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1.

Introdução e Referencial teórico

Compreende-se por empuxo de terra, toda ação produzida por um maciço


terroso sobre as obras em contato com ele. Logo, a magnitude em que ocorre deve
ser determinada em virtude da fundamental importância para a análise e produção
de projeto de obras como muros de arrimo, construção de subsolos, cortinas de
estacas-prancha, obras de contenção, entre outros casos similares.

A interação solo-elemento estrutural durante toda as etapas da obra interfere


na distribuição de tensões ao longo do elemento de contenção, e
consequentemente, no valor de empuxo de terra. Desta forma, a atuação do
empuxo sobre o elemento estrutural ocasiona deslocamentos na direção horizontal
e com isto posto, provoca a alteração do valor e da distribuição do empuxo, ao
longo dos estágios de construção da obra.

A primeira contribuição efetiva sobre a temática abordada data de 1776.


Deste modo, o cálculo dos empuxos trata-se de uma das mais antigas
preocupações da área de engenharia civil, em um tempo no qual a Mecânica dos
Solos ainda não tinha nascido como ciência autônoma. O presente artigo relata um
problema que ocorre com frequência, de grande interesse prático e de difícil
determinação.

Ao tratarmos dos problemas de fundações, há a predominação de


transmissão de forças verticais devido a interação das estruturas com o solo, porém,
existe também a presença de forças horizontais, citadas anteriormente. Em vista
disso, o empuxo de terra classifica-se em duas categorias.

A primeira categoria trata do solo que sofre uma distensão ao reagir contra a
ação de afastamento do plano interno da estrutura de contenção, e desta forma,
ocasiona uma resistência na massa ao longo do possível plano de escorregamento.
Verifica-se essa categoria ao construir uma estrutura para suportar um maciço de
solo. Assim, o solo impulsiona a estrutura, que reage afastando-se do maciço
terroso. Logo, as forças do solo atuando na estrutura são de natureza ativa, como
pode ser observado na figura 2.

Na segunda categoria, o solo é comprimido pela estrutura, sofrendo uma


compressão na cunha instável, e uma reação de resistência ao cisalhamento é
gerada ao longo do plano de ruptura, ou seja, a estrutura que é impulsionada contra
o maciço de solo. Sendo assim, a força que a estrutura exerce sobre o solo é de
natureza passiva, como observado na figura 3. O caso de pontes em arco é um
exemplo de caso típico que representa o uso de fundações que transmitem forças
de elevada componente horizontal ao maciço, tipo de interação solo-estrutura dessa
categoria, como pode ser observado na figura 1.

Figura 1 – Obra em que os impulsos são de natureza passiva.

Fonte: Manuel Rijo (2016)

Figura 2 – Cunha de solo instável no impulso passivo

Fonte: Manuel Rijo (2016)

Figura 3 – Cunha de solo instável no impulso ativo

Fonte: Manuel Rijo (2016)

Em suma, para determinação do empuxo passivo e ativo podem ser


utilizadas duas teorias, que serão o fundamento do presente artigo, a Teoria de
Rankine (1857) e a Teoria de Coulomb (1776).
1.1.​ Teoria de Rankine

A teoria de Rankine é baseada na conjectura que uma rápida deformação no


solo é o bastante para acarretar uma total mobilização da resistência de atrito,
originando o estado passivo caso o solo sofra compressão e ativa no caso de
expansão, como explicado anteriormente. Devido ao deslocamento de uma parede,
segundo a teoria, desenvolvem-se estados limites plásticos. Pois, no momento da
ruptura aparecem infinitos planos de ruptura, ocasionando a plastificação de todo o
maciço. Portanto, a teoria considera que os movimentos do muro são suficientes
para mobilizar os estados de tensão ativo ou passivo.

A hipótese fundamental na teoria de Rankine, segundo Mello (1953) é:

a) O
​ terrapleno é homogêneo, de superfície plana e extensão infinita, e as pressões
em qualquer muro são idênticas as de uma superfície plana de mesma
inclinação situada no meio deste maciço. Essas pressões são calculadas pela
teoria de Mohr, para as condições de ruptura (ativa ou passiva) em taludes
infinitos.

b) Como corolário resulta que o muro não pode ser considerado como uma

descontinuidade, com suas características e propriedades de superfície de


contato realisticamente avaliadas. O ângulo de atrito entre o muro e o solo fica
sendo predeterminado, resultando das relações entre as tensões verticais e as
laterais do anteparo ideal, dedutíveis pelo círculo de Mohr representativo do
estado de tensões nos elementos de solo respectivos, no instante da ruptura.

Segundo M. Maragon (2017), a teoria de Rankine para o cálculo de empuxos


de solo é válida para muros de contenção de grande altura, com tardoz vertical liso,
que suporta retroaterro com superfície horiz​ontal. Por consequência, faz-se com que
as tensões principais localizadas próximo ao tardoz do muro estejam sempre
atuando nas direções verticais e horizontais. Destarte, toda a massa de solo no
retroaterro situa-se no estado de equilíbrio plástico.

Vale ressaltar que na teoria de Rankine, a resistência ao cisalhamento (atrito


e adesão) no contato solo-muro é desprezada. O que pode fazer com que os
valores de empuxo ativo sejam significativamente maiores. Entretanto, apesar da
teoria tender a fornecer valores mais elevados de empuxo ativo, a professora
Gerscovich lista fatores que levam a teoria de Rankine a ser a mais utilizada:

·​ as soluções são simples, especialmente quando o retroaterro é horizontal;


·​ dificilmente se dispõe dos valores dos parâmetros de resistência solo-muro (d);


· No caso ativo, o efeito do atrito solo-muro no valor do coeficiente de empuxo


ativo Ka é desprezível. Fazendo com que o efeito do coeficiente de atrito


solo-muro possa ser expresso pela mudança na direção do empuxo total EA;

·​ Para paramentos não verticais, o solo pode ser incorporado ao muro.


Em relação às limitações do método, pode-se citar:

·​ O retroaterro deve ser plano;


·​ A parede não deve interferir na cunha de ruptura;


·​ Não existe resistência mobilizada no contato solo-muro.


Em resumo, segundo Gerscovich (2010), o método de Rankine considera o solo em


estado de equilíbrio plástico e baseia-se nas seguintes hipóteses:
·​ Solo isotrópico;

·​ Solo homogêneo;

·​ Superfície do terreno plana;


·​ A ruptura ocorre em todos os pontos do maciço simultaneamente;


·​ A ruptura ocorre sob o estado plano de deformação;



· Muro perfeitamente liso (atrito solo-muro: d = 0) os empuxos de terra

atuam paralelamente à superfície do terreno;


·​ A parede da estrutura em contato com o solo é vertical.

Teoria de Coulomb

Na teoria de Coulomb, faz-se a consideração do equilíbrio limite de uma


cunha de solo com seção triangular, que possui como delimitação o tardoz do muro
e as superfícies do retroaterro e de ruptura. É importante ressaltar que a resposta
do problema não é rigorosamente correta, visto que apenas duas equações de
equilíbrio de forças são consideradas, desconsiderando o equilíbrio de momentos.
Tendo em vista o caso ativo, a incorreção desta teoria é , em geral, desprezível.
Ao relacionar a teoria de Rankine com a teoria de Coulomb, nota-se que o
método de Coulomb possui aplicabilidade mais ampla, já que é válida para
condições irregulares de geometria de muro e superfície de retroaterro,
considerando na aplicação da teoria, a resistência mobilizada entre o muro e o solo.
Desse modo, ao analisar um caso geral, considerando superfície de ruptura planar,
tem-se a solução gráfica como a mais apropriada, mesmo que seja mais
complicada. Então, faz-se necessário inferir que é possível a incorporação de
sobrecargas concentradas ou distribuídas no topo do retroaterro, ou ainda a
existência de nível freático no interior do retroaterro, devido ao procedimento
gráfico.
Segundo M. Maragon(2017), os passos essenciais para obter a solução
gráfica de acordo com Coulomb resumem-se a seguir:
i) Arbitra-se uma superfície de ruptura (superfície OA1 na figura ​08)​, com
inclinação próxima à indicada pelo método de Rankine.
ii) Plota-se o polígono de forças, considerando todas as magnitudes e
direções das forças que atuam na cunha OA1M de solo instável (figura ​08).
iii) Determina-se o valor do empuxo E1 correspondente à superfície OA1
arbitrada.
iv) Arbitra-se uma nova superfície de ruptura (OA2), plota-se o novo polígono
de forças e determina-se o empuxo E2 correspondente.
v) Repete-se o procedimento por diversas vezes, com o objetivo de se obter
um gráfico de variação do empuxo E com a distância X (afastamento do ponto A da
superfície de ruptura em relação ao ponto M no topo do muro).
Na situação do caso ativo, a magnitude do empuxo ​Ea ​e a posição da
superfície crítica é indicada pelo ponto que corresponde ao valor máximo do gráfico
E vs X. Já no caso passivo, o valor mínimo do gráfico E vs X é correspondente ao
empuxo ​Ep ​e à superfície crítica.
Figura XX - Método de Coulomb: determinação gráfica do empuxo ativo.

O ângulo de atrito δ que é mobilizado no contato solo-muro pode apresentar


valores entre 0 e φ’, o que resulta do tipo de solo, do deslocamento relativo entre o
solo e o muro e do material do muro. No geral, com o aumento do ângulo δ o valor
do empuxo ativo diminui, que deve ser determinado empiricamente. Caso haja a
ausência de dados experimentais, é usual se adotar δ da ordem de 1/3 a 2/3 do
ângulo φ’, com os maiores valores correspondendo a muros rugosos de alvenaria ou
de concreto. Na verdade, o valor de δ não afeta significativamente a magnitude do
empuxo EA, mas sim a sua direção (ou linha de ação), com consequente influência
na largura da base do muro necessária para garantir a estabilidade.
Segundo Maragon (2017), o método de Coulomb vai tratar apenas do
equilíbrio de forças, sem considerações sobre a distribuição das tensões laterais no
tardoz do muro. Logo, o ponto de aplicação do empuxo deve ser definido por um
procedimento gráfico aproximado, como pode ser observado na Figura 5.

Figura 5 – Método de Coulomb: equação para cálculo do empuxo ativo.

Fonte: M. Maragon (2017)

1.1.​ Conclusão

As teorias de Rankine e de Coulomb são métodos importantes empregados na


geotecnia na determinação de empuxos ativos ou passivos, adotando uma relação
do tipo rígido-plástica entre as tensões e deformações do solo. As soluções das
duas teorias impõem que o retroaterro deva ser plano. Diante do que foi exposto
podemos perceber que a teoria de Rankine e a de Coulomb satisfazem o equilíbrio
de esforços verticais e horizontais. Mas por outro lado, não atendem ao equilíbrio de
momentos, uma vez que a superfície de ruptura em geral possui certa curvatura.

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