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CORTESE et al.

A label survey to identify ingredients potentially containing GM organisms to estimate intake exposure
in Brazil. Public Health Nutrition, v. 21, n. 14, p. 2698-2713, 2018.

Uma pesquisa com rótulos para identificar ingredientes possivelmente contendo organismos
geneticamente modificados para estimar a exposição de consumo no Brasil

Ingredientes geneticamente modificados em alimentos embalados

Resumo

Objetivo: Identificar ingredientes provenientes de produtos e subprodutos derivados de culturas


geneticamente modificadas (GM) em alimentos embalados e analisar a presença desses ingredientes
nos alimentos mais consumidos pela população brasileira.
Desenho: Estudo transversal do tipo censo.
Local: Busca na literatura científica para identificar o uso de produtos e subprodutos derivados de
culturas GM em alimentos no Brasil e estudo com rótulos de alimentos em um supermercado
pertencente a uma das dez maiores redes de supermercados do Brasil.
Sujeitos: Para identificar os ingredientes presentes nos alimentos embalados e suas nomenclaturas,
foram analisados os rótulos de todos os alimentos embalados disponíveis para venda em um
supermercado. Posteriormente, foi analisada a presença de ingredientes possivelmente GM nos
alimentos mais consumidos pela população brasileira.
Resultados: Foram identificados um total de 28 subprodutos de culturas GM (soja, milho e algodão
e uma levedura) com aplicações para a indústria alimentícia. Tais subprodutos estão presentes como
ingredientes ou aditivos alimentares nos rótulos dos alimentos com aproximadamente 101
nomenclaturas distintas. A maior parte da variedade (63,8%) e da quantidade (64,5%) dos alimentos
mais consumidos pelos brasileiros pode conter algum ingrediente GM.
Conclusão: A presença de pelo menos um ingrediente possivelmente GM foi observada em mais da
metade da variedade dos alimentos mais consumidos pela população brasileira. Tais ingredientes
foram identificados com nomenclaturas distintas e descrições incompletas, o que pode dificultar a
identificação de alimentos possivelmente GM e confundir o consumidor ao fazer escolhas
alimentares.

Palavras-chave: Organismos geneticamente modificados; Alimentos geneticamente modificados;


Rotulagem de alimentos; Rótulos dos alimentos

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in Brazil. Public Health Nutrition, v. 21, n. 14, p. 2698-2713, 2018.

Introdução

A produção de alimentos geneticamente modificados (GM) está aumentando no mundo,


independente do nível de desenvolvimento dos países. Os alimentos GM são derivados de
organismos cujo material genético (DNA) foi modificado de uma forma que não ocorreria
1, 2
naturalmente . Eles também são chamados de transgênicos. No Brasil, possuem finalidades
agronômicas diversas, destacando-se a tolerância a herbicidas e a resistência a insetos 3.
O Brasil é o segundo país que mais planta sementes GM no mundo, ocupando uma área de
4
49,1 milhões de hectares, o que equivale a 27% da produção mundial de OGM e a
aproximadamente 70% da área cultivável brasileira 5. Além disso, do total de soja, milho e algodão
cultivados no Brasil, 96,5%, 88,4% e 78,3%, respectivamente, são GM 4, sem considerar as
possibilidades de contaminação biológica do plantio ao processamento 6. Entre 1998 e 2018 foram
aprovados para cultivo e liberados para consumo no Brasil: 16 variedades de soja; 44 de milho, 15
de algodão e uma levedura (Saccharomyces cerevisiae), além de uma variedade de feijão que ainda
não está disponível para consumo 7.
A partir desses dados, pode-se inferir que a maioria dos alimentos comercializados no Brasil
que possuem soja, milho ou algodão na sua composição provém de plantas GM. Os ingredientes
provenientes de produtos e subprodutos derivados de soja, milho e algodão são amplamente
utilizados pela indústria de alimentos, pela grande produção agrícola, por seu baixo custo e
finalidades 8, 9 e estão cada vez mais presentes na alimentação da população 10.
Este fato é evidenciado por estudos sobre detecção laboratorial de OGM em alimentos
brasileiros, onde se observou a presença de ingredientes GM em carnes processadas, salsicha,
linguiça, presunto, produtos de panificação e salgadinhos, bem como produtos a base de soja e
milho, como leite de soja em pó, bebidas de soja, biscoitos, sopas instantâneas, sobremesas, entre
outros 11-14.
Estudos têm demonstrado que o consumo de alimentos GM pode causar danos à saúde,
15
principalmente quando considerados os agrotóxicos associados . Em animais, observou-se
toxicidade hepática e renal, bem como o surgimento de tumores em ratos alimentados com milho
16-18 19
GM , inflamação no estômago em suínos alimentados com soja e milho GM e danos às
20
membranas mucosas da superfície do jejuno em ratos alimentados com milho GM . Em humanos,
esses danos foram associados a problemas neurológicos, alterações hormonais, infertilidade, câncer,
diabetes, obesidade, desordens gastrointestinais, depressão, doença cardíaca, autismo, doença de
Alzheimer e doença celíaca 21-26.

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Nos últimos anos, foi observado um aumento nos produtos contendo OGM e um aumento
das doenças no âmbito da saúde pública global, bem como o aumento do uso de agrotóxicos
25, 27, 28 25
associados às culturas GM . Swanson et al. mostraram que o aumento significativo na
incidência de 22 doenças crônicas nos Estados Unidos correlaciona-se fortemente com o aumento
do cultivo de plantas GM e a aplicação de herbicidas à base de glifosato, evidenciando seus efeitos
sobre a saúde humana. Assim, o consumo destes alimentos tem sérias implicações para a saúde
pública, a exposição a agrotóxicos e os consequentes riscos de intoxicações agudas e crônicas, além
das doenças citadas acima.
Considerando os possíveis impactos causados pelo consumo de alimentos GM, o princípio
da precaução deve ser adotado. Segundo este princípio, quando existir ameaça ou risco de danos
sérios ou irreversíveis, a falta de certeza científica não deve ser utilizada como razão para impedir
medidas de precaução. Em outras palavras, este princípio preconiza a adoção de medidas contra
riscos potenciais que, de acordo com o estado atual do conhecimento, ainda não podem ser
identificados 29.
Visando cumprir o princípio da precaução, é fundamental que a população tenha acesso a
informações sobre a presença de ingredientes GM nos rótulos dos alimentos. No Brasil, a
disponibilização de informações nos rótulos busca garantir o direito à informação, instituído pela
Constituição Federal de 1988 e preconizado pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC), que
afirma que a informação adequada e clara sobre a composição dos alimentos é um direito básico do
consumidor 30, 31.
Segundo a Lei de Biossegurança no 11.105/2005 (Art. 40) 2, os alimentos e ingredientes
alimentares destinados ao consumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir
de OGM ou derivados deverão conter informação em seus rótulos, conforme o Decreto no
4.680/2003. O Decreto estabelece que todos os alimentos e ingredientes alimentares que contenham
ou sejam produzidos a partir de OGM, com presença acima de 1% do produto, devem ser rotulados.
A Portaria no 2.658/2003 do Ministério da Justiça estabelece a identificação de OGM no rótulo, por
meio do símbolo T, no centro de um triângulo amarelo 32, 33. Contudo, estudos brasileiros revelaram
a presença de ingredientes GM em alimentos embalados com quantidade superior a 1% sem,
contudo, informar a presença destes componentes no rótulo, conforme a legislação de rotulagem de
13, 14, 34
OGM . Assim, é evidente que o direito do consumidor à informação sobre a presença de
ingredientes GM nos rótulos não está sendo garantido.
A hipótese do presente estudo é que a maioria dos alimentos consumidos pela população
brasileira pode conter derivados de soja, milho e/ou algodão GM. Isso se deve ao crescente cultivo
de soja, milho e algodão GM no Brasil (que representa 96,5% da soja, 88,4% do milho e 78,3% do

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algodão cultivados no país) e o fato destas plantas darem origem a muitos subprodutos utilizados
pela indústria alimentar. Entretanto, a apresentação desses produtos ou subprodutos na lista de
ingredientes pode ser confusa para os consumidores, porque os termos são complexos e difíceis de
entender ou podem não esclarecer sua origem (como nos casos de maltodextrina, amido e goma de
guar). No entanto, nós não identificamos esse tipo de estudo na literatura.
Diante disso, o objetivo do presente estudo foi identificar ingredientes provenientes de
produtos e subprodutos derivados de culturas GM em rótulos de alimentos embalados
comercializados em um supermercado e analisar se estes ingredientes estão presentes nos alimentos
mais consumidos pela população brasileira.

Método
O presente estudo trata-se de um estudo transversal, descritivo e exploratório, que foi
realizado em três etapas (Figura 1).

Figura 1. Etapas do estudo com rótulos para identificar ingredientes possivelmente GM para estimar
a exposição de consumo no Brasil.

ETAPAS MÉTODO RESULTADOS

Identificar os produtos e subprodutos de Buscar na literatura os produtos e


Lista de ingredientes derivados de soja,
soja, milho e algodão utilizados pela subprodutos de soja, milho e algodão e
milho e algodão
indústria de alimentos seus usos pela indústria de alimentos

Lista de novos ingredientes


Identificar os ingredientes Transcrever as listas de ingredientes dos possivelmente GM não identificados na
possivelmente GMs em rótulos de rótulos de alimentos coletados a partir etapa anterior
alimentos industrializados de censo em supermercado Análise das nomenclaturas utilizadas
para derivados de soja, milho e algodão

Analisar a presença dos ingredientes - Identificar os alimentos mais


Identificação de ingredientes
possivelmente GMs nos alimentos mais consumidos pela população brasileira
possivelmente GMs em alimentos
consumidos pela população brasileira, segundo dados de consumo da Pesquisa
embalados mais consumidos pela
segundo dados de consumo alimentar da de Orçamentos Familiares
população brasileira
Pesquisa de Orçamentos Familiares - Analisar os alimentos com presença de
ingredientes possivelmente GMs
- Identificar esses alimentos no banco
de dados e analisar a presença de
ingredientes presentes nas listas de
ingredientes

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Etapa 1
Na primeira etapa foi realizada revisão de literatura nas bases de dados de artigos Scopus e
SciELO, Google acadêmico, livros, sites e documentos para identificar produtos e subprodutos
possivelmente derivados de culturas GM aprovadas para consumo no Brasil que são utilizados
como ingredientes pela indústria alimentícia. As palavras-chave utilizadas nas buscas foram:
soybean, corn, cottonseed, Saccharomyces cerevisiae, em combinação com food industry e
technological application. Além disso, utilizou-se a técnica de “bola de neve”, realizando-se busca
de artigos nas referências dos estudos encontrados. Esta etapa teve como objetivo criar uma lista
inicial de produtos e subprodutos derivados de soja, milho e algodão, bem como seus usos, uma vez
que muitos destes podem não ser reconhecidos como ingredientes derivados de soja, milho ou
algodão apenas a partir das nomenclaturas usadas nas listas de ingredientes. Os dados foram
analisados e os resultados são expressos qualitativamente com a finalidade tecnológica dos
ingredientes para a indústria de alimentos.

Etapa 2
Na segunda etapa, estes produtos e subprodutos foram identificados em rótulos de alimentos
embalados disponíveis para venda em um grande supermercado no Brasil. O supermercado
selecionado pertence a uma das dez maiores redes brasileiras, segundo a Associação Brasileira de
Supermercados, com 27 lojas em todo o país. Ainda, buscou-se identificar outras possíveis
nomenclaturas para produtos e subprodutos derivados de culturas GM presentes nos rótulos, mas
não identificados previamente na literatura.
Foram incluídos no estudo todos os alimentos embalados que preenchiam os critérios
estabelecidos pela regulamentação brasileira e no âmbito do Mercosul sobre rotulagem de alimentos
embalados (n. 259/2002) 35. A análise realizada em todos os alimentos embalados comercializados
aumenta a possibilidade de os mesmos alimentos serem vendidos em outros países. Além disso,
poucos países realizaram análise da rotulagem considerando todos os alimentos disponíveis em um
36-41
supermercado . Os alimentos dispensados da rotulagem obrigatória (embalados na presença do
consumidor), bem como aqueles destinados ao consumo animal, não foram incluídos.
Foram registradas informações sobre a identificação do alimento: denominação, nome
comercial, marca, fabricante e país de origem. Todos os rótulos foram fotografados para posterior
identificação, transcrição e análise da lista de ingredientes. Os coletadores foram treinados e os
dados coletados com o auxílio de tablets, por meio de formulários eletrônicos desenvolvidos no
software EpiCollect plus. No total foram coletadas informações de 5048 alimentos durante cinco
meses em 2013-2014.

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Foi realizada a análise referente às informações presentes na lista de ingredientes de todos os


rótulos de alimentos coletados. Três pesquisadoras realizaram a transcrição exata dos ingredientes e
aditivos alimentares conforme a ordem em que se encontravam na lista de ingredientes do rótulo de
cada alimento utilizando o software Microsoft Excel®, 2010. Para fins de controle de qualidade,
houve a conferência dos dados transcritos por outras três pesquisadoras.
Com base nos resultados obtidos na etapa 1 de revisão de literatura, as listas de ingredientes
42-44
foram analisadas por meio da técnica de mineração de texto da linguagem R . Dessa forma,
todos os termos presentes nas listas de ingredientes dos alimentos do censo foram listados. A partir
dessa listagem, todas as informações sobre os ingredientes de todos os alimentos foram analisados
manualmente visando identificar a presença de outros ingredientes e da levedura Saccharomyces
cerevisiae, bem como das nomenclaturas utilizadas para os derivados de milho, soja e algodão.
Assim, identificou-se a presença de ingredientes derivados de produtos e subprodutos destas
culturas, não elencados inicialmente. Nos casos de ingredientes que não continham as palavras
“milho”, “soja” e “algodão”, como a goma guar e o ácido cítrico, a literatura foi novamente
consultada para confirmar a origem de tais ingredientes.
Destaca-se que a lista de ingredientes de um rótulo é a única maneira dos consumidores
identificarem a presença de ingredientes possivelmente GM em alimentos embalados
comercializados no Brasil. Isso ocorre porque a legislação de rotulagem de OGM não é
frequentemente seguida.
Em relação a ingredientes que não deixavam clara a sua origem, considerou-se passível de
serem subprodutos derivados de milho, soja ou algodão quando a literatura científica considerasse
essa possibilidade. Para exemplificar, um ingrediente específico é o amido, que pode ser
proveniente do milho, da mandioca ou de outros cereais. Quando um ingrediente não especifica sua
origem, existe a possibilidade de ser um subproduto do milho e, por isso, foi considerado passível
de conter OGM. Já um exemplo de ingrediente passível de dúvidas é a margarina, posto que a
informação completa dos ingredientes utilizados na sua elaboração não é disponibilizada ao
consumidor. Assim, a margarina pode ser originada de óleo de girassol ou canola, mas existe a
possibilidade de ser de milho, soja ou algodão. Assim, na presença da dúvida, a margarina sem
denominação de origem foi considerada como passível de conter OGM.
Além disso, como este estudo analisa a situação do ponto de vista da informação ao
consumidor, partiu-se do princípio de que se o fabricante não fornece a denominação completa do
ingrediente, está deixando a dúvida quanto à sua origem e o cuidado da análise deve prever isto. Ou
seja, se o fabricante não utiliza ingredientes derivados de milho, soja, algodão ou que contêm a

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levedura Saccharomyces cerevisiae, ele deve deixar essa informação clara no rótulo, ou poderá ser
considerado como utilizando um ou mais destes ingredientes.

Etapa 3
A última etapa consistiu em identificar a possível presença de ingredientes derivados de
culturas GM nos alimentos mais consumidos pela população brasileira. Para tal, utilizaram-se dados
secundários de consumo per capita de alimentos observados na Pesquisa de Orçamentos Familiares
- POF 2008-2009 45. A POF é um inquérito de base populacional conduzido a cada cinco anos pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em uma amostra representativa de domicílios
brasileiros. Para informação de consumo alimentar pessoal foram utilizados dados de uma
subamostra de domicílios (n=13.569) selecionados aleatoriamente. O consumo de alimentos e
bebidas ao longo de 24 horas foi coletado por meio de registros alimentares em dois dias não
consecutivos, preenchidos por indivíduos acima de dez anos de idade (n=34.003). Detalhes sobre o
plano de amostragem e o desenho de estudo da POF podem ser encontrados no relatório do IBGE
45
.
Os informantes citaram um total de 1.121 alimentos. Estes alimentos foram agrupados em
45
24 grupos e 105 subgrupos . Para o presente estudo foram considerados todos os subgrupos de
alimentos definidos pela POF.
A partir dessa listagem de alimentos mais consumidos pela população brasileira, buscou-se
identificar os alimentos com presença de ingredientes provenientes de produtos e subprodutos
derivados de culturas de soja, milho e algodão ou que contêm a levedura Saccharomyces cerevisiae
(resultado das etapas 1 e 2, Tabela 1), possivelmente GM. Para isso, procedeu-se a busca no banco
de dados dos alimentos embalados coletados no supermercado, de alimentos iguais ou similares de
cada item alimentar dos grupos e subgrupos de alimentos mais consumidos pela população
brasileira. Foram analisados e listados todos os ingredientes possivelmente GM destes alimentos e
os resultados são expressos como “pode conter” quando algum alimento analisado continha o
ingrediente.

Resultados

Foram encontrados na literatura científica informações nominais de um produto derivado de


algodão, 13 produtos e subprodutos derivados de soja e 14 de milho, os quais constituem a matéria-
prima de diferentes ingredientes que possuem diversas finalidades para a indústria de alimentos. A
partir da listagem dos ingredientes dos 5048 alimentos analisados no censo no supermercado, foram

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identificadas 101 nomenclaturas distintas, correspondentes a ingredientes derivados de milho, soja e


algodão e referente à presença da levedura Saccharomyces cerevisiae, possivelmente GM. Desses,
30 eram termos referentes aos derivados de milho, 26 de soja, três de algodão e um referente à
levedura. Trinta e dois termos não informavam a origem do ingrediente, podendo ser comum aos
três, como gordura vegetal e óleo vegetal, que podem ser de milho, soja, algodão ou algum outro
vegetal.
A Tabela 1 mostra os produtos e subprodutos de milho, soja, algodão ou passíveis de serem
subprodutos, suas principais finalidades tecnológicas na indústria de alimentos e as nomenclaturas
encontradas nas listas de ingredientes dos 5048 produtos alimentícios analisados.

Tabela 1 – Subprodutos derivados de soja, milho e algodão utilizados pela indústria alimentícia,
suas principais aplicações tecnológicas e as nomenclaturas encontradas nas listas de ingredientes
dos 5048 alimentos embalados analisados, Brasil, 2013-2014.
Produtos Subprodutos
possivelmente possivelmente Finalidades tecnológicas na indústria de alimentos Nomenclaturas observadas
na rotulagem
GM GM
Algodão Óleo de algodão Utilizado para fritura e na composição de alimentos Algodão
industrializados Gordura vegetal*
Óleo de algodão
Óleo vegetal de algodão
Soja Extrato solúvel Usado como fonte de proteínas e pode ser usado como Extrato de soja
de soja (leite de alimento ou ingrediente de alimentos 65
soja)
Farinha de soja Utilizada como fonte de proteína para adicionar a Farelo de soja
Farinha de soja alimentos 66 Farinha de soja
desengordurada . Flocos de soja
Gritz de soja
Grits de soja
Fibra de soja Adicionada a alimentos para aumentar seu teor de fibras 67 Fibra de soja
Goma guar Utilizada como espessante, gelificante, emulsificante e Goma guar*
agente estabilizante em alimentos e bebidas 68. Pode ser
combinada com proteínas, alterando suas propriedades
reológicas, de solubilidade e gelificação e, assim, pode
conter traços de proteína de soja 69
Goma xantana Utilizada como agente de suspensão, gelificante, Goma xantana*
estabilizante, emulsificante, espessante e no controle das
propriedades reológicas de massas e farinhas, estendendo
o prazo de validade 70. Em combinação com a proteína de
soja, contribui para a gelificação e melhorar a textura de
alimentos. Assim, constitui um produto que pode conter
proteína de soja 71
Grão de soja Ingrediente de preparações culinárias, como sopas, molhos Soja
e saladas Grão de soja
Soja granulada
Soja tostada
Derivados de soja
Traço de soja
Lecitina de soja Contribui para a melhoria do volume, dispersão de gordura Lecitina*
e anti endurecimento em produtos de panificação, redução Lecitina de soja
da viscosidade e prevenção da cristalização em chocolates Leite em pó **
e é utilizada como estabilizante e emulsificante em
alimentos 72
Molho de soja Molho fermentado obtido da soja, utilizado como tempero Molho de soja
ou ingrediente culinário Shoyu
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Óleo de soja Utilizado como tempero, em frituras e para a produção de Óleo de soja
gorduras, como margarinas. Pode passar por processo de Óleo de soja vegetal
hidrogenação, interesterificação ou fracionamento, com o Óleo vegetal*
objetivo de se obter características adequadas de Gordura hidrogenada de soja
plasticidade no produto final 73. Os mono e diglicerídeos Gordura vegetal*
de ácidos graxos podem ser provenientes da soja e Gordura vegetal de soja
constituem componentes de muitos alimentos Gordura vegetal fracionada*
industrializados, sendo utilizados como estabilizantes 49 Gordura vegetal
hidrogenada*
Gordura vegetal
industrializada*
Gordura vegetal parcialmente
hidrogenada*
Mono e diglicerídeos de
ácidos graxos*
Margarina **
Pasta O missô pode ser utilizado no preparo de sopas, legumes e Missô
fermentada de no tempero de carnes
soja
Proteína isolada Utilizada como agente de consistência para produtos Proteína*
de soja derivados de carnes e como fonte proteica 9, 65, 74 Proteína de soja
Proteína hidrolisada de soja
Proteína isolada de soja
Proteína vegetal*
Proteína Fonte de proteína utilizada como ingrediente na Proteína*
concentrada de elaboração de alimentos 65 e em emulsões à base de carne, Proteína de soja
soja produtos de panificação, bebidas e sopas em pó, alimentos Proteína concentrada de soja
para bebês e cereais 9 Proteína vegetal*
Proteína Utilizada como ingrediente de alimentos, como fonte Proteína*
texturizada de proteica e como extensor em produtos de carne 65, devido Proteína de soja
soja às suas propriedades de ligação de água, de emulsão de Proteína texturizada de soja
gorduras, de agente estabilizador e pelas características Proteína vegetal*
organolépticas, como textura, aparência e firmeza do
produto final 75
Milho Ácido cítrico Produzido pela fermentação de matérias-primas de baixo Ácido cítrico*
custo baseadas em amido e sacarose, sendo o milho a
matéria-prima mais comumente utilizada 76. É usado na
indústria de alimentos e bebidas como um acidulante ou
antioxidante para preservar ou realçar os sabores e aromas
77

Amido de milho Utilizado industrialmente para a obtenção de dextrose e Amido*


glicose 74 e como ingrediente culinário de preparações Amido de milho
Fermento **
Fermento químico **
Amido Utilizado como espessante, para controlar a perda de água Amido modificado*
modificado de em alimentos, bem como para favorecer a fermentação e a Amido de milho modificado
milho crocância em biscoitos 74 Amido modificado de milho
Amido pré-gelatinizado*
Amido Usado como espessante de molhos e na alimentação Amido de milho
dextrinizado infantil, por ser de mais fácil digestão 74
Dextrose de Utilizada como coberturas para bolos Dextrina
milho Dextrose de milho
Polidextrose*
Farinha e gritz Utilizada como ingrediente de preparações culinárias Farelo de milho
de milho Farinha de biju
Farinha de milho
Farinha de polenta
Flocos de milho
Fubá
Fubá de milho
Cereais não maltados*
Colorífico **
Gritz de milho
Milho em flocos

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Grão de milho Utilizado como ingrediente de preparações culinárias Canjica de milho


Creme de milho
Grão de milho
Milho
Milho integral em pó
Milho moído
Milho verde
Maltose de Tem propriedades de doçura, alta termostabilidade, baixa Maltose*
milho higroscopia e viscosidade, prevenindo a cristalização da
sacarose 78. A maltose também é importante na cervejaria,
porque seu conteúdo influencia a qualidade do produto
final, particularmente para cerveja 79
Maltodextrina Proporciona melhoria da textura, redução do sabor de Maltodextrina*
de milho farinha, modifica a doçura e controla o escurecimento não Maltodextrina de amido de
enzimático. Maltodextrina é utilizada como ingrediente em milho
produtos de confeitaria, produtos à base de carne, cervejas Maltodextrina de milho
sem álcool, molhos, alimentos infantis, sopas desidratadas
e bebidas esportivas 80
Óleo de milho Óleo comestível derivado do milho utilizado em Óleo de milho
preparações culinárias Óleo vegetal*
Óleo vegetal de milho
Proteína de Pode ser utilizada para enriquecer alimentos Proteína*
milho Proteína de milho
Sêmola de milho Uma das fontes de amido de cereais, resultado da moagem Sêmola de milho
incompleta do grão de milho. É utilizada na indústria de Sêmola*
alimentos para produzir produtos crocantes de baixa
umidade 81
Xarope de milho Confere sabor, cor, aroma, textura e doçura aos alimentos Glicose*
48
. É usado como umectante, prevenindo a perda de água Glicose de milho
do alimento, sendo também uma forma de introduzir Glucose*
açúcares redutores nas preparações, proporcionando uma Glucose de milho
maior coloração na superfície e uma textura mais crocante. Xarope de alta frutose*
Tem poder adoçante maior que o da sacarose e controla Xarope de glicose*
sua cristalização em doces e geleias 49, 82
Xarope de glicose de milho
Xarope de glicose-frutose
Xarope de glucose*
Xarope de glucose-frutose*
Xarope de milho
Xarope de milho com alto
teor de frutose
Xarope de milho de alta
frutose
Poliois Produzidos pela hidrólise parcial do amido de milho, trigo Xilitol*
ou batata e posterior hidrogenação do hidrolisado sob Manitol*
pressão a alta temperatura. São agentes de viscosidade ou Sorbitol*
de consistência, umectantes, modificadores da
cristalização e têm a função de adoçar 49
Leveduras Saccharomyces Na forma ativa, a Saccharomyces cerevisiae é utilizada na Fermento
cerevisiae indústria de panificação, por formar dióxido de carbono, e Fermento biológico
na fermentação alcoólica em cervejas e vinhos e em outros
processos fermentativos. Na forma inativa, é utilizada
como complemento nutritivo, aromatizante e realçador de
sabor. Produz a enzima invertase que é utilizada como
aditivo alimentar para produzir o açúcar invertido,
utilizado pela indústria de alimentos para a fabricação de
doces e sorvetes 51
*Ingredientes passíveis de serem subprodutos de milho, soja ou algodão.
**Ingredientes compostos listados nas listas de ingredientes que podem conter algum ingrediente derivado de milho,
soja ou algodão.

Das 101 nomenclaturas utilizadas para designar os ingredientes, 32 não especificavam a


origem, mas foram considerados passíveis de serem subprodutos de soja, milho e algodão, de

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acordo com a literatura científica e critérios já explicados no método. Tais ingredientes incluíam o
ácido cítrico, o óleo vegetal, a gordura vegetal (fracionada, hidrogenada, industrializada e
parcialmente hidrogenada), as gomas guar e xantana, os mono e diglicerídeos de ácidos graxos, a
lecitina, a proteína, a proteína vegetal, o amido, o amido modificado, a dextrina, a polidextrose, a
maltose, a maltodextrina, a sêmola, o xarope de glicose, a glicose, o xarope de alta frutose, o xarope
de glucose, o xarope de glucose-frutose, os poliois: xilitol, manitol e sorbitol, bem como os cereais
não maltados.
Outros exemplos de ingredientes passíveis de dúvidas são o colorífico, o fermento químico,
o leite em pó e a margarina, posto que a informação completa dos componentes de sua elaboração
não é disponibilizada quando estes ingredientes fazem parte da lista de ingredientes de alimentos
embalados. Contudo, sabe-se que tais ingredientes compostos contêm derivados de soja ou milho,
como o amido de milho (presente no colorífico e no fermento químico), a lecitina de soja (presente
no leite em pó) e os óleos de soja ou milho ou outro vegetal (componentes da margarina). O
fermento biológico, por sua vez, é composto pela levedura Saccharomyces cerevisiae e essa
informação também não é disponibilizada para o consumidor.
Dos 105 subgrupos alimentares consumidos pela população brasileira, 38 não continham
nenhum ingrediente possivelmente GM. Estes incluíam alimentos como arroz, feijão, frutas,
verduras, raízes, tubérculos e oleaginosas. A Tabela 2 mostra os ingredientes possivelmente GM
presentes na lista de ingredientes de alimentos embalados coletados no censo no supermercado.
Destaca-se que tais alimentos embalados continham pelo menos um dos ingredientes listados, mas
não significa que tenham necessariamente todos os ingredientes, devido à variação da composição
dos produtos.

Tabela 2 – Grupos e subgrupos dos alimentos industrializados mais consumidos pela população
brasileira, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (2008-2009), quantidade per capita média
consumida e os ingredientes possivelmente GM presentes na lista de ingredientes de alimentos
embalados coletados no censo no supermercado, Brasil, 2013-2014.
Consumo
Ingredientes possivelmente GMs presentes na lista
alimentar médio
Grupo Subgrupo de ingredientes dos alimentos embalados coletados
per capita diário
no censo
(g)
Café com leite: pode conter gordura vegetal, xarope
de glicose, maltodextrina e/ou lecitina de soja por
conter leite em pó
Café 215,1
Café tipo cappuccino: pode conter maltodextrina,
gordura vegetal, xarope de glicose e/ou lecitina de
Bebidas não soja por conter leite em pó
alcoólicas Sucos industrializados, refrescos e sucos em pó
Sucos/refrescos/sucos em pó reconstituídos de diversos sabores: podem conter
145,0
reconstituídos maltodextrina, ácido cítrico, aspartame e/ou goma
xantana
Refrigerantes 100,2 Pode conter amido de milho e/ou ácido cítrico
Outras bebidas não alcoólicas 2,7 Suplemento hidroeletrolítico: Pode conter glicose e/ou
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(bebida energética, água de ácido cítrico, que podem ser proveniente de milho
coco) GM
Leite de soja em pó e leite de soja com sabor/em pó:
estavam entre os alimentos mais consumidos, no
entanto não foram coletados no censo
Bebidas à base de soja 1,6 Bebidas à base de soja original ou com sabor podem
conter grãos de soja, extrato de soja, proteína de soja,
maltodextrina, goma xantana, lecitina de soja e/ou
ácido cítrico
Total 464,6
Animais podem ter recebido alimentação à base de
soja e milho GM
Tender: pode conter proteína de soja, maltodextrina,
xarope de glicose
Chester: pode conter proteína de soja, glicose
Steak de frango: pode conter farinha de milho,
Carne bovina, aves, suínos, gordura vegetal, proteína de soja, goma xantana,
134,9
peixes amido, maltodextrina
Peito de peru: pode conter maltodextrina, proteína de
soja, amido
Hambúrguer de carne bovina: pode conter proteína de
soja, maltodextrina, glicose
Hambúrguer de frango: pode conter proteína de soja,
gordura vegetal hidrogenada, maltodextrina
Almôndegas: pode conter proteína de soja,
Preparações à base de carne maltodextrina, amido, ácido cítrico
128,7
bovina Estrogonofe: pode conter proteína de soja, amido de
milho, maltodextrina, margarina, óleo de soja
Linguiça suína: pode conter dextrina, proteína de soja,
Carnes maltodextrina
Linguiça de frango: pode conter proteína de soja,
maltodextrina, proteína vegetal
Linguiça mista: pode conter proteína de soja, glicose
Salsicha: pode conter proteína de soja, amido, óleo
vegetal
Mortadela: pode conter xarope de glicose,
maltodextrina, amido de milho, proteína de soja,
extrato de levedura
Carnes processadas 21,6
Presunto: contém proteína de soja, maltodextrina,
dextrose
Apresuntado: pode conter maltodextrina, proteína de
soja, proteína vegetal, amido de milho, ácido cítrico
Blanquet de peru: pode conter amido, maltodextrina,
proteína de soja
Patê (de frango, presunto, etc.): pode conter proteína
de soja, amido, glicose de milho, maltodextrina,
margarina, proteína vegetal, ácido cítrico, goma
xantana
Total 154,8
Leite de vaca integral e Animal pode ter recebido alimentação à base de soja e
39,4
desnatado milho GM
Composto alimentar sabor chocolate: pode conter
gordura vegetal hidrogenada, goma guar, ácidos
graxos, lecitina de soja
Leite achocolatado/bebida achocolatada/chocomilk:
pode conter amido de milho, goma guar, goma
xantana
Leite com sabor/ leite aromatizado: pode conter
Bebidas lácteas com sabor e
Laticínios 29,7 amido de milho, maltodextrina, gordura vegetal
adoçadas
hidrogenada, goma xantana
Leite em pó com sabor: pode conter maltodextrina,
leite em pó integral (lecitina de soja), goma xantana,
ácido cítrico
* Bebidas lácteas podem ainda conter bactérias,
leveduras e fungos GM que são empregados na
fermentação
Iogurtes de sabores diversos: pode conter amido de
Iogurtes 224,5
milho, ácido cítrico, goma xantana
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Requeijão: pode conter amido, maltodextrina


Queijos 6,8 * Queijos podem conter bactérias, leveduras e fungos
GM para a fermentação
Mingau de fubá/mingau de milho/cremogema: pode
conter maltodextrina, amido de milho
Alimento líquido à base de cereais: pode conter óleo
Preparações à base de leite 8,2 de milho, maltodextrina, lecitina de soja, amido,
farinha de milho
Creme de milho/amido de milho: podem ser obtidos a
partir de milho GM
Leite em pó integral ou As versões “instantâneas” podem conter lecitina de
0,3
desnatado soja e/ou proteína isolada de soja
Total 84,5
Pão em forma de bisnaga: pode conter gordura
vegetal, farinha de soja, lecitina de soja, glicose,
ácidos graxos, frutose, óleo de soja
Pão com manteiga: pode conter gordura vegetal,
farinha de soja, lecitina de soja, ácidos graxos
Pão de forma industrializado: pode conter gordura
vegetal, farinha de soja, lecitina de soja
Pão de hambúrguer: pode conter óleo de soja, frutose
Pão de milho: pode conter fubá de milho, margarina,
óleo de soja, ácidos graxos, flocos de milho
Pão de sal, integral, diet/light 54,3
Panificados Torrada: pode conter amido de milho, gordura
vegetal, lecitina de soja
Pão integral: pode conter óleo de soja, amido de
milho, gordura vegetal
A maioria possui derivados da soja e milho (óleo de
soja, dextrose, amido de milho)
Qualquer tipo de pão pode ainda ter sido produzido
com a utilização da levedura Saccharomyces
cerevisiae (fermento biológico) para o processo de
fermentação alcoólica
Total 54,3
Caldo de carne, creme de cebola ou de legumes (sopa
desidratada): podem conter maltodextrina, extrato de
Sopas e caldos 50,3 levedura, amido de milho, gordura vegetal, xarope de
Sopas e caldos
glicose, lecitina de soja, milho, leite em pó, ácidos
graxos
Total 50,3
Macarrão/macarrão com carne,
Macarrão e preparações à macarronada/yakissoba: podem conter gordura
36,3
base de macarrão vegetal, molho de soja, extrato de levedura, goma
guar, ácido cítrico
Miojo/macarrão instantâneo/macarrão pronto: podem
Macarrão instantâneo 5,3 conter gordura vegetal, maltodextrina, extrato de
levedura, goma xantana, goma guar, flocos de milho
Lasanha: pode conter proteína de soja, amido de
milho, óleo de soja, margarina, maltodextrina
Massas 4,9 Capeleti/caneloni/ravioli: podem conter gordura
vegetal hidrogenada, maltodextrina, proteína de soja,
proteína vegetal, margarina, óleo de soja
Farofa pronta: pode conter farinha de milho, óleo
Farinhas e Farofa 1,9 vegetal, proteína de soja, maltodextrina, extrato de
massas levedura, milho, fubá de milho
Barras de cereais: pode conter maltodextrina, lecitina
de soja, glicose, sorbitol, creme de milho, xarope de
glicose, óleo de milho, farinha de milho, polidextrose
Cereal matinal: pode conter farinha de milho, xarope
de glicose, milho, maltodextrina, goma guar, gordura
vegetal, amido
Cereais matinais 0,8 Farinha láctea: pode conter leite em pó, que contém
lecitina de soja
Granola/ mix de cereais: pode conter flocos de milho,
óleo de milho, maltodextrina, canjica de milho,
farinha de soja, maltodextrina, soja, proteína de soja,
fermento químico, lecitina de soja
Sucrilhos de milho: pode conter milho, farinha de
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milho, xarope de glicose


Total 49,3
Podem conter cereais não maltados, que geralmente
Cerveja 31,1
são derivados de milho
Bebidas Levedura GM pode ter sido utilizada no processo
alcoólicas Vinho 1,6 produtivo do vinho durante a fase de fermentação
alcoólica
Total 34,1
Cheesbúrguer/cheese tudo, hambúrguer: podem
conter gordura vegetal hidrogenada, farinha de soja,
proteína de soja, gordura vegetal, maltodextrina,
Sanduíches 11,8
dextrina, amido de milho, leite em pó, lecitina de soja,
xarope de milho, molho de soja, proteína de milho,
óleo de soja
Bolinho de aipim, bolinho de bacalhau, coxinha,
croquete, empada/ empadão de diversos sabores,
enroladinho, esfirra de diversos sabores: podem
conter margarina, amido de milho, óleo de soja
Mini chicken empanado: pode conter gordura vegetal,
proteína de soja, goma xantana, amido, extrato de
levedura, ácido cítrico
Pastel: pode conter margarina, gordura vegetal
hidrogenada
Nuggets de frango: pode conter gordura vegetal,
Salgados fritos e assados 10,1
amido, proteína de soja, dextrose, goma guar, dextrina
Pizza, salgados
Misturas para pão de queijo: pode conter amido de
e sanduíches
milho, gordura vegetal, margarina
Quibe: pode conter proteína de soja
Quiche: pode conter margarina, amido de milho
Tortas salgadas de qualquer sabor: pode conter óleo
de soja, milho, amido de milho, margarina, fermento
químico, ácido cítrico, farinha de milho, gordura
vegetal hidrogenada, gordura vegetal, farinha de soja,
proteína de soja
Pizzas semiprontas congeladas de diversos sabores:
Pizzas 4,8 pode conter óleo de soja vegetal, amido de milho,
dextrose, proteína de soja
Chips: pode conter óleo vegetal, amido de milho,
maltodextrina, dextrina, xarope de milho, glicose,
Salgadinhos industrializados 0,7 fermento químico, canjica de milho, fibra de milho,
lecitina de soja, ácidos graxos, ácido cítrico, dextrose,
leite em pó (que contém lecitina de soja)
Total 27,4
Alimentos citados: canjiquinha, xerém, grão, moído,
em conserva, cozido, quirera, pamonha, angu, fubá,
Cereais Milho e preparações 20,4
farinha, polenta, cuscuz, pipoca: alimentos que
Cereals
consistem ou contêm milho
Total 20,4
Achocolatado em pó, ovomaltine, sustagem,
complemento alimentar: pode conter glicose, leite em
Achocolatados 0,8 pó (que contém lecitina de soja), lecitina de soja,
maltodextrina, amido de milho, goma guar, goma
xantana
Pó para pudim de sabores diversos: pode conter
amido de milho, maltodextrina
Sobremesa láctea cremosa/mousse/manjar: podem
Doces à base de leite 5,5 conter amido de milho, goma guar, gordura vegetal,
xarope de glicose, dextrina
Doces
Doce de leite: pode conter glicose, amido de milho,
leite em pó (contém lecitina de soja), ácido cítrico
Sorvete ou picolé de qualquer sabor industrializado:
pode conter amido de milho, maltodextrina, glicose de
milho, xarope de glicose, proteína de soja, lecitina de
Sorvete/picolé 4,6
soja, fermento químico, gordura vegetal, creme de
milho, óleo vegetal, ácidos graxos, goma guar, ácido
cítrico
Barra de chocolate/ bombom/ tablete de chocolate:
Chocolates 3,5
pode conter farinha de soja, xarope de glicose,
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gordura vegetal, leite em pó (contém lecitina de soja),


sorbitol, fermento químico, polidextrose, amido,
farinha de milho, lecitina de soja, gordura vegetal
hidrogenada
Brigadeiro/confete: pode conter maltodextrina,
glicose de milho, amido de milho, gordura vegetal
hidrogenada, xarope de glicose, lecitina de soja,
gordura vegetal
Doce de frutas em calda, geleia de frutas: podem
Doces à base de fruta 2,3
conter xarope de milho de alta frutose, ácido cítrico
Mel/rapadura/açúcar de mesa Mel em pó pode conter maltodextrina (proveniente do
0,9
e outros adoçantes amido de milho). Este não foi coletado na pesquisa
Balas/ chiclete/ goma de mascar: pode conter xarope
de glicose, ácido cítrico, lecitina de soja, gordura
vegetal hidrogenada
Balas, beiju, paçoquinha de amendoim: pode conter
glicose, amido de milho, gordura vegetal hidrogenada,
ácido cítrico, lecitina de soja
Sobremesa de qualquer tipo: pode conter
Outros doces (preparações maltodextrina, amido de milho, glicose, gordura
regionais, diet/light, entre 8,1 vegetal, composto lácteo, amido
outros) Torrone: pode conter glicose, lecitina de soja, gordura
vegetal hidrogenada, xarope de glicose, óleo de soja
Pão de mel: pode conter gordura vegetal hidrogenada,
amido de milho, fermento químico, lecitina de soja,
gordura vegetal, maltodextrina, farinha de soja
Panetone: pode conter gordura vegetal, lecitina de
soja, amido, ácidos graxos, ácido cítrico, xarope de
glicose, margarina
Total 25,5
Biscoito doce, bolacha doce, rosquinha doce, waffer,
bolacha recheada, biscoito recheado, rosquinha
recheada: podem conter amido de milho, fermento
químico, gordura vegetal, xarope de glicose, lecitina
Biscoito salgado, doce e de soja, fermento químico, farinha de milho
15,4
Biscoitos recheado Biscoito salgado, biscoito salgado integral, bolacha
salgada, rosquinha salgada: podem conter gordura
vegetal hidrogenada, levedura, fermento químico,
lecitina de soja, óleo vegetal, amido de milho, extrato
de levedura
Total 15,4
Bolos de sabores diversos, bolo de milho, broa, puba
de fubá, puba de milho: podem conter gordura
vegetal, glicose de milho, ácidos graxos, fermento
químico, lecitina de soja, xarope de glicose, amido de
milho, óleo de milho, glicose
Bolos 13,9
Bolos Misturas para bolos prontos podem conter
maltodextrina, farinha de milho, fubá de milho,
gordura vegetal hidrogenada, xarope de glicose,
amido de milho, farinha de soja, proteína de soja,
ácidos graxos, fermento químico
Total 13,9
Ovos de galinha: animal pode ter recebido
Ovos 11,7
Ovos alimentação à base de soja e milho GM
Total 11,7
Óleo de soja: pode ser derivado de soja GM
Margarina: pode conter óleos vegetais, que podem ser
de soja ou milho GM
Óleos e Óleos e gorduras 6,8
Maionese: pode conter óleo de soja, amido de milho,
gorduras
ácido cítrico, goma guar. Algumas (maionese com
sabor) podem conter ainda molho de soja
Total 6,8
Citados com soja: tofu, pasta de soja, proteína de soja,
proteína vegetal, carne vegetal, carne de soja, proteína
Outras leguminosas 1,3
Leguminosas de soja, proteína vegetal, soja em grão, fibra de soja:
contém soja
Total 1,3
Molhos e Molhos e condimentos* 0,5 Citados que podem conter soja, milho:
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condimentos Molho de soja/shoyo: pode conter soja


Catchup/ ketchup: pode conter amido modificado
Massa de tomate e molho de tomate: pode conter
amido de milho, óleo vegetal, goma xantana
Molho de mostarda: pode conter óleo de soja, amido
de milho, goma xantana, ácido cítrico
Total 0,5
Batata frita e batata palha: pode conter óleo vegetal,
Raízes e Batata-inglesa frita 0,5
gordura vegetal
tubérculos fritos
Total 0,5
Total 1023,8

Observou-se que 63,8% (67 subgrupos alimentares) da variedade dos alimentos mais
consumidos pela população contém ingredientes possivelmente GM. A quantidade per capita média
diária de consumo de alimentos do brasileiro foi de 1.587,8 g. Dessas, 1.023,8 g (64,5%) eram
provenientes de alimentos contendo ingredientes provenientes de subprodutos derivados de soja,
milho e algodão.
Destaca-se que a maioria dos itens alimentares analisados continha três ou mais ingredientes
derivados de milho e soja, possivelmente GM. Nenhum ingrediente derivado de algodão foi
identificado nos alimentos embalados analisados.

Discussão

O presente estudo identificou na literatura vários subprodutos derivados de soja, milho e


algodão, bem como uma levedura, que foram encontrados com 101 nomenclaturas distintas nos
rótulos dos alimentos embalados analisados em um supermercado de uma grande rede brasileira.
Ressalta-se, assim, a relevância e contribuição científica do estudo, uma vez que ainda não há
informação disponível e sistematizada na literatura quanto ao amplo uso desses ingredientes
possivelmente GM pela indústria de alimentos. Nesse sentido, destaca-se também o rigor
metodológico deste estudo, que incluiu etapas complementares necessárias para encontrar 101
nomenclaturas para ingredientes possivelmente GM. A primeira etapa consistiu em uma busca na
literatura para inicialmente identificar os produtos e subprodutos derivados de soja, milho e algodão
e seus usos pela indústria de alimentos. Posteriormente, realizou-se a identificação destes produtos e
subprodutos e as novas nomenclaturas nos rótulos de mais de cinco mil alimentos embalados
comercializados no Brasil e, possivelmente no exterior. Sem este rigor metodológico, o número de
ingredientes possivelmente GM poderia ter sido subestimado, deixando assim de revelar a
magnitude de seu uso e presença nos alimentos mais consumidos pela população brasileira. Nosso
estudo utilizou dados atuais de âmbito nacional e pode contribuir de maneira significativa para
ações de saúde pública.

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Produtos derivados do grão de soja são utilizados como ingredientes alimentares em vários
alimentos. A partir da soja são extraídos diversos subprodutos utilizados principalmente pelo seu
baixo custo e pelas características funcionais, posto que atuam como emulsificantes, estabilizantes,
espessantes e agentes de consistência e melhoram a textura e a viscosidade dos alimentos, bem
como constituem fonte de proteínas 9. Isso explica a sua presença em vários alimentos embalados
investigados no presente estudo, como nas carnes e preparações à base de carne, carnes processadas
e patês, bebidas à base de soja, pães, massas, bolos, farofa pronta, cereais, biscoitos, chocolates,
pizzas congeladas, sanduíches, empanados e sorvetes.
Dentre os subprodutos derivados de milho, o amido é o mais utilizado na indústria
46, 47
alimentícia como matéria-prima ou como um aditivo alimentar . O xarope de milho também é
amplamente utilizado pela indústria alimentícia com a finalidade de adoçar e prolongar o prazo de
validade dos alimentos 48.
A etapa de revisão de literatura do presente estudo foi necessária para identificar
subprodutos com nomenclaturas que dificilmente seriam reconhecidas como oriundas de
ingredientes GM somente com a análise da lista de ingredientes dos rótulos de alimentos. Como
exemplo, cita-se o ácido cítrico, um aditivo alimentar muito utilizado em alimentos embalados, que
nem sempre é derivado de frutas, podendo ser obtido a partir da fermentação aeróbica do açúcar de
milho, aspecto que a nomenclatura não deixa claro. Outros exemplos são as gomas xantana e goma
guar, que não são necessariamente derivadas da soja, mas a proteína de soja pode ser incorporada
48, 49
durante o seu processo produtivo. Essas gomas possibilitam aumentar a viscosidade , e estão
presentes em vários alimentos do presente estudo, tais como bebidas, carnes, iogurtes, macarrão
instantâneo, sorvetes, achocolatados, molhos e condimentos.
A etapa de análise de listas de ingredientes de 5048 alimentos embalados identificou 101
nomenclaturas distintas para designar 28 subprodutos derivados de soja, milho e algodão, bem
como da levedura Saccharomyces cerevisiae. Como exemplo, cita-se o óleo de soja, que foi
identificado com 12 nomenclaturas diferentes nas listas de ingredientes, dentre as quais gordura
vegetal. O xarope de glicose, derivado do milho, apareceu com 13 nomenclaturas diferentes nas
listas de ingredientes avaliadas, muitos deles sem o termo milho presente. Essas questões podem
dificultar a identificação por consumidores que tentam evitar o consumo desses alimentos por
diferentes razões.
A ausência de especificação de origem de subprodutos pode dificultar a identificação de
OGM nas listas de ingredientes em alimentos embalados. Das 101 nomenclaturas avaliadas, 30 não
especificavam sua origem, mas foram considerados passíveis de serem subprodutos de soja, milho e
algodão, de acordo com a literatura científica. Entre esses subprodutos estavam: gordura vegetal,

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amido, goma guar, goma xantana, ácido cítrico, dextrose, xarope de glicose, glucose, maltose,
maltodextrina, sorbitol, manitol, xilitol e cereais não maltados.
No caso do amido, o amido de milho representa mais de 80% de todos os tipos de amidos
50
utilizados . No entanto, ressalta-se a dificuldade de identificação da origem do ingrediente no
rótulo de alguns dos alimentos analisados no presente estudo, possivelmente porque a legislação
35
brasileira de rotulagem de alimentos não determina essa obrigatoriedade. Por exemplo, um
ingrediente pode somente ser indicado amido em vez de amido de milho. Por isso, a utilização de
nomes de ingredientes completos pela indústria alimentar deveria ser obrigatória, a fim de
especificar a origem dos ingredientes.
Da mesma forma, a ausência da composição de ingredientes compostos pode dificultar a
identificação de OGM nas listas de ingredientes em alimentos embalados. Por exemplo, o presente
estudo identificou alimentos que podem conter derivados de soja ou milho, mas não tem seus
ingredientes discriminados, como o colorífico, o fermento químico, o leite em pó e a margarina.
Esses alimentos são informados na lista de ingredientes de um alimento, sem, contudo, informar
seus componentes. Isso por que a legislação brasileira de rotulagem de alimentos, harmonizada no
âmbito do Mercosul, não exige que determinados ingredientes compostos, que representam menos
que 25% do alimento, declarem seus ingredientes 35. Essas limitações da legislação podem dificultar
o acesso à informação correta pelo consumidor, essencialmente importantes em casos de alergia à
soja, milho ou algodão ou da escolha por evitar o consumo de derivados de OGM.
Muitos subprodutos de soja e milho são utilizados pela indústria alimentícia como aditivos
alimentares. Um exemplo é a lecitina de soja, que está presente em vários grupos de alimentos
analisados no presente estudo e atua como emulsificante em leite em pó, achocolatados, biscoitos,
bolos, pães e sopas e como estabilizante em barras de cereais, bebidas lácteas e balas. Como a
legislação não obriga que os aditivos sejam descritos em ordem decrescente de quantidade na lista
de ingredientes, logo, a lecitina pode estar descrita como um dos últimos ingredientes do alimento,
35
mas estar presente em maior quantidade do que os ingredientes listados anteriormente . Assim,
não se considera o efeito do somatório das quantidades de aditivos possivelmente GM presentes em
um mesmo alimento, representando uma dificuldade para o consumidor avaliar e decidir quais
alimentos embalados preferir no momento da compra.
Além de soja e milho, outro OGM que pode estar presente na alimentação da população
brasileira é a levedura Saccharomyces cerevisiae, popularmente conhecida como fermento de
51
panificação, a qual é muito utilizada na indústria de alimentos e bebidas em diversas formas .É
utilizada na etapa de fermentação alcoólica na produção da cerveja, a bebida alcoólica mais
consumida no Brasil. Considerando ainda a cerveja, além do risco de se consumir levedura GM,

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52
pesquisadores brasileiros descobriram a presença de milho, ao invés de malte de cevada, em
53
grandes marcas de cervejas brasileiras. A legislação brasileira permite a substituição de até 45%
do malte por outra fonte de cereais mais barata, sendo o milho o mais empregado na sua fabricação.
A análise de dados secundários sobre o consumo alimentar da população brasileira mostrou
que grande parte da variedade (63,8% dos subgrupos alimentares) e da quantidade (64,5% da
quantidade total diária) de alimentos consumida diariamente pelos brasileiros é passível de conter
ingredientes derivados de alimentos GM.
Nesse sentido, parece que o consumo de alimentos embalados industrializados pode
aumentar as chances de consumo de alimentos GM pela população brasileira. Essa informação vai
54
ao encontro de dados do Conselho de Informações sobre Biotecnologia , o qual estima que a
maioria dos alimentos industrializados no Brasil contenha pelo menos um ingrediente derivado de
soja ou milho. No Canadá, estima-se que cerca de 75% dos alimentos processados contém ou são
55
produzidos a partir de ingredientes como milho, soja ou canola GM . Além disso, segundo a
análise deste estudo, a maioria dos alimentos mais consumidos pela população possuía três ou mais
ingredientes derivados de milho e soja, possivelmente GM.
Esse fato desperta preocupações em relação aos efeitos à saúde pública pela ausência de
evidências científicas sobre a segurança do consumo destes alimentos. Isso porque alimentos
derivados de soja e milho também poderão conter resíduos dos herbicidas associados ao seu cultivo,
também causando riscos à saúde humana pelos efeitos já conhecidos destas substâncias 18, 22-25, 56-59.
Para exemplificar, em uma refeição principal, como o almoço, que no hábito brasileiro pode
conter arroz, feijão, farofa pronta, macarrão instantâneo, steak de frango e batata frita, todos estes
alimentos são preparações que podem conter ingredientes GM, seja pelos ingredientes que contêm
ou pelos ingredientes adicionados durante o seu preparo, como o óleo de soja, milho ou algodão
utilizado para o preparo do arroz, do feijão e da batata frita. Além das preparações, ingredientes
adicionados como temperos à refeição pronta (como molhos industrializados) também podem
conter ingredientes GM. Assim, uma refeição contendo alimentos habitualmente consumidos pelos
brasileiros pode facilmente conter vários ingredientes GM e, em apenas um dia, pode haver
ingredientes GM em todas as refeições.
Além disso, os resultados da POF mostram mudanças no padrão de consumo alimentar dos
brasileiros nas últimas três décadas, com aumentos de até 400% no consumo de produtos
industrializados, como biscoitos e refrigerantes bem como o declínio no consumo de alimentos
básicos e tradicionais da dieta do brasileiro, como o arroz e o feijão 60. Mesmo com esse declínio, o
feijão foi o alimento com a segunda maior quantidade per capita de consumo. Em setembro de
7
2011, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança aprovou o feijão GM desenvolvido pela

19
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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o qual está autorizado para


comercialização no Brasil. Embora ainda não esteja disponível para o consumo, essa cultura GM
gera preocupações devido à ausência de estudos mais aprofundados sobre seus impactos, e visto que
o feijão faz parte do hábito alimentar da população brasileira, sendo consumido diariamente por
quase todos os brasileiros, de todas as faixas etárias.
Voltando ao exemplo do almoço citado acima, destacam-se as recomendações do Guia
Alimentar para a População Brasileira (GAPB), onde observa-se que mesmo que a pessoa não
utilize alimentos ultraprocessados no seu almoço (com a exclusão de farofa pronta, macarrão
instantâneo, steak de frango e batata frita), o almoço ainda poderia conter alimentos GM em todas
as preparações culinárias se, por exemplo, fosse utilizado óleo de soja, milho ou algodão para o
preparo em casa. Ou seja, mesmo se uma pessoa seguir fielmente as recomendações do GAPB e
somente comer o que prepara em casa, ela ainda está exposta a alimentos GM dependendo, por
exemplo, do tipo de gordura que utiliza para o preparo dos alimentos (óleo de soja, milho ou
algodão) ou do tipo de fermento utilizado para fazer o seu pão em casa. Ressalta-se, ainda, que o
GAPB praticamente não se posiciona sobre alimentos GM nas recomendações 61.
Os dados do presente estudo mostram que cerca de 24,5% da quantidade per capita média
diária de consumo da população brasileira são provenientes de produtos de origem animal (carnes,
leite e derivados e ovos). Esses resultados são preocupantes, pois animais alimentados com ração
produzida com milho e/ou soja GM também podem constituir fonte de OGM na alimentação
humana 62. Assim, a população pode aumentar o consumo de alimentos GM por meio do consumo
da carne bovina, suína e de aves desses animais ou pelo consumo de alimentos derivados, como
laticínios, ovos e gordura suína.
Em resumo, considerando os dados analisados, a população brasileira consome diariamente
uma grande variedade de alimentos embalados que podem conter ingredientes GM. No entanto,
muito destes alimentos não têm sua composição claramente identificada no rótulo. Isso pode ser
devido à legislação brasileira, que obriga a rotulagem apenas daqueles alimentos que contiverem
mais de 1% de OGM na sua composição, ou seja, os alimentos que contiverem menos de 1% ficam
isentos da obrigatoriedade da rotulagem, o que não significa que não contenham OGM. Além disso,
não se encontrou informações sobre fiscalização em relação ao cumprimento deste percentual de
ingredientes possivelmente GM nos alimentos, de modo que, salvo melhor juízo, pode-se supor que
a indústria alimentícia pode omitir essa informação, não rotulando o produto, mesmo que contenha
mais de 1% de OGM. Em ambos os casos, o direito dos consumidores à informação clara e precisa
sobre os produtos que consomem não está sendo garantido, conforme preconiza o Código de Defesa
do Consumidor 31.

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in Brazil. Public Health Nutrition, v. 21, n. 14, p. 2698-2713, 2018.

Além disso, os aditivos alimentares não precisam ser rotulados em ordem decrescente de
quantidade e vários produtos não precisam identificar a origem da matéria-prima, dificultando ainda
mais a identificação de OGM pela leitura dos rótulos de alimentos embalados. Por esse motivo,
destaca-se a relevância científica do presente estudo que traz uma lista de nomenclaturas de
ingredientes possivelmente GM, elaborada a partir da identificação destes ingredientes em rótulos
de alimentos embalados disponíveis para venda em um supermercado no Brasil. Ademais, cabe
ressaltar a inexistência de estudos que estabeleçam um percentual de segurança de consumo destes
alimentos. Logo, mesmo se um produto contiver menos de 1% de OGM na sua composição e não
for rotulado, não significa que não ofereça riscos à saúde, uma vez que não se tem estabelecida uma
quantidade segura de consumo.
Na maioria dos estudos disponíveis na literatura científica, a presença de OGM nos
alimentos é identificada por meio da análise laboratorial. Logo, uma possível limitação deste estudo
é o fato de não poder afirmar com certeza que os ingredientes dos alimentos elencados como
passíveis de serem GM realmente o sejam. Contudo, diferente de estudos laboratoriais que analisam
amostras de pequenos grupos de alimentos, o presente estudo analisou os rótulos de todos os
alimentos disponíveis em um supermercado. Ademais, há uma crescente produção de alimentos GM
no Brasil, que corresponde a cerca de 96,5% da soja, 88,4% do milho e 78,3% do algodão
cultivados no país 4, além do elevado risco de contaminação ao longo da cadeia de produção.
Assim, pode-se inferir que existe uma grande possibilidade de que ingredientes derivados de soja,
milho e algodão presentes em alimentos embalados sejam GM, mesmo que não tenham sido
submetidos a testes laboratoriais.
Esta afirmação é suportada mesmo quando consideramos os dados de
importação/exportação destas culturas no Brasil. Em 2017, a produção total de grãos no Brasil foi
de aproximadamente 114 milhões de toneladas de soja, 98 milhões de toneladas de milho e 3,8
milhões de toneladas de algodão 63. Desse total, 68,1 milhões de toneladas de soja (59,7%), 19,9 mil
toneladas de milho (0,02%) e 450 toneladas de algodão (0,01%) foram destinadas à exportação. Por
outro lado, a quantidade de grãos importados em 2017 foi de 253 mil toneladas de soja, 1,6 mil
toneladas de milho e 401 toneladas de algodão, que correspondem a menos de 0,23% do total de
grãos restantes no país (produção + importação - exportação) 64. Além disso, o Brasil importa soja,
64
milho e algodão principalmente do Paraguai, Argentina e EUA , que estão entre os países que
mais plantam sementes GM no mundo 4. Estes dados indicam que, apesar de a maior parte da
produção brasileira destes grãos ser exportada, o país é praticamente autossuficiente no seu
abastecimento interno.

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in Brazil. Public Health Nutrition, v. 21, n. 14, p. 2698-2713, 2018.

Dessa forma, a produção que fica no país juntamente com a quantidade que é importada,
contribui para a permanência de elevada quantidade de grãos GM no país, mantendo a tendência
potencial de ocorrência de OGM em alimentos embalados comercializados no Brasil. Ressalta-se
que os dados de importação e exportação são referentes aos grãos dos produtos e não aos seus
subprodutos (como, por exemplo, óleo de soja, farelo de soja, amido de milho, farinha de milho,
etc.). No entanto, ressalta-se que apenas 528 (10,5%) dos 5048 alimentos analisados no presente
estudo foram importados.
Destaca-se ainda que o setor público tem a responsabilidade de fiscalizar a rotulagem e
realizar análises laboratoriais para identificar a presença de ingredientes GM em alimentos e sua
conformidade com a legislação de rotulagem. Ademais, o presente estudo pode contribuir para
mostrar a magnitude da presença de tais ingredientes em alimentos embalados mais consumidos
pela população brasileira.
Nesse sentido, enfatizamos a importância do método utilizado, que pode servir para
direcionar pesquisas futuras mais específicas nos grupos de alimentos onde foi identificada a
presença de ingredientes potencialmente GM. Além disso, o presente estudo analisou os rótulos de
todos os alimentos disponíveis para venda em um supermercado no Brasil, o que inviabilizaria
análises laboratoriais em uma quantidade tão grande de alimentos. Ressalta-se ainda que o estudo
foi realizado do ponto de vista do consumidor, que só tem acesso à lista de ingredientes do
alimento, que atualmente é a fonte de informação disponível para a identificação de ingredientes
passíveis de serem GM nos alimentos embalados comercializados no Brasil.
Outra limitação refere-se à análise de dados secundários obtidos da POF, cuja precisão não
pode ser avaliada. Contudo, a utilização de dados secundários se mostrou eficaz para testar a
hipótese sobre o elevado consumo de ingredientes possivelmente GM pela população brasileira. A
POF no Brasil assemelha-se a dados nacionais de diversos países sobre alimentação e seus dados
constituem a principal fonte de informação, de âmbito nacional, sobre a aquisição e consumo
alimentar da população brasileira. Este estudo foi baseado nos mais recentes dados disponíveis
sobre consumo alimentar da população brasileira, a POF 2008-2009. Dados baseados no consumo
de alimentos tendem a se aproximar do padrão real da dieta da população e têm sido usados para
estabelecer padrões de consumo alimentar. Pesquisas de orçamentos familiares refletem o início da
cadeia de consumo e permitem estabelecer políticas públicas que podem modificar a oferta de
alimentos e os padrões de saúde da população.
Além disso, atualmente, inúmeros estudos populacionais buscam relacionar a alimentação
com a incidência de diversas doenças, contudo, ingredientes GM geralmente não são analisados.
Dessa forma, esse estudo considera e recomenda a atenção dos pesquisadores em relação à

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in Brazil. Public Health Nutrition, v. 21, n. 14, p. 2698-2713, 2018.

exposição da população a alimentos com presença de ingredientes GM e a possíveis doenças


relacionadas.

Conclusão

O presente estudo mostrou a elevada exposição da população brasileira a ingredientes


possivelmente GM por meio do consumo de alimentos embalados, disponíveis em um
supermercado. Mais da metade dos alimentos mais consumidos pela população brasileira pode
conter pelo menos um ingrediente derivado de soja, milho ou algodão, possivelmente GM. A partir
dos resultados do presente estudo, foi possível demonstrar a dificuldade da população em identificar
a presença desses ingredientes possivelmente GM em alimentos, já que foram observadas 101
nomenclaturas distintas nos alimentos embalados analisados.
Subprodutos de soja e milho têm sido amplamente utilizados pela indústria alimentícia, com
finalidades tecnológicas distintas e esse uso pode estar subestimado, tendo em vista o uso de
ingredientes cuja origem (derivado de soja, milho ou algodão) pode ser desconhecida, tanto para
profissionais de saúde quanto para consumidores. Assim, ressalta-se a importância da identificação
dessas nomenclaturas que designam ingredientes potencialmente oriundos de plantas GM,
destacando que não se encontrou na literatura científica listagem similar. Essa informação pode ser
utilizada para embasar as ações de profissionais de saúde junto à população, bem como
fundamentar discussões no âmbito da legislação de alimentos. Além disso, pode auxiliar em estudos
futuros que investiguem a relação entre consumo de alimentos GM e a saúde.
Considerando o princípio da precaução, o presente estudo sugere que medidas regulatórias
sejam mais restritivas à aprovação e produção de culturas GM no país, que não foram submetidas a
análises profundas dos seus impactos ambientais, sociais e na saúde. Ademais, alimentos derivados
de soja, milho ou algodão poderão conter também resíduos dos agrotóxicos associados ao seu
cultivo, acrescentando riscos à saúde humana pelos efeitos já conhecidos destas substâncias e
consequentes gastos de saúde pública para o tratamento destas doenças.
As agências governamentais competentes devem fiscalizar os alimentos embalados para que
disponibilizem a informação obrigatória da presença de ingredientes GM em seus rótulos. Além
disso, considera-se emergente a necessidade de ações no âmbito legislativo visando à redução no
uso de subprodutos derivados de soja, milho e algodão GM pela indústria de alimentos. Isso devido
à preocupação em relação aos efeitos do consumo desses alimentos à saúde humana, tanto pela
ausência de evidências científicas sobre a segurança do consumo de OGM, quanto pelo uso de
agrotóxicos associados ao cultivo desses alimentos.

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in Brazil. Public Health Nutrition, v. 21, n. 14, p. 2698-2713, 2018.

Adicionalmente, cita-se a adoção de ações de saúde pública que orientem a população


quanto à identificação e presença de ingredientes GM nos produtos embalados. E destaca-se
também a necessidade de políticas que fomentem a produção e o consumo de alimentos orgânicos e
o incentivo a pequenas agroindústrias que não utilizem a ampla gama de subprodutos com
finalidades tecnológicas geralmente utilizadas pelas grandes indústrias de alimentos.

Agradecimentos

Suporte financeiro: Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível


Superior Agência Federal (CAPES) no Brasil por seu apoio financeiro sob a forma de bolsa de
estudos para R.D.M.C., R.F.K. e S.S.M. Esta análise foi conduzida como parte de um estudo mais
amplo sobre a compreensão e uso de rotulagem de alimentos no Brasil, que foi financiado pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) do Ministério da Ciência
e Tecnologia no Brasil e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (concessão
número 440040 / 2014-0), com o objetivo de preencher lacunas relacionadas com políticas, gestão e
organização do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde. CAPES e CNPq não tiveram papel no
desenho, análise ou redação deste artigo. Conflito de interesse: Os autores declaram não haver
conflitos de interesse. Autoria: R.D.M.C. foi responsável pelo planejamento da pesquisa, coleta,
análise e interpretação dos dados e redigiu o manuscrito. R.K.F. e S.S.M. foram responsáveis pela
análise e interpretação dos dados e pela revisão o manuscrito. R.P.C.P. e S.B.C. foram responsáveis
pelo desenho do estudo original, planejamento da pesquisa e revisão final do manuscrito. S.B.C. foi
responsável por supervisionar e redigir o manuscrito. Todos os autores aprovaram a versão do
manuscrito submetida para publicação. Ética da participação do sujeito humano: Não aplicável.

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