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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2019.0001041496

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1001898-50.2017.8.26.0191, da Comarca de Ferraz de Vasconcelos, em que são apelantes
CECILIA DE OLIVEIRA ANDRÉ (JUSTIÇA GRATUITA), IZAAC VIEIRA DE
CAMPOS (JUSTIÇA GRATUITA) e ANTONIO PEDRO ANDRE (JUSTIÇA
GRATUITA), é apelado CLEVISON OLIVEIRA CAMPOS.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 21ª Câmara de Direito Privado


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores ADEMIR BENEDITO


(Presidente) e ITAMAR GAINO.

São Paulo, 10 de dezembro de 2019.

DÉCIO RODRIGUES
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº: 8.157


APELAÇÃO Nº: 1001898-50.2017.8.26.0191
COMARCA: FERRAZ DE VASCONCELOS
APELANTES: CECÍLIA DE OLIVEIRA ANDRÉ E OUTROS
APELADO: CLEVISON OLIVEIRA CAMPOS

APELAÇÃO. Ação de reintegração de posse.


Sentença de improcedência. Cerceamento de
defesa. Inocorrência. Preliminar rejeitada.
Revelia. Efeitos. Presunção de veracidade dos
fatos narrados na inicial não enseja
necessariamente a procedência da ação,
porquanto seus efeitos não incidem sobre o
direito da parte, mas tão-somente sobre a
matéria de fato. Imóvel urbano. Composse.
Herdeiro que detém a posse de coisa comum
indivisa oriunda de direitos hereditários.
Ausência de atos que demonstrem o alegado
esbulho. Descabida, ademais, a pretensão de
excluir a posse de outro co-possuidor por meio de
ação de reintegração de posse. Sentença mantida.
Elevação da verba honorária. Art. 85, §11, CPC.
Recurso não provido.

Cuida-se de apelação respondida e bem


processada por meio da qual os apelantes querem ver reformada a r.
sentença de fls. 92/94, que julgou improcedente a ação de

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reintegração de posse por eles intentada em face de Cleivison


Oliveira Campos, condenando-os ao pagamento de custas, despesas
processuais e honorários advocatícios arbitrados em 15% do valor
atualizado da causa. Suscita, preliminarmente, cerceamento de
defesa, por não lhes ter sido oportunizada a realização de prova
testemunhal tempestivamente requerida. No mérito, sustentam, em
síntese, que o douto Juiz a quo não se atentou à revelia do apelado,
que apresentou defesa intempestiva. Defendem a proteção
possessória, diante do esbulho sofrido. Pedem o provimento do
recurso, para observada a presunção da veracidade dos fatos, julgar
a ação procedente, com inversão da sucumbência.

Recurso recebido no efeito suspensivo. Não


houve oposição ao julgamento virtual.

É o relatório.

A preliminar arguida fica desde já rejeitada.

O julgamento antecipado da lide não implica


cerceamento de defesa quando os elementos de instrução constantes
dos autos são suficientes para a solução da controvérsia.

É cediço que: “Sendo o juiz o destinatário da


prova, somente a ele cumpre aferir sobre a necessidade ou não de
sua realização (RT 305/121)”. No mesmo sentido, tem-se o
pensamento do Superior Tribunal de Justiça, in verbis: “Tendo o
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magistrado elementos suficientes para o esclarecimento da questão,


fica o mesmo autorizado a dispensar a produção de quaisquer
outras provas, ainda que já tenha saneado o processo, podendo
julgar antecipadamente a lide, sem que isso configure cerceamento
de defesa” (STJ - 6ª Turma - Resp 57.861-GO Relator Ministro
Anselmo Santiago - j. 17/02/1998).

Passo ao mérito.

Para bem situar os contornos da lide, faz-se


necessário dizer que os apelantes ingressaram com a presente ação
de reintegração de posse, com a qual pretendem ver cessado esbulho
praticado por seu sobrinho e filho no imóvel objeto da lide.

O imóvel em questão é de propriedade


comum da apelante, Cecília, e suas irmãs, Ana e Conceição, ambas
falecidas, sendo esta última genitora do apelado.

Assim, o apelado é herdeiro do imóvel objeto


da ação. A posse do espólio é evidente, na medida em que, pelo
princípio da saisine, uma vez aberta a sucessão, a posse da herança,
ainda que indireta, transmite-se, desde logo, aos herdeiros.

Como o apelado é herdeiro, é ele, por força do


art. 1207 do Código Civil, continuador da posse de sua mãe, porque
se tem uma continuação da posse, pelo sucessor universal.

Tal conclusão é apoiada no conjunto


probatório dos autos, mormente as declarações das testemunhas
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colacionadas aos autos e não impugnadas pelos apelantes, muito


embora tenham sido devidamente intimados para tanto (fls. 91).

Desse modo, o apelado não é possuidor de má-


fé. Exerce composse sobre o imóvel em litígio. Não há, assim, que
se falar em esbulho.

E nem se alegue que a ação haveria de ser


julgada procedente em razão da revelia do apelado.

Não se nega que, de fato, o apelado deixou


transcorrer in albis o prazo para oferecimento de sua defesa, pelo
que se operou a revelia, com a consequente presunção de veracidade
sobre os fatos narrados na inicial.

Entretanto, é preciso distinguir a revelia de


seus efeitos: no caso em apreço, conjugando-se o disposto nos
artigos 344 e 355, II, ambos do Código de Processo Civil, tem-se
que a presunção da veracidade, incidente sobre a matéria fática, em
nada beneficia os autores.

Há que se atentar para a circunstância de que


se trata de ação de reintegração de posse sobre coisa indivisa,
havida em composse, de modo que também devem ser observadas
questões eminentemente de direito, versando, pois, somente sobre
as teses jurídicas aplicáveis ao caso.

Assim, presumir verdadeiros os fatos narrados


na inicial não enseja procedência da ação. No processo civil
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vigoram os brocardos “da mihi factum, dabo tibi jus, jura novit
curia.” Ainda que verdadeiros os fatos, o direito declarado, o é por
livre convicção do juiz, desde que devidamente fundamentado.

Ademais, é defeso ao co-possuidor de coisa


comum e indivisa pretender excluir a posse daquele que também a
recebeu em razão de direitos hereditários, mediante ação de
reintegração de posse.

A r. sentença, pois, deve ser prestigiada.

Diante do exposto, pelo meu voto, é negado


provimento ao recurso, mantida a r. sentença tal como proferida. Em
decorrência, eleva-se a verba honorária de 15% para 20% do valor
atualizado da causa, ressalvado o disposto no art. 98, §3º, do Código
de Processo Civil.

DÉCIO RODRIGUES
Relator

Apelação Cível nº 1001898-50.2017.8.26.0191 -Voto nº 8157 6

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