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Caderno Temático V
Educação, Escolas e Movimentos Sociais do/no Campo
RESUMO
A Pedagogia da Alternância realizada pelas Escolas Famílias Agrícolas – EFA vêm se constituindo
como uma das experiências mais exitosas em educação do campo. Este artigo busca apresentar
elementos da história da Pedagogia da Alternância e da Escola Família Agrícola do Sertão –
EFASE, com o objetivo de contribuir com a sistematização e socialização de experiências de
educação do campo. Expondo as condições históricas para o surgimento da EFASE e os desafios e
perspectivas para o próximo período.
ABSTRACT
The Pedagogy of Alternation conducted by Agricultural Family Schools - EFA come as constituting
one of the most successful experiences in the field of education. This article seeks to present
elements of the story and the Pedagogy of Alternation School Family Agricultural Hinterland -
EFASE, aiming to contribute to the systematization of experiences and socialization of rural
education. Exposing the historical conditions for the emergence of EFASE and the challenges and
prospects for the next period.
1
Militante da Pastoral da Juventude Rural (PJR), com formação em tecnologia em agroecologia (IFPR) e especialização
em educação do campo (UFRB). Atualmente é monitor da Escola Família Agrícola do Sertão (EFASE). E-mail:
gilmarpjr@gmail.com
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Militante da Pastoral da Juventude Rural (PJR). Estudante de pedagogia (UNEB), educadora social. Foi educanda da
primeira turma da EFASE. E-mail: edjanegil@gmail.com
Historiando a Pedagogia da Alternância e a EFASE_ ANDRADE e ANDRADE 62
INTRODUÇÃO
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De acordo com Begnami (2003, p. 104) a utilização da sigla CEFFA (Centro Familiar de Formação por
Alternância) “é uma convenção acordada entre a União Nacional das Escolas família-Agrícola do Brasil –
UNEFAB, Associação das Casas Familiares Rurais - ARCAFAR e o PROJOVEM. Este nome tem sido
utilizado em comunicações, audiências com autoridades e documentos comuns apresentados a órgãos
públicos pelas diversas instituições que utilizam a Pedagogia da Alternância no Brasil. Na verdade, o
Brasil comporta uma série de experiências com denominações variadas, quais sejam: Escola Família
Agrícola (EFA), Casa Familiar Rural (CFR), Escolas Comunitárias Rurais (ECOR), Escola Familiar Rural e
Projovem”. A partir de agora ao utilizarmos Pedagogia da Alternância em referência as Escolas Famílias
Agrícolas não usaremos o termo CEFFA. Isso porque não é objeto desse trabalho investigar as
características especifica dessas experiências.
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Em 1891, o papa Leão XIII (1878-1903), sensibilizado pela “condição dos operários” lança a encíclica
Rerum Novarum. Com esse documento a Igreja Católica Apostólica Romana – ICAR assume a questão
social. Nesse momento a questão agrária e a situação dos camponeses não constitui a preocupação
principal da Igreja. Pouco depois o papa Pio XI (1922-1939), com a encíclica social Quadragesimo anno,
contribui para o surgimento da Ação Católica Geral e na sequência com a Ação Católica Especializada.
Esse é um período que a ação da Igreja vai de encontro à situação dos camponeses. A Ação Católica
Especializada no Brasil vai ser fundamental na formação de lideranças e organização dos camponeses no
período entre 1950 a 1970, principalmente a Juventude Agrária Católica - JAC (PJR, 2012, p. 5-6).
(...) o processo de implantação das EFAs, no Brasil, teve início no auge da ditadura militar,
período em que o campo sofreu um processo de total abandono por parte dos poderes
públicos, excluindo a agricultura familiar. As políticas públicas para o campo, naquela
época, estavam centradas na grande produção agropecuária, no modelo de agricultura
patronal, voltado para monoculturas e o mercado externo, associado à sofisticação
tecnológica, conhecida como modernização conservadora (ARAÚJO 2005, p. 91).
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Para aprofundamento da influência da Igreja na constituição das EFAs, ver o trabalho. RIBEIRO, Marlene.
Movimento camponês, trabalho e educação: liberdade, autonomia, emancipação: princípios/fins da
formação humana. São Paulo: Expressão Popular, 2010.
Sem dúvida, a pedagogia de Paulo Freire, assim como as várias experiências da Educação
Popular vão fortalecer as experiências das EFAs no Brasil. A construção das EFAs no Brasil é
marcada por fases que caracterizam períodos que apresentam transformações fundamentais. De
acordo com Begnami (2003, p. 31-37) podemos demarcar quatro fases. A primeira é a fase da
experiência, da escola informal. Esse período pode ser caracterizado pelo Curso Livre e de duração
de dois anos. É importante destacar que as primeiras turmas eram constituídas exclusivamente por
jovens do sexo masculino. A segunda fase inicia-se partir de 1972. É o período da formalização das
EFAs e a oferta dos Cursos Supletivos Regulares7, no inicio “com dois anos (5ª e 6ª séries) e depois,
o segundo ciclo fundamental completo em 3 anos, com diploma de conclusão do Ensino
Fundamental e pré-qualificação profissional em agropecuária” (BEGNAMI, 2003, p. 33). A terceira
fase é de expansão das EFAs para outros estados. Inicialmente Bahia e Amazonas. E a quarta fase
(anos 90 até nossos dias) é caracterizada pelo fortalecimento institucional e a adequação da
formação à nova realidade do campo num período de globalização excludente.
A primeira EFA fora do Espírito Santo foi em Brotas de Macaúbas no sertão da Bahia, no ano
de 1975. No ano seguinte surge no estado do Amazonas e esse processo se torna mais intenso na
década de 80 em outros estados. Essas iniciativas foram sendo implantadas com o apoio da Igreja
Católica, principalmente das Comunidades Eclesiais de Bases – CEBs (BEGNAMI, 2002, p. 110).
A década de 80 é marcada pela ampliação no número de EFAs, como a sua articulação em
associações regionais e a nível nacional. Destaca-se a criação em 1982, da União Nacional das
Escolas Famílias Agrícolas do Brasil – UNEFAB.
Na Bahia, um dos grandes incentivadores das EFAs, foi o Pe. Aldo Lucchetta. A primeira
EFA criada no estado foi em Brotas de Macaúbas, e logo em seguida Riacho de Santana. Essas
experiências se espalham rapidamente e em outros municípios surgem Escolas Famílias Agrícolas.
Com a expansão das EFAs no estado há a necessidade de criar uma associação regional que
congregasse as associações locais mantenedora das EFAs (ARAÚJO, 2005, p. 7). Assim surge a
Associação Comunidades Famílias Agrícolas da Bahia – AECOFABA em 1979. A segunda
associação regional foi criado em 1997, denominada de Rede de Escolas Famílias Integradas do
Semi-Árido – REFAISA. A abrangência da REFAISA inclui uma EFA em Sergipe.
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Hoje seria o equivalente a Educação de Jovens e Adultos – EJA.
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A expressão “exclusão do sistema de ensino tradicional” é aqui empregada tem o sentido que Bourdieu
(1998) adotou ao analisar o sistema educacional. O autor aponta que este sistema, ao empregar em sua
ação pedagógica as necessidades e a cultura da ordem social vigente, exclui por si só os mais
desfavorecidos economicamente.
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Formada por representantes e lideranças das comunidades.
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Correspondente, hoje, ao 6º e 9º ano do ensino fundamental.
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O Plano de Estudo (PE) é um dos instrumentos da Pedagogia da Alternância. O PE é uma pesquisa
realizada pelos educandos na comunidade, a partir de um tema definido na escola. Os educandos realizam
essa investigação e retornar na sessão seguinte para a escola e realizam a socialização. Os monitores
contribuem com a síntese coletiva da pesquisa. A seguir, os monitores planejam as atividades tendo
presente as demandas trazidas da comunidade, mediante a pesquisa dos educandos.
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O acompanhamento é através da Atividade de Retorno (AR). A AR consiste “em fazem um levantamento
prévio na comunidade de temas a serem abordados durante o ano. Esses temas são discutidos com os
monitores e a turma, a fim de organizar e fazer alterações que julguem necessário. Os temas escolhidos
retornam como uma ação dos estudantes na comunidade” (ANDRADE, 2012, p.11).
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Agroecossistema é um ecossistema artificializado pelas práticas humanas ligadas a agricultura, sendo
esta vista como um conjunto de valores, relações sociais, políticas, culturais, econômicas, tecnológicas e
ambientais (MST/AS-PTA/INSTITUTO GIRAMUNDO MUTUANDO, 2005. p. 14).
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Fonte: Andrade (2012, p.11).
Bahia, precisa ser respondida com maior capacidade de atender esses sujeitos em seus locais e
demandas específicas. Com isso destacamos a necessidade de melhorar a formação dos
educadores/monitores; ampliar a equipe e oferecer condições de dedicação exclusiva a escola.
De acordo com Andrade (2012, p. 8-9),
(...) na EFASE não há uma separação entre família, comunidade e escola. A EFA só se
constitui de fato como uma escola família na união indissociável entre estes
sujeitos/espaços formativos. O que ocorre é que em determinadas realidades, períodos e
EFAs pode haver uma ênfase maior em determinado espaço constitutivo, que quase sempre
é o espaço escolar. De fato o espaço escolar é o local privilegiado da construção do
conhecimento. Porém, é na forma que se articula a proposta pedagógica da escola, com as
necessidades reais das famílias e das comunidades que a escola cumpre a sua função de
educar para a vida real, concreta (ANDRADE, 2012, p. 8-9).
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Andorinha, Antônio Gonçalves, Araci, Campo Formoso, Cansanção, Canudos, Conceição do Coité, Itiúba,
Jeremoabo, Monte Santo, Nordestina, Pindobaçú, Ponto Novo, Queimadas, Quijingue, Retirolândia, Santa
Luz, Serrinha, Uauá e Valente.
Sendo que dos 304 estudantes, 237 (78%) estão matriculados no ensino médio e 67 (22%) no
ensino fundamental II. Esses dados revelam a grande procura de vagas em curso médio e
profissionalizante na região, principalmente porque a EFASE é a única escola nesse formato a
oferecer a modalidade de ensino médio (ANDRADE, 2012, p. 7). Nesse quesito abordado, os
desafios são os mesmo do anterior. É importante destacar ainda a tendência no aumento do número
de educandos para os anos seguintes no ensino médio. A projeção é que neste ano de 2013 sejam
matriculados mais de 300 educandos apenas no ensino médio.
Diante desse quadro, e das necessidades dos movimentos sociais do campo, há uma
perspectiva da EFASE buscar parcerias para ofertar um curso superior. O primeiro passo é o
convênio com o Programa Nacional de Educação em Áreas de Reforma Agrária - PRONERA, em
parceria com a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB, para a realização do Curso
Superior de Tecnologia em Agroecologia, previsto para ter inicio no primeiro semestre de 2013.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Referências
ANDRADE, Gilmar dos Santos Andrade. Escola Família Agrícola do Sertão: Experiência da
Relação Escola-Família/Comunidade. In: UFRB. Anais do I Seminário Estadual de Educação do
Campo. Amargosa, 2012 (CD – ROM).
ARAÚJO, Sandra Regina Magalhães. Escola para o trabalho, escola para a vida: o caso da escola
família agrícola de Angical – Bahia Salvador, 2005. Dissertação (mestrado) – Universidade do
Estado da Bahia. Departamento de Educação. Campus I. Disponível em http://www.ppgeduc.com.
Acesso em 04 de maio de 2012.
BEGNAMI, João Batista. Uma geografia da Pedagogia da Alternância no Brasil. a experiência das
Casas Familiares Rurais. Brasília: UNEFAB, 2002. (Documentos Pedagógicos).
BEGNAMI, João Batista. Formação pedagógica de monitores das Escolas Famílias Agrícolas e
Alternâncias: um estudo intensivo dos processos formativos de cinco monitores. Belo Horizonte.
2003. 263 p. Dissertação (Mestrado Internacional em Ciências da Educação)- Universidade Nova de
Lisboa e Universidade François Rabelais de Tours.
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1998.
CALVÓ, Pedro Puig. Introdução: Centros familiares de formação em alternância. In: Pedagogia da
Alternância e desenvolvimento. Brasília: União Nacional das Escolas Famílias do Brasil, 1999.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
PJR BRASIL. História da PJR: 30 anos a serviço da Juventude Camponesa (1983-2013), 25 anos
de PJR Brasil (1988-2013). 2012 (no prelo).