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DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª: Évelyn Cintra Araújo

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª: Évelyn Cintra Araújo

PARTE 1 - TUTELAS PROVISÓRIAS

1 Introdução: previsão legal e espécies

As tutelas provisórias estão previstas nos arts. 294 a 311 do NCPC, e pode
fundamentar-se em urgência ou evidência.
São tutelas de urgência a tutela cautelar e a tutela antecipada, que pressupõem a
demonstração do perigo de dano ou o risco do resultado útil do processo (periculum in mora) e a
probabilidade do direito que se objetiva assegurar ou realizar (fumus boni iuris).
Já a tutela de evidência é um tipo de tutela antecipada que, para ser concedida,
independe de periculum in mora, bastando a demonstração de que as afirmações de fato estejam
comprovadas, tornando o direito evidente (fumus boni iuris).
Em suma, podemos resumir as tutelas provisórias no seguinte organograma:

Andou muito bem o legislador de 2015 principalmente ao unificar a tutela cautelar e a


antecipada debaixo da mesma rubrica “Tutelas Provisórias”, uma vez que tais institutos,
apesar de diferentes, muito se assemelham por visarem evitar danos ao direito que está sob
risco.
A propósito, oportuno neste momento tecer algumas diferenciações e semelhanças
entre tutela cautelar e antecipada, a fim de dissipar qualquer dúvida acerca dos institutos.

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1.1 Tutelas provisórias de urgência

1.1.1 Tutela cautelar e tutela antecipada: diferenças e semelhanças

Primeiramente, deve-se ficar claro que, na “tutela antecipada”, o que se antecipa, na


verdade, não é a tutela, ou seja, a declaração, a constituição, a condenação etc, mas sim os
efeitos que a futura concessão desta tutela poderia produzir, face o perigo de
dano/perecimento do direito objeto da lide.
Exemplos:
1) numa ação de conhecimento com pedido de despejo, a tutela é a
execução lato sensu e o efeito desta tutela é o despejo, a desocupação;
2) numa ADI, a tutela é a declaração de inconstitucionalidade, e o
efeito desta tutela é a ineficácia da lei ou ato normativo
inconstitucional;
3) numa ação de conhecimento com pedido de indenização por danos
materiais, a tutela é a condenação, e o efeito desta tutela é o
pagamento do valor necessário a reparar o dano...etc.

Portanto, é totalmente incorreto falar em TUTELA ANTECIPADA, pois não é a tutela,


o mérito que se antecipa, mas os efeitos que decorreriam de sua eventual concessão. Assim, o
mais correto é dizer ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA.
E é exatamente nisso que se diferenciam a “tutela antecipada” do chamado julgamento
antecipado da lide, agora no NCPC denominado de julgamento antecipado do mérito. Este último é
instituto previsto no art. 355 do novo código, que, em face da presença de alguns requisitos
(não haja necessidade de produzir outras provas – a causa está madura; ou houver revelia com
efeito da confissão ficta e o revel não requerer provas), autoriza o juiz julgar, mediante uma
cognição exauriente e profunda, o mérito da causa, concedendo a tutela (e não meramente
os seus efeitos) de forma definitiva, antes da fase instrutória, abreviando o procedimento,
tornando o processo mais célere. Nesse caso, há extinção do processo com resolução do
mérito, sendo o ato do juiz uma sentença, portanto, passível de apelação.
Já na antecipação dos efeitos da tutela, como se antecipa apenas os efeitos, a cognição
do juiz é meramente superficial e perfunctória, dada de forma provisória, e sua decisão é

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interlocutória, portanto passível de agravo de instrumento (cf. art. 1.015, I, NCPC),


continuando o processo em sua marcha normalmente até à fase final.
POR OUTRO LADO, como já dito, muitos confundem também “tutela antecipada”
com tutela cautelar.
A tutela cautelar se presta, face o fundado perigo de dano, apenas a proteger,
acautelar o direito, objeto do processo, evitando o seu perecimento.
Já por meio da “tutela antecipada”, também face o fundado perigo de dano, busca-se a
satisfação (provisória) do direito mediante a concessão prévia dos efeitos da tutela cognitiva
pretendida (seja declaração, constituição, condenação, incluindo, neste último,
ordem/mandado e execução lato sensu).
Portanto, a tutela cautelar não tem caráter satisfativo, ou seja, de realização do direito
material. É tutela meramente conservativa de direitos, visando garantir o resultado útil do
processo.
Já a “tutela antecipada”, ao contrário, é tutela satisfativa de direitos, já que realiza, de
forma antecipada e provisória, o direito, dando ao requerente o bem da vida por ele
pretendido.
Sabiamente, Fredie Didier Júnior já usara o seguinte trocadilho para melhor elucidar
tal diferenciação:

“enquanto a tutela cautelar PROTEGE PARA EXECUTAR,


a tutela antecipada EXECUTA PARA PROTEGER”.

Entretanto, é claramente perceptível o objetivo comum de ambas as tutelas: o de


EVITAR O PERECIMENTO DO DIREITO PRETENDIDO. Seja por meio da mera proteção
(tutela cautelar), seja da satisfação (tutela antecipada), elas buscam evitar a corrosão de
direitos pela ação do tempo (causas objetivas) ou pela ação humana (causas subjetivas), que
geram uma demora além do razoável do processo (periculum in mora), impondo um ônus
insuportável ao autor1.
Também se assemelham por se fundarem em cognição sumária, superficial, ou seja,
para que sejam concedidos basta a demonstração da probabilidade do direito (fumus boni iuris,
e não a sua certeza (art. 300, NCPC).

1Marinonidefende, em nome do princípio da igualdade, a ideia da redistribuição do ônus do


tempo entre as partes por meio das tutelas provisórias.

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Em razão disso, ambas se caracterizam pela provisoriedade e precariedade da decisão,


ou seja, são substituíveis pela decisão definitiva (art. 296), podendo ser, a qualquer tempo no
processo, revogadas ou modificadas.
Por assim se assemelharem é que a doutrina, é que o legislador (art. 305, parágrafo
único) previu a fungibilidade entre a tutela antecipada e a tutela cautelar. Isso significa dizer que se o
autor requerer tutela cautelar em caráter antecedente, caso o juiz entenda se tratar de tutela
antecipada, satisfativa, poderá assim recebê-la, desde que siga o rito desta, como já dito,
previsto no art. 303 e seguintes do NCPC. Trata-se da chamada fungibilidade progressiva, uma
vez parte-se da tutela menor (cautelar) para a maior (antecipada).
Valendo-se da analogia, a doutrina defende a possibilidade do contrário, ou seja, da
fungibilidade regressiva, ou seja, o autor requerer tutela antecipada (tutela maior) e o juiz
conceder tutela cautelar (tutela menor), desde que também se obedeça ao rito previsto para
esta (art. 305 e seguintes do NCPC).
Certo é que, tanto num caso quanto no outro, a tutela provisória rege-se por regras, as
quais se passará a analisar a partir de agora.

1.1.2 Formas de requerimento

As tutelas de urgência poderão ser requeridas tanto em caráter antecedente ao pedido


principal, como em caráter incidental a este. Já a tutela de evidência só pode ser requerida em
caráter incidental¸ uma vez que não há urgência que justifique o seu requerimento antes da
formulação do pedido principal.
Segundo a melhor doutrina, a tutela provisória antecedente “é aquela concebida para
aqueles casos em que a situação de urgência já é presente no momento da propositura da ação
e, em razão disso, a parte não dispõe de tempo hábil para levantar os elementos necessários
para formular o pedido de tutela definitiva (e respectiva causa de pedir) de modo completo e
acabado, reservando-se a fazê-lo posteriormente” (DIDIER JR, 2015, p. 572).
Ou seja, em razão da urgência, primeiro pede-se a tutela provisória; depois, pede-se a
tutela definitiva. Obviamente que o pagamento das custas iniciais será necessário,
dispensando-o quando da formulação do pedido principal.
Já a tutela provisória incidental é requerida junto ou depois do pedido principal, o que
pode ocorrer na própria petição inicial (cumulando-se, inclusive, pedidos – art. 308, §1º); em
petição interlocutória simples; oralmente, em audiência ou sessão de julgamento no tribunal;
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em petição de recurso. Nesse caso, como o pedido é incidental, não há pagamento de custas
(art. 295, NCPC), pois já fora feito quando da formulação do pedido principal.
A depender da forma como a tutela provisória de URGÊNCIA é requerida, o regime
será único ou diferenciado para as tutelas cautelar e antecipada.
Assim, se forem requeridas em caráter incidental, ambas seguirão as regras gerais
previstas no art. 300; porém, se requeridas em caráter antecedente, a tutela antecipada obedecerá
procedimento próprio previsto no art. 303 e 304, e a tutela cautelar, o previsto nos arts. 305 a
310, todos do NCPC.
Todavia, esta dualidade procedimental será estudada em momento oportuno.

1.1.3 Juízo competente

Conforme o art. 299, a tutela provisória incidental deverá ser endereçada ao próprio juízo
da causa, ou seja, ao juízo onde o processo está em curso, seja em juízo de 1º grau, seja em sede
de tribunal (em grau de recurso ou em sua competência originária – parágrafo único do art.
299).
Todavia, em se tratando de tutela provisória antecedente, preceitua o referido dispositivo
legal que será a mesma endereçada ao juízo competente para conhecer da causa principal. Ou seja,
devemos lançar mão das regras gerais de competência, previstas nos arts. 44 a 53 do NCPC (a
que correspondem os arts. 91 a 100 do CPC/73).

1.1.4 Legitimidade

Tanto autor, réu (quando reconvinte, ou formular pedido contraposto em ação dúplice
etc) ou terceiros intervenientes (inclusive o assistente simples, desde que o assistido
concorde), podem requerer a tutela provisória, uma vez que não se pode negar a qualquer das
partes, que alega ter direito à tutela jurisdicional definitiva, a possibilidade de obtê-la
provisoriamente.
Didier Júnior (2015, p. 573) vai mais além e defende, em nome do princípio da
isonomia, a possibilidade de o réu requerê-la até mesmo quando simplesmente contesta, já
que tem o direito da antecipação dos efeitos da tutela negativa, ou seja, da improcedência do
pedido, desde que observe os pressupostos legais. A única ressalva que faz é quando se tratar

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de tutela provisória de caráter antecedente, em que a nova lei processual fala em requerimento na
‘petição inicial’, o que pressupõe a legitimidade exclusiva do autor. Argumenta ainda, neste
caso, que não se justifica o pedido antecedente pelo réu porque, ao reconvir, por exemplo, ele
o fará concomitantemente à contestação, ou seja, ao ‘pedido principal e definitivo’.
Uma questão que se coloca nesse momento é a possibilidade ou não da concessão de
ofício pelo juiz da tutela provisória. Nos termos da nova lei processual, não há tal
possibilidade uma vez que, textualmente, o art. 295 fala que a tutela provisória será
requerida, em consonância com os princípios do dispositivo e da congruência ou adstrição da
sentença ao pedido, previstos nos arts. 2º, 141 e 492, todos do NCPC.
Todavia, há quem afirme que, excepcionalmente, seria possível em casos como na ação
de alimentos, em que o pedido de alimentos provisórios estaria implícito, ou quando o juiz, na
ausência de pedido da parte, verifica que a concessão da tutela provisória é a única forma de
preservar a utilidade do resultado do processo (à semelhança ao poder geral de cautela,
previsto no art. 798 do CPC/73).
A par de tudo isso, parece-nos que prevalecerá o entendimento segundo o qual só é
possível a concessão mediante requerimento da parte, salvo exceções expressamente previstas
em lei, mesmo porque, como a efetivação da tutela provisória corre sob a responsabilidade
objetiva de quem dela se beneficia, quem arcará com os eventuais prejuízos com revisão da
medida se a iniciativa for do juiz? A parte que não a requereu? (DIDIER JR, 2015, p. 594).

1.1.5 Cabimento

A tutela provisória é cabível em qualquer procedimento: ordinário, sumaríssimo dos


Juizados e nos procedimentos especiais.
Especificamente neste último caso, não se pode olvidar que, em alguns procedimentos
especiais (ações possessórias, ação de despejo etc) há a previsão de tutela provisória
específica, o que se exige a observância de pressupostos específicos (Ex: nas possessórias,
para ser concedida a liminar antecipatória, basta que o ato espoliativo à posse seja recente, ou
seja, menos de 1 ano e dia, presumindo assim a urgência. É chamada ação de força nova). Mas,
até mesmo nestas situações, há a possibilidade de ser aplicar a tutela provisória genérica, com
os pressupostos genéricos (Ex: o art. 558, parágrafo único do NCPC, faz tal previsão quando a
ação possessória for de força velha – mais de 1 ano e dia).
Ademais, caso não haja previsão própria para o procedimento especial, nada obsta que
se aplique a tutela provisória genérica dos arts. 303, 305 e 311, NCPC.
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Por fim, pode-se afirmar também o seu cabimento, inclusive, nos procedimentos
especiais de jurisdição voluntária (Ex: nomeação de curador provisório no procedimento de
interdição).
No entanto, especificamente em relação às tutelas provisórias de caráter antecedente,
são incabíveis nos feitos dos Juizados Especiais, uma vez que o seu rito, por se caracterizar
pela simplicidade e concentração dos atos, com elas se apresenta incompatível.

1.1.6 Momento da concessão

Primeiramente, deve-se esclarecer que não se confunde momento de concessão da


tutela provisória com o momento de seu requerimento, que, como já visto, pode ser:
antecedentemente ao pedido principal, na petição inicial; ou incidentalmente, também na
petição inicial, ou em petição interlocutória, na contestação ou reconvenção, oralmente, e até
na petição de recurso.
Já a concessão da tutela provisória pode se dar tanto no início do processo (initio litis),
liminarmente, antes de ouvir o réu; após citar o réu na audiência de justificação prévia; e até
no momento da prolação da sentença; e em grau de recurso.
Isso significa que não há relação direta entre a forma do requerimento (antecedente ou
incidental) e o momento da concessão. Naturalmente, pela urgência que lhe é própria, que a
tutela antecedente seja concedida liminarmente, mas isso não significa que não possa sê-la
após a citação do réu em audiência de justificação prévia. O mesmo pode-se afirmar a respeito
da tutela provisória incidental, que pode ser concedida em qualquer momento no curso do
processo, mas também em caráter liminar.
Dito isto, analisaremos os referidos momentos de concessão da tutela provisória,
independentemente se ela seja requerida em caráter antecedente ou incidental.

a) Liminarmente

Tanto na tutela de urgência de natureza cautelar, quanto na de natureza antecipada, é


possível que a decisão seja proferida antes de citar o réu (inaudita altera parte), ou seja, no início
do processo. Se isso acontecer, diz-se que tal decisão foi dada em caráter liminar ou
liminarmente (initio litis/in limine/no limiar do processo).

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Todavia, a expressão liminar tem sido utilizada indiscriminadamente para se referir ao


conteúdo da decisão do juiz, ora à tutela cautelar, ora à tutela antecipada, o que tem
conduzido a uma confusão enorme entre os dois institutos, havendo quem os considere como
fenômenos idênticos por isso.
Mas, na verdade, liminar é um aspecto temporal da decisão; é, portanto, o MOMENTO
em que ela é proferida, ou seja, antes de o réu ser citado.
Sendo assim, não importa se proferida a título de tutela antecipada ou de tutela
cautelar. Se concedida no início, antes de citar o réu, ou seja, no início da lide posta em juízo, a
decisão será liminar.
Conclui-se, assim, que nem toda liminar é uma tutela cautelar; pode ser que seja uma
tutela antecipada, ou até mesmo uma sentença de indeferimento liminar da inicial etc.
A decisão liminar, por ser proferida antes da citação do réu, deve ser dada em caráter
excepcional, ou seja, apenas quando houver uma situação de urgência ou de evidência tal que
justifique a postergação do contraditório, sem que se incorra em inconstitucionalidade (o
contraditório será diferido ou postergado a momento imediatamente ulterior a concessão da
medida) – art. 9º, parágrafo único, I e II.
Dentro destes moldes, a tutela provisória de urgência será dada liminarmente caso
fique caracterizado o perigo de dano ou o risco ao resultado útil ao processo antes ou no
momento do ajuizamento da demanda, e a tutela provisória de evidência quando houver
hipóteses de evidência robustas o bastante para autorizar a sua concessão antes de ouvir o
réu.
Claro que, neste último caso, a própria lei processual, em seu art. 311, parágrafo único,
excetua as hipóteses dos incisos I (tutela de evidência punitiva) e IV (tutela de evidência
documentada sem contraprova suficiente), nas quais não cabe a concessão liminar, vez que
são situações que, para se configurarem, pressupõem a presença do réu no processo, e que
estudaremos em momento oportuno.

b) Após ouvir o réu (em audiência de justificação prévia)

Especificamente quanto às tutelas de urgência, caso o autor não disponha de


documentos suficientes para demonstrar o periculum in mora, o juiz não indeferirá de plano o
pedido liminar, mas deverá designar audiência de justificação prévia
para a oitiva de testemunhas, eventualmente arroladas na petição inicial, ou do próprio autor.

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Se, após a referida audiência, restar o juiz convencido do periculum in mora, deverá o
mesmo, sem discricionariedade, conceder a tutela de urgência (art. 300, §2o), porém esta não
será mais dada em caráter liminar, visto que, desta audiência, será intimado o autor e citado o
réu.
Por fim, e por razões óbvias, conclui-se que não há que se falar em audiência de
justificação prévia na tutela de evidência, pois que esta é concedida independentemente da
demonstração do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo, devendo o direito
já estar evidenciado no momento de seu requerimento.

c) Na sentença

Apesar de, na ocasião da sentença, a parte já poder obter a tutela definitiva, calcada
numa cognição exauriente, é possível que a mesma não se satisfaça imediatamente do direito
em razão de eventual interposição, pela parte contrária, de recurso de apelação dotado de
efeito suspensivo (suspende-se os efeitos da sentença enquanto estiver pendente de
julgamento a apelação; esta é a regra neste recurso – art. 1.012).
Todavia, tal estado de ineficácia, impedindo o cumprimento provisório da sentença,
pode causar danos à parte, o que justifica o pedido de concessão de tutela provisória de
urgência no momento da prolação da sentença.
Conclui-se, assim, que a sua grande utilidade é conferir eficácia imediata à decisão,
quebrando o efeito suspensivo do recurso (DIDIER JR, 2015, p. 581).

d) Em grau de recurso

Por outro lado, sob a perspectiva de quem recorreu com recurso dotado de efeito
suspensivo, a suspensão dos efeitos da decisão recorrida, que lhes são desfavoráveis, não
implica em reforma do julgado. A única consequência é que o recorrente não sofrerá a
execução da decisão enquanto não decidido o recurso, mas a decisão ainda não estará
revertida.
Porém, se ele (o recorrente) provar que o fundamento do seu recurso é relevante, ou
seja, que há probabilidade de seu provimento (fumus boni iuris) e que há perigo de dano de seu
direito (periculum in mora) caso tenha que esperar o julgamento final do recurso (arts. 995 e

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1.012, §4o), é possível o tribunal conceder a tutela provisória de urgência, ou seja, antecipar
provisoriamente a tutela recursal, consistente na reforma ou anulação da decisão recorrida.
Como já visto, tal pedido poderá ser feito, sempre em caráter incidental, na própria
petição do recurso, ou na ocasião da sessão de julgamento. E a competência para o seu
julgamento é do tribunal (art. 299, parágrafo único).

1.1.7 Decisão e recursos

Presentes os pressupostos legais, o juiz deverá conceder a tutela provisória, sem


discricionariedade judicial, e justificar as razões do seu convencimento de modo claro e
preciso (art. 298, NCPC), sob pena de a decisão ser declarada nula.
A natureza da decisão será determinada a depender do momento que a mesma é
concedida, a saber:
- se liminarmente ou no curso do processo => decisão interlocutória. O recurso cabível será o
agravo de instrumento (art. 1.015, I, NCPC).
- se na sentença => capítulo da sentença, atacável por apelação sem efeito suspensivo (art. 1.013, §5
c/c art. 1.012, §1º, V, NCPC).
- se no tribunal (em competência recursal) => decisão monocrática de relator, contra a qual, em
geral, é cabível o agravo interno (art. 1.021, NCPC).
- se no tribunal (em competência originária) => acórdão. Só é cabível recurso especial, para o STJ,
para discutir o preenchimento dos pressupostos da concessão da medida, pois o cabimento do
recurso extraordinário é expressamente vedado pela Súmula n. 735 do STF.

1.1.8 Precariedade

As tutelas provisórias caracterizam-se pela provisoriedade, uma vez que são concedidas
com base numa cognição sumária ou superficial, carecendo de confirmação futura quando o
juiz aprofundar na análise meritória da causa.
Em razão disso, caracteriza-se também pela precariedade, que não se confunde com
temporariedade, pois que, neste caso, a decisão já é definitiva, porém tem um prazo determinado
de validade, ao passo que, naquele outro, a decisão é provisória e está passível de ser
substituída por uma decisão definitiva (ilustração do andaime e da escada interna).

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O art. 296 do NCPC reconhece tal característica ao afirmar que “a tutela provisória
conserva sua eficácia na pendência do processo, mas pode, a qualquer tempo, ser revogada ou
modificada”, desde que por decisão motivada pelo juiz (art. 298, NCPC).
A grande questão que se apresenta, na verdade, é saber se a eventual revogação ou
modificação pode se operar de ofício pelo juiz ou se depende de iniciativa da parte
interessada.
Caso a revogação ou modificação acontecer quando do julgamento definitivo de
improcedência, que, após análise mais detida, não houve o reconhecimento do direito, outrora
urgente ou evidente, então, por razões óbvias, a iniciativa será do juiz.
Todavia, não sendo este o caso, só haverá revogação ou modificação da tutela
provisória se a parte interessada requerer E demonstrar que a situação fática foi alterada, ou
que surgiu novo elemento probatório, que torne inexistente qualquer dos pressupostos da
concessão.
A revogação tem eficácia imediata e ex tunc, ou seja, implica no restabelecimento ao
estado anterior à concessão da medida, a exemplo do que ocorre na execução provisória que
deve ser desfeita.

1.2 Procedimento das tutelas provisórias de urgência em caráter ANTECEDENTE

a) Da tutela provisória de natureza antecipada ANTECEDENTE (arts. 303 e 304)

➢ petição inicial

Em razão de a urgência anteceder ao pedido de tutela final, a nova lei processual, em


seu art. 303, permite que o autor elabore uma petição inicial incompleta, contendo APENAS:
a) a exposição da lide (causa de pedir remota);
b) o fumus boni iuris, ou seja, a probabilidade do direito que se busca realizar; o periculum in
mora, ou seja, o perigo de dano (real, atual e grave) ou do risco ao resultado útil do processo; e
a inexistência de perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão (art. 300, §3º), vez que a
tutela é provisória e precária, passível de modificação ou revogação.
Todavia, ressalta-se que este último requisito, de caráter negativo, não é absoluto,
podendo se admitir a antecipação de efeitos irreversíveis para evitar um dano maior (ex:
irreversibilidade x direito à vida = proporcionalidade).

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c) requerimento da tutela antecipada e indicação do pedido da tutela final;


d) indicação do valor da causa correspondente ao pedido da tutela final (§4º, art. 303); e
e) indicação da pretensão de valer-se do benefício da formulação do requerimento em caráter
antecedente (§5º, art. 303).

➢ concessão e não concessão da medida

Ao analisar a petição inicial, a medida poderá ser concedida ou não pelo juiz.
NÃO CONCEDIDA a medida, pois que inexistentes qualquer dos pressupostos para a
sua concessão, o juiz intimará o autor para emendar a petição inicial no prazo de 5 dias, sob
pena de indeferimento e extinção do processo sem resolução do mérito (art. 303, §6º).
Mas, se CONCEDIDA a medida, o juiz irá:
1º) intimar o autor – para que, no prazo de 15 dias ou em outro prazo maior por ele fixado,
promova o aditamento da petição inicial, nos mesmos autos e sem incidência de novas custas,
complementando a argumentação, juntando novos documentos e confirmando o pedido de
tutela final (art. 303, §1º, I), também sob pena de extinção do processo sem resolução do
mérito (art. 303, §2º); E
2º) intimar e citar o réu – respectivamente, para que ele cumpra ou recorra da decisão e para
que compareça à audiência de conciliação ou mediação (neste caso, se a causa admitir
autocomposição e por ela tiver também optado o autor; do contrário, a citação será para
oferecer resposta no prazo legal)2.

➢ estabilização da medida

Citado e intimado da decisão, se o réu recorrer da decisão e/ou responder à demanda


do autor, o procedimento comum seguirá sua marcha normalmente, rumo às próximas fases.
Todavia, se ele ficar inerte, não interpondo o respectivo recurso contra a decisão
concessiva (a saber, o agravo de instrumento, pois tal decisão foi liminar), estabelece o art.
304, caput e §1º, que o processo também será extinto sem resolução do mérito, PORÉM a

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Importante observar que quando o réu for oferecer a sua defesa, independentemente se
houve ou não designação da referida audiência, o prazo de 15 dias só poderá ser efetivamente
contado após a sua ciência inequívoca do aditamento da petição inicial do autor, para que
possa promover a sua defesa contra a demanda do autor em sua inteireza (DIDIER JR, 2015,
p. 603).
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decisão antecipatória tornar-se-á ESTÁVEL, ou seja, continuará surtindo efeitos enquanto


não for ajuizada ação autônoma para revisá-la, reformá-la ou invalidá-la.
Trata-se da técnica da estabilização da tutela antecipada, que nada mais é do que a
generalização da já conhecida técnica da monitória3 para as situações de urgência com caráter
satisfativo.
Os objetivos são afastar o perigo da demora e oferecer resultados efetivos e imediatos
ao autor diante da inércia do réu. Nem sempre este se interessa em insurgir contra a decisão
antecipatória, razão pela qual se justifica a sua estabilização (Ex: para diminuir custos do
processo – analogia ao art. 701, caput e §1º; liminar que determina a retirada do nome do autor
dos órgãos de proteção de crédito).
São pressupostos para a estabilização da decisão concessiva da tutela antecipada:

- requerimento do autor dos benefícios do art. 303: o autor tem que ser expresso, na petição inicial,
quanto ao seu interesse pelos benefícios da tutela antecipada em caráter antecedente, ou seja,
da sua intenção em valer-se da estabilização nos termos do art. 304;

- ausência de requerimento do prosseguimento do feito após a concessão da medida: trata-se de um


pressuposto negativo, pois é possível que o autor tenha interesse na entrega da tutela
definitiva, passível ser acobertada pela coisa julgada. Exemplos: divórcio definitivo para a
dissolução do vínculo matrimonial depois que já foi concedida a separação provisória de
corpos; invalidação definitiva de um título depois de sua sustação ou cancelamento
provisório.
Caso esta seja a intenção do autor, é preciso que ele seja expresso, para que o réu já
saiba que a sua inércia nada servirá para fins de estabilização e, por conseqüência, diminuição
dos custos com o processo, que possa lhe parecer conveniente.
Ademais, tal opção deverá ser feita na petição inicial, e não na petição de aditamento,
uma vez que esta, a ser oferecida 15 após a intimação da decisão concessiva, pode coincidir ou

3 No CPC de 73, a monitória é um procedimento especial para a tutela de direitos a uma


prestação de pagar ou entregar coisa fungível ou móvel, onde o autor, mediante prova
escrita sem força executiva e, portanto, mediante cognição sumária, obtinha um mandado
contra o réu, o qual, caso este permanecesse inerte no prazo da defesa, se convertia em
título executivo judicial, a ser cumprido, nos mesmos autos do processo, seguindo as regras
do cumprimento de sentença. O NCPC mantém as mesmas regras com alguns
aperfeiçoamentos.
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superar o prazo do recurso do réu, impedindo este de recorrer por ter confiado na
estabilização.

- a prolação de decisão concessiva da tutela antecipada antecedente: só a decisão concessiva,


positiva, tem a aptidão para a estabilidade; nisso inclui tanto a decisão proferida pelo juízo de
1º grau quanto a decisão do tribunal que a confirmou, depois do julgamento de eventual
agravo de instrumento, interposto pela parte contrária, contra a decisão denegatória. Até
mesmo a decisão proferida após audiência de justificação prévia tem tal aptidão, bem como a
decisão que concedeu a tutela antecipada parcialmente, quanto ao respectivo capítulo da
decisão.

- a ausência de impugnação do réu, litisconsorte passivo ou assistente simples: há quem


afirme que, para haver estabilização, é necessária uma dupla inércia do réu, ou seja, ausência
de recurso no prazo recursal e ausência de defesa, assumindo a condição de revel (Eduardo
Talamini; Leonardo Greco).
Todavia, não é este o entendimento que se retira do art. 304, que fala apenas de
ausência de recurso. Isso porque o prazo de defesa somente fluirá da audiência de conciliação
ou mediação, ou do protocolo do pedido do réu de cancelamento da mesma, quando a causa
admitir a autocomposição; ou a partir da intimação feita ao réu do aditamento da petição
inicial, quando a causa não admitir a autocomposição. Ou seja, o prazo de defesa demora um
pouco para ter início, não exigindo o art. 304 tanto para que se configure a inércia do réu apta
a ensejar a estabilização da tutela antecipada (DIDIER JR, 2015, p. 609).
Por fim, há que se observar que nos casos de réu citado fictamente (por edital ou com
hora certa), preso ou incapaz sem representante ou em conflito com este, o curador especial
nomeado terá o dever funcional de apresentar defesa, ainda que genérica, afastando, assim, a
estabilização da tutela antecipada.

➢ ação autônoma
Estabilizada a decisão que concedeu tutela antecipada antecedente e extinto o
processo, qualquer das partes poderá ajuizar ação autônoma, no prazo de até 2 anos, contados
da ciência da decisão que extinguiu o processo, para rever, reformar ou invalidar tal decisão.
O interesse do autor poderá ser no sentido de confirmar a decisão concessiva, agora com
cognição profunda e em caráter definitivo, tornando-se apta a decisão a operar coisa julgada.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª: Évelyn Cintra Araújo

Isso pode acontecer caso tinha o interesse no prosseguimento no feito e assim não se
manifestou na petição inicial, estabilizando-se a decisão em razão da inércia do réu.
Já o réu inerte, seja por negligência ou por interesse em diminuir os custos com o
processo, pode rediscutir a decisão em nova demanda e reverter a decisão que lhe fora
desfavorável.
A competência para tal ação será do juízo do processo originário (critério funcional),
sendo, portanto, prevento o juízo onde a tutela antecipada foi concedida (art. 304, §4º).
A petição poderá ser instruída por documentos do processo originário, cujos autos
poderão ser desarquivados, a pedido das partes, para tanto (art. 304, §4º).
Todavia, certo é que, até que tal ação seja proposta, a tutela antecipada antecedente
estabilizada continuará produzindo efeitos (art. 304, §3º), não havendo que se falar em coisa
julgada, que só se operará sobre a decisão definitiva, obtida após uma cognição exauriente.

b) Da tutela de urgência de natureza cautelar ANTECEDENTE (arts. 305 a 310)

➢ petição inicial

Nos termos do art. 305, a petição inicial da ação que visa à prestação de tutela cautelar
em caráter antecedente indicará:

- a lide e seu fundamento


Trata-se exatamente da causa de pedir ligada ao pedido principal que futuramente
será formulado. Abrange, aqui, tanto a causa de pedir remota, consistente na narração dos
fatos constitutivos do direito e que deram origem à lide, quanto a causa de pedir próxima, ou
seja, o fundamento jurídico sobre o qual assentará o pedido principal.

- a exposição sumária do direito que se objetiva assegurar


Por se tratar de uma tutela conservativa de direitos, uma vez que a tutela cautelar visa
apenas proteger o direito para evitar o seu perecimento e conferir eficácia ao processo, um dos
requisitos para a sua concessão é a demonstração superficial da existência do direito, ou seja,
o fumus boni iuris.

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- o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo – é o periculum in mora, requisito comum às
tutelas de urgência.

Apesar da omissão do art. 305, certo é que, analogicamente, deve-se observar também,
guardando as devidas proporções, os requisitos previstos no art. 319, quais sejam:

I – endereçamento ao juízo competente, que, neste caso, por ser de caráter antecedente, será aquele
que é competente para conhecer do pedido principal (art. 299);
II – as partes e a sua qualificação;
IV – o pedido, relativo apenas à tutela cautelar, liminarmente ou mediante justificação prévia
(caso o pedido cautelar seja feito cumulativamente com o principal, nos termos do §1º do at.
308, tratar-se-á de tutela de urgência cautelar de caráter incidental);
V – o valor da causa, pois a toda causa será atribuído um valor, que, neste caso, será o valor a
que corresponderá o pedido principal; e
VI – o requerimento das provas – a petição deverá vir instruída de documentos hábeis ou outras
provas para formar o convencimento do juízo de que o direito é aparente e que há ameaça
grave e real de dano. Caso contrário, o juiz não deferirá o pedido em caráter liminar,
designando audiência de justificação prévia.

➢ demais atos do procedimento (despacho da inicial, citação, defesa etc)

Ao analisar a petição inicial, o juiz poderá determinar a sua emenda, caso apresente
defeitos ou vícios corrigíveis, no prazo de 15 dias, sob pena de indeferimento; ou,
simplesmente, indeferi-la nos casos do art. 330, NCPC; ou, ainda, deferi-la, quando então deverá:

- converter o procedimento para o previsto nos arts. 303 e 304, se entender que o pedido tem
natureza antecipada (aplicação da fungibilidade progressiva entre a tutela cautelar e
antecipada – parágrafo único do art. 305); ou

- julgar o requerimento da liminar, ou designar audiência de justificação prévia para tal


análise;

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• se indeferida a liminar, cita-se o réu para, em 5 dias, oferecer contestação,


especificando as provas que pretende produzir (art. 306).

Caso o réu não conteste o pedido, o juiz decreta a revelia, presumindo verdadeiros os
fatos afirmados pelo autor, proferindo decisão no prazo de 5 dias (art. 307).
Por outro lado, havendo contestação do réu, o juiz prosseguirá com o processo pelo
rito comum (parágrafo único, art. 307).
Obs:. Importante destacar que o indeferimento da tutela cautelar não obsta ao autor
formular o pedido principal, nem influi no julgamento deste, pois que são autônomos
(apesar da instrumentalidade daquele em relação a este), salvo se o indeferimento
decorreu do reconhecimento de prescrição ou decadência (art. 310).

• se deferida a liminar, o juiz tomará dupla providência:


❖ determinará a citação e intimação do réu para, em 5 dias, oferecer contestação,
sob pena de revelia. Caso conteste, o processo seguirá o rito comum;
❖ a intimação do autor para promover a efetivação da medida no prazo máximo
de 30 dias, sob pena de cessação da sua eficácia (art. 309, II), por presumir
a ausência de risco e urgência.

TODAVIA, efetivada que seja mediante o emprego de qualquer medida que o juiz
entender mais adequado (art. 301 – arresto, seqüestro etc), começará a fluir um prazo de 30 dias
para o autor aditar a petição inicial, sem incidência de novas custas, formulando o pedido
principal, sob pena também de cessação de eficácia da medida (art. 308, caput c/c art.
309, I).
Nesta peça de aditamento, deverá também o autor optar ou não pela realização da
audiência de conciliação ou mediação, nos termos do inciso VII do art. 319, que traz os novos
requisitos da inicial.
Aditada a petição, o juiz intimará as partes para que compareçam à audiência de
conciliação ou de mediação, nos termos do art. 334, não sendo necessária nova citação do réu
(§3º, art. 308).
Não havendo autocomposição (seja porque não era caso de se realizar a audiência; seja
porque se realizou, mas restou frustrada a tentativa de acordo), o réu terá o prazo de 15 dias
para responder ao pedido principal, contado na forma do art. 335.

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A partir daí, o juiz seguirá o procedimento comum até prolação da sentença em que
julgará o pedido de tutela cautelar em definitivo e o pedido principal.
Se a sentença for de improcedência do pedido principal ou do pedido cautelar, ou se
for de extinção do processo sem resolução do mérito, cessará também a eficácia da tutela
cautelar concedida antecedentemente (art. 309, III).

Vale lembrar que, cessada a eficácia em qualquer hipótese, a parte não pode renovar o
pedido cautelar salvo se por novo fundamento (art. 309, parágrafo único).

Por outro lado, em se tratando de tutela cautelar, o art. 301, semelhantemente, dispõe
que a efetivação poderá ser promovida com emprego de qualquer medida adequada para
assegurar o direito, como, exemplificadamente, pelo arresto, sequestro, arrolamento de bens
etc.
O referido artigo consagrou, flagrantemente, o já conhecido poder geral de cautela
(previsto no art. 798 do CPC de 73), em que se confere amplos poderes ao juiz de adotar
providências que garantam a asseguração do direito acautelado.
Vê-se que, com o fim das chamadas medidas cautelares típicas ou nominadas no
NCPC, o juiz, agora, tem um elenco meramente exemplificativo, podendo adotar qualquer outra
medida considerada mais adequada.
Todavia, aproveitando o conhecimento adquirido no contexto do código anterior, é
necessário conhecer melhor o conceito e os efeitos que cada uma poderá produzir na ocasião
da efetivação da tutela cautelar, senão vejamos:

b.1) Arresto

É medida cautelar que tem por fim apreender judicialmente bens indeterminados
do devedor, a fim de garantir futura execução ou cumprimento de sentença de obrigação
de pagar
quantia.
Assemelha-se à penhora, uma vez que tem a mesma finalidade (individualizar e
apreender bens sobre os quais recairá a execução, conservando-os) e o mesmo objeto (bens
indeterminados e penhoráveis), vindo a futuramente nela se converter, mas com ela não se
confunde.

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Pressupõe, no momento da concessão, o fumus boni iuris, ou seja, a existência de prova


literal de dívida líquida e certa, porém inexigível, pois, do contrário, seria caso de penhora em
execução ou cumprimento de sentença; bem como de periculum in mora, consistente em sérios
indícios de insolvência do devedor, aliada a prática de atos que evidencie a intenção de
prejudicar o credor (indícios de fuga; receio de ocultação ou dilapidação do patrimônio;
fraude à execução etc).
Também não se confunde com o arresto executivo previsto no art. 830 do NCPC (a
que corresponde o art. 653 do CPC/73), pois ali se trata de uma medida adotada de ofício
pelo oficial de justiça no âmbito do processo de execução ou no cumprimento de sentença,
que, portanto, pressupõe um título líquido, certo e exigível.
Dessa forma, apesar de em ambos os casos se tratar de uma espécie de pré penhora,
que futuramente poderá se converter em penhora, certo é que, se a execução ou o
cumprimento de sentença ainda não foi ajuizado ou requerido, é cabível o arresto cautelar.
Por outro lado, se a execução ou cumprimento de sentença já estiver em curso, a medida
adequada, é o arresto executivo do art. 830, ou até mesmo a própria penhora.
A sua efetivação implicará na apreensão e depósito dos bens, pelo oficial de justiça,
que lavrará o respectivo auto.
Caso o pedido principal seja julgado procedente, reconhecendo a dívida, ou, em se
tratando de título extrajudicial, a execução for ajuizada e o devedor não pagar, não nomear
bens à penhora, nem embargar à execução (oferecer defesa), o arresto, anteriormente
concedido,
converter-se-á em penhora.

b.2) Sequestro

Ao contrário do arresto, o sequestro consiste na apreensão de coisa certa e


determinada, objeto de litígio, de disputa, com o fim de ser entregue incólume ao vencedor
do processo de conhecimento, e garantir futuro cumprimento de obrigação de entregar
coisa certa.
Portanto, podemos ter duas conclusões:
1ª) pode ser requerido tanto pelo autor quanto pelo réu do pedido principal;
2ª) o sequestro não será convertido em penhora, para futura alienação e satisfação do
direito do credor, mas tão-somente garantirá a posterior entrega do bem litigioso a quem
vencer o pedido principal; logo, a sua conversão futura será em depósito.
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Pressupõe também o fumus boni iuris, o qual pode ser resumido em causas em que há
dúvida/disputa do bem sob litígio (como disputa de posse ou propriedade; reivindicação de
frutos ou rendimentos de imóvel; separação, divórcio ou anulação de casamento), e o
periculum in mora, consistente no perigo de danificação ou desaparecimento da coisa (por
exemplo, naqueles casos, respectivamente, houver receio de rixas ou danificações; a
dissipação dos frutos ou rendimentos na pendência de recurso; o cônjuge estiver dilapidando
os bens do casal).
Assim, conclui-se ser possível o sequestro tão somente sobre, bens, móveis imóveis ou
semoventes, pouco importando se penhoráveis ou não; frutos e rendimentos de imóvel; não
alcançando, portanto, pessoas, direitos e ações, as quais poderão ser objeto de outras
garantias, como a busca e apreensão, depósito, etc.

b.3) Arrolamento de bens

É medida cautelar que visa conservar uma universalidade de bens que se encontre em
perigo de extravio ou dissipação, através de sua descrição e depósito, para garantir futura
partilha.
Por isso, podem ser apreendidos e depositados bens indeterminados que componham
uma universalidade sobre o qual a partilha versará, podendo incidir sobre bens móveis,
imóveis e documentos.

Após a apreensão, lavra-se o auto de depósito, onde se procede à descrição


minuciosa (arrolamento) de todos os bens da universalidade, bem como ao registro de
quaisquer ocorrências que tenham interesse para sua conservação.

b.4) Registro de protesto contra alienação de bens

É medida cautelar que serve para evitar transferência supostamente indevida de bem,
sujeito a registro, pelo requerido, quando ainda inexiste contra este título passível de
execução. O objetivo é dar publicidade aos terceiros de boa-fé e evitar a transferência de bem
que poderá ser objeto de execução.
Importante dizer que a medida não se presta a tornar indisponível o patrimônio do
requerido, que poderá realizar o negócio jurídico validamente, com a possibilidade,
inclusive, de se questionar, no futuro, a sua eficácia relativamente ao autor do protesto.

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Dessa forma, não se adentra no campo da proibição da lavratura de ato, nem de sua
validade. Na prática, cuida-se apenas de reserva para uma eventualidade, ficando o bem, alvo
do protesto, em estado letárgico, e o requerido sob suspeita em suas transações.
São, portanto, seus pressupostos: a demonstração que o futuro devedor está a
comprometer a futura execução (periculum in mora); e a existência do suposto direito
pretendido (fumus boni iuris).

b.5) Outras Medidas Cautelares

- Busca e apreensão

Primeiramente, há que se distinguir as várias espécies de busca e apreensão


existentes em nosso sistema legal:
- busca e apreensão como meio executivo: art. 461, §5º, art. 625, CPC/73, sem correspondente
no NCPC;
- busca e apreensão como ação de conhecimento: exemplo é o do guardião do filho em face
do não guardião que não o devolve.
- busca e apreensão do Dec.lei 911/69: cuja finalidade é consolidar a posse e o domínio
adquiridos pelo credor fiduciário.
- busca e apreensão cautelar: que visa garantir a efetividade do processo.

É uma medida residual, ou seja, cabível nos casos em que não seja o caso de arresto
ou sequestro.
Exemplo: numa ação em que se discutem direitos autorais, é possível buscar e
apreender livros, que já estão em circulação, que teriam sido produzidos por plágio. Não é
caso de arresto (não visa apreender bem para garantir futura execução/cumprimento de
obrigação por quantia certa), tampouco de sequestro (não visa apreender um bem
determinado, objeto litigioso, para garantir o cumprimento de obrigação de entrega de coisa
certa).
Outro exemplo: numa ação em que um artista defende o direito à sua imagem, pode
pedir incidentalmente a apreensão de todas as reproduções fotográficas referentes a ele.

- Atentado

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Medida cautelar que tem por fim restabelecer o estado de fato da lide, alterado ou
inovado ilegitimamente por uma das partes no curso do processo. São hipóteses que
caracterizam atentado:
- violação de penhora, arresto, sequestro ou imissão na posse;
- prosseguimento de obra embargada;
- qualquer outra inovação ilegal no estado de fato.

- pendência de pedido principal (logo, só há o tipo incidental);


- alteração ou inovação ilegal no estado de fato inicial; e
- prejuízo para o interesse da outra parte.

- Produção antecipada de prova

O art. 381, I, do NCPC prevê a produção antecipada de provas cautelar, autorizando-a


nos casos em que “haja fundado receio de que venha a tornar-se impossível ou muito difícil a verificação
de certos fatos na pendência da ação”.
É, portanto, medida cautelar que visa produzir a coleta da prova (interrogatório da
parte, inquirição de testemunhas e prova pericial) antes do momento processual adequado,
em virtude do perigo de que não seja mais possível a sua produção na fase instrutória.
Todavia, não se pode mais dizer que este seja o único caso de produção antecipada de
prova, prevendo o mesmo artigo outras duas hipóteses que nada tem de cautelar, a saber:
quando a prova a ser produzida seja suscetível de viabilizar a autocomposição ou outro meio
adequado de solução de conflito; e quando o prévio conhecimento dos fatos possa justificar
ou evitar o ajuizamento de ação.

O curioso é que a produção antecipada de prova, mesmo em sua feição cautelar no


inciso I, tem um procedimento próprio, iniciado mediante petição, onde o requerente
apresentará as razões da antecipação e os fatos sobre os quais recairá a prova (art. 382),
dirigida ao juízo do foro onde esta deva ser produzida ou do domicílio do réu, não
prevenindo o juízo para ação futura (§§2º e 3º, art. 381), não se admitindo defesa ou recurso,
salvo se contra decisão que indeferir totalmente a produção da prova (§4º, art. 382),
permanecendo, ao final, os autos em cartório durante 1 mês para extração de cópias e
certidões pelos interessados (art. 383), findo o qual serão entregues ao promovente da
medida (parágrafo único do art. 383).
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- Alimentos provisionais - quando não há prova pré-constituída da obrigação alimentícia


(ex: ação de reconhecimento e dissolução de união estável); do contrário, trata-se de
alimentos provisórios (natureza antecipada). Pela semelhança entre os alimentos
provisionais e os provisórios, é possível o juiz aplicar a fungibilidade progressiva, prevista no
parágrafo único do art. 305, NCPC.

- Guarda provisória de filhos; afastamento temporário de um dos cônjuges da morada


do casal; interdição ou demolição de prédio; etc.

1.3 Da Tutela Provisória de Evidência

A par da tutela provisória de urgência de natureza antecipada (a qual se diferencia,


mas também em muito se assemelha, à tutela de urgência de natureza cautelar), não se pode
ignorar que a “tutela antecipada” pode também ser concedida fora da hipótese da urgência,
bastando a evidência do direito pretendido para justificar a sua antecipação.
É a chamada tutela provisória de evidência, também prevista no NCPC, em seu art. 311.
Pode-se dizer, em breves palavras, que a tutela de evidência é a tutela antecipada concedida
independentemente da demonstração do periculum in mora, quando:

I – ficar caracterizado abuso do direito de defesa ou manifesto propósito protelatório da parte


=> trata-se da já velha conhecida tutela antecipada punitiva ou sancionatória, prevista no art.
273, II, CPC/73. Trata-se de conceitos indeterminados; porém, pode-se afirmar que o segundo
está compreendido no primeiro (abuso é mais amplo e ocorre dentro do processo; ato
protelatório é uma espécie de abuso, mas pode ocorrer também fora do processo). Tem pouca
aplicação prática (mais comum quando concedida na sentença para afastar o efeito
suspensivo da apelação) diante da possibilidade de o juiz poder aplicar outras sanções, como
litigância de má-fé (embora este possa cumulá-las).

II – as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese


firmada em julgamento de casos repetitivos ou súmula vinculante => depende de dois
pressupostos:

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- existência de prova documental do fato constitutivo;


- probabilidade do direito (estado de evidência) por estar fundamentado em tese jurídica já
firmada em precedente obrigatório (súmula vinculante; julgamento de processos ou recursos
repetitivos.

III – se tratar de pedido reipersecutório (leia-se: de entregar coisa) fundado em prova


documental adequada do contrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de
entrega do objeto custodiado sob cominação de multa => era a velha hipótese do art. 902 do
CPC/73 (devolução da coisa dada em depósito por estar fundado em prova literal, prova
escrita), que deixou de ser veiculada por rito especial, e agora será pleiteada mediante rito
comum, aplicando-se as regras da tutela específica das obrigações de entregar coisa (art. 498 e
ss, NCPC).
A probabilidade ou a evidência é demonstrada pela configuração da mora ex re
(advento do termo certo) ou da mora ex persona (pela interpelação ou citação).
Em que pese o legislador ter previsto a aplicação de multa, sabe-se que, pelo poder
geral de efetivação, o juiz poderá aplicar outras medidas que julgar adequadas, necessárias e
razoáveis.

IV – a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do
direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável => há aqui 3
pressupostos a serem observados:
- a evidência deverá ser demonstrada por prova exclusivamente documental (interpretação
extensiva: prova documentada/emprestada e fato que independe de prova, como notório,
incontroverso e confessado);
- a prova documental deve ser suficiente; e
- ausência de contraprova documental suficiente do réu => ATENÇÃO: a contraprova insuficiente
deve ser documental, pois que, caso fosse qualquer espécie de prova, ensejaria o julgamento
antecipado do mérito (art. 355, I, NCPC – causa madura), cuja cognição é exauriente e a
decisão definitiva.

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PARTE 2 - DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

2.1 Noções gerais


São espécies de procedimentos no processo de conhecimento:
a) comum
b) especiais:
• de jurisdição contenciosa – arts. 539 a 718, NCPC;
• de jurisdição voluntária – arts. 719 a 770, NCPC;
• em legislação especial – mandado de segurança (Lei n. 12.016/09); procedimento
sumaríssimo dos Juizados Especiais (Leis n. 9.099/95; 10.259/01; 12.153/09); etc.

Os procedimentos especiais são aqueles “destinados a orientar a tramitação judicial de


certas pretensões que não encontrariam tratamento processual condizente dentro dos
parâmetros do procedimento ordinário” (Humberto Theodoro Jr.).
São medidas utilizadas para que os procedimentos especiais alcancem seus objetivos:
- alteração de prazos;
- alteração da sequência de atos;
- eliminação de atos;
- fusão de atos cognitivos e executivos;
- delimitação do tema a ser deduzido na inicial ou na contestação; etc.
Todavia, aplica-se, subsidiariamente, aos procedimentos especiais as regras do
procedimento comum (art. 318, parágrafo único, CPC).

2.2 Procedimentos especiais previstos no NCPC

Os procedimentos especiais estão previstos tanto no NCPC quanto na legislação


especial (ex.: juizados especiais, mandado de segurança, etc.).
São espécies de procedimentos especiais no NCPC:
a) de jurisdição contenciosa:
• ação de consignação em pagamento (arts. 539 a 549);
• ação de exigir contas (arts. 550 a 553);
• ações possessórias (arts. 554 a 568);
• ação de divisão e da demarcação de terras particulares (arts. 569 a 598);

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• ação de dissolução parcial de sociedade (arts. 599 a 609);


• inventário e partilha (arts. 610 a 673);
• embargos de terceiro (arts. 674 a 681);
• oposição (arts. 682 a 686);
• habilitação (arts. 687 a 692);
• ações de família (arts. 693 a 699);
• ação monitória (arts. 700 a 702);
• homologação de penhor legal (arts. 703 a 706);
• regulação de avaria grossa (arts. 707 a 711);
• restauração de autos (arts. 712 a 718);

Por outro lado, o NCPC não prevê mais como procedimento especial de jurisdição
contenciosa as ações de depósito (que foi ‘desprocedimentalizada’ e transformou-se uma das
hipóteses de tutela de evidência – art. 311, III); de anulação e substituição de título ao portador e de
usucapião (prevendo apenas a imposição da citação por editais nestes feitos, que passaram a
ser de rito comum – art. 259); além da nunciação de obra nova e venda a crédito com reserva de
domínio.

b) de jurisdição voluntária:
• notificação e interpelação (arts. 726 a 729);
• alienações judiciais (art. 730)
• divórcio e separação consensuais, extinção consensual de união estável e da alteração
do regime de bens do matrimônio (arts. 731 a 734);
• testamentos e codicilos (arts. 735 a 737);
• herança jacente (arts. 738 a 743);
• bens do ausente (arts. 744 e 745);
• coisas vagas (art. 746);
• interdição (arts. 747 a 758);
• tutela e curatela (arts. 759 a 763);
• organização e fiscalização das fundações (arts. 764 e 765);
• ratificação dos protestos marítimos e dos processos testemunháveis formados a bordo
(arts. 766 a 770);
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2.2.1 AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO (arts. 539 a 549 do CPC e 334 a


345 do CC)

a) introdução
A lei não só obriga o devedor ao pagamento, como também assegura a ele e a qualquer
interessado o direito de pagar, caso o credor se recusar a recebê-lo (mora accipiendi). A esta
forma especial ou indireta de pagamento, a lei (art. 304, CC) denominou de consignação,
consistente no depósito judicial ou em estabelecimento bancário da quantia ou coisa devida
(portanto, o objeto será apenas obrigações de dar).
Ex: o locador se recusa a receber o aluguel, ao argumento de que o valor devido é
superior ao ofertado ou por qualquer outro motivo. Nesse caso, faculta-se ao devedor manejar
a ação de consignação em pagamento ou de fazer a consignação extrajudicial.

b) cabimento
O art. 539 do NCPC admite a consignação em pagamento “nos casos previstos em lei”, que
são os previstos no art. 335, CC, ou seja, na lei civil estão elencadas as situações que podem
impedir o devedor de solver a obrigação pelos meios normais, quais sejam:
I - o credor se recusa injustamente a receber o pagamento ou dar quitação => mora accipiendi
quando a dívida for portável;
II - o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos => mora
accipiendi quando a dívida for quesível;
III - o credor for pessoa incapaz (representante desconhecido ou se recusa a receber),
desconhecido (credor antigo, já falecido, e não se conhece os herdeiros), declarado ausente (se
o curador for desconhecido ou se recusar a receber) ou reside em lugar inacessível (caso de
dívidas portáveis);
IV - há dúvida quanto ao credor (legitimado a receber);
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.

b) modalidades: extrajudicial ou judicial.


A consignação extrajudicial ocorre quando a prestação for quantia em dinheiro e, no
lugar do pagamento, existir estabelecimento bancário, oficial ou particular.
Trata-se, na verdade, de instrumento de direito material, pois visa evitar a demanda
judicial.

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Consiste em depósito bancário, com AR ao credor, o qual, em 10 dias, poderá


comparecer à agência bancária e levantar o depósito; ou permanecer inerte, quando então
presumir-se-á a sua aceitação, liberando o devedor; ou manifestar por escrito ao
estabelecimento bancário a recusa ao recebimento, quando então terá o devedor o prazo de 1
mês para ajuizar a ação consignatória (instruindo a inicial com a cópia do depósito e da
recusa). Não ajuizada a ação no prazo, considera-se sem efeito o depósito, podendo o devedor
levantá-lo, e, se quiser, oportunamente ajuizar a referida ação.
Já consignação judicial tem lugar quando a prestação for coisa, ou quando não for
possível a via extrajudicial.

d) procedimento:
- petição inicial:
=> competência (territorial/relativa): segundo o art. 540 do NCPC, a petição inicial deverá
ser dirigida ao juízo do lugar do pagamento (domicílio do autor/devedor – se a dívida for
quesível, ou se o domicílio do credor for desconhecido; domicílio do réu/credor – se a dívida
for portável); da situação da coisa (art. 341 do CC); ou do foro eleito. Consignação de
aluguéis será ajuizada no lugar do foro contratual ou, na sua falta, no da situação do imóvel
(art. 58, II, Lei n. 8.245/91).
=> pedido: de depósito da quantia ou coisa devida e da citação do réu para levantar o
depósito ou oferecer contestação (art. 542, NCPC). Se tratar de prestações periódicas, o
devedor pode se utilizar de um só processo para promover o depósito das diversas
prestações em que se divide a obrigação (art. 541, NCPC).
=> valor da causa: será o valor da prestação devida, acrescido dos juros e demais encargos, ou
o valor correspondente à coisa. Se tratarem de prestações periódicas, o valor da causa
corresponderá à soma das prestações até o máximo de uma anuidade (súm. 449, STF).

- despacho da inicial: ao analisar a inicial, o juiz defere o depósito, que deve ser efetuado no
prazo de 5 dias (art. 893, I), sob pena de extinção do processo sem resolução do mérito (art.
542, parágrafo único do NCPC), pois o depósito consiste em pressuposto processual
específico do procedimento consignatório.

- após o depósito: o juiz determina a citação do réu, que pode:


• levantar o depósito: acarreta a extinção do processo com resolução do mérito; OU

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• oferecer resposta no prazo de 15 dias: caso não aceite o depósito. A resposta poderá
ser nas modalidades da contestação, reconvenção ou exceção. Se for contestação, nos termos
do art. 544 do NCPC o réu poderá alegar, além das preliminares:
- inocorrência de recusa;
- recusa justa;
- não realização do deposito no prazo ou no lugar do pagamento;
- não integralidade do depósito (deverá indicar o montante devido). Lembrando que, neste
ultimo caso, a consignação ganhará feição de ação dúplice, ou seja, rejeitado o pedido
do autor, o juiz o condenará a satisfazer o montante devido (art. 545).

• permanecer inerte: quando então será decretada a sua revelia e haverá o julgamento
antecipado da lide.

- oferecida contestação, o ação segue o procedimento ordinário, com instrução, se necessário,


culminando na sentença, que, se julgar o pedido procedente, declarará extinta a obrigação e
condenará o réu ao pagamento de custas e honorários advocatícios (art. 546, NCPC). O juiz
fará o mesmo se o credor receber e der quitação (parágrafo único do art. 546).

e) consignação de coisa indeterminada ou incerta (art. 543): se a coisa for indeterminada ou


incerta, e a escolha couber ao réu (credor), este será, antes, citado para exercer o direito de
escolha, no prazo de 5 dias (salvo outro prazo na lei ou no contrato), e comparecer para
receber a prestação. Caso o credor não faça a escolha no prazo legal, a faculdade é devolvida
ao devedor, que deve proceder ao depósito da coisa.

f) ação consignatória como ação dúplice (art. 545, NCPC):


Como visto, a ação consignatória pode se revelar como uma ação dúplice na medida
em que o réu, independentemente de reconvenção, poderá alegar na contestação a
insuficiência do depósito, ocasião em que o autor poderá complementá-lo em 10 dias, salvo se
o inadimplemento der causa à rescisão contratual.
Assim, o réu pode levantar desde logo a quantia ou coisa depositada, o que acarreta
liberação parcial do autor, prosseguindo o processo quanto à parcela controvertida (§1º).

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Se a sentença concluir que o depósito foi insuficiente, ela determina, sempre que
possível, o montante devido, podendo o réu executar o autor nos mesmos autos (a sentença
valerá como título executivo e poderá desde já ser cumprida) - §2º.
Caso o contrário, não sendo possível, na sentença, fixar o montante devido, deverá
antes ser apurado em liquidação de sentença (§2º).

g) consignação quando há dúvida a quem se deve pagar:

Nos termos do art. 547 do NCPC, se houver dúvida sobre quem deva legitimamente
receber o pagamento, o autor requererá o depósito e a citação dos possíveis titulares do
crédito para provarem o seu direito.
Neste caso, diz o art. 548:
I - se, citados, ninguém comparece: opera-se a revelia deles, o juiz libera o devedor julgando
antecipadamente a lide, e o depósito converte-se em coisas vagas, ou seja, é arrecadado como
bem de ausente, perdurando indefinidamente, até que um interessado provoque o seu
levantamento;
II - se comparece apenas um deles: o juiz decidirá de plano, julgando extinta a obrigação, e o
credor, demonstrando o seu direito à prestação, levantará o depósito a seu favor.
III - se comparece mais de um pretendente: do mesmo modo o juiz declara efetuado o
depósito e extinta a obrigação, continuando, porém, o processo a correr unicamente entre os
presuntivos credores, pelo procedimento comum, para se apurar quem é o verdadeiro titular
do crédito.

h) consignação incidental:
- ocorre quando outros pedidos são cumulados ao pedido consignatório (ex.: revisional);
- é cabível, desde que se observe o procedimento comum (requisitos do art. 327);
- atenção ao art. 328, §3º, NCPC, antigo art. 285-B, CPC/73.

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2.2.2 AÇÃO DE EXIGIR CONTAS NO NCPC (arts. 550 a 553, CPC)

Refere-se ao dever contratual de prestar contas por aquele que administra bens ou
direitos alheios. Ex: síndico de condomínio.
Portanto, a legitimidade passiva será do administrador e a legitimidade ativa, por
consequência, será do interessado na administração dos bens ou direitos.
Importante observar que o NCPC, no art. 550, reduziu a legitimidade ativa desta ação
para apenas aquele que afirma ser titular do direito de exigir contas, ou seja, do interessado na
administração dos bens ou direitos, razão pela qual foi renomeada como “ação de exigir
contas”. Antes, o CPC/73 legitimava também ao administrador a prestá-las através da então
chamada ação de prestação de contas.
A ação de exigir de contas tem seu procedimento delineado pelo artigo 550 do NCPC e
seus parágrafos, em que se vislumbra a ocorrência de duas fases distintas (bifásico), com objetos
distintos: na 1ª fase, discute-se apenas a existência da relação de direito material e a obrigação
ou não de prestar contas; e, na 2ª, serão analisadas as contas, determinando a existência de
saldo e sua apuração, bem como condenando o réu ao pagamento da referida quantia.

- 1ª Fase:
Nos termos do caput e §1º do art. 550, na petição inicial, o autor especificará,
detalhadamente, as razões pelas quais exige as contas, instruindo-a com documentos
comprobatórios dessa necessidade, se existirem, requerendo a citação do réu para que as
preste ou ofereça contestação no prazo de 15 dias.
Citado, o réu poderá adotar 3 comportamentos distintos:
- prestar as contas (§2º) => tendo o autor, então, o prazo de 15 dias para se manifestar,
prosseguindo-se o processo para as demais fases do rito comum (saneamento, instrução e
decisão).
- contestar (§3º) => de modo fundamentado e específico, com referência expressa ao lançamento
questionado. O código não diz, mas naturalmente, neste caso, o processo também prosseguirá
para as próximas fases.
- não contestar (§4º) => o juiz decreta a revelia e julga antecipadamente o mérito reconhecendo a
existência das contas.

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Em qualquer caso, a 1ª fase será encerrada pela decisão4 que julgar procedente ou
improcedente o pedido.
No caso de improcedência, não há que se falar numa 2ª fase, pois que não foram
reconhecidas as contas exigidas pelo autor.
Mas, havendo a condenação do réu a prestar as contas, este deverá apresentá-las em
15 dias, o que marca o início da 2ª fase.

- 2ª Fase:
Como já dito, esta 2ª fase será para analisar as contas, determinar a existência de
saldo e apurá-lo, condenando o réu ao pagamento da referida quantia.
Caso o réu condenado não apresente as contas em 15 dias após a decisão que as
reconheceu na 1ª fase, perderá o direito a impugnar aquelas que ainda serão, em seguida,
apresentadas pelo autor num prazo de 15 dias, podendo o juiz determinar realização de exame
pericial, se necessário (§§5º e 6º, in fine).
Mas, do contrário, se o réu apresentá-las dentro do referido prazo (o qual deverá ser
na forma adequada, especificando-se as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos,
se houver), o juiz abrirá prazo para o autor impugná-las (art. 551).
Havendo impugnação específica e fundamentada pelo autor, o juiz estabelecerá
prazo razoável pra que o réu apresente os documentos justificativos dos lançamentos
individualmente impugnados (§1º do art. 551), seguindo o processo para as próximas fases do
procedimento comum (saneamento, instrução e decisão - §6º, 1ª parte, do art. 550).
Aqui, a decisão, que será uma sentença, analisará 3 questões:
- se as contas foram corretamente apresentadas;
- a existência de saldo ou inexistência de saldo;
- e, havendo saldo, a quantia sobre a qual recairá a condenação.
Desta sentença caberá apelação e, após o trânsito em julgado, terá início a fase de
cumprimento de sentença, uma vez que ela se constituirá em título executivo judicial (art.
552).

4
O NCPC, no §5º, não usa mais a expressão ‘sentença’, mas sim “decisão que julgar procedente o pedido....”, o
que denota a ideia de que se trata de decisão interlocutória, e, nesse caso, de mérito (pois resolve um pedido
principal sem colocar fim ao procedimento, que avançará rumo à 2ª fase), portanto, passível do recurso de
agravo de instrumento (cf. art. 1.015, II, NCPC).

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2.2.3 AÇÕES POSSESSÓRIAS (arts. 554 a 568, CPC)

a) Juízo petitório x juízo possessório


- possessório (ius possessionis): a pretensão diz respeito à posse em si mesma, sem cogitar
qualquer outra relação jurídica. O fundamento da pretensão e o pedido são a posse. Portanto,
instruir tais causas com prova da titularidade do domínio é irrelevante, uma vez que basta
demonstrar a posse anterior e a ofensa a esta. Seguindo o mesmo raciocínio, mas em situação
diversa, é o proprietário que nunca foi possuidor do seu bem, o qual será carecedor da ação
possessória, cabendo-lhe, na verdade, a imissão na posse.

- petitório (ius possidendi): a pretensão diz respeito ao direito de propriedade. O fundamento é


a posse decorrente da propriedade, e o pedido é o domínio. Ex:. reivindicatória, imissão na
posse, embargos de terceiro etc. O art. 557 do NCPC veda, na pendência da ação possessória,
que o réu ou o autor ajuízem ação visando o reconhecimento do domínio. A tutela da posse
seria inútil se fosse possível ao proprietário responder ao possuidor com a ação petitória.

b) Espécies de Possessórias (art. 1210 CC):


- ação de reintegração de posse: cabível quando há o esbulho da posse (perda violenta,
clandestina ou precária da posse);
- ação de manutenção de posse: cabível quando há turbação na posse (efetivo embaraço ao
exercício da posse); e
- interdito proibitório: cabível, preventivamente, quando há ameaça ao exercício da posse, ou
seja, ameaça iminente de turbação ou esbulho.

c) Fungibilidade das ações possessórias (art. 554, CPC/15): pela dificuldade em distinguir
uma situação de esbulho e turbação; ou entre esta e simples ameaça a posse, o legislador
previu, no art. 554, a aplicação do principio da fungibilidade ou conversibilidade dos interditos,
segundo o qual o juiz poderá conhecer de um pedido possessório, diverso do requerido pelo
autor, desde que os requisitos estejam provados, outorgando-lhe a proteção adequada. Isso
ocorre muito em caso da alteração da situação fática depois do ajuizamento da demanda
possessória.

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Ex: ajuíza-se interdito proibitório em razão da ameaça de esbulho sofrida; porém, este,
no curso do processo, se concretiza, deixando de ser simples ameaça; o juiz pode
converter em ação de reintegração de posse.

O princípio restringe-se às possessórias (independente do rito), não se aplicando,


portanto, entre ação petitória e ação possessória, posto que tem pedidos e fundamentos
completamente diversos, o que poderia implicar num julgamento extra petita.
Também não se aplica se o novo ato espoliativo ocorreu após o trânsito em julgado da
possessória, uma vez que se trata de causa de pedir para o ajuizamento de nova possessória.

d) Ações de força nova e de força velha – definição do rito (art. 558, NCPC)

- ação de força nova: a ação é proposta dentro de 1 ano e 1 dia da ofensa da posse; o rito será
especial do Capítulo. A concessão liminar será com base nos arts. 561 e 562, NCPC, ou seja,
basta que o autor comprove a posse, o esbulho ou a turbação, a perda ou continuação na
posse, principalmente a data do ato espoliativo, independentemente de demonstração de
periculum in mora, que, nas possessórias, é presumido – in re ipsa.

- ação de forca velha5: a ação é proposta após esse prazo; o rito a ser observado será o comum
(o pedido liminar submeterá aos requisitos previstos no art. 300, NCPC, ou seja, a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo), sem
retirar o caráter possessório.

Obs:. O interdito proibitório é sempre ação de força nova, porque a ameaça é constante e deve
ser sempre atual.

5
A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) cassou decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) que havia
considerado impossível a concessão de antecipação de tutela em ação possessória, em caso de posse velha (com prazo superior a um ano e
um dia). A disputa pela posse da Fazenda do Céu, situada na Prainha de Mambucaba, em Paraty (RJ), remonta a 1983. Segundo a ministra
Isabel Gallotti, o fato de a ação possessória ser fundada em posse velha impõe que ela seja regida pelo procedimento ordinário,
previsto no artigo 924, parte final, do Código de Processo Civil (CPC), e não pelo rito especial, reservado às ações intentadas com
menos de ano e dia. Embora a posse velha impeça o deferimento da imissão liminar (prevista no artigo 928 do CPC), nada impede –
acrescentou a ministra – que o juiz atenda ao pedido de antecipação de tutela (artigo 273), cabível em todas as ações ordinárias, desde
que estejam presentes no caso específico os requisitos legais para sua concessão (Notícia STJ 08/08).

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e) Objeto das ações possessórias

Só é cabível ação possessória para bens e direitos capazes de serem apreendidos


fisicamente, isto é, para bens materiais (bens móveis, semoventes e imóveis).
• Sum. 228 STJ: não cabe ação possessória para a proteção do direito autoral.
• Sum. 415 STF: cabe possessória para defender servidão de passagem.

f) Procedimento das possessórias

➢ Petição inicial (arts. 319/320 e 561 CPC):

- Competência => foro do domicílio do réu, para bens móveis e semoventes (art. 46, NCPC); foro
da situação da coisa, quando se tratar de bem imóvel (art. 47, §2º, NCPC).
Neste último caso, ainda que se trate de ação fundada em direito pessoal, não se
aplica o art. 46 do NCPC, que prevê a competência do foro do domicílio do réu, por haver
previsão específica para as ações possessórias no art. 47, §2º, do mesmo diploma legal,
segundo o qual a competência para a ação possessória imobiliária será proposta no foro da
situação da coisa, cujo critério territorial, ali estabelecido, se reveste excepcionalmente de
caráter absoluto.
Vale lembrar que, em alguns casos, a competência será do Juizado Especial. É o que
ocorre nas possessórias cujo valor for igual ou inferior a 40 salários mínimos, conforme art. 3 o,
IV, da Lei n. 9.099/95.

- Partes e sua qualificação:


a) capacidade de ser parte => pessoas físicas e pessoas jurídicas, de direito privado ou de
direito público.
As partes devem ser identificadas com precisão, salvo no caso de invasão por um
número indeterminado de pessoas (indicação apenas dos ocupantes). O novo CPC estabelece
regramento para a citação de grande número de pessoas, afirmando que se procede a citação
dos ocupantes encontrados no local, e, dos demais, por edital, devendo-se ouvir o MP e, se for
o caso, a Defensoria Publica (art. 554, §§1º e 2º, NCPC).

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b) capacidade de estar em juízo => apenas capazes. Se o responsável pelo ato for
absolutamente incapaz, a ação é em face daquele encarregado pela sua vigilância (pai, tutor ou
curador).
c) legitimidade => quem figurou na lide.
Será autor o possuidor esbulhado, turbado ou ameaçado, irrelevante se também
detentor de direito real.
Os compossuidores tem a faculdade de promover a ação em conjunto ou isoladamente,
sendo que, no primeiro caso, formar-se-á um litisconsórcio facultativo unitário, e, no segundo,
ainda que não tenham os demais figurados como partes, serão alcançados pelos efeitos da
coisa julgada, atuando o autor em legitimidade extraordinária.
Em se tratando de pessoas casadas compossuidoras, a regra é a mesma, com a
diferença que, se NÃO formarem litisconsórcio facultativo, será necessária a outorga
uxória/marital (art. 73, §2º, NCPC).
A ação pode ser tanto contra o autor do ato como contra o seu mandante, podendo o
primeiro requerer a sua substituição por este (art. 339, NCPC).
Já o legitimado passivo é o autor do esbulho, turbação ou ameaça, ainda que seja
possuidor da coisa.

Observações importantes:
• sucessor a título universal ou causa mortis é também legitimado, ativa ou passivamente,
porque continua na posse de seu antecessor (art. 1.207, Código Civil - CC), e o sucessor a
título singular responderá pelo vício apenas se recebeu por má fé a coisa esbulhada (art. 1.212,
CC).
• possuidores diretos e indiretos têm legitimidade um em face do outro, como também
ambos em face de terceiros em litisconsórcio ativo facultativo.

- Causa de Pedir (fatos e fundamentos jurídicos):


No caso da manutenção e reintegração de posse, segundo o art. 561, o autor dever
provar:
• a posse anterior (e não o domínio6. Exemplos de documentos que demonstram a posse:
contas de luz, correspondências, fotografias e outros);

6
Por essa razão que o promitente comprador não tem interesse processual para intentar ação de reintegração de
posse, mas sim imissão na posse, pois pleiteara a posse com fundamento no título de propriedade.
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• a ofensa ou o ato espoliativo, ou seja, turbação ou o esbulho;


• a data da turbação ou do esbulho (define o rito) – difícil de ser provada por prova
documental, o que poderá ensejar a concessão da liminar por meio de audiência de
justificação prévia (coleta de prova oral);
• a continuação ou a perda da posse (se manutenção ou reintegração, respectivamente).
Já no caso do interdito proibitório, conforme o art. 567, além da posse anterior, basta
provar a iminência da turbação ou do esbulho, ou seja, a fundada e grave ameaça de tais atos
consumarem (se ameaça for consumada, é caso de manutenção ou reintegração de posse).

- Pedido => expedição do competente mandado (de manutenção, de reintegração ou de


proibição do esbulho ou turbação).
Além do pedido principal, o art. 555 do NCPC permite a cumulação de outros
pedidos sem prejuízo do rito especial, desde que tenham por fundamento a turbação ou o
esbulho, como a cumulação com o pedido de condenação em perdas e danos e indenização dos
frutos. Ademais, para efetivar a tutela relativa à posse, prevê o parágrafo único do art. 555 que
o autor poderá requerer também a imposição de medida necessária e adequada para evitar
nova turbação ou esbulho e para cumprir tutela provisória ou final.
Se o autor cumular outros pedidos, além dos previstos no art. 555, aí o rito será o
comum.
O pedido de concessão da liminar é possível, como já visto, se tratar de ação de força
nova (art. 558 c/c art. 562, CPC), afastando, nesse caso, a aplicação da antecipação dos efeitos
da tutela genericamente prevista no art. 300, NCPC, pertinente apenas se a ação de força
velha (art. 558, parágrafo único).

- Valor da causa => aplicação por analogia do art. 292, IV, NCPC (o valor de avaliação da área ou
do bem objeto do pedido).
- Provas => todos os meios de prova hábeis a demonstrar a posse (no caso de manutenção de
posse e do interdito proibitório, a atualidade da posse), a ofensa e o tempo de sua ocorrência.

- Requerimento de citação do réu => se o local for inacessível, não permitindo a aproximação do
oficial de justiça, a citação será por edital. Lembrando que o art. 554, §1º, do NCPC, prevê, na
ação em que figure no pólo passivo grande número de pessoas, a citação será pessoal dos
ocupantes que forem encontrados no local e dos demais, por edital.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª: Évelyn Cintra Araújo

- Documentos indispensáveis à propositura da ação (art. 320, CPC).

➢ Apreciação da liminar antecipatória (arts. 561 a 564 – reintegração e manutenção na posse


e 567 – interdito proibitório):
Provado o esbulho ou a turbação em menos de ano e dia, o mandado de reintegração
ou de manutenção é deferido liminarmente (sem ouvir o réu), conforme o art. 562, ou em
audiência de justificação prévia, consoante o art. 563. No caso do interdito proibitório, o juiz
determinará ao réu uma obrigação de não fazer, proibindo-o de molestar a posse do autor, sob
pena de incorrer em multa pecuniária.
Mas se o ato espoliativo for mais de ano e dia (apenas se turbação ou esbulho, pois
que, como visto, a ameaça é sempre nova), então, a liminar só será deferida se os requisitos do
art. 300 (tutela de urgência antecipada genérica) estiverem satisfeitos.
Sendo o réu for ente público, não é cabível liminar inaudita altera pars, ou seja, depende
da oitiva dos seus representantes legais (art. 562, parágrafo único).
A liminar na ação possessória tem natureza antecipatória posto que satisfativa, em
nada se assemelhando com a cautelar, vez que não objetiva assegurar processo, mas
restabelecer o mais rápido possível o status quo ante alterado pela ofensa à posse.
Todavia, poderá ser deferida com ou sem audiência de justificação prévia, a depender
se os seus requisitos (posse anterior e o tempo da ofensa há menos de ano e dia) forem
comprovados por documentos ou por provas orais.
O réu é citado para a audiência de justificação (art. 562, in fine), mas não pode produzir
provas, apenas contraditar e reperguntar as testemunhas do autor. Isso porque, para o STJ, tal
citação não é para defesa, mas apenas para o réu comparecer e participar da audiência, não
ensejando em nulidade processual a sua ausência.
O juiz pode condicionar a manutenção da liminar à prestação de caução real ou
fidejussória pelo autor, se réu provar que o autor carece de idoneidade financeira para
responder eventuais perdas e danos caso venha a sucumbir na ação, dispensada se tratar de
parte economicamente hipossuficiente (art. 559).
Da decisão judicial que concede ou não a liminar é cabível agravo de instrumento.

➢ Respostas do réu: concedido ou não o mandado liminar, o autor promoverá, nos 5 dias
subseqüentes, a citação do réu para, querendo, contestar a ação no prazo de 15 dias (art. 564).

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Obviamente que se houve audiência de justificação prévia, o prazo será contado da intimação
(e não citação) da decisão que deferir ou não a liminar (parágrafo único do art. 564).
Se o réu quedar-se inerte e não apresentar resposta, ser-lhe-á decretada a revelia,
seguindo o processo o rito comum, nos termos do art. 566.
Todavia, apresentando resposta, o réu poderá oferecer:
a) contestação: o réu pode arguir quaisquer das preliminares do art. 337, CPC (inclusive,
incompetência absoluta caso a regra do art. 47, §2º, aplicada às possessórias imobiliárias, não
for observada, ou incompetência relativa se a regra do art. 46, aplicada às possessórias de bens
móveis, não for observada); e, no mérito, pode alegar a ausência dos requisitos do art. 561;
opor, como fato extintivo ao direito do autor, o usucapião (Sum. 237, STF – não se trata de
defesa petitória, porque a discussão sobre prescrição aquisitiva se assenta na posse; ademais,
o objetivo na possessória não é uma sentença declaratória do domínio); e a indenização por
benfeitorias feitas na coisa.
Por fim, insta registrar que as ações possessórias tem caráter dúplice 7, o que autoriza o
réu também pleitear, mediante pedido contraposto, proteção possessória e perdas e danos
pelos prejuízos decorrentes da suposta ofensa praticada pelo autor (art. 556, NCPC).

b) Reconvenção ou pedido contraposto8: em razão do art. 556 prever a possibilidade de o réu


formular pedido contraposto na própria contestação (por se tratar de ação dúplice),
sustentou-se por muito tempo a impossibilidade de manejo da reconvenção nas possessórias
por falta de interesse de agir. Porém, a jurisprudência afastou tal entendimento sob o
argumento de que o pedido contraposto cinge-se às hipóteses tipificadas no art. 556 do CPC,
sendo cabível a reconvenção para outras hipóteses.

➢ Após o prazo da resposta: todas as ações possessórias seguem o procedimento comum (art.
566), o qual culmina na sentença.
A sentença possessória é objetivamente complexa, uma vez que pode conter, a par do
mandado possessório, o pleito cominatório e até condenatório de indenização. Desta feita, ao

7
Ações dúplices ou ambivalentes são aquelas onde autor e réu podem formular pretensões, e o deferimento do
pedido de um implicará necessariamente no indeferimento do pedido do outro.
8
Na verdade, reconvenção e pedido contraposto são demandas do réu contra o autor no mesmo processo,
formuladas na mesma peça em que se apresenta a contestação, distinguindo-se, apenas, pela amplitude: no
primeiro pode ser formulado qualquer pedido, desde que conexo com a ação principal ou com os fundamentos da
defesa (art. 343); já o segundo limita-se ou a causa de pedir remota ou o pedido para algo tipificado. O pedido de
proteção possessória, por exemplo, deve ser considerado como pedido contraposto porque o art. 556 limita-o ao
pleito indenizatório.
40
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª: Évelyn Cintra Araújo

julgar procedente o pedido principal e os cumulados, a sentença faz nascer obrigação de


entregar coisa bem como de dar quantia.
No primeiro caso, a execução dar-se-á segundo a disciplina das tutelas específicas das
obrigações de entrega de coisa, prevista no art. 498 (antigo art. 461-A), onde o juiz fixará
prazo para a entrega da coisa, que, se desobedecido, ensejará a expedição de mandado de
busca e apreensão, se coisa móvel, ou de manutenção ou reintegração na posse, se coisa
imóvel.
Por outro lado, no que tange ao capítulo da sentença que condenou na obrigação de
dar quantia (indenização, p.ex.), transitada esta em julgado e não cumprida voluntariamente
pelo réu, o credor elaborará memória de cálculo atualizada e requererá a intimação do devedor
para efetuar o pagamento no prazo de 15 dias, sob pena de multa de 10% sobre a dívida e
expedição de mandado de penhora (art. 523; a que correspondia no CPC de 73 o art. 475-J).
Transcorrido o mesmo prazo, ao invés de pagar, poderá o devedor apresentar
impugnação ao cumprimento da sentença, ocasião em que o feito prosseguirá perpassando
pela fase expropriatória até a satisfação do credor.
Vale lembrar que, havendo pedido de desfazimento de construção, a sentença de
procedência será cumprida obedecendo ao disposto no art. 497 (a que correspondia o art.
461), que estabelece a tutela específica das obrigações de fazer.
Por fim, salienta-se que da sentença das ações possessórias caberá apelação em ambos
efeitos se for de improcedência, pois que, se de procedência, confirmando a liminar,
obviamente se aplica a exceção do art. 1.012, V, segundo a qual a apelação será recebida apenas
no efeito devolutivo se a sentença confirmar a tutela antecipada.

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2.2.4 INVENTÁRIO E PARTILHA (arts. 610 a 673, CPC)

a) Noções gerais
Conforme art. 1784 do Código Civil, falecida a pessoa natural, a herança transmite-se,
desde logo, aos sucessores. Entretanto, é necessário identificar quem são eles e, havendo mais
de um, definir como será feita a divisão da herança. Para essa finalidade, existe o
procedimento de inventário e partilha.
Inventário significa relacionar, catalogar, enumerar. No CPC, inventário consiste no
procedimento especial de jurisdição contenciosa, pelo qual se procede à descrição e à
avaliação do patrimônio (bens, direitos e obrigações) deixado por alguém em virtude de seu
falecimento.
Já a partilha, por sua vez, constitui o segundo estágio do procedimento e vem a ser a
atividade desenvolvida para dividir o acervo patrimonial entre os sucessores. Importante
notar que não existe partilha sem inventário (até a partilha feita por testamento não dispensa
futuro inventário), mas pode ocorrer inventário sem partilha (ex: inventário negativo ou
quando houver apenas um herdeiro).

b) Espécies de inventário (procedimento):


- inventário judicial: que divide em inventário tradicional (ou solene) e arrolamento, que, por sua
vez, pode ser sumário (art. 659 – independente do valor da herança, desde que todos os
herdeiros sejam maiores, capazes e de acordo com a partilha amigável) ou comum (art. 664 –
independente se capazes ou não os herdeiros, desde que o valor dos bens for igual ou inferior a
1.000 salários mínimos). O inventário tradicional ou solene tem aplicação residual (art. 610 –
“havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial”).

- inventário extrajudicial: se todos forem capazes e concordes quanto à partilha, procede-se


ao inventário e à partilha, administrativamente, em Cartório, valendo a escritura pública
como título hábil para qualquer ato de registro bem como para levantamento de importância
depositada em instituições financeira (art. 610, §1º).
Para Alexandre Câmara (2007, p. 480), este procedimento veio substituir o
arrolamento sumário, vez que se tratam das mesmas hipóteses (todavia, remanescerá o
arrolamento sumário apenas quando houver um único herdeiro, dispensando obviamente
partilha, e que este seja incapaz, circunstância que afasta a via extrajudicial).

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Para parte da doutrina, não há opção aos interessados, carecendo-lhes de interesse


processual pelo inventário judicial por ausência de necessidade (há quem discorde em defesa
ao princípio da inafastabilidade jurisdicional).
O inventário extrajudicial deverá ser feito necessariamente por meio de advogado
(ou por defensor público, se os interessados não tiverem condições financeiras), o qual
redigirá a minuta, devendo constar a qualificação completa do autor da herança, dia e local do
falecimento, a qual será levada ao Tabelionato de Notas. O tabelião poderá exigir, para lavrar
a respectiva escritura, documentos tais como: certidão de óbito; documento de identificação
de todas as partes; certidão comprobatória do vínculo de parentesco com o autor da herança;
certidão de casamento do cônjuge sobrevivente; e documentos comprobatórios da
propriedade dos bens e seu valor.

c) Inventário Judicial
c.1) Petição Inicial
A petição inicial observará normalmente os requisitos do art. 319, com as
peculiaridades próprias do procedimento do inventário, porém trata-se de uma petição bem
menos burocratizada, não havendo necessidade de ampla exposição dos fatos e dos
fundamentos jurídicos do pedido, do pedido com suas especificações e do protesto pela ampla
produção de provas (MONTENEGRO FILHO, 2006, p. 449). Basta noticiar a morte do autor
da herança (com a certidão de óbito em anexo à exordial), a existência de bens e herdeiros,
sem necessariamente identificá-los (salvo no arrolamento sumário, que, pela celeridade
própria do rito, impõe a apresentação do esboço de partilha já na petição inicial).
Entretanto, deve ser endereçada ao juízo competente, que, nesse caso, será definido
por 2 critérios: o territorial e o material.
Pelo critério territorial, previsto no art. 48 do NCPC, é competente para o processo
de inventário e partilha o foro do domicílio do autor da herança. Todavia, o referido artigo
estabelece foros subsidiários. Assim, se o autor da herança não tinha domicílio certo, será
competente o foro da situação dos bens imóveis. Todavia, se o de cujus possuía bens imóveis em
foros diferentes, será competente qualquer destes. Não havendo bens imóveis, a ação deverá ser
ajuizada no foro do local de qualquer dos bens do espólio.
Pelo critério material, a ação será aforada na Vara Especializada em Sucessões, onde
houver; do contrário, será competente a Vara Cível.

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Vale lembrar que cabe à autoridade brasileira, com exclusividade, proceder ao


inventário e à partilha de bens situados no Brasil, independentemente da nacionalidade ou
domicílio do de cujus (art. 23, II, NCPC).
Quanto à legitimidade, a abertura do inventário deverá ser requerida,
primeiramente, pelo administrador provisório no prazo de 2 meses após o falecimento do
autor da herança. Duas observações merecem ser feitas quanto à eventual inércia dos
interessados na abertura do processo de inventário:
1ª) o NCPC não mais ressalva a hipótese da iniciativa de ofício do juiz (o art. 989 não tem um
correspondente na nova lei processual);
2ª) a multa pela inércia depende de previsão por lei estadual. Em Goiás, o Código Tributário
Estadual – Lei nº 11.651/91 foi alterado pela Lei n. 18.002/13, passando a ser devida não em caso
de atraso na abertura do inventário, e sim na entrega da declaração do ITCMD (a multa é de
10% do imposto devido, devida a partir do 121º dia de atraso ou de 20% a partir do 181º dia de
atraso).
Mas, além do administrador provisório, o art. 616 do NCPC elenca os legitimados
concorrentes, a saber:
- o cônjuge ou companheiro supérstite: independentemente do regime de bens.
- herdeiro
- legatário (beneficiado pelo testamento)
- testamenteiro
- cessionário do herdeiro ou do legatário
- credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança: seu crédito deve ser líquido e certo.
- administrador judicial da falência do herdeiro, do legatário ou do autor da herança ou do
cônjuge ou companheiro supérstite.
- Ministério Público, se houver herdeiro incapaz e forem omissos os outros legitimados (é
residual). Se a iniciativa não for do MP, este deverá, da mesma forma, ser intimado para
intervir no feito como fiscal da lei se o herdeiro for incapaz ou ausente, ou houver testamento.
- Fazenda Pública, por ter interesse em apurar e receber o ITCMD.

c.2) Administração da herança (provisória e inventariança)


Iniciado o inventário e até que haja a partilha, o encargo de administrar a massa
hereditária é do inventariante.

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Entretanto, antes dele ser nomeado e prestar compromisso, esse encargo incumbe ao
administrador provisório, que é aquele que está na posse e na administração dos bens do
falecido, independente de nomeação pelo juiz.
Recebida a petição inicial, o juiz nomeará então o inventariante, que, segundo o art.
617 do NCPC, poderá ser (ordem relativa):
- cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo com o outro ao
tempo da morte deste;
- o herdeiro que se achar na posse e administração do espólio;
- qualquer herdeiro, quando nenhum estiver na posse ou administração do espólio;
- o herdeiro menor, por seu representante legal (novidade do NCPC);
- o testamenteiro, se lhe foi confiada a administração do espólio do espólio ou se toda a
herança estiver distribuída em legados;
- o cessionário do herdeiro ou do legatário;
- o inventariante judicial, se houver;
- pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante judicial.
Intimado da nomeação, o inventariante prestará em 5 dias o compromisso de bem e
fielmente desempenhar a função (parágrafo único, art. 617).
Incumbe ao inventariante, além de representar judicial e extrajudicialmente o espólio
até a partilha, as atribuições previstas nos arts. 618 e 619, NCPC (ex: administrar o espólio
com diligência; prestar as primeiras e últimas declarações; trazer à colação os bens recebidos
pelo herdeiro ausente; alienar bens de qualquer espécie; pagar dívidas do espólio; fazer
despesas para a conservação dos bens do espólio; etc), sob pena de remoção (art. 622),
mediante incidente instaurado de ofício ou a requerimento de qualquer dos interessados, com
observância ao contraditório, em autos apensos ao inventário, sem suspendê-lo, de cuja
decisão caberá agravo (art. 1.015, parágrafo único). Removido que seja, o juiz nomeará outro,
observada da ordem do art. 617.

c.3) Primeiras declarações


De acordo com o art. 620, nomeado o inventariante, este, num prazo de até 20 dias
após firmar compromisso, deverá prestar as primeiras declarações (também sob pena de
remoção), consistentes em informações indispensáveis à realização do inventário, como:
- a qualificação completa do de cujus;
- a data e o lugar do óbito;

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- a qualificação completa dos herdeiros (incluindo email), a qualidade e seu grau de


parentesco com o falecido;
- a qualificação completa do cônjuge ou companheiro supérstite e o regime de bens do
casamento ou da união estável;
- a relação completa e individualizada de todos os bens do espólio, inclusive aqueles que
devem ser conferidos à colação, e dos bens alheios que nele forem encontrados, fazendo uma
descrição minuciosa dos bens imóveis, móveis, semoventes, dinheiro, jóias, títulos da dívida
pública, ações, quotas, dívidas ativas e passivas, direitos e ações, e, por fim, o valor corrente de
cada um dos bens.
Só se pode imputar sonegação de bens ao inventariante após este declarar por feita a
descrição de todos os bens (art. 621).

c.4) Citação e Impugnação às primeiras declarações


Feitas as primeiras declarações, cita-se o cônjuge/companheiro, os herdeiros e
legatários, por correio ou por edital (se estiverem em lugar incerto ou desconhecido), e
intima-se a Fazenda Pública, o Ministério Público, havendo herdeiro incapaz ou ausente, e o
testamenteiro, se houver testamento.
O objetivo é para, num prazo comum de 15 dias, impugnar as primeiras declarações,
cuja cópia lhes são entregue no momento da citação ou intimação (art. 626, §3º, §4º).
De acordo com o art. 627, a impugnação pode versar sobre:
- erros, omissões e sonegação de bens: quando então o juiz mandará retificá-los (§1º, art. 627);
- reclamação contra a nomeação do inventariante (não confundir com remoção): em razão da
preterição na ordem do art. 617, quando então o juiz nomeará herdeiro mais bem situado na
ordem preferencial (§2º, art. 627);
- a qualidade de quem foi incluído como herdeiro: o juiz, verificando a ausência de condição
de herdeiro, determinará a sua exclusão do feito.
Por outro lado, aquele que, se julga herdeiro, não for contemplado nas primeiras
declarações, deverá pleitear a sua inclusão antes da partilha. Nesse caso, ouvidas as partes em
15 dias, o juiz decidirá (art. 628).
Em ambos os casos, se a disputa da qualidade de herdeiro demandar produção prova
que não a documental, o juiz remeterá a parte para as vias ordinárias, sobrestando ou
reservando, acautelatoriamente, o seu quinhão até decisão do litígio (§3º, at. 627 e §2º, art.
628). No caso do herdeiro preterido, tal medida perderá a sua eficácia se ele não promover, no
prazo de 30 dias após a sua efetivação, a ação de petição de herança.
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Vale lembrar que o herdeiro descendente, que recebeu doação ou dote do ascendente,
é obrigado, no prazo de que dispõe para impugnar as primeiras declarações, a fazer colação dos
bens recebidos (à título gratuito), a fim de reconstituir o acervo hereditário, sob pena de ser
considerado sonegador (a sonegação será arguida por meio de ação própria no prazo de 10
anos). A colação será feita conferindo os bens por termo aos autos, ou, se o herdeiro já os não
possuir, trar-lhes-á o valor. Caso o herdeiro negue o recebimento da doação, abre-se vista às
partes e, instaurada a controvérsia, remetem-se a via ordinária, não podendo o herdeiro
receber o seu quinhão enquanto pender a demanda, salvo se prestar caução correspondente ao
valor dos bens sujeitos à conferência (§2º, art. 641).

c.5) Avaliação dos bens e últimas declarações


Após o prazo para a impugnação, não oferecida ou decidida se oferecida, o juiz
nomeará perito, se não houver avaliador judicial, para avaliar os bens do espólio (inclusive
quotas sociais e apuração de haveres), a fim de preparar a partilha e estimar a base de cálculo
do imposto causa mortis.
A avaliação será dispensada se a Fazenda Pública e os herdeiros (é necessário que
todos sejam capazes) concordarem com o valor atribuído nas primeiras declarações (art. 633).
Do contrário, será oferecido um laudo, do qual as partes poderão se manifestar no
prazo de 15 dias (art. 635). Se impugnado, o juiz, acolhendo, determinará a retificação ou
repetição da perícia.
Por outro lado, se aceito o laudo ou resolvidas as impugnações a seu respeito, será
lavrado o termo das últimas declarações, que nada mais são do que o ato processual pelo qual
se põe fim à fase do inventário dos bens (no qual o inventariante poderá emendar, aditar ou
completar as primeiras), sobre as quais serão ouvidas as partes também num prazo de 15 dias,
cabendo ao juiz decidir sobre eventuais impugnações (art. 637).
Em seguida, não manifestando as partes, ou decidindo o juiz sobre as impugnações,
procede-se ao cálculo do imposto causa mortis (ITCMD), sobre o qual também serão ouvidas
todas as partes no prazo comum de 5 dias, e, em seguida, a Fazenda Pública, decidindo o juiz
eventuais impugnações (art. 638).

c.6) Pagamento das dívidas do autor da herança (art. 642 e ss)

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Antes de se proceder à partilha, devem ser pagas as dívidas do falecido. Para tanto, o
credor deverá se habilitar mediante petição acompanhada de prova literal da dívida, a qual
será distribuída em dependência e autuada em apenso ao processo de inventário.
Se os herdeiros concordarem, o credor será habilitado e os bens, suficientes à
satisfação o crédito, separados para imediata alienação ou adjudicação, de acordo com as
regras de expropriação previstas no código.
Mas, se surgir qualquer controvérsia, a habilitação deverá ser resolvida pelas vias
ordinárias, resguardando eventual direito do credor pela reserva cautelar dos bens (art. 643,
caput e parágrafo único). Contudo, passados 30 dias da efetivação de tal reserva, sem que o
credor promova ação cabível (cobrança ou execução), a medida perderá eficácia.
Obs: credor de dívida líquida e certa, porém não vencida, poderá também requerer
habilitação no inventário. Todavia, havendo concordância das partes, a reserva dos bens será
feita para futuro pagamento.

d) Partilha
Superadas todas as etapas anteriores, proceder-se-á a partilha, que poderá ser
amigável ou judicial.
Se amigável, as partes, que deverão ser maiores e capazes, apresentarão negócio
jurídico que será homologado pelo juiz por meio de sentença. Atenção: a partilha amigável,
que ocorre no bojo do inventário judicial, não se confunde com a apresentada em Cartório de
Notas no inventário extrajudicial, que dispensa homologação.
Não sendo amigável, dar-se-á vista às partes para que, no prazo comum de 15 dias,
formulem o pedido de quinhão (cota parte que cabe a cada um), o qual será decidido pelo juiz,
deliberando a partilha e designando os bens que deverão constituir o quinhão de cada
herdeiro e legatário. Lembrando que, se houver um só sucessor, não haverá partilha, mas sim
adjudicação.
O NCPC, no parágrafo único do art. 647, prevê, de forma inédita, a possibilidade de o
juiz deferir antecipadamente a qualquer dos herdeiros o exercício dos direitos de usar e de
fruir determinado bem, sob a condição de que, ao término do inventário, tal bem integre a
cota desse herdeiro.
Também prevê a nova lei, no art. 649, que o bem não comporta cômoda divisão e que
não couber na parte do cônjuge ou companheiro supérstite ou de um só herdeiro, será licitado
entre interessados ou vendidos judicialmente, partilhando-se o valor apurado, salvo se houver
acordo para que todos o adjudique.
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Definidos os quinhões, o partidor, que é serventuário da justiça, elabora o esboço


(plano) da partilha definitiva de acordo com a decisão judicial, onde se prevê o monte-mor, o
abatimento das dívidas do espólio, bem como as despesas com funeral, os bens trazidos à
colação, e, do resultado final, que é o monte partível, prevê a reserva da meação do cônjuge ou
companheiro sobrevivente (se for o caso), dividindo a outra metade: em duas partes, a
disponível e a legítima, se houver testamento; ou entre os herdeiros de acordo com a ordem de
vocação hereditária (herdeiros necessários – cônjuge, descendentes e ascendentes; parentes
colaterais) – art. 651.
Feito o esboço, as partes dele serão intimadas para, no prazo comum de 15 dias, se
manifestarem (art. 652). Havendo impugnação, o juiz decidirá, o que, após, a partilha será
lançada nos autos.
Comprovado o pagamento do imposto causa mortis e juntadas as certidões negativas
de débitos fiscais (se houver dívida fiscal, é possível o julgamento da partilha se houver
garantias – parágrafo único, art. 654), o juiz profere sentença (de natureza constitutiva),
homologando a partilha lançada nos autos.
Transitando em julgado a sentença de partilha, receberá o formal de partilha ou a
carta de adjudicação (no caso de herdeiro único) para fins de registro.
Lembrando que, de acordo com os arts. 657 e 658, caso haja vícios ou defeitos na
partilha, caberá, no prazo de 1 ano, ação anulatória nos termos do art. 966, §4º, se tratar de
partilha amigável, ou ação rescisória, consoante o art. 966, caput, no caso de partilha judicial
(obs: em caso de investigação de paternidade post mortem, sendo a partilha já ultimada, tal
situação não se sujeita ao prazo decadencial da rescisória, mas ao prazo prescricional de 10
anos para ajuizamento da respectiva ação de petição de herança, cf. Sumula 149 do STF).
Por fim, registra-se que, sendo descobertos bens sonegados ou surgindo novos bens,
deverá se proceder à sobrepartilha (art. 669), aplicando-se as mesmas regras do processo de
inventário e partilha, correndo nos mesmos autos.

e) Arrolamento sumário do art. 659 do NCPC


Trata-se de um inventário simplificado, por serem os herdeiros maiores, capazes e
concordes com a partilha, ou herdeiro único, independente dos valores dos bens, cujo
procedimento é concentrado, suprimindo algumas fases e atos do inventário tradicional:
- petição inicial: apresentada por todos os herdeiros, onde indicarão os dados do falecido,
relação dos seus bens e o plano de partilha, além de já elegerem um inventariante;

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- o juiz recebe a petição e nomeia o inventariante indicado na inicial;


- o juiz homologa a partilha, independentemente de recolher o tributo (o cálculo e o
pagamento do imposto são feitos administrativamente, perante a secretaria da fazenda
estadual).

f) Arrolamento comum do art. 664 do NCPC


Cabível quando o valor dos bens deixados pelo falecido for igual ou inferior a 1.000
salários mínimos. Todavia, o procedimento já não é tão simplificado quanto o do sumário,
senão vejamos:
- petição inicial, instruída com a certidão de óbito;
- nomeação do inventariante (segundo a ordem legal);
- primeiras declarações, com atribuição de valores aos bens e plano de partilha;
- citação dos herdeiros (intimação do MP, se houver herdeiros incapazes, ou testamento);
- havendo acordo sobre a partilha e apresentadas as quitações fiscais, o juiz homologa;
- havendo impugnação à avaliação feita pelo inventariante por qualquer das partes ou pelo
MP, é necessária avaliação judicial, de cujo laudo serão ouvidas as partes;
- impugnações serão decididas na audiência a ser designada, determinando o juiz o
pagamento de eventuais dívidas;
- pagamento do imposto;
- juiz julga a partilha.

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2.2.5 EMBARGOS DE TERCEIRO (arts. 674 a 680, CPC)

a) Conceito: nos termos do art. 674, é o instrumento processual para aquele que, não sendo
parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua ou sobre
os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, requerer o seu desfazimento ou sua
inibição.

b) Requisitos:
- constrição ou ameaça de constrição judicial: ou seja, pressupõe um ato de constrição
realizado, como penhora, depósito, arresto, sequestro, alienação judicial, arrecadação,
arrolamento, inventário, partilha etc, ou ameaçado de ser praticado, ocasião em que os
embargos serão preventivos. Ex: simples descrição, em inventário, do acervo patrimonial que
irá compor o espólio;
- ser o proprietário, inclusive fiduciário, ou possuidor do bem ou do direito apreendido ou
ameaçado de apreensão (§1º art. 674): portanto, tem por finalidade a defesa não só da posse ou
da propriedade de bens, mas também de qualquer direito (real ou pessoal) atingido ou
ameaçado de ser atingido indevidamente por ato judicial de apreensão, como, por exemplo,
quotas de sociedade, créditos e outros direitos patrimoniais, etc. Na verdade, os embargos de
terceiro são um instrumento de proteção à posse, uma vez que o ato de constrição ou a sua
ameaça não passam de um esbulho ou turbação, porém realizados por ato judicial.
- qualidade de terceiro em relação ao processo do qual emanou a ordem judicial: ou seja, não
ter participado de processo de conhecimento ou de execução, processo penal, trabalhista, ou
falimentar.

c) Legitimidade
c.1) ativa (embargante): nos termos do at. 674, §1º, o embargante pode ser terceiro proprietário,
inclusive fiduciário, ou o possuidor. Equipara-se a terceiro para ajuizamento dos embargos (§2º):
I - o cônjuge ou companheiro quando defende a posse de bens próprios ou de sua
meação (Sum. 134, STJ). Importante lembrar que se o cônjuge é co-executado, ou seja, é
responsável pela dívida porque foi contraída a bem da família (art. 73, §1º, III), deve
utilizar os embargos à execução, pois não será terceiro, mas executado.
II – o adquirente de bens cuja constrição decorreu de decisão que declara a ineficácia da
alienação realizada em fraude à execução: por meio dos embargos, o terceiro adquirente

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pode demonstrar que agiu de boa-fé, caso a presunção do conluio fraudulento for
relativa, admitindo prova em contrário. Se tratar de fraude contra credores, não caberão
embargos de terceiro, pois tal matéria deverá ser veiculada por ação própria, a saber,
ação pauliana ou revocatória (Súmula 195 do STJ).
III – quem sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsideração da
personalidade jurídica, de cujo incidente não fez parte.
IV – o credor com garantia real para obstar expropriação judicial objeto de direito real
de garantia, caso não tenha sido intimado, nos termos legais (art. 804), dos atos
expropriatórios respectivo: isso porque, caso tenha sido intimado, de acordo com o art.
799, então seria o caso de o credor com garantia real exercer o protesto pela preferência,
ingressando na execução, e não embargar de terceiro.

A doutrina e a jurisprudência também reconhecem que tem também legitimidade ativa:


- o assistente que figura no processo, mas defende direito do assistido;
- o adquirente que não registrou o compromisso de compra e venda (Sum. 84, STJ). Todavia terá que
arcar com os ônus sucumbenciais por ter, face à ausência do registro, possibilitado a penhora
do bem (Súm. 303, STJ - em embargos de terceiro, quem deu causa à constrição indevida deve
arcar com os honorários advocatícios - princípio da causalidade);
- cônjuge ou filhos do devedor para defender bem de família, na omissão deste;

c.2) passiva (embargado): tanto aquele que se aproveita do ato de constrição quanto o seu
adversário no processo principal caso a iniciativa pela constrição tenha sido deste (art. 677,
§4º). Então, por exemplo, se, numa execução, quem indicou o bem à penhora foi o próprio
executado, deverão figurar no pólo passivo dos embargos, em litisconsórcio necessário, tanto
o exeqüente, que se beneficia da penhora, como o executado que indicou o bem.

d) Prazo (art. 675)


- se decorre de processo de conhecimento, os embargos podem ser opostos enquanto a
sentença não tiver transitado em julgado.
Todavia, com o advento da Lei 11.232/05, o trânsito em julgado não representa mais o
fim do processo de conhecimento, vez ser possível o início da fase de cumprimento de
sentença quando houver condenação em obrigação de pagar quantia. Dessa forma, deve-se
admitir a oposição dos embargos de terceiro após o trânsito em julgado da sentença.

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- se decorre do cumprimento de sentença e de processo de execução: os embargos poderão ser


opostos até 5 dias da lavratura do auto de arrematação, adjudicação ou da alienação por
iniciativa particular, mas sempre antes da assinatura da respectiva carta.
Deve-se, na verdade, fazer uma interpretação extensiva a contar o prazo a partir da
inequívoca ciência do terceiro acerca do ato de constrição judicial, que não necessariamente
coincidirá com o dia da arrematação ou adjudicação.
Aliás, o NCPC inova ao estabelecer, no art. 675, parágrafo único, a possibilidade de o
juiz determinar a intimação pessoal do terceiro que seja identificado como titular do interesse
em embargar o ato.
A não observância do prazo implicará apenas na perda da faculdade do terceiro se
valer do procedimento especial, não o impedindo de buscar o direito material pela via
ordinária.

e) Competência: será competente para o procedimento especial dos embargos de terceiro o


juízo que ordenou a constrição do bem (art. 676). Portanto, trata-se de competência funcional, logo,
absoluta. Assim, serão distribuídos por dependência aos autos do processo principal, que deu
origem à constrição, mas formalizados em autos apartados.
Todavia, se os embargos forem opostos pela União, autarquias ou empresas públicas
federais, a competência será da Justiça Federal, ainda que a ação principal tramite na Justiça
Estadual, prevalecendo o critério pessoal previsto no art. 109, I, da CF.
Por outro lado, estando os autos do processo principal no segundo grau, ante a
pendência de recurso, e a constrição decorrer da execução provisória da decisão, os embargos
deverão ser ajuizados perante o juízo de primeiro grau. Só serão opostos diretamente no
tribunal, se a ação principal for de sua competência originária.
Por fim, vale lembrar o disposto na Sumula 33 do extinto TRF quanto às execuções
por carta: “o juízo deprecado, na execução por carta, é o competente para julgar os embargos
de terceiro, salvo se o bem apreendido foi indicado pelo juízo deprecante” ou se já devolvida a
carta. Este entendimento foi absorvido pelo NCPC que previu o parágrafo único no art. 676.

f) Procedimento
f.1) Petição inicial (art. 319 e art. 677, NCPC):
- o pedido é para desfazer o ato constritivo (reintegrando na posse) ou inibir a sua prática
(mantendo-se na posse);

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- deve estar instruída com a prova sumária da posse ou de seu domínio e da qualidade de
terceiro no processo;
- deve conter o rol de testemunhas (se for necessária a prova testemunhal);
- valor da causa: em princípio, é o valor do bem apreendido. Segundo entendimento
jurisprudencial, se o valor do bem for maior que o valor da execução, este último será o valor
dos embargos de terceiro.

f.2) Liminar:
- provado o domínio ou a posse (basta verossimilhança), é possível a concessão de liminar
possessória;
- não havendo prova documental da posse é possível designação de audiência preliminar (art.
677, §1º).
- consiste na suspensão das medidas constritivas sobre os bens litigiosos (se proprietário),
bem como na expedição de mandado de manutenção ou de reintegração provisória da coisa,
se o embargante tiver requerido (se possuidor) - art. 678, caput;
- a ordem de manutenção ou reintegração poderá estar condicionada pelo juiz à prestação de
caução, salvo se a parte for economicamente hipossuficiente (art. 678, parágrafo único).

f.3) Citação:
- nos termos do art. 677, §3º, NCPC, a citação nos embargos será pessoal, se o embargado não
tiver advogado constituído na ação principal; do contrário, será citado na pessoa do advogado
mediante publicação do despacho no órgão oficial.

f.4) Resposta do réu: citado, o embargado terá um prazo de 15 dias (art. 679, NCPC) para
oferecer defesa (contestação), findo o qual seguirá o procedimento comum.
O embargado poderá deduzir qualquer matéria de defesa, salvo nos embargos opostos
por credor com garantia real, cujas matérias limitam-se às previstas no art. 680 (só poderá
alegar que o devedor comum é insolvente; que o título é nulo ou não obriga a terceiro; ou que
outra é a coisa dada em garantia).

f.5) Após o prazo da resposta, segue-se o procedimento comum: julgamento antecipado da


lide em caso de revelia (com aplicação da presunção de veracidade). Caso contrário,
contestando o embargado no prazo, o juiz designará audiência de instrução e julgamento, se
houver necessidade de produção de provas orais.
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª: Évelyn Cintra Araújo

f.6) Sentença (art. 681):


- acolhido o pedido principal, o ato de constrição é cancelado, com o reconhecimento do
domínio, da manutenção da posse ou da reintegração definitiva do bem ou do direito ao
embargante, liberando a caução eventualmente prestada;
- da sentença caberá apelação, em ambos os efeitos (há quem faça analogia com o art. 1.012, III
- apelação só no devolutivo se tratar de sentença de improcedência nos embargos à execução).

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª: Évelyn Cintra Araújo

2.2.6 AÇÃO MONITÓRIA (arts. 700 a 702, CPC/15).

a) Noções gerais
A ação monitória é considerada uma tutela diferenciada: para o legislador, pareceu
injusto que o credor que tivesse prova escrita da obrigação tivesse que se submeter ao mesmo
procedimento dos credores sem prova escrita. Por isto, criou o procedimento monitório, para
permitir que o juiz pudesse, com cognição sumária formada a partir da prova escrita,
determinar o cumprimento da obrigação antes da sentença final.

b) Cabimento
Segundo determina o art. 700 do NCPC, “a ação monitória pode ser proposta por
aquele que afirmar, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, ter o direito
de exigir do devedor capaz:
I - pagamento de quantia em dinheiro;
II – a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel;
III – o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer”.

b.1) prova escrita: a jurisprudência brasileira é bastante liberal quanto à admissão da prova
escrita para fins de ação monitória. O que importa é que o documento ofertado pelo credor
sinalize, de modo verossímil, a existência da obrigação, carecendo-lhe, no entanto, de força
executiva. Exemplos:
• contrato sem assinatura de duas testemunhas;
• título de crédito prescrito (sum. 299 STJ);
• documentos unilaterais emitidos pelo credor (sum. 384 STJ);
• duplicata mercantil sem comprovante de entrega da mercadoria;
• contrato de cartão de crédito.
O novo CPC, no art. 700, §1º, amplia a possibilidade de a prova escrita consistir em
prova oral documentada, produzida antecipadamente nos termos do art. 381 (por arrolamento
de bens sem finalidade de apreensão, por produção antecipada de provas e por justificação).
Portanto, nota-se que o cabimento da ação monitória está intimamente ligado à
existência de prova escrita desprovida de eficácia de título executivo; pois, do contrário, caso
não haja a prova, ou, havendo-a, for dotada de eficácia executiva, não seria o caso de
monitória.

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No primeiro caso (ausência de qualquer documento), restar ao autor ajuizar ação de


cobrança, pelo rito comum; no segundo caso (prova com eficácia de título executivo), o
interesse do credor é pela via executiva, ou seja, pela ação de execução. Para esclarecer melhor
tais diferenças, segue abaixo o quadro comparativo entre tais ações:

AÇÃO DE COBRANÇA AÇÃO MONITÓRIA EXECUÇÃO


Cabível quando o credor não Cabível quando o credor possui Cabível quanto o credor
tem nenhuma prova escrita prova escrita da obrigação, sem possui título executivo.
da obrigação. eficácia de título executivo.

Processo de conhecimento, Processo de conhecimento, por Processo de execução.


pelo procedimento comum. procedimento especial.
CUIDADO: o ajuizamento da ação monitória é uma faculdade do facultativo tbm (art.
credor. Se ele quiser, pode ajuizar ação de cobrança. 785)

c) Objeto
A ação monitória tem por objeto o cumprimento de qualquer obrigação, seja de dar
quantia/pagar, seja de entregar coisa, móvel ou imóvel, fungível ou infungível, e até mesmo
obrigação de fazer ou não fazer.

d) Procedimento

d.1) petição inicial: deve observar os requisitos genéricos dos arts. 319 e 320 do NCPC, ou seja,
deve conter:
- endereçamento (competência): foro do local do cumprimento da obrigação (art. 53, III, d, NCPC),
salvo se houver cláusula de eleição de foro no documento firmado entre as partes.
- legitimidade: ativa - o credor da obrigação; e passiva - o devedor da obrigação, desde que
capaz, inclusive a Fazenda Pública (Sum. 339, STJ e art. 700, §6º, NCPC).
- causa de pedir: além de narrar a lide, consistente na obrigação inadimplida, nos termos do §2º
do art. 700, NCPC, o autor deverá explicitar:
• a importância devida, instruindo-a com a memória de cálculo (o que já estava
consagrado na doutrina), se tratar de obrigação da pagar;

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• o valor atual da coisa reclamada, em caso de obrigação de entrega de coisa; ou


• o conteúdo patrimonial em discussão ou proveito econômico perseguido, no
caso de obrigação de fazer ou não fazer.

Obs: segundo o STJ, é desnecessário constar da petição inicial a origem da obrigação (causa
debendi). Todavia, é obrigatório que a petição esteja acompanhada da prova escrita sem força
executiva que prova a existência da obrigação, pois é por ela que o direito do autor restará
evidenciado (cognição sumária do juiz para expedição do mandado monitório).

- pedido:
• expedição do mandado monitório, consistente no pagamento, na entrega da coisa
ou na execução de obrigação de fazer ou não fazer;
• citação do réu para cumprir o mandado monitório, bem como pagar o valor de 5%
sobre o valor da causa à título de honorários advocatícios, no prazo de 15 dias, ou
oferecer embargos nos termos do art. 702, NCPC, sob pena de constituir-se de pleno
direito o título executivo judicial, convertendo-se o mandado inicial em executivo e
prosseguindo na forma dos artigos 513 e seguintes do Novo Código de Processo Civil;
• produção de provas, em especial a juntada da prova escrita sem força executiva, que
deverá instruir a inicial.

- valor da causa: corresponderá ao valor da obrigação cujo adimplemento se busca (§3º, art. 700,
NCPC).

d.2) Juízo de admissibilidade: proposta a ação, o juiz proferirá um juízo de admissibilidade,


verificando a existência ou não de prova escrita que evidencie o direito ao crédito, ocasião em
que receberá ou indeferirá a petição inicial.
Havendo dúvida quanto à idoneidade da prova documental, o juiz intimará o autor
para emendar a inicial, adaptando-a ao rito comum (art. 700, §5º, NCPC), não obstante nada
impede o juiz que determine a emenda por outro motivo (art. 321, NCPC).
Caso o autor não emende a petição inicial ou não observe as regras do §2º (explicitação
do valor da obrigação), o juiz indeferirá a petição inicial (§4º do art. 700).
Mas, recebida que seja a petição inicial, o juiz, mediante cognição sumária, analisará se
há ou não verossimilhança na alegação. Sendo evidente o direito, ele deferirá a expedição do

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mandado monitório, determinando a citação do réu. ATENÇÃO: a decisão do juiz que admite
a monitória é irrecorrível, uma vez que o devedor poderá se defender na ocasião dos embargos
à monitória. Ademais, o NCPC previu apenas o cabimento de ação rescisória como meio de
impugnação contra tal decisão (art.701, §3º, NCPC).

d.3) Citação
Nos termos do §7º do art. 700 do NCPC, a citação do réu no procedimento monitório
poderá ser por qualquer dos meios permitidos no rito comum (inclusive, por edital, conforme
enunciava a Súmula 282 do STJ).
Como já dito, o devedor é citado para, no prazo de 15 dias, cumprir a obrigação contida
no mandado monitório, bem como pagar 5% sobre o valor da causa à título de honorários
advocatícios, ou para oferecer embargos.

d.4) Possíveis reações do devedor:

- cumprimento da obrigação (art. 701, §1º): haverá sanção premial, com isenção somente das
custas (no velho CPC, havia também isenção de honorários advocatícios), pondo fim ao
procedimento;

- inércia (não cumprir a obrigação E não embargar- art. 701, §2º): conversão do mandado
monitório em título executivo judicial, prosseguindo o processo em sua fase de cumprimento
de sentença (arts. 513 e seguintes do NCPC), contra a qual caberá ação rescisória, e não
recurso, como já dito anteriormente.

- oferecimento de embargos: a ação prossegue pelo rito comum com a suspensão do mandado
monitório até o julgamento final em 1º grau.

d.5) Embargos à ação monitória (o art. 702 do NCPC apenas aperfeiçoou o lacunoso art. 1.102-
C, CPC/73):
- é o meio de defesa do devedor (não cabe contestação);
- não há necessidade de garantia do juízo;
- tem efeito suspensivo: fica suspensa a conversão do mandado monitório em título judicial
até o julgamento dos embargos em primeiro grau (§4º);

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- a matéria de defesa é ampla (as mesmas do rito comum, ou seja, aplicam-se as mesmas regras
dos embargos à execução – ex: excesso de execução – demonstrativo de débito, sob pena de
rejeição liminar dos embargos se for o único fundamento de defesa; ou não examinados, caso
haja outro fundamento -§3º);
- são processados nos próprios autos (mas poderão, a critério do juiz, ser autuados em
apartado se parciais - §7º, convertendo em título judicial em relação à parcela não embargada);
- o autor será intimado para responder aos embargos em 15 dias (§5º);
- como, no caso de oposição de embargos a ação monitória segue o procedimento comum, é
cabível reconvenção (Sum. 292 do STJ; art.702, §6º, NCPC);
- se rejeitados, também constituir-se-á, de pleno direito, o título executivo judicial, seguindo
as regras do cumprimento de sentença, no que for cabível;
- cabe apelação da decisão que acolhe ou rejeita os embargos (§9º);
- os §§10 e 11 do art. 702 prevêem a possibilidade de aplicação de multas ao autor que, de má-
fé, valeu-se indevidamente da ação monitória ou ao réu que, de má-fé, tenha apresentado
embargos. Tal multa é de 10% sobre o valor da causa, a qual reverterá a favor da parte
contrária.
Vale registrar que, estranhamente, o NCPC, que proibiu o direito ao parcelamento de
dívida no cumprimento de sentença, o admite na monitória (art. 701, §5º).

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2.2.7 DEMAIS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA

a) Ação de divisão e demarcação de terras particulares (arts. 569 a 598, CPC)


Dentre os poderes do proprietário, inclui-se o de forçar a demarcação de sua terra e
de dividir o prédio comum, pois a incerteza quanto aos limites e a comunhão geram
embaraços ao exercício do direito de propriedade.
A ação de demarcação é cabível para que o proprietário obrigue o confinante a
estremar os respectivos prédios, fixando-se novos limites entre eles ou aviventando-se os já
apagados.
Já a ação de divisão é cabível para que qualquer condômino obrigue os demais
consortes a partilhar a coisa comum, intimando os demais para, querendo, intervir no feito.
Quanto à demarcação, o NCPC inova ao admitir a versão extrajudicial por escritura
pública, desde que maiores, capazes e concordes todos os interessados. Outra novidade é a
sentença que não se limita mais declarar a demarcação, mas pode também determinar a
restituição da área invadida, se houver, declarando o domínio ou a posse do prejudicado.
Quanto à divisão, poucas também foram as novidades trazidas pela nova lei
processual: desnecessidade de o perito, nomeado pelo juiz para proceder à divisão, prestar
compromisso; pequenas alterações de prazos.
Lembrando, ainda, tanto num quanto noutro caso, eventual apelação continuará
sendo recebida apenas no efeito devolutivo (cf. art. 1.012, §1º, I).

b) Habilitação (arts. 687 a 692, CPC)


Procedimento através do qual os sucessores da parte que faleceu ingressam em juízo
para recompor a relação processual afetada pela morte.
No NCPC a habilitação, em qualquer situação, dependerá de sentença, a ser
proferida nos meus autos do processo principal, para tanto suspenso, cuja retomada está
condicionada ao trânsito em julgado da mesma.
Uma outra novidade interessante é a possibilidade de sua autuação em apenso caso
haja impugnação pelas partes e necessidade de dilação probatória, o que ensejará a
obrigatoriedade de se levar aos autos principais cópia da sentença de habilitação.

c) Restauração de autos (arts. 712 a 718, CPC)


Procedimento cabível quando os autos de um processo desaparecem, visando
recompor os atos processuais.
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Pela disciplina dada pelo NCPC, tal procedimento é cabível também quando se
tratar de autos eletrônicos, e a iniciativa cabe a qualquer das partes ou ao juiz, de ofício.

Obs: Deixaram de existir com o NCPC as seguintes ações de rito especial:


- ação de depósito: agora a sua disciplina é encontrada no art. 311, III, CPC;
- ação de anulação e substituição de títulos ao portador (arts. 907 a 913 CPC)
- ação de nunciação de obra nova
- ação de usucapião (na verdade, esta ação apenas deixou de ser de rito especial, como já
entendido pela doutrina, e passou a ser tratada como de rito comum)
- venda a credito com reserva de domínio.
Persistem dúvidas entre os operadores do direito, de como proceder, quanto à
proteção dos direitos dos jurisdicionados, frente a uma nova situação, em que seria cabível
uma ação judicial que em tese se aplicaria um destes procedimentos extintos.
Certo é que os direitos protegidos pelas ações excluídas poderão ser resguardados ou
protegidos por meio de ações que seguirão o procedimento comum previsto no Novo CPC,
com a possibilidade de utilização das tutelas provisórias, cabíveis em cada caso concreto, para
proteção de situações de urgência, em que se demonstre o risco de dano irreparável e de difícil
reparação.
Especificamente, quanto ao pedido de usucapião, merece destaque a possibilidade do
mesmo ser requerido administrativamente, pelo meio extrajudicial, conforme a autorização
do art. 1071, do Novo CPC, que alterou a Lei 6.015/73, que trata dos registros públicos,
acrescentando-lhe o art. 216-A que assim dispõe:
“Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de reconhecimento
extrajudicial de usucapião, que será processado diretamente perante o
cartório do registro de imóveis da comarca em que estiver situado o imóvel
usucapiendo, a requerimento do interessado, representado por advogado,
instruindo com……”.

Por outro lado, o CPC INOVA ao prever as seguintes ações:


- ação de dissolução parcial de sociedade: prevista no artigo 599, e que tem por objeto a
resolução da sociedade empresária contratual ou simples em relação ao sócio falecido,
excluído ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; a apuração dos haveres do sócio
falecido, excluído ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; ou tão somente a resolução
ou a apuração de haveres.
- ação de oposição: prevista no artigo 682 do CPC como ação autônoma entre um terceiro e as
partes de um processo em curso, deixando, portanto, de ser tratado como modalidade de
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intervenção de terceiro, conforme os artigos 56 a 61 do código processual revogado.


- ações de família: ganham destaque especial no NCPC, a partir do artigo 693 e que têm por
objeto os processos contenciosos de divórcio, separação, reconhecimento e extinção de união
estável, guarda, visitação e filiação.
- ação da regulação de avaria grossa: com previsão nos artigos 707 a 711, e relacionada ao
direito marítimo.
- ação de homologação de penhor legal: está disciplinada no art. 703. Mas, anteriormente, sob
a égide do CPC revogado, era tratada como medida cautelar típica, apesar de a doutrina
sempre tê-la considerado uma medida satisfativa consistente em homologar penhor legal em
favor de hoteleiros, fornecedores de alimentos/pouso e locadores de imóvel. Inova o CPC ao
prever tal procedimento extrajudicialmente perante o cartório, mediante escritura pública.

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2.2.8 PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA

a) Considerações gerais

A jurisdição voluntária, também conhecida como jurisdição graciosa ou administrativa,


é aquela exercida inter volentes, isto é, entre pessoas que não estão litigando, mas que têm
interesses comuns.
Segundo a doutrina majoritária, que se filia à teoria clássica ou administrativista, a
jurisdição voluntária não é jurisdição, mas apenas uma administração judicial de interesses
privados, já que a autoridade judicial intervém não para compor um litígio, pois que este nem
sequer existe, mas, sim, para dar validade, chancelar, homologar um ato ou negócio jurídico
firmado pelas partes.
Já a jurisdição contenciosa, ou jurisdição propriamente dita, pressupõe um litígio
(contenda) a ser resolvido pelo Estado.
Todavia, convém notar que pequena parcela da doutrina (como Dinamarco, Ovídio
Baptista, entre outros) filia-se a teoria revisionista, segundo a qual será considerada jurisdição
sempre que o juiz aprecia um caso concreto, decidindo-o (aplicando a lei) ou simplesmente
homologando-o.
Apesar das divergências, pode-se resumir as diferenças entre jurisdição contenciosa e
jurisdição voluntária através do seguinte paralelo:

CONTENCIOSA VOLUNTÁRIA
Lide Interesses comuns
Ação Requerimento
Partes Interessados
Contraditório Sem contraditório
Processo Procedimento
Sentença Decisão homologatória
Coisa julgada Sem Coisa julgada

Os procedimentos de jurisdição voluntária também se subdividem em procedimento


comum (arts. 719 a 725, NCPC9) e especial (arts. 726 a 770, NCPC) .

9 Processar-se-ão no procedimento comum de jurisdição voluntária os pedidos de:


I – emancipação;
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São regras específicas do procedimento comum da jurisdição voluntária (arts. 720 a


724):
- inicia-se por provocação do interessado ou do Ministério Público, ou da Defensoria Pública;
- todos os interessados devem ser citados,
- o MP só intervém nos casos em que deve atuar como fiscal da lei (art. 82 do CPC);
- a Fazenda Pública será sempre ouvida nos casos em que tiver interesse;
- o prazo para resposta é de 15 dias;
- o juiz pode investigar livremente os fatos, ordenar de oficio as provas e decidir por critérios
de equidade (art. 723, parágrafo único);
- cabe apelação da sentença;
- circunstâncias supervenientes possibilitam a modificação da sentença.

b) Alienações judiciais (art.730, NCPC): cabível quando bens depositados judicialmente


forem de fácil deterioração, estiverem avariados ou exigirem grandes despesas para a sua
guarda, a fim de que sejam alienados em leilão. Para o NCPC, é suficiente para que haja
alienação judicial a falta de acordo entre os interessados sobre o modo como ela deve ser
realizada.

c) Separação consensual (arts. 731 a 734, NCPC): em razão da EC 66/2010, que alterou o art.
226, § 6º, CF, prevalece que não há mais ação de separação, mas sim de divórcio.
Embora o procedimento previsto no CPC trate de separação consensual, ele é
utilizado para que o casal requeira o divórcio consensual.
Além do procedimento judicial, o art. 1124-A do CPC trata do divórcio por escritura
pública (administrativo). São requisitos para a lavratura da escritura:
- inexistência de filhos menores ou incapazes do casal,
- acordo quanto aos termos do divórcio,
- assistência por advogado.
O NCPC, nos arts. 731 a 734, amplia ao prever o divórcio e, principalmente, a
extinção consensual de união estável, submetendo ambos ao mesmo procedimento. Outra

II – sub-rogação;
III – alienação, arrendamento ou oneração de bens de crianças ou adolescentes, de órfãos e de interditos;
IV – alienação, locação e administração de coisa comum;
V – extinção de usufruto e de fideicomisso;
VI – expedição de alvará judicial;
VII – homologação de autocomposição extrajudicial.
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inovação, mas que nada tem a ver com as demais figuras aqui descritas, é a possibilidade de
pedido de alteração de regime de bens (art. 734).

d) Testamentos e codicilos (arts. 735 a 737, NCPC): procedimento anterior à execução do


testamento/ codicilo, por meio do qual o juiz determina o seu cumprimento.

e) Herança jacente (arts. 738 a 743, NCPC): herança jacente é a que não há herdeiros ou eles
são desconhecidos ou os conhecidos renunciaram à herança. Trata-se de um procedimento
cabível para a arrecadação dos bens do falecido, que não deixou herdeiros ou curador, para
declará-la jacente, depois vacante, visando sua transferência ao poder público.

f) Arrecadação de bens de ausente (arts. 744 e 745, NCPC): procedimento que tem por
objetivo o reconhecimento da ausência de uma pessoa, a arrecadação e a destinação devida de
seu patrimônio.

g) Arrecadação das coisas vagas (arts. 746, NCPC): é o procedimento que tem por
finalidade apurar o dono ou legítimo possuidor de coisas achadas.

h) Interdição e tutela (arts. 747 a 758, NCPC): por meio da ação de interdição, declara-se
que uma pessoa com mais de 18 anos de idade é incapaz para a prática de atos da vida civil.
Decretada a interdição, será nomeado um curador ao interditado.

i) Organização e fiscalização das fundações (arts. 764 e 765, NCPC): procedimento cuja
finalidade é permitir ao MP fiscalizar a formação e atuação das fundações.

j) Notificação e interpelação (art. 726, NCPC): no CPC revogado era procedimento cautelar
típico, porém apenas nominativo; já no Novo CPC passa a ser procedimento especial de
jurisdição voluntária e tem por finalidade intimar alguém para constituí-lo em mora.

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2.2.9 JUIZADOS ESPECIAIS

a) Normas aplicáveis:
- art. 98, I, e § 1º, CF
- Lei 9099/95 (juizados especiais cíveis e criminais – JEC),
- Lei 10.259/01 (juizados especiais federais – JEF),
- Lei 12.153/09 (juizados especiais das fazendas públicas – JEFP).

b) Espécie de procedimento:
- 1ª corrente: procedimento especial de legislação extravagante (procedimento sumaríssimo);
- 2ª corrente: espécie de justiça especializada, assim como a justiça do trabalho e a justiça
eleitoral (o procedimento adotado é o comum dos juizados especiais).

c) Sistema dos juizados especiais:


- os três juizados compõem um único sistema processual, uma vez que todos eles têm a
mesma finalidade comum, qual seja, a de julgar as causas de menor complexidade.
- entre eles, haverá aplicação integrativa dos diversos diplomas normativos (aplicação
intercomunicante). Em caso de omissão, aplica-se o Novo Código de Processo Civil.
- os Juizados não se vinculam à Justiça comum, tendo estrutura própria e diferenciada, ou
seja, são compostos, além dos auxiliares da justiça, de: juiz togado (de direito); juiz leigo
(bacharel em Direito com, no mínimo, 2 anos de prática na advocacia); conciliador
(preferencialmente, bacharel em Direito, mas pode ser estudante); e turma recursal (3 juízes
togados em exercício no 1º grau).

d) Princípios informativos: oralidade (concentração do atos em audiência, imediatidade


entre o juiz e a fonte da prova oral, e identidade física do juiz); simplicidade; informalidade;
economia processual; celeridade; e autocomposição (art. 2º Lei 9099/95).

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2.2.9.1 JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS – Lei 9099/95

a) Opção do autor pelos juizados especiais cíveis: pois as hipóteses coincidem com as de
cabimento do rito sumário (Enunciado 1, FONAJE–Fórum Nacional dos Juizados Especiais).
Apesar do fim do rito sumário no NCPC, continuará a ser opcional ao autor o Juizado, vez que
o rito comum da Justiça comum encampa o rito sumaríssimo.

b) Cabimento (art. 3º - rol taxativo/ Enunciado 30, FONAJE)


- critério valorativo: processo de conhecimento e execução até 40 salários mínimos. Se o
pedido for superior a 40 salários mínimos, há renúncia tácita ao excedente (art. 3º, § 3º).

- critério material: artigos 3o, II e III, e 3º, §1º, I, Lei 9099/95, ou seja, as hipóteses do art. 275,
II, CPC (procedimento sumário) e no caso de despejo para uso próprio. Não há limite de valor
(En. 58, FONAJE).. Portanto, não se pode falar que juizado só julga causa de valor de até 40
salários mínimos.
Todavia, o NCPC, em seu art. 1.063, prevê que, até a edição de lei específica que venha
alterar a Lei n. 9.099, os Juizados continuam competentes para o processamento e julgamento
das causas previstas no art. 275, II, o qual foi revogado no NCPC.

- critério misto: artigo 3º, IV, 9099/95 - ações possessórias sobre imóveis de valor não
excedente a 40 salários mínimos.

c) Não cabimento (art. 3º, § 2º):


- causas de natureza alimentar;
- causas falimentares;
- causas fiscais e de interesse da Fazenda Pública (cabíveis nos JEF e JEFP);
- causas relativas a acidente de trabalho (competência da Justiça do Trabalho quando o réu é
o empregador ou da Justiça Federal, quando o réu é o INSS);
- causas relativas ao estado e capacidade das pessoas;
- procedimentos especiais (En. 8, FONAJE), salvo as possessórias dentro da alçada prevista;
- ações coletivas (En. 32, FONAJE);
- causas de complexidade elevada (STF, RE 537.427; art. 3, caput): aquelas que precisam de
perícia nos moldes tradicionais. Portanto, não cabe quandodepender de perícia formal. Mas
isso não significa não possa haver a realização de perícia, desde que seja, nos termos do art. 35,
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Lei 9099, perícia simplificada, ou seja, perícia informal, onde só há oitiva do perito, sem laudo
técnico.

d) Competência territorial (art. 4º): a ação pode ser proposta:


- no domicílio do réu;
- no lugar onde a obrigação deva ser satisfeita;
- no domicílio do autor ou no local do ato ou fato, nas ações de indenização (dano de qualquer
natureza – não se aplica o parágrafo único do art. 100, CPC).
Nos termos do art. 51, III, da Lei 9.099, a incompetência territorial no sistema dos
juizados (aplica-se, portanto, a todos os Juizados) pode ser reconhecida de ofício e acarreta a
extinção do processo sem julgamento do mérito.
ATENÇÃO: A Resolução Normativa n.º 32/2015, do TJGO, reorganiza o sistema dos
Juizados Especiais na comarca de Goiânia, de modo que, para torná-lo mais isonômico e
adequado à demanda crescente na esfera cível e nas atividades do Juizado da Fazenda Pública,
estabelece a distribuição dos feitos de competência destes juizados seja feita, não por bairros
ou regiões da capital, mas por meio de sistema informatizado, considerando a estrutura e
quantitativo dos juizados.

e) Partes (art. 8º,§1º )


e.1) Legitimidade ativa:
- pessoa física e capaz, exceto os cessionários de direito de pessoas jurídicas;
- microempresa e empresa de pequeno porte (En. 47 e 48, FONAJE);
- pessoa jurídica qualificada como OSCIP;
- sociedade de crédito ao microempreendedor;

e.2) Legitimidade passiva: quaisquer pessoas físicas ou jurídicos, excluídos os que a lei
proíbe.

OBS: Não podem ser parte – nem autor, nem réu (art. 8º, caput):
- incapaz;
- preso;
- insolvente civil;
- massa falida e entes despersonalizados em geral (sg. jurisprudência do STJ);
- pessoa jurídica de direito público e empresa pública (só no JF ou JFP).
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f) Advogado (art. 9º): Nas causas de até 20 salários mínimos, as partes têm capacidade
postulatória, não precisando de advogado. Na fase recursal, a assistência por advogado é
obrigatória, ainda que a causa seja inferior a 20 salários mínimos(§2º do art. 41).

g) Intervenção de terceiros (art. 10): não cabe (essa regra vale para todos os juizados), salvo
recurso de terceiro prejudicado.

h) Procedimento:
- Petição inicial (arts. 14 e 15): deve constar o nome e a qualificação das partes, os fatos e
fundamentos jurídicos e o pedido e seu valor. Não é requisito da petição inicial dos juizados a
indicação das testemunhas.
Os requisitos da petição inicial, previstos nos arts. 319 e 320 do NCPC, aplicam-se ao
sistema dos Juizados naquilo que for compatível (Ex: qualificação completa é aplicável; mas, a
opção pela realização ou não da audiência de conciliação ou mediação não é aplicável, pois
que cabível apenas no procedimento comum).

- Citação (art. 18): o réu é citado para comparecer à audiência de conciliação. Não cabe citação
por edital no juizado.

- Ausência à audiência de conciliação (arts. 21 a 23):


• se o ausente for o autor, o processo é extinto sem resolução do mérito, com
condenação ao pagamento de custas (art. 51, I);
• se o ausente for o réu, há revelia (art. 20).

- Audiência de instrução e julgamento (art. 27):


• nova tentativa de conciliação;
• a ausência do réu à audiência de instrução e julgamento importa em revelia
(julgamento antecipado da lide; dispensa de intimação, salvo se tiver procurador
constituído nos autos);
• apresentação da defesa/contestação (pode ser oral ou escrita; cabe pedido contraposto
fundado nos mesmos fatos que constituem objeto da controvérsia; não cabe
reconvenção);
• produção de provas (oitiva de até três testemunhas para cada parte; caso a parte
queira que a testemunha seja previamente intimada, deverá solicitar em no mínimo
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cinco dias antes da audiência; o juiz pode realizar inspeção ou determinar que o faça
pessoa de sua confiança);
• sentença - sem relatório (art. 38). Pode ser proferida por juiz leigo (mas sua sentença
deve ser imediatamente homologada pelo togado – art. 40). Deve ser sempre líquida
(artigo 38, parágrafo único), ainda que o pedido seja genérico. Há isenção de
sucumbência em 1º grau (arts. 54 e 55). No 2º grau, haverá condenação em
sucumbência, se o recurso for improvido.

- Recursos:
a) Recurso inominado: artigo 41 – prazo de 10 dias. Precisa de preparo, advogado. Cabível de
sentença.

b) Embargos de declaração: artigo 50. Aqui os embargos acarretam a suspensão do prazo para
outros recursos.
ATENÇÃO: os arts. 1.064 e 1.065 do NCPC alteraram a redação dos arts. 48 e 50, da
Lei n. 9.099/95, respectivamente, para aplicar a mesma disciplina aos embargos de declaração
dada pelo novo código, ou seja, não são mais cabíveis quando houver dúvida na decisão, mas
sim obscuridade, contradição, omissão ou erro material, e a sua oposição contra sentença não
mais suspende, mas sim interrompe o prazo para a interposição de outros recursos.

c) Recurso Extraordinário (Súmula nº 640 – STF; Enunciado 63, FONAJE)

d) Agravo de Instrumento: por ser a Lei 9.099 omissa, mas prevalecer a regra da
intercomunicabilidade das regras do microssistema dos Juizados, tem-se admitido o seu
cabimento de decisões interlocutórias em medidas de urgência (cautelares e antecipação de
tutela), em analogia às leis do JF e JFP.

OBS: Não Cabe: Recurso Especial (Súmula 203, STJ - Não cabe recurso especial contra
decisão proferida por órgão de segundo grau dos Juizados Especiais). Também não cabe ação
rescisória – artigo 59, mas, no máximo, querela nullitatis em caso de nulidade de citação ou coisa
julgada inconstitucional.

i) Execução: aplica-se subsidiariamente o NCPC. Obrigações de fazer, não fazer e entrega de


coisa – tutela específica/ arts. 497 e 498 (cominação de multa – pode ser em valor que supere a

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alçada); quantia certa em título judicial – cumprimento de sentença (art. 523); e em título
extrajudicial, aplica-se o art. 53 da Lei dos Juizados.

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2.2.9.2 JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS – Lei 10.259/01

a) Não há opção ao autor: na localidade em que os juizados especiais federais estiverem


instalados, sua competência é absoluta; não há margem para escolha ao autor.

b) Cabimento (art. 3º):


- critério valorativo: causas (inclusive execuções) de até 60 salários mínimos (não há renúncia
tácita do excedente, só expressa);
- critério pessoal: causas de competência da Justiça Federal.

c) Não cabimento (art. 3º):


- causas referidas no art. 109, II, III e XI, CF;
- mandado de segurança (salvo Súmula 376, STJ – contra ato do juiz do próprio Juizado/MS é
para a Turma Recursal; e Enunciado 88, FONAJEF – contra ato teratológico, que não caiba
recurso);
- desapropriação, divisão e demarcação (isso significa que as demais causas de rito especial
são cabíveis);
- ação popular, de improbidade administrativa e demandas sobre direitos ou interesses
difusos, coletivos ou individuais homogêneos (processo coletivo);
- execução fiscal;
- causas sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações públicas federais;
- anulação ou cancelamento de ato administrativo federal, salvo de natureza previdenciária e
fiscal;
- discussão sobre pena de demissão imposta a servidor público civil (todas as demais sanções
pode) ou sobre sanção disciplinar aplicada a militar (não pode discutir nenhuma sanção);
- causas de maior complexidade.

d) Competência territorial
- aplica-se o art. 109, § 2º, CF (seção judiciária do domicílio do autor; ou do lugar do ato ou
fato que deu origem à demanda; ou onde esteja situada a coisa; ou no DF).
- onde não houver vara federal, a causa poderá ser proposta no juizado especial federal mais
próximo.

e) Partes (art. 6º)


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e.1) Legitimidade ativa: as mesmas previstas na Lei n. 9.009/95 .

e.2) Legitimidade passiva: União e suas autarquias (INSS, Ibama, Anac, Anatel), fundações e
empresas públicas federais (Correios, CEF).

f) Advogado (art. 9º): as partes têm capacidade postulatória em qualquer causa de


competência do JEF, salvo na fase recursal, cuja assistência por advogado é obrigatória.

g) Regras próprias dos JEFs:


- Não há prazo diferenciado para a Fazenda Pública;
- Tem que haver um prazo mínimo de 30 dias entre a citação e a audiência de conciliação (art.
9º);
- O ente público deve fornecer ao Juizado, até a audiência de conciliação, a documentação de
que disponha para o esclarecimento da causa;
- Exame técnico: o juiz nomeia uma pessoa habilitada, que apresenta o laudo até cinco dias
antes da audiência (de conciliação ou de instrução).
- Não há reexame necessário da sentença (o art. 496, §3º, I do CPC veda o seu cabimento
quando a condenação for de até 1.000 salários mínimos contra a União).

h) Recursos: mesmos previstos na Lei 9.099, mais agravo de instrumento contra decisão
referente a medida de urgência.

i) Execução (arts. 16 e 17): em se tratando de condenação em obrigação de fazer, não fazer ou


entregar coisa, o juiz expedirá ofício à autoridade citada para causa, com cópia da sentença ou
do acordo. Se tratar de obrigação de pagar quantia certa, após o trânsito em julgado da
decisão, o pagamento será efetuado no prazo de 60 dias, contados da entrega da requisição,
por ordem do juiz, à autoridade citada para a causa, na agência mais próxima da CEF ou do
Banco do Brasil, independentemente de precatório.

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2.2.9.3 JUIZADOS ESPECIAIS DAS FAZENDAS PÚBLICAS – Lei 12.153/09

a) Não há opção ao autor: na localidade em que os juizados especiais das fazendas públicas
estiverem instalados, sua competência é absoluta.

b) Cabimento (art. 2º):


- critério valorativo: causas de até 60 salários mínimos (não há renúncia tácita do excedente).
- critério pesssoal : causas em que estão envolvidas pessoas jurídicas de direito público dos
Estados, DF, Territórios e Municípios.

c) Não cabimento (art. 2º):


- as mesmas que não cabem nos JF’s (mandado de segurança; desapropriação; divisão e
demarcação; ação popular, de improbidade administrativa e demandas sobre direitos ou
interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos; execução fiscal; causas sobre bens
imóveis dos Estados, DF, Territórios e Municípios, autarquias e fundações públicas;
causas de maior complexidade; discussão sobre pena de demissão imposta a servidor público
civil ou sobre sanção disciplinar aplicada a militar); e
- limitação territorial, material ou por valor, feita pelo TJ, durante 5 anos (art. 23).

d) Competência territorial: como a Lei 12.153/09 é omissa, aplica-se a regra da Lei 9099/95.

e) Partes (art. 6º)


e.1) Legitimidade ativa: as mesmas previstas na Lei n. 9.009/95.
e.2) Legitimidade passiva: Estados, Distrito Federal, Territórios, Municípios, e suas
respectivas autarquias, fundações e empresas públicas.

f) Advogado: as partes têm capacidade postulatória em qualquer causa de competência do


JEFP, salvo na fase recursal, cuja assistência por advogado é obrigatória.

g) Regras próprias dos JEFPs: as mesmas dos JEFs.

h) Recursos: mesmos previstos na Lei 9.099, mais agravo de instrumento contra decisão
referente a medida de urgência.

i) Execução (arts. 12 e 17): idêntico aos JEF’s.

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