Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
TCC Mayumy
TCC Mayumy
Palavras-chave: 1; 2; 3; 4
1
Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Candido Mendes, pela aluna Mayumy Cyrne
Tani, graduada em Direito, pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, como requisito para a
obtenção do título de especialista em Direito Penal e Direito Processual Penal.
BRASIL: A QUARTA MAIOR POPULAÇÃO CARCERÁRIA DO
MUNDO
Mayumy Cyrne Tani
Introdução
2
THOMPSON apud CARVALHO, Salo de. Op. cit., p. 153.
presos provisórios), o apenado ingressa em ambiente desprovido de garantias. Desse
modo, a decisão judicial condenatória exsurge como declaração de ‘não-cidadania’,
como formalização da condição de apátrida do autor do crime. 3
Nesse sentido, CPI da Câmara dos Deputados sobre o Sistema Carcerário pintou
o seguinte quadro do sistema carcerário brasileiro:
3
CARVALHO, Salo de. Ibidem, p. 154.
4
Câmara dos Deputados. Relatório da CPI do Sistema Carcerário, 2009. p. 244. Câmara dos Deputados.
(doc. 6). Disponível também em: <http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/2701> Acesso em:
10/10/2015.
5
Levantamento nacional de informações penitenciárias INFOPEN - Junho de 2014, p. 11. Disponível em:
<http://www.justica.gov.br/noticias/mj-divulgara-novo-relatorio-do-infopen-nesta-terca-feira/relatorio-
depen-versao-web.pdf,> Acesso em: 10/10/2015.
brasileira também é a quarta maior: somente os Estados Unidos, a Rússia e a Tailândia
têm um contingente prisional mais elevado.
Fonte: DEPEN com dados do ICPS. Disponível em www.prisonstudies.org, acessado em maio de 2015,
p.13.
Como se vê, o Brasil ainda exibe, entre os países comparados, a quinta maior
taxa de presos sem condenação. Do total de pessoas privadas de liberdade,
aproximadamente quatro entre dez (41%), estavam presas sem ainda terem sido
julgadas. Na Índia, no Paquistão e nas Filipinas, mais de 60% da população prisional
encontra-se nessa condição. Em números absolutos, o Brasil tem a quarta maior
população de presos provisórios, com 222.190 pessoas. Enquanto, os Estados Unidos
(480.000) são o país com o maior número de presos sem condenação, seguidos da Índia
(255.000) e da estimativa em relação à China (250.000).6
O gráfico 1 abaixo mostra a variação da taxa de aprisionamento entre 2008 e
2014 dos quatro países com a maior população prisional do mundo. Observando o
gráfico, nota-se que a variação da taxa de aprisionamento brasileira apresenta tendência
contrária aos demais países. Vejamos:
6
Ibidem, p. 13.
7
Ibidem, p. 15.
tange ao percentual de 41% de presos sem condenação, além da mesma proporção de
pessoas em regime fechado. Apenas 3% das pessoas privadas de liberdade estão em
regime aberto e 15% em semiaberto. Para cada pessoa no regime aberto, há
aproximadamente 14 pessoas no regime fechado; para cada pessoa do regime
semiaberto, há quase três no fechado. 8
8
Ibidem, p. 20.
9
LOPES JR., Aury. Direito Processual Penal. São Paulo: Saraiva, 2015, pp. 601-603.
Por isso, faz-se necessária a implementação de medidas que contribuam para
reduzir o uso das prisões cautelares, de modo a assegurar os direitos fundamentais dos
acusados e minorar a superlotação das instituições prisionais. Dentre esses métodos,
aponta-se a adoção das audiências de custódia, previstas no Pacto de San José da Costa
Rica e no Pacto dos Direitos Civis e Políticos da ONU, e a imposição de expressa
motivação judicial para a não aplicação a casos concretos de medidas cautelares
alternativas à privação da liberdade.
Em relação ao perfil dos presos quanto à raça, cor ou etnia, 48% das unidades
prisionais informaram ter condições de obter essa informação para todas as pessoas
privadas de liberdade, e 14% informaram ter condições de informar para apenas parte
das pessoas. No total, a informação foi disponibilizada para 274.315 pessoas privadas
de liberdade, cerca de 45% da população prisional.10 Vejamos:
Gráfico 3 – Raça, cor ou etnia dos presos.
10
Levantamento nacional de informações penitenciárias INFOPEN - Junho de 2014. Op. Cit., p. 50.
superioridade das classes dominantes e dos trabalhadores disciplinados sobre as classes
tumultuosas. 11
Nesse sentido, ao realizar estudos de anomalia craniana nos cárceres italianos,
Lombroso encontra no cadáver de Villela indicações de formação biológica primitiva: a
fosseta occipital média. A partir desta constatação, há o desenvolvimento e
popularização, da tese do criminoso nato: “um ser humano primitivo cuja fisiologia,
através de um processo de regressão atávica, assemelhar-se-ia à do selvagem”. Assim,
sob a perspectiva do paradigma etiológico, definir-se-á um ser humano predeterminado
organicamente ao delito. Permite-se, através da antropologia criminal, a possibilidade
de catalogação e identificação de indivíduos ontologicamente perversos, em decorrência
de suas anomalias anatômicas e fisiológicas. 12
Auxiliando na compreensão do fenômeno de exclusão do negro, estereotipado
com “cara de bandido”:
11
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Criminologia: Aproximación desde um Margen. Bogotá: Temis, 1988, p.
134.
12
LOMBROSO apud CARVALHO, Salo de. Op. cit., p.58.
13
ZAFFARONI, Eugênio Raúl. Op. Cit., p. 131.
sentido cultural da miscigenação, ou seja, a pluralidade que somente era positiva caso
limpasse e jamais criasse. 14 Veremos mais adiante o desenvolvimento deste tema, sob
o prisma da criminologia crítica que busca romper com a lógica do determinismo
biológico.
O gráfico 4 mostra a distribuição da população prisional brasileira por faixa
etária. Certo é que a maior parte da população prisional é formada por jovens.
Comparando o perfil etário da população prisional com o da população brasileira em
geral, observa-se que a proporção de jovens é maior naquela do que nesta. Ao passo que
56% das penitenciárias são compostas por jovens, essa faixa etária compõe apenas
21,5% da densidade demográfica do país. 15
14
SILVA, Mozart Linhares da apud CARVALHO, Salo de. Op. Cit., p. 65.
15
Levantamento nacional de informações penitenciárias INFOPEN - Junho de 2014. Op. cit., p. 48.
16
Idem.
pessoas custodiadas e 20% para parte das pessoas. A escolaridade foi informada para
241.318 pessoas, o que corresponde a cerca de 40% do total da população prisional. 17
17
Ibidem, p. 57.
18
Ibidem, p. 58.
19
Ibidem, p. 45.
considere, para o resto da sociedade tais pessoas não representam um benefício, mas um
custo”. 20
Ao descartar a pessoa como valor, vista como supérflua nesta nova ordem
projeta-se a necessidade de maximização dos aparatos de controle penal. Como
alternativa ao Estado providência, portanto, temos o ‘Estado penitência”, configurando
uma máxima que parece ser a palavra de ordem na atualidade: “Estado social mínimo,
Estado penal máximo”. Isto porque, deve ser reservado aos ‘inconvenientes’ algum lugar
– nas atuais circunstâncias, o confinamento é antes uma alternativa ao emprego, uma
maneira de utilizar e neutralizar uma parcela relevante da população que não é necessária
à produção e para a qual não há trabalho ao qual se reintegrar. 21
Em relação à distribuição de crimes tentados/consumados entre os registros das
pessoas privadas de liberdade, cumpre observarmos o gráfico 6:
Nota-se que quatro entre cada dez registros correspondem a crimes contra o
patrimônio. Cerca de um em cada dez corresponde ao crime de furto. Note-se que o
tráfico de entorpecentes é o tipo penal de maior incidência, correspondendo a 27% dos
20
DAHRENDORF apud CARVALHO, Salo de. Op. cit., p. 216.
21
CARVALHO, Salo de. Ibidem, p. 215.
crimes informados. Em seguida, o roubo com 21%; já o homicídio corresponde a 14%
dos registros e o latrocínio a apenas 3%. 22
Em suma, da análise dos dados estatísticos apontados pelo Departamento
Penitenciário Nacional, podemos traçar um perfil da população carcerária: negra, pobre,
jovem e de baixa escolaridade, autores de delitos patrimoniais ou de tráfico de drogas.
Para além da influência imposta pela concepção etiológica de Lombroso já introduzida,
isso se deve ao que o paradigma de defesa social (labelling approach) 23 denomina como
seletividade do poder punitivo, no âmbito da criminalização primária e secundária, que
perpetua um processo de etiquetamento/rotulação social de certos indivíduos.
Nesse liame, no que tange à criminalização primária, sucede que o Estado
escolhe aquelas condutas que a seu ver são importantes e devem ser proibidas e passíveis
de punição. Em outras palavras, em um primeiro olhar, poder-se-ia afirmar que a lei
penal vincularia todas as pessoas na medida em que ao prever de maneira abstrata a
proibição de determinada conduta, qualquer pessoa que violasse a lei seria em tese por
ela punida o que conferiria neutralidade à norma penal incriminadora. Todavia, não é
bem isso o que ocorre.
Isto porque, enquanto a elaboração de leis penais é uma declaração que, em geral,
se refere a condutas e atos, a criminalização secundária é a ação punitiva exercida sobre
as pessoas concretas. No momento em que as agências policiais detectam uma pessoa
que supostamente tenha praticado certo ato criminalizado primariamente, a investigam,
em alguns casos privam-na de sua liberdade de ir e vir e submetem-na à agência judicial,
que legitima tal iniciativa; admitindo um processo. Em virtude da limitada capacidade
operacional das agências executivas, é consectário lógico que a criminalização
secundária se torna exceção, enquanto que a impunidade vira a regra. 24
Tendo em vista a impossibilidade operacional de se concretizar todo o projeto de
criminalização primária, alternativa outra não restará às agências de controle senão a de
operar em grande nível de seletividade, tanto no que concerne à proteção de potenciais
vítimas, quanto no que diz respeito à criminalização dos agentes. Enfim, em razão desta
imposição seletiva, o Estado acabará optando pela persecução daqueles crimes mais
22
Levantamento nacional de informações penitenciárias INFOPEN - Junho de 2014. Op. cit., p. 69.
23
“A partir da escola do labelling approach ocorre uma correção do conceito de criminalidade, pois o que
há são processos de criminalização. Assim, a criminalidade seria uma realidade social atribuída”. IN:
BATISTA, Vera Malaguti. Introdução Crítica à Criminologia Brasileira. Rio de janeiro: Revan, 2011, p.77.
24
ZAFFARONI, E. Raúl; BATISTA, Nilo. Direito Penal Brasileiro – I. Rio de Janeiro: Revan, 2011, p.
43.
fáceis de investigar, ante a seus erros operacionais ou facilidades jurídicas; ou optará na
criminalização daqueles grupos sociais mais vulneráveis. 25
Sendo assim, criminalizar consiste na seleção penalizante a que uma parcela da
população é submetida ao poder punitivo. Dado que:
25
Ibidem, pp. 44-46.
26
Ibidem, p. 43.
27
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 5ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.
28
Idem.
altamente diferenciadas ao longo de linhas de classe social, linhas étnicas, linhas
29
ocupacionais e linhas culturais.
29
BECKER, Howard Saul. Outsiders: estudo de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
2008, p. 27.
30
Ibidem, p. 22.
31
ZAFFARONI, E. Raúl; BATISTA, Nilo. Op. cit., p. 46.
Apesar das teorias sobre o homem patológico serem negadas nas formulações
doutrinárias, que após a reação científica dos anos sessenta, incitaram o movimento da
criminologia crítica; o modelo etiológico reformulará seus postulados com o movimento
da Defesa Social. Isto porque, embora o discurso criminológico crítico tenha deslocado
e desmascarado as teses da Escola Positiva, a mudança na concepção do crime não foi
alterada. É que mesmo a resposta da criminologia crítica ao fenômeno do delito, negando
o determinismo biológico, não deixou de incorrer em um determinismo
socioeconômico.32
Ainda no que tange aos fatores que representam a crise do sistema carcerário
brasileiro, salientamos neste tópico, sem a pretensão de esgotar o tema, a questão da
reincidência criminal, em detrimento da declarada função ressocializadora da pena de
prisão.
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) celebrou acordo de cooperação técnica
com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) para que fosse realizada uma
pesquisa sobre reincidência criminal no Brasil. O termo previu uma pesquisa capaz de
apresentar um panorama da reincidência criminal com base em dados coletados em
alguns estados do país.33
Um desafio colocado pela referida pesquisa consistiu em explicitar o conceito de
reincidência a ser trabalhado. O termo reincidência criminal é geralmente utilizado de
forma indiscriminada, às vezes até para descrever fenômenos bastante distintos.
Apontando, muitas vezes, para o fenômeno mais amplo da reiteração em atos criminosos
e da construção de carreiras no mundo do crime. 34
A pesquisa ocupa-se, portanto, da reincidência em sua concepção estritamente
legal, aplicável apenas aos casos em que há condenações de um indivíduo em diferentes
ações penais, ocasionadas por fatos diversos, desde que a diferença entre o cumprimento
de uma pena e a determinação de uma nova sentença seja inferior a cinco anos. Em
32
CARVALHO, Salo de. Op. cit., p. 74.
33
Reincidência criminal no Brasil, Relatório de pesquisa 2015. IPEA, p. 9
<http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/destaques/arquivo/2015/07/9273eaea20159abdadb8bb43a3530f49.
pdf> Acesso em: 15/10/2015.
34
Idem.
outras palavras, a reincidência legal refere-se ao parâmetro de que ninguém pode ser
considerado culpado de nenhum delito, a não ser que tenha sido processado
criminalmente e, após o julgamento, seja sentenciada a culpa, devidamente comprovada.
35
35
Idem.
36
Ibidem, p. 11.
37
Ibidem, p. 12.
Fonte: Pesquisa Ipea/CNJ, 2015, p.12.
38
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 125.
39
ZAFFARONI apud CARVALHO, Salo de. Op. cit., p. 181.
entre direito e natureza e direito e moral (teorias da emenda) são as mais antiliberais e
antigarantistas teorias já concebidas, justificando modelos maximalistas. 40
Quanto aos rumos que deveriam ser dados à prisão, considerando a não realização
do projeto ressocializador, podem ser apontadas duas grandes posições: a realista e a
idealista.
Os adeptos da primeira posição, partindo da premissa de que a prisão não é capaz
de se constituir em espaço de ressocialização, defendem que o máximo que ela pode fazer
é neutralizar o delinquente, como apontado acima. Em decorrência, alinham-se ao
discurso oficial da prisão como prevenção especial negativa (neutralização do
delinquente). 41.
De outro lado, estão os que se inserem na segunda posição, que permanecem na
defesa da prisão como espaço de prevenção especial positiva (ressocialização). Em que
pese à admissão de seu fracasso para este fim, advogam que é preciso manter a ideia da
ressocialização, visto que seu abandono acabaria reforçando o caráter exclusivamente
punitivo da pena, dando à prisão a única função de excluir da sociedade aqueles que são
considerados delinquentes. 42
Para o referido posicionamento mais realista, qualquer reforma que se possa fazer
no campo penitenciário não terá maiores vantagens, visto que, mantendo-se a mesma
estrutura do sistema capitalista, a prisão manterá sua função repressiva e estigmatizadora.
43
40
CARVALHO, Salo de. Op. cit., p. 139.
41
BARATTA, Alessandro. Ressocialização ou controle social: uma abordagem crítica da “reintegração
social” do sentenciado. 1990, pp. 1-2. Disponível em:
<http://www.juareztavares.com/textos/baratta_ressocializacao.pdf> Acesso em: 16/10/2015
42
Idem.
43
PEARCE, Franck apud BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 136.
44
SANTOS, Barbero apud Idem.
que o objetivo não deve ser abandonado, e sim reconstruído, propondo a substituição dos
termos ressocialização e tratamento pelo de reintegração social (numa posição mais
otimista do que a dos realistas).45
Nesse sentido, a ressocialização e o tratamento denotam uma postura passiva do
detento e ativa das instituições: “são heranças anacrônicas da velha criminologia
positivista que tinha o condenado como um indivíduo anormal e inferior que precisava
ser (re)adaptado à sociedade, considerando acriticamente esta como ‘boa’ e aquele como
‘mau’”. Em oposição, o termo reintegração social pressupõe a igualdade entre as partes
envolvidas no processo, pois requer a “abertura de um processo de comunicação e
interação entre a prisão e a sociedade, no qual os cidadãos reclusos se reconheçam na
sociedade e esta, por sua vez, se reconheça na prisão”. 46
Em outras palavras, a reintegração social engloba a transformação da sociedade
que deve reassumir sua responsabilidade nos problemas e conflitos segregados na prisão.
Tendo por base a composição demográfica da população carcerária, podemos verificar
que a maioria dos presos procede de grupos sociais já marginalizados, excluídos da
sociedade em razão dos mecanismos de mercado que regulam o mundo do trabalho.
Portanto, antes de tudo, trata-se de corrigir as condições de exclusão social, para que
conduzir esses setores a uma vida pós-penitenciária não signifique apenas, como quase
sempre acontece, o regresso à reincidência criminal. 47
No que se relacionam as condições de cárcere, tanto sob o prisma da integração
social como do criminoso, “a melhor prisão é, sem dúvida, a que não existe”, uma vez
que não há nenhuma prisão boa o suficiente para atingir a reintegração. No entanto,
existem algumas piores do que outras e, dessa maneira, qualquer ação, ainda que seja
para guardar o preso, deve ser encarada com seriedade, de modo a fazer com que a vida
no cárcere seja menos dolorosa e prejudicial ao condenado. 48
Ressalta-se que não se trata da defesa de um reformismo tecnocrático, com a
finalidade de legitimar através de quaisquer melhoras o sistema prisional, mas de adotar
uma política de reintegração social, sem descuidar que todo reformismo possui seus
limites para não incorporar à instituição carcerária, com o objetivo imediato não apenas
45
BARATTA, Alessandro. Op. cit., p. 2.
46
Ibidem, p. 3.
47
Idem.
48
Ibidem, p. 2.
de uma “prisão melhor”, mas, sobretudo, de “menos cárcere”. “Reintegração, não “por
meio da” prisão, mas “ainda que” de sua existência”. 49
A crise no sistema carcerário brasileiro pode ser entendida como uma tragédia
anunciada, a ausência de condições mínimas de garantia da dignidade aos presos e a
superlotação, como aspectos desta catástrofe, já podiam ser verificavas desde o período
colonial. Ao rasgarmos o véu da aparência das funções declaradas pela ideologia jurídica
oficial, analisando criticamente a história do poder punitivo, fica evidente que a prisão
não foi idealizada para que funcionasse de modo a respeitar os direitos fundamentais dos
definidos como criminosos, tampouco a integrá-los dentro da sociedade.
O perfil da população prisional brasileira, em sua maioria negra, jovem, pobre
jovem e de baixa escolaridade, autores de delitos patrimoniais ou de tráfico de drogas,
denota a seletividade do poder punitivo. O estereótipo é o principal critério seletivo da
criminalização secundária, daí a existência de certas uniformidades associadas. A
criminalização, portanto, não pode ser considerada como um processo natural. Trata-se
de uma decisão eminentemente política.
49
Ibidem, pp. 2-3.