2.1, para sistemas desequilibrados,
as correntes não somam zero:

𝐼̂𝐴 + 𝐼̂𝐵 + 𝐼̂𝐶 = 𝐼̂𝑛 , (2.1)

indicando que há uma queda de tensão na impedância do neutro 𝑍𝑛 .

No esquema da figura 2.1, as relações entre tensões e correntes são:

𝑉̂𝐴𝑘 − 𝑉̂𝐴𝑚 = 𝐼̂𝐴 𝑍𝑙 + 𝐼̂𝑛 𝑍𝑛 , (2.2)

𝑉̂𝐵𝑘 − 𝑉̂𝐵𝑚 = 𝐼̂𝐵 𝑍𝑙 + 𝐼̂𝑛 𝑍𝑛 , (2.3)

𝑉̂𝐶𝑘 − 𝑉̂𝐶𝑚 = 𝐼̂𝐶 𝑍𝑙 + 𝐼̂𝑛 𝑍𝑛 . (2.4)

Depois de eliminar a corrente 𝐼̂𝑛 usando (2.1) em (2.2) a (2.4), a forma matricial
das equações (2.2) a (2.4) é como segue:
𝑉̂𝐴𝑘 − 𝑉̂𝐴𝑚 𝑍𝑙 + 𝑍𝑛 𝑍𝑛 𝑍𝑛 𝐼̂𝐴
[𝑉̂𝐵𝑘 − 𝑉̂𝐵𝑚 ] = [ 𝑍𝑛 𝑍𝑙 + 𝑍𝑛 𝑍𝑛 ] [𝐼̂𝐵 ]. (2.5)
𝑉̂𝐶𝑘 − 𝑉̂𝐶𝑚 𝑍𝑛 𝑍𝑛 𝑍𝑙 + 𝑍𝑛 𝐼̂𝐶

A transformação das grandezas para o domínio das componentes


simétricas resulta na equação matricial (2.6).
𝑍+ 0 0 𝑍𝑙 + 𝑍𝑛 𝑍𝑛 𝑍𝑛
−1
0 ] = 𝑇 [ 𝑍𝑛 𝑍𝑙 + 𝑍𝑛 𝑍𝑛 ] 𝑇,
[𝑍𝑆 ] = [ 0 𝑍−
0 0 𝑍0 𝑍𝑛 𝑍𝑛 𝑍𝑙 + 𝑍𝑛

𝑍+ 0 0 𝑍𝑙 0 0
[𝑍𝑆 ] = [ 0 𝑍− 0 ] = [0 𝑍𝑙 0 ]. (2.6)
0 0 𝑍0 0 0 𝑍𝑙 + 3𝑍𝑛

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Nesse desenvolvimento foi empregada a propriedade (1.23). Ao


observar a matriz (2.6), é digno de nota o seguinte: a impedância 𝑍𝑛 aparece
apenas na posição de sequência zero e multiplicada por 3.
O desenvolvimento realizado anteriormente significa que, para
análise em componentes simétricas, uma linha trifásica será decomposta em três
circuitos como são mostrados na figura 2.2.
Figura 2.2 – Circuitos de sequência de uma linha de transmissão: circuitos de (a) sequência positiva, (b)
sequência negativa e (c) sequência zero

Verifica-se na figura 2.2 que a impedância de sequência zero da


seção de linha analisada depende da impedância do caminho de retorno da
corrente multiplicada pelo fator 3 (ou seja, 3𝑍𝑛 ).

É considerado a seguir o efeito do acoplamento magnético na linha


de transmissão com o objetivo de verificar como tal efeito reflete nos circuitos de
sequência. Inicialmente não é considerado caminho pelo solo ou existência de
neutro.

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A figura 2.3 ilustra o esquema de uma linha de transmissão composta


de três condutores em que o acoplamento magnético entre as fases é representado.
Neste caso, para fins de simplificação do equacionamento, os acoplamentos são
representados por impedâncias iguais, designadas por 𝑍𝑚 (como se fossem linhas
transpostas ou que possuem disposição simétrica dos condutores). Neste caso, as
capacitâncias não são consideradas e nem o retorno pelo solo.
Figura 2.3 – Seção k-m de uma linha de transmissão trifásica com acoplamento entre fases

Considerando o esquema da figura 2.3, obtêm-se as relações:

𝐼̂𝐴 + 𝐼̂𝐵 + 𝐼̂𝐶 = 0 (2.7)

𝑉̂𝐴𝑘 − 𝑉̂𝐴𝑚 = 𝐼̂𝐴 𝑍𝑙 + 𝐼̂𝐵 𝑍𝑚 + 𝐼̂𝐶 𝑍𝑚 , (2.8)

𝑉̂𝐵𝑘 − 𝑉̂𝐵𝑚 = 𝐼̂𝐵 𝑍𝑙 + 𝐼̂𝐴 𝑍𝑚 + 𝐼̂𝐶 𝑍𝑚 , (2.9)

𝑉̂𝐶𝑘 − 𝑉̂𝐶𝑚 = 𝐼̂𝐶 𝑍𝑙 + 𝐼̂𝐴 𝑍𝑚 + 𝐼̂𝐵 𝑍𝑚 . (2.10)

A forma matricial das equações (2.8) a (2.10) é como segue:


𝑉̂𝐴𝑘 − 𝑉̂𝐴𝑚 𝑍𝑙 𝑍𝑚 𝑍𝑚 𝐼̂𝐴
[𝑉̂𝐵𝑘 − 𝑉̂𝐵𝑚 ] = [𝑍𝑚 𝑍𝑙 𝑍𝑚 ] [𝐼̂𝐵 ] . (2.11)
𝑉̂𝐶𝑘 − 𝑉̂𝐶𝑚 𝑍𝑚 𝑍𝑚 𝑍𝑙 𝐼̂𝐶
A transformação das grandezas para o domínio das componentes
simétricas resulta na equação matricial (2.12).

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𝑍+ 0 0 𝑍𝑙 𝑍𝑚 𝑍𝑚
−1
[𝑍𝑆 ] = [ 0 𝑍− 0 ] = 𝑇 [𝑍𝑚 𝑍𝑙 𝑍𝑚 ] 𝑇,
0 0 𝑍0 𝑍𝑚 𝑍𝑚 𝑍𝑙
𝑍+ 0 0 𝑍𝑙 − 𝑍𝑚 0 0
[𝑍𝑆 ] = [ 0 𝑍− 0 ] = [ 0 𝑍𝑙 − 𝑍𝑚 0 ]. (2.12)
0 0 𝑍0 0 0 𝑍𝑙 + 2𝑍𝑚
Dessa forma, as impedâncias de sequência são:
𝑍+ = 𝑍𝑙 − 𝑍𝑚 ,
𝑍− = 𝑍𝑙 − 𝑍𝑚 ,
𝑍0 = 𝑍𝑙 + 2𝑍𝑚 .
Quando se considera simultaneamente o efeito de retorno da corrente
pelo solo e o efeito do acoplamento magnético, as impedâncias de sequência
assumem as seguintes formas:
𝑍+ = 𝑍𝑙 − 𝑍𝑚 ,
𝑍− = 𝑍𝑙 − 𝑍𝑚 ,
𝑍0 = 𝑍𝑙 + 2𝑍𝑚 + 3𝑍𝑛 .

Nessas análises da linha de transmissão não foi considerado o efeito


da presença de cabos guarda. Isto é tratado posteriormente.

2.2 Modelo de um gerador síncrono

O modelo de um gerador síncrono em condições equilibradas é


mostrado na figura 2.4.
Nas condições descritas no esquema da figura 2.4, sem considerar
acoplamento magnético, as tensões terminais nas fases do gerador síncrono são
relacionadas às forças eletromotrizes (FEMs) e às correntes nas fases através da
relação matricial (2.13).

𝑉̂𝐴 𝐸̂𝐴 𝑗𝑋𝑑 + 𝑗𝑋𝑛 𝑗𝑋𝑛 𝑗𝑋𝑛 𝐼̂𝐴


[𝑉̂𝐵 ] = [𝐸̂𝐵 ] − [ 𝑗𝑋𝑛 𝑗𝑋𝑑 + 𝑗𝑋𝑛 𝑗𝑋𝑛 ] [𝐼̂𝐵 ]. (2.13)
𝑉̂𝐶 𝐸̂𝐶 𝑗𝑋𝑛 𝑗𝑋𝑛 𝑗𝑋𝑑 + 𝑗𝑋𝑛 𝐼̂𝐶

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Figura 2.4 – Esquema simplificado de um gerador síncrono para análise em regime permanente

Após aplicar a transformação em componentes simétricas à relação


matricial (2.13), através do emprego das relações (1.16), (1.18) e (1.23), obtém-
se (2.14):
𝑉̂+ 𝐸̂+ 𝑗𝑋𝑑 0 0 𝐼̂+
[ 𝑉̂− ] = [𝐸̂− ] − [ 0 𝑗𝑋𝑑 0 ] [𝐼̂− ]. (2.14)
𝑉̂0 𝐸̂0 0 0 𝑗𝑋𝑑 + 𝑗3𝑋𝑛 𝐼̂0
Então, as impedâncias de sequência do gerador síncrono são:
𝑍+ = 𝑗𝑋𝑑 ,
𝑍− = 𝑗𝑋𝑑 , (2.15)
𝑍0 = 𝑗𝑋𝑑 + 𝑗3𝑋𝑛 .
A reatância 𝑋𝑑 é a reatância síncrona do gerador e 𝑋𝑛 é a reatância eventualmente
inserida para limitar a intensidade da corrente de curto-circuito fase-terra.
Supondo condições balanceadas, as FEMs de sequência negativa e zero são nulas:
𝐸̂+ = 𝐸̂𝐴 ,
𝐸̂− = 0, (2.16)
𝐸̂0 = 0.

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Consequentemente, na análise por componentes simétricas, o


gerador síncrono é decomposto em três circuitos equivalentes como mostrados na
figura 2.5.
Figura 2.5 – Circuitos de sequência do gerador síncrono: (a) positiva, (b) negativa e (c) zero

(a) (b) (c)

Elgerd (1976) fornece mais detalhes da obtenção dos circuitos de


sequência da máquina síncrona.

2.3 Modelo de um sistema trifásico YgY: fonte balanceada e carga desequilibrada

O método de Componentes Simétricas pode ser aplicado, por


exemplo, para resolver circuitos com cargas desequilibradas.
Considere o circuito trifásico ilustrado na figura 2.6. A fonte é
aterrada e suas tensões são balanceadas, enquanto a carga tem ligação Y com o
ponto central sem referência de tensão, conhecido como ponto ‘flutuante’.
Sabemos que, nesta situação, as cargas nas fases, representadas pelas impedâncias
𝑍𝐴 , 𝑍𝐵 e 𝑍𝐶 , é que definirão as tensões sobre elas. Nessa figura, cada fase da linha
possui impedância igual a 𝑍𝑙 .

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Figura 2.6 – Fonte trifásica balanceada e aterrada e carga em estrela com ponto central 𝑁 flutuante

A modelagem do circuito da figura 2.6 para obtenção das relações no


domínio das componentes simétricas inicia com a escrita das relações entre as
tensões da fonte e as correntes nas linhas.

𝑉̂𝑎 = (𝑍𝑙 + 𝑍𝐴 )𝐼̂𝑎 + 𝑉̂𝑁𝑛 ,


𝑉̂𝑏 = (𝑍𝑙 + 𝑍𝐵 )𝐼̂𝑏 + 𝑉̂𝑁𝑛 , (2.17)
𝑉̂𝑐 = (𝑍𝑙 + 𝑍𝐶 )𝐼̂𝑐 + 𝑉̂𝑁𝑛 .
A tensão 𝑉̂𝑁𝑛 é medida entre o centro do Y da carga e o centro do Y da fonte. É
conhecida como ‘tensão de deslocamento do neutro’.
Na forma matricial, as equações (2.17) ficam da seguinte maneira:

𝑉̂𝑎 𝑍𝑙 + 𝑍𝐴 0 0 𝐼̂𝑎 𝑉̂𝑁𝑛


[𝑉̂𝑏 ] = [ 0 𝑍𝑙 + 𝑍𝐵 0 ] [𝐼̂𝑏 ] + [𝑉̂𝑁𝑛 ], (2.18)
𝑉̂𝑐 0 0 𝑍𝑙 + 𝑍𝐶 𝐼̂𝑐 𝑉̂𝑁𝑛
que, forma compacta, tem-se:
1
̂ ̂ ̂
𝑽𝒂𝒃𝒄 = [𝑍𝑎𝑏𝑐 ]𝑰𝒂𝒃𝒄 + 𝑉𝑁𝑛 [1], (2.19)
1

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A transformação em componentes simétricas da relação matricial


(2.19), através do emprego das relações (1.15) a (1.18) e também da relação (1.23),
resulta em (2.20):
1
−1 ̂
[𝑇] 𝑽𝒂𝒃𝒄 = [𝑇]−1 [𝑍𝑎𝑏𝑐 ]𝑰̂𝒂𝒃𝒄 + [𝑇]−1 𝑉̂𝑁𝑛 [1],
1
1
̂
𝑽𝑺 = [𝑇] −1 [𝑍 ̂ −1 ̂
𝑎𝑏𝑐 ][𝑇]𝑰𝑺 + [𝑇] 𝑉𝑁𝑛 [1],
1
0 𝑉̂1 𝐼̂1 0
̂ ̂
𝑽𝑺 = [𝑍𝑆 ]𝑰𝑺 + [ 0 ] → [𝑉̂2 ] = [𝑍𝑆 ] [𝐼̂2 ] + [ 0 ], (2.20)
𝑉̂𝑁𝑛 𝑉̂0 𝐼̂0 𝑉̂𝑁𝑛

onde a matriz de impedâncias de sequência é mostrada em destaque a seguir:

3𝑍𝑙 + 𝑍𝐴 + 𝑍𝐵 + 𝑍𝐶 𝑍𝐴 + 𝑎2 𝑍𝐵 + 𝑎𝑍𝐶 𝑍𝐴 + 𝑎𝑍𝐵 + 𝑎2 𝑍𝑐


1
[𝑍𝑆 ] = 3 [ 𝑍𝐴 + 𝑎𝑍𝐵 + 𝑎2 𝑍𝑐 3𝑍𝑙 + 𝑍𝐴 + 𝑍𝐵 + 𝑍𝐶 𝑍𝐴 + 𝑎2 𝑍𝐵 + 𝑎𝑍𝐶 ],
𝑍𝐴 + 𝑎2 𝑍𝐵 + 𝑎𝑍𝐶 𝑍𝐴 + 𝑎𝑍𝐵 + 𝑎2 𝑍𝑐 3𝑍𝑙 + 𝑍𝐴 + 𝑍𝐵 + 𝑍𝐶
sendo 𝑎 = 1∠1200 e 𝑎2 = 1∠ − 1200 .

As propriedades do circuito da figura 2.6 e suas relações básicas


levam a simplificações importantes:

1. A fonte possui tensões balanceadas, significando que a tensão de sequência


negativa, 𝑉̂2 , é nula, assim como também a tensão de sequência zero, 𝑉̂0 ;
2. No nó 𝑁 da carga, as correntes se somam e esta soma é zero (𝐼̂𝑎 + 𝐼̂𝑏 + 𝐼̂𝑐 =
0).

Com base na equação (1.13) e na propriedade 2, conclui-se que 𝐼̂0 = 0. Portanto,


não se tem na representação em componentes simétricas do circuito da figura 2.6
o circuito de sequência zero. Observa-se na figura 2.6 que as correntes não têm
“caminho” para o solo. Consequentemente, da relação (2.20), considerando as
simplificações, é possível escrever as seguintes equações que relacionam a tensão
de sequência positiva e as correntes de sequência positiva e negativa:

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𝑍 +𝑍 +𝑍 𝑍 +𝑎
𝑉̂1 = (𝑍𝑙 + 𝐴 𝐵 𝐶 ) 𝐼̂1 + ( 𝐴
2 𝑍 +𝑎𝑍
𝐵 𝐶
) 𝐼̂2 , (2.21)
3 3

0=(
𝑍𝐴 +𝑎𝑍𝐵 +𝑎2 𝑍𝐶
) 𝐼̂1 + (𝑍𝑙 +
𝑍𝐴 +𝑍𝐵 +𝑍𝐶
) 𝐼̂2 , (2.22)
3 3

A ‘tensão de deslocamento do neutro’ também pode ser calculada:


𝑍 +𝑎 2 𝑍 +𝑎𝑍 𝑍𝐴 +𝑎𝑍𝐵 +𝑎2 𝑍𝐶 (2.23)
𝑉̂𝑁𝑛 = − ( 𝐴 𝐵 𝐶
) 𝐼̂1 − ( ) 𝐼̂2 .
3 3

Analisando as equações (2.21) e (2.22) é possível construir dois


circuitos de sequência que estão acoplados, conforme ilustra a figura 2.7.
Figura 2.7 – Circuitos de sequência positiva e negativa acoplados que representam o circuito da figura 2.6

O procedimento de resolução do circuito consiste dos seguintes


passos: ─ obtém-se as impedâncias de sequência, própria e as mútuas, 𝑍𝑙 +
𝑍𝐴 +𝑍𝐵 +𝑍𝐶 𝑍𝐴 +𝑎2 𝑍𝐵 +𝑎𝑍𝐶 𝑍𝐴 +𝑎𝑍𝐵 +𝑎2 𝑍𝐶
, 𝑍12 = e 𝑍21 = , respectivamente; ─ calcula-
3 3 3

se as correntes de sequência positiva e negativa, 𝐼̂1 e 𝐼̂2 , respectivamente; ─


sabendo-se que 𝐼̂0 = 0 , aplica-se a transformação 𝑰̂𝒂𝒃𝒄 = [𝑇]𝑰̂𝑺 para obter as
correntes nas linhas, 𝐼̂𝑎 , 𝐼̂𝑏 e 𝐼̂𝑐 . A partir desses cálculos, obtêm-se as tensões nas
fases nas cargas, 𝑉̂𝐴 = 𝑍𝐴 𝐼̂𝑎 , 𝑉̂𝐵 = 𝑍𝐵 𝐼̂𝑏 e 𝑉̂𝐶 = 𝑍𝐶 𝐼̂𝑐 . A ‘tensão de deslocamento
do neutro’ é obtida utilizando-se a equação (2.23).

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2.4 Exemplo numérico


Considere o circuito da figura 2.8 no qual os dados são indicados:
Figura 2.8 – Circuito trifásico com fonte balanceada e aterrada e carga em Y não aterrada

Deseja-se calcular as correntes nas linhas e as tensões nas fases da carga com o
emprego de componentes simétricas.
A solução é apresentada em seguida. Os circuitos de sequência
positiva e negativa acoplados são mostrados na figura 2.9.
Figura 2.9 – Circuitos de sequência positiva e negativa acoplados referentes ao circuito da figura 2.8

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Ao equacionar o circuito da figura 2.9, obtém-se:

𝑉̂1 = 220∠ − 30𝑜 = (16,195 + 𝑗0,1)𝐼̂1 + (−0,161 − 𝑗0,278)𝐼̂2 ,

0 = (−5,934 + 𝑗10,278)𝐼̂1 + (16,195 + 𝑗0,1)𝐼̂2 ,


A solução do sistema é:

𝐼̂1 = 11,8939 − 𝑗6,9681,

𝐼̂2 = −0,1266 − 𝑗10,1011.


Utiliza-se então uma relação de transformação similar à relação (1.10) para obter
as correntes de fase:

𝐼̂𝑎 1 1 1 𝐼̂1
̂
[𝐼𝑏 ] = [𝑎2 𝑎 1] [𝐼̂2 ] →
𝐼̂𝑐 𝑎 𝑎2 1 𝐼̂0
𝐼̂𝑎 1 1 1 11,8939 − 𝑗6,9681 11,7673 − 𝑗17,0692
[𝐼̂𝑏 ] = [𝑎2 𝑎 1] [−0,1266 − 𝑗10,1011] = [ −3,1704 − 𝑗1,8754 ] =
𝐼̂𝑐 𝑎 𝑎2 1 0 −8,5969 + 𝑗18,9447
𝐼̂𝑎 20,73∠ − 55,4𝑜
[𝐼̂𝑏 ] = [3,68∠ − 149,4𝑜 ].
𝐼̂𝑐 20,80∠114, 4𝑜

As tensões nas fases da carga são obtidas utilizando as relações: 𝑉̂𝐴 = 𝑍𝐴 𝐼̂𝑎 ,
𝑉̂𝐵 = 𝑍𝐵 𝐼̂𝑏 e 𝑉̂𝐶 = 𝑍𝐶 𝐼̂𝑐 .

𝑉̂𝐴 = 𝑍𝐴 𝐼̂𝑎 = 10√2∠45𝑜 × 20,73∠ − 55,4𝑜 → 𝑉̂𝐴 = 293,17∠ − 10,4𝑜 𝑉,


𝑉̂𝐵 = 𝑍𝐵 𝐼̂𝑏 = 20√2∠0𝑜 × 3,68∠ − 149,4𝑜 → 𝑉̂𝐵 = 104,09∠ − 149,4𝑜 𝑉,
𝑉̂𝐶 = 𝑍𝐶 𝐼̂𝑐 = 10√2∠−45𝑜 × 20,80∠114, 4𝑜 → 𝑉̂𝐶 = 294,16∠ − 69,4𝑜 𝑉.

2.5 Modelo de transformadores trifásicos

A transformação em componentes simétricas aplicada a


transformadores trifásicos de 2 enrolamentos resulta nos esquemas da figura 2.10.

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Figura 2.10 – Circuitos de sequência zero de transformadores trifásicos em conexões usuais

Os circuitos de sequência, bem como os valores das impedâncias de


sequências de transformadores, dependem da forma como são construídos. Há
basicamente dois tipos: SHELL e CORE, denominados de núcleo envolvente e
núcleo envolvido, respectivamente. Supondo apenas transformadores de núcleo
envolvente, os circuitos de sequência positiva e negativa possuem o esquema
ilustrado na figura 2.11.
Figura 2.11 – Circuitos de sequência positiva e negativa de transformadores trifásicos para as conexões da figura
2.10 (núcleo envolvente)

𝑗𝑋+ = 𝑗𝑋−

2.6 Significado físico das componentes simétricas

Em geral, as equações matriciais que relacionam tensões e correntes


das fases com impedâncias ou admitâncias dos elementos de rede (geradores,
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transformadores, linhas etc.), funcionando em condições equilibradas, exibem


matrizes diagonais 𝑍 ou 𝑌 . No entanto, em condições desequilibradas, tais
matrizes passam a apresentar elementos não nulos em outras posições diferentes
da diagonal. Isto ocorre porque o desequilíbrio geralmente implica em
acoplamentos físicos entre as fases do equipamento e, quando o mesmo é
representado em coordenadas 𝐴 , 𝐵 e 𝐶 , tais acoplamentos se refletem nas
equações. Na análise de circuitos através da aplicação de componentes simétricas,
as transformações efetuadas sobre tensões e correntes reduzem as matrizes a
matrizes diagonais para os equipamentos mais comuns dos sistemas elétricos.
Como consequência, a interpretação deste resultado é que não existe acoplamento
entre os sistemas de sequência positiva, sequência negativa e zero, e eles podem
ser tratados separadamente. Esta característica torna atrativo o método das
componentes simétricas (SATO, 2015) (ELGERD, 1976).
Diante do exposto, as componentes simétricas são usadas para
calcular circuitos trifásicos em condições de desequilíbrio a partir de cálculo de
circuitos monofásicos. Ao concluir os cálculos, com o auxílio das transformações
(1.15) e (1.17) obtêm-se as tensões e correntes em coordenadas de fase 𝐴, 𝐵 e 𝐶.
Essencialmente, os valores de sequência positiva estão associados às condições
trifásicas balanceadas (ou equilibradas), enquanto os valores de sequência
negativa medem o grau de desbalanço (ou desequilíbrio) existente no sistema
elétrico. Geralmente, um equipamento estático, como, por exemplo, o
transformador, possui impedâncias de sequência positiva e sequência negativa
iguais, uma vez que sua impedância de dispersão não variará se a sequência de
fase for alterada de 𝐴𝐵𝐶 para 𝐴𝐶𝐵 (ELGERD, 1976). Já as grandezas de
sequência zero estão associadas ao envolvimento da terra (solo) como condutor
em condições de desbalanço, ou do condutor neutro.

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INTRODUÇÃO ÀS COMPONENTES SIMÉTRICAS E CÁLCULO DE


CURTOS-CIRCUITOS

3. CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO E COMPONENTES SIMÉTRICAS

Para aplicar o método de componentes simétricas na resolução de


curtos-circuitos, é necessário considerar as condições que caracterizam o curto-
circuito, ou seja, se é trifásico, bifásico, bifásico-terra e fase-terra. Para cada tipo
de curto-circuito, os circuitos de sequência dos equipamentos elétricos estudados
no capítulo anterior devem ser combinados.

3.1 Modelagem de um curto-circuito fase-terra em componentes simétricas

Seja um sistema trifásico no qual se deseja calcular um curto-circuito


entre a fase 𝐴 e a terra (isto é, uma falta fase-terra), como ilustra a figura 3.1.

Figura 3.1 – Sistema trifásico sujeito a um curto-circuito fase-terra através de uma impedância de falta Zf

Nesta análise, as correntes nas demais fases (isto é, as fases não


afetadas) durante a falta são supostas iguais a zero, restando determinar, portanto,
a corrente na fase afetada. A tensão pré-falta é aquela existente no ponto da falta
antes de sua ocorrência, que, para obtê-la seria preciso solucionar o circuito para
o regime permanente. Todavia, para simplificar, e então eliminar a necessidade
de executar um load flow prévio à análise do curto-circuito, a tensão antes da falta
é suposta muitas vezes igual à tensão nominal.

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Considerando-se as condições específicas da falta fase-terra (𝐼̂𝐵 =


𝐼̂𝐶 = 0) e usando-se a relação (1.14), obtém-se:

𝐼̂1 𝐼̂+ 1 𝑎 𝑎2 𝐼̂𝐴


1
[𝐼̂2 ] = [𝐼̂− ] = 3 [1 𝑎2 𝑎 ] [ 0 ],
𝐼̂0 𝐼̂0 1 1 1 0
𝐼 ̂
𝐼̂+ = 𝐴 ,
3
𝐼̂𝐴
𝐼̂− = ,
3
𝐼̂𝐴
𝐼̂0 = .
3

Isto significa que as correntes de sequência positiva, negativa e zero são iguais.
Portanto, os elementos do circuito em sequência devem ser ligados em série.
Quanto às tensões, obtém-se da análise do sistema da figura 3.1 a
seguinte relação:

𝑉̂𝐴 = 𝐼̂𝐴 𝑍𝑓 ,
𝑉̂𝐴 = 3𝐼̂0 𝑍𝑓 .
Da relação (1.8), tem-se que:

𝑉̂𝐴 = 𝑉̂+ + 𝑉̂− + 𝑉̂0 ,


a qual resulta em

𝑉̂𝐴 = 𝑉̂+ + 𝑉̂− + 𝑉̂0 = 3𝐼̂0 𝑍𝑓 ,


𝑉̂𝐴 = 𝑉̂+ + 𝑉̂− + 𝑉̂0 = 𝐼̂0 (3𝑍𝑓 ).
A partir dessas considerações e das relações escritas anteriormente,
o circuito equivalente de sequência é como ilustra a figura 3.2.

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Figura 3.2 – Circuito equivalente monofásico de sequência para cálculo de um curto-circuito fase-terra através
de uma impedância de falta Zf

Na figura 3.3 é apresentada uma maneira alternativa de interligação


dos circuitos de sequência. As formas mostradas nas figuras 3.2 e 3.3 são
equivalentes.
Figura 3.3 – Circuito equivalente monofásico de sequência para cálculo de um curto-circuito fase-terra através
de uma impedância de falta Zf

Nos circuitos ilustrados nas figuras 3.2 e 3.3, os símbolos são de


reatâncias, mas, no caso geral, são impedâncias: 𝑍+ = 𝑅+ + 𝑗𝑋+ , 𝑍− = 𝑅− +
𝑗𝑋− e 𝑍0 = 𝑅0 + 𝑗𝑋0 , além de 𝑍𝑓 ser uma impedância (cujo valor em módulo é
normalmente sugerido pela concessionária).

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Para calcular a corrente de sequência zero, 𝐼̂0 , resta solucionar o


circuito da figura 3.2 (ou figura 3.3).
𝑉̂ 𝑝𝑓
𝐼̂0 = (3.1)
𝑍+ + 𝑍− + 𝑍0 + 3𝑍𝑓 + 𝑗3𝑋𝑛
𝐼 ̂
Portanto, da relação 𝐼̂0 = 𝐴 é possível escrever a seguinte expressão para a
3

corrente de curto-circuito na fase 𝑨 (conforme indicada na figura 3.1):


3𝑉̂ 𝑝𝑓
𝐼̂𝐴 = , (3.2)
𝑍+ + 𝑍− + 𝑍0 + 3𝑍𝑓 + 𝑗3𝑋𝑛
onde,
𝑋𝑛 : reatância de aterramento do gerador (ou do equipamento);
𝑍𝑓 : impedância de falta;
𝑍+ : impedância de sequência positiva;
𝑍− : impedância de sequência negativa;
𝑍0 : impedância de sequência zero;
𝑉̂ 𝑝𝑓 : tensão fase-neutro no ponto da falta antes de sua ocorrência.
No caso geral em que os parâmetros de sequência forem impedâncias
com suas partes real e imaginária conhecidas, a expressão (3.2) deve ser reescrita
como segue:
3𝑉̂ 𝑝𝑓
𝐼̂𝐴 = (3.3)
𝑅+ + 𝑅− + 𝑅0 + 3𝑍𝑓 + 𝑗(𝑋+ + 𝑋− + 𝑋0 + 3𝑋𝑛 )
O valor 𝑍𝑓 é às vezes dado em módulo ou é um valor resistivo (𝑍𝑓 =
𝑅𝑓 ). Se as grandezas forem consideradas em volts e em ohms, obviamente
referidas à mesma tensão, supondo a tensão pré-falta igual à tensão nominal, a
expressão para o cálculo do módulo da corrente de falta fase-terra é escrita
como a seguir (IEEE, 2006):
3𝑉𝑙𝑙 ⁄√3
|𝐼̂𝐴 | = 𝐼𝑓 = (3.4)
√(𝑅+ + 𝑅− + 𝑅0 + 3𝑅𝑓 )2 + (𝑋+ + 𝑋− + 𝑋0 + 3𝑋𝑛 )2

𝐼𝑓 é o módulo da corrente 𝐼̂𝐴 , que resultará em amperes se a tensão 𝑉𝑙𝑙 estiver em


volts e as impedâncias em ohms (𝑉𝑙𝑙 é o valor eficaz da tensão linha-linha).
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3.2 Correntes de curto-circuito trifásico e de curto-circuito fase-terra com


equivalente de Thévenin

Seja o sistema elétrico exemplo ilustrado na figura 3.4.


Figura 3.4 – Sistema elétrico para exemplificar o cálculo das correntes de curto-circuito

Suponha que de deseja calcular a corrente de curto-circuito trifásico


na barra 𝑘 indicada na figura 3.4. O diagrama de impedâncias do sistema elétrico
é mostrado na figura 3.5.
Figura 3.5 – Diagrama de impedâncias do sistema elétrico exemplo

Na figura 3.5 estão mostradas, além das impedâncias, as tensões


fasoriais atrás das reatâncias dos geradores, 𝐸̂𝑔1 e 𝐸̂𝑔2 .
O primeiro passo consiste em determinar o circuito equivalente de
Thévenin a partir da barra onde ocorrerá o curto-circuito, isto é, a barra k. O curto-

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circuito pode ser visto como a inserção de uma impedância entre a barra e o plano
de referência (linha em negrito na figura 3.5). A figura 3.6 ilustra o que acabou
de ser descrito.
Figura 3.6 – Diagrama de impedâncias mostrando o curto-circuito através da impedância entre 𝑘 e a referência

A determinação da tensão de Thévenin na barra 𝑘 implica em obter


a tensão nodal sem a presença da impedância de falta, 𝑍𝑓 . Isto equivale à
determinação da tensão nesse ponto antes da ocorrência da falta. Tal tensão é
𝑝𝑓
designada pelo símbolo 𝑉̂𝑘 , sendo ‘𝑝𝑓’ a abreviatura de pré-falta. Para obter a
𝑝𝑓
tensão 𝑉̂𝑘 , é necessário solucionar o sistema elétrico para o regime permanente.
Para um circuito que possui geradores, cargas estáticas (não rotativas) e motores,
no qual determinadas barras possuem potências e tensões especificadas, a solução
de regime permanente requer a solução de um fluxo de carga (load flow). Nos
casos em que se quer adicionar as correntes de carga de motores para a corrente
de curto-circuito (especialmente na etapa subtransitória do curto-circuito), o
𝑝𝑓
método de determinação de 𝑉̂𝑘 passa necessariamente pela solução de um load
flow. Isto posto, pode-se escrever a seguinte igualdade:
𝑝𝑓
𝑉̂𝑘𝑇ℎ = 𝑉̂𝑘 (3.5)
Uma aproximação usual em estudos de curto-circuito é supor que a
tensão pré-falta é igual à tensão nominal da barra, apesar de não refletir de forma
precisa o estado da rede e seu efeito sobre a corrente de falta. Então, neste caso,
𝑝𝑓
supõe-se que 𝑉̂𝑘 = 1∠00 .

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A determinação da impedância de Thévenin a partir da barra 𝑘, sem


a presença da impedância de falta, 𝑍𝑓 , requer que as fontes de força-eletromotriz
(seja de gerador ou de motores síncronos e assíncronos) sejam ‘curto-circuitadas’.
A figura 3.7 ilustra o procedimento de obtenção da impedância de Thévenin.
Figura 3.7 – Diagrama de impedâncias mostrando a obtenção da impedância de Thévenin

Com base na figura 3.7, a impedância de Thévenin vista da barra 𝑘 é


então:
𝑍𝐸 . 𝑍𝐷 1
𝑍𝑘𝑇ℎ = =
𝑍𝐸 + 𝑍𝐷 1 1 1 (3.6)
+ +
𝑍𝑔1 + 𝑍𝑚𝑘 𝑍𝑔2 𝑍𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎

Uma vez calculados a tensão e a impedância de Thévenin para a barra


𝑘, obtém-se o circuito equivalente mostrado na figura 3.8.

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Figura 3.8 – Circuito equivalente de Thévenin para cálculo da corrente de curto-circuito trifásico na barra 𝑘

Consequentemente, a corrente de curto-circuito na barra 𝑘 pode ser


calculada pela aplicação da expressão (3.7).
𝑉̂𝑘𝑇ℎ
𝐼̂𝑐𝑐3∅,𝑘 = (3.7)
𝑍𝑘𝑇ℎ + 𝑍𝑓

Em termos de componentes de sequência, considerando que a tensão


pré-falta (𝑉̂𝑘𝑇ℎ ) é igual a 𝐸̂+ e que 𝑍+ = 𝑍𝑘𝑇ℎ , a fórmula de cálculo da corrente de
curto-circuito trifásico (equilibrado) em p.u., é:

𝑝.𝑢. 𝐸̂+
𝐼̂𝑐𝑐3∅,𝑘 = , (3.8)
𝑍+ + 𝑍𝑓

sendo 𝑍+ a impedância complexa de sequência positiva equivalente do sistema a


partir da barra em questão; 𝑍+ e 𝑍𝑓 em p.u.
Supondo que a tensão pré-falta é igual à tensão nominal da barra (ou seja,
1,0 p.u.) e que a impedância de falta é zero (situação comum em curtos-circuitos
trifásicos), tem-se a expressão da corrente de curto-circuito trifásico (equilibrado)
em p.u.:

𝑝.𝑢. 1∠00
𝐼̂𝑐𝑐3∅ = (3.9)
𝑍+

Um procedimento análogo ao apresentado para a obtenção da


corrente de curto-circuito trifásico em que aplicou o equivalente de Thévenin é
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feito para a obtenção da corrente de curto-circuito fase-terra, porém considerando


os três circuitos de sequência e suas impedâncias respectivas. A figura 3.9 ilustra
os circuitos em série para obtenção da corrente de curto-circuito fase-terra.
Figura 3.9 – Circuitos equivalentes de Thévenin de sequência para cálculo da corrente de curto-circuito fase-
terra na barra 𝑘

Baseando-se no circuito da figura 3.9 e na análise apresentada na


seção 3.1 ( 𝐼̂𝑐𝑐1∅,𝑘 = 3𝐼̂0,𝑘 ), a corrente de curto-circuito na barra 𝑘 pode ser
calculada com a aplicação da expressão (3.10).

3𝑉̂𝑘𝑇ℎ
𝐼̂𝑐𝑐1∅,𝑘 = 𝑇ℎ 𝑇ℎ 𝑇ℎ
(3.10)
𝑍𝑘+ + 𝑍𝑘− + 𝑍𝑘0 + 3𝑍𝑓

Supondo que a tensão pré-falta seja igual à tensão nominal da barra


(isto é, 1,0 p.u.) e considerando a presença da impedância de falta (situação
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comum em curtos-circuitos monofásicos), tem-se a expressão da corrente de


curto-circuito monofásico ou fase-terra (desequilibrado) em p.u.:

𝑝.𝑢. 3∠00
𝐼̂𝑐𝑐1∅ = (3.11)
𝑍+ + 𝑍− + 𝑍0 + 3𝑍𝑓
onde:
Z+ : impedância complexa de sequência positiva;
Z− : impedância complexa de sequência negativa;
Z0 : impedância complexa de sequência zero;
Zf : impedância de falta (valor estipulado pela concessionária).

Nem sempre a concessionária informa as impedâncias de sequência


de forma direta, mas sim como potências de curto-circuito. Este tema é estudado
na seção a seguir.

3.3 Capacidade de curto-circuito

As concessionárias de energia elétrica, quando solicitado pelo


projetista, informam o nível de falta no ponto de entrega da energia elétrica, tanto
para a condição de falta equilibrada quanto desequilibrada. Muitas vezes esses
dados são apresentados na forma de potência de curto-circuito ou capacidade de
curto-circuito (em inglês, SCC = Short circuit capacity). Esses dados, além do
nível de curto-circuito, representam a impedância equivalente da rede da
concessionária, ou seja, a impedância de Thévenin da fonte de suprimento tal
como vista a partir do ponto de conexão da instalação elétrica que está sendo
projetada. Admitindo que as informações citadas podem ser fornecidas de várias
formas (por exemplo, corrente em 𝑘𝐴 e sua fase ou a relação 𝑋/𝑅), segundo a
IEEE 551:2006 (IEEE, 2006), sejam essas informações expressas em potência de
curto-circuito sejam elas na forma de corrente em 𝑘𝐴, o nível de tensão nas quais
a informação foi calculada é um dado indispensável.
A seguir são exemplificadas, sob diferentes formatos, informações
fornecidas corretamente.
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Potência de curto-circuito trifásico Relação Tensão


800 MVA 𝑋/𝑅 = 20 13,8 𝑘𝑉

Potência de curto-circuito monofásico Relação Tensão


500 MVA 𝑋/𝑅 = 6 13,8 𝑘𝑉

Potência de curto-circuito trifásico Relação Tensão


800 MVA 𝑋/𝑅 = 20 13,8 kV

Potência de curto-circuito monofásico Relação Tensão


166,67 MVA 𝑋/𝑅 = 6 13,8/√3 kV

Corrente de curto-circuito trifásico Ângulo de fase Tensão


33,47 𝑘𝐴 𝜑 = −87,10 13,8 𝑘𝑉

Corrente de curto-circuito fase-terra Ângulo de Fase Tensão


20,92 𝑘𝐴 𝜑 = −80,50 13,8 𝑘𝑉

Conforme pode ser constatado a partir das definições apresentadas


em seguida, as informações mostradas anteriormente são equivalentes.
Por definição, a capacidade de curto-circuito em uma dada barra 𝑘
de um sistema, que é o mesmo que potência de curto-circuito, é o seguinte
produto:

|𝑆𝐶𝐶𝑘 | = 𝑉𝑘𝑝𝑓 . |𝐼𝑐𝑐,𝑘 |, (3.12)

onde:
|𝑆𝐶𝐶𝑘 |: capacidade de curto-circuito, em módulo;
𝑉 : módulo da tensão no ponto considerado, antes da ocorrência da falta;
𝑝𝑓
𝑘
|𝐼𝑐𝑐,𝑘 |: corrente de curto-circuito, em módulo.

Na expressão (3.12), se a tensão estiver em 𝑘𝑉 e a corrente em 𝑘𝐴, a capacidade


de curto-circuito é expressa em 𝑀𝑉𝐴, portanto, possui unidade de potência.

As correntes de curtos-circuitos trifásico e monofásico, as


impedâncias de sequência e as potências de curto-circuito trifásico (𝑆𝑐𝑐3∅ ) e de
curto-circuito fase-terra (𝑆𝑐𝑐1∅ ) estão relacionadas como demonstrado a seguir.

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3.3.1 Potência de curto-circuito trifásico

A definição de potência de curto-circuito trifásico, para grandezas


em módulo, é:
|𝑆𝑐𝑐3∅ | = √3𝑉𝑙𝑙 |𝐼𝑐𝑐3∅ |, (3.13)

e, em termos fasoriais, pode ser expressa assim:


𝑆𝑐𝑐3∅ = 3𝑉̂𝑓𝑛𝑜𝑚 𝐼̂𝑐𝑐3∅
∗ (3.14)

Em que 𝑉̂𝑓𝑛𝑜𝑚 é a tensão de fase nominal, na forma fasorial (fase na referência),

sabendo-se que |𝑉̂𝑓𝑛𝑜𝑚 | = 𝑉𝑙𝑙 ⁄√3; 𝑆𝑐𝑐3∅ é a potência de curto-circuito trifásico


na forma complexa.

Mas, da análise do circuito de sequência positiva considerando (3.8) mas com 𝑍𝑓


nula, tem-se que a corrente de curto-circuito trifásico é calculada pela seguinte
expressão:
𝐸̂+ 𝑉̂𝑓𝑛𝑜𝑚
𝐼̂𝑐𝑐3∅ = = (3.15)
𝑍+ 𝑍+
Ao substituir (3.15) em (3.14), obtém-se:

𝑉̂𝑓𝑛𝑜𝑚 3|𝑉̂𝑓𝑛𝑜𝑚 |2
𝑆𝑐𝑐3∅ = 3𝑉̂𝑓𝑛𝑜𝑚 𝐼̂𝑐𝑐3∅

→ 𝑆𝑐𝑐3∅ ̂
= 3𝑉𝑓𝑛𝑜𝑚 ( ) =
𝑍+ 𝑍+∗
𝑉𝑙𝑙 2
𝑆𝑐𝑐3∅ = 3𝑉̂𝑓𝑛𝑜𝑚 𝐼̂𝑐𝑐3∅

= ∗, (3.16)
𝑍+

sendo que 𝑉𝑙𝑙 é a tensão linha-linha nominal.

A expressão (3.16) é muito importante, uma vez que com ela, tendo-
se em mãos a capacidade de curto-circuito trifásico e a tensão na qual a capacidade
foi calculada, obtém-se a impedância de sequência positiva (𝑍+ ) do equivalente
de Thévenin da rede da concessionária.

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Referindo-se à (3.16), supondo a tensão linha-linha, em módulo, 𝑉𝑙𝑙 ,


como valor base (isto é, 𝑉𝐵𝐴𝑆𝐸 = 𝑉𝑙𝑙 ), a relação (3.16) com as grandezas expressas
em p.u. fica da seguinte forma:

𝑝.𝑢. 1
𝑆𝑐𝑐3∅ = (3.17)
𝑍+∗

3.3.2 Potência de curto-circuito monofásico

De acordo com o material didático “Estudo de Curto-Circuito”, de


José Carlos de Melo Vieira (EESC/USP) e também de acordo com (BARIONI et
al, 2000), define-se a potência de curto-circuito monofásico considerando a tensão
linha-linha:

|𝑆𝑐𝑐1∅ | = √3𝑉𝑙𝑙 |𝐼𝑐𝑐1∅ |, (3.18)

É importante ressaltar que são encontrados alguns textos que definem


a potência de curto-circuito monofásico de modo diverso daquele mostrado em
(3.18), como a seguir:
𝑉𝑙𝑙
|𝑆𝑐𝑐1∅ | = |𝐼𝑐𝑐1∅ |, (3.19)
√3

Um exemplo de emprego da definição (3.19) consta da obra “Análise


de Curto-Circuito e Princípios de Proteção em Sistemas de Energia Elétrica –
Fundamentos e Prática”, de Fujio Sato e Walmir Freitas, da Editora Campus, 2015
(p. 256) (SATO; FREITAS, 2015).
É óbvio que os lados esquerdos de (3.18) e (3.19) são valores diferentes e guardam
entre si a razão 3. Contudo, é importante ressaltar o que estabelece a
recomendação IEEE Std 551:2006, reproduzido aqui na língua em que foi escrita:
“Typical forms of the data received from the utility is given below:
1) MVA with phase angle or X/R ratio. (Requires voltage level at
which MVA was calculated).
2) ...” (IEEE, 2006)
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O texto extraído da IEEE Std 551 (IEEE, 2006) indica que as duas definições
apresentadas são válidas, porém qual valor de tensão foi utilizado para obter a
potência de curto-circuito é informação indispensável.
Neste trabalho, adota-se a expressão (3.18), sem que esta escolha
implique em qualquer prejuízo nos cálculos.
A potência de curto-circuito monofásico com a tensão e a corrente na
forma fasorial é então:
𝑆𝑐𝑐1∅ = 3𝑉̂𝑓𝑛𝑜𝑚 𝐼̂𝑐𝑐1∅

, (3.20)

Em que 𝑉̂𝑓𝑛𝑜𝑚 é a tensão de fase nominal, na forma fasorial (fase na referência e

relembrando que |𝑉̂𝑓𝑛𝑜𝑚 | = 𝑉𝑙𝑙 ⁄√3); 𝐼̂𝑐𝑐1∅ é o fasor corrente de curto-circuito;


𝑆𝑐𝑐1∅ é a potência de curto-circuito monofásico complexa.

Da análise dos circuitos de sequência (elementos em série, como


mostra as figuras 3.2 e 3.3), extrai-se que a corrente de curto-circuito monofásico
é calculada pela seguinte expressão (em unidades reais):

3𝐸̂+ 3𝑉̂𝑓𝑛𝑜𝑚
𝐼̂𝑐𝑐1∅ = = (3.21)
𝑍0 + 𝑍+ + 𝑍− 𝑍0 + 2𝑍+

Ao substituir (3.21) em (3.20), chega-se à expressão de 𝑆𝑐𝑐1∅ em termos da tensão


linha-linha (expressão (3.22)):

𝑉𝑙𝑙 2
3𝑉̂𝑓𝑛𝑜𝑚
∗ 9( )
3
𝑆𝑐𝑐1∅ = 3𝑉̂𝑓𝑛𝑜𝑚 𝐼̂𝑐𝑐1∅

→ 𝑆𝑐𝑐1∅ = 3𝑉̂𝑓𝑛𝑜𝑚 ( ) = ∗ √ ∗
𝑍0 + 2𝑍+ 𝑍0 + 2𝑍+
3𝑉𝑙𝑙2
𝑆𝑐𝑐1∅ = ∗ (3.22)
𝑍0 + 2𝑍+∗

Se o módulo da tensão linha-linha é o valor base, isto é, 𝑉𝐵𝐴𝑆𝐸 = 𝑉𝑙𝑙 , e 𝑆𝐵𝐴𝑆𝐸 =


√3𝑉𝐵𝐴𝑆𝐸 𝐼𝐵𝐴𝑆𝐸 , a relação (3.22) com todas as grandezas em p.u. pode ser reescrita
como mostrada a seguir:

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𝑝.𝑢. 3
𝑆𝑐𝑐1∅ = , (3.23)
𝑍0∗ + 2𝑍+∗

e também a expressão (3.21) pode ser reescrita em p.u., como a seguir:

𝑝.𝑢. 3
𝐼̂𝑐𝑐1∅ = (3.24)
𝑍0 + 2𝑍+

Consequentemente, verifica-se que, em p.u., a potência de curto-circuito


monofásico e a corrente são relacionadas do seguinte modo (desde que 𝑆𝐵𝐴𝑆𝐸 =
√3𝑉𝐵𝐴𝑆𝐸 𝐼𝐵𝐴𝑆𝐸 ):
𝑀𝑉𝐴 = 𝑘𝑉. 𝑘𝐴 → p.u. = p.u.
𝑝.𝑢. ∗,𝑝.𝑢.
𝑆𝑐𝑐1∅ = 3𝑉̂𝑓𝑛𝑜𝑚 𝐼̂𝑐𝑐1∅ → 𝑆𝑐𝑐1∅ = 𝐼̂𝑐𝑐1∅

(3.25)

3.3.3 Impedância de sequência zero a partir das potências de curto-circuito

Partindo das expressões (3.17) e (3.23), por substituição, obtém-se:

𝑝.𝑢. 3
𝑆𝑐𝑐1∅ =
2
𝑍0∗ + 𝑝.𝑢. ∗
(𝑆𝑐𝑐3∅ )
Depois de isolar 𝑍0∗ na expressão anterior, obtém-se:
3 2
𝑍0 = 𝑝.𝑢. ∗ − 𝑝.𝑢. ∗ (3.26)
(𝑆𝑐𝑐1∅ ) (𝑆𝑐𝑐3∅ )
A seguir é solucionado um exemplo numérico.

3.4 Exemplo numérico de cálculo de curto-circuito fase-terra

Deseja-se calcular as correntes de curtos-circuitos fase-terra nas


barras 1, 2 e 3 do sistema elétrico da figura 3.10. O sistema a jusante da barra 1 é
representado por um equivalente de Thévenin. Os dados estão na tabela 3.1.

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Figura 3.10 – Diagrama unifilar de um sistema elétrico radial

Tabela 3.1 – Dados do sistema elétrico para cálculo de curtos-circuitos


Item Discriminação Dado
1 Potência de curto-circuito de sequência positiva na barra 1 na tensão 13,8kV 120MVA; 68o
2 Potência de curto-circuito de sequência zero na barra 1 na tensão 13,8kV 60MVA; 78o
3 Imp. de seq. positiva do transformador da SE (% na base de 30MVA, 69 / 13,8 kV) (2 + j10)%
4 Imp. de seq. negativa do transformador da SE (% na base de 30MVA, 69 / 13,8 kV) (2 + j10)%
5 Imp. de seq. zero do transformador da SE (% na base de 30MVA, 69 / 13,8 kV) (2 + j10)%
6 Imp. de seq. positiva da linha de transmissão (% na base de 30MVA, 69kV) (0 + j10)%
7 Imp. de seq. negativa da linha de transmissão (% na base de 30MVA, 69kV) (0 + j10)%
8 Imp. de seq. zero da linha de transmissão (% na base de 30MVA, 69kV) (0 + j30)%

Suponha nos cálculos que 𝑍𝑓 = 0 Ω e que 𝑋𝐺𝑛 e 𝑋𝑇𝑛 são também


iguais a zero, respectivamente, a reatância de aterramento de neutro da fonte
conectada à barra 1 e a reatância de aterramento de neutro do transformador. A
solução do exemplo é apresentada a seguir. Nos cálculos, toma-se a potência de
base igual a 30𝑀𝑉𝐴, 𝑆𝐵𝐴𝑆𝐸 = 30𝑀𝑉𝐴.

a) Curto-circuito na barra 1:

É necessário representar apenas o sistema que se encontra à direita da barra 1,


como mostra a figura 3.11.
Figura 3.11 – Diagrama unifilar referente ao curto-circuito na barra 1

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Os circuitos de sequências para análise do curto-circuito na barra 1 são


combinados em série como mostra a figura 3.12.
Figura 3.12 – Circuitos de sequências interligados para cálculo do curto-circuito na barra 1 (valores em p.u.)

Os parâmetros do circuito foram obtidos como a seguir, utilizando (3.17):


120 1 1
= 4 p.u. → 𝑍+ = (4∠680)∗ = = 0,09 + 𝑗0,23 p.u.
30 1,50−𝑗3,71

Utiliza-se a expressão (3.26) para obter a impedância 𝑍0 , uma vez que a


impedância complexa de sequência zero equivalente do circuito à direita da barra
1 foi fornecida por intermédio das potências de curtos-circuitos. Os cálculos são
mostrados a seguir:
𝑝.𝑢. 60
|𝑆𝑐𝑐1𝜑 | = 30 = 2 p.u.;
3 2 3 2
𝑍0 = 𝑝.𝑢. ∗ − 𝑝.𝑢. ∗ → 𝑍0 = − ≅ 0,13 + 𝑗1,00,
(𝑆𝑐𝑐1∅ ) (𝑆𝑐𝑐3∅ ) (2∠780 )∗ (4∠680 )∗

𝑍0 = 0,13 + 𝑗1,00 p.u.

Tem-se também que: 𝑍𝑛 e 𝑍𝑓 são ambos iguais a zero. Obtém-se 𝐼̂0 no circuito
da figura 3.12, supondo-se que a fase A é que está sob falta:
1,00∠00 1,00∠00
𝐼̂0 = = = 0,67∠ − 780 p.u.,
2×(0,09+𝑗0,23)+0,13+𝑗1,00 0,31+𝑗1,46
𝑝.𝑢.
|𝐼̂𝑐𝑐1𝜑 | = |𝐼̂𝐴,1 | = 3|𝐼̂0 | = 2,00 p.u.

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30.000.000
A corrente de base é: 𝐼𝐵𝐴𝑆𝐸1 = = 1.255,11 A. Portanto, a corrente de
√3×13.800

curto-circuito fase-terra na barra 1 é: 2,510,2 amperes. O mesmo resultado é


obtido utilizando-se a informação da potência de curto-circuito e a expressão
(3.18) observando-se a tensão correta.

|𝑆𝑐𝑐1∅ | = √3𝑉𝑙𝑙 |𝐼̂𝑐𝑐1∅ | → 60 × 106 = √3. 13.800|𝐼̂𝑐𝑐1∅ | → |𝐼̂𝑐𝑐1∅ | = 2.510,2 A.

b) Curto-circuito na barra 2:

É necessário representar apenas os equipamentos que se encontram à direita da


barra 2, incluindo o transformador, como mostra a figura 3.13.
Figura 3.13 – Diagrama unifilar referente ao curto-circuito na barra 2

Os circuitos de sequências para análise do curto-circuito na barra 2 são


combinados como mostra a figura 3.14. Os parâmetros do circuito são:
𝑍𝑇+ = 2 + 𝑗10% → 𝑍𝑇+ = 0,02 + 𝑗0,10 p.u.
𝑍𝑇− = 2 + 𝑗10% → 𝑍𝑇− = 0,02 + 𝑗0,10 p.u.
𝑍𝑇0 = 2 + 𝑗10% → 𝑍𝑇0 ;= 0,02 + 𝑗0,10 p.u.
𝑋𝑇𝑛 = 0; 𝑍𝑇𝑛 = 0 + 𝑗0 p.u.
𝑍𝑓 = 0; 𝑍𝑓 = 0 p.u.

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Figura 3.14 – Circuitos de sequências referentes ao curto-circuito na barra 2

A corrente de sequência zero é calculada a seguir:


1,00∠00
𝐼̂0 = = 1,2547∠−72,5𝑜 p.u.
2×(0,09+𝑗0,23)+3(0,02+𝑗0,10)
𝑝.𝑢.
|𝐼̂𝑐𝑐1𝜑 | = |𝐼̂𝐴,2 | = 3|𝐼̂0 | = 3,76 p.u.
30.000.000
A corrente de base é: 𝐼𝐵𝐴𝑆𝐸2 = = 251,02 A. Portanto, a corrente de
√3×69.000

curto-circuito fase-terra na barra 2 é: 943,84 amperes.

c) Curto-circuito na barra 3:

É necessário representar todo o sistema que se encontra à direita da barra 3,


incluindo o transformador, como mostra a figura 3.15.
Os parâmetros do circuito são obtidos a seguir:
𝑍𝐿+ = 𝑗10% → 𝑍𝐿+ = 𝑗0,10 p.u.
𝑍𝐿− = 𝑗10% → 𝑍𝐿− = 𝑗0,10 p.u.
𝑍𝐿0 = 𝑗30% → 𝑍𝐿0 = 𝑗0,30 p.u.
𝑍𝑓 = 0; 𝑍𝑓 = 0 p.u.

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Figura 3.15 – Diagrama unifilar referente ao curto-circuito na barra 3

Os circuitos de sequências para análise do curto-circuito na barra 3 são


combinados como mostra a figura 3.16.
Figura 3.16 – Circuitos de sequências referentes ao curto-circuito na barra 3

Para o circuito da figura 3.16, a corrente de sequência zero é:


1,00∠00
𝐼̂0 = = 0,7796∠ − 79, 20 p.u.
2×(0,09+𝑗0,23)+3×(0,02+𝑗0,10)+2×𝑗0,10+𝑗0,30
𝑝.𝑢.
|𝐼̂𝑐𝑐1𝜑 | = |𝐼̂𝐴,3 | = 3|𝐼̂0 | = 2,34 p.u.
A corrente de base é: 𝐼𝐵𝐴𝑆𝐸3 = 251,02A. Portanto, a corrente de curto-circuito
fase-terra na barra 3 é: 587,39 amperes.

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INTRODUÇÃO ÀS COMPONENTES SIMÉTRICAS E CÁLCULO DE


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4. POTÊNCIA EM COMPONENTES SIMÉTRICAS

Este capítulo apresenta uma revisão das expressões de potência em


termos de componentes de sequência.

4.1 Potência complexa

Em um sistema trifásico equilibrado ou não, a potência complexa S


é calculada em coordenadas 𝐴, 𝐵 e 𝐶, em função das tensões e correntes de fase,
conforme a expressão (4.1).

𝑆 = 𝑉̂𝐴 𝐼̂𝐴∗ + 𝑉̂𝐵 𝐼̂𝐵∗ + 𝑉̂𝐶 𝐼̂𝐶∗ , (4.1)

a qual pode ser escrita na forma matricial, como a seguir:



𝐼̂𝐴
𝑆 = 𝑉̂ 𝑇 𝐼̂∗ = [𝑉̂𝐴 𝑉̂𝐵 𝑉̂𝐶 ] [𝐼̂𝐵 ] . (4.2)
𝐼𝐶
Seja o seguinte desenvolvimento, no qual se utiliza a propriedade
(1.21) mostrada anteriormente no primeiro capítulo:
𝑆 = 𝑉̂ 𝑇 𝐼̂∗ = (𝑇𝑉̂𝑆 )𝑇 (𝑇𝐼̂𝑆 )∗ ,
𝑆 = 𝑉̂𝑆𝑇 𝑇 𝑇 𝑇 ∗ 𝐼̂𝑆∗ = 3𝑉̂𝑆𝑇 𝐼̂𝑆∗ .

Consequentemente, a potência complexa em termos de componentes de


sequência é obtida pela expressão (4.3).

𝑆 = 3𝑉̂+ 𝐼̂+∗ + 3𝑉̂− 𝐼̂−∗ + 3𝑉̂0 𝐼̂0∗ . (4.3)

A equação (4.3) permite calcular a potência complexa diretamente a


partir das grandezas tensão e corrente em componentes simétricas. Nota-se nesta
expressão que cada parcela da potência é igual ao triplo de seu valor por fase. Isto

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é uma consequência do fato de que cada sistema componente é simétrico


(ELGERD, 1976).

4.2 Potências ativas em componentes simétricas

Para sistemas trifásicos desbalanceados, segundo a IEEE Std


1459:2000 IEEE (2000), se 𝑉+ , 𝑉− e 𝑉0 são as componentes simétricas da tensão
e 𝐼+ , 𝐼− e 𝐼0 são as componentes simétricas da corrente com os respectivos
ângulos de fase 𝜃+ , 𝜃− e 𝜃0 , as potências ativas são calculadas pelas expressões:

𝑃+ = 3𝑉+ 𝐼+ 𝑐𝑜𝑠 𝜃+ , (4.4)


𝑃− = 3𝑉− 𝐼− 𝑐𝑜𝑠 𝜃− , (4.5)
𝑃0 = 3𝑉0 𝐼0 𝑐𝑜𝑠 𝜃0 . (4.6)

A potência ativa total é:


𝑃 = 𝑃+ + 𝑃− + 𝑃0 . (4.7)

Expressões análogas às equações das potências ativas de sequências


podem ser escritas para as potências reativas, apenas substituindo cosseno por
seno.

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INTRODUÇÃO ÀS COMPONENTES SIMÉTRICAS E CÁLCULO DE


CURTOS-CIRCUITOS

5. MEDIÇÃO DE GRANDEZAS EM COMPONENTES SIMÉTRICAS

5.1 Introdução
O problema tratado neste capítulo consiste em analisar certos
arranjos de instrumentos e transformadores para instrumentos (TP e TC,
respectivamente, transformador de potencial e transformador de corrente) que
possibilitam a medição direta ou indireta das componentes simétricas de tensão e
corrente em sistemas trifásicos. São discutidos os seguintes arranjos de medição:
 Medição de tensão de sequência zero;
 Medição de tensão de sequência negativa;
 Medição de corrente de sequência zero;
Os três arranjos discutidos a seguir foram extraídos de SELINC
(2008).

5.2 Medição da tensão de sequência zero

Na configuração ilustrada na figura 5.1, as tensões de fase são


refletidas nos secundários dos TPs. O voltímetro de valor eficaz medirá o valor
designado pela letra V.
Figura 5.1 – Conexão de três TPs em 𝑌/Δ aberto e um voltímetro em série nos secundários

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O valor eficaz da tensão de sequência zero, 𝑉0 , é, em conformidade


com o arranjo ilustrado na figura 5.1, obtido a partir da leitura do voltímetro pela
expressão (5.1).

𝑉
𝑉0 = (5.1)
3. 𝑅𝑇𝑃

Na expressão (5.1), 𝑅𝑇𝑃 é a relação de transformação do TP utilizado.

5.3 Medição da tensão de sequência negativa

A tensão de sequência negativa é medida usando-se dois TPs


conectados como ilustra a figura 5.2. Os TPs alimentam uma resistência de valor
𝑅 e uma impedância 𝑍 cujo módulo é igual a 𝑅. Neste caso, a impedância 𝑍 será
𝑅(1+𝑗 √3)
dada por 𝑍 = (isto é, 𝑍 = −𝑎2 𝑅).
2
Figura 5.2 – Conexão de dois TPs e um amperímetro nos seus secundários

A partir do arranjo da figura 5.2 é possível demonstrar que a corrente


medida pelo amperímetro é proporcional à tensão de sequência positiva do

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circuito trifásico, sendo a constante de proporcionalidade igual a 𝑅⁄3. 𝑅𝑇𝑃 (𝑅𝑇𝑃


é a relação de transformação do TP utilizado). Se 𝐼 for o valor eficaz lido no
amperímetro, a expressão (5.2) permite calcular a tensão de sequência negativa.

𝑅. 𝐼
𝑉− = (5.2)
3. 𝑅𝑇𝑃
A tensão de sequência positiva é medida utilizando-se o mesmo
arranjo da figura 5.2, com a diferença que as fases 𝐵 e 𝐶 devem ser invertidas.
Neste caso, a leitura do amperímetro será proporcional à tensão de sequência
positiva (𝑉+ ).

5.4 Medição da corrente de sequência zero

Da equação (1.14) verifica-se que a corrente de sequência zero é


igual a um terço da soma fasorial das correntes de fases. Se o sistema tiver o neutro
distribuído ou uma conexão para o ‘terra’, a corrente de sequência zero é igual a
um terço da corrente que circula diretamente na conexão para a terra. Na
configuração ilustrada na figura 5.3, a medição da corrente de sequência zero
baseia-se justamente na relação descrita anteriormente. Com o auxílio de três TCs
conectados nas fases 𝐴 , 𝐵 e 𝐶 de um circuito trifásico e os enrolamentos
secundários ligados em paralelo, obtém-se a soma das correntes das fases. O
amperímetro da figura indicará o módulo da soma 𝐼̂𝐴 + 𝐼̂𝐵 + 𝐼̂𝐶 , que
naturalmente é igual ao módulo de 3𝐼̂0 . A relação de transformação do TC
utilizado é 𝑅𝑇𝐶.
Se I for o valor eficaz lido no amperímetro, a expressão (5.3)
permite calcular a corrente de sequência zero.
𝐼
𝐼0 = 𝑅𝑇𝐶. (5.3)
3

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Figura 5.3 – Conexão de três TCs em paralelo e um amperímetro nos seus secundários

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INTRODUÇÃO ÀS COMPONENTES SIMÉTRICAS E CÁLCULO DE


CURTOS-CIRCUITOS

6. MODELAGEM DE LINHAS COM RETORNO PELO SOLO

6.1 Introdução

As linhas de transmissão são equipamentos do sistema elétrico que


se apresentam aterrada ou isolada, podendo ter cabos guarda ou não. No caso de
linhas aterradas (com neutro ou cabos guarda ou com retorno de corrente pelo
solo), a modelagem do retorno pelo solo impacta de modo significativo os
parâmetros impedâncias de sequência zero. As equações modificadas de Carson
são utilizadas neste capítulo para modelar o retorno pelo solo. Inicialmente, como
revisão, são apresentados na seção 6.2 os parâmetros elétricos das linhas de
transmissão do ponto de vista da modelagem tradicional. Nas seções subsequentes
são analisados os modelos de linhas de Carson. Na última seção, a abordagem
matricial é apresentada com a finalidade de mostrar o método computacional
adequado para obter as impedâncias de sequência positiva, negativa e zero das
linhas.

6.2 Revisão dos conceitos de parâmetros de linhas de transmissão

A reatância indutiva própria de um cabo é dada pela expressão


(STEVENSON, 1982), (CASTRO JR. 2000), (MONTICELLI, A.; GARCIA,
2000):
𝐷𝑒𝑞 Ω
𝑥̄ 𝐿 = 𝜇0 . 𝑓. 𝑙𝑛 ( ) , (6.1)
𝐷𝑠 𝑚
onde:
𝜇0 : permeabilidade magnética do espaço livre (𝜇0 = 4. π. 10−7 henry/m);
𝑓: frequência da corrente elétrica em hertz;
𝐷𝑒𝑞 : distância média geométrica entre fases em metro (m);
𝐷𝑠 : raio médio geométrico entre os condutores de uma mesma fase em m.

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Na expressão (6.1) e em todas as demais utilizadas neste texto, a notação 𝑙𝑛 é


logaritmo natural.
A figura 6.1 ilustra três cabos em uma disposição trifásica. Cada cabo
possui tramas do tipo 6/1 (sendo 6 de alumínio 1 de aço), em que o condutor do
centro é de aço cuja função é de sustentação apenas.
Figura 6.1 – Exemplo de cabos de uma linha de transmissão em disposição trifásica

No exemplo da figura 6.1, se as distâncias entre dois fios 𝑖 e 𝑗 da trama for 𝐷𝑖𝑗 ,
sendo 𝑖 e 𝑗 =1, 2, 3, 4, 5, 6, então são 36 distâncias no próprio cabo: 𝐷11 , 𝐷12 , 𝐷13 ,
𝐷14 , , 𝐷15 , 𝐷16 , ..., 𝐷66 . Assim, o raio médio geométrico entre condutores de uma
mesma fase, 𝐷𝑠 , é dado pela expressão (6.2):

𝐷𝑠 = 6×6
√𝐷11 𝐷12 𝐷13 𝐷14 𝐷15 𝐷16 ⋯ 𝐷66 (6.2)

Um modo mais simples de calcular o raio médio geométrico é tomar


a área da seção do cabo (dada geralmente em circular mil - CM, 1CM =
0,7854×10−6 in2) fornecida em tabelas pelo fabricante e obter o raio. Daí, para
1
obter 𝐷𝑠 aplica-se a expressão: 𝐷𝑠 = 𝐺𝑀𝑅 = 𝑟𝑎𝑖𝑜 × 𝑒 − 4 (isto é, 𝐷𝑠 = 𝐺𝑀𝑅 =
𝑟𝑎𝑖𝑜 × 0,7788) (CASTRO JR., 2000).

Para a disposição dos cabos mostrada no exemplo da figura 6.1, a


distância média geométrica, 𝐷𝑒𝑞 , é obtida a partir das distâncias entre as fases 𝐴,
𝐵 e 𝐶, como mostradas na figura, através da expressão (6.3):

𝐷𝑒𝑞 = 3√𝑑𝐴𝐵 𝑑𝐴𝐶 𝑑𝐵𝐶 (6.3)

Existem tabelas que contêm informações de diversos tipos de cabos,


tais como resistência, reatâncias, 𝐺𝑀𝑅 etc., que tornam a aplicação das fórmulas
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uma tarefa mais fácil. Para o emprego das tabelas é usual reescrever a expressão
da reatância de um modo apropriado. Já que muitas tabelas de cabos têm unidades
inglesas, primeiramente altera-se a unidade de Ω⁄𝑚 para Ω⁄𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎 da expressão
(6.1) (CASTRO JR., 2000):
𝐷𝑒𝑞 Ω 1.609,347 𝑚
𝑥̄ 𝐿 = 𝜇0 . 𝑓. 𝑙𝑛 ( )( ) × ( ),
𝐷𝑠 𝑚 1 𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎

obtendo-se então a expressão (6.4):


1
𝑥̄ 𝐿 = 2,0224 × 10−3 . 𝑓. 𝑙𝑛 ( ) + 2,0224 × 10−3 . 𝑓. 𝑙𝑛(𝐷𝑒𝑞 ), (6.4)
𝐷𝑠
1
𝑥𝑎 = 2,0224 × 10−3 . 𝑓. 𝑙𝑛 ( ),
𝐷𝑠
𝑥𝑑 = 2,0224 × 10−3 . 𝑓. 𝑙𝑛(𝐷𝑒𝑞 ),
onde:
𝑥𝑎 : reatância indutiva para 1 pé de espaçamento (valor tabelado);
𝑥𝑑 : fator de espaçamento da reatância indutiva.

Enquanto 𝑥𝑎 depende do raio do condutor, 𝑥𝑑 depende do espaçamento dos


condutores e ambos os parâmetros dependem da frequência.
Dessa forma, uma vez que o usuário tenha selecionado o cabo, de
posse da frequência CA em hertz e do espaçamento 𝐷𝑒𝑞 , uma tabela do fabricante
é consultada para obter os valores 𝑥𝑎 e 𝑥𝑑 .
A seguir são abordadas as impedâncias primitivas de linhas.

6.3 Impedâncias próprias e mútuas primitivas de linhas não-transpostas

Esta seção é inspirada em (KERSTING, 2007). A impedância própria


de um condutor 𝑘 para 1 pé de espaçamento (ou 1 metro) é:
1
𝑧̄𝑘𝑘 = 𝑟𝑘 + 𝑗. 𝜇0 . 𝑓. 𝑙𝑛 ( ) Ω/𝑚 (6.5)
𝐺𝑀𝑅𝑘
A impedância mútua entre dois condutores k e m:

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1 Ω
𝑧̄𝑘𝑚 = 𝑗. 𝜇0 . 𝑓. 𝑙𝑛 ( ) , (6.6)
𝐷𝑘𝑚 𝑚
onde:
𝑟𝑘 : resistência própria do condutor k em Ω/m;
𝐺𝑀𝑅𝑘 : raio médio geométrico do condutor k em m;
𝐷𝑘𝑚 : distância entre os condutores k e m (no sentido geométrico) em m;
𝜇0 : permeabilidade magnética do espaço livre (𝜇0 = 4. π. 10−7 henry/m);
𝑓: frequência da corrente elétrica em hertz.

As expressões de impedâncias primitivas apresentadas até aqui não


consideram o retorno da corrente pelo solo e nem qualquer influência da presença
do solo que está sob a linha. Tudo se passa como se, para a linha de transmissão,
o solo não existisse.
Nas equações de impedâncias primitivas de Carson é representado o
efeito do solo, conforme é tratado em seguida.

6.4 Impedâncias próprias e mútuas primitivas de Carson

Nas equações de impedâncias primitivas de Carson está representado


o efeito do solo.
A impedância própria primitiva de um condutor 𝑘 (fase ou neutro)
(PIZZALI, 2003):
2. ℎ𝑘 Ω
𝑧̄𝑘𝑘 = 𝑟𝑘 + 𝑗. 𝜇0 . 𝑓. 𝑙𝑛 ( ) . (6.7)
𝐺𝑀𝑅𝑘 𝑚
A impedância mútua primitiva entre dois condutores 𝑘 e 𝑚
(PIZZALI, 2003):
2
√𝑑𝑘𝑚 + (ℎ𝑘 + ℎ𝑚 )2 Ω
𝑧̄𝑘𝑚 = 𝑗. 𝜇0 . 𝑓. 𝑙𝑛 ( ) , (6.8)
2
√𝑑𝑘𝑚 + (ℎ𝑘 − ℎ𝑚 )2 𝑚

onde:
𝑟𝑘 : resistência própria do condutor k em Ω/m;

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𝐺𝑀𝑅𝑘 : raio médio geométrico do condutor 𝑘 em m;


𝑑𝑘𝑚 : distância horizontal (espaçamento) entre os condutores 𝑘 e 𝑚 em m;
ℎ𝑘 : altura do condutor 𝑘 em relação ao solo em m;
ℎ𝑚 : altura do condutor 𝑚 em relação ao solo em m;
𝜇0 : permeabilidade magnética do espaço livre (𝜇0 = 4. π. 10−7 henry/m);
𝑓: frequência da corrente elétrica em hertz.

As expressões (6.7) e (6.8) são aplicadas apenas às fases e ao condutor neutro.

A impedância mútua primitiva entre uma fase qualquer (ou o neutro)


e o solo, designado pelo índice 𝑔 (𝑔=ground), é calculada como a seguir. Então,
a impedância mútua primitiva de um condutor 𝑘 relativamente ao solo ( 𝑔 )
(PIZZALI, 2003):

𝜇0 ℎ ℎ
𝑧̄𝑘𝑔 = 𝑗. . 𝑓. 𝑙𝑛 ( 𝑘 ) = 𝑗. 2. 𝜋. 10−7 . 𝑓. 𝑙𝑛 ( 𝑘 ) Ω/𝑚 (6.9)
2 √
𝜌

𝜌
𝑓 𝑓

O único dado novo em (6.9) que não consta das equações (6.7) e (6.8) é a
resistividade do solo, designada por 𝜌, em Ω. 𝑚.
Para completar o modelo da linha de Carson, a impedância própria
primitiva do solo, designada por 𝑧̅𝑔𝑔 , pode ser calculada como a seguir
(KERSTING, 2007) (PIZZALI, 2003):
2
𝑧̄𝑔𝑔 = 𝜋 2 10−7 . 𝑓 − 𝑗. 0,0772. 𝜇0 . 𝑓 + 𝑗. 𝜇0 . 𝑓. 𝑙𝑛 ( ),
5,6198 × 10−3
𝑧̄𝑔𝑔 = 𝜋 2 . 10−7 . 𝑓 + 𝑗. 5,7974. 𝜇0 . 𝑓 Ω/𝑚 (6.10)

As equações (6.7), (6.8), (6.9) e (6.10) definem as impedâncias


primitivas da linha de Carson, cujo modelo representa o efeito do caminho de
retorno da corrente elétrica no solo.
A linha monofásica de Carson pode ser representada por um condutor
único 𝑘 com retorno pela terra. O solo é considerado de resistividade uniforme
igual a 𝜌 e tem extensão infinita, sendo o solo, neste modelo, representado por um
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condutor fictício localizado abaixo da superfície da terra. A corrente de retorno


espalha-se sobre uma grande área a uma certa profundidade buscando sempre o
caminho de menor resistência, deslocando-se em direção à fonte. Nesse modelo,
o condutor fictício 𝑔 é visto como se fosse um condutor único com um raio médio
geométrico (𝐺𝑀𝑅) igual a 1 metro (ou 1 pé, dependendo das unidades utilizadas)
localizado a uma distância igual a 𝐷𝑘𝑔 metros (ou 𝐷𝑘𝑔 pés) abaixo da linha aérea,
sendo que 𝐷𝑘𝑔 é função da resistividade do solo (𝜌) (KERSTING, 2007).
A análise efetuada a seguir procura incorporar o efeito do retorno da
corrente pelo solo na impedância da linha.

6.5 Linha monofásica de Carson

Quando o objetivo é descrever o comportamento de um condutor


com retorno pelo solo, a linha de Carson representa o modelo adequado. Carson
considera um condutor 𝑘 único paralelo ao solo (figura 6.2), conduzindo uma
corrente 𝐼̂𝑘 com retorno através do circuito 𝑔 − 𝑔’ abaixo da superfície da terra
(com resistividade uniforme 𝜌 e extensão infinita). Neste modelo, solo é
representado como um condutor fictício.
Figura 6.2 – Linha monofásica de Carson (KERSTING, 2007)

Para a linha de Carson da figura 6.2, obtêm-se as seguintes relações:

𝑉̂𝑎𝑎′ = 𝑧̄𝑘𝑘 𝐼̂𝑘 + 𝑧̄𝑘𝑔 𝐼̂𝑔 , (6.11)


𝑉̂𝑔𝑔′ = 𝑧̄𝑔𝑔 𝐼̂𝑔 + 𝑧̄𝑘𝑔 𝐼̂𝑘 . (6.12)
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Mas, 𝐼̂𝑔 = −𝐼̂𝑘 , 𝑉̂𝑎𝑎′ = 𝑉̂𝑎 − 𝑉̂𝑎′ e 𝑉̂𝑔𝑔′ = 𝑉̂𝑔 − 𝑉̂𝑔′ , além do que 𝑉̂𝑎′ = 𝑉̂𝑔′ .
Portanto,
𝑉̂𝑎 − 𝑉̂𝑎′ = 𝑧̄𝑘𝑘 𝐼̂𝑘 − 𝑧̄𝑘𝑔 𝐼̂𝑘 , (6.13)
𝑉̂𝑔 − 𝑉̂𝑔′ = −𝑧̄𝑔𝑔 𝐼̂𝑘 + 𝑧̄𝑘𝑔 𝐼̂𝑘 . (6.14)

A tensão 𝑉̂𝑎𝑔 é 𝑉̂𝑎𝑔 = 𝑉̂𝑎 − 𝑉̂𝑔 , que, subtraindo (6.13) e (6.14), resulta em:

𝑉̂𝑎𝑔 = 𝑧̄𝑘𝑘 𝐼̂𝑘 − 𝑧̄𝑘𝑔 𝐼̂𝑘 + 𝑧̄𝑔𝑔 𝐼̂𝑘 − 𝑧̄𝑘𝑔 𝐼̂𝑘 . (6.15)

Já que 𝑉𝑔 = 0, a expressão (6.15) é simplificada para a seguinte igualdade:

𝑉̂𝑎 = (𝑧̄𝑘𝑘 + 𝑧̄𝑔𝑔 − 2𝑧̄𝑘𝑔 )𝐼̂𝑘 . (6.16)

A expressão (6.16) é então reescrita como a seguir:

𝑉̂𝑎 = 𝑧̂𝑘𝑘 𝐼̂𝑘 , (6.17)


𝑧̂𝑘𝑘 = 𝑧̄𝑘𝑘 + 𝑧̄𝑔𝑔 − 2𝑧̄𝑘𝑔 , (6.18)
sendo que 𝑧̄𝑘𝑘 representa a impedância própria da linha, e os termos 𝑧̄𝑔𝑔 e
−2𝑧̄𝑘𝑔 representam a correção causada pela presença do solo (PIZZALI, 2003).
A figura 6.3 ilustra o circuito equivalente primitivo da linha
monofásica de Carson.
Figura 6.3 – Circuito equivalente primitivo da linha monofásica de Carson (KERSTING, 2007)

Na equação (6.18) e no circuito da figura 6.3, o efeito do caminho de


retorno da corrente pelo solo é incorporado dentro do que se denomina
impedância própria primitiva da linha. A questão que se coloca agora é: "como
calcular as impedâncias que compõem 𝑧̂𝑘𝑘 da expressão (6.18)?".

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6.5.1 Cálculo das impedâncias da linha monofásica de Carson

Nesta seção são apresentadas expressões de cálculo de 𝑧̄𝑘𝑘 , 𝑧̄𝑔𝑔 e 𝑧̄𝑘𝑔 .


São mostradas duas formas. Inicialmente, para fins didáticos, será apresentada
uma abordagem ingênua que utiliza as impedâncias de linhas não-transpostas na
qual se mostra a sua inaplicabilidade. Em seguida, são estabelecidas as expressões
das impedâncias próprias e mútuas de Carson, onde se considera o efeito do solo.

A. Abordagem ingênua:

Este método consiste em substituir na expressão (6.18) as


impedâncias para linhas não-transpostas dadas em (6.5) e (6.6) da seção 6.3,
supondo o solo como um condutor.
𝑧̂𝑘𝑘 = 𝑧̄𝑘𝑘 + 𝑧̄𝑔𝑔 − 2𝑧̄𝑘𝑔 ,
1 1 1
𝑧̂𝑘𝑘 = 𝑟𝑘 + 𝑗. 𝜇0 . 𝑓 . 𝑙𝑛 ( ) + 𝑟𝑔 + 𝑗. 𝜇0 . 𝑓. 𝑙𝑛 (𝐺𝑀𝑅 ) − 𝑗. 2. 𝜇0 . 𝑓 . 𝑙𝑛 (𝐷 ),
𝐺𝑀𝑅𝑘 𝑔 𝑘𝑔
2
1 𝐷𝑘𝑔
𝑧̂𝑘𝑘 = 𝑟𝑘 + 𝑗. 𝜇0 . 𝑓 . 𝑙𝑛 ( ) + 𝑟𝑔 + 𝑗. 𝜇0 . 𝑓 . 𝑙𝑛 ( ) (6.19)
𝐺𝑀𝑅𝑘 𝐺𝑀𝑅𝑔
Nota-se em (6.19) a última parcela, que contém 𝐷𝑘𝑔 e 𝐺𝑀𝑅𝑔 referentes ao
“condutor solo”, além de 𝑟𝑔 na penúltima parcela.

O problema óbvio ao tentar utilizar a equação (6.19) para calcular a


impedância própria primitiva do solo (𝑧̂𝑘𝑘 ) é que são desconhecidos 𝑟𝑔 e 𝐺𝑀𝑅𝑔 ,
que são, respectivamente, a resistência e o raio médio geométrico do condutor
fictício (solo) (KERSTING, 2007). Além disso, a distância do condutor 𝑘 ao
condutor fictício (solo), 𝐷𝑘𝑔 , também não é conhecida. Esta é essencialmente a
questão básica que foi tratada no trabalho de John Carson, publicado em 1926,
que é a referência (CARSON, 1926).

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Conclui-se, assim, que esta abordagem não tem aplicação prática


porque os dados do solo não podem ser determinados para permitir uso da
expressão (6.19).

B. Abordagem baseada nas impedâncias de Carson:

O cálculo de 𝑧̄𝑘𝑘 se reduz ao uso das equações modificadas de


Carson considerando o solo como um condutor perfeito. São utilizadas as
equações (6.9) e (6.10) que constam da seção 6.4 e da expressão (6.18), como é
explicado em seguida.
Considera-se o termo 𝑧̄𝑔𝑔 − 2𝑧̄𝑘𝑔 da expressão (6.18), que é a
correção devido à presença do solo. De (6.9) e (6.10), em Ω/𝑚, tem-se:

ℎ𝑘 ̄ 𝑘𝑔 = 𝑗. 4. 𝜋. 10−7 . 𝑓. 𝑙𝑛 ( 1
𝑧̄𝑘𝑔 = 𝑗. 2. 𝜋. 10−7 . 𝑓. 𝑙𝑛 ( ) → −2𝑧 ),
𝜌 ℎ𝑘 .√𝑓⁄𝜌
√𝑓

2
𝑧̄𝑔𝑔 = 𝜋 2 . 10−7 . 𝑓 − 𝑗. 0,0772.4. 𝜋. 10−7 . 𝑓 + 𝑗. 4. 𝜋. 10−7 . 𝑓. 𝑙𝑛 (5,6198.10−3) .

Adicionando −2𝑧̄𝑘𝑔 a 𝑧̄𝑔𝑔 , o termo de correção da expressão (6.18) resulta no


seguinte desenvolvimento:

𝑧̄𝑔𝑔 − 2𝑧̄𝑘𝑔 =
2
= 𝜋 2 . 10−7 . 𝑓 − 𝑗. 0,0772.4. 𝜋. 10−7 . 𝑓 + 𝑗. 4. 𝜋. 10−7 . 𝑓. 𝑙𝑛 (5,6198.10−3)
1
+ 𝑗. 4. 𝜋. 10−7 . 𝑓. 𝑙𝑛 ( )=
ℎ𝑘 .√𝑓⁄𝜌

0,0772 1 2
= 𝜋 2 . 10−7 . 𝑓 + 𝑗. 8. 𝜋. 10−7 . 𝑓. [− 2
+ 2. 𝑙𝑛 ( )].
5,6198.10−3 .ℎ 𝑘 .√𝑓 ⁄𝜌

Consequentemente, o termo de correção da presença do solo que


aparece na expressão (6.18) é obtido pela seguinte expressão (PIZZALI, 2003):
𝑧̄𝑔𝑔 − 2𝑧̄𝑘𝑔 =
1 2 (6.20)
= 𝜋 2 . 10−7 . 𝑓 + 𝑗. 8. 𝜋. 10−7 . 𝑓. [−0,0386 + 2 . 𝑙𝑛 ( )]
5,6198.10−3 .ℎ𝑘 .√𝑓⁄𝜌

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Ao observar a equação (6.20), o único dado que é requerido do solo


é a resistividade. Isto torna viável a aplicação da fórmula na prática. Para
completar a análise, por comparação, que a impedância própria 𝑧̅𝑔𝑔 é definida
como a seguir:
 impedância própria primitiva 𝑧̅𝑔𝑔 do solo (𝑔=ground) em Ω/m:
2
𝑧̄𝑔𝑔 = 𝜋 2 . 10−7 . 𝑓 − 𝑗. 0,0772. 𝜇0 . 𝑓 + 𝑗. 4. 𝜋. 10−7 . 𝑓. 𝑙𝑛 ( ),
5,6198 × 10−3

𝜋 Ω
𝑧̄𝑔𝑔 = . 𝜇0 . 𝑓 + 𝑗. 5,7974. 𝜇0 . 𝑓 . (6.21)
4 𝑚

A expressão (6.21) é a mesma (6.10), apenas escrita de modo diferente.

 impedância mútua primitiva 𝑧̅𝑘𝑔 entre o condutor e o solo em Ω/m:

𝜇0 ℎ𝑘 Ω (6.22)
𝑧̄𝑘𝑔 = 𝑗. . 𝑓. 𝑙𝑛 ,
2 𝜌 𝑚
√ ⁄𝑓
( )
onde:
ℎ𝑘 : altura do condutor k em relação ao solo em m;
ρ: resistividade do solo em Ω.m;
f: frequência da corrente elétrica em hertz.

A impedância 𝑧̅𝑘𝑔 mostrada em (6.22) é a mesma expressão definida em (6.9).


 impedância própria primitiva 𝑧̅𝑘𝑘 do condutor 𝑘 em Ω/m:
1
𝑧̄𝑘𝑘 = 𝑟𝑘 + 𝑗. 𝜇0 . 𝑓 . 𝑙𝑛 ( ) Ω/𝑚 (6.23)
𝐺𝑀𝑅𝑘

Dessa forma, a impedância da linha monofásica de Carson, 𝑧̂𝑘𝑘 , pode


ser obtida com base em (6.18) e pelo emprego das equações (6.21), (6.22) e (6.23).
O modelo discutido nesta seção representado pelos circuitos das
figuras 6.2 e 6.3 e pela equação (6.18) limita-se à análise da interação entre um
condutor elétrico designado por 𝑘 e o condutor fictício 𝑔 que é o solo. A seguir é
discutido o modelo de uma linha bifásica em que a interação entre condutores 𝑘 e
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𝑚 é analisada, bem como a interação entre estes condutores e o solo representado


por um condutor fictício.

6.6 Linha bifásica de Carson

Na análise da linha bifásica com caminho de retorno pelo solo surge


a impedância mútua primitiva entre dois condutores 𝑘 e 𝑚. A figura 6.4 ilustra o
circuito, onde dois condutores se estendem entre os pontos 𝑎 e 𝑎′ e 𝑏 e 𝑏′, com os
extremos 𝑎′ e 𝑏′ aterrados. O caminho de retorno da corrente no solo é
representado por um condutor fictício, pelo qual circula a corrente 𝐼̂𝑔 , que é igual
a −(𝐼̂𝑘 + 𝐼̂𝑚 ) (KERSTING, 2007) (SHORT, 2004).
Figura 6.4 – Linha bifásica de Carson (KERSTING, 2007)

Por meio de um equacionamento análogo àquele desenvolvido na


seção 6.5, obtêm-se as seguintes expressões para as tensões nos terminais 𝑎 e
𝑏 em relação ao solo (ponto 𝑔).

𝑉̂𝑎𝑎′ = 𝑧̄𝑘𝑘 𝐼̂𝑘 + 𝑧̄𝑘𝑚 𝐼̂𝑚 + 𝑧̄𝑘𝑔 𝐼̂𝑔 , (6.24)


𝑉̂𝑏𝑏′ = 𝑧̄𝑚𝑚 𝐼̂𝑚 + 𝑧̄𝑘𝑚 𝐼̂𝑘 + 𝑧̄𝑚𝑔 𝐼̂𝑔 , (6.25)
𝑉̂𝑔𝑔′ = 𝑧̄𝑔𝑔 𝐼̂𝑔 + 𝑧̄𝑘𝑔 𝐼̂𝑘 + 𝑧̄𝑚𝑔 𝐼̂𝑚 . (6.26)

Mas,

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𝐼̂𝑔 = −(𝐼̂𝑘 + 𝐼̂𝑚 ),


𝑉̂𝑎𝑎′ = 𝑉̂𝑎 − 𝑉̂𝑎′ ,
𝑉̂𝑏𝑏′ = 𝑉̂𝑏 − 𝑉̂𝑏′ ,
𝑉̂𝑔𝑔′ = 𝑉̂𝑔 − 𝑉̂𝑔′ ,
e, além disso, 𝑉̂𝑎′ = 𝑉̂𝑔′ e 𝑉̂𝑏′ = 𝑉̂𝑔′ . Substituindo essas relações em (6.24) a (6.26),
obtêm-se:

𝑉̂𝑎 − 𝑉̂𝑔′ = 𝑧̄𝑘𝑘 𝐼̂𝑘 + 𝑧̄𝑘𝑚 𝐼̂𝑚 − 𝑧̄𝑘𝑔 (𝐼̂𝑘 + 𝐼̂𝑚 ),


𝑉̂𝑏 − 𝑉̂𝑔′ = 𝑧̄𝑚𝑚 𝐼̂𝑚 + 𝑧̄𝑘𝑚 𝐼̂𝑘 − 𝑧̄𝑚𝑔 (𝐼̂𝑘 + 𝐼̂𝑚 ),
𝑉̂𝑔 − 𝑉̂𝑔′ = −𝑧̄𝑔𝑔 (𝐼̂𝑘 + 𝐼̂𝑚 ) + 𝑧̄𝑘𝑔 𝐼̂𝑘 + 𝑧̄𝑚𝑔 𝐼̂𝑚 ,

e, em seguida, subtraindo a terceira relação da primeira e tomando 𝑉̂𝑔 = 0, tem-


se:

𝑉̂𝑎 = (𝑧̄𝑘𝑘 − 2𝑧̄𝑘𝑔 + 𝑧̄𝑔𝑔 )𝐼̂𝑘 + (𝑧̄𝑘𝑚 − 𝑧̄𝑘𝑔 − 𝑧𝑚𝑔 + 𝑧̄𝑔𝑔 )𝐼̂𝑚 , (6.27)

subtraindo a terceira relação da segunda e impondo 𝑉̂𝑔 = 0, tem-se:

𝑉̂𝑏 = (𝑧̄𝑚𝑚 − 2𝑧̄𝑚𝑔 + 𝑧̄𝑔𝑔 )𝐼̂𝑚 + (𝑧̄𝑘𝑚 − 𝑧̄𝑚𝑔 − 𝑧𝑘𝑔 + 𝑧̄𝑔𝑔 )𝐼̂𝑘 (6.28)
Concluído o desenvolvimento, as relações (6.27) e (6.28) permitem
escrever o seguinte (PIZZALI, 2003):
𝑉̂𝑎 = 𝑧̂𝑘𝑘 𝐼̂𝑘 + 𝑧̂𝑘𝑚 𝐼̂𝑚 , (6.29)
𝑉̂𝑏 = 𝑧̂𝑘𝑚 𝐼̂𝑘 + 𝑧̂𝑚𝑚 𝐼̂𝑚 , (6.30)
onde:
𝑧̂𝑘𝑘 = 𝑧̄𝑘𝑘 − 2𝑧̄𝑘𝑔 + 𝑧̄𝑔𝑔 (6.31)
𝑧̂𝑘𝑚 = 𝑧̂𝑚𝑘 = 𝑧̄𝑘𝑚 − 𝑧̄𝑚𝑔 − 𝑧̅𝑘𝑔 + 𝑧̄𝑔𝑔 (6.32)
𝑧̂𝑚𝑚 = 𝑧̄𝑚𝑚 − 2𝑧̄𝑚𝑔 + 𝑧̄𝑔𝑔 . (6.33)
As relações (6.31) a (6.33) permitem, a partir das expressões das
impedâncias próprias e mútuas primitivas (6.7), (6.8), (6.9) e (6.10), escrever as
impedâncias próprias e mútuas da linha bifásica, levando em conta o efeito do
caminho de retorno da corrente pelo solo.

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Figura 6.5 – Circuito equivalente primitivo da linha bifásica de Carson (KERSTING, 2007)

Os modelos de linhas monofásica e bifásica discutidos nas seções 6.5


e 6.6 mostram por meio de circuitos equivalentes como incorporar o efeito da
corrente de retorno pelo solo, que é através do emprego das relações (6.18) e
(6.31) a (6.33), respectivamente. Nos circuitos equivalentes das figuras 6.3 e 6.5,
as impedâncias indicadas são tais que o solo poderia ser inclusive eliminado das
figuras, uma vez que o efeito deste está contemplado em 𝑧̂𝑘𝑘 , 𝑧̂𝑚𝑚 e 𝑧̂𝑘𝑚 .
Porém, do ponto de vista da prática da Engenharia, as equações
modificadas de Carson apresentadas a seguir tornam esses cálculos mais objetivos
e diretos, oferecendo relativa facilidade nos cálculos sem comprometer a precisão
dos resultados finais. Essas equações são mostradas na seção subsequente.

6.7 Equações das impedâncias modificadas de Carson

A impedância própria (designada por 𝑧̂𝑘𝑘 ) de um condutor 𝑘 (ou


cabo) com retorno pela terra é determinada pela expressão (6.34) (KERSTING,
2007) (VISMOR, 2012):

𝜌
𝜋 √ ⁄𝑓
𝑧̂𝑘𝑘 = 𝑟𝑘 + . 𝜇0 . 𝑓 + 𝑗. 𝜇0 . 𝑓. 𝑙𝑛 + 6,4905 Ω/𝑚 (6.34)
4 𝐺𝑀𝑅𝑘
[ ( ) ]
A impedância mútua (designada por 𝑧̂𝑘𝑚 ) entre condutores 𝑘 e
𝑚 com retorno comum pelo solo é determinada pela expressão (6.35)
(KERSTING, 2007) (VISMOR, 2012):
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𝜌
𝜋 √ ⁄𝑓
𝑧̂𝑘𝑚 = . 𝜇 . 𝑓 + 𝑗. 𝜇0 . 𝑓. 𝑙𝑛 + 6,4905 Ω/𝑚 (6.35)
4 0 𝐷𝑘𝑚
[ ( ) ]
Nas expressões (6.34) e (6.35), a unidade de 𝜌 é em Ω. 𝑚, 𝑓 é em hertz, 𝐺𝑀𝑅𝑘 e
𝐷𝑘𝑚 em metros, de modo que a distância 𝐷𝑘𝑚 é a distância real (no sentido
geométrico geral) entre os condutores 𝑘 e 𝑚 (ou seja, no caso geral, 𝐷𝑘𝑚 de
(6.35) difere de 𝑑𝑘𝑚 que aparece na equação (6.8), onde 𝑑𝑘𝑚 é a distância
horizontal, um caso particular de 𝐷𝑘𝑚 ).
Destaca-se, por fim, que as impedâncias 𝑧̂𝑘𝑘 e 𝑧̂𝑘𝑚 em (6.34) e
(6.35), respectivamente, são aplicadas a circuitos com qualquer número de
condutores, podendo incluir as fases, o neutro e, se houver, o cabo guarda
(também conhecido como cabo para-raios).

6.8 Exemplo de aplicação das equações modificadas de Carson

Nesta seção é resolvido um exemplo de aplicação das equações das


impedâncias de Carson, com enfoque matricial.
Seja o trecho de uma linha de distribuição cuja configuração da torre
é ilustrada na figura 6.6.
Figura 6.6 – Disposição dos condutores numa estrutura convencional com medidas em pés (IEEE, 2019)

Os dados dos condutores de alumínio com alma de aço zincado


(ACSR) utilizados são apresentados na tabela 6.1.
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Tabela 6.1 – Dados dos condutores das fases e do neutro (ALVESb, 2014), (IEEE, 1991)
Condutores Resistência GMR
(Ω⁄𝑘𝑚) (𝑚)
Fases 336,400 26/7 ACSR 0,1901 0,00744
Neutro 4/0 6/1 ACSR 0,3679 0,00248

Os dados dos espaçamentos e das alturas dos condutores em unidades


métricas são apresentados na tabela 6.2.
Tabela 6.2 – Dados das distâncias horizontais e alturas dos condutores (ALVESb, 2014)
Distâncias horizontais entre Distâncias horizontais entre Alturas em relação ao solo
fases fases e neutro
𝑑𝑎𝑏 (m) 𝑑𝑎𝑐 (m) 𝑑𝑏𝑐 (m) 𝑑𝑎𝑛 (m) 𝑑𝑏𝑛 (m) 𝑑𝑐𝑛 (m) ℎ𝑎 (m) ℎ𝑏 (m) ℎ𝑐 (m) ℎ𝑛 (m)
0,7620 2,1336 1,3716 1,2192 0,4572 0,9144 8,5344 8,5344 8,5344 7,3152

Para completar os dados, suponha que a linha esteja operando à


frequência f = 60Hz e a resistividade do solo (suposto uniforme) é 𝜌 =100 Ω.m
(IEEE, 2019). De posse dos dados do sistema trifásico a quatro (4) fios com o
neutro aterrado nos dois extremos, determine:
(a) matriz impedância primitiva [𝑍𝑎𝑏𝑐𝑛𝑔 ] de ordem 5×5;
(b) matriz impedância primitiva equivalente [𝑍𝑎𝑏𝑐𝑛 ] de ordem 4×4;
(c) matriz impedância de fase [𝑍𝑎𝑏𝑐 ] de ordem 3×3;
(d) matriz impedância de sequência [𝑍𝑆 ] ou [𝑍120 ] de ordem 3×3.

A solução é apresentada em seguida.


(a) matriz impedância primitiva [𝑍𝑎𝑏𝑐𝑛𝑔 ]:
Para obter essa matriz é necessário utilizar as expressões (6.7) a (6.10) de
impedâncias primitivas de Carson, apresentadas na seção 6.4.
A estrutura dessa matriz é:

𝑧̄𝑎𝑎 𝑧̄𝑎𝑏 𝑧̄𝑎𝑐 𝑧̄𝑎𝑛 𝑧̄𝑎𝑔


𝑧̄𝑏𝑎 𝑧̄𝑏𝑏 𝑧̄𝑏𝑐 𝑧̄𝑏𝑛 𝑧̄𝑏𝑔
[𝑍𝑎𝑏𝑐𝑛𝑔 ] = 𝑧̄𝑐𝑎 𝑧̄𝑐𝑏 𝑧̄𝑐𝑐 𝑧̄𝑐𝑛 𝑧̄𝑐𝑔 .
𝑧̄𝑛𝑎 𝑧̄𝑛𝑏 𝑧̄𝑛𝑐 𝑧̄𝑛𝑛 𝑧̄𝑛𝑔
[𝑧̄𝑔𝑎 𝑧̄𝑔𝑏 𝑧̄𝑔𝑐 𝑧̄𝑔𝑛 𝑧̄𝑔𝑔 ]

64
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Como a estrutura da matriz é simétrica em posição e valor, os cálculos se revelam


menos trabalhosos uma vez que 𝑧̄𝑘𝑚 = 𝑧̄𝑚𝑘 para 𝑚 ≠ 𝑘. Ao concluir os cálculos
dos elementos da matriz [𝑍𝑎𝑏𝑐𝑛𝑔 ] com a aplicação de (6.7) a (6.10), obtém-se em
Ω⁄𝑘𝑚:
𝑧̄𝑎𝑎 𝑧̄𝑎𝑏 𝑧̄𝑎𝑐 𝑧̄𝑎𝑛 𝑧̄𝑎𝑔
𝑧̄𝑏𝑎 𝑧̄𝑏𝑏 𝑧̄𝑏𝑐 𝑧̄𝑏𝑛 𝑧̄𝑏𝑔
[𝑍𝑎𝑏𝑐𝑛𝑔 ] = 𝑧̄𝑐𝑎 𝑧̄𝑐𝑏 𝑧̄𝑐𝑐 𝑧̄𝑐𝑛 𝑧̄𝑐𝑔 →
𝑧̄𝑛𝑎 𝑧̄𝑛𝑏 𝑧̄𝑛𝑐 𝑧̄𝑛𝑛 𝑧̄𝑛𝑔
[𝑧̄𝑔𝑎 𝑧̄𝑔𝑏 𝑧̄𝑔𝑐 𝑧̄𝑔𝑛 𝑧̄𝑔𝑔 ]

[𝑍𝑎𝑏𝑐𝑛𝑔 ] =
0,1901 + 𝑗0,58344 𝑗0,23449 𝑗0,15737 𝑗0,16748 𝑗0,0712
𝑗0,23449 0,19010 + 𝑗0,58344 𝑗0,19034 𝑗0,18846 𝑗0,0712
= 𝑗0,15737 𝑗0,19034 0,19010 + 𝑗0,58344 𝑗0,17669 𝑗0,0712 .
𝑗0,16748 𝑗0,18846 𝑗0,17669 0,3679 + 𝑗0,65465 𝑗0,06539
[ 𝑗0,07120 𝑗0,07120 𝑗0,07120 𝑗0,06539 0,05922 + 𝑗0,43711]

Figura 6.7 – Matriz impedância primitiva obtida da planilha Excel em Ω⁄𝑘𝑚 (ALVESb, 2014)
MATRIZ IMPEDÂNCIA PRIMITIVA
a b c n g
r jx r jx r jx r jx r jx
a 0,19010 0,58344 0,00000 0,23449 0,00000 0,15737 0,00000 0,16748 0,00000 0,07120
b 0,00000 0,23449 0,19010 0,58344 0,00000 0,19034 0,00000 0,18846 0,00000 0,07120
[Zabcng] = c 0,00000 0,15737 0,00000 0,19034 0,19010 0,58344 0,00000 0,17669 0,00000 0,07120
(Ω/km) n 0,00000 0,16748 0,00000 0,18846 0,00000 0,17669 0,36790 0,65465 0,00000 0,06539
g 0,00000 0,07120 0,00000 0,07120 0,00000 0,07120 0,00000 0,06539 0,05922 0,43711
5x5

(b) matriz impedância primitiva equivalente [𝑍𝑎𝑏𝑐𝑛 ]:


Para obter essa matriz é necessário utilizar as equações modificadas de Carson,
que são as expressões (6.34) e (6.35), apresentadas na seção 6.7. Nestas
expressões, o efeito do solo sobre as impedâncias já está incorporado, por isso, a
notação 𝑧̂𝑘𝑚 em lugar de 𝑧̅𝑘𝑚 utilizada no item anterior.
A estrutura dessa matriz é (atenção para a diferença de notação dos elementos):

𝑧̂𝑎𝑎 𝑧̂𝑎𝑏 𝑧̂𝑎𝑐 𝑧̂𝑎𝑛


𝑧̂ 𝑧̂𝑏𝑏 𝑧̂𝑏𝑐 𝑧̂𝑏𝑛
[𝑍𝑎𝑏𝑐𝑛 ] = [ 𝑏𝑎 ].
𝑧̂𝑐𝑎 𝑧̂𝑐𝑏 𝑧̂𝑐𝑐 𝑧̂𝑐𝑛
𝑧̂𝑛𝑎 𝑧̂𝑛𝑏 𝑧̂𝑛𝑐 𝑧̂𝑛𝑛

Ao concluir os cálculos dos elementos da matriz [𝑍𝑎𝑏𝑐𝑛 ], pela aplicação de (6.34)


e (6.35), obtém-se a matriz pedida em Ω⁄𝑘𝑚:

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0,2493 + 𝑗0,8782 0,0592 + 𝑗0,5292 0,0592 + 𝑗0,4521 0,0592 + 𝑗0,468


0,0592 + 𝑗0,5292 0,2493 + 𝑗0,8782 0,0592 + 𝑗0,4851 0,0592 + 𝑗0,489
[𝑍𝑎𝑏𝑐𝑛 ] = [ ].
0,0592 + 𝑗0,4521 0,0592 + 𝑗0,4851 0,2493 + 𝑗0,8782 0,0592 + 𝑗0,4772
0,0592 + 𝑗0,468 0,0592 + 𝑗0,4890 0,0592 + 𝑗0,4772 0,4271 + 𝑗0,9610

É interessante esclarecer que a matriz [𝑍𝑎𝑏𝑐𝑛 ] tanto pode ser obtida pela aplicação
das equações (6.34) e (6.35) como pelo emprego das equações (6.31) a (6.33).
Assim, a matriz mostrada na figura 6.8 é obtida por meio de uma planilha
elaborada pelo autor deste texto usando (6.31) a (6.38) em conjunto com as
relações (6.7), (6.8), (6.9) e (6.10) (seção 6.4).
Figura 6.8 – Matriz impedância primitiva equivalente obtida da planilha Excel em Ω⁄𝑘𝑚 (ALVESb, 2014)
MATRIZ Z - NEUTRO ISOLADO Ω/km
a b c n
r jx r jx r jx r jx
a 0,2493 0,8782 0,0592 0,5292 0,0592 0,4521 0,0592 0,4680
[Zabcn] = b 0,0592 0,529202 0,2493 0,8782 0,0592 0,4851 0,0592 0,4890
(Ω/km) c 0,0592 0,452080 0,0592 0,4851 0,2493 0,8782 0,0592 0,4772
n 0,0592 0,468005 0,0592 0,4890 0,0592 0,4772 0,4271 0,9610
4x4

(c) matriz impedância de fase [𝑍𝑎𝑏𝑐 ]:

A matriz impedância de fase, [𝑍𝑎𝑏𝑐 ], é obtida a partir da matriz [𝑍𝑎𝑏𝑐𝑛 ] utilizando


a propriedade de que a tensão entre terra e neutro é zero (sistema de distribuição
multiaterrado). Com esta propriedade, pode-se aplicar a Redução de Kron sobre a
matriz primitiva equivalente, que requer a partição da matriz [𝑍𝑎𝑏𝑐𝑛 ] em quatro
submatrizes, conforme ilustrado em seguida:

[𝐴] [𝐵]
[𝑍𝑎𝑏𝑐𝑛 ] = [ ] → [𝑍𝑎𝑏𝑐 ] = [𝐴] − [𝐵][𝐷]−1 [𝐶].
[𝐶] [𝐷]

Para o caso particular deste item, a operação matemática da Redução de Kron é


como segue:

66
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𝑧̂𝑎𝑎 𝑧̂𝑎𝑏 𝑧̂𝑎𝑐 𝑧̂𝑎𝑛


[𝑍𝑎𝑏𝑐 ] = [𝑧̂𝑏𝑎 𝑧̂𝑏𝑏 𝑧̂𝑏𝑐 ] − [𝑧̂𝑏𝑛 ] [𝑧̂𝑛𝑛 ]−1 [𝑧̂𝑛𝑎 𝑧̂𝑛𝑏 𝑧̂𝑛𝑐 ],
𝑧̂𝑐𝑎 𝑧̂𝑐𝑏 𝑧̂𝑐𝑐 𝑧̂𝑐𝑛

de tal modo que a estrutura da matriz resultante é a seguinte (vide a diferença na


notação dos elementos):

𝑧̃𝑎𝑎 𝑧̃𝑎𝑏 𝑧̃𝑎𝑐


[𝑍𝑎𝑏𝑐 ] = [𝑧̃𝑏𝑎 𝑧̃𝑏𝑏 𝑧̃𝑏𝑐 ].
𝑧̃𝑐𝑎 𝑧̃𝑐𝑏 𝑧̃𝑐𝑐

Após aplicar as operações da Redução de Kron sobre a matriz [𝑍𝑎𝑏𝑐𝑛 ], obtém-se


a matriz impedância de fase (ALVESa, 2014), em Ω⁄𝑘𝑚:
𝑧̃𝑎𝑎 𝑧̃𝑎𝑏 𝑧̃𝑎𝑐
[𝑍𝑎𝑏𝑐 ] = [𝑧̃𝑏𝑎 𝑧̃𝑏𝑏 𝑧̃𝑏𝑐 ] →
𝑧̃𝑐𝑎 𝑧̃𝑐𝑏 𝑧̃𝑐𝑐
[𝑍𝑎𝑏𝑐 ] =
0,2843818 + 𝑗0,6695258 0,0969969 + 𝑗0,3115056 0,0954713 + 𝑗0,2394741
[0,0969969 + 𝑗0,3115056 0,2899824 + 𝑗0,6511023 0,0982611 + 𝑗0,2632861].
0,0954713 + 𝑗0,239474 0,0982611 + 𝑗0,2632861 0,2867935 + 𝑗0,6615489

A mesma matriz ([𝑍𝑎𝑏𝑐 ]) em Ω⁄𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎 é:


[𝑍𝑎𝑏𝑐 ] =
0,4576689 + 𝑗1,0774993 0,1561017 + 𝑗0,5013207 0,1536464 + 𝑗0,3853969
[0,1561017 + 𝑗0,5013207 0,4666824 + 𝑗1,0478495 0,1581362 + 𝑗0,4237187].
0,1536464 + 𝑗0,3853969 0,1581362 + 𝑗0,4237187 0,4615502 + 𝑗1,0646617

Em (IEEE, 2019), a matriz impedância de fase para a configuração 4 fios em


Ω⁄𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎 é:
0,4576 + 𝑗1,078 0,1559 + 𝑗0,5017 0,1535 + 𝑗0,3849
[𝑍𝑎𝑏𝑐,𝐼𝐸𝐸𝐸 ] = [0,1559 + 𝑗0,5017 0,4666 + 𝑗1,0482 0,158 + 𝑗0,4236 ].
0,1535 + 𝑗0,3849 0,158 + 𝑗0,4236 0,4615 + 𝑗1,051

(d) matriz impedância de sequência [𝑍𝑆 ] ou [𝑍120 ]:

Para obter a matriz [𝑍120 ] , basta aplicar a transformação em componentes


simétricas sobre a matriz de impedância de fase [𝑍𝑎𝑏𝑐 ] obtida no item anterior
(Ω⁄𝑘𝑚), como estabelece a relação (1.23).
67
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𝑧̃𝑎𝑎 𝑧̃𝑎𝑏 𝑧̃𝑎𝑐 𝑧1 0 0


−1
[𝑍120 ] = [𝑇] . [𝑧̃𝑏𝑎 𝑧̃𝑏𝑏 𝑧̃𝑏𝑐 ] . [𝑇] = [ 0 𝑧2 0 ],
𝑧̃𝑐𝑎 𝑧̃𝑐𝑏 𝑧̃𝑐𝑐 0 0 𝑧0

de modo que as matrizes de transformação e sua inversa são como segue:


1 1 1
[𝑇] = [𝑎2 𝑎 1],
𝑎 𝑎2 1
1
1 𝑎 𝑎2
−1
[𝑇] = 3 [1 𝑎2 𝑎 ].
1 1 1
Neste ponto do texto, cabe ressaltar que a matriz de sequência obtida através da
operação [𝑍120 ] = [𝑇]−1 . [𝑍𝑎𝑏𝑐 ]. [𝑇] possui elementos em posições fora da
diagonal. Isto ocorre em face da assimetria das posições e distâncias dos
condutores da linha de distribuição da figura 6.6, o que significa acoplamento
magnético das impedâncias de sequência. Além disso, os elementos da diagonal
de [𝑍𝑎𝑏𝑐 ] podem exibir pequenas diferenças entre si. Para anular os elementos de
fora da diagonal, sem perda significativa de precisão nos cálculos, neste exemplo,
antes da aplicação da transformação, os elementos de fora da diagonal [𝑍𝑎𝑏𝑐 ] são
substituídos pela média aritmética dos elementos 𝑧̃𝑎𝑏 , 𝑧̃𝑎𝑐 e 𝑧̃𝑏𝑐 , e também os
elementos da diagonal são substituídos pela média (𝑧̃𝑎𝑎 + 𝑧̃𝑏𝑏 + 𝑧̃𝑐𝑐 )⁄3
(KERSTING, 2007).
𝑧̃𝑎𝑎 𝑧̃𝑎𝑏 𝑧̃𝑎𝑐 𝑧̃𝑠𝑠 𝑧̃𝑚 𝑧̃𝑚
[𝑍𝑎𝑏𝑐 ] = [𝑧̃𝑏𝑎 𝑧̃𝑏𝑏 𝑧̃𝑏𝑐 ] ≅ [𝑧̃𝑚 𝑧̃𝑠𝑠 𝑧̃𝑚 ] →
𝑧̃𝑐𝑎 𝑧̃𝑐𝑏 𝑧̃𝑐𝑐 𝑧̃𝑚 𝑧̃𝑚 𝑧̃𝑠𝑠
[𝑍𝑎𝑏𝑐 ] =
0,2870526 + 𝑗0,6607256 0,0969098 + 𝑗0,2714219 0,0969098 + 𝑗0,2714219
[0,0969098 + 𝑗0,2714219 0,2870526 + 𝑗0,6607256 0,0969098 + 𝑗0,2714219]
0,0969098 + 𝑗0,2714219 0,0969098 + 𝑗0,2714219 0,2870526 + 𝑗0,6607256

A matriz [𝑍120 ] em Ω/km é:


𝑧1 0 0
[𝑍120 ] = [ 0 𝑧2 0] →
0 0 𝑧0

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[𝑍120 ] =
0,1901428 + 𝑗0,3893037 0 0
[ 0 0,1901428 + 𝑗0,3893037 0 ]
0 0 0,4808721 + 𝑗1,2035695

Para obter [𝑍120 ] em Ω/milha basta multiplicar a matriz resultante anterior por
[𝑍120 ] =
0,3060057 + 𝑗0,6265248 0 0
[ 0 0,3060057 + 𝑗0,6265248 0 ]
0 0 0,7738900 + 𝑗1,936961

Esses resultados conferem com aqueles apresentados na referência


(IEEE, 2019). Por exemplo, nessa referência, as impedâncias de sequência
positiva, negativa e zero para a configuração a 4 fios são como dadas a seguir:
𝑧1, 𝐼𝐸𝐸𝐸 = 0,3061 + 𝑗0,627 Ω⁄𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎,

𝑧2, 𝐼𝐸𝐸𝐸 = 0,3061 + 𝑗0,627 Ω⁄𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎,

𝑧0, 𝐼𝐸𝐸𝐸 = 0,7735 + 𝑗1,9373 Ω⁄𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎.

6.9 Impedâncias de sequência de linhas de acordo com metodologia IEEE Std 80

O método de obtenção das impedâncias de sequência de linhas


apresentado nas seções anteriores é adequado para uso do computador. Para tornar
os cálculos mais diretos, principalmente, quando se quer efetuar os cálculos sem
o emprego de matrizes, a metodologia IEEE Std 80 é indicada.

Em linhas de transmissão, como se sabe, as impedâncias de


sequência positiva e negativa são iguais, mas a impedância de sequência zero é
função do caminho de retorno da corrente (SATO; FREITAS, 2015).

Para computar a impedância de sequência positiva de uma linha de


transmissão, sem a necessidade de abordagem matricial, pode-se utilizar uma
fórmula básica que é aplicável para linhas aéreas com retorno pelo solo, com ou
sem cabo guarda (IEEE, 2013).

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Ω
𝑧1 = 𝑟𝑎 + 𝑗. (𝑥𝑎 + 𝑥𝑑 ) , (6.36)
𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
onde:
𝑓 1 Ω
𝑥𝑎 = 0,2794. . log10 ( ) ,
60 𝐺𝑀𝑅 𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
𝑓 Ω
𝑥𝑑 = 0,2794. . log10 (𝐷𝑀𝐺) ,
60 𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
𝑟𝑎 : resistência própria do condutor em Ω/𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎;
𝐺𝑀𝑅: raio médio geométrico do condutor em 𝑝é𝑠;
𝐷𝑀𝐺: distância média geométrica entre os condutores das fases em 𝑝é𝑠;
𝑓: frequência elétrica em ℎ𝑒𝑟𝑡𝑧.

Quanto à expressão (6.36), é importante ressaltar que os parâmetros 𝑟𝑎 e 𝑥𝑎


dependem exclusivamente da característica do cabo (normalmente de alumínio),
e o valor de 𝑥𝑑 depende da configuração da estrutura da torre. Nas tabelas de
cabos elaboradas por fabricantes são esses os valores encontrados (SATO;
FREITAS, 2015). A fórmula (6.36) ignora os efeitos de cabos guarda da linha.
A figura 6.8 ilustra as principais configurações de estrutura de torres
de transmissão adotados no Brasil.
Figura 6.8 – Exemplos de torres de linhas de transmissão

70
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Enquanto a impedância de sequência positiva ( 𝑧1 ) é obtida


facilmente, como estudado anteriormente, a impedância de sequência zero (𝑧0 )
não é obtida de modo tão trivial, uma vez que o valor de 𝑧0 depende de vários
aspectos, como o caminho de retorno da corrente no solo e o número de cabos
guarda quando existentes etc. De acordo com Sato e Freitas (2015), a impedância
de sequência zero de uma linha trifásica envolve a impedância para correntes em
fase nos três condutores e que, por essas correntes serem de sequência zero, para
fluírem, necessitam de caminho de retorno seja pelo solo e ou pelo cabo guarda.

Diante disso, uma metodologia para cálculo direto (ou seja, sem
abordagem matricial) da impedância de sequência zero de linhas de transmissão
aéreas é proposta em IEEE (2013). Neste método, os efeitos decorrentes da
presença de cabos para-raios e do solo são incorporados à impedância de
sequência zero, permitindo a obtenção da impedância própria de sequência zero e
da impedância mútua de sequência zero. As expressões se dividem em duas
categorias: ─ linhas sem cabo guarda; ─ linhas com cabos guarda.

A. Impedâncias de sequência zero de circuitos trifásicos, sem cabo guarda:

Impedância própria de sequência zero de um circuito trifásico com retorno pelo


solo, porém sem cabo guarda:
Ω
𝑧0(𝑎) = 𝑟𝑎 + 𝑟𝑒 + 𝑗. (𝑥𝑎 + 𝑥𝑒 − 2. 𝑥𝑑 ) , (6.37)
𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
onde, 𝑟𝑎 , 𝑥𝑎 e 𝑥𝑑 são as mesmas expressões mostradas em (6.36), ou seja, se
referem aos condutores das fases. Mas, 𝑟𝑒 e 𝑥𝑒 são calculadas como segue:
Ω⁄𝑓𝑎𝑠𝑒
𝑟𝑒 = 0,00477. 𝑓 ,
𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
𝜌 Ω
𝑥𝑒 = 0,01397. 𝑓. log10 (2.160. √ ) ,
𝑓 𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎

𝑓: frequência elétrica em ℎ𝑒𝑟𝑡𝑧;


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𝜌: resistividade do solo em Ω. 𝑚.

Impedância mútua de sequência zero entre dois circuitos trifásicos com retorno
pelo solo, porém sem cabo guarda:
𝜌
√𝑓 Ω
𝑧0𝑚(𝑎𝑏) = 𝑟𝑒 + 𝑗. 0,01397. 𝑓. log10 (2.160. 𝐷𝑀𝐺 ) , (6.38)
𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎

onde, 𝑟𝑒 , como definida anteriormente, é calculada como segue:


Ω
𝑟𝑒 = 0,00477. 𝑓 ,
𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
𝑓: frequência elétrica em ℎ𝑒𝑟𝑡𝑧;
𝜌: resistividade do solo em Ω. 𝑚;
𝐷𝑀𝐺: distância média geométrica entre os condutores das fases em 𝑝é𝑠.

B. Impedâncias de sequência zero de circuitos trifásicos, com cabos guarda:

Inicialmente são apresentadas as expressões de impedâncias próprias


de sequência zero de um e dois cabos guarda, que correspondem às situações mais
comuns de linhas com cabos guarda (vide figura 6.8).

Impedância própria de sequência zero de um cabo guarda com retorno pela terra:
Ω
𝑧0(𝑔1) = 3. 𝑟𝑎,𝑔1 + 𝑟𝑒 + 𝑗. (3. 𝑥𝑎,𝑔1 + 𝑥𝑒 ) , (6.39)
𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
onde, 𝑟𝑎,𝑔1 é a resistência própria do condutor do cabo guarda em Ω/𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎; 𝑥𝑎,𝑔1
é calculada por uma expressão similar àquela já apresentada, mas para o condutor
cabo guarda:
𝑓 1 Ω
𝑥𝑎,𝑔1 = 0,2794. . log10 ( ) ,
60 𝐺𝑀𝑅𝑔 𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎

𝐺𝑀𝑅𝑔 : raio médio geométrico do cabo guarda em 𝑝é𝑠;


𝑓: frequência elétrica em ℎ𝑒𝑟𝑡𝑧.

72
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Tanto 𝑟𝑎,𝑔1 quanto 𝑥𝑎,𝑔1 são obtidos de tabelas de condutores. Na expressão


(6.39), 𝑟𝑒 e 𝑥𝑒 , como mostradas anteriormente, são calculadas como segue:
Ω
𝑟𝑒 = 0,00477. 𝑓 ,
𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
𝜌 Ω
𝑥𝑒 = 0,01397. 𝑓. log10 (2.160. √ ) ,
𝑓 𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎

Impedância própria de sequência zero de dois cabos guarda com retorno pela
terra:

3 3 3 Ω
𝑧0(𝑔1𝑔2) = 2. 𝑟𝑎,𝑔 + 𝑟𝑒 + 𝑗. (2. 𝑥𝑎,𝑔 + 𝑥𝑒 − 2. 𝑥𝑑,𝑔1𝑔2 ) , (6.40)
𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
Os parâmetros 𝑟𝑎,𝑔 , 𝑥𝑎,𝑔 , 𝑟𝑒 e 𝑥𝑒 são definidos de modo similar àquela definição
para a expressão precedente, (6.39). O parâmetro 𝑥𝑑,𝑔1𝑔2 é definido como a
seguir:
𝑓 Ω
𝑥𝑑,𝑔1𝑔2 = 0,2794. . log10 (𝑑𝑔1𝑔2 ) ,
60 𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
onde, 𝑑𝑔1𝑔2 é a distância horizontal entre os dois cabos guarda em 𝑝é𝑠.

Além da impedância própria de sequência zero dos cabos guarda, há que se


considerar o efeito mútuo devido ao acoplamento magnético entre o circuito
trifásico e 𝑛 cabos guarda, com retorno pela terra.

Impedância mútua de sequência zero entre um circuito trifásico (fases 𝑎, 𝑏 e 𝑐) e


𝑛 cabos guarda:
Ω
𝑧0𝑚(𝑎𝑔1𝑔2..𝑔𝑛) = 𝑟𝑒 + 𝑗. (𝑥𝑒 − 3. 𝑥𝑑,𝑎𝑔1𝑔2..𝑔𝑛 ) , (6.41)
𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
onde, 𝑟𝑒 e 𝑥𝑒 são calculadas como na expressão (6.39). O parâmetro 𝑥𝑑,𝑎𝑔1𝑔2..𝑔𝑛
é definido como a seguir:
𝑓 Ω
𝑥𝑑,𝑎𝑔1𝑔2..𝑔𝑛 = 0,2794. . log10 (𝐷𝑎𝑔1𝑔2..𝑔𝑛 ) ,
60 𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎

73
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onde, 𝐷𝑎𝑔1𝑔2..𝑔𝑛 é a distância média geométrica entre os condutores das fases 𝑎,


𝑏 e 𝑐 e os cabos guarda em 𝑝é𝑠:

3𝑛
𝐷𝑎𝑔1𝑔2..𝑔𝑛 = √𝐷𝑎𝑔1 . 𝐷𝑏𝑔1 . 𝐷𝑐𝑔1 … 𝐷𝑎𝑔𝑛 . 𝐷𝑏𝑔𝑛 . 𝐷𝑐𝑔𝑛 ,

onde 𝐷𝑝𝑔𝑘 é a distância (no sentido geométrico mais amplo) entre a fase 𝑝 e o
cabo guarda 𝑔𝑘, sendo 𝑝 = 𝑎, 𝑏 e 𝑐 e 𝑘 variando de 1 a 𝑛.

6.9.1 Impedâncias de sequência zero própria e mútua de linhas

Para uma linha com cabos guarda e retorno da corrente pela terra, a
impedância própria de sequência zero da linha de transmissão (𝑧0 ) onde estão
incorporadas as características citadas é então obtida utilizando-se as expressões
(6.39) e (6.41) juntamente com (6.37) para um cabo guarda, e (6.40) e (6.41)
juntamente com (6.37) para dois cabos guarda (ou 𝑛 cabos guarda).

Impedância própria de sequência zero da linha com um cabo guarda com retorno
pela terra:
2
𝑧0𝑚(𝑎𝑔1)
𝑧0 = 𝑧0(𝑎) − , (6.42)
𝑧0(𝑔1)

onde, 𝑧0(𝑎) é obtida com a expressão (6.37), 𝑧0(𝑔1) com a expressão (6.39) e
𝑧0𝑚(𝑎𝑔1) com (6.41) para 𝑛 = 1.

Impedância própria de sequência zero da linha com dois cabos guarda com
retorno pela terra:
2
𝑧0𝑚(𝑎𝑔1𝑔2)
𝑧0 = 𝑧0(𝑎) − , (6.43)
𝑧0(𝑔1𝑔2)

onde, 𝑧0(𝑎) é obtida com a expressão (6.37), 𝑧0(𝑔1𝑔2) com a expressão (6.40) e
𝑧0𝑚(𝑎𝑔1𝑔2) com (6.41) para 𝑛 = 2.

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Impedância mútua de sequência zero entre dois circuitos trifásicos 𝑎 e 𝑏 da linha


com um cabo guarda com retorno pela terra:
𝑧0𝑚(𝑎𝑔1) . 𝑧0𝑚(𝑏𝑔1)
𝑧0𝑚 = 𝑧0𝑚(𝑎𝑏) − , (6.44)
𝑧0(𝑔1)

onde, 𝑧0𝑚(𝑎𝑏) é obtida com a expressão (6.38), 𝑧0(𝑔1) com a expressão (6.39) e
𝑧0𝑚(𝑎𝑔1) com (6.41), e 𝑧0𝑚(𝑏𝑔1) com (6.41) trocando 𝑎 por 𝑏 e tomando 𝑛 = 1.

Impedância mútua de sequência zero entre dois circuitos trifásicos 𝑎 e 𝑏 da linha


com dois cabos guarda com retorno pela terra:
𝑧0𝑚(𝑎𝑔1𝑔2) . 𝑧0𝑚(𝑏𝑔1𝑔2)
𝑧0𝑚 = 𝑧0𝑚(𝑎𝑏) − , (6.45)
𝑧0(𝑔1𝑔2)

onde, 𝑧0𝑚(𝑎𝑏) é obtida com a expressão (6.38), 𝑧0(𝑔1𝑔2) com a expressão (6.40) e
𝑧0𝑚(𝑎𝑔1𝑔2) com (6.41), e 𝑧0𝑚(𝑏𝑔1𝑔2) com (6.41) trocando 𝑎 por 𝑏 e tomando 𝑛 =
2.
A dedução das expressões (6.42) a (6.45) pode ser encontrada em
Sato e Freitas (2015).
Para mostrar a aplicação do método proposto nesta seção, é resolvido
a seguir um exemplo numérico utilizando os mesmos dados e a figura 6.6, do
exemplo da seção 6.8. Neste exemplo não há cabo guarda, mas há o condutor
neutro, que, do ponto de vista de cálculo, é similar à situação com um cabo guarda.

6.9.2 Exemplo numérico

Seja a mesma estrutura ilustrada na figura 6.6. Deseja-se calcular as


impedâncias própria de sequência zero do sistema de distribuição com neutro
multiaterrado e retorno pelo solo. Os dados foram convertidos para unidades
adequadas às expressões da metodologia da IEEE Std 80: 1 𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎 =
1,609347 𝑘𝑚; 1 𝑝é = 0,3048 𝑚.

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Tabela 6.3 – Dados dos condutores das fases e do neutro


Condutores Resistência GMR
(Ω⁄𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎 ) (𝑝é)
Fases 336,400 26/7 ACSR 0,3059 0,02441
Neutro 4/0 6/1 ACSR 0,5921 0,00814

Os dados dos espaçamentos e das alturas dos condutores também são


convertidos para 𝑝é𝑠.
Tabela 6.4 – Dados das distâncias horizontais e alturas dos condutores
Distâncias horizontais entre fases Distâncias horizontais entre fases e
neutro
𝑑𝑎𝑏 (𝑝é) 𝑑𝑎𝑐 (𝑝é) 𝑑𝑏𝑐 (𝑝é) 𝑑𝑎𝑛 (𝑝é) 𝑑𝑏𝑛 (𝑝é) 𝑑𝑐𝑛 (𝑝é)
2,5 7,0 4,5 4,0 1,5 3,0

A frequência é f = 60Hz e a resistividade do solo (suposto uniforme)


é 𝜌 =100 Ω.m. De posse dos dados do sistema trifásico a quatro (4) fios com o
neutro aterrado, são efetuados os cálculos para obter 𝑧0 e 𝑧0𝑚 .

 Impedância própria de sequência zero da linha de distribuição com retorno


pelo solo, sem neutro – expressão (6.37):

Ω
𝑟𝑎 = 0,3059 ,
𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
Ω
𝑟𝑒 = 0,00477.60 = 0,2862 ,
𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
100 Ω
𝑥𝑒 = 0,01397.60. log10 (2.160. √ ) = 2,8879 ,
60 𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎

60 1 Ω
𝑥𝑎 = 0,2794. . log10 ( ) = 0,4505 ,
60 0,02441 𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
60 Ω
𝑥𝑑 = 0,2794. . log10 (4,2863) = 0,1766 ,
60 𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
3
sendo que 𝐷𝑀𝐺 = √2,5.7,0.4,5 = 4,2863 𝑝é𝑠.
𝑧0(𝑎) = 𝑟𝑎 + 𝑟𝑒 + 𝑗. (𝑥𝑎 + 𝑥𝑒 − 2. 𝑥𝑑 ) →
Ω
𝑧0(𝑎) = 0,5921 + 𝑗. 2,9852 .
𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎

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Esta é a impedância de sequência zero da linha de distribuição com configuração


a três fios, com retorno pelo solo, conforme ilustra a figura 6.9.
Figura 6.9 – Disposição dos condutores numa estrutura convencional sem neutro com medidas em pés - adaptada
de (IEEE, 2019)

 Impedância própria de sequência zero do neutro com retorno pelo solo –


expressão (6.39):

Ω
𝑟𝑎,𝑔1 = 0,5921 ,
𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
Ω
𝑟𝑒 = 0,00477.60 = 0,2862 ,
𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
100 Ω
𝑥𝑒 = 0,01397.60. log10 (2.160. √ ) = 2,8879 ,
60 𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎

60 1 Ω
𝑥𝑎,𝑔1 = 0,2794. . log10 ( ) = 0,58377 ,
60 0,00814 𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
Ω
𝑧0(𝑔1) = 3. 𝑟𝑎,𝑔1 + 𝑟𝑒 + 𝑗. (3. 𝑥𝑎,𝑔1 + 𝑥𝑒 ) →
𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
Ω
𝑧0(𝑔) = 2,0625 + 𝑗. 4,6392 .
𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎

 Impedância mútua de sequência zero entre um circuito trifásico (fases 𝑎, 𝑏


e 𝑐) e o condutor neutro – expressão (6.39):

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Ω
𝑟𝑒 = 0,00477.60 = 0,2862 ,
𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
100 Ω
𝑥𝑒 = 0,01397.60. log10 (2.160. √ ) = 2,8879 ,
60 𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎

60 Ω
𝑥𝑑,𝑎𝑔1𝑔2..𝑔𝑛 = 0,2794. . log10 (4,9438) = 0,19392 ,
60 𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
3
sendo 𝐷𝑎𝑔1𝑏𝑔1𝑐𝑔1 = √5,66.4,27.5 = 4,9438 𝑝é𝑠,

Ω
𝑧0𝑚(𝑎𝑔1𝑏𝑔1𝑐𝑔1) = 𝑟𝑒 + 𝑗. (𝑥𝑒 − 3. 𝑥𝑑,𝑎𝑔1𝑔2..𝑔𝑛 ) →
𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
Ω
𝑧0𝑚(𝑎𝑔1𝑏𝑔1𝑐𝑔1) = 0,2862 + 𝑗. 2,30614 .
𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎

Por fim, a impedância própria de sequência zero pode ser obtida pela aplicação
de (6.44):
2
𝑧0𝑚(𝑎𝑔1) (0,2862 + 𝑗. 2,30614 )2
𝑧0 = 𝑧0(𝑎) − → 𝑧0 = 0,5921 + 𝑗. 2,9852 − ,
𝑧0(𝑔1) 2,0625 + 𝑗. 4,6392
Ω
𝑧0 = 0,7735 + 𝑗. 1,9371 .
𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎
Convém ressaltar que o valor obtido para 𝑧0 com a metodologia da
IEEE Std 80 é próximo do valor do elemento (3,3) da matriz [𝑍120 ], do item (d)
do exemplo resolvido na seção 6.8. Assim como também o valor 𝑧0 confere com
o resultado da referência (IEEE, 2019).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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APÊNDICE: EQUAÇÕES DE CARSON

Na formulação de Carson, a impedância própria ( 𝑧̂𝑝𝑟𝑜𝑝−𝑔 ) e a


impedância mútua ( 𝑧̂𝑚ú𝑡𝑢𝑎−𝑔 ), em ohm por unidade de comprimento já
considerando o efeito do solo, são dadas pelas seguintes equações gerais
(CARSON, 1926), (VISMOR, 2012):
2. ℎ𝑘
𝑧̂𝑝𝑟𝑜𝑝−𝑔 = 𝑟𝑘 + 𝑗. 2. 𝜔. 𝑙𝑛 ( ) + 4. 𝜔. (𝑃 + 𝑗𝑄) (A.1)
𝐺𝑀𝑅𝑘
𝐷𝑘𝑚
𝑧̂𝑚ú𝑡𝑢𝑎−𝑔 = 𝑗. 2. 𝜔 . 𝑙𝑛 ( ) + 4. 𝜔. (𝑃 + 𝑗𝑄) (A.2)
𝑑𝑘𝑚
onde:
𝑧̂𝑝𝑟𝑜𝑝−𝑔 : impedância própria do condutor k com retorno pela terra;
𝑧̂𝑚ú𝑡𝑢𝑎−𝑔 : impedância mútua entre condutores 𝑘 e 𝑚 com retorno pela terra;
𝑟𝑘 : resistência própria do condutor 𝑘 em Ω por unidade de
comprimento;
𝐺𝑀𝑅𝑘 : raio efetivo (ou raio médio geométrico) do condutor 𝑘;
ℎ𝑘 : altura do condutor 𝑘 em relação ao solo;
𝐷𝑘𝑚 : distância entre o condutor 𝑘 e a imagem do condutor 𝑚;
𝑑𝑘𝑚 : distância entre os condutores 𝑘 e 𝑚;
𝜔: frequência angular da corrente elétrica em rad/s (𝜔 = 2𝜋𝑓).

Nesta formulação, de acordo com Vismor (2012), os termos 𝑃 e


𝑄 são definidas por Carson em seu artigo original como séries infinitas expressas
em termos de dois parâmetros, sendo um eletrogeométrico, designado por κ
(kappa), e outro geomético, designado por θ (CARSON, 1926). Neste texto, os
detalhes a respeito desses parâmetros são omitidos, bem como as simplificações
que levaram às equações modificadas de Carson.
As expressões (A.1) e (A.2) são de difícil aplicação prática tendo em
vista a complexidade dos cálculos requeridos. Diversos pesquisadores da

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Engenharia Elétrica, como Wagner e Evans (1933), Edith Clarke (1943) e


Anderson (1987) trouxeram excelentes contribuições ao tema, incluindo
formulações mais facilmente tratáveis que as originalmente propostas por Carson
(VISMOR, 2012).
Do ponto de vista da prática da Engenharia, as equações modificadas
de Carson apresentadas a seguir oferecem relativa facilidade nos cálculos sem
comprometer a precisão dos resultados finais.

A impedância própria (designada por 𝑧̂𝑘𝑘 ) de um condutor 𝑘 (ou


cabo) com retorno pela terra é determinada pela expressão (A.3) (KERSTING,
2007) (VISMOR, 2012):

𝜌
√ ⁄𝑓
𝑧̂𝑘𝑘 = 𝑟𝑘 + 𝜋 2 . 10−7 . 𝑓 + 𝑗. 𝜇0 . 𝑓. 𝑙𝑛 + 6,4905 Ω/𝑚 (A.3)
𝐺𝑀𝑅𝑘
[ ( ) ]
A impedância mútua (designada por 𝑧̂𝑘𝑚 ) entre condutores 𝑘 e
𝑚 com retorno comum pela terra é determinada pela expressão (A.4)
(KERSTING, 2007) (VISMOR, 2012):

𝜌
√ ⁄𝑓
𝑧̂𝑘𝑚 = 𝜋 2 . 10−7 . 𝑓 + 𝑗. 𝜇0 . 𝑓. 𝑙𝑛 + 6,4905 Ω/𝑚
𝐷𝑘𝑚 (A.4)
[ ( ) ]
Nas expressões (A.3) e (A.4), a unidade de 𝜌 é Ω. 𝑚, 𝑓 é hertz; 𝐺𝑀𝑅𝑘 e 𝐷𝑘𝑚 em
metros, de modo que essa distância é a distância real (no sentido geométrico geral)
entre os condutores 𝑘 e 𝑚 (ou seja, no caso geral, 𝐷𝑘𝑚 de (A.4) difere de 𝑑𝑘𝑚 ,
uma vez que 𝑑𝑘𝑚 é a distância horizontal, enquanto 𝐷𝑘𝑚 é a distância real).

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