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MARINA DE ANDRADE MARCONI EVA MARIA LAKATOS Técnicas de Pesquisa ¢ Planejamento e execucdo de pesquisas e Amostragens e técnicas de pesquisa ¢ Elaboragao, andlise e interpretagao de dados 68 Edicdo revista e ampliada SAO PAULO EDITORA ATLAS S.A. — 2007 3.2 PESQUISA BIBLIOGRAFICA A pesquisa bibliografica, ou de fontes secundarias, abrange toda bibliogra- fia j4 tornada publica em relag&o ao tema de estudo, desde publicacées avul- sas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartografico etc., até meios de comunicagao orais: radio, gravacoes em fita magnética e audiovisuais: filmes e televisao. Sua finalidade é colocar o pesqui- sador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre deter- minado assunto, inclusive conferéncias seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas quer gravadas. Para Manzo (1971:32), a bibliografia pertinente “oferece meios para defi- nir, resolver, no somente problemas j4 conhecidos, como também explorar novas dreas onde os problemas néo se cristalizaram suficientemente”, e tem por objetivo permitir ao cientista “o reforco paralelo na andlise de suas pesqui- sas ou manipulacio de suas informacées” (Trujillo, 1974:230). Dessa forma, a pesquisa bibliografica nao é mera repetigao do que ja foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou aborda- gem, chegando a conclusées inovadoras. 3.2.1 Tipos de Fontes Bibliograficas Da mesma forma que as fontes de documentos, as bibliograficas variam, fornecendo ao pesquisador diversos dados e exigindo manipulacao e procedi- mentos diferentes. 72. TECNICAS DE PESQUISA A. Imprensa escrita - em forma de jornais e revistas, para sua utilizacao ne- cessita de andlise dos seguintes aspectos: independéncia — nos paises totalitarios, com raras excecées, toda imprensa est submetida as diretrizes do partido no poder; portan- to, amargem de independéncia das fontes é praticamente nula. Por sua vez, 0 pressuposto teérico dos paises democraticos é a indepen- déncia dos drgaos de informagao, pois o principio da liberdade de imprensa é considerado corolario da liberdade de expressdo asse- gurada pelo regime. Entretanto, existe uma distingao entre o prin- cfpio politico e a realidade: o capital necessdrio para a manutencao da independéncia do 6rgao depende de uma série de fatores, sendo 0 principal a fonte de publicidade, que pode efetivamente controlar as diretrizes do 6rgéo; da mesma forma, os modos de regulamenta- Gao € a censura exercem efeitos de maior ou menor influéncia; contetido e orientagdo — varios tipos de investigacdo podem ser leva- dos a cabo sob este aspecto: tendéncias e espaco dedicados a politi- ca nacional e internacional, fatos diversos, noticias locais, esporte, acontecimentos policiais, publicidade etc.; como se trata de ques- t6es relativas 4 populacdo, como educagio, satide etc.; tom da mensagem, pessimismo, otimismo, sentimentalismo etc. : difusdo e influéncia - pode-se verificar a zona geografica de distri- buicdo e o tipo de populagiio que é influenciada; a correlacao entre Posic6es do drgao e os resultados eleitorais; o prestigio do editoria- lista e outros profissionais que assinam suas matérias; 0 que as pes- soas mais léem e a influéncia que sobre elas exercem as opinides expressas e as informacées; grupos de interesses — na chamada imprensa alternativa ea especifi- ca de categorias profissionais pode-se verificar como estes grupos sociais apresentam as idéias dos dirigentes sobre seus objetivos, a atuacdo dos poderes publicos, os interesses regionais, nacionais e, até, internacionais etc. B. Meios audiovisuais — de certa forma, o que ficou dito para a imprensa es- crita pode ser aplicado para os meios audiovisuais, radio, filmes, televi- sao. Para ambas as formas de comunicacio é interessante a andlise do contetido da prépria comunicacio, que apresenta os seguintes objetivos (Berelson Apud Selltiz et al., 1965:377-378): “Questées referentes ds caractertsticas do contetido: — Descrever tendéncias no contetido da comunicagiio. — Delinear o desenvolvimento da erudicio. — Revelar diferencas internacionais no contetido da comunicacao. TECNICAS DE PESQUISA 73 Comparar os meios ou ‘niveis’ de comunicagao. Examinar o contetido da comunicacao com relacao aos objetivos. Construir e aplicar padrdes de comunicacio. Auxiliar operagées técnicas de pesquisa. Revelar as técnicas de propaganda. Medir a ‘legibilidade’ de materiais de comunicagao. Descobrir caracteristicas estilisticas. Questées referentes aos criadores ou ds causas do contetido: Identificar as intengdes e outras caracteristicas dos transmissores. Verificar o estado psicoldgico de pessoas e grupos. Identificar a existéncia de propaganda (fundamentalmente com ob- jetivos legais). Obter informagéo politica e militar. Questées referentes a audiéncia ou efeitos do contetido: Refletir atitudes, interesses e valores (‘padrGes culturais’) de grupos da populacao. Revelar o foco de atencao. Descrever as respostas de atitudes e de comportamento as comuni- cacées.” C. Material cartogrdfico — variara segundo o tipo de investigacdo que se pretende. Entre os mais importantes que se podem consultar figuram os se- guintes: mapa com divisao politica e administrativa; mapa hidrogrdafico; mapa de relevo; mapa climatoldégico; mapa ecoldgico; mapa etnografico; mapa de densidade de populacao; mapa de rede de comunicacao; mapa com indicagao de cultivos, modo de ocupagio do solo, suas formas de utilizacao etc.; grafico e piramide da populacao; grafico de importacées e exportagées, Produto Interno Bruto etc. 74 TECNICAS DE PESQUISA D. Publicagées — livros, teses, monografias, publicacdes avulsas, pesquisas etc. formam 0 conjunto de publicacées, cuja pesquisa compreende quatro fases distintas: a. identificaco; b. localizacao; c. compilacgao; d. fichamento. 3.2.1.1 IDENTIFICACAO Ea fase de reconhecimento do assunto pertinente ao tema em estudo e que pode ser feito langando-se mao de catdlogos das bibliotecas, das bibliogra- fias, dos indices e abstracts especializados. a. Catdlogo — lista sumdria, ordenada, de livros. b. indice - relagdo de artigos publicados em periddicos sobre determi- nado assunto. c. Bibliografia — indexacao de artigos de periddicos, livros, teses, fo- lhetos, relatérios, comunicagées e outros documentos sobre o mes- mo tema. d. Abstracts — publicagées que, além de oferecerem elementos para identificar o trabalho, apresentam seu resumo analitico. O estudo das tabelas de contetido, dos prefacios, dos indices e do préprio texto dos livros permite ao pesquisador identificar e decidir se determinada obra convém ou néo ao seu trabalho. 3.2.1.2 LOCALIZAGAO Depois de realizado o levantamento bibliografico nos catdlogos e fontes de referéncia, passa-se a localizacao das fichas bibliogrdficas, a fim de se obte- rem informacées necessarias. Consultar o Sistema interbibliotecas e catdlogos (nacionais e internacio- nais) disponiveis em CD-ROM ou via Internet. 3.2.1.3 COMPILAGAO Trata-se, aqui, de reunir, sistematicamente, referéncias, informagées im- pressas e/ou inéditas. TECNICAS DE PESQUISA 75 A obtencao do material pode ser feita por meio de xerox, fotocdpias ou mi- crofilmes (mediante pagamento de pequena taxa), de separatas ou em fichas, nas bibliotecas em geral. 3.2.1.4 FICHAMENTO A medida que 0 pesquisador identifica os documentos, deverd, ao mesmo tempo, transcrever os dados nas fichas bibliograficas, com o maximo de exati- dao e cuidado. Para registrar os dados, recomenda-se 0 uso das fichas, cujo formato inter- nacional é de 7,5 x 12,5 cm. Se o pesquisador quiser acrescentar um resumo a referéncia, podera utilizar a ficha de tamanho 7,5 x 15,5 cm. Nela devem ser anotados os elementos essenciais (Referéncias Bibliograficas), que permitem a identificag&o das publicagdes. Elementos da Referéncia Bibliogrdfica, extrafdos da publicacao, seguem a seguinte ordem: Autor (sobrenome e nome). Organizador (se houver). Titulo e subtitulo (do livro ou artigo). Titulo original (quando tradugio) ou tradugao do titulo (quando em idioma pouco difundido). pore Tradutor, prefaciador, comentador etc. Numero de edig4o (a partir da segunda). Local de publicagao. Editora. i. Ano de publicagao. Numero de paginas ou de volumes (se houver). Indicagio de figuras, tabelas etc. m. Titulo da série, ntimero de publicagdo na série. pm mh oD P Indicacio de separata. 0. Indicaciio de bibliografias e resumos. Exemplos Livros MARCONI, Marina de Andrade. Garimpos e garimpeiros em Patrocinio Paulista. Sao Paulo: Secretaria da Cultura, Ciéncia e Tecnologia, 1978. 76 ‘TECNICAS DE PESQUISA LAKATOS, Eva Maria. Sociologia geral. 5. ed., rev. e amp. Sdo Paulo: Atlas, 1987. FREYRE, Gilberto. Sociologia. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967. 2Vv. MUSSOLINI, Gioconda (Org.). Evolugdo, raca e cultura. SAo Paulo: Na- cional/Edusp, 1969. WEBER, Max. Fundamentos de sociologia. Porto: Rés, s. d. CARDOSO, Fernando Henrique; IANNI, Octavio. Homem e sociedade. 3. ed. Sao Paulo: Nacional, 1966. SOUSA, Aluisio José Maria de et al. Iniciacdo 4 Idgicae a metodologia da ciéncia. S40 Paulo: Cultrix, 1976. ABRAMO, Perseu. Pesquisa em ciéncias sociais. In: HIRANO, Sedi (Org.). Pesquisa social: projeto e planejamento. Sdo Paulo: T. A. Queiroz, 1979. VALENTE, Waldemar. Sincretismo religioso afro-brasileiro. 3. ed. Sao Paulo: Nacional, 1977. (Col. Brasiliana, 280.) Diciondrio de Sociologia. Porto Alegre: Globo, 1970. Artigos de Revistas e de Jornais Tese MARCONI, Marina de Andrade. Lundu Baiano: desafio coreografico. Revista Brasileira de Folclore. Rio de Janeiro, 3 (5): 23-36, jan./abr. 1963. TADEU, Lticio Cesar. A medicina da Amazonia. O Estado de S. Paulo. Sao Paulo, 21 dez. 1980. p. 23. LAKATOS, Eva Maria. O trabalho tempordrio: nova forma de relacao so- cial no trabalho. Tese de Livre-Docéncia. S4o Paulo: Fundacao Escola de Sociologia e Politica de Sio Paulo, 1979. 2 v. Para mais informacées, ver Normas de Referéncia Bibliografica, da Asso- ciacao Brasileira de Normas Técnicas, NB/66, revisdo de 1989. O fichamento de qualquer documento (de fonte primaria ou secundaria) requer trés etapas: redagdo da ficha, classificagdo das fichas e critica documental e bibliogrdfica. A. Redagéo da Ficha No registro de contetido, 0 pesquisador deve anotar todos os elementos essenciais ao desenvolvimento do trabalho. Sao pontos bdsicos: selecionar o material e fazer as anotacdes completas, bem redigidas e fiéis ao original. TECNICAS DE PESQUISA 7 Manzo (1973:16) apresenta cinco tipos de anotacdes: a. Comentdrio. Explicitaco do contetido, para sua melhor compreen- sao. b. Informagao geral. Enfoque mais amplo sobre o contetido geral. c. Glosa. Explicitac&o ou interpretagao de um texto obscuro para tor- na-lo mais claro. d. Resumo. Sintese bem clara e concisa das idéias principais ou resu- mo dos aspectos essenciais. e. Citagdes, Reproduco fiel de palavras ou trechos considerados rele- vantes e que dever4o ser colocados entre aspas, devido a sua impor- tancia em relac&o ao estudo em pauta. Os itens a e c s4o muito semelhantes. A redac4o mais usual de fichamento de leitura apresenta duas divisdes fundamentais: resumo com as partes principais da obra lida e bibliografia. Deve-se registrar apenas um assunto em cada ficha; entretanto, se 0 con- tetido for extenso, o registro pode ser feito em duas ou mais, que ficarao agru- padas. Exemplos FICHA DE COMENTARIO ALMEIDA, Djanira Soares de Oliveira. Ensinando e aprendendo a escrita: mo- mentos iniciais. Araraquara: Unesp, 1995. 236 p. AA. apresenta um estudo comparativo entre dois grupos de alunos de esco- la ptiblica de Sao Paulo, ambos do Ciclo Basico. Busca compreender diversos aspectos do processo ensino-aprendizagem, apresentando uma visao abrangen- te do mesmo: o trabalho do professor, as respostas dos alunos, as estratégias e os materiais adotados e 0 produto obtido. A partir da base tedrica adotada e da andlise dos dados, a A. chega a conclusio de que o mais importante no processo é0 trabalho com a linguagem. 78 TECNICAS DE PESQUISA FICHA DE INFORMACAO GERAL ALMEIDA, Djanira Soares de Oliveira. Ensinando e aprendendo a escrita: mo- mentos iniciais. Araraquara: Unesp, 1995. 236 p. A obra resulta de pesquisa que visa a elaboracao de tese de doutoramento em Letras. Tem cardter pedagdgico e interdisciplinar; destina-se aos interessa- dos em Psicolingiiistica, Metodologia, Lingiifstica Aplicada e Alfabetizacao. Vale-se, como apoio tedrico, das teorias lingiifsticas mais recentes sobre aquisi- cao da linguagem escrita ede estudos de psicologia de Piaget, Wallone Vygotsky sobre o desenvolvimento infantil. A pesquisa pretende oferecer contribuicado Para a reflexao a respeito do problema da alfabetizacdo no Brasil. FICHA DE GLOSA ALMEIDA, Djanira Soares de Oliveira. Ensinando e aprendendo a escrita: mo- mentos iniciais. Araraquara: Unesp, 1995. 236 p. A teoria psicogenética, Proposta pelo psicdlogo suico Jean Piaget e desen- volvida pela pesquisadora argentina Emilia Ferreiro, Procura explicar o desenvolvimento infantil no aspecto de aquisic¢&o da leitura e da escrita, levando em conta habilidades de aquisicdo enquanto construcao de um sistema de repre- sentacao, visto sob perspectiva do sujeito que aprende e no do adulto. FICHA DE RESUMO ALMEIDA, Djanira Soares de Oliveira, Ensinando e aprendendo a escrita: mo- Mentos iniciais. Araraquara: Unesp, 1995. 236 p. AA. apresenta um estudo comparativo entre duas classes de alunos de Ciclo Basico, em fase de aquisicdo da leitura e da escrita, objetivando verificar, pelo Proceso e produto alcancados, em que medida a Escola atua como intermedi4- tia entre o aluno eo conhecimento. Examina a linguagem praticada na Escola, estabelecendo referenciais de uso da lingua, ora como simples instrumento, ora como sistema de representac&o e objeto conceitual a ser adquirido, TECNICAS DE PESQUISA 79 FICHA DE CITAGOES ALMEIDA, Djanira Soares de Oliveira. Ensinando e aprendendo a escrita: mo- mentos iniciais. Araraquara: Unesp, 1995. 236 p. Da obra: “Mais que um mero cédigo de transcricao do oral, a aquisicao da escrita consiste no dominio de um sistema de representacao, de um novo objeto de co- nhecimento.” p. 38. “De todo modo, trabalha-se o significante em detrimento do significado, rompendo-se a relacao indissolivel entre as duas partes do signo.” p. 230. Na obra: Mello, Lélia Erbolatto de. Repensando a questo da textualidade da carti- tha. In: Seminarios do GEL, 39, 7-8, jun. 1991. Franca, Anais. Jau: Lunigraf, 1992. p. 970-977. Alguns autores apresentam apenas dois tipos de fichas: de Resumo e Bibliografica. Exemplos FICHA DE RESUMO ALMEIDA, Djanira Soares de Oliveira. Ensinando e aprendendo a escrita: mo- mentos iniciais. Araraquara: Unesp, 1995. 236 p. Anidlise de materiais e atividades didaticas, a partir de modelos lingiifsticos. Cadernos de Educagdo. Franca: Unesp, 2, 1998. p. 39-65. Ouso de materiais diddticos deve ser precedido de ampla reflexdo em torno dos pressupostos tedricos e dos modelos que subjazem a tais instrumentos de apoio pedagdgico. Os materiais subsididrios ao ensino da leitura e da escrita prestam-se a decifracao de silabas e letras e a inferéncias sobre o trabalho criativo com a linguagem. 80 TECNICAS DE PESQUISA FICHA BIBLIOGRAFICA ALMEIDA, Djanira Soares de Oliveira. Ensinando e aprendendo a escrita: mo- mentos iniciais. Araraquara: Unesp, 1995. 236 ‘D.. Edicdo da Faculdade de Histéria, Direito e Servigo Social, Franca, Unesp, Artigo publicado em 1998, na revista Cadernos de Educagéo, 2. E uma reflexdo sobre modelos e teorias lingiifsticas, materiais didaticos e praticas pedagégicas. Mostra como 0 uso de cartilhas se torna incompativel com a aquisicdo da lingua materna, nas modalidades oral e escrita. Discute a aplica- cao de alguns modelos lingiiisticos em obras didaticas. Analisa conceitos como o da gramatica tradicional e de estrutura, que subjazem as atividades propostas naqueles manuais. Observagao: Todos esses exemplos de fichas foram elaborados por Djanira Soares de Oliveira e Almeida, professora doutora da Unesp, a pedido. B. Classificagéo das Fichas A ordenacao das fichas facilita 0 manuseio do fichario e o andamento do trabalho. Em geral, seguem a ordem alfabética, mas, se o trabalho for bem am- plo, pode-se usar a ordem cronolégica de publicacao das obras. O triplice fichdrio também pode ser utilizado, quando o assunto for muito complexo e extenso, obedecendo a seguinte ordem: fichdrio de autores, ficha- rio de assuntos (ou titulos) e fichario cronoldgico. C. Critica Documental e Bibliogrdfica Antes de proceder ao fichamento de contetido, é interessante analisar as fontes, para verificar a sua real importancia, seu grau de autenticidade e de vera- cidade. Accritica dos documentos, obras e outras origens de dados, de fonte prima- ria ou secundaria, é essencial ao pesquisador. Costuma-se distinguir a critica externa da interna. A critica externa trata da autenticidade ou do cardter genuino do docu- mento ou obra, coma finalidade de determinar se é admissivel como evidéncia. De preferéncia, volta-se 4 andlise da forma e aparéncia do trabalho, mais do que a significagao do contetido, se bem que esse também pode fornecer evidén- cias. Divide-se em: a. critica do texto — 0 objetivo é averiguar o valor do texto em pau- ta. Deve enfocar as seguintes questdes: é texto autégrafo, ou seja, TECNICAS DE PESQUISA 81 escrito pela mao do autor e, se for o caso, é um rascunho, é o defini- tivo, foi escrito ou nao para publicacéo; se for copia do autégrafo, foi ou n&o revista pelo autor; se esta publicado, o foi com a partici- pacao do autor ou confiado a outra pessoa; existem alteragées de manuscrito para manuscrito, de edigdo para edicao etc.; critica da autenticidade — tem por finalidade determinar 0 au- tor, o tempo e as circunstancias da composicao. Para tal, contribuem principalmente testemunhos externos, mas, quando estes sao pou- cos, langa-se mao da prépria andlise interna da obra; critica da origem — visa investigar a proveniéncia do texto e a averiguacio de até que ponto pode ter sido decalcada sobre outro. Por sua vez, a critica interna trata da credibilidade ou significagao e da fi- dedignidade dos dados apresentados no documento ou obra. Refere-se a de- monstracao da época, lugar e autoria, englobando, inclusive, a restauragao da forma e linguagem original empregada pelo autor, pois até o sentido das pala- vras pode alterar-se com o tempo. Divide-se em: a. b. critica da interpreta¢do — em que se averigua o sentido do que o autor quis exprimir (também denominada hermenéutica); critica do valor interno — em que se aprecia a obra, formando um jufzo sobre a autoridade do autor; critica da autoria — em que se verifica se a forma e a linguagem aplicam-se 4 época em que presumivelmente foi escrita a obra, ten- ta-se determinar 0 lugar e se o trabalho apresenta as mesmas carac- teristicas de outros do mesmo autor para se ter certeza da autoria. Ander-Egg (1978:189-190) e Rummel (1977:159-160) indicam uma sé- rie de questées que devem ser levantadas nas criticas externa e interna de um documento ou obra: Onde foi feito? Geralmente, em materiais impressos, a localizagéo do editor é indicada. Por outro lado, mais importante do que saber quem o publicou e em que lugar é descobrir onde e sob que condi- ces foi escrito. Quando foi escrito? Qual foi o lapso de tempo que decorreu entre 0 momento em que foi escrito e a época da publicagdo? Se nao é for- necida uma data, esta pode ser determinada pelo contetido do do- cumento ou da obra? E um documento valido? As seguintes perguntas so relevantes para responder a esta questao: é original ou uma copia? E um texto cabal ou foi adulterado (por erro ou fraude)? E cépia precisa ou foi “mutilada”? Apresenta-se sob sua forma completa ou foi parcial- mente destruida? 82 TECNICAS DE PESQUISA Quem foi 0 autor? O que se pode saber ou descobrir sobre o autor, no que diz respeito a sua nacionalidade, profissao, cargo, formagao, classe, filiac6es partidarias, religiao, caracteristicas mentais, parcia- lidades, interesses, status social, habitos lingiiisticos? A autoria é verdadeira ou falsa, tendo sido escrito por um “escritor fantasma”? O trabalho representa um caso de plagio ou falsificacéo? O documento pode ser aceito como verdadeiro? Para a determina- cdo da significagdo, honestidade e precisao do autor, deve-se levar em consideracao as seguintes questdes: “Qual a significagao real? Por que o autor escreveu 0 documento? O escritor demonstra uma deturpaciio de fatos, resultante da vaidade? Estava o autor em tal posicao que o provocaria a se desviar da verdade? O desejo de pro- mocéo o incitou a escrever, para agradar aos seus superiores? Tra- balhou sob exagerada parcialidade politica? Esté expressando sentimentos para agradar ao ptiblico? Violou a verdade, pelo uso de artificios literarios? Era um bom observador? Quando registrou as suas observacdes? Os fatos sao de tal natureza que nado poderiam ser apreendidos apenas pela observac4o? O autor estava sendo pos- to em dtivida? Em que medida podem ser interpretadas afirmacées anénimas ou de autor desconhecido? Alguns fatos sao tao conheci- dos, que seria dificil cometer erros a respeito deles? Os fatos sao de tal natureza que tornam impossivel a inexatidao?” (Rummel, 1977: 159-160). Caso 0 autor pertenga a uma organizagao, esta foi imparcial na cole- ta de dados ou teria algum interesse em determinado resultado? E importante constatar que a parcialidade pode ser consciente ou in- consciente; em alguns casos, certas organizagdes tém preferéncias pessoais ou de grupo, ou, até, encontram-se a servico de determina- dos interesses politicos, econdémicos etc., cuja finalidade é influir so- bre a opiniao ptblica por intermédio da publicacao de resultados ou parciais ou mesmo falsificados. Se os resultados da pesquisa foram fundamentados em uma amos- tra do universo, esta era suficientemente representativa? E quais fo- ram as técnicas empregadas para soluciona-la? De que forma foi elaborado o instrumento de coleta de dados? Ele se- guiti as normas metodoldgicas em sua preparacd4o e apresentacao? Como se realizou o trabalho de coleta de dados? Os pesquisadores foram supervisionados pelo autor? De que maneira se fez a tabulacdo e a andlise dos dados colhidos? Utilizaram-se controles para testar o erro de estimativa da signi- ficancia? Empregaram-se testes de hipdteses ou erros foram introduzi- dos pelo uso apenas de valores médios, coeficientes de correlagao etc.? TECNICAS DE PESQUISA 83 — O autor utilizou definigdes ou categorias adequadas ao problema que foi investigado?

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