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co, cujo signifü:ado d criva d,t _lógi(,l d ._1 cn nst ru çüo e ,lia mi ti ficação. Por h .

n1enciona a ecologi a, l) urharnsmo e 11 cultu 1-;1 <..nrnn oulras ju<;tificativas PP Yr 1os


' . arau rn
retorno .w d.1:-s1c1smu. " 1

•\ h,un s tt'nrico.,, ClH\lo 1)ia nc ( ;J1ir(1rdo, ;1kgam qu e a arquitetnrn hict ..


' __... _ • _ . • oric1st;i .
1

IlltH.krt1 t1 tende a t.1zcr uma 1ntt-rprL·U1\·no cqu1vocada e '-iclet1va da hi')t<'ni ~ . . Po~


. . 1, . I' . . e rl tgnrira
l

suas t\.'sponsnbilida1.. k s S( lCHllS, ecP ogicas e pu 1tJ u ls 11 1n1.s ampl;:i '). Critica e,;c-;;.i ahdir r
. 1· <' l ( '1 . 1 · .-1c ,1r 1
l·u:'\ titic id • nc 1() forma tsnio. .nmo excrnp o, , 11rar<.. u evoca rl <ltttudr· cfo r
, , , r , .. , . , . . -, • • ' ar9u1tet,>~ de
scmpl"l'gndt)S nos t ◄. st,\dn~ U111dos d,1 década Jr 1970, qu e, cm vez de 'ic dedicarem
_it'tar utopias so(iais. rcfugiarnm -s_c n~ fetid~e de uma «an-iuite~ura no papf-1'' (cap. ~Jpr 1
c:ontrastando com a apropnaçao , m uitas vezes superfic1al, de imagen<i t· d _
• • • • , 1r-l a~ d:t
hi~toria da arqmtetura por parte d os h1stonc1stas pos-modernos, outrcy, arauitPt
rt'ssaltaram em seus escritos e projetos os valo res positivos da abstração () ~ .'
1
'
. fr;11Jrr1P
inaugural do Pratt Journal, p o r exemplo, apresentou variadas discussõe5 em tor ,J ·
'- 0() IJd
permanência do valor d a abstr ação . D e modo an álogo, o sublime contemporânee, ctP
Lyotard contesta a n oção de que a abstração carece de conteúdo, oferecendo co,..,..11,()·
exemplo as tentativas de artistas modernos de ((apresentarem o inapresentável" cc
universo das idéias.

TERCEIRO TEMA: O LUGAR

Nas últimas dé•t;adas têm se tornado cada vez mais claro que essa abordagem pragma-
tica [o funcionalismo] conduz a um ambiente esquemático e descaracterizado, ser:!
grandes possibilidades para a habitação humana. Daí a importância assumida pelo
problema do significado na arquitetura.133

Hom em, arqu it etu ra e natureza

A relação do homem com a natureza é um antigo problema filosófico salientado por


fen omenologistas como Norberg-Schulz. A concepção da natureza como "o outro" da
cultura é um tema duradouro n o pensamento ocidental. Por exemplo, a luta do homem
contra uma natureza ameaçadora caracteriza as idéias iluministas acerca do sublime.
De sde a Revo1uçao - In d ustnal,
· o progresso tecnolog1co
, · d·1mmum
· · ª necessidade .
dessa 1u t ª pe1a so brev1·vênc1a.
· Os descon stru cionistas chegaram a d'izer que a antiga
· - . _ nte com
oposiçao entre n atureza e cultura h avia sido superad a e se tornado 1n e1ev.ª
· · da a
todas as demais oposições binárias. Se isso é verdade, terá sido também ehmma
. , . fi ara actti·
es t rutura bmana? Para alguns, depois da conquista da n atureza, o desa O P
. . e de sua
tura proviria agora do p ólo oposto d o espectro: do conh ecim en to humano i-
c . . . a Hurnan
iorma mstrumentahzada, a tecnologia. Com o p rogresso das tecnologias,
dade instalou um a crise ambiental global.

56
A arquitetura domina, lit cn l , ,· l .
. • cs1m10 11c-1mc 11 t f'
abngo. No período nré-indt .. . . { e, a,c.; orças da natureza para prover
r is 1na 1, a prod uçã 0 d .
referências estruturadas e as . _ < e sentido na arquitetura baseava-se cm
. , , soc1açocs com a n t . ~ .
a analogia da m,iquina em r• d· . . ª UI cza. A arquitetura moderna abraçou
. Iugdr ,l ,1na log1a orgâ · A· d . . .
nn11tas vezes projetadas cot t . . e mca. "m a que a~ máquinas sqam
. . 11 1c1sc nos s1s1cmas natur . . . d 1
mal 1mpcdm a arquitetura d -, . e, .. . a is, o se u uso como mo e o for -
1..: 'e crn -se d ire lam ente à n t . , I é bl
norque a desneito dos . . , . . e ª ureza. sso um pro ema,
r_ ' , _r , ,lvanços tccnológ1cos, uma das atr'b . .
tmua a ser a sunbolização da osi ão d . . i uiçõc:-i da arquitetura con-
p ç O home m no mtenor do mundo natural.

Lu gar e geniu s loci

Albert Einstein
.d .fidefine o lugar «como uma pequena porção da superfície da Terra que
se po d e 1• ,,entI car• por •um nom e [··· ] uma espec1e
, · de ordem dos obJetos
. materiais e
134
nada mais .. - O. h1stonador da arqm·tetura p eter Collms · aceita essa definição e apro-
fun da suas 1mphcações:

Ora, est e é precisamente o tipo de espaço implicaà.o no projeto arquitetônico, e é pos-


sível dizer que um "lugar " [P1ace, em mg· lAes] (plaza, piazza ) é a maior extensão do
espaço com que um arquiteto é capaz de lidar como obra de arte unificada.135

As t~orias do lugar, que se originam da fenomenologia e da geografia física, 136 enfati-


zam a especificidade da experiência espacial e, em alguns casos, a idéia do genius loci,
ou espírito específico do lugar. O lugar fornece um modo de resistir ao relativismo das
teorias m odernas da história pelo engajamento do corpo e sua capacidade de verificar
as qualid ades especiais de um sítio.
Muitos arquitetos e teóricos contemporâneos, entre eles Gregotti, Raimund
Abraham, Tadao Ando e Norberg-Schulz, partilham da proposição de Heidegger de
que a relação com a natureza é fundamental para o enriquecimento da experiência
humana. Norberg-Schulz afirma que é responsabilidade do arquiteto descobrir o ge-
nius Zoei e fazer projetos de um modo tal (criar o lugar) que dê conta dessa presença
singular (cap. 9) . Em outras palavras, Norberg-Schulz preconiza a intervenção do
homem para intensificar os atributos naturais da situação local. Os fenomenólogos
enalteceram certos elementos significativos da arquitetura como <'materializações da
diferença": «Fronteiras e soleiras são elementos constitutivos do lugar. Fazem parte de
uma figura que revela a espacialidade em questão".
Para Gregotti, criar o lugar é o ato primordial da arquitetura, sua origem; assen-
tar uma pedra no terreno é o início de "modificações" que transformam o lugar em
arquitetura ( cap. 7 ) . Ele afirma que a arquitetura é constituída por relações estruturais
(especialmente diferenças) no ambiente, as quais, tal como a estrutura na linguagem,

57
tornam possível compreendê-lo. Essa 110,·éio de diferen ça exp li ca a ênfase ele Grc otf
1
mensuração de intcrvalns l' ll1 vez da presença de objetos isolados. )\ tarefa do arg . na
• J · 1· J . ( . qtu teto
é revelar a naturcz~, , s1tuanoo e utt 1zanüo a paisagem. ) 111tcrc~i;;c at ual cm .
. c0nstru1r e
local 1.i· rdk tc o desejo de cna r um lug:1r, como propugnam Norberg-Schulz 0 >
. Je ,,regou1

Confronto e hnbitação

.A ins~ri,·àt) 11 0 (pcal a que se refere Abrah am mostra claramen te uma atitude de int.
n:-w·ão agn·ssiva na paisagem. Descrevendo esse processo em "Negaçáo e r, . ~r
.,. ~ _ ecnncd,a
ção ... Abraham afuma:

.É a conquista do local, a transformação de sua natureza topográfica, que evidencia 'i


1
raízes ontológicas da arquitetura. Projetar é apenas u m ato secundário e subseqúen-e
cujo propósito é reconciliar as conseqüências da intervenção inicial, da colisão e da
negação. ( cap. 10)

O trabalho teórico e prático de Abraham revela um compromisso com o princípio do


engajamento entre a arquitetura e a paisagem. Talvez existam métodos menos violen-
tos de conceituar e realizar essa interação, de tal forma que o processo de projeto seja
mais que uma remediação da «conquista". Outros arquitetos pós-modernos, como
Ando, por exemplo, preconizam um papel mais definido para o processo do projeto
do que o sugerido por Abraham.
O ensaio de H eidegger «Construir, habitar, pensar" propõe uma relação respon-
sável com respeito à natureza em seu conceito de poupar, ou cuidar da terra. Poupar
libera alguma coisa à sua própria essência. Pode ter o sentido de limpar um lugar para
ser habitado, ou respeitar um lugar do jeito como é encontrado. Tadao Ando sente
''a necessidade de descobrir a arquitetura que o terreno b usca por si só", porque ·:a
presença da arquitetura - independentemente do seu caráter auto-suficiente - ena
inevitavelmente uma paisagem" (cap. 10).
Arquitetos e paisagistas contemporâneos têm o utra maneira de est abelecer
uma relação responsável com a natureza: p r opo rcionand o, com seu trab alho,
uma mold ura à apreen são espiritual da n atureza, o q ue é con siderado essen-
cial ª uma existência significativa . N um artigo recente, intitulado "Por _nov~s
h orizon tes n a arquitetura", Ando frisa o papel primordial d e sua arquitetu~a
em possi·b·1·
1 itar a presença da natureza na vida u rbana moderna. Propoe - que a
.
arq uitetura se torne um lugar onde as p essoas e a n atureza se con ron
f tem sob.
um senso t o1erave , 1 de tensão [ ... ] que despertará as sens1b1h. . .d a des espirituais
~
1atentes n o h ornem contemporâneo " . Isso nos traz de novo à mente a noçao
heid eggerian a d o habitar.
Lug ar e regionalism o

Parcialmente inspirado na fcnomcnolo ·. 0 1. ~ . .


·bTd d l h . gi.l, cgionalismo críti co de Frampton procu-
ra a poss1 1 1 a e e o a 6 1lar num ·l arq ·t
. (. . ) C . d • Ul etura Cjll c tenha mais significado de experiên-
cia Lap. n . ompart1 111a o reco nh eci c.l
_ . . , ,. . . . rncn lo a construção regional, vcrna.cular, e sua
pet uha1 ~cns1b1hdadc à luz, ao vento e à , - r .
. . . , . -, . ., . . _ s con e 1çõcs térm ica\, qL1c dita uma resposta
arqmtetõnica ,1daptc:ldc1 elo lugar específico o . · . • - -
. . _. · 1cg1ona1ismo crít ico propoe a noçao de
que pro1etos chmaticamcnte definidos obtcr1.o b I d · ·
, _ •. · , " . . , _. . ~ e ons rcsu ta os estéticos e ecológJCos e
st:rao capazes de.:; 1cs1st11
. às pressoes homogeneizad oras do capita · t·ismo mo derno. Con-
cordando. com Heidegger· , Frampton res1·ste a essas 10rças e • · .
umversahzantes delimitando
um recmto seguro na terra e sob o céu · Os seus m od elos geralmente se caracten·zam
por uma abordagem arquitetônica que enfatiza a topografia do local.
Outro aspecto. . comum aos reg1·onal1ºstas cn't·1cos e, uma at1tu · d e cntica
, · em relaçao
· - ao
uso de materiais de construção produzidos em série. Sem apregoar um retorno a mé-
todos construtivos primitivos, Frampton evoca a visão poética de Semper sobre as di-
feren ças inerentes aos sistemas construtivos do esqueleto (aéreo) e da parede portante
("telúrica", ligada à terra) (cap. 12). A riqueza que pode resultar do contraste entre os
dois sistemas e a articulação de sua junção é fundamental para a comunicação tectôni-
ca. Em vez de imagens cenográficas, é possível comunicar uma narrativa plena de sig-
nificados por intermédio dos elementos construtivos e de sua articulação cuidadosa.
Nem todos os teóricos da arquitetura concordam quanto à importância do lugar.
Perez- Gom es, p or exemplo, apesar de seus ensaios sugerirem uma orientação feno-
menológica, critica a noção de genius Zoei como "um simulacro pós-moderno vazio,
incapaz de revelar algo mais profundo" no contexto de nossas cidades cheias de shop-
ping centers e redes viárias. 138 Perez-Gomes propõe, ao contrário, que se reinvente o
sítio com o um espaço aberto e liberador.
Alguns teóricos da cultura pós-industrial também aventaram a possibilidade de
a concepção fenomen ológica do lugar ser saudosista e ultrapassada. Jean Baudrillard,
Christine Boyer e Ellen Dunham-Jones, entre outros, analisaram os problemas da
transfo rmação e desmaterialização do mundo fís ico pela nova mídia eletrônica. En-
contros como "Between Digital Seduction and Salvation" (Pratt, 1992) e "Buildings
and Reality: A Symp osium on Architecture in the Age of Information" (University of
Texas, 1986) , ofereceram oportunidades para uma reflexão sobre o signific ado dessas
mudanças. Tal com o afirma Peter Eisenman em "Visões que se desdobram: a arqui-
tetura na era da m ídia eletrônica": "O paradigma eletrônico impõe um form idável
desafio à arquitetura, porque define a realidade em termos de ~ídia e simulação, e
· m ais
va1 or12a · a aparenc1
" ·a do que a existência" (cap · 13). Nossa atitude
. perante o lugar
tende a ser afetada pela substituição da experiência tátil e espao al do corpo por um
paradigma de experiên cia virtual.

59
Essas críticas apontam para um dos problemas emergentes na teoria da ar .
a vanação · · -- d·~1 1·ca
das dcfim«i,ocs ,. ·1m
· l d
a e. A dcmarcação ou construçao
. - de um quitetur ª·•
nrcssivo de um domímo . pu··b11·co ou pnva . do or denado, será no futuro . 1ugar físi' -
eº , ex ., r ~ · 1rr e1eva
redundante ou retórica? Qual será o efeito da desm aterialização eletrô nica d nte,
. ·, . l -:- ,· b 1·, t·d ,, . a corn uni .
.._,-a· sclbre a an.1mtctura, CUJcl pt oc u1y-c:1 0 sim o 1za so 1 ez, permanênc ia e
Cu lyc 0 ' cornunh-
cultural? Quais serão suas conseqüências sobre o paisagismo, que é efêmero te ar)
,, ·1 A • é , rnporal
e dinâmico? A "aldeia glo~a l e ct~·ü111c~1 uma ~mcaç~ para o_lugar e O sign ifi cado? Ern
artigo rec~ntc, o arquiteto Ezra Ehrenkrantz prev m drásticas conseqüê n .
1Ul1 .. . . c1a5 ecnnô-
micas e sociais p ara as cidades norte-americanas estruturadas com base em uma r
. - · d · e - 139 · P JPU-
lação de recep to res em d 1spersao na superv1a a 1n1orm açao. As suas p reocu a _
,. d . b . p çoe)
seriam reforçadas por uma sen e e teonas ur an as que su rgiram quando 05 ar .
9Ulteto')
pós-modernos redescobriram a cidade como um terreno p ara a atividade arquitetônic-
4
em diversos níveis: socioeconômico, político, h istórico, fo rmal, poético e artístico.

QUAR TO TEM A: A TE ORIA URBANA

Na década de 1960, a renovação urbana e as intervenções m odernistas radicais haviam


dilacerado o tecido urbano a ponto de torná-lo irreconhecível. Os arquitetos, que há
quarenta an os vinh am se preocupando exclusivamente com a criação de "objetos',
isolados (com o o Museu Guggenheim e o Edifício da Seagram em Nova York), come-
çaram a p erceber que não havia mais nenhuma referência básica para a leitura desses
objetos. Seus edifícios, ao contrário, flutuavam em um ((espaço aberto" modernista,
ilimitado e indiferenciado. A transformação de terrenos em paisagens ou jardins ha-
via sido negligenciada ao longo do século xx, retardando a evolução progressiva de
quatrocentos anos de uma tradição paisagística. Criou-se, além disso , um consenso
em torno d a declaração de Rowe e Koetter de que ((a cidade d a arquitetura moderna
[... ] ainda não foi construída. Apesar de toda a boa vontade e das boas intenções de
seus protagonistas, a cidade continuou a ser um projeto ou um aborto". i-1o
Essa situação de crise é percebida seja por planejadores seja por arquitetos, que mui-
tas vezes responsabilizam_os primeiros pela má implementação de boas idéias. O zone~-
mento funcional, por exemplo, (estabelecido pela primeira vez em 1916, em Nova York~ e
alvo de críticas ferozes dos pós-modernistas por seu tratamento negativo da planificaçao
urbana. Regulamentando juridicamente a divisão dos usos diferenciados do solo urbano
uns dos outros, o zoneamento visa p roteger o valor das propriedades e os seus o~upan-
t es d e con fl'ltos d e uso prej udiciais. M as o zoneamento também amplia• as d.is(an c1as en-
t re as resi·d"encias,
· o comerc10, · e outras necessidades da vida
. cotidiana,
• · aumentªndo, em
.. " . d t lado os
consequencia, a ependência da sociedade em relação ao automóvel. Por ou ro '
padrões de planejamento do sistema viário privilegia o fluxo de c&rrus, quase sempre em
detrim ento da circulação dos pedestres e do sentimento de vizinhança.

60
Nos Estados Unidos, a aspiraç1o à . .
. •• • t ' Lnsa própria unifamiliar, e ao au tom óvel par-
ticular, tem contr 1buído para o espraia me l l
. . . ' n °<.as mcgalópolcc:; à medida que vão sur-
gmdo novas á1eas de comérc10 vareJ·ista .11..
.. . , e Pc a atender aos mercados rcc:; idc nci ai s emer-
gentes. Finalmente , área s de escritó rio s coni ., .
. . . . ' cçctm a ser con struídas no s subúrb1oc:; 1 11
para d1mmmr o te mpo de vi agem de casa até 0 t h Ih . .
. ·' ra a o cm localidades co nges t10 na -
das e sem transporte colct1vo . O s problemas d • [
. . . ' , o espraiam ento sprawl l' 1' - desenvol-
vimento
• •
sem 1dcntidadc,
. ,
perda•
do cont-ito
e ·
corn a,. na, t ureza,
, d csoricntaçao
• - - e a pro-
babilidade de que os suburb10s e as cidades se expand am até se con f un d irem . e
1oram
Previstos pelo romancista f talo Calvino em sua descri·ça~ o d as c1·aad es " contin
, uas,, :

Você avança por horas e não sabe com certeza se J·a, est a, no meio· da c1·d ade ou am
· da
fora dela. [...] fora de Pentesiléia existe um lado de 1ora.
e ? o u, por mais· que voce, se
afaste da cidade ' nada faz ale'm d e passar d e um 1·imbo para outro sem Jamais
· · con-
143
seguir sair dali?

A descrição de Calvino se aplicaria perfeitamente à costa leste dos Estados Unidos e a


suas «Bos-Wash m egalópoles" [de Boston a Washington].
Os jornalistas também aderiram à crítica pós-moderna da cidade. São desse
período livros que atacam o urbanismo moderno. M orte e vida nas grandes cidades
(1961), 144 de Jane Jacobs, lança um apelo à revisão dos modelos de renovação urbana.
Segundo Jacobs, o planejamento institucionalizado não demonstrou ser capaz de pre-
ver os resultados de suas ações. De seu ponto de vista, é evidente que o planejamento
produz a degradação do ambiente, o que pode ser talvez atribuído à falta de atenção
dos arquitetos à cidade «real". Cerca de vinte anos depois, James Howard Kunstler,
autor de Th e Geography ofNowhere (1993), investiu contra o padrão norte- americano
de uso do solo que não se modificou desde a Segunda Guerra Mundial: expansão su-
burbana desordenada e crescimento das áreas comerciais ao longo das rodovias. Em
suas palestras, ele insiste na adoção do urbanismo neotradicional como um antídoto
aos males urbanos contemporâneos, muitos dos quais ele atribui ao automóvel. Kuns-
tler afirma que a solução para a alienação, o crime e a degradação ambiental são as
pequenas comunidades construídas nos moldes da cidadezinha norte-americana de
Main Street, em que se respeitam os pedestres.
A crítica da cidade moderna, iniciada na década de 1960, se estende aos projetos
utópicos, às "reconstruções" em grandes proporções, às teorias prescritivas e codifica-
ções da forma urbana e às defesas de objetivos urbanísticos modernos não concretiza-
dos. Entre as inúmeras propostas, esta antologia apresenta três concepções urbanísticas
pós-modernas, escolhidas por sua influência ou pertinência nos Estados Unidos: o con-
textualismo, representado por Rowe, Koetter e Thomas Schumacher; o «populismo",
ou a Main Street americana, representada por Venturi, Scott Brown e Steven Izenour

61
(do escritório de arquite tu ra v sBA); e um nwJdo de "cidade con temporân ea" l
represen tado nela,
propos ta lk Koo lhaas (cap . 6) . Al é m el e di scutir essas t ;,.
· , , k<; pcrs
g obal,.
vas , cst,1 f nt n)d11ção apn:s<:nta as linhas gaa is do nco - racio na li c; mo curop ' pe_ct, -
. . CU , <1í JS C()(j'1
gos no rte-americanos de desenho urbano L' da ap li cação d a .scmiologia a cid ade. •

Pode-se dizer que t:rnto o ~:ont cx tual ismo como o populismo dcscn 1
. . . , vo vcram-'if'
110 ._ meios un ivcrs11,ínos. f' q ue nasceram do trabalho coletivo de profec;('o
' . _ ' rc'lcaluno,
··
interessados no estudo d,1 cidade e na c labo raçao d e propostas para nova s e<;trat ~ .
. d · eg1as
J e desenho urbano. O ra ana 11san o as pzazze romanas, ora a Strip de I V.
. . . , ,a s ega,;;, r)-;
estudantt':-- de arqmtctura de Yale e Cornell contnbmram para a formulacãc d .
,. . . . . ) e teorias
dt' grandt: influencia, que foram postenorm ente publicadas pelos professore,;,. f_J;: fatr
Schumacher, um dos alunos de Rowe, publicou um artigo sobre o método d- , l >
d Cf) a-
gem'' no desenho urbano antes do seu p rofessor.
A brilhante e provocadora interpretação de Manhattan feita por Koolhaas em Deli.
rious New York (1978, 1994) também contou com a ajuda de seus alunos no IAus. Menos
uma crítica do que uma exaltação da "cultura do congestionamento" de Nova York r
- ' J

livro adota um tratamento da cidade semelhante ao que o grupo VSBA usou com relacão
a Las Vegas. A obra de Koolhaas é "um manifesto em prol de uma nova era do 'manhat-
tanismo', desta vez na forma de uma doutrina explícita que transcende a ilha original e
reivindica para si um lugar entre os urbanismos contemporâneos". 145 A intenção do livro,
como foi a de Aprendendo com Las Vegas, é a de refutar as opiniões arrasadora.mente
negativas sobre Nova York que predominam entre os arquitetos. A análise de Koolhaas
sobre as características formais que definem a cidade ilustra bem sua abordagem:

A malha [grid] é, antes de tudo, urna especulação conceituai; [... ] em sua indiferença
pela topografia, pelo que existe, ela declara a superioridade da construção mental sobre
a realidade. Por meio da demarcação de suas ruas e quarteirões, [a malha] proclama que
a subjugação, quando não a obliteração, da natureza é sua verdadeira ambição.146

O fascínio de uma cidade que "afastou seu território para tão longe do natural quanto
é humanamente possível" evidencia-se nos projetos e seqüências narrativas oníricas
que Koolhaas ap resenta em seu livro. Na década de 1980, ele estendeu seü otimismo
aos estudos urbanos das "edge cities" de Atlanta, Seul e da periferia de Paris.

Contextu a lismo

O artigo seminal de Rowe e Koetter, intitulado "Collage City" (1975), descreveu as in-
fluentes estratégias analíticas e p rojetuais ainda hoje ensin adas em algumas faculdades
de arquitetura. O artigo começa por Rom a:

62
aq~i p ropo st a co mo um.i esp éc il· de lll l)<..kl o que pode <;cr im agina do como uma alter-
n at i~a ao des astroso ur banismo dil cngc nh:iri,1 <.ocial e do projeto total [ ...l as estrutu -
ras tisica t' polític:1de Ro n1.l pro porcio nam o qu e ta lvez '>cja o melho r exemplo gráfico
Jc campos cnlit-kn tcs e ru ínas in tcrstiçiai.s. (( ap. 6)

A cnfosc especial na rl.'1 .-l\'. ÜO L'n lrc figura e fundo e nos mapas de Ro ma de [G iambattista]
Nolli, bem como n:, Vih, Adriana , conferiu -lhes uma dimensão emblemáti ca no período
pôs-modem<). As similaridades da vila com a organização formal da Roma do século
xv11 levarnm ":'\ quela inextricável fusão de imposição e acomodação [... ]que é ao mesmo
tempo uma dialética de tipos ideais somada [.. .] a um contexto empírico". Essa conjun-
ção de opostos, que se amplia no livro de Rowe e Koetter para incluir outros pares, como
ordem/desordem, simples/complexo, privado/público, inovação/tradição, é similar em
form a e intenção (que poderíamos resumir na expressão «acomodação e coexistência")
à argwnentação de Venturi em Complexidade e contradição. Rowe, Koetter e V enturi
foram todos influenciados pela concepção positiva da ambivalência na teoria da Gestalt,
que permite uma multiplicidade de leituras. (Rowe também enfatizou a ambivalência no
artigo acima citado «Transparência: Literal e fenomênica" .)
A Rom a imperial é um exemplo do que Ross e Koetter chamam de «mentalida-
de da bricolagem", uma propensão às mesclas assistemáticas, não-científicas, que re-
sistem a todo impulso totalizante do planejamento urbano . Entre outros fenômenos,
esses autores criticam a tentativa de aplicar a lógica positivista a algo tão impreciso
quanto a arquitetura e o desenho urbano. Eles citam as No tes on the Synthesis of Form,
de Alexander, por seu admirável mas inatingível esforço de eliminar valores e precon-
ceitos pessoais do processo de projeto a fim de assegurar universalidade. A posição
antitotalitária que prevalece no discurso de Rowe e Koetter apóia-se nos escritos pró-
democráticos de Karl Popper; eles defendem um posicionamento mais genuinamente
populista d o que o do Aprendendo com Las Vegas, dos arquitetos do VS BA .
Rowe e Koetter distinguem a bricolagem ( termo qu e tomam emprestado de
Claude Lévi-Strauss) da colagem, na qual «objetos e episódios são inconveniente-
mente importados e, apesar de conservarem os indícios de suas origens e fo n tes, ad-
quirem um efeito inteiramente novo devido à mudança de contexto". O interesse da
colagem como uma técnica u rbanística pós-m oderna pode ser avaliado por sua defi-
nição como «um modo de conferir integridad e a uma mistura confusa de referências
pluralistas", que «p ermite tratar a Utop ia como imagem e em fragmentos" . As téc-
nicas gráficas d e leitura desenvolvidas por Rowe e a escola de Cornell fornecem um
vocabulário (baseado em relações sólido/vazio) e uma sintaxe que ainda permanece
válida para d escrever e compreen der a cidad e.
Rowe e Koetter n ão usaram a palavra «contextualismo" : foi Sch umach er quem
a empregou p ara referir-se ao trabalho deles em seu ensaio de 1971, intitulado «Con -

63
textualism: Urban Idea is and I le form at io ns". 1ksdc en tao, u >11lcxt u,1 li .s mn j)a .
~ . . . S'i(JIJ <l
significar pouco mais que "urn_a_.1 J cq w11;an ;'Is t.·:~~1d 1\ocs_ cx1s tcnt ~·s", de <tcord(i t on,
Richard Tngcrso lL que n qu a ltf1 ca c omo t1111n 1<.kologrn tcllo n '. ' 1 RcLcn terncnt ,
Schumachcr cscn·n·u um ar!igo 110 qu,11 anali sa ;.ts di storçocs . , ofridas P<'lo cnn ct..:llqt,

lkpo is da d 1 ,uH,1tb rt·volu ,·ao pô s 111ndnn:1, o te rmo '\ ontc xtu ;di<-irn <> " p,ic;sou <1 ,('

. '() . 1· 1, !() 1 certa'- nwnil~·s la(OCS csti lís ti1: íl s cl . IÁ r


corno acont ece l.O ln ,J m ;;ií<>ri· 1
' 1::,;:,. l ' ' ' ' . . . .. ,t <; 1( l'l,t\ '
rt)npr,id;ts pda arquitl'turn. Rdcna -se a p rédios <lc llJolos vcr mclhoc; cc, n~truídr)c, r.rn
b:lirro~ de tij0 !os vt' rnH:lhos, enfeite b arato sobre enfeite barato. 11 i1

As teorias da leitura e do sign ifi cado

.A partir de ensaios como o de Roland Barthes intitulado <<Semiologia e urban ismo",


de 1967, a semiologia também teve um impacto na p ercepção da cidade no período
pós-moderno. Nesse texto , Barthes sugere um processo de leitura da cidade como
texto, que aplica um modelo lingüístico do significado derivado das relações estrutu-
radas entre objetos na cidade. Assim, escreve Barthes,

Uma cidade é um tecido [... ] de elementos fortes e elementos neutros [não-acentua-


dos} [... ] (sabe-se que a oposição entre o signo e a ausência de signo, entre o grau
pleno e o grau zero, é um dos principais processos na elaboração do sentido)_t-1 9

Os arquitetos pós-modernos abraçaram a lingüística como uma maneira de codificar em


um sistema o significado arquitetônico. Mas, evidenciando um movimento em direção ao
pensamento pós-estruturalista, Barthes assinala nesse ensaio a «erosão da noção de léxico",
que prometia estabelecer uma correspondência biunívoca entre significantes e significados,
na qual assentava-se a idéia de simbolismo. Apesar dessa erosão, diz Barthes, a cidade conti-
nuará a significar. A seguinte analogia sintetiza sua concepção da condição urbana:

Toda cidade é construída, feita por nós, um pouco à imagem do navio Argo, cujos
pedaços foram sendo substituídos com o passar do tempo, mas que permaneceu para
5
sempre o Argo, isto é, um conjunto de significados bem legíveis e identificáveis. t º

Agre st e Gandelsonas investigaram a ap licação dessas idéias estruturalistas e pós-es-


truturalistas ao desenho urbano. O modelo interdisciplinar de crítica formulado por
Barthes também é evidente em seus escritos, especialmente numa série de ensaios de
AgreSl sobre urbanismo. É interessante notar que Agreste Tschumi propõem O eStll dº
da representação no cinema e o uso das técnicas cinematográficas como formas de
abordar a experiência da arquitetura na cidade. Conforme Agrest:

64
No começo deste sfr nlo, o rc fcr, 1 I · . . . . .
_ . cn e ,ltlíStllo l da arqu 1tctur,\ era a pintura. Esse refe-
rente nao é mutto produtivo d ,. . . . .
, ...... "' . . quun o aoo1 damos a arqu itetura a partir do urbano. Um
rdc 1t ntc mais fecundo é O cit1, . . .
, cni,,. u111 sistema complexo que se desenrola no tempo
e no espaço. 1., i

Tsch umi preferiu en fatizar um outro aspecto da di scussão de ílarth es <;obre a cidad e:
a pouco
.
lembr.-lda
.. .
"dimensão erótica,, que Bartl1cs, 1·dent1·fi ca como o motivo · d a atra-
ção da pentena
, pelo centro
. da cidade · O ensa 1·0 d e T se h um1· "O prazer d a arquitetura
· "
(c~_P· 13) e claramente mfluenciado por «Semiologia e urbanismo" e "O prazer do tex-
to · de Barthes.

A imagem da cid ad e

É interessante comparar essas idéias de ler a cidade como um texto com as do urbanis-
ta Kevin Lynch. Em seu livro A imagem da cidade (1960), ele analisa como as pessoas
se orientam no ambiente. Um dos primeiros críticos da cidade do pós-guerra, Lynch
insiste na necessidade de uma ordem visual no entorno humano capaz de ser guar-
dada na m emória. A imagibilidade ou legibilidade da forma se tornaram importantes
atributos almejados por arquitetos e projetistas urbanos preocupados com a questão
da comunicação do significado. De acordo com Lynch, o sentido se localiza na possi-
bilidade de distinguir caminhos, limites, nódulos, 152 bairros e pontos de referência na
paisagem. Na opinião de Barthes, Lynch foi quem ((mais se aproximou dos problemas
de uma semântica urbana", mas observa que sua ((concepção da cidade permanece
mais 'gestáltica' do que estrutu_!"al". As idéias de Lynch são usadas por Norberg-Schulz
e outros fenomenólogos para defender a relevância do lugar.

O urbani smo europeu: neo-racionalismo e tipolog i a

Rossi também reconhece em Lynch a inspiração para sua tese de que a orientação es-
pacial na cidade provém da experiência de episódios significativos, como os r~c~ntos
monumentais. A idéia estruturalista de que a cidade se torna legível pela repetiçao de
· d ut1ve1s,
componentes elementares (1rre ' · arque t'1p1c
· os) , aos quais a memória coletiva
_
dá sentido, define a leitura poética da cidade para Rossi. Ele também estuda a funçao
do tipo na cidade européia como repositório da memória coletiva e c~m~~r~ a opera-
- d l t rban os permanentes à função das estruturas hngu1sticas fixas
çao esses e emen os u . . .
de Ferdinand de Saussure. Em A arquitetura da cidade (1982), Ross1 explica sua 1nt~n-
- d ·e sto sob re a tipologia e o desenho urbano como uma reaçao
çao e escrever u m man11e .
ºd d d ·sta Ele trata a cidade como um artefato, um obJeto que nasce
contra a c1 a e mo ern1 . .
o uma representação dos valores culturais.
d o trab alh o h umano, e Com
65
A lembrança, cm Rossi, do que a cidade .s im boliza to i cx tremanw ntc i,n
. . i ,. . J • • po ria nt ,
ara nór de novo cm toco ,l t( cw üc fa zer arquitetura em um cont cxt , L e
P r .. _ . . , . . . .. . . . . , _ . i uroa nq: '()
contraste cnt n: o par lllll l,H e o um VL I s,ll, o ind1v1du ,1l e o <.:nlct Ivo, <·mc rge d;:i .·
_ . • • , , 1, 1 cidadce
de sua r 0 nstruçao , sun arqu1tc 11 11 :i . ·

Ro ssi t·-unb~m rci ntn)d uziu a no,;fw de tipologi;1como um:1 fe rram 1


. .. , . . . . , ., . ., , ._ t'n ,1 analític.1
t . como base ra t·w nal pilt ,l u m pt ou:sso p, 1lJC l u._1I de t ra n!-,formar ã<) J\ Li ·
0 "l Uu 1nh·
• 'l' •
tJUt: "o tino é a il-k ia rncsm n e.la arq uitet u ra, o que mai s !-,C aproxima cl . ar
r . . . . . e <i ua ec;c;ên
4.:ia .. , 1:--1 Ross i revela sua c.: rença n a 1dé1a subJaccn tc de leis fixas, de tip<J) a prfori
h ·iviarn· sido · dcsqua t·11lca . ~ dos n o peno ' d o 1no der n o . EIe con tra sta certw a,. 'que
• • · . . . · ~ )pectc,<; Jr.
banos permanentes, co1no os espaços habitac1ona1s e os mon umentos, com elem.
. d ,, . , . '' d
tos "catalisa ores pnmanos, que retar amou ace er am o processo de urb an1z,,
1 en
._
ção". 1:- 5 Po r suas atividades como ensaísta, professor e autor de importantes ob r:~
arquitetônicas, con10 o Teatro d el M ondo, o Segrate Town Center e o Cemitério d~
Modena, Rossi é considerad o o líder d o movimento n eo- racionalista italiano, La
Tendenza . Na sua introdu ção a A arquitetura da cidade, Eisenman refuta uma recep-
cão das idéias de Rossi como contextuais:
)

À luz do recente desenvolvimento de um chamado urbanismo contextual, que veio


a dominar a teoria urbana cerca de quinze anos depois da primeira publicação deste
livro, o texto de Rossi pode ser visto como uma argumentação antecipatória e preven-
tiva contra o «formalismo vazio" do contexto reduzido a uma simples relação entre
figura e fundo. 156

O arquiteto Leon Krier tem uma visão diferente da gama de tipos disponíveis, embora
concorde em princípio com Rossi sobre a importância deles na constituição do espaço
urbano. Krier vai buscar seus tipos no neoclassicismo ilumin ista e na cidade pré-indus-
trial do século XVIII. U sanda uma taxonomia de tipos de construção urbana (que incluem
espaços, edifícios e m étodos construtivos) e um repertório deliberadamente limitado ~
racionalizado de materiais de construção, Krier pretende reintroduzir o rigor na arqw·
tetura e no urbanismo. A recriação do domínio público requer lugares e monument_~s
1
significativos, que precisam apoiar-se num tenso entorno de construções em "fabric". ~.

Enquanto Rossi se preocupa antes de tudo em fazer uma intervenção no context~ da


cidade, Krier dedicou-se a uma ampla reconstrução da cidade européia como um pr~Jeto
, . D e. , , d mais res-
cntICo. e 1ato, ele defendeu firmemente que o projeto não constrmdo e O mo O . .

Ponsave' 1d e enga3ar
· o pensamento arquitetônico nas atuais con d.1çoes
- socIO· econôrmcas.
cc did
nesse exato momento, a reflexão arquitetônica só pode ser empreen a por
meio de urn
._
, • , · • . , . ,, 1ss Para I(neJ.,
exercICio pratICo, sep na forma de uma crítica, seja na de um pro3eto cntico · ,
'bil'd , a1·, imposta pe1a
ª possi 1 ade de um trabalho visionário utópico continua aberta, e e, ias, . ·
d d - · . · d reconsutui-
egra açao do urbamsmo contemporâneo. Krier se ocupa pnnc1palmente ª

66
ção de espaços públicos exter iores ahcrtos e hcr11 ddimitados a rna, a praç.a ele. - como
"par~e de ~ma visão integral dn sociedade 1... 1 parte de llma luta política". 1 '" O lugar públi -
co simboliza as responsabilidades éticas do cidadã 0 _
Kricr tamb(.'tn d iscute o mito modern ista de q11c a industri aliza ção do proce,;-;o
construti vo viria a libcrt;u o trnhnl hado r. Por ironi í1 , Jiz d e,

A industr ializa,·ao n,1(1 crio u ncni téi..: nicas de cons tru çao mai \ rápida ne m uma tec-
nolo!;ia (onstrntiva melhor. Longe de mel horar as co nd ições ffsicac; do trabalho , el a
ft'd uziu o trabalh o manual a u m a experiência emb ru tecedora e escravi zante, que de-
gradou um ofício milenar e d igno a um exercício socialmente alienante. 1,;n

Foi isso que deu base à decisão de Krier de não construir, decisão da qual voltou atrás
quando teve a oportunidade de construir sua própria casa em Seaside, na Flórida.
Nesse projeto, ele se decidiu pelo emprego de materiais industrializados com uma
exagerada sensibilidade tectônica, que pretendia recuperar a mitificação da constru-
ção expressa nos detalhes clássicos.

Apr endendo com a lingüística

Enquanto Complexidade e contradição em arquitetura remete a precedentes europeus,


Aprendendo com Las Vegas aceita como um dado o desenvolvimento da "highway
strip" norte-americana e defende um ponto de vista mais abertamente populista. Em
Aprendendo com Las Vegas, Venturi, Scott Brown e Izenour (do escritório vs BA) fo-
ram também influenciados pela teoria da comunicação, especialmente pela semiótica.
A discussão dos autores sobre as construções dos tipos "pato" e "galpão decorado" 161
consiste, em essência, em um argumento acerca da reincorporação da função simbó-
lica na função literal como um momento necessário da arquitetura. A questão passa a
ser então a de como realizar a simbolização: por sua expressão na forma tridimensio-
nal do "signo como edifício" (o "pato" funcionalista moderno) ou por uma placa bi-
dimensio nal pregada na fachada do prédio (o "galpão" pós-moderno)? É preciso que
se note também que os aspectos simbólicos da arquitetura moderna não eram reco-
nhecidos naquela época, posto que a teoria funcionalista sustenta que a arquitetura se
limita a operar por meio da análise científica do programa para determinar e acomo-
dar as necessidades do cliente. 162 Afirmar que muitas das obras-primas da arquitetura
moderna são ''patos" é um a grave acusação desses teóricos pós-modernos.
Dada a importância do automóvel no estudo do VS BA sobre Las Vegas, muitas deci-
sões foram tomadas do ponto de vista dos veículos que trafegam pela rodovia. Assim, os
autores definem que letreiros de enormes dimensões fun cionam muito bem para comu-
nicar mensagens de conteúdo tanto comercial como cívico ("Eu sou um monumento") ,

67
em estradas com lím!te d~ velocidade ~e 80 km / h_. Eles também privilegiam um
elementos da tríade v1truvia na, a comod1dadc , que mel ui a idéia de convcni·e~ . dos
· _ . nc1a, e
além disso, retorça a escolha do letreiro sobre o galpão decorado. Venturi e colab que,
res insistem cm dizer que o letreiro pregado nas paredes da "caixa bruta" (a dum~rtdo.
~ a forma mais eco nômica , e, portanto, ma is honesta e adequada de comunicar. JOx)
Esse argumen to - baseado na aceitação das condições existente<; da ec
" . ~ . , . . onomia de
mercado e dos métodos us uais de co nstruçao e elo urbanismo (melhor d.t d .
1 0 , a falt
deles) _ nào é neutro, mas reafirma o sta tus quo em desenvolvimento no E ª
. . s stadoc;
Unidos do hnal do século x x ; portanto, é um ponto de vista conservador. Além d.
. . ô . "fil fi ,, d . Ili<;()
a visão da teona arqmtet nica, ou a oso a o proJeto do grupo V SBA sur e '
demais utilitarista e prescritiva: isto é, só é útil aquilo que "ajuda a relacionar fg por
163
ormas
com os requisitos,,. Um exemplo da função apologética do livro é a discussão sobre
0 «pato" versus o ((galpão decorado,,, que resume o ponto de vista conformista doe;

autores. Eles avaliam a reação dos norte-americanos ao ambiente construído e eon-


cluem que não há demanda para um padrão de qualidade superior ao kitsch. Supõem.
portanto, que as pessoas estão satisfeitas com as condições existentes e que a sua abor-
dagem da cidade deve refletir esse sentimento. Em comparação com o arquiteto «he-
rói,,, arrogante, do movimento moderno, o aporte do VSB A é bastante modesto. Mas,
apesar de tentarem claramente corrigir a visão do mundo e de seus objetos franca-
mente negativa do movimento moderno, a sua abordagem acrítica também errou 0
alvo. Estabelecer uma comparação entre dois extremos igualmente absurdos é uma
estratégia retórica que o grupo tem usado com sucesso em diversas ocasiões. Quanto
à Strip, é possível que o seu verdadeiro objetivo fosse o de encontrar um meio-termo
entre a rejeição total e a aceitação total.

As "e dg e cities": 164 o padrão contemporâneo de desenvo lvime nto

Os ensaios teóricos recentes de Koolhaas também aceitam generosamente as condi-


ções atuais de expansão desordenada e produção ilimitada de não-lugares. Ele busca
descobrir as virtudes em meio a esta situação nas franjas periféricas da cidade, que ou-
tros ignoraram em benefício do centro urbano mais bem definido. No artigo "Rumo
à cidade contemporânea,,, Koolhaas faz questão de distinguir sua pesquisa de outras
,. . usuais,
tendencias . pos-mo
, d ernas, enquanto uma "alternativa
. paramo derna,,
· · Koolhaas
.
também defendeu a adoção de uma estratégia diferente no planejamento do proJ~to
habitacional da IBA (International Building Exhibition ) em Berlim. Outros arquite-
.
t os viram na IB A uma oportunidade de reconstrução massiva . d a ci'd ade, segundo as
. has neotradicionais propostas por Krier. Koolhaas, no entanto, sugenu
1m · deixar que
1
a ci'dade devastada pela guerra continuasse a m ostrar sua histona
· , · e propos " "fazer deª
d
, · d e arquipélago territorial - um sistema de ilh as arqmte
uma espec1e · ton " icas cerca as

68
Por florestas e lagos ' cm o1 uc "u,',> ·m f.t..,l-estt.utun\s pudessem fu nc io · nar sem ca usa r da -
nos" (cap. 6 )- Tal como os teóricos histo ricistas pós-modernos , Koolhaas é favo rável à
noção d~ século X I X de "remodelar sem destru ir a ci dade preexistente". As diferenças
anarccenam
r . . . . na cscollH
' • do '. _Ili'....' e de como
· ed 111car.
·r. · bás1
/\ sua estratégia ·ca co ns1stma
· · ·
cm mtensiticar f' to rnar claras as co nd i~·ocs existentes medi ante um con traste entre o
espaço aber to e a editicaçJo densa .
Koolhaas provavelmente aprovaria o tratamento dado por Stcphen .Holl as. edge
âtics norte-amer ica nas. '"'.- Holl projetou para a cidade de Phoenix um complexo aé-
reo pro un-inspired, que ele chama de «barras espaciais retenta ras", e imaginou para
a cidade de Cleveland triângulos intensamente edificados entremeados por triângu-
los arborizados. Esses projetos, que resistem ao espraiamento urbano pela deliberada
construção de fronteiras, são coerentes com o interesse fenomenológico de Holl na
especificid ade do lugar, algo presente em seu livro Anchoring [Ancoragem] (1989 ).
A importância das fro n teiras assin alada por Heidegger torno u-se fundamental para
repensar o espaço m od erno (ver H arries, cap. 8). O valor atribuído ao espaço car-
tesiano anônimo e inin terrupto, uma expressão de liberdade, deve ser considerado
no confronto com a necessidade humana do familiar e da segurança proporcionada
pelos limites. Os p rojetos de grande escala de Holl, assim como os de interiores mais
íntim os (a disp osição flexível dos apartamentos do conjunto residencial de Fukuoka:
"o espaço dobrado"), reafirmam essa dialética. Projetos como o dos "setores espirala-
dos" para a cidade de Dallas contêm uma crítica que se desdobra em vários níveis: ao
plano diretor, à dependência atual do automóvel e aos problemas ambientais que daí
decorrem, à hegemonia do sonho burguês com a vida nos subúrbios de classe média,
e aos m étodos e m ateriais de construção existentes.

O novo u·r bani smo americano: os códigos do desenho

Uma d as manifestações teóricas recentes erroneamente asso ciadas ao contextualis-


mo é a dos "neotradicionalistas", que se reúnem regularm ente no Congresso para o
Novo Urbanismo. 166 Esses teóricos urbanos p ós-m odernos preconizam que os ar-
quitetos devem resistir ao domínio da edge city contemp orânea. A redação de códi-
gos p rescritivos para novas cid ades, que caracteriza o trabalho do grupo Andrés D u-
any e Elizabeth Plater-Zyb erk Arquitetos Associados (DP Z), reconhecidas lideranças
desse m ovim en to, aspira a uma coerência estilística (freqüentemente associada a um
ideal vitorian o ) e uma harmonia de recuos, gabaritos e alinhamen tos, e entre tipos
de edificação . A comunidade p arcialmente construída de Seaside provocou ao mes-
mo tem p o admiração e pesadas críticas, e acabou obrigando os arquitetos respon-
sáveis p elo projeto a adotar uma atitude defensiva com relação às suas implicações
ecológicas, sociais e estilísticas. 167 Embora o DPZ afirme que seu trabalho não diz

69
respeito ao estilo, a m a ior park dos SL'l1,..; admiradores provém dos arquit L h·
. , . . e ns 1,t
ricistas r-nós- modernos. r~cv1dé nl cm<:ntc dos 111corpor~1dorcs de muito.:; er.st· d
, a ns e
().
nàt._) cessam de cnconH:ndar projc tos de novas cidades cm áreas suburbana" ' IUe
. . . . . . 1
1<0l)p/
e a seus colegas d o l : Nu . f•,sscs c mprcc nd ,mentos 1mohil1ário .;; tem O poder de ·
'i . j . j • l 1CS -
ncrtar l) pa rn d ox,\l e nos t~\ g1co l CSCJO l ns norte ameri canos p()r um sin .1
r- • . iu acrnde
trad ição (e seus valo res co rrdatos ), a111 d a q u e cs t<.:Jam mora ndo cm umr1
_ , . . . _ casa nov,
nh":t cm to lh a constru ida co m as mai s r ece n tes rm1taçocs de matcriai .:; de e
• . . . , . on<;truçàr,
produzidas p ela 111d u.s tna pct ro q u1 m 1ca.

QUINTO TE MA: AG ENDA S ÉTI CAS E POLÍTI CAS

A crítica urbana pós-modern a espelhou-se na discussão de grandes questões política,;


~ éticas entre os teóricos da arquitetura. No centro do debate está o problem a de que
tipo de papel a arquitetura, como disciplina, deve desempenh ar n a sociedade. De saí-
da, me vêm à mente qu atro p ossibilidades: (1) a arquitetura pode ser indiferente às
preocupações sociais e a seus mod os de exp ressão e representação; (2) a arquitetura
pode colocar-se a favor do status quo e aceitar as condições existentes; (3) a arquitetu-
ra pode guiar p acificamente a sociedade para um novo rumo; (4) a arquitetura pode
fazer uma crítica radical e reconstruir a sociedade. A escolha de uma dessas possi-
bilidades dep end e da resposta que se dê à seguinte pergunta básica: a arquitetura é
primordialmente uma arte ou um serviço profission al? As diversas opiniões repre-
sentadas n esta seção por uma série de artigos escritos desde 1975 se inserem no debate
ético e político que vem se intensificando na teoria da arquitetura.
A questão do papel social da arquitetura é geralmente tratada do ponto de vista
da possibilidade e da qualidade moral de uma posição autônoma. Tema onipresen-
te na literatura desse período, a autonomia pode ser interpretada de várias maneiras,
ora como neutra, ora como crítica, ora como reacionária, e é geralmente associada
a um discurso interno e auto- referencial de criação da forma. Nesse último sentido,
autonomia é quase sinôn imo de fo rmalismo, enten dendo -se por formalismo apre-
ponderância de uma preocupação com as questões formais e a exclusão dos temas
socioculturais e históricos, inclusive os que dizem respeito a materiais e métodos de
construção . Essa atitude autô noma pode ser a do criador da obra ou a de um obser-
vador ou intérprete. O objeto arq uitetônico que dela resulta geralmente é ª~ st rato e
de natureza não representacional. Para identificar uma posição de autonomia,ª teo-
r·1ª arqm·t etontca pos-moderna esforça-se por d efinºlf quais
A • , · sao- os elementos internos
.
ou exclus1vos d o d 1scurso:
. a forma, a função, a maten·a1·d d
1 a e ou O 1
t"po serão essen-
· · ?S ' · ·
ciais. era que uma arqmtetura que versa sobre arqmtetura e, algo comun icável a urna
. .
comun1·d a de mais · ? segun do Tschwn 1, ª
· ampla? Poderá ela ser crítica desta maneira.
• << h' t re and Trans-
arqu1tetura nunca pode ser totalmente auto-referencial. Em Are itec u

70

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