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Joinville
2016/2
BRUNO ALEXANDRO TOMCZYK
Joinville
2016/2
BRUNO ALEXANDRO TOMCZYK
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Prof. (orientador)
____________________________________
Prof. (membro da banca)
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(membro da banca)
RESUMO
The present study took care of the analysis of the application of the constitutional
principle of non-cumulative taxation in the Contribution to the Social Integration
Program (PIS) and Contribution for Social Security Financing (COFINS), due to a
possible illegality and unconstitutionality of the regulations issued by the Federal
Revenue of Brazil (RFB) that deal with the subject.
The PIS and COFINS’s legislations guarantee the right to non-cumulativity on the
inputs used in the production of goods or in the services provision. However, such
normative instructions would be reducing the understanding of the term input.
The methodology of work was based on the deductive, explanatory, qualitative and
documentary research.
It was verified through the research that SRF Normative Instructions 247/2002 and
404/2004, issued by the RFB, continue to be an obstacle to the full application of PIS
and COFINS’s non-cumulative, especially on the concept of inputs, used in the
calculation of the credit. Both institutes of the RFB use the concept of inputs similar to
the Tax on Industrialized Products (IPI), without any constitutional or legal support.
In turn, the Fiscal Resources Administrative Council (CARF) has considered that the
non-cumulativeness in PIS and COFINS has its own character, and the tax authorities
cannot use the concept of inputs of other taxes, such as IPI and Income Tax (IRPJ).
The doctrine follows a dynamics close to the CARF, but more wide, considering that
they are inputs those goods that are inherent to the productive activity and that also
have high relevance for the company.
As for the judiciary, the Federal Regional Court of the 4th Region (TRF4) has been
following the RFB's understanding, working on the IPI system, while the Superior Court
of Justice (STJ) presented a concept closer to that of doctrine, considering as input
that asset that withdrawn, or is not possible the production or provision of the service,
or the quality of the good or service substantially diminishes.
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8
2 A CONTRIBUIÇÃO SOCIAL AO PIS A COFINS .................................................. 10
2.1 O CONCEITO DE TRIBUTO E AS TEORIAS TRIPARTIDA E PENTAPARTIDA11
2.1.1 As contribuições ............................................................................................ 14
2.2 AS CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS DESTINADAS AO CUSTEIO DA SEGURIDADE
SOCIAL ..................................................................................................................... 18
2.2.1 A Contribuição Social ao Programa de Integração Social (PIS) e a
Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) ................ 21
3 O PRINCÍPIO DA NÃO-CUMULATIVIDADE ......................................................... 30
3.1 A TRIBUTAÇÃO CUMULATIVA .......................................................................... 31
3.2 A TRIBUTAÇÃO NÃO CUMULATIVA ................................................................. 33
3.2.1 A compensação no exercício da não-cumulatividade ................................ 37
3.2.2. A não-cumulatividade aplicada aos tributos .............................................. 40
3.2.2.1 A não-cumulatividade no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) . 40
3.2.2.2 A não-cumulatividade no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e sobre
Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação
(ICMS) .............................................................................................................. 43
3.2.2.3 A não-cumulatividade na Contribuição Social ao PIS e na COFINS ....... 45
4 O CONCEITO DE INSUMO ................................................................................... 50
4.1 O TERMO INSUMO E A VISÃO CONSUMERISTA ............................................ 50
4.2 O INSUMO NO IPI .............................................................................................. 56
4.3 O INSUMO NO IMPOSTO DE RENDA DA PESSOA JURÍDICA (IRPJ) ............. 60
4.4 O INSUMO NA CONTRIBUIÇÃO SOCIAL AO PIS E NA COFINS ..................... 65
4.4.1 A definição legal de insumo .......................................................................... 65
4.4.2 A definição de insumo para a Receita Federal do Brasil (RFB) e a análise
da inconstitucionalidade e ilegalidade da IN SRF247/2002 e IN SRF 404/2004 .. 66
4.4.3 O insumo conforme a doutrina .............................................................. 70
4.4.4 O insumo nos precedentes do Conselho Administrativo de Recursos
Fiscais (CARF) ................................................................................................ 72
4.4.5 A definição de insumo nos precedentes do Poder Judiciário ................... 74
4.4.5.1 O insumo nos precedentes do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4)
......................................................................................................................................
4.4.5.1 O insumo nos precedentes do Superior Tribunal de Justiça (STJ) ......... 75
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 78
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 81
8
1 INTRODUÇÃO
Desta forma, o Direito acaba por exigir uma grande atenção dos estudiosos
quanto ao significado das palavras, afinal ele é basicamente depreendido através
delas. Além disso, para evitar antinomias ou usos indevidos das palavras, contrários
ao significado aplicado por norma de superioridade hierárquica, como, por exemplo, a
Constituição, a atenção aos conceitos é extremamente importante e necessária
(MACHADO, 2012).
No entanto, o conceito pode ser obscuro, contraditório ou possuir diversos
significados. Machado (2012, p. 23) ainda preleciona que, “[...] prefere-se o casuísmo,
o Direito por regras, de sorte que é cada vez maior o número de divergências em sua
interpretação e aplicação. E mesmo quando se chega a um consenso quanto a certos
conceitos não se pode dizer que se chegou à verdade”. Neste sentido, completa Celso
Antônio Bandeira de Mello (2011 apud MACHADO, 2012, p.23):
Também não pode existir confusão entre os termos conceito e definição, que
são vistos como diferentes para o já citado Machado (2012, p. 25):
11
Portanto, o conceito possui um âmbito muito mais amplo, visto que não é uma
simples comparação entre coisas, mas sim uma percepção geral sobre um objeto.
Além disso, um conceito entendido como pacificado pela doutrina ou jurisprudência
nem sempre será o totalmente correto, mas sim aquele que melhor se adequa a
interpretação da maioria. Isso posto, pode-se seguir com o desenvolvimento sobre o
tributo e suas teorias.
Nesse sentido, Nogueira (1995, apud SABBAG, 2015, p. 407) traz um conceito
mais afinado para o tributo:
2.1.1 As contribuições
Assim, o tributo e suas espécies são necessários para que o interesse público
seja buscado, dado que o Estado pouco produz de receita originariamente. Melo
(2003, p. 12) continua ao informar que, “as atividades desenvolvidas pelo Poder
Público sempre acarretam ônus que, normalmente, são suportados pelos particulares,
concorrendo estes com a participação de seus bens, que ingressarão no patrimônio
público”.
Isso posto, fica notória a necessidade do ente público da renda advinda do
tributo, pois sem a mesma, não conseguiria atingir seus objetivos como responsável
na busca do interesse público.
Contudo, apesar da indispensabilidade do recolhimento do tributo pelo Estado,
em face de seus contribuintes, o CTN em seu art. 4º tratou de determinar a
independência do tributo de seu fato gerador, não podendo vincular a receita criada a
um destino específico:
No mesmo sentido do art. 4º, do CTN, vem o art. 167, da CF/88, vedando a
vinculação da receita de uma espécie tributária, o imposto:
O critério do art. 4º do CTN pode ser adequado para os tributos, mas para as
contribuições é ao contrário. Para as contribuições o destino da arrecadação
é um elemento essencial à definição da figura. Se a razão de ser da
contribuição é pertencer a um determinado grupo, e pagar em solidariedade
ao grupo, o destino da arrecadação é elemento essencial. Se não há
arrecadação vinculada ao grupo, aquilo não é contribuição. É outra coisa.
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma
direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos
orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e
das seguintes contribuições sociais [...]. (grifo nosso)
Pois bem, em seu art. 149, a Constituição não apontou a regra-matriz destas
“contribuições”; antes, contentou-se em indicar as finalidades que devem
atingir; a saber: a) a intervenção no domínio econômico; b) o interesse de
categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação
nas respectivas áreas; e c) o custeio da seguridade social (CARRAZZA, 2004,
p. 535).
Sendo assim, a Seguridade Social busca minimizar ou, até mesmo, suprimir os
impactos causados por uma possível casualidade que venha a ocorrer com seus
segurados. Além disso, a Seguridade Social é analisada como um gênero de
atribuições do Estado, na busca pelo fundamento constitucional da cidadania e
dignidade da pessoa humana. Nesse sentido, entende Martins (2012, p. 23):
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma
direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos
orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e
das seguintes contribuições sociais:
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da
lei, incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados,
a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo
empregatício;
b) a receita ou o faturamento;
c) o lucro;
II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não
incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime
geral de previdência social de que trata o art. 201;
III - sobre a receita de concursos de prognósticos.
IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele
equiparar.
[...]
§ 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador
artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades
em regime de economia familiar, sem empregados permanentes, contribuirão
para a seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o
resultado da comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos
termos da lei. (grifo nosso)
Através do art. 195, permite-se à União que crie contribuições utilizando-se das
bases atribuídas nos incisos e alíneas. Ou seja, do empregador, da empresa e
20
equiparados sobre (i) a folha de salários e demais rendimentos pagos à pessoa física;
(ii) a receita ou o faturamento auferido por pessoa jurídica; (iii) o lucro; (iv) do
trabalhador e demais segurados da previdência social; (v) sobre a receita de
concursos de prognósticos (nos termos do art. 212 do Decreto nº 3.048/1999, seria
todo e qualquer concurso de sorteio de números ou quaisquer outros símbolos,
loterias e apostas de qualquer natureza); e, por fim, (vi) do importador de bens ou
serviços do exterior.
Isto é, de acordo com Martins (2012, p. 121), “o custeio da seguridade social é
feito diretamente por contribuições da empresa e dos trabalhadores. O custeio indireto
é realizado por meio de toda a sociedade, por intermédio de impostos”. O citado
entendimento pode ser verificado na exegese do art. 195, da Constituição Federa.
Outros doutrinadores definem a sociedade como financiadora direta e indireta da
Seguridade Social, visto que o custeio indireto vem do orçamento dos entes
federativos, como Tsutiya (2013, p. 97):
Deste modo, com a recepção à CF/88 do PIS, o mesmo continuou a ser exigido
na forma de sua lei complementar nº 7/1970, logo, sobre a dedução do imposto de
renda e sobre o faturamento das empresas. No entanto, o PIS embora tenha sido
recepcionado pela nova ordem constitucional, teve sua aplicação modificada.
Atualmente, referidas contribuições financiam o programa do seguro-desemprego e o
abono do PIS, como determina o art. 239 da CF/88.
Na outra ponta, antes da COFINS, existia a cobrança do Finsocial, destinado
ao custeio da Seguridade Social, segundo Martins (2012, p. 209):
Porém, como a própria CF/88 deixa claro, a vedação é somente aos impostos,
não atingindo as contribuições. Houve discussão referente às similaridades das bases
de cálculo, porém o Supremo Tribunal Federal entendeu pela constitucionalidade das
exações (MARTINS, 2012).
Atualmente, existem as referidas contribuições sob a ótica da Contribuição ao
PIS e a COFINS: (i) PIS/COFINS cumulativo, regulada pela lei nº 9.718/1998; (ii)
Contribuição ao PIS não-cumulativa, estabelecido na lei nº 10.637/2002; (ii) COFINS
não-cumulativa, regulamentada na lei nº 10.833/2003; e por fim as contribuições (iii)
PIS/COFINS importação, presente na lei nº 10.865/2004. Todavia, o presente trabalho
se limita às contribuições em seu aspecto não-cumulativo, não havendo espaços para
tratar dos demais formatos.
Primeiramente, cabe visualizar a regra-matriz de incidência da Contribuição ao
PIS/PASEP, que se encontra no art. 1º da Lei nº 10.637/2002:
Art. 12. A receita bruta compreende: (Redação dada pela Lei nº 12.973, de
2014)
I - o produto da venda de bens nas operações de conta própria;
II - o preço da prestação de serviços em geral;
III - o resultado auferido nas operações de conta alheia; e
27
Logo, obtém-se uma alíquota total de 9,25% sobre as receitas auferidas pelas
pessoas jurídicas submetidas ao regime não-cumulativo. Como já citado
anteriormente, a anunciada alíquota afeta diretamente o bem ou serviço oferecido,
causando um efeito reflexo para as operações seguintes, chegando diretamente ao
consumidor final.
Explanado isso, analisado o conceito de tributo, a teoria pentapartida, as
contribuições, seu aspecto vinculativo de receita e, em especial, a Contribuição ao PIS
e a COFINS, passa-se a analisar o princípio da não-cumulatividade.
30
3 O PRINCÍPIO DA NÃO-CUMULATIVIDADE
Art. 170. A lei pode, nas condições e sob as garantias que estipular, ou cuja
estipulação em cada caso atribuir à autoridade administrativa, autorizar a
38
Por outro lado, apesar da compensação depender de lei que a regule, tal
instituto é amplamente utilizado na prática, sendo imprescindível na aplicação da não-
cumulatividade, visto que, “o propósito fundamental para o qual se volta o princípio da
não-cumulatividade tem na figura da compensação o seu mecanismo de maior
eficácia” (BOTTALLO, 2002, p. 44).
Assim, é fundamental ao exercício da não-cumulatividade que a compensação
tributária esteja regulada e seja possível de ser exercida. Isso porque a própria
Constituição Federal ao decretar a não-cumulatividade do IPI, no art. 153, §3º, inciso
II, anuncia que o imposto sobre produtos industrializados, “será não-cumulativo,
compensando-se o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas
anteriores”. Ou seja, a não-cumulatividade se vale do instituto da compensação para
seu exercício.
Sobre a não-cumulatividade e a partir da legislação vigente sobre o IPI, nos traz
Bottallo (2002, p. 48):
quantia, tais créditos que sobraram são acumulados, podendo deles se utilizar em
outro período. No mesmo sentido, Bottallo (2002, p. 50) preleciona:
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
[...]
II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de
serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda
que as operações e as prestações se iniciem no exterior;
Novamente, fica claro que o texto constitucional tem a norma voltada para
limitar a ação do estado, que corrobora com o pensamento do doutrinador
Carrazza (2002, p. 256):
44
Ambas as normas trazem inúmeros itens que dão direito ao crédito para
posterior com saldo credor, dentre eles: (i) bens adquiridos para revenda; (ii) bens e
serviços utilizados como insumo na prestação de serviço ou na produção de bens ou
produtos; (iii) aluguéis de prédios, máquinas e equipamentos; (iv) pagamentos de
arrendamentos mercantis; (v) bens incorporados ao ativo imobilizado; (vi) energia
elétrica ou térmica; (vii) bens devolvidos tributados em meses anteriores; (viii) vale-
transporte, vale-refeição, vale-alimentação e uniforme fornecido aos empregados de
pessoa jurídica que explore atividade de limpeza, conservação e manutenção; e (ix)
bens incorporados ao ativo intangível, adquiridos para exercer atividade produtiva ou
na prestação de serviços.
No entanto, diferem-se as contribuições no tocante à armazenagem de
mercadoria e ao frete em operação de venda, quando este custo é suportado pelo
vendedor, além das edificações ou benfeitorias em imóveis próprios. Tais custos dão
crédito somente na COFINS. Não existe a previsão de creditamento sobre os custos
de armazenamento de mercadoria e frete para venda na Contribuição ao PIS. Em
relação às benfeitorias e edificações, somente existe a previsão de creditamento
sobre os custos incorridos em imóveis de terceiros.
A operação de creditamento, ou seja, aplicação da não-cumulatividade se dá
mediante a aplicação da alíquota prevista no caput do art. 2º das referidas leis sobre
o valor dos itens taxativamente já expostos no art. 3º. Desta forma, os itens apontados
como passíveis de crédito para o PIS e para a COFINS, gerarão um crédito de 1,65%
e 7,6%, respectivamente. O crédito não aproveitado em determinado mês poderá ser
utilizado nos meses subsequentes.
49
Como bem levantado pelo autor, existe grande discussão sobre o inciso II, do
art. 3º das respectivas leis. Tal dispositivo legal trata dos bens e serviços utilizados
como insumo na prestação de serviço ou produção de mercadoria.
A contradição e debate, objeto do presente trabalho, se refere ao alcance do
conceito de insumo. Pois, como as respectivas leis delimitam somente se descontará
créditos calculados sobre os bens ou serviços utilizados como insumo. E o que é
insumo? A resposta desta pergunta afeta completamente a não-cumulatividade do
PIS/COFINS, podendo limitá-lo ou alargá-lo. Vale lembrar o disposto no art. 110 do
CTN:
Art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance
de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou
implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados,
ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou
limitar competências tributárias.
4 O CONCEITO DE INSUMO
A partir das definições e conceitos acima, fica evidente que o termo “insumo”
não possui significado único, mas possui diversos significados que podem não ser
totalmente opostos conforme o contexto a que estiver sendo utilizado, porém seu
alcance de aplicação varia. Para Murayama (2015, p. 43), “a maneira ou o modo de
utilização do bem ou serviço é que o qualifica como insumo. Neste sentido, insumo é
uma qualidade”.
Logo, utilizando-se deste aspecto do insumo como qualidade, não se pode
simplesmente atribuí-la a determinado bem ou serviço, seja em todas as operações
ou extensões que os utilizem, ou explicitar taxativamente alguma delas. Inicialmente,
se deve analisar se dentro da nova perspectiva esse produto ou serviço possui os
requisitos para ser considerado, portanto, um insumo. Com base nessa indefinição,
Murayama (2015, p. 43) acredita que o insumo deve ser tratado com um conceito
jurídico indeterminado:
Assim, certo bem, pelo simples fato de existir, não ganha a qualidade de
insumo. Portanto, faz-se necessário trazer instrumentos operacionais para
que possamos identificar da forma mais objetiva possível quando
determinado bem ou serviço ganhará ou não a qualificação de insumo. Para
tanto, merece destaque o fato de o termo “insumo” ser considerado um
conceito jurídico indeterminado.
final é extremamente importante, sendo que as variadas formas pelas quais é possível
deduzir o referido termo influenciarão na probabilidade de designada pessoa jurídica
ser qualificada ou não como consumidora.
Como forma de identificar o consumidor, tal qual Murayama (2015, p. 46), “três
correntes doutrinárias foram criadas: a subjetiva ou finalista; a objetiva ou maximalista;
e a mista”:
Para a primeira corrente, destinatário final seria apenas aquela pessoa física
ou jurídica que adquire o produto ou contrata o serviço para satisfazer uma
necessidade privada, não havendo, de maneira alguma, a utilização deste
bem ou deste serviço com a finalidade de produzir ou desenvolver o seu
negócio.
Esta corrente utiliza um conceito econômico de consumidor. Assim, não será
considerado destinatário final e, portanto, consumidor para fins de aplicação
do CDC, a pessoa física ou jurídica que utiliza determinado bem ou serviço
como insumo no exercício de sua atividade empresarial, sendo classificada
como mera “consumidora intermediária”. Neste caso, estaremos diante de
uma “relação de insumo”, e não de consumo (MURAYAMA, 2015, p. 47).
Portanto, sob a perspectiva da teoria finalista, aquele que não encerra a cadeia
econômica se utilizando do produto ou serviço na produção de outra mercadoria ou
na prestação de outro serviço, não pode ser qualificado como consumidor. A relação
que este possui é uma relação de insumo e não de consumo.
Em contraponto a teoria finalista, existe a teoria maximalista, consoante o autor
Silva (2008, p. 8):
Ou seja, para se creditar do IPI pago na operação anterior, deve o bem: (i) se
integrar ao novo produto industrializado; (ii) ser consumido durante o processo
produtivo; ou (iii) tratar-se de uma embalagem. Verifica-se o respeito ao núcleo
57
[...] apesar de inexistir disposto legal neste sentido na legislação do IPI, nem
no seu regulamento, se exige que o consumo do produto seja imediato, ou
seja, que ele participe intrinsicamente do processo produtivo e entre em
contato físico com o bem produzido.
Melhor dizendo, o custo de produção envolve os gastos com: (i) matéria prima
e serviços utilizados na produção ou serviços; (ii) mão-de-obra; (iii) locações,
manutenção, reparo e depreciação dos bens aplicados na produção; (iv) a
63
[...] são três os requisitos que habilitam determinado gasto a ser considerado
como despesa operacional dedutível. Em primeiro lugar, é necessário que o
gasto seja incorrido, vale dizer, que não deva, por lei, ser registrado em
contas representativas dos ativos fixos ou circulantes; então, é indispensável
que a empresa já tenha usufruído dos bens e serviços adquiridos. Em
segundo lugar, o gasto deve ser necessário ou útil para a manutenção da
64
Dessa forma, existem critérios específicos para estipular que uma despesa é
ou não dedutível da base de cálculo do IRPJ. Porém, tais critérios não são aplicáveis
no tudo ou nada, devendo-se analisar o caso a caso, pois o entendimento pode variar
conforme a referência a que se encontre. Corrobora com esse entendimento
Murayama (2015, p. 68):
Por sua vez, também se utiliza da IN SRF 404/2004 que discorre sobre a
COFINS:
Art. 8º Do valor apurado na forma do art. 7º, a pessoa jurídica pode descontar
créditos, determinados mediante a aplicação da mesma alíquota, sobre os
valores:
I - das aquisições efetuadas no mês:
[...]
b) de bens e serviços, inclusive combustíveis e lubrificantes, utilizados como
insumos: b.1) na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à
venda; ou b.2) na prestação de serviços;
[...]
§ 4º Para os efeitos da alínea "b" do inciso I do caput, entende-se como
insumos:
I - utilizados na fabricação ou produção de bens destinados à venda:
a) a matéria-prima, o produto intermediário, o material de embalagem e
quaisquer outros bens que sofram alterações, tais como o desgaste, o dano
ou a perda de propriedades físicas ou químicas, em função da ação
diretamente exercida sobre o produto em fabricação, desde que não estejam
incluídas no ativo imobilizado;
b) os serviços prestados por pessoa jurídica domiciliada no País, aplicados
ou consumidos na produção ou fabricação do produto;
II - utilizados na prestação de serviços:
a) os bens aplicados ou consumidos na prestação de serviços, desde que
não estejam incluídos no ativo imobilizado; e
68
Após breve leitura das instruções normativas fica evidente que a RFB
adotou, para a não-cumulatividade do PIS e da COFINS, a teoria do crédito físico
do IPI, como já exposto em item anterior.
Ou seja, restringem o alcance do conceito de insumo às matérias-primas,
aos produtos intermediários, ao material de embalagem e quaisquer outros bens
que sofram alterações, como desgaste, dano ou perda de propriedades físicas ou
químicas, necessitando que o insumo tenha contato direto com o bem produzido.
Também, englobam-se nos insumos para a produção os serviços, prestados por
empresa domiciliada no Brasil, aplicados ou consumidos.
Sobre a prestação de serviços, as normativas da RFB definem que são
insumos os bens aplicados ou consumidos na prestação de serviços e os serviços
prestados por empresa domiciliada no Brasil, aplicado ou consumido na prestação
do serviço:
Por sua vez, o já citado Murayama (2015, p. 169) produziu um maior número
de critérios, a fim de elucidar e traduzir o entendimento do fisco em conjunto da
norma jurídica. Ou seja, uma forma de qualificar o bem ou serviço como insumo
de forma muito mais encorpada:
Após esse primeiro caso, depreende-se que o CARF adotou uma postura
mais próxima da defendida pela doutrina: de um conceito de insumos para o
PIS/COFINS singular aos demais existentes no IPI e IRPJ.
Para o CARF, os insumos são todos os bens ou que são utilizados no
processo produtivo ou prestação de serviços, que acabem afetando a percepção
das suas respectivas receitas. Exclui-se desse alcance aqueles bens ou serviços
que são utilizados antes ou depois de uma atividade produtiva, além daquelas
atividades entendidas desnecessárias às atividades da pessoa jurídica.
No Processo Administrativo sob o nº 13502.000359/2005-91, o acórdão
chega a qualificar o novo entendimento do CARF como interpretação
intermediária, pois se vê necessário para o reconhecimento do direito do crédito a
análise da essencialidade da despesa para o auferimento da receita (CARF,
Processo Administrativo nº 13502.000359/2005-91. Data da Sessão: 24/08/2016.
Relator: Maria Eduarda Alencar Câmara Simões. Acórdão nº 3301-003.064)
Segue a mesma linha dos julgados anteriormente citados, o Processo
administrativo nº 18088.72013/2014-55, que chega a refutar os conceitos de insumos
utilizados no IPI e no IRPJ, atribuindo-os as qualidades de muito restrito, ao IPI, e
muito amplo ao IRPJ (CARF, Processo Administrativo nº 18088.720013/2014-55. Data
74
3. São ilegais o art. 66, §5º, I, "a" e "b", da Instrução Normativa SRF n.
247/2002 - Pis/Pasep (alterada pela Instrução Normativa SRF n.
358/2003) e o art. 8º, §4º, I, "a" e "b", da Instrução Normativa SRF n.
404/2004 - Cofins, que restringiram indevidamente o conceito de
"insumos" previsto no art. 3º, II, das Leis n. 10.637/2002 e n.
10.833/2003, respectivamente, para efeitos de creditamento na
sistemática de não-cumulatividade das ditas contribuições.
4. Conforme interpretação teleológica e sistemática do ordenamento
jurídico em vigor, a conceituação de "insumos", para efeitos do art.
3º, II, da Lei n. 10.637/2002, e art. 3º, II, da Lei n. 10.833/2003, não se
identifica com a conceituação adotada na legislação do Imposto sobre
Produtos Industrializados - IPI, posto que excessivamente restritiva. Do
mesmo modo, não corresponde exatamente aos conceitos de "Custos e
Despesas Operacionais" utilizados na legislação do Imposto de Renda -
IR, por que demasiadamente elastecidos.
5. São "insumos", para efeitos do art. 3º, II, da Lei n. 10.637/2002, e art.
3º, II, da Lei n. 10.833/2003, todos aqueles bens e serviços pertinentes
ao, ou que viabilizam o processo produtivo e a prestação de serviços, que
neles possam ser direta ou indiretamente empregados e cuja subtração
importa na impossibilidade mesma da prestação do serviço ou da
produção, isto é, cuja subtração obsta a atividade da empresa, ou implica
em substancial perda de qualidade do produto ou serviço daí resultantes.
[...]
7. Recurso especial provido.
(STJ. REsp 1246317/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
SEGUNDA TURMA, julgado em 19/05/2015, publicado em 29/06/2015)
que entendem que a RFB está agindo de forma muito restritiva e um voto a favor do
fisco.
Por fim, verifica-se que o STJ apresenta uma visão mais alinhada com a
doutrina, pois considerada como ilegais a IN SRF 247/2002 e a IN SRF 404/2004,
configurando uma forma de não-cumulatividade única às contribuições.
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5 CONCLUSÃO
Por sua vez, revelou-se o STJ com a concepção de insumos para Contribuição
ao PIS e para a COFINS seriam aqueles bens ou serviços pertinentes ou que
viabilizam o processo produtivo e a prestação de serviços, podendo a aplicação ser
direta ou indireta, e que ao serem subtraídos da operação, ou impossibilitam a
atividade produtiva ou a prestação de serviços, ou resultam em perda substancial da
qualidade do produto ou serviço.
Por fim, denotou-se atendidos os fins de que o trabalho foi desenvolvido,
respondendo-se o problema e alcançando os objetivos traçados.
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REFERÊNCIAS
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Paulo: Atlas, 2011.
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MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 32. ed. São Paulo: Atlas,
2012.
SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
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