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Prof.

Maria Lais Devólio de Almeida – Disciplina UROANÁLISE

UROANÁLISE

PADRONIZAÇAO DO LAUDO
Não existe no país, até o momento, uma padronização bem definida sobre a transcrição de dados do
exame de urina rotina. A forma de liberação de resultados deve ser estabelecida pelo próprio laboratório. Porém
recomenda-se utilizar a ABNT NBR 15268 ou as recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia
Clínica/Medicina Laboratorial SBPC/ML para a realização do exame em urina. A uroanálise é constituída de três
parâmetros: análise física, química e sedimentoscopia:

ANÁLISE FÍSICA

• Cor: amarela, amarela clara, amarela escura, amarela esverdeada, laranja, vermelha, vermelha
escura, âmbar, preta e outras cores devido à presença de contaminantes ou medicamentos;
• Aspecto ou transparência: transparente, opaca e turva;
• Odor: sui generis ou outros odores característicos de alterações metabólicas, ou produzidos pela
presença de contaminantes;
• Densidade: valor numérico de densidade lida na tira reagente ou nos equipamentos.

ANÁLISE QUÍMICA

• pH: valor numérico lido na tira reagente


• Proteínas: Negativo, Positivo (Traços), Positivo (+ a +++)
• Glicose: Negativo (Normal), Positivo (+ a ++++)
• Cetonas: Negativo, Positivo (+ a +++)
• Bilirrubina: Negativo, Positivo (+ a +++)
• Urobilinogênio: Normal, Positivo (+ a ++++)
• Sangue: Negativo, Positivo (+ a +++)
• Nitrito: Negativo, Positivo
• Leucócitos: Negativo, Positivo (Traços), Positivo (+ a +++)
• Ácido ascórbico: Negativo, Positivo (+ a ++) **algumas tiras detectam essa análise com o intuito
de verificar a presença de Vitamina C na urina, visto que a mesma pode influenciar os resultados
químicos dos testes.

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ANÁLISE MICROSCÓPICA
CONTAGEM DE LEUCÓCITOS/HEMÁCIAS: aumento de 400x

- LÂMINA/LAMÍNULA: contar no mínimo 10 campos, realizar a média e registrar o resultado por campo

- KCELL MODELO 23970:

Metodologia por ml/urina: Contar 9 círculos, Células/ml= (∑ células contadas em 9 círculos) x fator de diluição x
1200

Metodologia por campo: proceder a mesma metodologia de lâmina/lamínula

- CÂMARA DE NEUBAUER:

Células/ml= (∑ células contadas em 4 quadrantes) x fator de diluição x 250

RESUMINDO...

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ANÁLISE MICROSCÓPICA DA URINA


A análise microscópica da urina, também denominada de sedimentoscopia, consiste na observação,
identificação e quantificação do material insolúvel presente na mesma. É uma etapa importante do exame, pois
fornece informações sobre a integridade anatômica dos rins e sobre a existência e a extensão de lesões. A
meticulosidade na realização da microscopia do sedimento urinário deve ser constante, porque a maioria dos
elementos pode sofrer modificações no seu aspecto morfológico. Estas modificações podem ser devidas a
variações do pH, uso de medicamentos, decomposição bacteriana, coleta inadequada da amostra, conservação
inadequada do material, frascos de coleta impróprios, etc.

HEMÁCIAS

DEFINIÇÃO

A hemácia, célula sangüínea,pode ser encontrada no sedimento urinário em condições normais. A presença de
hemácias em número superior a 3 por campo, é definida como hematúria.

Normocítica
A hemácia se apresenta no sedimento urinário na forma de disco bicôncavo sem núcleo e com diâmetro de cerca
de 7 micra. A hemoglobina pode torná-la corada, em tom pálido de laranja-amarelado. Em amostra de urina
diluída ou hipotônica, as hemácias se apresentam maiores e arredondadas, devido à difusão de fluidos para
dentro das células. Em amostra de urina com pH alcalino, estas podem se romper, eliminando o conteúdo celular
e mantendo somente a membrana, apresentando-se como "sombra" ou "fantasma". Em amostras de urina
concentrada, a hipertonicidade provoca a perda de fluidos pela célula e a hemácia se apresenta crenada ou com
volume reduzido.

Dismórfica
As hemácias dismórficas se apresentam com formas atípicas, com protuberâncias, projeções ou vesículas
produzidas por alterações da membrana celular; fragmentadas, por ruptura da membrana celular e perda do
conteúdo intracelular, devido à passagem através da membrana glomerular.

Dois tipos de hemácias dismórficas são descritos:


• Acantócito: célula que apresenta bulbos e extrusões citoplasmáticas;
• Codócito: célula com aspecto de alvo e/ou com condensação de material denso na membrana celular.

Para a pesquisa de hemácias dismórficas é necessário uma coleta apropriada e procedimento particularizado para
o estudo de dismorfismo eritrocitário. A observação é facilitada pelo uso de microscopia de contraste de fase ou
de interferência.

Grumos de hemácias
Aglomerados de hemácias, correspondendo aos coágulos sangüíneos.

VALOR DE REFERÊNCIA

- 0 a 3 por campo
- até 5.000 ml/urina

OBS: quando houver uma quantidade excessiva de hemácias, recomenda-se relatar “Sedimentoscopia
prejudicada devido quantidade de hemácias”.
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1 - hemácia normal 1 - hemácia normal

2 1

3
1

1 - hemácia normal 1 – hemácia normal


2 - hemácia fantasma
3 – hemácia crenada
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3

1 - hemácia normal 1 – hemácia normal


2 - hemácia fantasma 2 – hemácia crenada
3 – hemácia crenada

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1 - hemácia normal 1 – grumos de hemácias


2 - hemácia crenada

1 – grumos de hemácias

SIGNIFICADO CLÍNICO

A presença de hemácias no sedimento urinário é denominada de hematúria. A presença de mais de 3 hemácias


por campo, no aumento de 400x, pode ser um sinal de hemorragia no trato urinário, causada por lesões diversas.

A gravidade da lesão está diretamente relacionada com o número de hemácias encontradas por campo. Assim a
hematúria pode ser microscópica, quando o número de hemácias encontradas na urina é pequeno e não altera a
cor da mesma.

Na hematúria macroscópica a urina se apresenta de cor rósea a vermelha e após a centrifugação é observado um
botão de hemácias no fundo do tubo de centrífuga e ao microscópio a hematúria é maciça. A presença de
hemácias dismórficas no sedimento urinário é sinal de hematúria glomerular.

Abaixo estão descritas as principais causas de hematúria:

Causas pré-renais: coagulopatias, terapia com anticoagulantes, anemia falciforme, talassemias e


hemoglobinopatias.

Causas renais glomerulares: glomerulonefrites agudas, glomerulonefrites crônicas, nefrite devido a lupus,
síndrome de Alport e hematúria familiar benigna.

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Causas renais não glomerulares: nefroesclerose, infarto renal, tuberculose renal, pielonefrite, rim policístico,
nefrite intersticial, tumores, malformações vasculares, traumatismo, necroses intersticiais, hematomas perirenais,
uso abusivo de analgésicos e nefropatias secundárias (irradiação, hipercalcemia, hiperuricemia).

Causas pós-renais: cálculos, tumores do trato urinário inferior, cistites, prostatites, epididimites, estenose da
uretra, uretrites, hipertrofia da próstata, endometriose, exercícios físicos intensos e obstruções no fluxo urinário.

A hematúria acompanhada de proteinúria, de cilindros hemáticos e de hemácias dismórficas indica hemorragia de


origem glomerular.

A hematúria glomerular é um sinal precoce de lesão do glomérulo, processo de degeneração renal que pode levar
à instalação de um quadro grave de insuficiência renal. A hematúria glomerular deve ser distinta das outras
causas de hematúria pois, por ser de pior prognóstico, necessita exames exaustivos e aplicação de tratamento
adequado, para permitir maior possibilidade de cura.

O estudo morfológico das hemácias encontradas na urina, denominado dismorfismo eritrocitário, consiste no
método de escolha para detectar a presença de hematúria glomerular. As instruções adequadas estão descritas
no item Coleta de amostra e procedimento para estudo de dismorfismo eritrocitário.

O dismorfismo eritrocitário é caracterizado pela presença, na urina, de hemácias que atravessaram a membrana
basal do glomérulo e passaram por todos os segmentos do néfron. Estas hemácias apresentam alterações na
membrana celular produzidas por vários fatores, tais como:

• Estresse mecânico da célula provocado pela passagem através dos poros da membrana basal;
• Passagem da hemácia pelo néfron, onde é submetida a diferentes osmolaridades;
• Contato da hemácia com células inflamatórias presentes no néfron, com conseqüente exposição às
enzimas lisossomiais presentes nestas células;
• Tentativa de fagocitose da hemácia pelas células epiteliais dos túbulos renais.

Sendo submetida às condições descritas acima, a hemácia dismórfica apresentará as seguintes características:
• Perda do conteúdo de hemoglobina;
• Ruptura da membrana celular;
• Perda do citoplasma;
• Presença de extrusões citoplasmáticas e de material fase-denso na região da membrana celular.

Assim, as hemácias dismórficas podem ser classificadas em dois tipos: acantócito, células que apresentam bulbos,
projeções e extrusões citoplasmáticas, e codócito, célula com aspecto de alvo e condensação de material denso
na membrana celular.

A hematúria não acompanhada de proteinúria moderada ou grave, de cilindros hemáticos e de hemácias


dismórficas é, provavelmente, originada do trato urogenital. É importante ressaltar que a contaminação da urina
por fluido menstrual é uma causa comum de hematúria.

A presença de coágulos pode ser detectada em pacientes com hematúria macroscópica e é, exclusivamente, de
origem extrarenal. Os coágulos não são observados nas hematúrias glomerulares devido à presença, nos
glomérulos e nos túbulos renais, de fatores trombolíticos, como a uroquinase, e de ativadores tissulares do
plasminogênio.

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LEUCÓCITOS

DEFINIÇÃO

Os leucócitos, células da série branca do sangue, encontrados no sedimento urinário são representados,
principalmente, pelos polimorfonucleares neutrófilos, embora qualquer leucócito encontrado no sangue, possa
ser encontrado na urina.

Os leucócitos se apresentam como células arredondadas, pouco maiores que as hemácias, com diâmetro de 12
micra, repletas de grânulos citoplasmáticos e, às vezes, é possível observar os núcleos lobulados. Os leucócitos
lisam-se rapidamente em amostras de urina com pH alcalino. No prazo de 2 a 3 horas após a coleta,
aproximadamente 50% dos leucócitos se desintegram e desaparecem, caso a urina não seja refrigerada. Em
amostras de urina com pH alcalino, os leucócitos se apresentam mais dilatados e em amostras de urina com pH
ácido, mais contraídos. Algumas vezes são encontrados aglomerados de leucócitos, correspondendo à união de
várias destas células.

Estruturas semelhantes
Os leucócitos podem ser confundidos com hemácias e células do epitélio renal. A diferenciação pode ser feita
através do uso de corantes, por acidificação do meio ou utilização de microscopia de contraste de fase ou de luz
polarizada.

O corante de Sternheimer-Malbin cora os leucócitos de violeta. O uso de ácido acético a 2% (v/v) auxilia na
distinção entre leucócitos, hemácias e células do epitélio renal. Em meio ácido, os núcleos segmentados dos
leucócitos se tornam visíveis, as hemácias são lisadas e nas células do epitélio renal é evidenciado o núcleo,
redondo e central.

Existe um tipo de neutrófilo, observado em amostra de urina recém emitida, hipotônica e com densidade inferior
a 1.010, que apresenta grânulos citoplasmáticos com movimentos brownianos. Estes leucócitos são chamados de
"células cintilantes". Após coloração pelo corante de Sternheimer-Malbin estas células se apresentam pouco
coradas, com citoplasma azul pálido e núcleo azul forte. A diferenciação entre neutrófilos e outros glóbulos
brancos do sangue, em um exame de urina rotina não é necessária.

VALOR DE REFERÊNCIA

- até 4 por campo


- até 10.000 ml/urina

OBS: Quando a urina apresentar incontáveis leucócitos, recomenda-se relatar: “sedimentoscopia prejudicada
devido quantidade de leucócitos”.

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1 – aglomerado de leucócitos 1 – aglomerado de leucócitos

1 - leucócitos 1 - leucócitos

1- aglomerado de leucócitos 1 – leucócito


2 - hemácia

SIGNIFICADO CLÍNICO

A presença de mais de 4 (quatro) leucócitos por campo, no aumento de 400x, é considerada anormal, sendo
denominada leucocitúria e indica inflamação e/ou infecção no trato urinário.

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A leucocitúria pode ser devido à infecção bacteriana e pode ser causada por doenças intrínsecas renais, como a
glomerulonefrite, a nefrite lupóide e tumores, ou ainda por doenças do trato urinário inferior ou do trato genital.

Nas infecções do trato superior são encontrados, em conjunto com os leucócitos, cilindros leucocitários e
proteinúria moderada. Nas infecções do trato inferior a proteinúria é leve e os cilindros estarão ausentes.

Os leucócitos encontrados no sedimento urinário são representados, principalmente, pelos polimorfonucleares


neutrófilos, entretanto qualquer leucócito encontrado no sangue pode ser encontrado na urina.

Os eosinófilos podem ser encontrados no sedimento urinário em casos de nefrite intersticial aguda alérgica,
nefrite intersticial induzida por drogas, incluindo a hipersensibilidade à penicilina ou drogas afins,
glomerulonefrite aguda, prostatite, pielonefrite crônica, esquistossomose e doenças do trato genital.

Os linfócitos, ao serem encontrados nas primeiras semanas após transplante renal sinalizam, precocemente, uma
possibilidade de rejeição. As células fagocitárias, monócitos, macrófagos aparecem raramente no sedimento
urinário e, quando presentes, podem indicar inflamações crônicas.

A observação de aglomerados de leucócitos pode indicar a presença de abscesso.

CÉLULAS EPITELIAIS

CÉLULAS EPITELIAIS ESCAMOSAS

Estas células são oriundas da uretra e da vagina podendo, neste último caso, aparecer em amostras de
urina devido à contaminação por secreções genitais. Estas são células grandes, com tamanho aproximado de 30 a
50 micra, formato retangular ou arredondado, achatadas, com bordas onduladas e irregulares, núcleo central e
pequeno e, muitas vezes se apresentam agrupadas. Estas células são facilmente identificadas no aumento de
100x. Existe um tipo de célula escamosa, de origem vaginal, que pode ser encontrada em amostras de urina e é
chamada de "célula chave", a qual está coberta por cocobacilos da espécie Gardnerella vaginalis. A camada de
bactérias torna a célula com aspecto refringente, pontilhado ou granuloso e com bordas ásperas.

Células epiteliais escamosas Células epiteliais escamosas

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Células epiteliais escamosas aglomeradas Células epiteliais escamosas aglomeradas

Células escamosas e flora bacteriana Células escamosas e flora bacteriana.

CÉLULAS DO EPITÉLIO DE TRANSIÇÃO

Estas são também denominadas de células uroteliais ou intermediárias e são oriundas da pelve renal, ureteres e
bexiga. Estas células se apresentam esféricas ou poliédricas com tamanho de 20 a 30 micra. O núcleo é grande,
irregular, redondo ou oval, distinto, central ou pouco deslocado do centro, apresenta nucléolos múltiplos e a
membrana nuclear é espessa. A presença de células em mitose, binucleadas ou multinucleadas é freqüente. O
citoplasma é vacuolizado e pode apresentar inclusões. Algumas destas células oriundas da bexiga ou da pelve
renal, apresentam prolongamento do citoplasma e são reconhecidas como células caudadas. Amostras de urina
de indivíduos normais podem conter algumas células de transição.

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Células do epitélio de transição e flora bacteriana Células do epitélio de transição e hemácias

Células do epitélio de transição Células do epitélio de transição

Células do epitélio de transição com inclusão e Células do epitélio de transição com inclusão e
hemácias hemácias

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Células do epitélio de transição com inclusão e Células do epitélio de transição com inclusão e
hemácias. cilindro hialino com extremidade afilada.

Células do epitélio de transição flora bacteriana. Células do epitélio de transição com forma caudada.

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Células do epitélio de transição com forma caudada. Células do epitélio de transição com forma caudada.

Células do epitélio de transição com forma caudada.

CÉLULAS DO EPITÉLIO RENAL

Estas são oriundas dos epitélios tubulares renais, sendo encontradas em pequena quantidade no
sedimento urinário de indivíduos normais. Morfologicamente estas células se apresentam no sedimento como
arredondadas, poliédricas, um pouco alongadas ou ovóides; o núcleo é redondo, grande e, algumas vezes,
excêntrico, e o citoplasma granuloso. A distinção entre célula proximal, distal ou do tubo coletor não é necessária
no exame de urina rotina. Entretanto, é importante citar que a célula do túbulo proximal possui maior tamanho,
variando de 20 a 60 micra, é arredondada e alongada, apresenta citoplasma granuloso abundante e membrana
citoplasmática delgada, com uma das bordas em escova e núcleo geralmente excêntrico. A célula do túbulo distal
é menor, com tamanho de 10 a 14 micra, formato cubóide, citoplasma ligeiramente granuloso e apresentando
halo perinuclear, o núcleo central, redondo, com membrana nuclear espessa. Fragmentos de epitélio renal
podem ser detectados no sedimento urinário, os quais são definidos como sendo a presença de três ou mais
células tubulares, em conjunto. Em caso de infecções virais, tais como herpes, citomegalovírus ou rubéola e
envenenamento por chumbo, as células renais podem aparecer com corpos de inclusão, difíceis de serem
visualizados no sedimento à fresco. Estes corpos de inclusão podem ser nucleares ou citoplasmáticos.

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Células epitelial renal. Células epitelial renal.

Células do epitélio renal corada pela bilirrubina. Células epitelial renal e hemácia.

Células epitelial renal. Células epitelial renal.

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Fragmento de epitélio renal. Fragmento de epitélio renal.

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1 – leucócito 2 – hemácia 3 - célula epitelial renal. Células epitelial renal.

CORPOS GRAXOS OVAIS (CGO)

Os CGO são células que apresentam gotículas de lípides no citoplasma. Os CGOs podem ser células do epitélio
renal, repletas de gotículas de gordura, devido à fagocitose de gorduras presentes na luz tubular e/ou à
degeneração vacuolar gordurosa de membranas citoplasmáticas e podem ser, também, macrófagos gordurosos
("foam cells"). Estes últimos são também encontrados no líquido seminal de pacientes com prostatite, na bile e
nas secreções brônquicas. Este elemento se apresenta com bastante refringência e pode ser mais facilmente
visualizado pela coloração de lípides e pela microscopia com luz polarizada, cuja refringência se apresenta na
forma de cruz de malta, característica das gorduras. No sedimento urinário, junto com os corpos graxos ovais
podem ser encontrados cilindros gordurosos, cilindros de corpos graxos e gotículas de gordura livres.

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Corpo graxo oval. Corpo graxo oval.

Corpo graxo oval. Corpo graxo oval e célula do epitélio renal.

Corpo graxo oval. Corpos graxos ovais agrupados.

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Aglomerado de corpos graxos ovais. Cilindro gorduroso com corpo graxo oval.

Cilindro gorduroso com corpo graxo oval. Cilindro gorduroso repleto de corpos graxos ovais.

Corpo graxo oval. Corpo graxo oval e muco.

VALOR DE REFERÊNCIA

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Normalmente são encontradas no sedimento urinário algumas células epiteliais escamosas e/ou de transição e
raras células do epitélio renal.

CONTAGEM

Contar 10 campos no aumento de 400x e calcular a média destes campos.

TRANSCRIÇÃO DE RESULTADOS

• Ausentes: células não observadas


• Raras: até 3 por campo
• Algumas: 4 a 10 por campo
• Numerosas: acima de 10 por campo

SIGNIFICADO CLÍNICO

As células epiteliais são encontradas em praticamente todas as amostras de urina. Estas guarnecem o epitélio dos
tratos urinário e genital e são eliminadas na urina devido à descamação ou esfoliação normal. Em geral, a
presença destas células não tem grande valor clínico, com exceção das células do epitélio renal.

Células epiteliais escamosas: o epitélio das vias urinárias inferiores é constituído por várias camadas de células,
sendo este o que mais se descama, portanto, a presença destas células no sedimento urinário é muito comum.
Entretanto, existe um tipo de célula escamosa, de origem vaginal, que pode ser encontrada na urina, por
contaminação com o fluxo vaginal. Esta é chamada de "célula chave". Estas células estão recobertas pelos
cocobacilos, Gardnerella vaginalis. A presença destas indica vaginite bacteriana provocada pela Gardnerella. A
coloração de Papanicolau é utilizada para a correta identificação desta célula, o que não é necessário no exame
de urina rotina.

Células do epitélio de transição: a urina de indivíduos normais contém, freqüentemente, algumas células de
transição.

Células do epitélio renal: as células dos epitélios tubulares renais são encontradas em pequena quantidade no
sedimento urinário de indivíduos normais. A presença de mais de 15 destas células por campo, no aumento de
400x, indica forte evidência de doença renal ativa ou lesão tubular. A presença de fragmento de epitélio renal é
mais grave que o achado de células tubulares isoladas, indicando lesão tubular renal com ruptura da membrana
basal. Estes são encontrados com maior freqüência em casos de necrose tubular aguda, rejeição de transplante
renal, papilite necrosante e infarto renal. Em caso de infecções virais, tais como herpes, citomegalovírus ou
rubéola e envenenamento por chumbo, as células renais podem aparecer com corpos de inclusão, nucleares ou
citoplasmáticos, difíceis de serem visualizados no sedimento à fresco. A coloração de Papanicolaou auxilia
bastante nesta identificação.

Corpos Graxos Ovais (CGO): a presença destes elementos indica lipidúria devida a disfunção renal grave. A
lipidúria está associada à síndrome nefrótica, à doença renal do diabetes mellitus avançado, ao lupus e às
condições patológicas com grave lesão do epitélio tubular, como no envenenamento por mercúrio e etilenoglicol.
Os lípides eliminados nestas condições são colesterol, triglicérides e ácidos graxos livres. A presença dos CGO não
é específica da síndrome nefrótica, mas é encontrado com muita freqüência nesta doença. A noção de que alguns
CGO são macrófagos gordurosos, poderia explicar casos de presença destes sem proteinúria. A origem desses
macrófagos gordurosos seria de uma região de inflamação crônica, não necessariamente renal.

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MUCO

O muco é um material proteico constituído por algumas mucoproteínas de baixo peso molecular que
atravessam a membrana glomerular. Este pode ter origem também, pela produção por células epiteliais dos
túbulos renais e, principalmente, pela descamação de células de vias urinárias inferiores.

O muco pode estar aumentado em amostras de urina com contaminação vaginal e/ou com espermatozóides. A
presença de muco na urina não tem significado clínico.

MORFOLOGIA

A aparência ao microscópio é filamentosa, transparente, formando uma rede no fundo do campo, e apresentando
baixo índice de refração.

Filamento de muco. Estrutura filamentosa de natureza Campo repleto de filamento de muco.


proteica se estendendo por todo o campo.

Aspecto morfológico de filamentos de muco em Filamentos de muco de espessuras variadas.


aumento de 400x.

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QUANTIFICAÇÃO

Observação da presença de muco, em 10 campos, em aumento de 100x, com condensador baixo e baixa
luminosidade.

TRANSCRIÇÃO DE RESULTADOS

Relatar a quantidade de muco observada, em aumento de 100x, com os seguintes termos:


• Ausente
• Pouco
• Aumentado ou abundantes

SIGNIFICADO CLÍNICO

A presença de muco não tem significado clínico, podendo estar aumentado por contaminação vaginal e na
presença de espermatozoides.

FLORA BACTERIANA

O trato urinário é normalmente estéril e as amostras de urina normais e recém emitidas não devem
conter bactérias. Entretanto, pode ocorrer contaminação na uretra ou na vagina, durante a emissão da urina. O
exame microscópico do sedimento urinário deve ser realizado o mais rápido possível, para que não ocorra
aumento de bactérias, por multiplicação. A bacteriúria encontrada na urina recente indica a ocorrência de um
processo infeccioso. Nesse caso podem ser observados leucócitos no sedimento e as pesquisas químicas de nitrito
e leucócito esterase poderão estar positivas.

MORFOLOGIA

As bactérias, apesar de muito pequenas, podem ser reconhecidas no exame à fresco e no aumento de 400x, pelas
formas de cocos e bastonetes, e pelo movimento constante. Em algumas amostras de urina podem ser
observadas estruturas semelhantes a pequenos bastões, com uma expansão central, denominadas de
protoplasto. Esse elemento é o resultado da lesão da parede bacteriana, por ação de antibióticos, especialmente
pelo uso da penicilina. Bactérias que se aderem à superfície de células escamosas podem ser encontradas em
casos de vaginite por Gardnerella vaginalis. Nesse caso a célula se apresenta recoberta por uma crosta e
apresenta aspecto granuloso e refringente.

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Flora bacteriana predominantemente em forma de Flora bacteriana predominantemente em forma de


bastonete e Trichomonas sp em aumento de 400x. bastonete e Trichomonas sp em aumento de 400x.

Flora bacteriana predominantemente em forma de Flora bacteriana predominantemente em forma de


bastonete. bastonete.

Flora bacteriana e células escamosas cobertas por Flora bacteriana e células escamosas cobertas por
Gardnerella vaginalis. Gardnerella vaginalis.

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Flora bacteriana e cilindro hialino com pequenas Flora bacteriana e cilindro granuloso fino.
granulações.

QUANTIFICAÇÃO

Observação da presença da flora bacteriana, em 10 campos, em aumento de 400x, com condensador alto e média
luminosidade.

TRANSCRIÇÃO DE RESULTADOS

Relatar a quantidade de flora bacteriana observada com os seguintes termos:


- Ausentes
- Raras: 1 a 10/campo
- Moderadas: 11 a 99/campo
- Abundantes: acima de 99/campo

SIGNIFICADO CLÍNICO

A bacteriúria, encontrada na urina recente, geralmente indica infecção no trato urinário. A realização de exames
complementares para identificação do patógeno é recomendada. Deve ser também ressaltada a presença de
bacteriúria assintomática, achado freqüente em vários grupos da população que, na maioria das vezes, é benigna
e não representa um problema clínico. No entanto, a avaliação clínica é indicada e o programa de tratamento
deve ser avaliado para cada caso especificamente.

CRISTAIS

Os cristais são encontrados, com freqüência, no sedimento urinário e, raramente, têm significado clínico. Estes
são formados pela precipitação de sais presentes na urina devido a variações do pH, da temperatura e da
concentração urinária, o que afeta a solubilidade destes sais. A identificação dos cristais deve ser feita para
detectar a presença de alguns tipos que identificam distúrbios, tais como doenças hepáticas, erros inatos do
metabolismo, litíase renal e alterações metabólicas. Para a identificação é importante conhecer o valor do pH
urinário, pois este determinará o tipo de substância química precipitada. Os cristais são classificados de acordo
com o tipo de reação da urina, se ácida ou alcalina. Alguns cristais são encontrados em amostras de urina
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normais, outros aparecem devido a alterações patológicas ou metabólicas e outros, ainda, por causas
iatrogênicas.

URATO AMORFO

Amostras de urinas concentradas e que apresentam pH ácido, frequentemente, apresentam cristais de urato
amorfo, sem qualquer significado clínico. Estes aparecem com maior frequência após o resfriamento da urina e
correspondem a sais de ácido úrico (sódio, potássio, magnésio ou cálcio). Estes cristais não possuem formato
característico, assemelham-se a pequenos cristais arredondados, refringentes, com coloração amarelo-
avermelhado ou marrom.

Os cristais de urato amorfo são solubilizados com o aquecimento da urina ou com adição de NaOH a 10% (p/v).
Quando se adiciona à urina ácido acético glacial, estes cristais transformam-se em ácido úrico e, em presença de
hidróxido de amônio, transformam-se em biurato de amônio. O sedimento urinário adquire aspecto rosado
quando há uma grande quantidade de cristal de urato amorfo na urina.

Cristais de urato amorfo e cilindro hemático. Cristais de urato amorfo e cristal de oxalato de cálcio.

Cristais de urato amorfo.

ÁCIDO ÚRICO

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Estes cristais são encontrados em amostras de urina com pH inferior a 5,5 e se apresentam de diversas formas,
sendo a mais comum a forma losangular, com quatro lados paralelos. O ácido úrico apresenta-se, também, com
formas retangulares, rombóides, ovais e cúbicas, com espículas e aglomerados, formando rosetas. A coloração
característica é o amarelo. A intensidade de cor depende da espessura do cristal, assim, as lamelas simples
parecem incolores, enquanto as mais espessas tendem ao amarelo-marrom ou marrom-avermelhado.

Os cristais de ácido úrico aparecem na urina de indivíduos normais, devido a uma dieta rica em purinas pois, 66 a
75% do ácido úrico formado pelo metabolismo normal, é eliminado do organismo, pela urina. O armazenamento
da amostra provoca uma maior precipitação destes cristais.
Os cristais de ácido úrico são solubilizados pelo calor e pela adição de NaOH a 10% (p/v) e são insolúveis em ácido
acético glacial. O sedimento urinário adquire aspecto brilhante e amarelado, quando há uma grande quantidade
deste cristal na urina.

Cristais de ácido úrico. Cristais de ácido úrico.

Cristais de ácido úrico em forma de rosácea. Cristais de ácido úrico.

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Cristais de ácido úrico. Cristais de ácido úrico com espícula.

Cristais de ácido úrico com espícula.

OXALATO DE CÁLCIO

Este cristal é muito comum em amostras de urina ácida, podendo também ser encontrado em amostras de urina
levemente alcalina ou neutra. Este pode estar presente como monohidrato ou dihidrato. A forma dihidratada é a
mais comumente encontrada e possui o formato de octaedro ou envelope. A forma monohidratada é mais rara e
se apresenta redonda ou oval, semelhante a uma hemácia. Estes cristais são incolores, brilhantes e geralmente
pequenos, embora formas grandes também possam ser observadas.

Na maioria dos casos, a presença destes cristais na urina não tem significado clínico, pois 10 a 15% do oxalato
urinário provém da dieta. A ingestão de espinafre, laranja, ruibarbo, leite, derivados do leite, chocolate, tomate e
o uso de vitamina C pode contribuir para a presença destes cristais na urina.
Estes cristais são solúveis em ácido clorídrico diluído.

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Cristais de oxalato de cálcio. Cristais de oxalato de cálcio e artefato (grão de amido).

Cristais de oxalato de cálcio, hemácias e leucócitos. Cristais de oxalato de cálcio com formato de ampulheta.

Cristais de oxalato de cálcio no formato de Cristais de oxalato de cálcio no formato arredondado.


envelope.

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Cristais de oxalato de cálcio.

FOSFATO AMORFO

Este cristal corresponde ao material amorfo encontrado na urina alcalina. A causa principal desta cristalúria é o
pH alcalino da urina que diminui a solubilidade do fosfato de cálcio, favorecendo a sua precipitação. Estes cristais
se apresentam como grânulos amorfos, esbranquiçados ou acinzentados e são insolúveis quando aquecidos até
60ºC e solúveis em ácido acético glacial e em ácido clorídrico diluído. O sedimento urinário adquire coloração
branca, quando há uma grande quantidade deste cristal na urina.

Cristais de fosfato amorfo e cristal de fosfato triplo. Cristais de fosfato amorfo e cristal de fosfato triplo.

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Cristais de fosfato amorfo e cristal de fosfato Cristais de fosfato amorfo e cristal de fosfato triplo.

Cristais de fosfato amorfo.

CRISTAIS DE FOSFATO TRIPLO

O fosfato triplo apresenta forma exuberante sendo encontrado em amostras de urina com pH superior a 6,5.
Este cristal é grande, incolor, bastante refringente e possui a forma de um prisma de seis ou quatro lados. Na
literatura é citada a semelhança deste com a "tampa de caixão". Os cristais podem se apresentar aglomerados,
como longos prismas, formando cruzetas. A presença de qualquer destas formas na urina não tem significado
clínico, entretanto, em aproximadamente 10 a 20% das amostras de urina com este cristal, se encontram também
bactérias urease positivas capazes de provocar infecções. O cristal é solúvel em ácido acético glacial e denomina-
se corretamente como fosfato triplo amoníaco magnesiano.

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Cristal de fosfato triplo e cristais de fosfato amorfo. Cristal de fosfato triplo e cristais de fosfato amorfo.

Cristal de fosfato triplo e cristais de fosfato amorfo. Cristal de fosfato triplo.

Cristal de fosfato triplo. Cristal de fosfato triplo.

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Cristal de fosfato triplo e célula de vias baixas Cristal de fosfato triplo em desenvolvimento.
(escamosas).

Cristal de fosfato triplo em desenvolvimento.

BIURATO DE AMÔNIO

Este cristal é raramente encontrado em amostras de urina recém emitidas, podendo se precipitar quando a
amostra é armazenada, devido à alcalinização. Estes se apresentam na forma de esferas contendo estrias radiais,
com ou sem espículas, e coloração marrom característica. O cristal é solubilizado pelo aquecimento a 60ºC. A
adição de ácido acético glacial à urina pode transformar este cristal em ácido úrico.

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Cristais de biurato de amônio. Cristais de biurato de amônio.

Cristais de biurato de amônio com espículas. Cristais de biurato de amônio com espículas.

Cristais de biurato de amônio com espículas e cilindro Cristais de biurato de amônio.


hialino.

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Cristais de biurato de amônio. Cristais de biurato de amônio.

FOSFATO DE CÁLCIO

Este cristal é raramente encontrado na urina e se apresenta incolor e na forma de longos prismas com
extremidades bisotadas. Muitas vezes os cristais se aglomeram formando rosetas. O calor não dissolve estes
cristais, entretanto, os mesmos são solúveis em ácido acético glacial.

Cristais de fosfato de cálcio em rosetas grandes. Cristais de fosfato de cálcio em feixes.

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Cristais de fosfato de cálcio na forma estelar. Cristais de fosfato de cálcio na forma estelar.

CARBONATO DE CÁLCIO

Este cristal é raramente observado em amostras de urina e se apresenta como minúsculas esferas incolores,
geralmente agrupadas em duas ou quatro, e em forma de pequenas cruzes. Os cristais são insolúveis quando
aquecidos a 60ºC e, quando tratados com ácido acético glacial, solubilizam-se produzindo efervescência.

CISTINA

Este cristal é mais comumente encontrado em amostras de urina, com pH ácido, de pacientes com cistinúria. Os
cristais são incolores, hexagonais e bastante refringentes. A cistina apresenta grande solubilidade em meio
alcalino, portanto, é mais comumente encontrada em urina de pH ácido. Este cristal é insolúvel em pH ácido,
álcool, éter e água fervente e solúvel em amônia. A confirmação da presença da cistina pode ser feita com a
reação do cianeto-nitroprussiato.

Cristais cistina. Cristais cistina.

Cristais cistina. Cristais cistina.

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Cristais cistina. Cristais cistina.

Cristais cistina. Cristais cistina.

Cristais cistina. Cristais cistina com hemácia.

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TIROSINA

Este cristal é raramente encontrado na urina, podendo ser observado em amostras de urina de pacientes com
doença hepática grave. A presença destes cristais está também associada à tirosinemia tipo I e tirosinemia tipo II.
O cristal apresenta coloração escura e forma de finas agulhas formando rosetas. Este é encontrado em amostras
de urina com pH ácido, é solúvel em álcali, pela ação do calor, e é insolúvel em álcool e éter. A confirmação da
presença da tirosina na urina pode ser realizada com o teste do nitroso-naftol.

Cristais de tirosina. Cristais de tirosina.

BILIRRUBINA

Este cristal é observado em alguns casos de excreção urinária do pigmento biliar bilirrubina, o que acontece nas
doenças hepáticas e nas colestases. Este apresenta coloração marrom-avermelhada com morfologia semelhante
a agulhas ou cunhas e é encontrado em amostras de urina de pH ácido. Quando o cristal de bilirrubina está
presente na urina, os outros elementos do sedimento se coram de amarelo, devido à cor do pigmento. A
presença deste cristal pode ser confirmada pelo teste da tira reagente para bilirrubina e/ou pelo reagente de
Fouchet.

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Cristais de bilirrubina e amido.


Cristais de bilirrubina.
LEUCINA

Este cristal é extremamente raro e está associado com doença hepática grave e distúrbios do metabolismo de
aminoácidos, como na doença da urina de xarope de bordo. O cristal apresenta cor amarela, formato esférico e
estrias concêntricas, sendo observado em amostras de urina ácida. A confirmação da presença de leucina na urina
pode ser realizada pela cromatografia de aminoácidos.

COLESTEROL

A presença de cristais de colesterol em amostras de urina é rara, entretanto, quando presentes, são
acompanhados de corpos graxos ovais, cilindros gordurosos e proteinúria grave. Estes se apresentam como
grandes placas retangulares, com dois ou mais ângulos, são incolores e solúveis em clorofórmio, éter e álcool
aquecido.

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OUTROS CRISTAIS

CRISTAIS DE HEMOSSIDERINA

Estes são observados em amostras de urina de pH ácido ou neutro, após episódios de grave hemólise
intravascular. São cristais semelhantes ao urato amorfo, porém, mais grosseiros e com coloração marrom. Estes
cristais aparecem livres na urina ou incorporados às células epiteliais, macrófagos ou cilindros. A hemossiderina
não é uma matéria cristalina, é, sobretudo, um depósito de material amorfo. Estes cristais podem ser
identificados pela coloração com o azul da Prússia.

CRISTAIS ANORMAIS DE ORIGEM IATROGÊNICA

Vários cristais de medicamentos podem ser encontrados em amostras de urina de pacientes desidratados e em
uso de certos medicamentos. A maior parte destas substâncias se cristalizam em pH ácido, em torno de 5,0. Os
principais são: sulfometaxasol, sulfadiazina, ampicilina, contraste de meios radiográficos, aspirina e aciclovir. A
identificação destes cristais é importante para a interpretação correta do exame de urina. Quando encontrados e
identificados corretamente devem ser citados no resultado ou, em caso de não identificação, devem ser relatados
da seguinte forma: "Presença de cristais de substância não identificada. Medicamento?".

1 – cristal de medicamento 2 - cilindro granuloso Cristais de medicamento (sulfa?).


grosso.

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Cristais de medicamento (sulfadiazina). Cristais de medicamento (sulfadiazina).

Cristais de medicamento (sulfa), urato amorfo e Cristais de medicamento (sulfa), urato amorfo e
oxalato de cálcio oxalato de cálcio
CONTAGEM

Identificar cada tipo de cristal, contar 10 campos em aumento de 400x e calcular a média desses campos.

TRANSCRIÇÃO DE RESULTADOS

• Ausentes: cristais não observados


• Raros: até 3 por campo
• Alguns: 4 a 10 por campo
• Numerosos: acima de 10 por campo

SIGNIFICADO CLÍNICO

A presença de cristais no sedimento urinário é freqüente e raramente possui significado clínico. Alguns cristais
podem indicar alguma patologia, tais como:

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Ácido úrico: pode ser encontrado na urina de indivíduos com aumento da concentração de ácido úrico no sangue,
em associação à gota. Em pacientes com leucemia, linfomas, neoplasias e glicogenoses a excreção urinária de
ácido úrico poderá estar aumentada, devido ao catabolismo aumentado de ácidos nucléicos.

Oxalato de cálcio: a maior parte do oxalato excretado é produzida pelo metabolismo no ciclo do ácido glioxílico. A
sua presença na urina pode estar associada a sinais clínicos de litíase renal podendo indicar a provável
composição do cálculo, pois, cerca de 75% dos cálculos renais são compostos de oxalato de cálcio. No
envenenamento por etilenoglicol ou metoxiflurano estes cristais são vistos na urina em grande quantidade.
Outras condições podem levar a uma hiperoxalose: como hiperoxalúria primária, deficiência em piridoxina
(vitamina B6), aumento da absorção intestinal dos oxalatos e diminuição de absorção de gorduras no intestino.

Cistina: é encontrado na urina de pacientes com cistinúria, uma alteração congênita do transporte de
aminoácidos que afeta a cistina, arginina, lisina e ornitina. Somente o cristal de cistina é encontrado na urina. Os
pacientes com cistinúria estão predispostos à formação de grandes cálculos que podem provocar lesão renal,
inclusive estase urinária.

Tirosina: é encontrado na urina de pacientes com doença hepática grave. A sua presença está também associada
à tirosinose.

Leucina: está associado com doença hepática grave e distúrbios do metabolismo de aminoácidos, como na
leucinose e na doença da urina de xarope de bordo.

Colesterol: a presença de cristais de colesterol na urina acompanha os corpos graxos ovais, cilindros gordurosos e
proteinúria grave, indicando síndrome nefrótica.

Bilirrubina: é encontrado na bilirrubinúria, em alguns casos de doenças hepáticas.

CILINDROS

Estes são elementos do sedimento urinário, com formato cilíndrico, provenientes de uma polimerização
da proteína de Tamm-Horsfall moldada na luz dos túbulos renais. A presença de cilindros no sedimento consiste
em um achado extremamente importante, pois indica doença renal intrínseca e reflete as condições existentes no
interior do néfron.

COMPOSIÇÃO

A glicoproteína denominada de proteína de Tamm-Horsfall constitui a matriz proteica dos cilindros. Esta é
secretada pelas células tubulares da parte ascendente espessa da alça de Henle e da parte inicial do túbulo distal.
A quantidade excretada na urina varia de 25 a 50 mg/24 horas e corresponde à maior parte das mucoproteínas
excretadas pela urina.

FORMAÇÃO DOS CILINDROS

Os cilindros são formados após a alça de Henle, nos túbulos contornado distal e coletor devido a uma maior
concentração e acidez da urina, nestes locais. O principal componente dos cilindros é a proteína de Tamm-
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Horsfall. Quando a referida proteína se precipita dentro do túbulo renal, esta pode aglutinar elementos presentes
na luz tubular, como leucócitos, hemácias, células epiteliais, grânulos de desintegração, dentre outros, e dar
origem aos vários tipos de cilindros. Algumas condições fisiológicas favorecem a formação destes elementos, tais
como, aumento da acidez da urina, redução acentuada do volume urinário, alta concentração de solutos, baixa
velocidade do fluxo urinário, estase urinária, diminuição da taxa de filtração glomerular, presença de albumina e
osmolaridade urinária em torno de 200 a 400 mOsm/L.

MORFOLOGIA

Estes elementos possuem um formato cilíndrico, lados paralelos e extremidades arredondadas, por serem
moldados na luz dos túbulos renais.

Às vezes aparecem enrugados, indicando estase urinária; contorcidos, devido à formação dentro de uma fração
contornada do túbulo ou por estase prolongada, o que permite a ocorrência de tensões internas na matriz, a qual
adquire um formato helicoidal; quebrados, em decorrência de excesso de centrifugação da urina e, ainda, com
extremidades afiladas, o que acontece quando o cilindro se forma na junção da alça ascendente de Henle e do
túbulo contornado distal. Estas últimas estruturas recebem o nome de cilindróides e têm o mesmo significado
clínico dos cilindros.

Dependendo do local do néfron onde o cilindro é formado, este pode ser largo, intermediário ou estreito. Os
cilindros podem ser formados somente por uma matriz proteica, sendo homogêneos, claros, semitransparentes e
com refringência semelhante ao meio (cilindros hialinos) ou podem apresentar inclusões no seu interior, o que
determina a sua classificação.

CILINDROS HIALINOS

Os cilindros hialinos são freqüentemente observados no sedimento urinário e têm importância clínica limitada
pois, indivíduos normais podem eliminar até 1.000 cilindros desse tipo, por 24 horas. No entanto, a eliminação
contínua de cilindros hialinos pode ser indicativa de disfunção renal em fase inicial.

Estes cilindros são formados pela solidificação da proteína de Tamm-Horsfall e, portanto, se apresentam como
estruturas claras, semitransparentes, incolores e com refringência semelhante ao meio. Podem ser homogêneos
ou podem apresentar pequenas granulações. Às vezes se apresentam com aspecto plissado, devido a uma
condensação irregular da proteína.

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Para a correta identificação deste tipo de cilindro, é necessário um ajuste cuidadoso da iluminação do
microscópio e focalização adequada. Estes cilindros dissolvem-se facilmente em amostras de urina diluídas e com
pH alcalino.

Cilindro hialino. Cilindro hialino.

Cilindro hialino. Cilindro hialino com pequenas granulações e


flora bacteriana.

CILINDROS CELULARES

Os cilindros celulares são formados pela aglutinação de elementos celulares, presentes na luz tubular, à matriz
proteica. Estes podem conter hemácias, leucócitos ou células epiteliais e, possuem grande valor semiológico pois
indicam que estas células, presentes na matriz, são originadas dos rins.

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Cilindro hemático com hemácias distinguíveis. 1 - Cilindro epitelial 2 - Cilindro hialino.

CILINDROS HEMÁTICOS

Os cilindros hemáticos são aqueles que contêm hemácias no interior da matriz proteica. Estes são refringentes,
apresentam cor amarela ou marrom, devido à hemoglobina, e podem conter hemácias facilmente distinguíveis ou
agrupadas.

Cilindro hemático. Cilindro hemático e cristais de urato amorfo.

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Cilindro hemático. Cilindro hemático corado pela bilirrubina.

Cilindro hemático e hemácias. Cilindro hemático.

1
2

Cilindro hemático. 1 - Cilindro hemático 2 - Cilindro leucocitário.

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CILINDROS LEUCOCITÁRIOS

Os cilindros leucocitários são constituídos por leucócitos aprisionados na matriz proteica. Estes são refringentes e
apresentam no interior células com granulações (leucócitos), que podem estar distintas ou agrupadas.

Cilindro leucocitário. Cilindro leucocitário.

3
2

Cilindro leucocitário. 1 - cilindro leucocitário 2 – célula do epitélio


de transição 3- célula escamosa.

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Cilindro leucocitário.

CILINDROS EPITELIAIS

Os cilindros epiteliais são formados por células epiteliais dos túbulos renais aglutinadas à matriz proteica. Estes
podem conter poucas ou muitas células renais, dependendo do grau de descamação ocorrido.

Cilindro de células do epitélio tubular renal. Cilindro hialino e cilindro epitelial.

Cilindro misto (epitelial e hialino). Cilindro epitelial. 45


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Cilindro de células do epitélio tubular renal. Cilindro epitelial e cristais de oxalato de cálcio.

CILINDRO GRANULOSO

Os cilindros granulosos apresentam granulações no interior da matriz proteica devido à desintegração de


elementos celulares presentes anteriormente. Estas granulações podem ser originadas da destruição de
hemácias, leucócitos e/ou epitélios. O cilindro granuloso pode ser classificado como granuloso grosso, quando as
granulações presentes em seu interior são grosseiras; e como granuloso fino, quando apresenta finas
granulações. A presença deste último identifica estase prolongada. A degeneração do cilindro granuloso origina o
cilindro céreo.

Cilindro granuloso fino. Cilindro granuloso grosso.

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Cilindro granuloso grosso. Cilindro granuloso grosso.

Cilindro granuloso fino e hemácia. Cilindro granuloso fino corado pela bilirrubina.

Cilindro granuloso fino e flora bacteriana. Cilindro granuloso fino.

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Cilindro granuloso fino. Cilindro granuloso fino.

Cilindro granuloso em degeneração para


originar o cilindro céreo.

CILINDROS CÉREOS

Os cilindros céreos são formados pela degeneração dos elementos granulares que estavam presentes no seu
interior. Estes são bastante refringentes, largos e apresentam fissuras ou quebraduras, em decorrência de
possuírem uma estrutura rígida.

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Cilindro céreo. Cilindro céreo e cristal de ácido úrico.

Cilindro céreo contornado. Cilindro céreo.

Cilindro céreo no momento da secção. Cilindro céreo.

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Cilindro céreo e cristais de ácido úrico. Cilindro céreo.

Cilindro céreo e hemácias. Cilindro céreo contornado.

Cilindro céreo e células epiteliais renais. Cilindro céreo.

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Cilindro céreo contornado.

CILINDROS GORDUROSOS

Os cilindros gordurosos são formados por uma matriz proteica na qual se integram gotículas de gordura ou de
corpos graxos ovais. Estes cilindros se apresentam bastante refringentes devido ao brilho característico das
gotículas de gordura e, freqüentemente, aparecem em conjunto com corpos graxos ovais e gotas de gordura,
livres no meio.

Cilindro gorduroso com gotículas de gordura. Cilindro gorduroso com gotículas de gordura.

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Cilindro gorduroso com gotículas de gordura. Cilindro gorduroso com corpo graxo oval.

Cilindro gorduroso com corpo graxo oval. Cilindro gorduroso com corpo graxo oval.

CILINDROS MISTOS

Estes são cilindros formados por mais de um tipo de elemento. Como não existe nos rins um processo de
segregação de elementos, muitos dos cilindros encontrados são formados por mais de um elemento. Se um
cilindro apresenta mais de 1/3 de sua superfície composta por um elemento figurado, este será classificado pelo
nome do elemento predominante.

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Cilindro misto (celular e granuloso). Cilindro misto (celular e granuloso).

Cilindro misto (granuloso fino e céreo). Cilindro misto (hialino e celular).

Cilindro misto (hialino e celular).

CILINDROS COM INCLUSÕES

Estes cilindros são formados por uma matriz proteica que envolve outros elementos figurados, que podem ser:

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• Bactérias: a inclusão de bactérias em um cilindro é patognomônico de infecção renal. Neste caso este será
acompanhado de cilindros de leucócitos. Na microscopia comum o cilindro de bactérias é classificado como
cilindro granuloso, porque essa microscopia não apresenta resolução suficiente para a observação correta
destes microorganismos.

• Leveduras: cilindros de leveduras são encontrados em amostras de urina de pacientes imunossuprimidos e de


pacientes diabéticos infectados por este fungo. A via de contaminação é o sangue, mas a infecção ascendente
pode ocorrer. A observação é possível com a utilização de coloração especial.

• Cristais: o cilindro com inclusão de cristais indica cristalização intratubular. Essa eventualidade pode provocar
lesão do tecido renal, inflamação e obstrução. Podem ser encontrados cilindros de vários tipos de cristais,
entre estes citam-se, oxalato de cálcio, ácido úrico, bilirrubina e de medicamentos.

Cilindro com inclusão de oxalato de cálcio.

VALOR DE REFERÊNCIA

0 a 2 cilindros hialinos por campo, em aumento de 100x.

CONTAGEM

Contar 10 campos em aumento de 100x, identificando cada tipo de cilindro em aumento de 400x e calcular a
média por campo (100x).

TRANSCRIÇÃO DE RESULTADOS

Registrar o tipo de cilindro e o número médio encontrado por campo em aumento de 100x.

SIGNIFICADO CLÍNICO

Cilindro hialino: a presença de até 2 (dois) cilindros hialinos por campo, no aumento de 100x, é considerada
normal. Após exercício físico intenso, desidratação, exposição ao calor e estresse emocional, o número destes
cilindros no sedimento pode aumentar. Em doenças renais, tais como glomerulonefrite, pielonefrite, doença renal
crônica e na insuficiência cardíaca congestiva, o número de cilindros hialinos encontrados no sedimento varia de
20 a 30 por campo, no aumento de 100x.

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Cilindros celulares: podem conter hemácias, leucócitos ou células epiteliais. Estes cilindros têm grande valor
semiológico pois identificam que estas células presentes no seu interior são originadas dos rins. A presença dos
cilindros celulares pode auxiliar na classificação das nefropatias. O tipo de célula encontrada no interior do
cilindro permite o diagnóstico da nefropatia. Cilindros com leucócitos são freqüentes nas pielonefrites, enquanto
que, cilindros com hemácias são freqüentes nas glomerulonefrites.

Cilindros hemáticos: a presença deste cilindro indica sangramento no interior do néfron, mais freqüentemente
glomerular. Estes cilindros estão associados à glomerulonefrite, entretanto qualquer lesão nos glomérulos ou nos
túbulos pode provocar a sua formação.

Cilindros leucocitários: este cilindro está associado a inflamações ou infecções no interstício renal, como ocorre
nas pielonefrites aguda e crônica, nefrite intersticial alérgica ou medicamentosa, glomerulonefrite aguda pós-
estreptocócica e em casos de rejeição de transplante renal.

Cilindros epiteliais: resulta da destruição ou da descamação exacerbada do epitélio renal, indicando uma doença
renal grave, portanto, a sua presença é um importante achado patológico. Este cilindro é observado na
pielonefrite, na glomerulonefrite, nas exposições à nefrotóxicos, como mercúrio, etilenoglicol e ciclosporina,
nefrite intersticial, em casos de rejeição de transplante renal, necrose tubular e em infecções virais.

Cilindros granulosos: alguns cilindros granulosos podem aparecer no sedimento urinário, principalmente, após
exercícios físicos intensos. O aparecimento em maior número possui valor diagnóstico, pois a sua presença indica
estase urinária. Este cilindro pode ser encontrado em casos de toxicidade a aminoglicosídeos e, em todas as
doenças renais onde ocorreu a formação dos cilindros celulares, já que este cilindro vem da degeneração dos
elementos celulares aprisionados na matriz proteica. Assim, estes cilindros podem ser um sinal de cronificação
das nefropatias.

Cilindros céreos: este cilindro não é encontrado em condições normais no sedimento urinário e a sua presença
indica estase renal prolongada. O cilindro céreo está associado com doença renal crônica, amiloidose renal e
raramente é visto na doença renal aguda. São os cilindros de pior prognóstico sendo, muitas vezes, denominados
de cilindros de insuficiência renal.

Cilindros gordurosos: a presença deste cilindro no sedimento está associada à síndrome nefrótica. Estes podem
também ser encontrados em casos de diabetes mellitus com degeneração renal e nas intoxicações por mercúrio e
etilenoglicol.

CONTAMINANTES OU ARTEFATOS

Estes são elementos não originados do trato urinário que podem contaminar a urina, no momento da passagem
da mesma pela uretra e pela vagina, ao ser expelida. A contaminação por elementos presentes no ambiente
pode ocorrer durante a coleta, armazenamento e processamento da amostra. A identificação dos contaminantes
é necessária para uma correta interpretação do resultado do exame e, também, para auxiliar no diagnóstico de
doenças ou infestações.

Os principais contaminantes ou artefatos que podem ser observados no sedimento urinário são relatados em
seguida.

ESPERMATOZOIDES

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Estas células podem estar presentes tanto em amostras de urina de homens, quanto de mulheres. A presença de
espermatozóides em amostras de urina de mulheres não deve ser relatada, por questões éticas, a não ser quando
há solicitação explícita de comprovação de abuso sexual. Em amostras de urina de homens a presença de
espermatozóides pode indicar espermatorréia, uma das causas de infertilidade masculina; nesses casos deve-se
relatar a presença de espermatozóides. Esses são facilmente reconhecidos pela cabeça oval, com tamanho de 4 a
6 micra, e pela cauda de 40 a 60 micra de comprimento.

Espermatozóides e hemácias. Espermatozóides e cristais de biurato de amônio.

LEVEDURAS

As células leveduriformes podem ser observadas no sedimento urinário devido à contaminação por secreção
vaginal ou ainda por contaminação pela pele ou pelo ambiente. As leveduras estão presentes em secreções
vaginais de indivíduos com infecção pelo fungo, freqüentemente em pacientes diabéticos e/ou
imunossuprimidos. As principais leveduras observadas são Candida sp. Essas se apresentam como células ovóides,
com tamanho de 5 a 7 micra, incolores e refringentes. Muitas vezes apresentam brotamentos, devido à
germinação, e pseudohifas. Na transcrição do resultado a presença de leveduras deve ser relatada da seguinte
forma: "Presença de células leveduriformes (pseudohifas) com aspecto morfológico de Candida sp".

Células leveduriformes com brotamento. Células leveduriformes com brotamento.

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Células leveduriformes com brotamentos. Pseudohifa de células leveduriforme com


brotamento e flora bacteriana

Pseudohifa de células leveduriformes. Pseudohifa de células leveduriformes.

Pseudohifa de células leveduriformes – Pseudohifa de células leveduriformes –


aumento de 100x. aumento de 400x.

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PARASITAS

O parasita que pode ser encontrado com maior freqüência no sedimento urinário é o Trichomonas vaginalis. Este
protozoário é responsável por infecções vaginais e pode também infectar a uretra, a bexiga e a próstata. Nesses
casos o protozoário poderá ser, também, observado em amostra de urina recente, sendo facilmente identificado
pela motilidade. Por ser um protozoário flagelado e apresentar uma membrana ondulante, este se movimenta,
girando no campo, sem direção. O parasita é ovóide, com a sua maior dimensão da ordem de 30 micra; apresenta
um núcleo e alguns vacúolos citoplasmáticos, o que facilita a sua identificação, quando não está em movimento.
O corante de Sternheimer-Malbin é utilizado para diferenciá-lo de leucócitos e/ou células epiteliais. Esses
elementos se coram de roxo, enquanto o Trichomonas não se cora. Ovos ou larvas de parasitas também podem
ser encontrados no sedimento urinário devido à contaminação fecal e por falta de assepsia adequada,dentre
estes citam-se Schistosoma, Enterobius, Strongyloides, etc.

Trichomonas sp e flora bacteriana (1000x). Trichomonas sp e flora bacteriana (400x).

Trichomonas sp e flora bacteriana (1000x).

DIVERSOS
No sedimento urinário podem ser encontrados também outros elementos contaminantes, tais como: grânulos de
amido, fibras vegetais, bolhas de ar, gotículas de gordura, fragmentos de vidro, corantes, grãos de pólen, tecidos
vegetais, pêlos, ácaros, asas de insetos, etc.

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Artefato: grão de amido Artefato: fibra vegetal.

Artefato: fibra vegetal. Artefato: fibra vegetal e flora bacteriana.

Artefato. Artefato.

REFERÊNCIA

MUNDT, A., L., SHANAHAN, Kristy. Exame de Urina e de Fluidos Corporais de Graff. [Minha Biblioteca]. Retirado
de https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788536326900/

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