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Introdução

Neste presente trabalho, que compõe a disciplina de EJA (Educação de Jovens e


Adultos), traz a problematização de compreender como ocorre a educação no
sistema prisional. Busca expor o contexto histórico da EJA através da LDB (Lei de
Diretrizes e Bases) – 9.394 de 1996. Concomitante aos objetivos tratados nesta
pesquisa, desvelamos o cotidiano do docente e do discente em sala de aula,
levando em conta a trajetória trazida pelo sujeito privado de liberdade e também
identificamos as principais dificuldades encontradas por professores e alunos na
EJA dentro do sistema prisional.

A educação básica é um direito do povo brasileiro assegurado em sua constituição


federal de 1988, reafirmado na LDB, tal lei versa sobre a educação em sua faixa
etária regular e para aqueles que não tiveram acesso a educação ou a permanência
em idade estipulada, conferindo a EJA um status de modalidade de ensino. A oferta
da educação deve contemplar a todos inclusive aqueles que estão privados de sua
liberdade.

Há uma realidade de exclusão social e abandono da escola no histórico de grande


parte dos sujeitos retidos no sistema penitenciário, seus atores apresentam
trajetórias marcadas por baixa ou nenhuma escolaridade, retenções e evasões,
reflexos de um processo educacional fragmentado, revelando assim a importância
dessa pesquisa com base no contexto histórico e social daqueles que mais sofrem
no processo de ressocialização.

A escolha deste tema resultou também forte influência e apropriação no


conhecimento didático da educação de jovens e adultos que estão em cumprimento
de pena. Torna-se importante por levar em consideração a falta de oportunidade
tanto no meio educacional quanto na vertente profissional oriundo desses jovens e
adultos. Relata-se vários fatores aos quais fazem parte da exclusão e do
esvaziamento desse público carcerário na perspectiva escolar.
A partir desse engajamento, torna-se evidente a importância de questões
relacionadas à estrutura física dos presídios, levando em conta a superlotação, que
afeta diretamente na qualidade da metodologia e do aproveitamento em sala de aula
referente à aprendizagem dos apenados; qualificação de educadores, que estejam
preparados para a realidade prisional e que saibam lidar com as adversidades do
dia a dia, incluindo o plano didático e preservando sua saúde emocional.

Notoriamente, a educação carcerária é, acima de tudo, uma ação política que


desenvolve suas vertentes de forma contraditória com base em suas diretrizes e a
realidade. De acordo com um dos patronos da educação, Paulo Freire diz que
educar é uma ação política, uma vez que se forma o sujeito, o trabalhador e o
cidadão para uma dada sociedade.

Com isso, desenvolveu-se este artigo considerando os pressupostos aqui


mencionados, desvelando o cotidiano das práticas pedagógicas do docente e
levando em conta a trajetória do discente e a importância da EJA no sistema
penitenciário.

2.0 Referencial Teórico

2.1 Breve Histórico da EJA

Durante o período colonial até a independência do Brasil em 1822, a educação


ficava a cargo dos Jesuítas e seu objetivo era evangelização e a preparação para o
mercado de trabalho. Período imperial "1882-1 1889" a partir do decreto 7031 de 6
de abril de 1878 foram criados cursos noturnos para adultos analfabetos. Neste
período a porcentagem da população analfabeta era de 82,3%, considerando os
escravos. Em 1834 foi criado o ato adicional que estabelecia ao governo a
responsabilidade pela educação superior, secundária e elementar no município da
corte e nas províncias que deveriam atender a população no que dizia respeito a
educação.
Em 1881 é criado a lei Saraiva que proíbe o voto dos analfabetos. Quando ocorre a
proclamação da república em 1889, a educação de jovens e adultos passa a ser
compreendida como um fator importante de mudança social. A década de 30 do
século passado foi marcado pela criação do ministério da educação e da saúde e
pela fundação da cruzada nacional de educação para combater o analfabetismo.

O ensino para todos é estabelecido a partir da constituição de 1934, sendo nesta


constituição que é revelado pela primeira vez a necessidade da oferta de educação
básica para jovens e adultos. Neste período marcado por transformações sociais é
preciso acentuar que com o início do processo de industrialização ocasionou grande
concentração de pessoas no centros urbanos aumentando a necessidade de oferta
do ensino gratuito. As discussões e as lutas deste período ganham destaque na
sociedade.

A partir das ideias de Paulo Freire na década de 50 e 60 foi aprovado o plano


nacional de alfabetização, com o objetivo de disseminar a alfabetização ao longo do
Brasil a sua proposta de educação significativa comprometida com a formação da
consciência crítica eram contrárias às ideias defendidas durante a ditadura militar.

Três anos após o golpe de 1964, foi criado o MOBRAL (Movimento Brasileiro de
Alfabetização) com o objetivo de alfabetizar os sujeitos enquanto condicionaram
para manutenção do status. Mobral teve seu fim no ano de 1985, devido ao seu
baixo rendimento.

A Constituição Federal do Brasil de 1988 tem grande valia para a afirmação da

educação como direito, em seu artigo 205 estabelece

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida


e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
BRASIL, 1988, p. 112.

Em seu art. 206, dita alguns princípios base para a educação, entre eles a igualdade

de condições de acesso e permanência, liberdade de aprender e ensinar,


o pluralismo de ideias e práticas pedagógicas. Estabelece os deveres de educação

a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

Já em seu art. 214 que diz respeito ao plano nacional de educação em seus
diversos níveis orienta a ações que conduzam à
I - erradicação do analfabetismo; II - universalização do atendimento
escolar; III - melhoria da qualidade do ensino; IV - formação para o trabalho;
V - promoção humanística, científica e tecnológica do País. BRASIL, 1988,
p.114

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n° 9.394 de 20 de dezembro de


1996, que estabelece as diretrizes da educação nacional, estabelece o direito à
educação como “direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de
cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra
legalmente constituída” (BRASIL, 1996, p. 2), em seu artigo primeiro abrange o
entendimento de educação
Art. 1º. A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem
na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de
ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade
civil e nas manifestações culturais.
[...]
§2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática
social. BRASIL, 1988, p.1

Em seu art. 3° define alguns princípios educativos já previstos anteriormente pela


Constituição de 1988 e reafirmados, alguns deles são como o pluralismo de ideias e
concepções pedagógicas, respeito à liberdade, tolerância, qualidade, valorização de
experiências extra escolares, vinculação entre educação escolar e o trabalho e as
práticas sociais.

Em seu artigo quarto, que versa sobre os deveres do Estado com relação à
garantia da educação pública, oferta “educação escolar regular para jovens e
adultos, com características e modalidades adequadas às necessidades e
disponibilidades” (BRASIL, 1996, p. 2), com condições de acesso e permanência.
Para garantir a obrigatoriedade do ensino, tal lei em seu art. Quinto §5º
responsabiliza o Poder Público a criar “formas alternativas de acesso aos diferentes
níveis de ensino, independentemente da escolarização anterior” (BRASIL, 1996, p.
3).
A seção cinco desta lei consagra a educação de jovens e adultos destinada

àqueles que não tiveram acesso/permanência em sua faixa etária regular

§1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que
não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais
apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses,
condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. BR

2.2 Direito à educação

Para compreender o direito à educação no sistema prisional, é importante


considerar que não se trata de um privilégio, benefício ou recompensa por bons
atos, educação é direito de todos previsto na lei. A punição é dada temporariamente
para preparar o sujeito para o convívio e não significa ter seus direitos perdidos.

A necessidade de assegurar a educação como direito surgiu com a modernidade da


economia e a desigualdade social, com um cenário de grandes revoluções. Essa
definição foi primordial para o nascimento da lei de 1988 da Constituição Federal,
Seção I, Art. 205 que diz: ‘’A educação é direito de todos e dever do Estado e da
família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho. ’’

A educação básica tornou-se essencial para atender diversos grupos sociais, como
os afrodescendentes, os povos marginalizados, portadores de necessidades
especiais, e com isso esses sujeitos se tornam parte de uma desconstrução de
padrões, preconceitos e discriminações.

Já com os jovens e adultos do sistema prisional, precisa-se de uma preocupação


com o modelo pedagógico a ser seguido, para que eles não se percam em sua
trajetória e tornem-se cidadãos desacreditados.

Quando se trata de educação, percebe-se um histórico vasto que surgiu com a


necessidade de alfabetizar o sujeito para que ele exerça sua cidadania e preparação
para o trabalho. Considerando o pensamento de um dos grandes autores da
modernidade, Paulo Freire (1921-1997): ‘’Se a educação sozinha não transforma a
sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda’’. Ou seja, no âmbito prisional é
indispensável que o apenado tenha acesso a educação para sua ressocialização,
uma vez que o ensino promove oportunidades mais abrangentes no
mercado de trabalho, em prática o que se dá por ressocialização sendo ela
reintegrar uma pessoa novamente ao convívio social por meio de políticas
humanísticas.

Para entender melhor este assunto, Maeyer (2006, p.45, apud Ireland, 2011, p. 28)
explica que: “O preso terá que desaprender tudo que seria necessário adquirir para,
ao sair da prisão, ser alguém dinâmico, organizado, estruturado, capaz de adminis-
trar as relações humanas, sociais e afetivas”. Sobrevivência na instituição peniten-
ciária exige obediência e capacidade de “enquadrar-se” e de adaptar-se às regras.
No médio prazo, a pessoa reclusa adota atitudes que lhe permitem deixar o presídio
o mais rapidamente possível – mas não são aprendizagens que o preparam para
retornar à sociedade’’.

No âmbito do direito à educação de jovens e adultos, Paulo Freire se faz presente


por expor a realidade do indivíduo enquanto educando pois muitas vezes ele próprio
não tem consciência de seu papel na sociedade fazendo com que desconheça
muitos de seus direitos assegurados pelas leis que o rege, impedindo-o de que
construa seu próprio conhecimento.

[...] uma pessoa com autoestima abalada pode se convencer de que não
merece uma educação de bom nível, trabalhos decentes, moradias idem,
além de um perverso e difuso sentimento de inferioridade, que se
acompanhado por sentimentos de culpa, pode levá-la a uma situação de
desamparo e sofrimento. (RODRIGUES, 1999, p. 157).

A partir disso torna-se evidente a importância da LDB (Lei de Diretrizes e Bases)


para compreender o direito à educação no Brasil. Como se trata de um direito
jurídico, a LDB serve para buscar e garanti-lo. Estipula-se que a educação abrange
os processos formativos que se desenvolvem nos movimentos sociais, como a EJA.

Tendo como base a Constituição Federal de 1988, a educação de Jovens e adultos


para os sujeitos privados de liberdade, não se difere dos demais, sendo também
direito garantido e reafirmado pela LEP (Lei de Execução Penal) n°7210 de 11 de
julho de 1984/ Art. 3: ‘’Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os
direitos não atingidos pela sentença ou lei’’. Sendo assim, nota-se a importância que
o sujeito privado de liberdade conheça de seu direito para usufruir deles.

Pontua-se que a lei Federal n°12.433, do dia 30 de junho de 2011, diz que a cada 12
horas de estudo obtêm-se a remissão de um dia de pena, o que atrai o detento a
considerar a educação.

Em meios a LDB, é importante considerar a estrutura física onde os apenados


utilizam para sua aprendizagem, como diz: § 1°, Art. 3°- ‘’estabelece os princípios da
educação: Capítulo IX – Garantia ao padrão de qualidade. Com isso, torna-se
pertinente boas estruturas para possibilitar melhor rendimento pedagógico. Na maior
parte dos casos, a superlotação e deficiência de recursos humanos e materiais são
uns dos maiores problemas enfrentados no Sistema Carcerário.

Considerando as práticas educacionais, o planejamento do docente deve levar em


conta as limitações à serem enfrentadas no cotidiano dos detentos por questões
diversas, como materiais que não podem ser utilizados (tesouras, apontadores,
etc.), rotatividade dos educandos, por motivos de transferência, desistência,
deslocamento do discente para a sala de aula, entre outros.

A partir desses levantamentos, percebemos que a pesquisa dentro de sala de aula


no sistema prisional acontece de modo particular, tendo em vista que o professor
deve ter um cuidado especial com o material bibliográfico oferecido. Mas também
deve trazer fontes como revistas, jornais, livros, entre outros que são inspecionados
pela equipe de segurança e devem ser autorizados para uso em sala de aula.

A EJA no âmbito educacional não abrange grande parte de sua população prisional,
pois não há vagas suficientes, há um déficit de profissionais capacitados para
exercer essa função, dificultando o uso de metodologias pedagógicas, além da
limitação de recursos tecnológicos.

Desenvolver a formação escolar de presos, visando a sua ressocialização


não é tarefa fácil. Há uma série de fatores que acabam por interferir nesse
processo de escolarização, desvelando os enfrentamentos reais que todos
os envolvidos realizam no dia a dia [...] pois, os alunos presos são
revistados quando saem do pátio para a escola e quando retornam às
celas. ” (CARVALHEIRO, 1995, p. 06)

Em meio a este contexto, cria-se um diálogo sobre o papel do docente no sistema


prisional. O professor enfrenta um desafio maior do que em qualquer outro espaço
de ensino. É imprescindível que rompa barreiras do preconceito, das crenças
limitantes que os impedem de considerar seus alunos não apenas como detentos,
delinquentes e sim como educandos que necessitam da aprendizagem significativa
para construção de uma nova perspectiva de vida. ‘’Como professor devo saber que
sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não
aprendo nem ensino. ” (FREIRE, 2005, p. 83).

A definição de um profissional preparado para atuar na EJA do sistema


penitenciário, requer um conhecimento profundo da LEP (Lei de Execução Penal),
abarcar o funcionamento do cotidiano interno, como regras, rotinas, subjetividade do
ambiente. Para isso, deve-se haver o incentivo das políticas públicas de formação
continuada para capacitar e especializar estes profissionais para a educação de
jovens e adultos no sistema penitenciário. Indispensavelmente que esses
profissionais tenham salários adequados à suas práticas. Além disso, vale citar a
indisponibilidade de veículos midiáticos e inviabilidade de contato com o mundo
externo o que dificulta seu processo de aprendizagem a partir das vivências
necessárias para o saber.

Introduzindo o contexto da problemática de estudo, é importante pontuar a


identidade da pessoa privada de liberdade pois apesar de perder sua ligação com o
mundo exterior. O apenado ainda possui sua especificidade que deve ser respeitada
independente do seu encarceramento.

Ao entrar na prisão o sentenciado é desvinculado de todos os objetos


pessoais, desde a roupa até os documentos. Aqueles sinais “clássicos” de
pertencimento à sociedade são subtraídos: ao despir sua roupa e vestir o
uniforme da instituição, o indivíduo começa a perder suas identificações
anteriores para sujeitar-se aos parâmetros ditados pelas regras
institucionais. (ONOFRE, 2007, p. 38-39)

Os documentos oficiais entram em contradição com a realidade quando afirmam


que a prisão serve como ressocialização e forma de reabilitação, pois espera-se que
o sujeito saia apto para convívio em sociedade, porém o sistema carcerário tem
como prioridade a segurança e a disciplina ao invés da educação e outras políticas
habilitadoras. De modo que, a segurança cria um afastamento entre o sujeito e a
sociedade, a disciplina tira a autonomia do mesmo. Por consequência disso, o
sujeito não consegue cumprir as expectativas sociais quanto a sua reintegração.

Em termos estatísticos, Ministra Cármen Lúcia apresentou no dia 7 de agosto de


2018 dados parciais que apontam que atualmente no Brasil existem 602.217 presos
dos quais 95% são homens e 5% mulheres, tornando o Brasil a terceira maior
população carcerária.

É evidente que as estatísticas comprovam que há uma demanda de recursos


maiores perante a população carcerária no Brasil. Com isso, as dificuldades
abordadas neste artigo devem ser consideradas pelas políticas públicas que
garantem a ressocialização do detento. Principalmente quando se trata de educação
em um espaço limitado onde há um uso restrito de metodologias, é importante o
estudo aprofundado e minucioso sobre a realidade desse sujeito e o olhar do
apenado para a importância da educação em sua trajetória enquanto cidadão
privado de liberdade.
Referências

COELHO, Ledir Marques Cardoso; HANOFF, Mirozete Iolanda Volpato. A EJA em


uma penitenciária da região sul de Santa Catarina: reflexão acerca da ação
pedagógica do professor. Saberes Pedagógicos: Revista do curso de graduação de
pedagogia - UNESC, Criciúma, v. 3, n. 1, p.157-178, jan. 2019. Disponível em:
<http://unesduc.unesco.org/imagens/0013/001303/130300por.pdf>. Acesso em: 20
nov. 2019.

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