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OS NOVÍSSIMOS
OS NOVÍSSIMOS
Os santos chamam de Novíssimos as coisas que nos sucederão no fim da vida, a morte
e o juízo, o destino temporário (o purgatório), e o destino eterno (o céu e o inferno).
1. O que é o juízo?
O Catecismo da Igreja Católica ensina que «a morte põe termo à vida do homem,
enquanto tempo aberto à aceitação ou à rejeição da graça divina, manifestada em
Jesus Cristo» «Ao morrer, cada homem recebe na sua alma imortal a retribuição
eterna, num juízo particular que põe a sua vida em referência a Cristo, quer através de
uma purificação, quer para entrar imediatamente na felicidade do céu, quer para se
condenar imediatamente para sempre».
Neste sentido S. João da Cruz fala do juízo particular de cada um dizendo que «ao
entardecer desta vida, examinar-te-ão no amor».
1021. A morte põe termo à vida do homem, enquanto tempo aberto à aceitação ou à
rejeição da graça divina, manifestada em Jesus Cristo. O Novo Testamento fala do
juízo, principalmente na perspectiva do encontro final com Cristo na sua segunda
vinda. Mas também afirma, reiteradamente, a retribuição imediata depois da morte de
cada qual, em função das suas obras e da sua fé. A parábola do pobre Lázaro e a
palavra de Cristo crucificado ao bom ladrão, assim como outros textos do Novo
Testamento, falam dum destino final da alma, o qual pode ser diferente para umas e
para outras.
1022. Ao morrer, cada homem recebe na sua alma imortal a retribuição eterna, num
juízo particular que põe a sua vida em referência a Cristo, quer através duma
purificação, quer para entrar imediatamente na felicidade do céu, quer para se
condenar imediatamente para sempre.
Esta vida perfeita com a Santíssima Trindade, esta comunhão de vida e de amor com
Ela, com a Virgem Maria, com os anjos e com todos os bem-aventurados chama-se
céu. Pela sua morte e ressurreição, Jesus Cristo «abriu-nos» o céu. Viver no céu é
“estar com Cristo” (cf. Jo 14, 3; Flp 1, 23; 1 Ts 4,17). Os eleitos vivem «n'Ele»; mas n'Ele
conservam, ou melhor, encontram a sua verdadeira identidade, o seu nome próprio.
(cf. Ap 2, 17)
1024. Esta vida perfeita com a Santíssima Trindade, esta comunhão de vida e de amor
com Ela, com a Virgem Maria, com os anjos e todos os bem-aventurados, chama-se
«céu». O céu é o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o
estado de felicidade suprema e definitiva.
1025. Viver no céu é «estar com Cristo». Os eleitos vivem «n'Ele»; mas n'Ele conservam,
ou melhor, encontram a sua verdadeira identidade, o seu nome próprio: «Porque a vida
consiste em estar com Cristo, onde está Cristo, aí está a vida, aí está o Reino».
1026. Pela sua morte e ressurreição, Jesus Cristo «abriu-nos» o céu. A vida dos bem-
aventurados consiste na posse em plenitude dos frutos da redenção operada por Cristo,
que associa à sua glorificação celeste aqueles que n'Ele acreditaram e permaneceram
fiéis à sua vontade. O céu é a comunidade bem-aventurada de todos os que estão
perfeitamente incorporados n'Ele.
3. O que é o purgatório?
Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não de todo purificados, embora
seguros da sua salvação eterna, sofrem depois da morte uma purificação, a fim de
obterem a santidade necessária para entrar na alegria do céu. A Igreja chama
Purgatório a esta purificação final dos eleitos, que é absolutamente distinta do castigo
dos condenados.
Esta doutrina apoia-se também na prática da oração pelos defuntos, de que já fala a
Sagrada Escritura: «Por isso, [Judas Macabeu] pediu um sacrifício expiatório para que
os mortos fossem livres das suas faltas» (2 Mac 12, 46). Desde os primeiros tempos, a
Igreja honrou a memória dos defuntos, oferecendo sufrágios em seu favor,
particularmente o Sacrifício eucarístico para que, purificados, possam chegar à visão
beatífica de Deus. A Igreja recomenda também a esmola, as indulgências e as obras de
penitência a favor dos defuntos.
1030. Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não de todo purificados,
embora seguros da sua salvação eterna, sofrem depois da morte uma purificação, a
fim de obterem a santidade necessária para entrar na alegria do céu.
1031. A Igreja chama Purgatório a esta purificação final dos eleitos, que é
absolutamente distinta do castigo dos condenados. A Igreja formulou a doutrina da fé
relativamente ao Purgatório sobretudo nos concílios de Florença e de Trento. A
Tradição da Igreja, referindo-se a certos textos da Escritura fala dum fogo purificador:
«Pelo que diz respeito a certas faltas leves, deve crer-se que existe, antes do
julgamento, um fogo purificador, conforme afirma Aquele que é a verdade, quando diz
que, se alguém proferir uma blasfémia contra o Espírito Santo, isso não lhe será
perdoado nem neste século nem no século futuro (Mt 12, 32). Desta afirmação
podemos deduzir que certas faltas podem ser perdoadas neste mundo e outras no
mundo que há-de vir».
1032. Esta doutrina apoia-se também na prática da oração pelos defuntos, de que já
fala a Sagrada Escritura: «Por isso, [Judas Macabeu] pediu um sacrifício expiatório
para que os mortos fossem livres das suas faltas» (2 Mac 12, 46). Desde os primeiros
tempos, a Igreja honrou a memória dos defuntos, oferecendo sufrágios em seu favor,
particularmente o Sacrifício eucarístico para que, purificados, possam chegar à visão
beatífica de Deus. A Igreja recomenda também a esmola, as indulgências e as obras de
penitência a favor dos defuntos:
4. O que é o inferno?
O inferno significa permanecer separado d'Ele - do nosso Criador - para sempre, por
nossa própria livre escolha. E é este estado de auto-exclusão definitiva da comunhão
com Deus e com os bem-aventurados que se designa pela palavra «Inferno».
Jesus fala muitas vezes da «geena» do «fogo que não se apaga» (630) reservada aos
que recusam, até ao fim da vida, acreditar e converter-se, e na qual podem perder-se,
ao mesmo tempo, a alma e o corpo. A principal pena do inferno consiste na separação
eterna de Deus.
1033. Não podemos estar em união com Deus se não escolhermos livremente amá-Lo.
Mas não podemos amar a Deus se pecarmos gravemente contra Ele, contra o nosso
próximo ou contra nós mesmos: «Quem não ama permanece na morte. Todo aquele
que odeia o seu irmão é um homicida: ora vós sabeis que nenhum homicida tem em si
a vida eterna» (1 Jo 3, 14-15). Nosso Senhor adverte-nos de que seremos separados
d'Ele, se descurarmos as necessidades graves dos pobres e dos pequeninos seus
irmãos. Morrer em pecado mortal sem arrependimento e sem dar acolhimento ao
amor misericordioso de Deus, significa permanecer separado d'Ele para sempre, por
nossa própria livre escolha. E é este estado de auto-exclusão definitiva da comunhão
com Deus e com os bem-aventurados que se designa pela palavra «Inferno».
1034. Jesus fala muitas vezes da «geena» do «fogo que não se apaga» reservada aos
que recusam, até ao fim da vida, acreditar e converter-se, e na qual podem perder-se,
ao mesmo tempo, a alma e o corpo. Jesus anuncia, em termos muitos severos, que
«enviará os seus anjos que tirarão do seu Reino [...] todos os que praticaram a
iniquidade, e hão-de lançá-los na fornalha ardente» (Mt 13, 41-42), e sobre eles
pronunciará a sentença: «afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno» (Mt 25,
41).
«Como não sabemos o dia nem a hora, é preciso que, segundo a recomendação do
Senhor, vigiemos continuamente, a fim de que, no termo da nossa vida terrena, que é
só uma, mereçamos entrar com Ele para o banquete de núpcias e ser contados entre os
benditos, e não sejamos lançados, como servos maus e preguiçosos, no fogo eterno,
nas trevas exteriores, onde "haverá choro e ranger de dentes"».
A ressurreição de todos os mortos, «justos e pecadores» (At 24, 15), há-de preceder o
Juízo final. Será «a hora em que todos os que estão nos túmulos hão-de ouvir a sua voz
e sairão: os que tiverem praticado o bem, para uma ressurreição de vida, e os que
tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de condenação» (Jo 5, 28-29). Então
Cristo virá «na sua glória, com todos os seus anjos [...]. Todas as nações se reunirão na
sua presença e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos
cabritos; e colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. [...] Estes irão
para o suplício eterno e os justos para a vida eterna» (Mt 25, 31-33.46).
O Juízo final terá lugar quando acontecer a vinda gloriosa de Cristo. Só o Pai sabe o dia
e a hora, só Ele decide sobre a sua vinda. Pelo seu Filho Jesus Cristo. Ele pronunciará
então a sua palavra definitiva sobre toda a história. Nós ficaremos a saber o sentido
último de toda a obra da criação e de toda a economia da salvação, e
compreenderemos os caminhos admiráveis pelos quais a sua providência tudo terá
conduzido para o seu fim último. O Juízo final revelará como a justiça de Deus triunfa
de todas as injustiças cometidas pelas suas criaturas e como o seu amor é mais forte
do que a morte (cf. Ct.8, 6).
1038. A ressurreição de todos os mortos, «justos e pecadores» (At 24, 15), há-de
preceder o Juízo final. Será «a hora em que todos os que estão nos túmulos hão-de
ouvir a sua voz e sairão: os que tiverem praticado o bem, para uma ressurreição de
vida, e os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de condenação» (Jo 5,
28-29). Então Cristo virá «na sua glória, com todos os seus anjos [...]. Todas as nações
se reunirão na sua presença e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as
ovelhas dos cabritos; e colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda.
[...] Estes irão para o suplício eterno e os justos para a vida eterna» (Mt 25, 31-33.46).
1039. É perante Cristo, que é a Verdade, que será definitivamente posta descoberto a
verdade da relação de cada homem com Deus (636). O Juízo final revelará, até às suas
últimas consequências, o que cada um tiver feito ou deixado de fazer de bem durante a
sua vida terrena:
«Todo o mal que os maus fazem é registado – e eles não o sabem. No dia em que "Deus
virá e não se calará" (Sl 50, 3) [...]. Então, Ele Se voltará para os da sua esquerda: "Na
terra, dir-lhes-á, Eu tinha posto para vós os meus pobrezinhos, Eu, Cabeça deles, estava
no céu sentado à direita do Pai – mas na terra os meus membros tinham fome: o que
vós tivésseis dado aos meus membros, teria chegado à Cabeça. Quando Eu coloquei os
meus pobrezinhos na terra, constituí-os vossos portadores para trazerem as vossas
boas obras ao meu tesouro. Vós nada depositastes nas mãos deles: por isso nada
encontrais em Mim"» (637).
1040. O Juízo final terá lugar quando acontecer a vinda gloriosa de Cristo. Só o Pai sabe
o dia e a hora, só Ele decide sobre a sua vinda. Pelo seu Filho Jesus Cristo. Ele
pronunciará então a sua palavra definitiva sobre toda a história. Nós ficaremos a saber
o sentido último de toda a obra da criação e de toda a economia da salvação, e
compreenderemos os caminhos admiráveis pelos quais a sua providência tudo terá
conduzido para o seu fim último. O Juízo final revelará como a justiça de Deus triunfa
de todas as injustiças cometidas pelas suas criaturas e como o seu amor é mais forte do
que a morte (638).
1041. A mensagem do Juízo final é um apelo à conversão, enquanto Deus dá ainda aos
homens «o tempo favorável, o tempo da salvação» (2 Cor 6, 2). Ela inspira o santo
temor de Deus, empenha na justiça do Reino de Deus e anuncia a «feliz esperança» (Tt
2, 13) do regresso do Senhor, que virá «para ser glorificado nos seus santos, e
admirado em todos os que tiverem acreditado» (2 Ts 1, 10).
6. No final dos tempos Deus prometeu céu novo e uma nova terra. Que devemos
esperar?
Para o homem, esta consumação será a realização final da unidade do género humano,
querida por Deus desde a criação e da qual a Igreja peregrina era «como que o
sacramento» (LG 1). Os que estiverem unidos a Cristo formarão a comunidade dos
resgatados, a «Cidade santa de Deus» (Ap 21, 2), a «Esposa do Cordeiro» (Ap 21, 9).
Esta não mais será atingida pelo pecado, pelas manchas (644), pelo amor próprio, que
destroem e ferem a comunidade terrena dos homens. A visão beatífica, em que Deus
Se manifestará aos eleitos de modo inesgotável, será a fonte inexaurível da felicidade,
da paz e da mútua comunhão.
«A expectativa da nova terra não deve, porém, enfraquecer, mas antes ativar a
solicitude em ordem a desenvolver esta terra onde cresce o corpo da nova família
humana, que já consegue apresentar uma certa prefiguração do mundo futuro. Por
conseguinte, embora o progresso terreno se deva cuidadosamente distinguir do
crescimento do Reino de Cristo, todavia, na medida em que pode contribuir para a
melhor organização da sociedade humana, interessa muito ao Reino de Deus» (DS 39).
1045. Para o homem, esta consumação será a realização final da unidade do género
humano, querida por Deus desde a criação e da qual a Igreja peregrina era «como que
o sacramento» (643). Os que estiverem unidos a Cristo formarão a comunidade dos
resgatados, a «Cidade santa de Deus» (Ap 21, 2), a «Esposa do Cordeiro» (Ap 21, 9).
Esta não mais será atingida pelo pecado, pelas manchas (644), pelo amor próprio, que
destroem e ferem a comunidade terrena dos homens. A visão beatífica, em que Deus Se
manifestará aos eleitos de modo inesgotável, será a fonte inexaurível da felicidade, da
paz e da mútua comunhão.
Na verdade, as criaturas esperam ansiosamente a revelação dos filhos de Deus [...] com
a esperança de que as mesmas criaturas sejam também libertadas da corrupção que
escraviza [...]. Sabemos que toda a criatura geme ainda agora e sofre as dores da
maternidade. E não só ela, mas também nós, que possuímos as primícias do Espírito,
gememos interiormente, esperando a adopção filial e a libertação do nosso corpo» (Rm
8, 19-23).
1047. Assim, pois, também o universo visível está destinado a ser transformado, «a fim
de que o próprio mundo, restaurado no seu estado primitivo, esteja sem mais nenhum
obstáculo ao serviço dos justos» (645), participando na sua glorificação em Jesus Cristo
ressuscitado.
1049. «A expectativa da nova terra não deve, porém, enfraquecer, mas antes ativar a
solicitude em ordem a desenvolver esta terra onde cresce o corpo da nova família
humana, que já consegue apresentar uma certa prefiguração do mundo futuro. Por
conseguinte, embora o progresso terreno se deva cuidadosamente distinguir do
crescimento do Reino de Cristo, todavia, na medida em que pode contribuir para a
melhor organização da sociedade humana, interessa muito ao Reino de Deus» (647).
No Juízo Particular, no instante final, quando a pessoa compreende que não pode fugir
das Minhas Mãos recupera a visão que a atormenta interiormente fazendo-a ver que
por própria culpa chegou a tão triste situação.
O JUÍZO PARTICULAR (segundo Santa Catarina de Sena)
Se o pecador se deixar iluminar e se arrepender, não por medo dos castigos infernais,
mas por ter ofendido a Suma e Eterna Bondade, AINDA SERÁ PERDOADO. Mas, se
ultrapassar o momento da morte nas trevas, no remorso, sem esperança no Sangue,
ou então, lamentando-se apenas pela infelicidade em que se acha - e não por ter Me
ofendido - irá para a perdição. Sobrevirá, pois, a repreensão pela injustiça e falso
julgamento.
Sendo três os seus vícios principais - egoísmo, medo de perder a boa fama e orgulho -
aos quais se acrescentam a injustiça, a maldade e impureza, no inferno os pecadores
padecem de quatro tormentos principais. O primeiro é a ausência da Minha visão. Um
sofrimento tão grande que os condenados, se fosse possível, prefeririam sofrer o fogo
vendo-Me, que ficar de fora dele sem Me ver.
O quarto é o fogo. Um fogo que arde sem consumir, sem destruir o ser humano. É algo
de imaterial, que não destrói a alma incorpórea. Na Minha justiça permito que tal fogo
queime, faça padecer, aflija; mas não destrua. É ardente e fere de modo crudelíssimo
em muitas maneiras, conforme a diversidade das culpas. A uns mais, a outros menos,
segundo a gravidade dos pecados. Destes quatro tormentos derivam os demais: o frio,
o calor, o ranger de dentes (Mt, 22,13) Grande é o ódio dos condenados, pois já não
amam o bem. Blasfemam continuamente contra Mim!
Queres saber por que já não podem desejar o bem? É porque, no fim desta vida,
vincula-se o livre arbítrio. Com o cessar do tempo, já não se merece mais. Quem
termina esta existência em pecado mortal, por direito divino fica para sempre apegado
ao ódio, obstinado no mal, a roer-se interiormente.
Seus sofrimentos irão aumentando sempre, especialmente por causa das demais
pessoas que por sua causa irão para a condenação. O homem justo (no mesmo Juízo)
ao encerrar sua vida terrena no amor, já não poderá progredir na virtude. Para sempre
continuará a amar no grau de caridade que atingiu até Mim.
Cada um no seu grau, de acordo com a caridade em que vieram participar de tudo o
que possuo. Desfrutam na alegria e gozo - dos bens pessoais e comuns que
mereceram. Colocados entre os anjos e santos com eles se rejubilam na proporção do
bem praticado na terra.
Quando chega alguém à vida eterna, todos sentem sua felicidade da mesma forma
como ele participa do prazer de todos. Em seus anseios os eleitos clamam
continuamente diante de Mim em favor do mundo inteiro. Suas vidas haviam
terminado no amor fraterno; continuam no mesmo amor.
Aliás, foi exatamente por tal caridade que passaram pela porta que é Meu Filho Por
ocasião do Juízo Final, o Verbo encarnado virá com divina majestade para repreender
o mundo. Não mais se apresentará pobrezinho na forma como nasceu da Virgem, na
estrebaria, entre animais, para morrer depois no meio de ladrões. Naquela ocasião,
ocultei n'Ele o Meu poder e permiti que suportasse penas e dores como homem. A
natureza divina se unira a humana e foi enquanto homem que sofreu para reparar as
vossas culpas.
No juízo final, não será assim, pois virá com poder a fim de julgar. As criaturas
humanas estremecerão e Ele a cada um dará sentença conforme merecimento. Tua
língua não conseguirá exprimir o que se sucederá aos condenados. Para os bons, Jesus
será motivo de temor santo e alegria imensa. Os bem-aventurados continuam no céu,
eternamente, aquele mesmo amor com que encerraram a vida terrena. Eles em nada
se distanciam de Mim. Seus desejos estão saciados. Anseiam em ver-Me glorificado
por vós viandantes e peregrinos que sois em direção à morte. Aspirando por Minha
honra, querem vossa salvação e sempre rogam por vós. De Minha parte, escuto os
seus pedidos naquilo em que vós, por maldade, não opondes resistência à Minha
bondade. Os bem-aventurados desejam recuperar os seus corpos; todavia não sofrem
por sua ausência. Até se alegram, na certeza de que tal aspiração será realizada. A
ausência do corpo não lhes diminui o prazer, não é angustiante, não faz sofrer. Nem
julgues que a satisfação de ter o corpo após a ressurreição lhes traga maior bem-
aventurança. Se isso fosse verdade, seria sinal que a felicidade anterior era imperfeita,
enquanto não o reouvessem, e isso não pode ser. De fato, nenhuma perfeição lhes
falta. Não é o corpo que faz feliz a alma, mas o contrário.
Ocupei-Me da felicidade dos santos para que entendesses melhor a infelicidade dos
condenados ao inferno. Aliás, outro tormento destes últimos, é ver quanto os bem-
aventurados são felizes. Tal conhecimento acresce-lhes a pena, da mesma forma como
a condenação dos maus leva os justos a glorificar Minha bondade. A luz é mais
evidente na escuridão, e a escuridão na luz. Conhecer a alegria dos santos é dor para
os réus do inferno. Os condenados aguardam com temor o dia do juízo final. Sabem
que então seus sofrimentos aumentarão. Ao escutar o terrível convite: "mortui, venite
ad judicium", a alma retornará ao corpo. Para os bem-aventurados será um corpo de
glória; para os réus um corpo para sempre obscurecido. Diante do Meu Filho, sentirão
grande vergonha. Também diante dos santos. O remorso martirizará a profundidade
do seu ser, quero dizer, a alma; mas também o corpo. Acusá-los-ão: o Sangue de
Cristo, por eles derramado; as obras de misericórdia, espirituais e corporais, do Meu
Filho, o bem que eles mesmos deveriam ter praticado em benefício dos outros,
segundo o Evangelho. Terá seu castigo a maldade com que trataram os irmãos, pois Eu
mesmo, compassivo, perdoara-lhes (Mt 18,33). Serão repreendidos pelo orgulho,
egoísmo, impureza, ganância; e tudo isso reavivará seus padecimentos.
Tal exteriorização se verifica porque o corpo manifesta o resultado das batalhas das
alma, como o espelho reflete a face do homem. Ao se verem privados de tamanha
beleza, os habitantes das trevas verão surgir nos próprios corpos os sinais dos pecados
e terão maiores tormentos e confusão.
E ao soar aquela terrível sentença: "Ide, malditos, para o fogo eterno", suas almas e
corpos encaminhar-se-ão para a companhia de demônios, sem mais remédios nem
esperança.
Cada um a seu modo, se envolverá na podridão que viveu na terra, de acordo com as
ações que praticou: o avarento arderá na sua ganância dos bens que
desordenadamente amou; o maldoso, na sua ruindade; o impuro na imunda e infeliz
concupiscência; o injusto nas suas iniquidades; o rancoroso no seu ódio pelos outros.
Quanto ao egoísmo fonte de todos os males arderá como princípio causador de tudo
em sofrimentos insuportáveis.
O orgulho terá igual sorte. Assim, corpo e alma serão punidos em todos os vícios.
Sirvo-Me do demônio qual instrumento da Minha justiça para atormentar os que Me
ofendem.
Nesta vida o coloquei qual tentador, molestando os homens. Não para que estes sejam
vencidos, mas para que conquistem a vitória e o prêmio pela comprovação das
virtudes. Ninguém deve temer as possíveis lutas e tentações do demônio. Fortaleci os
homens, dei-lhes energia para vencer, no Sangue de Cristo. Demônio ou criatura
alguma conseguem dobrar a vontade. Ela vos pertence, é livre.
Vós é que escolheis o querer ou não querer alguma coisa. Eu disse que o demônio
convida os homens para a água-morta, a única que lhe pertence, cegando-os com
prazeres e satisfações do mundo. Usa o anzol do prazer e fisga-os mediante a
aparência de bem. Sabe ele que por outros caminhos nada conseguiria; sem o
vislumbre de um bem ou satisfação, os homens não se deixam aprisionar; por sua
própria natureza, a alma humana tende ao bem. Infelizmente, devido à cegueira do
egoísmo, o homem não consegue discernir qual é o bem verdadeiro, realmente útil ao
corpo e à alma.
Como afirmei antes, ninguém consegue seguir o caminho da verdade sem a luz da
razão - recebida de Mim com a inteligência - e sem a luz da fé, infundida na hora do
santo batismo, supondo que não destruais esta última com vossos pecados.
Fonte: Revelações de Deus Pai à Santa Catarina de Sena.
Na noite em que estive em Lanzo, chegada a hora de repousar, aconteceu-me que tive
o seguinte sonho. É um sonho que não tem nenhuma relação com outros sonhos...
São coisas muito estranhas. Mas para meus filhos não tenho segredos; abro-lhes
inteiramente o coração. Pensai o que quiserdes desse sonho. Como diz São Paulo,
quod bonum est tenete [conservai o que é bom], se alguma coisa encontrais nele que
seja de proveito para vossa alma, sabei aproveitar-vos dela. Quem não quiser crer, que
não me creia, pouco importa; mas ninguém jamais zombe das coisas que vou dizer.
(Peço-vos, ainda, que não o conteis nem o comuniqueis por escrito aos que não são da
casa. Aos sonhos pode-se dar importância que sonhos merecem, e os que não
conhecem nossa intimidade poderiam formar juízos errôneos, vendo as coisas de
modo diferente do que são na realidade. Não sabem eles que sois meus filhos, e que
sempre vos digo tudo o que sei, e às vezes até mesmo o que não sei (risos gerais). Mas
o que um pai manifesta a seus filhos queridos para o bem deles, deve ficar entre o pai
e os filhos, e não passar adiante. E ainda por outro motivo: é que em geral, quando se
contam essas coisas fora, ou se desfiguram os fatos ou se conta apenas uma parte
deles, e esta mesma mal entendida; de onde nasce dano, pois o mundo desprezaria o
que não deve ser desprezado).
Logo me pareceu estar sobre uma elevação de terreno, ou colina, à beira de uma
imensa planície cujos confins a vista não alcançava, pois se perdiam na imensidão; era
toda azulada como o mar calmo, embora o que eu visse não fosse água; parecia um
cristal límpido e luminoso. Sob meus pés, por trás de mim e dos lados via uma região à
maneira de um litoral à margem do oceano.
(Eu dizia para mim mesmo: "Se meus meninos tivessem uma destas casas, como
gozariam, que felizes seriam e com quanto gosto viveriam nela!" Isto pensava eu
vendo externamente os palácios. Qual não deveria ser sua magnificência interior)!
Via-se, pelo rosto dos felizes habitantes do jardim, que os cantores não só
experimentavam extraordinário prazer em cantar, mas ao mesmo tempo sentiam
imenso gozo em ouvir cantar os demais. Quanto mais um cantava, mais se lhe acendia
o desejo de cantar, e quanto mais ouvia, mais desejava ouvir.
Salus, honor; gloria Deo Patri omnipotenti!.., Auctor saeculi, qui erat, qui est, qui
venturus est iudicare vivos et mortuos in saecula saeculorum [Saudação, honra e glória
a Deus Pai onipotente! Autor do século, que era, que é e que virá a julgar os vivos e os
mortos para todos os séculos dos séculos].
Enquanto ouvia atônito essa celestial harmonia, vi aparecer uma imensa multidão de
jovens, muitos dos quais eu conhecia, pois tinham estado no Oratório e nos outros
nossos colégios; mas me era desconhecida a maior parte. A multidão interminável se
dirigia a mim. À sua frente vinha Domingos Sávio, e logo atrás dele vinham Padre
Alasonatti, Padre Chiala, Padre Giulitto e muitos sacerdotes e clérigos, cada um deles
conduzindo uma seção de jovens.
Eu me perguntava a mim mesmo: "Estou dormindo ou estou acordado?" Batia as mãos
uma na outra e me tocava no peito, para certificar-me de que era realidade o que via.
Chegada diante de mim toda aquela multidão, parou à distância de oito ou dez passos.
Brilhou então um relâmpago de luz mais viva; cessou a música e fez-se um silêncio
profundo. Todos os jovens estavam tomados pela maior alegria, que lhes transparecia
no olhar, e em seus rostos se via a paz de uma felicidade perfeita. Olhavam-me com
um suave sorriso nos lábios e parecia que desejavam falar, mas não falavam.
Adiantou-se Domingos Sávio só, alguns passos, e ficou tão próximo a mim que se eu
tivesse estendido a mão certamente o teria tocado. Calava-se e me olhava sorrindo.
Que belo estava! Suas vestes eram realmente singulares. Caía-lhe até os pés uma
túnica alvíssima, coberta de diamantes e toda bordada de ouro. Cingia-lhe a cintura
uma ampla faixa vermelha recamada com tantas pedras preciosas que uma quase
tocava a outra; e se entrelaçavam em desenho tão maravilhoso, apresentando tanta
beleza de cores, que eu, ao vê-lo, me sentia fora de mim pela admiração. Pendia-lhe
do pescoço um colar de flores raras, mas não naturais; parecia como se as pétalas
fossem de diamantes unidos entre si sobre hastes de ouro; e assim era tudo o mais.
Essas flores refulgiam com luz sobre-humana mais viva que a do sol, que naquele
instante brilhava com todo o esplendor de uma manhã de primavera. Elas refletiam
seus raios sobre o rosto cândido e corado de modo indescritível, dando-lhe uma luz de
modo tão singular que nem se distinguiam bem suas várias espécies. A cabeça, tinha-a
cingida com uma coroa de rosas; os cabelos caíam-lhe sobre os ombros em ondulantes
cachos, dando-lhe um ar tão pulcro, tão afetuoso, tão encantador, que parecia...
parecia... um Anjo!
Ao pronunciar estas últimas palavras, parecia que Dom Bosco estava fazendo grande
esforço para encontrar as expressões adequadas; e o fez com um gesto indescritível e
um tom de voz que comoveu a todos; pareceu ter-se cansado nesse esforço para
encontrar os termos que exprimissem inteiramente sua ideia. Após breve pausa,
prosseguiu:
Eu continuava a observar e pensava: Que significará isso? Como vim parar neste
local?... E não sabia onde me encontrava. Fora de mim, temeroso pela reverência que
tudo aquilo me inspirava, não me atrevia a dizer nada. Também os outros continuavam
silenciosos. Por fim, Domingos Sávio abriu a boca.
- Por que estás aí mudo e como que aniquilado? Não és mais aquele homem que de
nada tinhas medo, que enfrentavas intrépido as calúnias, as perseguições, os inimigos,
as angústias e os perigos de toda espécie? Onde está tua coragem? Por que não falas?
A duras penas respondi, quase balbuciando:
- Vim aqui para falar-te. Tantas vezes nos falamos na Terra! Não recordas quanto me
amavas, quantas provas de amizade e quantas demonstrações de benevolência me
deste? E eu por acaso não correspondi a teus desvelos? Como era grande minha
confiança em ti! Por que, então, tremes? Coragem! pergunta-me alguma coisa.
- Não, por certo. Aqui não se gozam os bens eternos, mas só, ainda que em medida
grande, os temporais.
- Não, não, não! – respondeu Sávio. Nenhum olho mortal pode ver as belezas eternas.
- E esta luz que sobrepuja a luz do sol, é luz divina? É a luz do Paraíso?
- Ninguém pode vê-la enquanto não chegue a ver a Deus sicut est [como Ele é]. O
menor raio dessa luz tira na no mesmo instante a vida de um homem, porque não é
suportável pelas forças humanas.
- E poderia haver uma luz natural ainda mais bela do que esta?
Sávio respondeu:
- Não é luz divina, se bem que, comparada com a terrestre, seja tão superior em brilho.
Não é senão luz natural, assim avivada pelo poder de Deus. E ainda que imaginasses
uma imensa zona de luz semelhante à centelhazinha que viste lá no fundo rodeando
todo o mundo, nem por isso formarias para ti uma ideia dos esplendores do Paraíso.
- Ah! É impossível dizer-te. O que se goza no Paraíso nenhum homem mortal pode
sabê-lo enquanto não deixar esta vida e se reunir a seu Criador. Basta dizer que se
goza ao próprio Deus.
Ipsi habuerunt lumbos praecinctos et dealbaverunt stolas suas in san guine Agni [Eles
tiveram os rins cingidos e purificaram suas vestes no sangue do Cordeiro].
- E por que – voltei a perguntar quando cessou o canto – essa faixa vermelha na tua
cintura?
Tampouco desta vez Sávio respondeu, mas antes fez sinal de que não queria fazê-lo.
Então, o Padre Alasonatti em solo se pôs a cantar:
Virgines enim sunt, et sequuntur Agnum quocumque ierit [São virgens e seguirão o
Cordeiro aonde quer que vá].
Compreendi então que a faixa encarnada, cor de sangue, era símbolo dos grandes
sacrifícios feitos, dos violentos esforços e do quase martírio sofrido para conservar a
virtude da pureza; e que, para manter-se casto na presença do Senhor, ele teria estado
pronto a dar a vida se as circunstâncias o houvessem requerido; e que também era
símbolo das penitências, que limpam a alma da culpa. A brancura e o esplendor da
túnica significavam a inocência batismal conservada.
Mas eu, atraído pelos cantos e contemplando todas aquelas falanges de jovens
celestiais ordenados atrás de Domingos Sávio, lhe perguntei:
Hi sunt sicut Angeli Dei in caelo [Estes são como Anjos de Deus no Céu].
Notava entretanto que Sávio parecia ter preeminência sobre aquela multidão, que a
respeitosa distância se encontrava, uns dez passos atrás dele; e então lhe disse:
- Diz-me, Sávio: sendo tu o mais jovem entre os muitos que te seguem e dos que
morreram em nossas casas, por que vais tu assim adiante deles e os precedes? Por que
és tu que falas e eles se calam?
- Então – lhe disse – falemos do que neste instante mais nos importa.
- Sim, e pergunta-me logo o que ainda desejas saber. As horas passam, e poderia
acabar o tempo que me foi concedido para falar-te; e já não mais me poderias ver.
- Que irei dizer-te eu, miserável criatura? – disse Sávio com profunda humildade. –
Recebi do alto a missão de te falar, e por isso vim.
- Quanto ao passado, digo-te que tua Congregação já fez muito bem. Vês lá abaixo
aquele número interminável de jovens?
- Pois bem – prosseguiu Sávio – todos eles foram salesianos, ou foram educados por ti,
ou contigo tiveram alguma relação, foram salvos por ti ou por teus sacerdotes e
clérigos, ou por outros que encaminhaste pela via de sua vocação. Conta-os, se fores
capaz. Seu número, porém, seria cem milhões de vezes maior se maiores tivessem sido
tua fé e tua confiança no Senhor.
Lancei um suspiro, sem saber o que responder a tal reprimenda, mas disse de mim
para comigo: daqui para a frente procurarei ter essa fé e essa confiança. Depois,
perguntei:
- E o presente?
Sávio me apresentou um magnífico ramalhete que tinha nas mãos. Nele havia rosas,
violetas, girassóis, gencianas, lírios, sempre-vivas e, entre as flores, espigas de trigo.
Ofereceu-mo e disse:
- Observa!
- Dá este ramalhete a teus filhos para que possam oferecê-lo ao Senhor quando chegar
o momento; procura que todos o tenham; a ninguém lhe falte nem o deixe tirar. Podes
estar certo de que com ele terão o suficiente para ser felizes.
- A Teologia, estudei-a eu, mas não saberia como tirar dela o significado do que me
apresentas.
- Quais são?
- Ora bem, meu caro Sávio: tu, que durante toda a tua vida praticaste todas essas
virtudes, diz-me: o que foi que mais te consolou na hora da morte?
- Também não.
- Não, não!
- Então, qual foi teu consolo na última hora? – perguntei, entre confuso e suplicante,
vendo que não conseguia adivinhar seu pensamento.
- Com respeito ao futuro, no próximo ano de 1877 terás que sofrer uma grande dor;
seis mais dois dos que te são mais caros serão chamados por Deus à eternidade. Mas
consola-te, pois serão transplantados do campo do mundo para os jardins do Paraíso.
Serão coroados. Não temas, O Senhor te ajudará e te mandará outros filhos
igualmente bons.
- Os destinos da Igreja estão nas mãos de Deus Criador. O que Ele determinou em seus
infinitos decretos não te posso revelar. Tais arcanos reserva-os Ele exclusivamente
para Si, e deles não participa nenhum dos espíritos criados.
- O que posso dizer-te é que o Pastor da Igreja não terá que sustentar ainda longos
combates nesta terra. Poucas são as batalhas que ainda lhe resta vencer. Dentro de
pouco será arrebatado de seu trono e o Senhor lhe dará a merecida recompensa. O
resto já é bem sabido. A Igreja não perece... Tens ainda algo que perguntar?
Oh! se soubesses por quantas vicissitudes terás ainda que passar!... Mas apressa-te,
porque muito pouco tempo me resta para falar contigo.
Estendi então com ardor as mãos para segurar aquele santo filho; mas suas mãos
pareciam aéreas e nada pude tocar.
Temo que te vás – exclamei —. Mas, não estás aqui com teu corpo?
Mas, que são, então, esses traços que me fazem ver em ti a figura de Domingos Sávio?
Quando por permissão divina uma alma separada do corpo aparece diante de algum
mortal, apresenta-se com a forma exterior do corpo que em vida animou, com todas
as suas feições exteriores, embora muito embelezadas, e assim as conserva até que
volte a unir-se a ele, no dia do Juízo Universal. Então o levará consigo para o Paraíso. É
por isso que te parece que tenho mãos, pés e cabeça; mas tu não podes segurar-me
porque sou puro espírito. Esta é só uma forma exterior pela qual me podes conhecer.
Compreendo – respondi – mas escuta. Ainda uma pergunta? meus jovens estão todos
no reto caminho da salvação? Diz-me alguma coisa para que possa bem dirigi-los.
Os filhos que a Divina Providência te confiou podem ser divididos em três categorias.
Vês estas três listas? Olha-as!
E me estendia uma.
Então Sávio me deu a segunda lista, cujo título era Vulnerati [feridos], ou seja, os que
haviam estado na desgraça de Deus mas, uma vez postos em pé, haviam curado suas
feridas arrependendo-se e confessando-se. Eram em maior número que os primeiros,
e haviam sido feridos no sendeiro da vida pelos inimigos que os flanqueavam durante
sua viagem. Li a lista e vi todos. Muitos iam curvados e desanimados.
Sávio tinha ainda na mão a terceira lista. Encabeçava-a a epígrafe: Lassati in via
iniquitatis [caídos na via da iniquidade]. Nela estavam escritos os nomes dos que
estavam na desgraça de Deus. Eu estava impaciente para conhecer o segredo, pelo
que estendi a mão. Mas Sávio me disse com vivacidade:
Não, espera um momento e ouve. Se abrires essa folha, dela sairá um tal mau cheiro
que nem tu nem eu poderemos suportar. Os Anjos têm que se retirar com asco e
horror, e o próprio Espírito Santo sente repugnância pela horrível hediondez do
pecado.
Mas como pode ser isso – observei – se Deus e os Anjos são impassíveis? Como podem
sentir o mau cheiro da matéria?
Quanto melhores e mais puras são as criaturas, tanto mais se acercam aos espíritos
celestiais; pelo contrário, quanto pior, mais desonesto e torpe é alguém, tanto mais se
afasta de Deus e dos Anjos, os quais, por sua vez, se afastam dele, que se converteu
num objeto de náusea e repugnância.
Toma-a – disse – abre-a e aproveita-te dela para o bem de teus jovens; mas não te
esqueças do ramalhete que te dei; que todos o tenham e conservem.
Abri então a lista; não vi nenhum nome, mas no mesmo instante me foram
apresentados de chofre todos os indivíduos nela escritos, como se na realidade eu
visse suas pessoas. Com quanta tristeza os contemplei a todos! A maior parte eu
conhecia e pertencem ao Oratório e aos outros colégios. Vi muitos que parecem bons,
que parecem até os melhores dentre os companheiros, e sem embargo não o são!
Mas, no ato de abrir a folha, espalhou-se em redor um mau cheiro tão insuportável,
que imediatamente me vi assaltado por terrível dor de cabeça e por tais ânsias de
vômito que me parecia estar morrendo. Obscureceu-se entretanto o ar, e nisso
desapareceu a visão, nada mais eu vendo do maravilhoso espetáculo. Ao mesmo
tempo ziguezagueou um raio e ressoou um trovão no espaço, tão forte e terrível que
acordei sobressaltado.
O mau odor penetrou nas paredes e infiltrou-se em minhas vestes de tal forma que,
muitos dias depois, ainda me parecia sentir a pestilência. De tal modo é fétido ante os
olhos de Deus até mesmo o nome do pecador! Agora mesmo, só de recordar aquele
mau odor me vêm calafrios, sinto-me sufocado e se me revolve o estômago.
Em Lanzo, onde me achava, comecei a interrogar de cá e de lá alguns rapazes, e pude
certificar-me de que o sonho não me havia enganado. É, pois, uma graça do Senhor,
que me deu a conhecer o estado de alma de cada um de vós; mas disso nada direi em
público. Muitas outras explicações ainda haveria que dar, mas reservo-as para uma
outra noite. Por ora, só me resta desejar-vos uma boa noite.
O fato de, no sonho, ter visto como maus certos jovens que eram geralmente
considerados os melhores da casa, fez com que Dom Bosco de início suspeitasse ter
sido apenas uma ilusão. Foi por isso que, prudente mente, começou chamando alguns
para uma conversa particular; queria certificar-se bem da natureza do sonho. Por esse
mesmo motivo, não se apressou a narrar logo o sonho, mas esperou uns 15 dias. Só
falou quando se sentiu bem seguro de que a coisa provinha mesmo do Alto.
O tempo ainda haveria de lhe trazer outras confirmações das profecias ouvidas.
A primeira delas, e a mais importante, dizia respeito ao número de seus filhos que
morreriam no ano de 1877, discriminados em dois grupos: seis mais dois. Ora, naquele
ano efetivamente os registros do Oratório assinalaram com a costumeira cruz, sinal de
falecimento, os nomes de seis meninos e dois clérigos.
A segunda profecia anunciava para a Sociedade Salesiana, em 1877, uma aurora tão
esplêndida que faria luz sobre os quatro Cantos do mundo. Com efeito, naquele ano
fizeram entrada, no panorama da Igreja, a associação dos Cooperadores Salesianos e o
Boletim Salesiano. Eram duas instituições que haveriam de levar até os confins da
Terra o conhecimento e a prática do espírito de Dom Bosco.
A terceira profecia dizia respeito ao final não distante da vida de Pio IX. Este
efetivamente deixou de viver catorze meses decorridos do sonho.
A última profecia foi amarga para Dom Bosco: "Oh! se soubesses por quantas
vicissitudes terás ainda que passar!" Realmente, nos onze anos e dois meses que ainda
durou sua vida, lutas, fadigas e sacrifícios não lhe deram trégua até o último momento.
A delegacia de polícia de Borgo Dora era, quando do sonho, regida por um senhor que
tinha diversos conhecidos no Oratório. Tendo ouvido narrar o sonho, ficou muito
impressionado com a previsão das oito mortes. Durante todo o ano de 1877 observou
com atenção se a previsão realmente se cumpria. Quando soube que no último dia do
ano se realizara o oitavo óbito, resolveu abandonar o mundo, fez-se salesiano e
trabalhou muito, na Itália e também na América. Foi o Padre Angelo Piccono, cujo
nome permanece ainda na memória de muitos.
A Justiça de Deus faz com que as almas do purgatório sofram para purificá-las,
santificá-las e torná-las dignas do esplendor da glória do Céu e da visão de Deus.
Sofrer é a condição das almas do purgatório. Desde que o pecado entrou no mundo, só
pela cruz Jesus nos salvou, e só pelo fogo do sofrimento (na luta contra o pecado e
carregando a cruz) chegamos ao céu. O purgatório foi chamado o oitavo sacramento
do fogo.
As almas do purgatório estão num estado de sofrimento que a nada se pode comparar
e nem se pode fazer uma ideia.
Após uma visão do purgatório, exclamava: “Que coisa terrível é o purgatório! Confesso
que nada posso dizer e nem conceber que se aproxime sequer da realidade. Vejo que
os sofrimentos que as almas do purgatório padecem são tão dolorosos como as penas
do inferno”.
Santo Tomás de Aquino que a mesma coisa que Santa Catarina de Gênova, diz também
que as penas do purgatório ultrapassam a qualquer sofrimento deste mundo.
São Gregório Magno reafirma a mesma verdade de outros santos: "as penas do
purgatório, apesar de serem passageiras, não são eternas, diz, são mais terríveis e
insuportáveis que todos os males desta vida".
A pena do dano
Não ver a Deus, cuja beleza infinita e bondade suprema elas compreendem agora de
modo tão claro e nítido leva a alma a sentir um martírio mais insuportável do que
todos os tormentos que possa padecer, mais do que o próprio fogo do purgatório.
Santo Tomás de Aquino tratando da pena do dano, confirmava esta verdade dizendo
ser mais insuportável, maior e mais terrível que a pena de sentido.
Aqui neste mundo, o apego às coisas da terra faz com que muitas vezes nos
esqueçamos de Deus e vivamos sem sentir e nem imaginar sequer o que seja estar
separado de Deus.
"Sentir um ímpeto de ir para Deus sem o poder satisfazer, isto, diz Santa Catarina de
Gênova, é o maior sofrimento que se possa imaginar, é propriamente o purgatório.
Este estado é um estado de morte, uma angústia inenarrável".
Sabeis o que é o suplício de quem está sufocado e não pode respirar? Que horror! A
alma está como sufocada, não pode respirar.
Tem-se visto neste mundo afeições tão profundas, almas que se amavam e não
puderam suportar a separação e morreram de dor. O que será então o purgatório?
O fogo do purgatório
Foi deste número a ilustre Santa Francisca, fundadora das Oblatas, que morreu em
Roma, a 9 de março de 1440. Deus a favoreceu com grandes luzes a respeito do estado
das almas na outra vida. Ela viu o Inferno e os seus horríveis tormentos; viu também o
interior do Purgatório e a ordem misteriosa — quase como uma “hierarquia de
expiações” — que reina nesta parte da Igreja de Jesus Cristo.
A serva de Deus declara que, depois de ter suportado com horror indescritível a visão
do Inferno, saiu daquele abismo e foi conduzida por seu guia celestial até as regiões do
Purgatório. Ali não reinava nem o terror nem a desordem, nem o desespero nem a
escuridão eterna; ali a esperança divina difundia sua luz, de modo que, como lhe
disseram, este lugar de purificação também era chamado de “estadia de esperança”.
Ela viu ali almas que sofriam cruelmente, mas anjos as visitavam e assistiam em seus
sofrimentos.
O Purgatório, ela dizia, é dividido em três partes distintas, que são como que as três
grandes províncias daquele reino de sofrimento. Elas estão situadas uma abaixo da
outra, e são ocupadas por almas de diferentes ordens, estando estas mais
profundamente submersas quanto mais contaminadas e distantes estiverem da hora
de sua libertação.
A região mais baixa é repleta de um fogo violento, mas não tão obscuro quanto o do
Inferno; trata-se de um vasto mar de fogo, do qual são expelidas chamas imensas.
Inumeráveis almas encontram-se mergulhadas nessas profundezas: são aquelas que se
tornaram culpadas de pecados mortais, devidamente confessados, mas não
suficientemente expiados em vida. A serva de Deus então aprendeu que, por cada
pecado mortal perdoado, resta à alma culpada passar por um sofrimento de sete anos
[2]. Esse prazo não pode evidentemente ser encarado como uma medida definitiva,
mas como uma pena média, já que pecados mortais diferem em enormidade. Ainda
que as almas estejam envoltas pelas mesmas chamas, seus sofrimentos não são os
mesmos: eles variam de acordo com o número e a natureza dos pecados cometidos.
Naquele mesmo momento, ela viu descer a alma de um sacerdote conhecido dela, mas
cujo nome ela não revela: o padre tinha a face coberta com um véu que escondia uma
mancha. Embora tenha levado uma vida edificante, este padre não havia sempre
observado com rigor a virtude da temperança, tendo procurado as satisfações da
mesa.
A santa foi conduzida então ao Purgatório intermediário, destinado para as almas que
haviam merecido um castigo menos rigoroso. Aí havia três distintos compartimentos:
um que lembrava um imenso calabouço de gelo, cujo frio era indescritivelmente
intenso; o segundo, ao contrário, era como um grande caldeirão de óleo e massa
fervente; o terceiro tinha a aparência de um lago de metal líquido semelhante a ouro
ou prata fundidos.
O alto Purgatório, que a santa não descreve, é a morada temporária das almas que
menos sofrem — com exceção da pena de perda [3] —, e estão muito próximas do
feliz momento de sua libertação.
O que segue, agora, é um registro de Santa Maria Madalena de Pazzi, uma carmelita
de Florença, tal como vai relatado em sua biografia, escrita pelo pe. Cepare. Sua
revelação dá uma figura mais completa do Purgatório, ao passo que a visão
precedente não faz senão traçar os seus contornos.
Algum tempo antes de sua morte, que aconteceu em 1607, a serva de Deus, Maria
Madalena de Pazzi, estando uma noite com várias outras religiosas no jardim do
convento, foi arrebatada em êxtase e viu o Purgatório aberto diante de si. Ao mesmo
tempo, como ela deu a conhecer depois, uma voz lhe fez o convite para visitar todas as
prisões da Justiça divina e contemplar como são verdadeiramente dignas de
compaixão todas as almas detidas neste lugar.
Neste momento, ouviu-se ela dizer: “Sim, eu irei”, consentindo em empreender esta
dolorosa jornada. De fato, ela caminhou por duas horas em torno do jardim, o qual era
muito grande, fazendo pausas de tempos em tempos. A cada vez que interrompia o
passo, ela contemplava atentamente os sofrimentos que lhe eram mostrados. Ela foi
vista, então, apertando com força as mãos e pedindo compaixão, seu rosto tornou-se
pálido e seu corpo curvou-se sob o peso do sofrimento, em presença do terrível
espetáculo com o qual ela se confrontava.
Ela desceu, no entanto, porque foi forçada a continuar seu caminho. Tendo dado
alguns passos, porém, ela parou aterrorizada e, suspirando, gritou: “Quê? Até
religiosos nesta morada sombria! Bom Deus, como eles são atormentados! Ah,
Senhor!” A santa não explica a natureza dos sofrimentos que tinha diante dos olhos,
mas o horror que ela manifestava ao contemplá-los fazia com que ela suspirasse a
cada passo que dava.
Daí ela passou a lugares menos obscuros. Eram as prisões das almas simples e de
crianças nas quais a ignorância e a falta de razão extenuaram muitas faltas. Seus
tormentos pareciam à santa muito mais suportáveis que os das outras pessoas. Nada
havia ali a não ser gelo e fogo. Ela notou que estas almas tinham consigo seus anjos da
guarda, os quais as fortificavam enormemente com sua presença; mas ela também via
demônios cujas formas pavorosas faziam aumentar seus sofrimentos.
Avançando um pouco mais o passo, ela viu almas ainda mais desafortunadas, e ouviu-
se ela gritar: “Ó, quão horrível é este lugar! Ele é cheio de demônios horrendos e
tormentos inacreditáveis! Quem, ó meu Senhor, são as vítimas dessas cruéis torturas?
Ai! Elas estão sendo perfuradas com espadas afiadas, elas estão sendo cortadas em
pedaços.” Foi-lhe revelado, então, que aquelas eram as almas cuja conduta havia sido
contaminada pela hipocrisia.
Avançando um pouco, ela viu uma grande multidão de almas que eram feridas, por
assim dizer, e esmagadas sob uma prensa; e ela entendeu que aquelas eram as almas
que se haviam apegado à impaciência e à desobediência durante suas vidas. Ao
contemplá-las, os olhares, os suspiros e toda a atitude da santa exprimiam compaixão
e terror.
Um momento depois sua agitação aumentou, e a santa soltou um grito terrível. Era o
cárcere dos mentirosos que agora se abria diante dela. Depois de o considerar
atentamente, ela gritou bem alto: “Os mentirosos são confinados em um lugar na
vizinhança do Inferno, e seus sofrimentos são excessivamente grandes. Chumbo
fundido é derramado dentro de suas bocas; eu os vejo queimar e, ao mesmo tempo,
tremer de frio.”
Ela foi então à prisão daquelas almas que haviam pecado por fraqueza, e ouviu-se ela
exclamar: “Ai! Eu havia pensado que os encontraria entre aqueles que haviam pecado
por ignorância, mas eu me enganei; vós queimais com um fogo mais intenso.”
Mais adiante, ela observou almas que se haviam apegado demais aos bens deste
mundo e haviam pecado por avareza. “Que cegueira”, ela disse, “ter buscado tão
ardentemente uma fortuna perecível! Aqueles a quem as riquezas não puderam saciar
o suficiente aqui são devorados com tormentos. Eles se fundem como metal na
fornalha ardente.”
Daí ela passou ao lugar onde as almas aprisionadas haviam se manchado com a
impureza. Ela as viu em um cárcere tão sujo e pestilento que a visão lhe deu náuseas, e
ela imediatamente deu as costas àquele espetáculo repugnante. Vendo os ambiciosos
e os orgulhosos, ela disse: “Vede aqueles que quiseram brilhar diante dos homens!
Agora estão condenados a viver nesta escuridão pavorosa.”
Foram-lhe mostradas, então, aquelas almas que haviam sido culpadas de ingratidão
para com Deus. Elas eram vítimas de tormentos indescritíveis e afogadas, por assim
dizer, em um lago de chumbo fundido, por haver feito secar, com sua ingratidão, a
fonte da piedade.
Após esta última estação, a santa deixou o jardim, implorando a Deus que nunca mais
a fizesse testemunha de um espetáculo tão desolador: ela sentia que não tinha forças
para suportá-lo.
Seu êxtase continuou, no entanto, e conversando com Jesus ela falou: “Dizei-me,
Senhor, qual era o vosso desígnio em descobrir-me aquelas terríveis prisões, das quais
eu sabia tão pouco e agora compreendo ainda menos? Ah, agora eu vejo: quisestes
dar-me o conhecimento de vossa infinita santidade e fazer-me detestar cada vez mais
a mínima mancha de pecado, tão abominável aos vossos olhos.”
A voz de Jesus se faz sentir no íntimo da minha alma com extrema clareza:
Quero que se ore por estas santas almas do Purgatório, porque o meu Coração divino
arde de amor por elas. Desejo vivamente a liberação delas, para uni-las totalmente a
mim.
E as penas por quanto terríveis possam ser, são sempre incomparavelmente leves em
comparação à ofensa infinita que constitui o pecado.
Vi com os olhos da alma um fogo que causava horror sem limite nem forma, que
queimava sem nunca variar, em um silencio absoluto... Vi neste fogo milhões de
pobres almas estreitas uma contra as outras, mas sem que pudessem se comunicar,
senão aquele mesmo fogo.
Este grande Purgatório é como o inferno, tirando-se a eternidade das penas e o ódio
perante Deus e das outras almas, e a desesperação.
Se não me engano, vi que elas neste estado eram mais purificadas que consoladas,
mais queimadas que iluminadas: é um estado terrível.
Vi, com os olhos da alma, um mar de fogo abrir-se na minha frente. Ele fazia rumor,
imensas chamas claríssimas se reproduzem e se desfazem incessantemente.
E aqui, milhões de almas estendem as mãos, submersas no fogo e nas chamas que se
levantam com um força impetuosa.
Frequentemente, depois do juízo particular, a alma vai no Grande Purgatório; ela fica
como tonta e sem forças, porque para ela é a descoberta do pecado, da sua gravidade,
dos seus efeitos, das suas implicações.
Neste período a alma é como se fosse paralisada: imóvel, ela contempla seja a justiça
de Deus que se exercita nela, seja a Misericórdia de Deus que valeu a faze-la salva.
Depois ela se coloca em movimento em direção a Deus, que a atrai, que a transporta
através do seu amor infinito; é aqui que ela passa no Médio Purgatório.
No Médio Purgatório, a alma se afronta com o Amor, mas contempla este Amor
infinito que a atrai. No Médio Purgatório, a alma sai de si mesma e descobre tudo
aquilo que significa a sua participação à Igreja.
Elas ficam mais ou menos um longo tempo, mas nunca como no Grande e Médio
Purgatório, porque a intensidade dos langores de amor da Entrada constitui uma
rápida e ulterior purificação.
Ontem à noite, meus caros filhos, havia-me deitado e, não conseguindo adormecer
logo, estava pensando na natureza e no modo de existir da alma; como ela era feita;
de que modo poderia encontrar-se e falar na outra vida, estando separada do corpo;
como faria para trasladar-se de um lugar a outro; como nos poderemos conhecer uns
aos outros depois de mortos, não sendo senão puros espíritos. E quanto mais pensava
nessas coisas, mais obscuro me parecia tal mistério.
Enquanto divagava por essas ideias e outras semelhantes, adormeci, e me pareceu que
estava na estrada que conduz a... (e nomeou a cidade) e que caminhava naquela
direção. Andei durante algum tempo, atravessei lugares para mim desconhecidos, até
que, em certo momento, ouvi que alguém chamava pelo nome. Era a voz de uma
pessoa parada na estrada.
- Entra! – replicou ele com autoridade. E, vendo que eu não me movia, disse:
- Faz como eu: levanta os braços com boa vontade e subirás. Vem comigo.
E assim dizendo, levantou ao alto as mãos, dirigindo-as para o céu. Eu também abri os
braços, e me senti num só instante alçado pelos ares como uma nuvenzinha. Eis que
chego aos umbrais do palácio. O guia me acompanhara até lá.
Mas uma coisa era mais admirável: para correr com a rapidez do vento, eu não movia
os pés; suspenso no ar com as pernas juntas, deslizava sem esforço como sobre um
cristal, mas sem tocar o pavimento.
- Oh! Senhor Bispo, vós por aqui? – perguntei, com grande alegria.
- Sim, morri.
- Se morrestes, como é que estais sentado aqui tão radiante e satisfeito? Se ainda
estais vivo, por caridade, esclarecei-me: na diocese de ... há já um outro Bispo, Dom ...,
em vosso lugar. Como é que se esclarece essa confusão?
- Como pode ser que eu, que estou vivo, esteja aqui convosco, Senhor Bispo, que já
morrestes?
- Senhor Bispo, por caridade, não me deixeis. Necessito saber muitas coisas. Dizei-me,
Senhor Bispo, salvastes vossa alma?
O Bispo, vendo-me tão ansioso, disse: - Não se aflija tanto e fique calmo, que não
fugirei. Pode falar.
Seu aspecto me dava realmente a certeza de que estava salvo; mas, não me
contentando com essa impressão, repliquei:
- Estou em lugar de salvação, mas ainda não vi a Deus e ainda necessito de que reze
por mim.
- E quanto tempo ainda devereis estar no Purgatório?
Tomei na mão o papel; observei atentamente, mas, nada vendo escrito, disse-lhe:
- Nada vejo!
- Já olhei com atenção e estou olhando novamente, mas nada posso ler porque nada
há escrito aqui.
- Vejo um papel com floreados vermelhos, azuis, verdes, cor de violeta, mas não
encontro letra alguma.
- São algarismos.
Examinei a folha com maior atenção, virei-a de todos os lados; mas nem de um lado
nem do outro nada consegui ler. Somente me pareceu ver, entre uma infinidade de
traços e desenhos, o número 2.
- O Sr., Dom Bosco, sabe por que é necessário ler ao contrário? – continuou o Bispo – É
porque os juízos do Senhor são completamente distintos dos do mundo. O que os
homens julgam sabedoria é tolice aos olhos de Deus.
Não tive coragem de insistir para que explicasse mais claramente, e disse:
- Eu me salvarei?
- Não sei.
- Não sei.
- O Sr. estudou Teologia e portanto pode saber, pode dar-se a exposta a si mesmo.
- O Senhor as dá a conhecer a quem quer; e quando quer que elas sejam comunicadas,
dá ordem e permissão para tal. A não ser assim, ninguém pode comunicá-lo aos que
ainda vivem.
- O Sr. sabe tanto quanto eu o que devem fazer. Tendes a Igreja, o Evangelho e as
outras Escrituras que tudo vos dizem. Diga-lhes que salvem suas almas, pois tudo o
mais de nada serve.
- Já sabemos que devemos salvar a alma. Mas, que devemos fazer para salvá-la? Dê-
me alguma recomendação especial para poder salvá-la, e que nos faça recordar de vós.
Eu o repetirei aos meus rapazes em vosso nome.
- São todas as coisas mundanas, que impedem de ver as coisas celestiais como de fato
são.
- Considerem o mundo exatamente como ele é: Mundus totus in maligno positus est
[mundo está todo posto no maligno]; e então salvarão a alma. Que não se deixem
enganar pelas aparências do mundo. Os jovens creem que os prazeres, as alegrias, as
amizades do mundo, podem fazê-los felizes e, portanto, não esperam se não o
momento de poder gozar desses prazeres. Mas recordem-se de que tudo é vaidade e
aflição de espírito, e tomem o hábito de ver as coisas do mundo não como elas
parecem, mas como realmente são.
- Assim como a virtude que mais brilha no paraíso é a pureza, assim a obscuridade e a
neblina são produzidas principalmente pelo pecado de imodéstia e impureza. É como
uma negra nuvem densíssima que tolda a visão e impede os jovens de verem o
precipício rumo ao qual caminham. Diga-lhes, portanto, que conservem zelosamente a
virtude da pureza, porque os que a possuem florebunt sicut lilium in civitate Dei
[florescerão como o lírio na cidade de Deus].
- E que se requer para conservar a pureza? Dizei-me, e o direi aos meus caros jovens
de vossa parte.
- E que mais?
- Nada mais?
Teria querido perguntar-lhe muitas coisas mais, porém não me vinham à lembrança.
Assim é que, mal o Bispo terminou de falar, impaciente para vos transmitir aqueles
avisos deixei apressadamente o salão e corri para o Oratório. Voava com a rapidez do
vento, e num instante encontrei-me na porta de casa. Mas, ao chegar, parei e pensei:
- Por que não permaneci mais tempo com o Senhor Bispo de... Teria conseguido ainda
melhores esclarecimentos. Fiz mal em deixar escapar uma ocasião tão boa. Teria
aprendido muitas coisas interessantes.
E imediatamente voltei atrás com a mesma rapidez com que tinha vindo, temeroso de
não mais encontrar o Senhor Bispo. Entrei novamente no palácio e no salão.
Mas, que mudança se havia operado em poucos instantes! O Bispo, pálido como cera,
estava estendido sobre um leito e parecia um cadáver; em seus olhos brilhavam ainda
suas últimas lágrimas; estava em agonia. Só pelo ligeiro movimento do peito,
produzido pelos últimos alentos, se deduzia que ainda estava vivo. Aproximei-me com
grande preocupação e perguntei:
- Para onde?
- Uma só palavra: tendes algum encargo que eu possa fazer-vos no mundo? Não
quereis dizer nada para vosso sucessor?
As coisas que me disse não vos interessam, queridos jovens, e por isso as omito.
O Bispo acrescentou:
- Nada mais?
- Diga a seus jovens que eu sempre os quis muito bem, e que enquanto vivi sempre
rezei por eles; ainda agora me recordo deles. Que rezem eles por mim.
O Bispo tinha tomado um aspecto ainda mais sofredor. Era um tormento vê-lo. Sofria
muitíssimo. Era uma agonia das mais angustiosas.
- Deixe-me! Deixe-me!
Parecia que expirava. Uma força invisível o arrastou dali para habitações mais
interiores, de modo que desapareceu.
Eu, com tanto sofrer, assustado e comovido, quis voltar atrás; mas, tendo batido com o
joelho num objeto qualquer daquelas salas, acordei e me encontrei de repente deitado
no meu quarto.
Como vedes, jovens, este é um sonho como todos os outros sonhos; e no que se refere
a vós, não tendes necessidade de explicações, porque todos o entendestes bem.
Neste sonho aprendi tantas coisas a respeito da alma e do Purgatório como antes
jamais havia chegado a compreender; e as vi tão claramente que jamais as esquecerei.
Parece que em dois quadros distintos o Venerável Dom Bosco quis expor o estado de
graça das almas do Purgatório e seus sofrimentos expiatórios.
Nenhum comentário fez acerca do estado daquele bom Bispo. Sabe-se, aliás, por
revelações digníssimas de fé e pelo testemunho dos Santos Padres, que pessoas de
santidade consumada, lírios de virginal pureza, carregados de méritos, fazedores de
milagres que nós hoje veneramos nos altares, por defeitos ligeiríssimos deveram
permanecer um tempo até prolongado no Purgatório. A Justiça Divina quer que, antes
de entrar no Céu, cada um pague até a última parcela de suas dívidas.
Nós que escrevemos isto, tendo perguntado algum tempo depois a Dom Bosco se
havia executado os encargos recebidos daquele Prelado, com a confiança com que nos
honrava, respondeu-nos:
Dom Bosco havia perguntado a certa altura quanto tempo ainda viveria, e o Bispo lhe
havia apresentado um papel cheio de rabiscos entrecruzados parecidos com o número
8, mas sem dar explicação alguma desse mistério.
1. Havia muito tempo que o Senhor me fazia muitas graças já referidas e outras ainda
maiores, quando um dia, estando em oração, achei-me subitamente, ao que me
parecia, metida corpo e alma no inferno. Entendi que o Senhor queria fazer-me ver o
lugar que os demônios aí me haviam preparado, e eu merecera por meus pecados.
Durou brevíssimo tempo. Contudo ainda que vivesse muitos anos, acho impossível
esquecê-lo.
2. O tormento interior é tal, que não há palavras para o definir, nem se entende como
é realmente. Na alma senti tal fogo, que não tenho capacidade para o descrever. No
corpo eram incomparáveis as dores. Tenho passado nesta vida dores gravíssimas. No
dizer dos médicos são as maiores que se podem suportar, como, por exemplo, quando
se encolheram todos os meus nervos, e fiquei tolhida. Já não falo de outras muitas
dores de diversos gêneros e até algumas causa das pelo demônio. Posso afirmar que
tudo foi nada em comparação do que ali experimentei.
O pior era saber que seria sem fim, sem jamais cessar.
Sim, repito, tudo mais pode chamar-se nada em relação ao agonizar da alma: é um
aperto, um afogamento, uma aflição tão intensa, e acompanhada de uma tristeza tão
desesperada e pungente, que não sei como posso explicar semelhante estado!
Compará-lo à sensação de que vos estão sempre a arrancar a alma, é pouco. Em tal
caso, seria como se alguém nos acabasse com a vida. Aqui é a própria alma que se
despedaça. O fato é que não sei como descrever aquele fogo interior e aquele
desespero que se sobrepõem a tão grandes tormentos. Eu não via quem os provocava,
mas sentia-me queimar e retalhar. Piores, repito, são aquele fogo e aquele desespero
que me consumiam interiormente.
4. Fiquei tão aterrorizada, e ainda agora o estou enquanto escrevo, apesar de terem
decorrido quase seis anos. De tanto temor, tenho a impressão de ficar gelada. Desde
então, ao que me recordo, cada vez que tenho sofrimentos ou dores, tudo o que se
pode passar na terra, me parece nada. Penso que em parte nos queixamos sem
motivo. Foi esta, repito, uma das maiores graças que o Senhor me fez. Valeu-me
imensamente, quer para perder o medo quanto às tribulações e contradições desta
vida, quer para me esforçar em padecê-las e a dar graças ao Senhor, por me ter
livrado, ao que agora me parece, de males tão perpétuos e terríveis.
Hoje, conduzida por um Anjo, fui levada às profundezas do Inferno um lugar de grande
castigo, e como é grande a sua extensão. Tipos de tormentos que vi:
- Primeiro tormento que constitui o Inferno é a perda de Deus;
- O segundo, o contínuo remorso de consciência;
- O terceiro, o de que esse destino já não mudará nunca;
- O quarto tormento, é o fogo que atravessa a alma, mas não a destrói; é um tormento
terrível, é um fogo puramente espiritual, aceso pela ira de Deus;
- O quinto é a contínua escuridão terrível cheiro sufocante e, embora haja escuridão,
os demônios e as almas condenadas veem-se mutuamente e veem todo o mal dos
outros e o seu.
- O sexto é a continua companhia do demônio;
- O sétimo tormento, o terrível desespero, ódio a Deus, maldições, blasfêmias.
São tormentos que todos os condenados sofrem juntos. mas não é ó fim dos
tormentos. Existem tormentos especiais para as almas, os tormentos dos sentidos.
Cada alma é atormentada com o que pecou, de maneira horrível e indescritível.
Existem terríveis prisões subterrâneas, abismos de castigo, onde um tormento se
distingue do outro. Eu teria morrido vendo esses terríveis tormentos, se não me
sustentasse a onipotência de Deus.
Que o pecador saiba que será atormentado com o sentido com que pecou, por toda a
eternidade.
Estou escrevendo por ordem de Deus, para que nenhuma alma se escuse dizendo que
não há inferno ou que ninguém esteve lá e não sabe como é.
Eu, Irmã Faustina, por ordem de Deus, estive nos abismos para falar às almas e
testemunhar que o Inferno existe. Sobre isso não posso falar agora, tenho ordem de
Deus para deixar isso por escrito. Os demônios tinham grande ódio contra mim, mas,
por ordem de Deus tinham que me obedecer. O que eu escrevi dá apenas uma pálida
imagem das coisas que vi.; Percebi, no entanto, uma coisa: o maior número das almas
que lá estão é justamente daqueles que não acreditavam que o Inferno existisse.
Quando voltei a mim, não podia me refazer do terror de ver como as almas, sofrem
terrivelmente ali e, por isso, rezo com mais fervor ainda pela conversão dos pecadores;
incessantemente, peço a misericórdia de Deus para eles. "O meu Jesus, prefiro
agonizar até o fim do mundo nos maiores suplícios a ter que vos ofender com o menor
pecado que seja."
Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fogo que parecia estar debaixo da
terra. Mergulhados nesse fogo, os demônios e as almas, como se fossem brasas
transparentes e negras ou bronze com forma humana, que flutuavam no incêndio
levadas pelas chamas; que delas mesmas saiam, juntamente com nuvens de fumo,
caindo para todos os lados, semelhante ao cair das fagulhas em grandes incêndios,
sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor , desespero que horrorizava e
fazia estremecer de pavor. Os demônios; distinguiam-se por formas horríveis e
asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes como negro
carvão em brasas.
Em seguida, levantamos os olhos para Nossa Senhora a que nos disse com bondade e
tristeza Vistes o inferno para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar,
Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu imaculado coração Imaculado
Coração. Se fizerem; salvar-se-ão muitas almas e terão paz: A guerra vai acabar mas, se
não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior. Quando
virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida que é o grande sinal que Deus
nos dá de que vai punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de
perseguições a Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir ,virei pedir a consagração da
Rússia a Meu Imaculado Coração a comunhão reparadora aos primeiros sábados
1. O inferno é um lugar destinado pela justiça divina para punir com suplícios eternos
os que morrem em pecado mortal.
A primeira pena que os condenados sofrem no inferno é a pena dos sentidos, que são
atormentados por um fogo que queima horrivelmente, sem nunca diminuir de
intensidade. Fogo nos olhos, fogo na boca, fogo em todas as partes.
Os olhos: Sofrem pela fumaça e pelas trevas e são aterrados pela vista dos demônios e
dos outros condenados.
A boca: É atormentada por sede devoradora e fome canina: "Et Famem patiéntur ut
canes". O mau rico no meio daqueles tormentos, ergueu o olhar ao Céu e pediu, como
grande graça, uma pequena gota de água para mitigar a secura de sua língua e até essa
gota de água lhe foi negada
Por isso, aqueles infelizes, atormentados pelo fogo, choram, gritam e se desesperam.
Oh! inferno, inferno ! Como são infelizes os que caem nos teus abismos! - E tu que
dizes, meu filho? Se agora não podes conservar um dedo sobre a pequena chama de
uma vela, se não podes aguentar nem uma fagulha de fogo na mão sem gritar, como
poderás aguentar-te então entre aquelas chamas por toda a eternidade?
Considera além disso, meu filho, o remorso que experimenta a consciência dos
condenados. Eles padecerão um inferno na memória, na inteligência, na vontade.
VONTADE: A vontade nada terá do que deseja, e ao contrário padecerá todos os males
3. Meu Filho, Tu que agora não te importas de perder o teu Deus e o paraíso
conheceras tua cegueira quando vires; tantos companheiros teus, mais ignorantes e
mais pobres do que tu triunfarem e gozarem no reino dos Céus, ao passo que tu serás
arrojado para longe daquela pátria feliz, do gozo do mesmo Deus, da companhia da
Santíssima Virgem e dos Santos. Eia pois, faz penitencia, não esperes para quando não
houver mais tempo: entrega-te a Deus.
Quem sabe se não é este o último chamado, e se não correspondes, quem sabe se
Deus não te abandona e não te deixa cair naqueles eternos suplícios! Oh! Meus Jesus,
livrai-me do inferno: A Poenis inférni libera me, Domine.
Dom Bosco teve um sonho no qual era conduzido por um Anjo ao inferno. Assustado
viu a condenação de vários alunos do seu oratório. Neste sonho existe uma verdadeira
catequese sobre a condenação de uma alma. Vale a pena dar uma lida.