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A gestação engloba uma série de pequenos e contínuos ajustes fisiológicos, que afetam o

metabolismo de todos os nutrientes. Estes ajustes são individuais, dependentes do estado nutricional
pré-gestacional, de determinantes genéticos, do tamanho fetal e do estilo de vida da mãe.

Um fenômeno fisiológico que acarreta uma série de transformações no organismo materno, que
têm por finalidade garantir o crescimento e o desenvolvimento do feto e, ao mesmo tempo, “proteger” o
organismo da mãe, fazendo com que, ao final do processo, a gestante se encontre em condições de saúde
satisfatórias e apta para o processo de lactação.

Uma gestação tranquila está diretamente relacionada ao cuidado no planejamento alimentar.


Desta maneira, ocorrerão menos complicações durante o parto e intercorrências como intoxicações,
diabetes, hipertensão e outros.

ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS E FATORES DE RISCO PARA


DEFICIÊNCIA DE MICRONUTRIENTES

As adaptações fisiológicas devem ser consideradas para um perfeito entendimento do aumento


da demanda por nutrientes. Dentre as diversas adaptações que permeiam o período gestacional,
destacam-se:
1. Aumento do volume sanguíneo em 50% dando origem a anemia fisiológica (hemoglobina diminui
cerca de 20% e hematócrito em torno de 15%);

2. Náuseas, enjoos e vômitos matinais, gengivas edemaciadas e hiperêmicas, relaxamento de esfíncter


esofagiano inferior, ocasionando pirose e hipotonia do trato digestório devido às alterações
hormonais;

3. Maior tempo para esvaziamento gástrico e intestinal, por alterações hormonais, anatômicas e
inatividade física.

Além das alterações fisiológicas, observam-se os seguintes fatores de risco para carência
nutricional na gestante:

• Alimentação hipercalórica, embora deficiente em micronutrientes (deficiência primária);

• Utilização prolongada de anticoncepcionais ao longo da idade fértil, aumentando o risco de deficiência


de Vitamina B12, piridoxina, folato, zinco, selênio, fósforo, e magnésio;

• Restrição de grupos alimentares, em virtude de modismos, vegetarianismo, transtornos alimentares


(anorexia e bulimia) ou alergias alimentares;

• Gestação na adolescência, onde nesta fase acaba levando a uma competição nutricional no binômio
mãe/feto;

• Ganho de peso insuficiente durante a gestação (inferior a 7 kg), aumentando o risco em 30% de baixo
peso ao nascer;

• Exposição elevada a xenobióticos (como bisfenol A), bebidas alcoólicas e fumo de cigarro, que podem
levar a hipóxia fetal, disrruptores endócrinos, além de contribuir para anorexia materna, depleção de
folato e excesso de toxinas.

PRINCIPAIS NUTRIENTES A SEREM SUPLEMENTADOS,


DOSES RECOMENDADAS E FONTES ALIMENTARES

NUTRIENTES FUNÇÕES DOSE RECOMENDADA E FONTES


ALIMENTARES
W3-DHA (Ácido • Manutenção de estrutura • Suplementação com 100 a 200
docosahexanóico) estrutura, fluidez e função mg por dia DHA durante a
de membranas gravidez e a lactação, parece
plasmáticas; possuir associação entre o
aumento do teor de DHA no leite
• Desenvolvimento materno e um melhor estado
cognitivo e de retina; geral de saúde da criança,
• Os benefícios do DHA no especialmente em termos de
período gestacional acuidade visual e
incluem redução do risco desenvolvimento cognitivo.
de parto prematuro e • Pode se utilizar o DHA vegano
depressão pós-parto, derivado de microalgas
composição adequada do Schizochytrium sp;
leite materno e saúde • Fontes alimentares: óleos de
infantil global. peixe ricos em DHA.
• Síntese de massa óssea e • A Organização Mundial de Saúde
formação dental; (2016) recomenda
• Ação no processo de suplementação de 1,5 a 2,0g/dia
contração muscular; de cálcio elementar (dividido em
• Transmissão de impulsos 3 tomadas) às gestantes de alto
nervosos e na ação de risco e comunidades que
neurotransmissores; ingerem baixa quantidade desse
• Regulação da secreção de nutrientes, visando reduzir o
insulina; risco de pré- eclampsia, desde a
• Atuação no processo de vigésima semana até o final da
coagulação sanguínea e gestação.
regulação dos batimentos • Fontes alimentares: leite e
cardíacos. derivados; hortaliças verde-
escuras.
Ferro • Essencial para o transporte • Aproximadamente 1190 mg de
de oxigênio (síntese de ferro são necessários após
hemoglobina e concepção para manter uma
mioglobina), síntese de gravidez saudável. As exigências
DNA e metabolismo diárias neste período são de 4 a
energético: 5 mg, o que parece não ser
• O ferro ainda é obtido apenas com o aumento
fundamental para o fisiológico da absorção
metabolismo da enzima intestinal, mesmo com uma dieta
Peroxidase, fundamental ideal;
para a adequada captação • Havendo o diagnóstico da
do Iodo e funcionamento anemia ferropriva na gestante,
tireoidiano, logo a recomenda-se dose de 120mg a
deficiência de ferro no 150mg de ferro elementar (2 a 5
primeiro trimestre mg/Kg/dia) concomitante com
gestacional está associada 400mcg de ácido fólico,
ao aumento dos níveis de preferencialmente antes das
TSH e risco elevando de principais refeições.
desenvolvimento de • Fontes alimentares de ferro:
hipotireoidismo de produtos cárneos, leguminosas e
Hashimoto. vegetais folhosos verde-escuros.
Selênio • Possui importante ação • Recomenda-se cerca de 35mcg
antioxidante, com atuação de selênio ao dia;
em todas as células, pois • Fontes alimentares incluem
faz parte do pool de nozes, sementes e castanhas, em
selenoproteínas (cerca de especial a Castanha-do-Pará.
25) do sistema
antioxidante (glutationa
peroxidase,
selenoproteína P);
• O selênio parece participar
na conversão de T4 em T3
nos tecidos que contêm a
enzimas deiodinase do
tipo I. Baixo consumo de
selênio pode reduzir a
conversão de T4 em T3
ativo, aumentando o risco
de hipotireoidismo
subclínico;
• A deficiência de selênio no
período gestacional
aumenta o risco de
desfecho gestacional
adverso (abortos
espontâneos/ partos
prematuros);
• A redução nas
concentrações séricas de
selênio materna poderia
estar relacionadas à
ocorrência de defeitos no
tubo neural e à ocorrência
de hérnia diafragmática
congênita.
Iodo • Necessário para síntese de • A Organização Mundial da Saúde
hormônios tireoidianos; (OMS) recomenda a ingestão
• Os requisitos de iodo são diária de 250 µg/dia de iodo para
50% superiores durante a mulheres grávidas (150 µg/dia
gravidez. Devido a um para não-grávidas). Esta maior
aumento na produção necessidade se deve ao aumento
materna de tiroxina para do clearance renal de iodo e à
manter o eutiroidismo transferência do iodo para a
materno e a necessidade unidade feto-placentária, o que é
de transferir hormônio necessário para a produção fetal
tireoidiano para o feto no dos hormônios tireoidianos.
início do primeiro • No Brasil, todo sal para consumo
trimestre; humano deve ser iodado.
• O hormônio da tireóide é
necessário para migração e
mielinização do cérebro
durante a vida fetal e pós-
natal precoce, e durante
estes períodos críticos sua
deficiência provoca lesões
cerebrais irreversíveis.
Vitamina D • O calcitriol é considerado • Recomenda-se cerca de 600 UI
um pré-hormônio com (porém esta quantidade parece
metabólitos ativos que não ser suficiente para todas as
estão envolvidos em grávidas e lactantes para manter
processos importantes, um valor de 25 OH VD acima de
incluindo a integridade 30 ng/ml. Para estas prescreve-
óssea e a homeostase do se 1.500 – 2.000 UI por dia);
cálcio. Os principais locais • Fontes alimentares incluem
de ação da vitamina D cogumelos secos ao sol; atum,
incluem a pele, intestino, cavala, sardinha e salmão.
ossos, glândula
paratireóide, sistema
imunológico e pâncreas;
• Níveis adequados de
Vitamina D em gestantes
estão associados a:
prevenção de pré-
eclâmpsia e de diabetes
gestacional, melhora na
tolerância a glicose e
redução do risco de
diabetes na gestação,
menor índice de morte
materna e índice reduzido
de partos prematuros,
redução nos casos de
morte fetal e neonatal e na
na admissão neonatal em
UTI, menor prevalência de
infecção neonatal e baixos
índices de APGAR e
possível proteção á
ocorrência de autismo.
Folato • Níveis adequados de folato • A recomendação geral de
estão associados com o suplementação de ácido fólico
aumento do volume dos atual média para uma mulher
eritrócitos, o alargamento saudável na preconcepção é de
do útero e o crescimento 0,4 mg / dia.
da placenta e do feto, • Para gestantes que já tiveram
assim como prevenção de filhos ou gestações com DATN,
doenças respiratórias na com polimorfismo genético ou
infância e da síndrome de que usam medicações que
Down; interferem nos níveis de folato
• Atua como coenzima no no organismo, como por
metabolismo de exemplo, anticonvulsivantes,
aminoácidos, síntese de são recomendados 4mg de ácido
purinas e pirimidinas e dos fólico. A utilização do ácido
ácidos nucleicos, sendo fólico é preconizada três meses
vital para a divisão celular antes e até a 12ª semana
e síntese proteica. gestacionais.
• Sua deficiência está • Fontes alimentares incluem
associada a acúmulo sérico vísceras de animais, vegetais
de homocisteína, podendo verdes, legumes, feijão, frutas
encontrar-se associado à cítricas, entre outros, como
síndrome hipertensiva da espinafre, lentilhas, grão de bico,
gestação, a abortamentos aspargos, brócolis, ervilha,
espontâneos de repetição,
partos prematuros, baixo couve, milho, amendoim e
peso ao nascimento, laranja.
doenças crônicas
cardiovasculares, cérebro
vasculares, demência e
depressão.
• Quanto às anomalias
congênitas, a reposição de
ácido fólico previne os
defeitos abertos do tubo
neural (DATN).
Vitamina B12 • A cobalamina participa • Embora a ingestão adequada
como cofator para duas seja de 2,6mcg ao dia. Na prática
enzimas: a metilmalonil- clínica, a dose para se manter o
Coa redutase e a metionina nível sérico acima de 490ng/L
sintetase. A primeira está varia de 5mcg a 2000mcg/dia;
envolvida no metabolismo • Pacientes veganos recomenda-
dos aminoácidos, do se ao menos 10mcg /dia, se
colesterol, da timina e dos possível, por via sublingual;
ácidos graxos. A segunda • Fontes alimentares incluem
participa da remetilação da alimentos protéicos de origem
homocisteína a metionina, animal.
etapa em que há a ligação
entre o metabolismo do
folato e da cobalamina,
regenerando o tetra-
hidrofolato por meio de
reação de desmetilação;
• Está associado à síntese de
material genético (DNA e
RNA);
• A deficiência de vitamina
B12 em gestantes aumenta
o risco de malformação
fetal, ocasionando defeito
no tubo neural e
constituindo-se numa das
mais comuns alterações
congênitas

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